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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PELOTAS

CURSO DE PSICOLOGIA

MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO EM
VIDA E SAÚDE I
2º Semestre

Prof.ª Dra. Adriane da Silva Machado Möbbs


PSICOLOGIA
Métodos de Investigação em vida e saúde I

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Métodos de Investigação em vida e saúde I

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 04

UNIDADE A 05

Objetivo da Unidade 05

1. EPISTEMOLOGIA 05
1.1. O que é conhecimento 06
1.2. Modalidades de conhecimento 07
Excertos: A caixa de Pandora 10

2. CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS 11


2.1. História da Ciência 11
2.2. O enunciado científico 16
2.3. O método científico 17
2.4. Metodologia 18
2.5. Pesquisa 19

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Métodos de Investigação em vida e saúde I

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

Esta disciplina organiza-se com leituras e atividades. Para o


desenvolvimento das atividades são imprescindíveis: a elaboração de resenhas e
sínteses; a participação qualitativa nas aulas e debates, leitura dos materiais
indicados e leituras complementares nos livros indicados e sites. E, tem como
objetivo desenvolver as bases do pensamento científico e suas interfaces com a
pesquisa, com a redação de relatórios e documentos a partir de uma avaliação
crítica.
A avaliação será realizada em dois momentos, constando de duas
avaliações, cada uma com peso dez (10) sobre o conteúdo desenvolvido em aula.
Ao término da disciplina o(a) educando(a) deverá compreender o que é
conhecimento e as modalidades de conhecimento, a ciência e suas características,
os tipos de pesquisa e os métodos de investigação científica.
Esta disciplina será desenvolvida com uma carga horária de trinta horas (30)
horas/aula.
Bom trabalho!

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UNIDADE A1

OBJETIVO DA UNIDADE

Propiciar condições para que possa ser entendida a relação entre


epistemologia e pesquisa.

1. EPISTEMOLOGIA

Introdução

Frequentemente ouvimos frases que salientam a importância da pesquisa no


processo de aprendizagem. Fala-se muito de pesquisa, mas ainda assim o
entendimento do que vem a ser pesquisa, como se estrutura, qual sua relação e
relevância no processo de ensino e aprendizagem e construção de conhecimentos,
não é explicitado. Sabe-se que a pesquisa é necessária, mas falta, muitas vezes,
clareza sobre o porquê dessa necessidade. Na tentativa de elucidar o porquê de se
fazer pesquisa e como proceder numa pesquisa, veremos o que é epistemologia, as
modalidades de conhecimento, bem como a ciência e suas características.

Você já ouviu falar em “epistemologia”?

Pode-se remeter a origem da “epistemologia” a Platão ao tratar o


conhecimento como “crença verdadeira e justificada”. De acordo com Grayling
(2002, p.39), “Epistemologia, também chamada de teoria do conhecimento, é o ramo
da filosofia que se ocupa da investigação sobre a natureza, as origens e a validade
do conhecimento”.
A grande questão da epistemologia é o conhecimento, e, para entender essa
grande temática, são feitas algumas indagações, tais como: o que é o

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Esta apostila foi elaborada a partir do material didático das disciplinas de Pesquisa em Educação I, II
e III, do Curso de Pedagogia da UFSM, de autoria da professora Marta Roseli de Azeredo Barichello.

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conhecimento? Como o obtemos? De que forma elaboramos nossos


conhecimentos? Quais os limites do conhecimento? Qual a relação entre
conhecimento e verdade?
A expressão “epistemologia” deriva das palavras gregas “episteme”, que
significa “ciência”, e “Logos” que significa “discurso”, podendo ser compreendida
como estudo dos processos cognitivos – particularmente a investigação – e seu
produto (conhecimento) em termos gerais (Cf. BUNGE, 2006).
As questões sobre o conhecimento são refletidas desde a antiguidade, um
exemplo é o método dialético criado por Sócrates, o qual teria como finalidade
demonstrar o conhecimento que as pessoas tinham, mas que pensavam não ter. Ao
longo da história da filosofia, encontramos vários filósofos que se dedicaram a
entender o conhecimento e tudo que se refere a ele. Como consequência da busca
da compreensão do que seja o conhecimento, foi sendo elaborada uma teoria sobre
ele, estruturada a partir da busca de respostas a duas grandes questões: o que é e
como alcançamos o conhecimento?

1.1. O que é o conhecimento

Diante das questões apontadas pela epistemologia, historicamente, surgem


duas posições sobre a origem do conhecimento: empirismo e racionalismo. Essas
teorias sobre o conhecimento aparecem inicialmente como explicações
independentes acerca do conhecimento, porém, ao longo da história, foram
utilizadas como ponto de partida para o surgimento de outras teorias sobre o
conhecimento.
• Empirismo: essa posição defende que o conhecimento deve ser baseado
na experiência, ou seja, no que for apreendido pelos sentidos. É através dos
sentidos que entramos em contato com a realidade, esse contato é uma experiência,
ou seja, o conhecimento só é possível porque podemos experienciar a realidade.
Para Chauí (2000, p.85), o empirismo “[...] afirma que a razão, com seus princípios,
seus procedimentos e suas idéias, é adquirida por nós através da experiência. Em
grego, experiência se diz: empeiria – donde, empirismo, conhecimento empírico,
isto é, conhecimento adquirido por meio da experiência.” Como defensores dessa
posição temos: Locke, Berkeley e Hume.

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• Racionalismo: prega que as fontes do conhecimento se encontram na


razão, e não na experiência. O conhecimento tem sua origem na razão, à medida
que é pelo pensamento e reflexão que conhecemos a realidade. Nessa teoria, o
verdadeiro conhecimento é aquele que é oriundo de idéias verdadeiras, que são
ideias inatas, as quais trazemos conosco quando nascemos e não dependem de
nenhuma experiência sensorial. Como defensores desta posição, temos Leibniz e
Descartes.

Refletindo: Você conhece alguma teoria do conhecimento que tenha se


originado do empirismo, do racionalismo ou de ambos? Qual?

As teorias sobre a forma como elaboramos o conhecimento são decorrentes


da busca pelo saber, pela verdade e a necessidade de entender a realidade que
impulsiona a humanidade desde os tempos pré-históricos. Percebe-se no ser
humano um desejo de saber, que é mais latente nas crianças pela curiosidade que
manifestam de entender a realidade. Pode-se dizer que conhecer é algo essencial e
existencial para o ser humano.

Assim sendo, afirma-se que o conhecimento é o resultado de um processo


histórico que supõe necessariamente formas progressivas de educação,
evolução e desenvolvimento, abrangendo sempre e em todas as
circunstâncias biopsicossociais do homem elementos básicos que o
definem como sujeito. (BARROS, LEHFELD, 2000, p. 32).

Falar de conhecimento implica educação, evolução e desenvolvimento. Ao


nascer, começamos o processo de conhecer a realidade e, nesse processo, a
educação é fundamental, no sentido de que esta nos conduz nessa caminhada,
respeitando as fases do desenvolvimento cognitivo e considerando o espaço sócio-
cultural em que nos encontramos. É na escola, por exemplo, que evoluímos na
elaboração do nosso conhecimento e o tornamos mais complexo.

1.2. Modalidades de conhecimento

O simples fato de entrarmos em contato com a realidade que nos cerca a fim
de conhecê-la nos traz várias implicações. É possível afirmar que as diferentes

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maneiras através das quais nos relacionamos com o mundo dependem das
circunstâncias e necessidades assim como do tipo de cultura em que estamos
inseridos, dai a necessidade de considerarmos sempre o contexto histórico e social
ao analisarmos fatos.
O homem pode abordar o mundo de diversas formas: mítica, filosófica,
científica, religiosa, artística e também através do senso comum. Isso não significa
dizer que uma exclui a outra. Um cientista, por exemplo, pode possuir um elaborado
conhecimento numa determinadaárea, no entanto não deixa de usar o senso comum
na suavida cotidiana ou até pode recorrer à filosofia se pretende analisar
osfundamentos da ciência em que trabalha.
Logo, o nível de elaboração em cada abordagem depende do tipo de cultura
na qual estamos imersos assim como varia historicamente como veremos a seguir.
Podemos definir conhecimento como a relação estabelecida entre um
sujeito consciente e um objeto. Há dois elementos fundamentais: o sujeito que quer
conhecer (intencional), e o objeto a ser conhecido, processo pelo qual o sujeito se
coloca no mundo, e com ele estabelece contato. Vejamos as modalidades de
conhecimento:

Conhecimento acientífico (senso comum):refere-se ao espontâneo,e é


elaborado a partir da experiência cotidiana. Édestituído de intencionalidade, pois
acontece ao acaso e nãopode ser explicado rigorosamente, visto que não é um
conhecimento sistematizado. Pelo senso comum, fazemos julgamentos,
estabelecemos projetos de vida, adquirimos convicções e confiança para agir. Pode
ser confundido com informação.

Conhecimento Mítico (Mitos): É a narrativa dos tempos fabulosos ou


heroicos, de significação simbólica, geralmente ligada à cosmologia, referente aos
deuses, certa forma representantes das forças da natureza e/ou dos aspectos da
condição humana. Exposição de uma doutrina, ou de uma ideia de forma imaginária,
nela a fantasia sugere e simboliza a verdade que deve ser transmitida. O mito, entre
os povos primitivos, era uma forma de se situar no mundo, isto é, de encontrar o seu
lugar entre os demais seres da natureza.

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Conhecimento Científico (Ciência): o conhecimento científico é um


produto resultante da investigação científica, que vai além das aparências. Surge da
necessidade de encontrarsoluções para problemas de ordem prática da vida
diária(senso comum) e, do desejo de fornecer explicações sistemáticasque possam
ser testadas e criticadas através de provasempíricas e da discussão intersubjetiva.
O conhecimento científico pode ser caracterizado da seguinteforma:
- é real (fatual) porque lida com fatos da realidade;
- é um conhecimento contingente, pois a falsidade ou veracidadedas
proposições ou hipótesesdepende da experiência;
- é verificável, pois as afirmações (hipóteses) têm que sercomprovadas;
- é um conhecimento falível, por não ser definitivo, como uma verdade
absoluta ou final, o que permite que novas proposiçõese o desenvolvimentode
técnicas possam reformularo acervo de teoria existente;
- é sistemático, porque é expresso através de um sistema deideias, uma
teoria ou lei científica, o qual é organizado logicamente, formando um sistema de
ideias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos;
- exige atitude científica;
- exige a utilização de métodos, técnicas e processos quepossibilitem a
intervenção e análise da realidade.

Conhecimento Religioso: essa forma de conhecimento temcomo seu


fundamento a religião, na qual se defende a priori a existência de Ser superior.
Nessa perspectiva, a inteligência éusada para explicar a evidência de uma
existência divina e arelação desta com os outros seres. É a razão a serviço da
fé.Você pode ter razões para defender sua fé, mas ainda assim precisa ter fé.
Na vida cotidiana, fé e razão caminham juntas. Teologia é o estudo das
questões referentes ao conhecimento da divindade, de seus atributos relações com
o mundo e com os homens, e a verdade religiosa.

Refletindo: Pense em suas experiências e procure identificar nelas os


tipos de conhecimento que você aprendeu.

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Excertos:

A caixa de Pandora

Prometeu, deus cujo nome em grego

significa "aquele que vê o futuro", doou aos homens o fogo e as técnicas para acendê-lo e mantê-lo.
Zeus, o soberano dos deuses, se enfureceu com esse ato, porque o segredo do fogo deveria ser
mantido entre os deuses. Por isso, ordenou a Hefesto [1], que criasse uma mulher que fosse perfeita,
e que a apresentasse à assembleia dos deuses. Atena, a deusa da sabedoria e da guerra, vestiu
essa mulher com uma roupa branquíssima e adornou--lhe a cabeça com uma guirlanda de flores,
montada sobre uma coroa de ouro. Hefesto a conduziu pessoalmente aos deuses, e todos ficaram
admirados; cada um lhe deu um dom particular:
Atena lhe ensinou as artes que convêm ao seu sexo, como a arte de tecer;
Afrodite lhe deu o encanto, que despertaria o desejo dos homens;
As Cárites, deusas da beleza, e a deusa da persuasão ornaram seu pescoço com colares
de ouro;
Hermes, o mensageiro dos deuses, lhe concedeu a capacidade de falar, juntamente com a
arte de seduzir os corações por meio de discursos insinuantes.
Depois que todos os deuses lhe deram seus presentes, ela recebeu o nome de Pandora,
que em grego quer dizer "todos os dons".
Finalmente, Zeus lhe entregou uma caixa bem fechada, e ordenou que ela a levasse como
presente a Prometeu. Entretanto, ele não quis receber nem Pandora, nem a caixa, e recomendou a
seu irmão, Epimeteu, que também não aceitasse nada vindo de Zeus. Epimeteu, cujo nome significa
"aquele que reflete tarde demais", ficou encantado com a beleza de Pandora e a tomou como esposa.
A caixa de Pandora foi então aberta e de lá escaparam a Senilidade, a Insanidade, a
Doença, a Inveja, a Paixão, o Vício, a Praga, a Fome e todos os outros males, que se espalharam
pelo mundo e tornaram miserável a existência dos homens a partir de então. Epimeteu tentou fechá-
la, mas só restou dentro a Esperança, uma criatura alada que estava preste a voar, mas que ficou
aprisionada na caixa [...] e é graças a ela que os homens conseguem enfrentar todos os males e não
desistem de viver.

NOTAS:
[1] deus do fogo e das habilidades técnicas
___________
FONTE: (CHALITA, Vivendo a filosofia, 2004, p.26).

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2. CIÊNCIA E SUAS CARACTERÍSTICAS

Introdução

O entendimento sobre o que é pesquisa em saúde e como é desenvolvida


envolve conhecer os pressupostos que a fundamentam.
Assim, inicialmente, serão feitas algumas explanações sobre a ciência e
suas características, pois a pesquisa em saúde se constitui como uma investigação
de caráter científico. De forma a entender a linguagem e o método empregado na
pesquisa em saúde, será feito um breve esclarecimento sobre como se estrutura o
enunciado científico, bem como o método científico e suas aplicações. A seguir, o
destaque é para a metodologia, na qual será refletida a forma como uma pesquisa
deve ser conduzida em sua execução. Ao final, apresentamos o que é pesquisa.

2.1 História da ciência

Acredita-se que a ciência surgiu no séc. VI a. C. com os primeiros filósofos e


era conhecida como filosofia da natureza. Caracterizada pela sua preocupação com
a busca pelo saber e a natureza das coisas. Surge a partir da dúvida “há uma
natureza, uma essência eterna, universal e imutável que determina a existência das
coisas?”.
A partir dessa dúvida, formula-se a questão com a qual se preocupavam os
primeiros filósofos (pré-socráticos ou “naturalistas”): O que são, de que são feitas,
como são feitas e de onde vêm as coisas que são percebidas? A busca por uma
arché (princípio) originária de todas as coisas.
Os pré-socráticos acreditavam na existência de uma ordem natural do
universo (princípios e leis fixas da própria natureza), ou seja, causas e forças
naturais possíveis de serem conhecidas e previstas.
Vejamos algumas abordagens na história da Ciência:

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- Abordagem Platônica:
“O real é pensado e intuído”
(PLATÃO)
Mundo das ideias – é a teoria das ideias de Platão, através da qual
determina-se o modelo e a essência de como as aparências devem se estruturar;
A essência está no mundo superior e eterno;
A percepção dos sentidos deturpa a visão da realidade (apresentam
“sombras” da realidade).
Mundo inteligível: “mundo das ideias", ideias perfeitas de todas as coisas
que existem.
Mundo sensível: Cópias precárias das ideias perfeitas; mundo que pode ser
apreendido pelos sentidos.
Procedimento:
 Desvaloriza a experiência empírica como fonte de critério e julgamento;
 Valoriza a intuição racional como meio para se apropriar da essência
do ser.

- Abordagem de Aristóteles:
“Nada está no intelecto se antes
não passou pelos sentidos”
(ARISTÓTELES)

Discípulo de Platão - suprimiu o mundo platônico das ideias;


Ciência é produto de uma elaboração do entendimento em íntima
colaboração com a experiência sensível.

Procedimento:
 Percepção de fatos pelos sentidos;
 Agrupamento, observação pelo processo de indução;
 Generalização para forma universal;
 Busca da causa dos efeitos.

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Abordagens da Ciência Moderna:

 Atacam a CIÊNCIA GREGA a partir do sec. XIV e principalmente no


sec. XVII com o Renascimento (revolução científica moderna);
 Não existe problema/investigação/demonstração da verdade só no
plano sintático;
 Opõe-se ao dogma religioso;
 Introduz a experimentação científica (modifica a concepção de
mundo/ciência/ verdade/ conhecimento/ método);
 Rejeitam o modelo Aristotélico.

- BACON: indução e empirismo:


Preconceitos de ordem religiosa-filosófica/crenças culturais deveriam ser
abandonados;
Experiência vulgar conduz a enganos = distorcem e impedem a verdadeira
visão de mundo;
Necessidade de um método de investigação e de validação de maior eficácia
à investigação (CONTROLE EXPERIMENTAL).
Propôs um método que chamou de Interpretação da Natureza, o qual ficou
conhecido como método científico => atingir o conhecimento:
 Experimentação - coleta dados - faz registro sistemático e metódico de
todas as informações;
 Formulação de hipóteses - na análise dos resultados dos
experimentos, evidenciando a relação causal dos fatos entre si;
 Repetição da experimentação por outros cientistas e;
 Formulação das generalizações e leis: o cientista formularia a lei.

=>> Experimentos destituídos de mensuração e controle


quantitativo, foram MERAS EXPERIÊNCIAS.

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- GALILEU: o experimento e a revolução científica:

Introdução da matemática e geometria como linguagens da ciência e do


teste quantitativo experimental.
Certeza da validação proveniente das provas construídas e elaboradas de
forma matemática com evidências quantitativas dos fatos produzidas pela
experimentação;
Correspondência entre conteúdo dos enunciados e a evidência dos fatos
(verdade semântica);
Método silogístico grego método científico experimental (EX: modelo anterior
não dava conta de questões que necessitavam de relação numérica - movimento na
física).

- NEWTON: o método indutivo e o surgimento do positivismo:

Não se pode aceitar nenhuma hipótese física que não possa ser extraída da
experiência pela indução;

MÉTODO CIENTÍFICO INDUTIVO-CONFIRMÁVEL:

 Observação (fenômeno);
 relação quantitativa;
 (existente entre elementos do Fenômeno);
 indução de hipóteses;
 Teste das hipóteses;
 (verificação confirmabilística)
 generalização = lei

 Modelo copiado para outras áreas.


 GEROU CEGA CONFIANÇA NA CIÊNCIA (procedimento julgado
perfeito).

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Portanto, na Ciência Moderna o processo de conhecer é resultado de mero


registro das impressões sensoriais extraídas dos fatos no intelecto, originado de leis
e teorias com o auxílio da lógica.
 Fato – investigação – hipótese – generalização

Abordagens da Ciência Contemporânea

Temos como principais expoentes da Ciência Contemporânea Einstein e


Popper. Neste período, desmitifica-se a ideia de método científico como
procedimento regulado por normas rígidas/passos para o investigador seguir
visando à produção do conhecimento científico.
A pesquisa deve orientar-se pelas características do problema, das
hipóteses, das condições e da capacidade crítica e criativa do investigador. E há
tantos métodos quantos forem os problemas analisados e os investigadores
existentes.
Portanto, o processo de conhecer é resultado do questionamento elaborado
por aquele que põe em dúvida o conhecimento, a teoria já elaborada
(inconsistente/incompatível/com outras teorias).

Método da Ciência Contemporânea:

Admite-se que não há ainda explicações razoáveis que demonstrem como


funciona o processo de descoberta das soluções para os problemas e que também
não há critérios e procedimentos universalmente aceitos que possam ser usados
para justificar e demonstrar com certeza a veracidade de uma das hipóteses.

Método científico => compreende-se como a descrição e a discussão de


quais critérios básicos são utilizados no processo de investigação científica.

Desfaz-se o MITO da ciência como procedimento verdadeiro e eficaz:

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 A ciência e seus procedimentos são encarados como um processo


histórico e como um sistema aberto, sujeito a mudanças drásticas atreladas à cultura
de cada época e à área de conhecimento;
 Conceito de método científico alterado = deve ser entendido como a
descrição e a discussão de quais critérios básicos são utilizados no processo de
investigação científica.
 CRITÉRIOS - elementos que se somam à imaginação crítica/ à
criatividade do pesquisador.
 DESCRIÇÃO - não prescritiva, não dogmática.

2.2 O enunciado científico

A ciência é um conhecimento que se traduz em teorias. Essas teorias são


elaboradas a partir de enunciados científicos. Talvez você esteja se questionando: o
que é um enunciado científico?
Para responder a essa questão é preciso considerar que três grandes
formas de resposta, que são:
 Confirmação positiva: os enunciados científicos distanciam-se dos não
científicos porque têm a possibilidade de serem confirmados positivamente pela
experiência. Assim, haverá sempre algures, na relação entre o sujeito e o mundo, a
presença do facto, enquanto forma positiva de confirmar um enunciado. Este tipo de
resposta corresponde à posição positivista e neo-positivista.
 Confirmação negativa: um enunciado é científico, não porque possa ser
confirmado pela experiência, mas precisamente quando por ela pode ser refutado.
Esta posição, bachelariana na sua origem, é fundamentalmente desenvolvida por
Popper o qual afirma que um dado enunciado pode ser considerado científico
quando for possível fazer tentativas no sentido de refutá-lo.
 Confirmação formalista: um enunciado é científico quando é
internamente compatível com um dado conjunto de proposições que formam um
sistema a partir do qual podem ser operativamente deduzidas um leque significativo
de consequências. Os defensores desta solução afirmam que não há qualquer
possibilidade de confirmar, quer positiva, quer negativamente, qualquer enunciado

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científico pela sua confrontação com a realidade. Trata-se de uma concepção


completamente diferente das anteriores, não experimentalista, mas formalista, que
fecha a ciência numa linguagem própria, num sistema interno de signos que pode vir
a mostrar-se importante para compreender o mundo. (POMBO, 2009,
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/investigacao/cat_epist.htm).
Apesar das divergências conceituais sobre o enunciado científico, pode-se
afirmar que um enunciado é científico quando seu ponto de partida e de chegada é a
experiência. Um enunciado refere-se a dados que descrevem um fato ou fenômeno
observado.
Um dado constitui uma informação concebida ou codificada pelo
investigador, sendo que informação é o conhecimento que é extraído a
partir dos fenômenos. Desta forma, qualquer informação, por mais pequena
que seja, pode considerar-se um dado. O dado contém enunciados,
afirmações ou negações que expressam aspectos concretos da realidade.
(FREIXO, 2009, p. 41).

Logo, no enunciado científico utilizamos dados para descrever um fato ou


fenômeno pesquisado.

2.3 O método científico

O método de científico conduz a investigação científica na busca por


verdades científicas. Conforme Bunge (1980, p.25), esse método possui algumas
etapas que são:
 Descobrimento do problema ou lacuna num conjunto de
conhecimentos.
 Se o problema não estiver enunciado com clareza, passa-se à etapa
seguinte; se o estiver, passa-se à subsequente;
 Colocação precisa do problema, ou ainda a recolocação de um velho
problema, à luz de novos conhecimentos (empíricos ou teóricos, substantivos ou
metodológicos);
 Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema
(por exemplo, dados empíricos, teorias, aparelhos de medição, técnicas de cálculo
ou de medição). Ou seja, exame do conhecido para tentar resolver o problema;

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 Tentativa de solução do problema com auxílio dos meios identificados.


Se a tentativa resultar inútil, passa-se para a etapa seguinte; em caso contrário,à
subsequente;
 Invenção de novas idéias (hipóteses, teorias ou técnicas) ou produção
de novos dados empíricos que prometam resolver o problema;
 Obtenção de uma solução (exata ou aproximada) do problema com
auxílio do instrumental conceitual ou empírico disponível;
 Investigação das consequências da solução obtida. Em se tratando de
uma teoria, é a busca de prognósticos que possam ser feitos com seu auxílio. Em se
tratando de novos dados, é o exame das consequências que possam ter para as
teorias relevantes;
 Prova (comprovação) da solução: confronto da solução com a
totalidade das teorias e da informação empírica pertinente. Se o resultado é
satisfatório, a pesquisa é dada como concluída, até novo aviso. Do contrário, passa-
se para a etapa seguinte;
 Correção das hipóteses, teorias, procedimentos ou dados
empregados na obtenção da solução incorreta.

2.4 Metodologia

O que é metodologia? É uma forma de organizar como será realizado tal


estudo. Quando realizamos um método, estamos criando uma espécie de modelo
organizacional.
A concepção de metodologia está relacionada a uma concepção
epistemológica, pois uma deriva da outra. Assim a escolha pela metodologia está
diretamente ligada à forma como concebemos e/ou elaboramos os conhecimentos,
no sentido de que o modo como construímos o conhecimento na consciência se
reflete na maneira de conduzir o processo de busca pelo conhecimento. A
metodologia condensa uma epistemologia e a fundamentação teórica que conduz a
pesquisa. Na construção de conhecimentos propiciada pela pesquisa, acontece o
encontro entre a teoria e a prática. Conhecimento e forma de conduzir o processo do
conhecimento são, por assim dizer, faces de uma mesma moeda.

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No processo de planejamento da pesquisa, a definição por uma determinada


metodologia é uma etapa importantíssima, visto que ela reflete o modo de
construção/elaboração de conhecimentos do pesquisador. A partir da definição da
metodologia é que são determinados os métodos e as técnicas que serão utilizados
no processo da pesquisa. Partindo do fato de que a metodologia reflete uma forma
de conhecer e desvelar a realidade na prática, impossibilitou a redução desta ao
aspecto formal de como conduzir uma pesquisa.
A abordagem metodológica implica duas dimensões: metodologia e método.
A metodologia corresponde aos fundamentos teóricos que orientam a escolha dos
métodos de coleta e análise dos dados. O método é a forma como é feita a
intervenção na realidade que se procura conhecer. A escolha do método é
determinada pela metodologia que conduz a pesquisa e pela realidade a ser
investigada.
O método e a técnica
Método e técnica são dois termos semelhantes e, muitas vezes, são usados
como sinônimos, porém não são iguais. Ambos se constituem como meios para
atingir um fim. Mas o que é método e técnica?
O que é método?
Método, entre outras coisas, significa caminho para chegar a um fim ou pelo
qual se atinge um objetivo. É uma forma de organizar os passos ou procedimentos
absolutos a uma meta.
E o que é a técnica?
Técnica é um procedimento que está ligado diretamente a atingir uma meta.
Ação proveniente do autor (pessoa) em referência a um objetivo. Em outras
palavras, o que faremos em prol de alcançar o que queremos? Método é uma forma
de organizar os procedimentos baseado numa meta. A técnica são os
procedimentos que irão realizar a trajetória até esta meta.

2.5 A pesquisa

De uma forma ampla, pode-se dizer que a pesquisa está presente no


cotidiano humano, pois de uma forma ou de outra estamos sempre procurando
descobrir, entender alguma situação, tarefa, atividade. Isso porque um dos

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elementos essenciais da pesquisa, que é a curiosidade, é algo inato no ser humano.


A curiosidade é um dos grandes impulsos para que o processo da pesquisa
aconteça, ou seja, o ato de perguntar, de tentar desvendar um mistério, uma
incógnita é o que precisamos para iniciar uma pesquisa.
O ato de pesquisar, na atualidade, tem sido uma atividade comum às
pessoas das mais diversas áreas e/ou atividades. A pesquisa tornou-se necessária
em muitas atividades que são realizadas pelos mais diversos profissionais, como
forma de aprimorar procedimentos ou de construir novas possibilidades de inserção
e ação sobre a realidade.
Apesar de que potencialmente todas as pessoas possam ser pesquisadoras,
nem todas são. Além disso, é preciso diferenciar a pesquisa acientífica da científica.
Na pesquisa acientífica não encontramos rigorosidade, nem planejamento. A
pesquisa é impulsionada pelo desejo/curiosidade sobre um determinado assunto e
pode ser o início de uma pesquisa científica. Já na pesquisa científica o que a
norteia é todo um processo que culmina em um planejamento que a conduz na
busca por mais conhecimento.
De acordo com Demo (2000, p.40-42), a pesquisa científica não é algo
simples. Para esse autor, o processo da pesquisa implica cinco níveis de ação. O
primeiro nível é o da interpretação reprodutiva onde se deve “tomar um texto e
sintetizar de modo a reproduzir com fidedignidade.” (Ibid., p.40) Esse nível envolve
alguma forma de interpretação, porém com vistas à reprodução. No segundo nível,
acontece a interpretação própria, “no sentido de tomar um texto e conferir-lhe
formato interpretativo pessoal.” (Ibid.) O terceiro nível é o da reconstrução, “trata-se
de movimentar-se com autonomia no meio do que já existe, ou de questionar o que
existe e repor proposta própria.” (Ibid., p.41) Já o quarto nível é definido como o
espaço da construção,”no sentido de tomar o que existe como simples referência e
abrir caminhos novos.”(Ibid.) Por fim, o quinto nível, que é o momento da
criação/descoberta, “no sentido da introdução de novos paradigmas metodológicos,
teóricos ou práticos. Trata-se de negar fases anteriores, questionar radicalmente,
opor-se frontalmente à existência de paradigmas, perseguindo o novo como tal.”
(Ibid., p.42).
Além de avançar progressivamente nos níveis destacados por Demo, é
importante ter claro os paradigmas epistemológicos e metodológicos, a partir dos

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quais a pesquisa será desenvolvida. Para tanto, é necessário ter em mente que essa
escolha deve ter como pano de fundo alguns princípios. Nesse sentido, partilhamos
aqueles que são apontados por Streck (2005, p.18-27):

 Investigação e formação estão inseridas no mesmo processo de


produção de conhecimento;
 Pesquisa pressupõe compromissos éticos e políticos;
 Pesquisa é interação múltipla de sujeitos;
 Pesquisa é uma ação pública para a constituição do público;
 O método é parte do movimento de pesquisa.
 Dessa forma, a pesquisa precisa ser vista como uma ação de
“pronunciar o mundo”, elaborada de forma solidária e participativa, onde o
conhecimento e os seus referenciais ainda estão por ser construídos. O que pode
ser admitido de antemão são as linhas mestras de condução da pesquisa.

Refletindo:
Compare o que você aprendeu sobre pesquisa com a forma como
foram conduzidas as suas pesquisas realizadas na escola.

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PSICOLOGIA
Métodos de Investigação em vida e saúde I

Bibliografia Unidade A:

ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O


método nas Ciências Naturais e Sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2ª Ed.
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Filosofia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2003.
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São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2000.
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http://criticanarede.com/html/fil_queeaepist.html

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