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ALIENAÇÃO
Leandro Konder
Nos sistemas atuais, assinala Marx, o trabalhador produz bens que não lhe
pertencem e cujo destino, depois de prontos, escapa ao seu controle. O trabalhador,
assim, não pode se reconhecer no produto do seu trabalho, não pode encarar aquilo
que ele criou como fruto da sua livre atividade criadora, pois se trata de uma coisa que
para ele não terá utilidade alguma. A criação (o produto), na medida em que não
pertence ao criador (ao operário), se apresenta diante dele como um ser estranho,
uma coisa hostil, e não como resultado normal da sua atividade e do seu poder de
modificar livremente a natureza.
Por outro lado, diz Marx, se o produto do trabalho não pertence ao trabalhador
e até se defronta com ele como uma força estranha, isso só pode acontecer porque tal
produto pertence a outro homem que não o trabalhador. E quem é esse outro homem
que se apropria do fruto do trabalho operário? Responde Marx: é o capitalista.
O capitalista é o proprietário das fábricas, dos meios materiais necessários à
produção, no sistema industrial moderno. O trabalhador nada possui a não ser a sua
força de trabalho individual. Deste modo, para poder trabalhar, o trabalhador é
forçado a vender a sua força de trabalho ao capitalista; e essa venda se dá em
condições vantajosas para os capitalistas e desvantajosas para o operário, já que o
operário tem mais urgência de vender a sua força de trabalho (para poder comer), do
que o capitalista de comprá-la (para movimentar suas máquinas e obter lucros).
Marx chamou de alienação do trabalho precisamente este fenômeno pelo qual
o trabalhador, desenvolvendo a sua atividade criadora em condições que lhes são
impostas pela divisão da sociedade em classes, é sacrificado ao produto do trabalho.
Para Marx, os regimes baseados na propriedade privada dos meios sociais de
produção – sobretudo o capitalismo – tendem a transformar o homem num mero meio
para a produção da riqueza particular (simbolizada pelo dinheiro). Em lugar do
produto ser criado livremente pelo produtor, é o produtor que fica subordinado às
exigências do produto, às exigências do mercado capitalista onde o produto vai ser
vendido.
Sendo o trabalho, por sua vez, a atividade fundamental da livre criação do
homem por si mesmo (isto é, da humanização), segundo o ponto de vista marxista, é
natural que a corrupção da atividade criadora, a alienação do trabalho, acarrete os
efeitos que atingem todas as classes em geral. Assim, embora se aproveitem da
alienação do trabalho do operário, os capitalistas também sofrem as conseqüências
desumanizadoras da divisão social do trabalho, quer dizer, do sistema que engendra o
fenômeno. Se o operário se aliena em sua atividade produtiva, a verdade é que o
capitalista se aliena em sua atividade improdutiva.
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KONDER, Leandro. Marx, vida e obra. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. p.
43-48.