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Psicologia organizacional e

do trabalho I
PROF. DOUTORA: EVELI FREIRE DE VASCONCELOS
O MUNDO DO
TRABALHO
UNIDADE 2
Redentor ou Algoz
do Homem?
Primeiro trabalho, depois o
prazer;

Prioridade de vida;
TRABALHO:
Supõe-no oposto do prazer;

Como se existisse apenas


fora do âmbito laboral;
• Latim: tripalium

• “ No suor do teu rosto comerás


Origem da o teu pão “ – Genesis,3:19.
palavra
Trabalho
• O trabalho associado ao
sofrimento
• [...] às vezes, carregada de emoção,
lembra dor, tortura, suor do rosto,
fadiga.
• Noutras, mais que aflição e fardo,
designa a operação humana de
transformação da matéria natural em
Trabalho objeto de cultura.
• Expressa-se como resultado que provém
da mobilização de força mental e/ou
intelectual.

• Segundo Albornoz (1997, p. 8)


• Define o trabalho como uma ocasião
na qual o sujeito tem a
oportunidade de traçar sua história,
de inserir-se em relações sociais
Dejours para as quais transfere o
(1992 ) questionamento de seu passado e
de sua história afetiva. Ante estas
referências, evidencia-se o caráter
humanizador que a palavra trabalho
simboliza.
• O trabalho é o mediador
privilegiado entre inconsciente
e campo social. Por isso é capaz,
em certas condições, de oferecer
Ainda uma solução favorável ao
segundo desejo e tornar-se um
Dejours instrumento, ao lado da
sexualidade e do amor, na
conquista do equilíbrio
psíquico e da saúde mental.
Dir-se-á, neste caso, que o
trabalho é estruturador.
O trabalho sempre esteve presente na história da
humanidade, sendo seu objetivo inicial, a sobrevivência

“[...] como um dos pilares fundamentais da


civilização humana, a sua capacidade de articulação
social, tendo como marco a organização e divisão
do trabalho”,

segundo a Antropologia, já na idade da pedra, as


mulheres cuidavam da colheita de raízes e do trato
com os filhos, cabendo aos homens a caça e defesa
do grupo dos animais e dos bandos rivais.
• Apesar das contribuições
romanas no campo do Direito,
Grécia e Roma compartilhavam
Império formas semelhantes de conceber
Romano o trabalho, sustentada pela
escravidão e pela estruturação da
sociedade – baseada no
escravismo;
• Mudanças paulatinas foram
acontecendo no que se refere a
economia e a estrutura das
Idade
sociedades, de forma que as
Média
ideias mais influentes na
antiguidade foram-se tornando
inadequadas.
Borges e Yamamoto (2014)
• O trabalho é objeto de múltiplas e
ambíguas atribuições de significados e
sentidos, o que inclusive dificulta a
discussão sobre o papel do trabalho na
sociedade e a importância que as pessoas
atribuem a ele, que se seguirá às condições
sócio-históricas em que cada pessoa vive,
considerando seu acesso à tecnologia, aos
recursos naturais, ao saber fazer do trabalho,
sua posição social, os trabalhadores que
conhece, o controle que exerce sobre o seu
trabalho, dentre outras questões.
Concepções • Há algumas principais concepções
sobre o sobre o trabalho situadas
trabalho historicamente de forma
predominante, ou seja coexistentes,
mas que prevalecem em um dado
período histórico, associadas a
interesses políticos, econômicos e
ideológicos, e que servem de
justificativa para as relações de
poder, conforme observam Borges e
Yamamoto (2014) e Borges (1999).
Na concepção clássica dominante da antiguidade

Platão e Aristóteles

O trabalho era à expressão


A filosofia Clássica
da miséria do homem e os
caracterizava o trabalho
cidadãos deveriam ser
como degradante, inferior
poupados dessa atividade
e desgastante
desgastante e degradante.
O trabalho competia aos escravos

Era realizado sob um poder baseado


na força e na coerção, de modo que o
senhor dos escravos detinha o
direito sobre a vida destes últimos.

Essa organização de valores era


possível em razão da extrema
concentração de riquezas, da
submissão dos povos dos territórios
conquistados e da legitimação da
escravidão.

A CONCEPÇ̧ÃO DO TRABALHO PARTIA DE UM CONCEITO MAIS RESTRITO, REDUZINDO-


O ÀS ATIVIDADES BRAÇ̧AIS E/OU MANUAIS EXECUTADAS PELOS ESCRAVOS.
• Sob a influência da Economia clássica liberal, do
protestantismo, da administração clássica e da psicologia
industrial, no contexto do berço do capitalismo, com o
mercado concorrencial em contraposição aos estados
absolutistas;
• Nesse cenário, a partir do surgimento da compra e venda da
A concepção força de trabalho como qualquer outra mercadoria, há a
construção de uma ética do trabalho baseada em sua
do capitalismo glorificação: por meio do trabalho duro obtém-se a graça
divina da riqueza, o que justifica a sua distribuição
tradicional desigual.
emerge • Assim o trabalho é central, tomado como prioridade na vida
das pessoas, porque dele se proverá a abundância geral
das empresas e nações e o sucesso individual. E que, sob o
modo de produção taylorista-fordista, trata-se de um trabalho
planejado pelos especialistas, padronizado, simplificado,
disciplinado e produtivo (Borges & Yamamoto, 2014; Borges,
1999).
A concepção • O trabalho sob essa concepção consiste em uma mercadoria

gerencialista que provê renda, assistência e garantias sociais ao


trabalhador, dadas as suas proteções legais, e que
tem por viabilizam o consumo.

influência a • Além disso, mantém-se empobrecido em seu conteúdo para a


maioria dos trabalhadores, uma vez que ainda predomina o
doutrina modo de produção taylorista-fordista, tendo por recompensa a
político- sua instrumentalidade econômica e interpessoal, por ser
produtor das relações interpessoais e de bem-estar social,
econômica do possuindo, portanto, uma centralidade reduzida.
keynesianismo, • E com auxílio da psicologia organizacional o controle
oposta ao exercido sobre o trabalhador torna-se menos coercitivo e mais
“humano” (Borges & Yamamoto, 2014; Borges, 1999).
liberalismo
Concepção Marxista
• as relações de produção sob o regime capitalista, a glorificação
do trabalho ocorre pela formulação ideológica, descrita
anteriormente, enquanto em Marx o trabalho é uma categoria
social estruturante em dois sentidos: produz a própria
condição humana e representa um eixo da história da
humanidade.

• Em relação ao primeiro sentido, Marx (1980) defende que o


processo de diferenciação do homem do restante dos animais
inicia quando aquele produz seus meios de subsistência, ou, em
outras palavras, à medida que é produtor de sua vida material,
e o trabalho passa a ser expressão do próprio ser.
• O segundo sentido expressa-se na noção de que a
história da humanidade é a história das relações de
produção.

• Esse caráter fragmentado da produção, por sua vez,


subtrai as possibilidades de identificação do tra-
balhador com o produto de seu trabalho. Inter- liga-
se, assim, a concepção da força de trabalho como
mercadoria à alienação do trabalhador
• Quando uma forma de exercer o trabalho tenta
eliminar a necessidade da intencionalidade humana
ou suas capacidades cognitivas, tenta descaracterizar
o próprio trabalho na sua condição humana.

• E essa compreensão está por trás de muitas críticas e


análises que se fazem sobre a forma de planejar e
organizar o trabalho.

• Mas, seguindo na delimitação, lembramos que o


psicólogo do trabalho e das organizações, na maior
parte das vezes, lida com o trabalho re
• Passou-se ao lucro e para obtê-
lo era preciso mão-de-obra de
Porém, com a baixo custo, fato que teve como
consequência a “oficialização”
Revolução
da exploração dos
Industrial trabalhadores.
• Kennedy (1993) acrescenta que,
nenhuma descoberta
tecnológica anterior havia
Segundo Nicolaci-
produzido situação
da-Costa (2002) a
semelhante, dado ao enorme
primeira Revolução
salto referente à produtividade
Industrial foi
acelerada e gerada pela Revolução
desorientadora Industrial desde os seus
primeiros momentos.
• o aumento da produtividade
que se seguiu aos momentos
iniciais da substituição do
trabalho humano pelas
O autor ressalta a
ferramentas mecânicas e da
radicalidade do fato,
exemplificando: força animal pela energia
inanimada, consolidando-se o
sistema capitalista, baseado no
capital e no trabalho
assalariado.
Desenvolvimento Produtivo
• As novas tecnologias da informação são o
cerne de uma nova fase do capitalismo, o
informacionalismo é estruturalmente
diferente da fase industrial.
Castells(1999)
• Atravessa a sociedade como um todo, exige a
construção de novas identidades ;
Nardi (2014,p.635)
• As transformações contemporâneas do capitalismo são
particularmente focadas na subjetividade, pois a
reestruturação produtiva, as novas formas de gestão e a
terceira revolução industrial – vão demandar tarefas que
solicitam a implicação plena do sujeito com seu
trabalho:
Conceito de
subjetividade
POLISSÊMICO E UTILIZADO POR A ORIGEM FAZ REFERÊNCIA
DIFERENTES CORRENTES DA AOS SUPORTES DOS ASPECTOS
PSICOLOGIA E DAS CIÊNCIAS OBSERVÁVEIS DA EXISTÊNCIA,
SOCIAIS OU SEJA, ÀQUILO QUE DÁ
SUBSTÂNCIA AOS ASPECTOS
FENOMENOLÓGICOS QUE
CARACTERIZARIAM O
HUMANO.
• É um conceito basilar para psicologia;
• Remete, a dimensão da relação dos
Subjetividade e sujeitos com o trabalho, isto é, as
Trabalho
formas como nos constituímos a
partir da inserção nos distintos
mundos do trabalho;
• E também à forma como a
relação sujeito-trabalho se
configura a partir das
demandas do mercado,
Subjetividade
produzindo uma subjetividade
e Trabalho
específica capaz de atender as
exigências das transformações
na organização do trabalho nos
distintos setores da economia
• Pode ser pensada como uma
categoria analítica que
permite a compreensão da
dinâmica e da estrutura
social a partir da Subjetividade
indissociabilidade do
individual e do coletivo.
• Não existe uma ruptura entre sujeito
psíquico ( sujeito da história
individual e do desejo inconsciente)
Subjetividade e sujeito social ( sujeito da história e
de suas transformações)
• Indica as formas como cada
contexto sócio histórico e cada
cultura e subcultura específicas
Compreender
produzem um modo de ser sujeito
a
subjetividade no e para o trabalho;
no trabalho é
central para a
psicologia • assim como configuram as
possibilidades de transformação
das expressões de cada sujeito
singular na sua confrontação com
as experiências que marcam a
inserção social, a realização de
desejos, o planejamento de vida e a
felicidade.

• Nardi (2015, p.640)


Trabalho x
Emprego
CONTRATO DE TRABALHO, O EMPREGO É UMA FORMA
DIFERENCIA TRABALHO DE ESPECÍFICA DE TRABALHO
EMPREGO; ECONÔMICO ( QUE
PRESSUPÕE A
REMUNERAÇÃO),
REGULADO POR UM
ACORDO CONTRATUAL ( DE
CARÁTER JURÍDICO)
• Blanch (1996) acentuou que o emprego
Trabalho x implica a redução do trabalho a um valor de
Emprego troca, portanto a uma mercadoria.
• são períodos que ocorrem
variações na economia de um
Crise país em função principalmente
econômica para da baixa comercialização e alta
Pignata e inflação, gerando índices
Carvalho (2015) financeiros negativos e tendem
a acarretar o desemprego
conjuntural.
Esse aumento no
A crise
número de
reflete-se em desemprego traz
vários consequências
setores da para a sociedade
sociedade no
Brasil como um todo,
• A situação de 2015 a 2016, devido à
instabilidade de emprego e aumento
Em suma, o período de desenfreado do desemprego, se configurava
2014 a 2022 foi árduo como um cenário prejudicial à sociedade, às
para os trabalhadores organizações e aos seus trabalhadores;
brasileiros, com altas
taxas de desemprego,
incertezas econômicas e • 2018 houve aumento do desemprego e a falta
informalidade persistente. de oportunidades formais de trabalho levaram a
um crescimento da informalidade. Muitos
brasileiros recorreram a atividades autônomas,
trabalho por conta própria ou empregos
informais, sem carteira assinada e sem acesso a
direitos básicos

• A partir de 2020, o Brasil foi duramente


afetado pela pandemia de Covid-19, o que
acarretou outras consequências
O desemprego, segundo estudos de
Jahoda (1982) e Rentería (2008)

• Causa diversas perdas na vida do indivíduo, tanto a nível


social como a nível psíquico;
• Apresentam uma significação pertinente,
considerando desempregado, a pessoa que
Argolo e
não conseguiu um trabalho legítimo e
Araújo
assíduo ou que perdeu um emprego, além
(2004),
disso, consideram desempregado,
indivíduos que não estão trabalhando, mas
que estão à procura e são capazes de exercer
as funções almejadas, podendo no momento,
estar empregados ou não em trabalhos
irregulares.
Jahoda
(1982) apud DISCORREM SOBRE A
RELEVÂNCIA DO BEM-ESTAR
NESTA DIREÇÃO, APONTA A
NECESSIDADE DE

Witte, EM INDIVÍDUOS QUE SE


ENCONTRAM
DESEMPREGADO E COMO AS
REFLETIRMOS SOBRE AS
CONSEQUÊNCIAS
PSICOSSOCIAIS DO
Rothmann e EXPERIÊNCIAS AFETIVAS
PODEM INFLUENCIÁ-LAS,
DESEMPREGO

Jackson
DESCREVENDO A TEORIA
DA PRIVAÇÃO LATENTE
COMO A MAIS

(2012)
PRESTIGIOSA NESSE
QUESITO.
O trabalho, além • estabelecimento de uma estrutura de
de desempenhar tempo diário,
um importante • compartilhamento de experiências e
papel financeiro contatos fora da família,
e econômico da • informação sobre a identidade
vida dos seres pessoal,
humanos, é
essencial • propósito coletivo, e por fim
também para • a execução de atividade regular.
cinco funções • Com a privação dessas funções
latentes, que básicas, ocorre um impacto negativo
seriam: no homem.
Fases do desemprego,

no primeiro momento, o sujeito


recém-desempregado, acredita que
conseguirá outro rapidamente e, na
maior parte dos casos, encontra-se
otimista,

porém, conforme o tempo passa e a nova


oportunidade esperada não aparece, a
pessoa passa a tornar-se deprimida e, é o
momento em que pode vir a apresentar
sintomas psicológicos,
• que comumente acabam com a
recolocação no mercado de
trabalho, todavia, os autores
falam que em alguns casos
mais graves, o trabalhador
pode vir a desenvolver
psicopatologias severas.
Eisenber e Lazarfeld (1935) apud Borrero (1980)
identificam quatro grandes atitudes e fases do
desemprego:

PRIMEIRO SERIA “O NÃO-ROMPIDO”, NO QUAL OS


DESEMPREGADOS PERSISTEM NA OBTENÇÃO DE EMPREGO E
MUITAS VEZES CONSEGUE ENCONTRAR UMA NOVA
COLOCAÇÃO;

SEGUNDO, “O RESIGNADO”, MOMENTO QUE OS


DESEMPREGADOS ENFRENTAM EXTREMAS LIMITAÇÕES DE
TODAS AS NECESSIDADES; PLANOS FUTUROS SÃO
INDEFINIDOS E NÃO HÁ MUITA ESPERANÇA DE MELHORAR
AS COISAS, ESTA FASE CARACTERIZA-SE POR DESESPERANÇA;
terceiro estágio “apático” é dominado pela
indiferença e ociosidade;

no último estádio, o indivíduo está


angustiado, com ódio e desesperança, ocasião
em que a embriaguez e pensamentos de
suicídio são muito comuns.

Eisenber e Lazarfeld (1935) apud Borrero (1980)


O autor • com as experiências
sugere emocionais semelhantes às
reações a perda, dor e
ainda uma
separação, o qual identificou
comparação cinco fases de sentimentos ao
destas lidar o luto: negação e
várias fases isolamento; raiva, barganha;
do depressão e aceitação.
desemprego
O desemprego
tende a tornar as
pessoas • diminuição da autoestima do sujeito, pois
emocionalmente ele pode estar motivado em relação a
mais instáveis
do que antes do determinada vaga de emprego, mas,
desemprego”. conforme as negativas vão surgindo, pode
Gondim et al.
passar a se deprimir, acreditando não ser
(2010), relatam
que uma das ter capacidade para tal trabalho, colocando
consequências como responsabilidade exclusivamente
que o
desemprego sua , podendo vir a afetar assim sua
pode acarretar autoestima, que até então, poderia ou não
ser elevada e/ou adequada,
• 13 características da
personalidade como
favoráveis a apresentarem
Teodoro
maiores danos psíquicos,
(2010) apud
Nogueira como por exemplo: pessoas
(2014) citam perfeccionistas, que não
acreditam em sua capacidade,
que apresentam insegurança,
ansiedade e pessimismo.
Para Chahad
• Porque quanto maiores forem
(2005), a piora
na situação as lesões psíquicas, menor será
econômica do a motivação e,
empregado ao consequentemente, a chance de
perder o conseguir uma nova vaga no
trabalho, mercado de trabalho e uma
contribui para melhoria em sua condição
os prejuízos econômica e social, tornando
psicológicos e
assim, um círculo vicioso.
vice-versa
• também representa um papel
Ribeiro fundamental nesse contexto,
oferecendo um suporte
(2009)
psicossocial, o psicólogo junto a
acredita que outros profissionais deve
a Psicologia atentar-se a todas essas
dimensões.
• Mesmo como fantasma potencial,
assombraria à quase todos,
relegando as pessoas a uma situação
O medo do
desemprego de instabilidade, insegurança, falta
de referências seguras, desconfiança
dos padrões passados e
desconhecimento do que fazer para
o futuro
• Atualmente, se institucionalizou
A Psicologia como um fato psicossocial,
é chamada
para provocando impactos
auxiliar na significativos na vida dos
reflexão trabalhadores e de suas famílias,
teórica e
técnica como: isolamento social,
relativa ao transtornos identitários, ruptura
desemprego de vínculos, doenças e
desconstrução de projetos de vida.
• Diante desta constatação, pode-se
categorizar, assim, o desemprego de duas
maneiras genéricas: uma dimensão
normativa-institucional (explicação
objetiva e formal), mais tradicional, e
uma dimensão biográfica-
subjetiva(explicação psicossocial), mais
contemporânea (Demazière, 2006;
Guimarães, 2004).
a) Dimensão Normativa-
Institucional do Desemprego
• Através de uma explicação objetiva e formal, vê o
desemprego como fenômeno estrutural da economia
(privação do emprego - voluntária ou involuntária,
gerando uma falta de salário e um rompimento da
trajetória de trabalho)
b) Dimensão Biográfica-Subjetiva
do Desemprego
• Através de uma explicação psicossocial, vê o
desemprego como um fenômeno que gera
instabilidade e invisibilidade social criando uma
identidade estigmatizada de desempregado.
Segundo demonstram algumas
pesquisas já realizadas, os recursos
mais utilizados para voltar a trabalhar
seriam:
• construção e uso de redes sociais,
• busca de programas públicos (seja de trabalho, seja de
assistência social),
• ingresso na informalidade ou em cooperativas de trabalho
ou,
• no limite, a renúncia ao trabalho (Ackermann e cols., 2005;
Almeida, Filgueiras, Gondim & Pena, 2001; Araújo,
Monteiro, Lima & Souza, 2006; Azevedo e cols., 1998;
Farina & Neves, 2007; Ribeiro e cols., 2008).
A situação de desemprego provoca impactos
psicossociais de forma direta nas pessoas
desempregadas, e de forma indireta nas empregadas e
subempregadas, atingindo a todos e potencialmente
podendo promover:
• Nas pessoas em situação de desemprego: degradação do laço social
(Blanch, 2003; Castel, 1998, 2009), formação de patologias coletivas
de frustração (Moise, 2000) ou de patologias do desemprego
(Seligmann-Silva, 1999), precarização da função do trabalho
(Dejours, 2007), e degradação da pessoa (Farina & Neves, 2007);
• Nas pessoas empregadas e subempregadas: vício em
trabalhar e valorização da insensibilidade
(Seligmann-Silva, 1999); cinismo viril e realismo
econômico (Dejours, 1999b); criação do fantasma da
descartabilidade e da invisibilidade (Sennett, 2006);
e individualização das relações de trabalho (Ribeiro e
cols., 2008).
Estratégias para Lidar com o Desemprego:
configuração do quadro de possibilidades

• A tomada de medidas macroeconômicas, macrossociais e


macropolíticas é fundamental para o combate ao desemprego

• Há de se considerar a regulação da economia com crescimento,


incentivos fiscais e aumento da oferta de empregos) e da
ampliação e diversificação das políticas públicas de trabalho e
emprego (aumento dos postos de trabalho, incentivo aos
micronegócios com programas de microcrédito, intermediação de
mão-de-obra, programas de qualificação, incentivo à economia
solidária, políticas de assistência social).
(SINE) propõe quatro ações básicas de auxílio às pessoas em situação de
desemprego: a intermediação, a qualificação, a certificação e a orientação,
associado às ações de assistência social

• programas de intermediação (recolocação de mão-de-


obra pela intermediação entre empresas e
trabalhadores) e de
• qualificação, além da oferta de benefícios como o
seguro-desemprego, algumas pequenas iniciativas de
certificação,
• mas quase nenhuma ação de orientação profissional e
ocupacional, nas quais o psicólogo pode ter um papel
mais expressivo
• poder-se-ia articular tais ações com investimentos em projetos de
orientação profissional à pessoas em situação de desemprego para
propiciar um espaço de reconstrução da vida sociolaboral.

• o importante quanto ter um trabalho, é ter um projeto de vida no


trabalho, que permita sair do planejamento marcado pela urgência
da temporalidade presente (tática) e ingressar numa situação de
potencialidade de planejamento futuro (estratégia).
O olhar da Psicologia se faz
necessário
• A Psicologia deve, primeiramente, ampliar sua
compreensão sobre o mundo do trabalho para
estabelecer diálogos possíveis com a Economia e
com as Ciências Sociais e Políticas, conhecer as
análises e estratégias já desenvolvidas e poder
oferecer sua contribuição. Pode atuar de duas
formas:
Pode atuar:
• De forma indireta, assessorando o Estado na
elaboração e implementação de políticas públicas;

• - De forma direta, elaborando projetos e ações que


visem efetivar as políticas públicas através de
intervenções pontuais ou continuadas (programas)
integradas a outras ações já desenvolvidas.
O que poderia ser feito pela
Psicologia no tocante à questão
do desemprego?
• a) Nível teórico: construir uma compreensão psicossocial acerca do
desemprego, apontando que a situação de desemprego se constitui
numa ruptura biográfica capaz de gerar sofrimento, com
consequências graves em nível psicossocial;
O que poderia ser feito pela
Psicologia no tocante à questão
do desemprego?
• b) Nível político: integrar as equipes que constroem as políticas
públicas de trabalho e emprego para a ampliação da análise do
desemprego e a incorporação de ações, que visem auxiliar as
pessoas a construir estratégias para sair da situação de desemprego
e lidar com suas consequências psicossociais geradoras de
sofrimento e exclusão sociolaboral, principalmente através de
programas de orientação profissional e ocupacional;
c) Nível programático:
• procurar conhecer e compor juntamente com as equipes que
colocam em ação as políticas públicas de combate ao desemprego,
como o CAT (Centro de Apoio ao Trabalho) e o CRAS (Centro de
Referência em Assistência Social), tanto como atores, quanto como
multiplicadores de estratégias mais relacionadas ao campo
psicológico;
d) Nível da ação:
• auxiliar as pessoas em situação de desemprego com estratégias de
intervenção próprias da Psicologia, que visem, basicamente, o
acolhimento das demandas manifestas, a organização das ideias e
a reflexão conjunta sobre as possibilidades de resolução do
problema apresentado.
Estratégias Psicossociais de
Intervenção:
• O desemprego é um fenômeno complexo e que a
intervenção psicossocial auxiliaria, em parte, na
resolução deste problema.
Em geral, as propostas têm como
princípios:
• apoio e suporte psicossocial;

• troca de experiências entre estas pessoas e formação de redes de


apoio;

• informações sobre o mundo do trabalho no sentido de desconstruir


falsas ideias e concepções;

• levantamento de compreensões e repercussões do desemprego


contemporâneo;
Em geral, as propostas têm como
princípios:
• retomada e reconstrução da trajetória de vida no trabalho;

• identificação dos saberes, conhecimentos e diferentes táticas ou


estratégias de geração de renda e trabalho construídos no percurso
de trabalho;

• instrumentação objetiva e subjetiva para o desenvolvimento de


táticas e estratégias individuais e coletivas para gerar renda e
trabalho.
Estas propostas almejam
• a elaboração e implementação de um projeto de vida e de um
plano de ação sociolaboral, que possam ser utilizados de forma
permanente e reconfigurados a cada nova relação e transição no
mundo do trabalho, como, por exemplo, a situação de desemprego.
• O projeto de vida tem relação mais direta com a construção da
identidade e dos objetivos e expectativas de vida (instrumentação
subjetiva); e o plano de ação representa um conjunto de ações para
atingir um fim (instrumentação objetiva).
Por que a construção de um projeto de
vida e de um Plano de ação no trabalho
seriam importantes para uma pessoa
em situação de desemprego?
• - Restituiriam a capacidade de construir uma
referência a qual seguir para navegar no mundo do
trabalho;
• - Constituiriam a sistematização de um repertório de
conhecimentos e estratégias a serem colocados em ação
a cada nova transição no trabalho;
• - Possibilitariam a restituição da capacidade de
analisar o mundo do trabalho e refletir sobre suas reais
oportunidades, diminuindo sua submissão;
• - Possibilitariam a formação de redes sociais que são
fundamentais para a conquista de um pouco mais de força
no mundo do trabalho.

• Diante disso, a Psicologia é convocada a compor a rede de


forças de combate ao desemprego, trazendo uma visão
psicossocial do desemprego, analisando seus impactos nas
pessoas e nas relações intersubjetivas e propondo
estratégias, a partir do seu cabedal construído de teorias e
técnicas
The joint impact of microeconomic parameters
and job insecurity perceptions on commitment
towards one’s job, occupation and career: A
multilevel approach

• TEXTO: “O Conjunto De Impactos Dos Parâmetros


De Uma Microeconomia E As Percepções De
Insegurança No Trabalho: Uma Abordagem
Dinâmica”.

• Autores: Kathleen Otto; Gisela Mohr; Maria U.


Kottwitz; Sabine Korek. (2014)
O trabalho possui objetivo de
investigar
• a relação da microeconomia de uma região (47
distritos alemães) e a insegurança pessoal/subjetiva
de indivíduos (236 pessoas entrevistadas – pelo
menos 1/3 ficou desempregado por, no mínimo, um
mês nos últimos 10 anos) frente ao seu
comprometimento em um emprego
Os autores dividem a insegurança
do trabalho em dois tipos:
• qualitativo (ameaça/medo da deterioração das
condições de trabalho, das relações entre os
trabalhadores, redução de salário e falta de
oportunidades futuras) e

• quantitativo (medo/preocupação com o futuro do


emprego atual, medo de ser demitido).
Além disso, os autores
investigaram
• qual a relação/influência entre envolvimento
profissional, comprometimento profissional e
satisfação pessoal de um trabalhador com os
indicadores/parâmetros de insegurança do trabalho,
situação econômica de uma região, condições do seu
mercado de trabalho e taxas de desemprego dessa
região.
• Envolvimento profissional foi descrito como o nível
de engajamento pessoal investido por uma pessoa em
seu trabalhado, o quanto ela se apresenta motivada à
aprender sobre sua ocupação laboral.

• Comprometimento profissional foi definido como o


apego de um sujeito por sua profissão, sua ligação
afetiva com seu trabalho.
• satisfação pessoal foi relatada como o processo de
construção/desenvolvimento de uma carreira
profissional e avaliação de seu progresso e sucesso
alcançado.

• (Os autores relataram que é um desafio construir


uma carreira quando existe um medo eminente de
perder o emprego).
• A partir da revisão bibliográfica, observaram que a
insegurança, o sentimento de medo e a tensão
vivenciada por um sujeito são sensações que
aparecem, mais comumente, em trabalhos informais,
temporários e precários. (São formas de trabalhos que
proporcionam maior instabilidade financeira).
• Os autores notaram que o aumento em 1% das taxas
de desemprego de uma região foi suficiente para
causar o aumento de 0,6% das taxas de insegurança
dos trabalhadores.

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