Você está na página 1de 25

ANTROPOLOGIA

FILOSÓFICA
Prof. Enir Cigognini
enir.cigognini@ucpel.edu.br
Aula 04
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo

•O trabalho nos
Humaniza ou é
um tipo de
tortura?
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo

• A origem da palavra trabalho (tripaliare – de tripálio =


instrumento de tortura) juntamente com a cultura em
geral, atribuem ao trabalho uma visão negativa;

• “se a vida humana depende do trabalho e este causa tanto


desprazer, só podemos concluir que o ser humano está
condenado à infelicidade” (p. 67).
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• Em contrapartida, podemos olhar para a atividade própria
do labor como a possibilidade de construção da história,
da cultura, do mundo humano em última análise.
• É pelo esforço coletivo que a humanidade progride;
• Pelo trabalho podemos construir nossa própria
subjetividade, libertando-nos de determinismos,
fomentando e sustentando nossa liberdade;
• O trabalho nos torna mais sociáveis, instiga nossa
criatividade imaginativa, nos muda ao mesmo instante em
que mudamos/construímos o mundo.
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• Em sociedades tribais o trabalho é colaborativo e visa a
subsistência do grupo; trabalho e fruto do trabalho
pertencem à comunidade; tudo parece ocorrer numa
certa harmonia.

• Jean-Jacques Rousseau (séc. XVIII) entende que o


desiquilíbrio/desigualdade da sociedade surge com a
propriedade privada; Isso leva à dicotomia entre os que
“mandam, projetam, concebem” e os que executam;
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• Na perspectiva de Jean-Jacques Rousseau, quando um ser
humano delimitou um espaço como seu (propriedade) dá-
se início à desigualdade entre os seres humanos.

• Se X possui o espaço em que habitamos, qual nossa


relação com X?

• Embora possamos entender como natural tal dicotomia,


analisando mais atentamente, percebemos que são
criados mecanismos para que essa divisão seja mantida.
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• Entre os antigos gregos e romanos era comum o trabalho
braçal estar vinculado à atividade de escravos.
• Contemporaneamente, cidades como Pelotas foram
construídas com mão de obra escrava.
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• No período medieval a riqueza estava restrita à posse de
terras. Com o início da Modernidade, com o surgimento
das manufaturas, a riqueza passa a ser medida pela posse
de dinheiro. Esse longo processo culminará com a
Revolução Industrial no século XVIII.
• Francis Bacon (1561-1626) “saber é poder” – aposta na
ciência.
• René Descartes (1596-1650) acreditada que os princípios
do conhecimento científico poderiam tornar o ser humano
senhor e possuidor da natureza.
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo

• Inicia-se uma “fé” inabalável na capacidade da ciência


pensada como técnica para dominar o mundo natural e
“resolver” todos os problemas da humanidade.
• Nos campos político e econômico passarão a operar os
princípios do Liberalismo: liberdade individual e ausência
de controles estatais ou de qualquer espécie.
• A ausência de mão de obra escrava e o fortalecimento do
liberalismo leva a instituição de contratos de trabalho;
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• Hegel (séc. XIX) na passagem do
“senhor e do escravo” em sua obra
Fenomenologia do Espírito apresenta
uma visão totalmente otimista do
trabalho.
• Com o passar do tempo, o senhor
percebe que colocou entre o ele
próprio e o mundo a figura do escravo.
Assim, ocorre uma dependência do
senhor em relação ao escravo.
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• Marx (1818-1883) critica a visão apenas
otimista de Hegel.
• Para ele, o trabalhador deveria trabalhar
para si e não para outro;
• Ocorre, segundo Marx, processo de
alienação
• O trabalhador vende sua força de trabalho e
recebe por ela, entretanto, o que produz é
muito mais valioso. O resultado, porém,
pertence a outro...
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• Ocorre, segundo Marx, a reificação do trabalhador e a
fetichismo da mercadoria...
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• Michel Foucault (1926-1984) – verifica que a partir do
surgimento das fábricas instaura-se a era da disciplina que
leva à “docilização” do corpo em nome da produção:
• “No meio dessa sala (em) um canal coberto com lajes
entreabertas cada fiandeira vai, em silêncio, tirar a água
de que precisa (para a fiação). Essa oficina, à primeira
vista, surpreende o visitante pela quantidade de pessoas aí
empregadas, pela ordem, pela limpeza e pela extrema
subordinação que aí reina... Contamos 50 rocas duplas (...)
ocupadas por 100 fiandeiras e o mesmo tanto de
dobradeiras, tão disciplinadas como tropas.” (71).
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo

• Olhar vigilante;
• Silêncio;
• Supervisores;
• Regras;
• Tirania do relógio
• Disciplina:
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo

• “A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados,


corpos “dóceis”. A disciplina aumenta as forças do corpo
(em termos econômicos de utilidade) e diminui essas
mesmas forças (em termos políticos de obediência).”
(FOUCAULT, Vigiar e Punir, 1987, p. 119).

• Mas, hoje já temos ginástica laboral...


Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo

• Frederick Taylor, no século XX, cria um sistema que otimiza


os gestos dos operários para que produzam mais em
menos tempo;
• Separa-se drasticamente
o pensar do executar;
• Henry Ford introduz a
esteira da linha de
montagem.
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo

• Planejamento e burocracia são agora apresentados como


um caminho de neutralidade de organização eficaz;
• Tais processos numa linha de racionalização, levaram a
uma irracionalidade que desvalorizou a capacidade
criativa dos seres humanos e os reduziu ao ritmo
repetitivo de gestos corporais;
• As ordens agora emanam do “setor de planejamento” o
que torna as relações impessoais e artificiais;
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• A partir os anos 70 e 80, com o advento de novas
tecnologias, mudam os padrões de produtividade. O
Toyotismo (da Toyota) implanta um sistema mais flexível:
atende à demanda e planeja a curto prazo;

• O trabalho inicia um
deslocamento da
fábrica para
os escritórios.
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• Não podemos deixar de mencionar o fato de o trabalho
nos inserir de um modo forte no universo do consumo.
• Somos uma sociedade cuja economia está grandemente
alicerçada no consumo.
• Consumo responsável X consumismo/consumo alienado
• Acesso aos bens produzidos
X
• Esgotamento das reservas naturais
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• A Escola de Frankfurt (Alemanha – 1930) nos alerta por
termos chegado muito próximos de o processo
tecnológico – inicialmente apresentado como libertador –
nos oprimir e anular nossa livre iniciativa;
• Segundo essa Escola, o esforço do ser humano em
dominar a natureza nos conduziu ao domínio do homem
sobre o homem.
• Nossa capacidade racional foi instrumentalizada em vista
do progresso e do lucro a qualquer custo;
• Herbert Marcuse chama unidimensionalidade essa perda
significativa de capacidade crítica.
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• Não se trata aqui de negar a importância do que a razão
instrumentalizada produziu, mas perguntarmo-nos pelos
motivos, finalidade e consequências dessas produções;
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• Somos uma sociedade que, em oposição a tanto desgaste
promovido pelo trabalho, criamos o lazer, divertimento e
recreação como formas de descanso das atividades
laboriosas;
• Entretanto, mesmo o lazer, com o tempo, torna-se bem de
consumo;
• A oferta de bens de consumo passou a explorar nossa
sensibilidade e nosso universo psíquico (neuromarketing).
• Surge algum regramento para propagandas direcionadas,
por exemplo, ao público infantil...
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• http://neurobusiness.com.br/neuromarketing/
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo
• Para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, o consumismo
aposta em nossa irracionalidade....
Antropologia Filosófica: Trabalho, alienação e Consumo

Para onde vamos?

Você também pode gostar