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“Trabalho: torturar, derivado de tripalium (instrumento de tortura).

Da idéia inicial
de ‘sofrer’ passou-se à idéia de esforçar-se, lutar, pugnar e, por fim, trabalhar,
ocupar-se de algum mister, ‘exercer o seu ofício’” (latim: tripaliare – entrada no
português, séc. XIII) “. Schütz (2008).

Para Braverman (1981), “o processo de trabalho começa, com um acordo ou um


contrato que estabelece as condições da venda da forca de trabalho pelo
trabalhador e sua compra pelo empregador”. Esse trabalhador não tem outra
alternativa que não seja assinar esse contrato de trabalho para ganhar o
sustento de sua vida. Ainda para Braverman:

“A moeda do trabalho tem seu anverso: ao comprar a


forca de trabalho que pode fazer muito ele esta ao
mesmo tempo comprando uma qualidade e quantidade
indeterminadas. O que ele compra e infinito em
potencial, mas limitado em sua concretização pelo
estado subjetivo dos trabalhadores, por sua historia
passada, por suas condições sociais gerais sob as quais
trabalham, assim como pelas condições próprias da
empresa e condições técnicas do seu trabalho”.

No desenvolvimento do sistema capitalista, o trabalhador confinado à fabrica


perde os instrumentos de trabalho, a posse do produto e, em conseqüência,
perde a autonomia. Esse modo de produção para Codo (1994) norteia toda e
qualquer atividade do homem, desde quem ele vai se relacionar, consumir e a
forma de produzir.

O trabalho e propriedade inalienável do homem, segundo Braverman (1981), o


trabalhador vende sua forca para trabalhar por um período contratado de tempo,
pois não existe maneira de se comprar o trabalho.
O homem foi feito para o trabalho e não o trabalho para o homem, o homem se
torna escravo do trabalho, pois este rouba toda a sua intimidade, o capitalismo
fez com que o trabalho virasse uma obrigação a qual se depende dela para viver
fazendo com que o homem não tenha vida própria.

Ainda de acordo com as idéias de Codo (1994) e Schütz (2008), o homem deixa
de ser o centro de sim mesmo: não escolhe o salário, nem o horário, nem o
ritmo de trabalho. Com isso se dá uma grande inversão, em que o produto passa
a valer mais que o próprio operário, uma vez que aquele determina as condições
de trabalho deste e até as demissões e contratações. Trata-se de uma inversão
porque aquilo que é inerte, o produto, passa a "ter vida" e o que tem vida
(homem) se trasforma em "coisa". Assim se consolida o chamado trabalho
alienado.

Ora, se considerarmos que , pelo trabalho, ao mesmo tempo que o homem faz
uma coisa também se faz a si mesmo, o trabalho alienado é condição de
desumanização, pois os trabalhadores perdem o controle do produto e
conseqüentemente de si mesmos, tornando-se incapaz de atuar no mundo de
forma crítica.

Santos e Araújo (2009) relatam que a alienação do trabalho foi primeiramente


descrita de forma científica por Karl Marx, assim o trabalho é a negação do ato
da atividade, da satisfação e da prazer humano. O trabalho torna o homem
estrangeiro a si mesmo, ao que produz, á sua própria atividade.

O trabalhador ganha um salário que não consegue comprar os produtos que ele
mesmo produziu, como diz o trecho da musica de Grabiel O Pensador (nome da
musica) “Brinquedo que o filho me pede num tenho dinheiro pra dar”.
Assim, o homem torne-se apenas um instrumento para o produzir o que e
solicitado por quem tem o poder. O objeto produzido é mais valorizado do que
quem o produz, o próprio objeto por ele produzido se transforma "estranho"
para ele.

O trabalhador vendeu seu tempo, seu sentimento, sua força, suas aspirações
pelo dinheiro, e na posse de algum deste, troca por qualquer tipo de
mercadoria, inclusive por aquelas mesmas que ajudou a produzir.

Podem-se citar três aspectos de alienação:

a) A relação imediata do trabalho aos seus produtos que é a relação do


trabalhador aos objetos da sua produção. O objeto que ele próprio produz
lhe é "estranho" e o domina;
b) O trabalhador produz não para se realizar (processo do trabalho), mas
porque tem que produzir. Faz o produto, mas este não lhe pertence;

c) Produzir por produzir, sem saber porque está produzindo. O trabalhador


sente, deste jeito, um ser genérico.

Para Codo (1994) “O capital, que já alienara o homem do produto de seu


trabalho, agora lhe rouba o gesto, o movimento do seu braço e algo que não lhe
pertence, e que não e determinado pelo trabalhador”. Um trabalhador alienado
tem possibilidades de encontrar no seu emprego satisfação, enquanto realiza
tarefas desinteressantes. Daí a importância que assume para ele a necessidade
de se dar prazer pela posse de bens, igualmente citado a musica Ouro de Tolo
de Raul Seixas “Eu devia estar contente por ganhar 4.000 cruzeiros e poder
comprar um corcel 73”.

Se um trabalhador que ganha um salário mínimo, passa o maior tempo dentro


da fábrica, e produz de forma mecanizada mais do que recebe, sem o controle
de todo o processo produtivo, tem uma alienação, pois os trabalhadores perdem
o controle do produto e conseqüentemente a si mesmos. Sabendo que as
pessoas submetidas a um trabalho mecânico pela fadiga mais psíquica do que
física, torna-se incapaz de se divertir, o lazer acaba sendo também alienado.

Entretanto, a alienação só pode ser combatida com a ação, as conhecidas


greves coordenadas pelos sindicatos são uma forma de luta e ação contra o
trabalho alienado como e retratada na musica de FULANO “Não adianta olhar
pro céu com pouca fé e pouca luta, levanta ai que você tem muito
protesto pra fazer e muita greve, você pode e você deve, pode crer. Essa idéia
e fundamentada de acordo com Codo:

“Se o sistema gera alienação, não precisamos ter


necessariamente operários alienados, porque
juntamente com a alienação o sistema gera revolta, a
exploração de classe determina o desenvolvimento de
uma nova consciência de classe e a luta por um novo
sistema social”

BRAVERMAN, Harry. Trabalho e Capital monopolista. Rio de Janeiro. Zahar,


1981.

CODO, Wanderley. Relações de trabalho e transformação social In: LANE, Silvia


T. M & CODO, Wanderley (orgs): Psicologia Social o homem em movimento.
São Paulo: Brasiliense, p. 136-151, 1994.

SCHÜTZ, Rosalvo. Propriedade Privada e Trabalho Alienado: desvendando


imbricações ocultas. Revista Espaço Acadêmico, v. 87, ano 8, agosto 2008.

SANTOS, Helisama Andreza, HASPAZYA, Beatriz Varela Ribeiro de Araújo.


Sistema de Mercado: A Contradição e Alienação do Trabalho na Visão de
Karl Marx e as Apropriações da Tradição Marxista no Serviço Social.
Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/22064/1/sistema-de-
mercado-a-contradicao-e-alienacao-do-trabalho-na-visao-de-karl-marx-e-as-
apropriacoes-da-tradicao-marxista-no-servico-social/pagina1.html>. Acesso dia
02/10/2009.

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