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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Aventura Sociológica
“O Capital”, Karl Marx

I. Materialismo histórico dialético

Marx vai analisar o modo de produção como uma divisão entre a infraestrutura e a
superestrutura. A força produtiva, a força de trabalho e os meios de produção, aliados às
relações sociais de produção, geram a infraestrutura. Já a superestrutura abrange todo o
conjunto jurídico e político, o Estado e suas forças, mais a ideologia. A infra e a
superestrutura estabelecem sempre uma conexão entre si.

O materialismo foi um conceito muito trabalhado pelo idealista alemão Ludwig Feuerbach.
Ele explicou que, ao longo das transformações históricas do trabalho, o homem foi
seccionando o trabalho de fatores econômicos, sociais e políticos, sempre justificando essa
divisão de alguma maneira. Portanto, ele ressaltou que não partimos de uma ideia divina,
na verdade, os homens criam seus pontos de vista usando o argumento divino para
justificá-los, é o materialismo.

O método da dialética consiste em analisar a tese, a antítese e a síntese. A antítese vai


sempre contra a tese, havendo um embate. A partir da negação desse embate, surge a
síntese. Portanto, podemos observar a história do desdobramento do trabalho da seguinte
maneiro:

1. Tese: Classe dos Senhores


Antítese: Classe dos Escravizados
Síntese: Feudalismo

2. Tese: Classe dos Nobres


Antítese: Burguesia
Síntese: Capitalismo

3. Tese: Burguesia
Antítese: Proletariado
Síntese: ?

OBS: Hegel vai dizer que essa dialética está em constante transformação, já que o
conhecimento é apenas um desdobramento.

Marx e Engels vão dizer que o que determina o ser não é sua consciência, mas sim, seu ser
social: o contato de um ser com os outros, por meio das relações de trabalho, que seria
capaz de construir sua forma de consciência.
II. A circulação ampliada de capitais

● Da mercadoria

Primeiramente, para entendermos como Marx descrevia a circulação ampliada do capital,


precisamos distinguir a circulação simples de mercadoria de um investimento inicial, que
gera uma circulação ampliada.

Em uma circulação simples de mercadoria, não existe mais dinheiro produzido do que
no momento original. É apenas uma troca qualitativa de um valor por um produto. Existe
um pagamento pelo valor de uso da mercadoria e uma troca entre o dinheiro e o material.
Por exemplo, ir ao mercado e trocar 10 reais por uma garrafa de detergente. O valor de uso
desta garrafa era 10 reais e mais nenhum dinheiro foi acrescido nessa troca.

Já na circulação ampliada do capital, vai existir um investimento inicial que gerará lucro ao
final do processo. Por exemplo, uma empresa de calçados vai investir na produção desse
material. A mercadoria vai passar pelo processo de fabricação, por meio de um sistema
onde o proletariado é livre e trabalha utilizando os meios de produção burgueses. Ao fim,
todos os produtos utilizados para confeccionar o calçado vão se tornar a mercadoria final,
que terá um valor tanto de uso, quanto de troca. O valor de uso seria o valor atribuído de
acordo com a utilidade relacionado às suas propriedades físicas, enquanto o valor de
troca seria o quanto ela vale naquele mercado, podendo variar de acordo com o
cenário da época.

● Do trabalho

O trabalho, assim como a mercadoria, terá uma maneira de circulação na sociedade.


Existem duas maneiras pelas quais o trabalho pode circular:

1. Circulação concreta: é a utilização da energia e da habilidade de um trabalhador


durante a confecção de algo, é o ato de despender sua força de trabalho.
2. Circulação abstrata: todo o processo de produção que envolve uma mercadoria,
desde seu planejamento e design, até sua produção fabril, por exemplo.

➔ Fetichismo da mercadoria: a própria sociedade vai atribuir a um objeto inanimado


um valor que não necessariamente se relaciona com o valor real de todo trabalho
feito para sua confecção.
➔ É difícil se enxergar em uma mercadoria, mesmo tendo sido parte do longo processo
de produção dela.

● Mais-valia

A mais-valia é a diferença entre o salário de um trabalhador e o valor produzido pelo seu


tempo de trabalho. Ou seja, aquele assalariado produziu uma mercadoria, mas o seu salário
não equivale ao preço do que foi produzido. Nem todo tempo de trabalho é convertido no
lucro do trabalhador, uma vez que parte daquele dinheiro vai ficar para os burgueses, donos
dos meios de produção.
➔ Mais-valia absoluta: quando se prolonga a jornada de trabalho. A extensão dessas
horas não aumenta o salário do trabalhador, não sendo, portanto, eficiente.

➔ Mais-valia relativa: quando, por meio de modernizações nos meios de produção ou


de uma gestão diferente, se permite produzir mais em menos tempo, reduzindo a
jornada de trabalho. Essa estratégia é mais eficiente, pois o trabalhador vai receber
o mesmo, mas trabalhando menos.

III. Ideologia e Alienação

Para chegarmos até a análise de Marx, precisamos compreender que ela foi uma ferida
narcísica para a sociedade. A ferida narcísica seria um choque de realidade, que modifica a
visão de mundo dos homens. Existiram, até então, quatro feridas de destaque. Elas foram
feitas por:

1) Copérnico
2) Darwin
3) Freud
4) Marx

➔ Marx analisou a ideologia atribuindo um significado negativo a ela, utilizando o termo


como algo pejorativo. Isso porque, ele analisou a ideologia como sendo um
pensamento propagado sempre pela classe dominante, sendo aceita pela
classe dominada. Para Marx, a ideologia surgia, portanto, da alienação.

Existem 3 tipos de alienação:

1) Social: o ser humano não percebe, muitas vezes, que ele faz parte da sociedade,
que os problemas sociais que podem parecer distantes dele estão, na realidade,
caminhando ao seu lado. Ao mesmo tempo que não se percebe que o ser faz parte
da sociedade, também não se percebe que a sociedade faz parte do ser, o
integrando e o modificando constantemente. Além disso, o sentimento de
passividade também é uma forma de alienação social, pois o ser humano aceita
que vive naquele meio cheio de problemas e que nada pode fazer para mudá-lo,
mesmo que isso não seja verdade.

2) Econômica: falta de conexão entre o trabalhador e o produto, não nos enxergamos


no que produzimos, o trabalhador é separado de seu trabalho.

3) Intelectual: tendência a achar que a produção intelectual das ideias cabe somente à
classe dominante, aos filósofos e intelectuais da alta classe. A classe dominada
serviria somente para o uso da força de trabalho braçal e não para a produção
teórica. Ao mesmo tempo que a classe dominada é alienada pelas ideias vindas dos
dominantes, estes últimos também são alienados ao acreditarem que somente eles
podem produzir e propagar o conhecimento.

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