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BOGDAN SUCHODOLSKI
Resumo
1
Doutora em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora do
curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste, campus de Francisco
Beltrão/PR. Email: martins_sue@hotmail.com
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Doutora em Educação pela Universidade Federal de Pelotas - UFPel. Professora do curso de Pedagogia
da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste, campus de Francisco Beltrão/PR. Email:
sfrancielesoares@gmail.com
ANAIS DA XIV JORNADA DO HISTEDBR: Pedagogia Histórico-Crítica, Educação e Revolução: 100 anos da
Revolução Russa. UNIOESTE – FOZ DO IGUAÇU-PR. ISSN: 2177-8892
o processo de desumanização causado pela ordem social capitalista; denunciar o
primado do mundo das coisas sobre o mundo dos homens; contribuir para a construção
do socialismo. Suchodolski (1976) parte da crítica idealista deste conceito presente em
Hegel para demarcar como a alienação é constituída na materialidade das relações
sociais capitalistas, apontando como necessidade para o desenvolvimento do homem em
todas as suas potencialidades a luta pela transformação social e pela constituição de
novas relações sociais e com isso, também de um novo homem. Neste sentido, num
primeiro momento, nos detemos a compreensão deste conceito, para em seguida,
demarcar a formação humana e o ensino, na perspectiva marxista tendo em vistas as
reflexões de Suchodolski (1976), como denúncia e contraponto a alienação capitalista e
luta por uma nova sociedade.
Introdução
Umas das questões apontadas por Marx e Engels em relação à formação humana
é que esta se realiza em condições históricas concretas. Neste sentido, seus escritos são
fundamentais para desvelar como a formação humana no modo de produção capitalista
é cindida pelos interesses de classes. Logo, uma formação marcada pela
unilaterialidade. Suchodolski (1976a, p. 09), na análise da teoria marxista da educação,
sublinha que a situação do homem sob o capitalismo é marcada por uma crescente
alienação que “impossibilita um desenvolvimento das massas trabalhadoras, destrói a
sua relação com o trabalho e a sociedade e deforma a sua consciência”. Neste sentido,
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no processo revolucionário, uma das tarefas educativas do proletariado é desvelar as
condições de exploração e alienação na qual os trabalhadores estão submetidos.
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por sua vez, depende da venda da sua força de trabalho, que se materializa em objetos,
para garantir sua sobrevivência. Ao alienar-se do objeto de trabalho o trabalhador
aliena-se de si mesmo. Sua atividade de trabalho torna-se para ele algo penoso, que lhe
causa sofrimento e lhe impede o desenvolvimento livre de suas energias mentais e
físicas. Destaca Marx, “seu trabalho não é voluntário, porém imposto, é trabalho
forçado. Ele não é a satisfação de uma necessidade, mas apenas um meio para satisfazer
outras necessidades”. (MARX, 1983, p. 93). No processo de produção o trabalhador
sente-se separado de si mesmo: o seu trabalho não lhe pertence, pertence a outro.
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Separado de seu ser genérico, o homem separa-se também dos outros homens.
O fato de o trabalhador encontrar-se separado dos objetos de seu trabalho e dos meios
de produção indica que outro homem apropriou-se do seu trabalho e dos objetos criados
por ele; a sua atividade e os meios para realizá-la tornaram-se propriedade de outro: o
capitalista.
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Sucholdoski (1976), entretanto, considera que na análise efetuada por Marx em
O Capital, sobre o caráter fetichista da mercadoria, a alienação capitalista se apresenta
de forma mais rica e concreta. Marx ao revelar que na sociedade capitalista o valor de
troca se sobrepõe ao valor de uso, revela também o caráter fetichista da mercadoria que
se coloca na consciência dos homens como coisas dotadas de vida própria, como se
tivessem existência independente das relações de trabalho que as originaram. É
oportuna a observação de Belluzzo (1987), sobre a teoria do valor em Marx:
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social. Neste sentido, a luta contra o trabalho alienado não se dá no plano da
consciência, das ideais, mas trava-se no terreno concreto em que as relações sociais
capitalistas se constituem: ou seja, no processo de produção e reprodução social do
capital. É neste terreno contraditório que se produz a consciência humana: “O modo de
produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e espiritual em
geral. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu
ser social é que determina a sua consciência”. (MARX, 1986, p. 301).
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assim, nos seus escritos Karl Marx e Friedrich Engels desenvolveram categorias
pedagógicas que estavam comprometidas com a formação integral e com a emancipação
humana, quais sejam: trabalho com princípio educativo, politecnia e omnilateralidade.
Nos escritos marxianos, o homem só existe na relação prática com a natureza,
uma relação ativa e produtiva. Essa é o objeto ou a matéria da atividade humana. A
natureza só existe para o homem à medida que ele a transforma e a humaniza com seu
trabalho. Se não tocada pelo homem, é nada para ele. A partir do momento que ela toma
um sentido, revela-se a prioridade ontológica. Portanto, o trabalho apresenta-se como
categoria central na hominização,3 ou seja, como fundante do gênero humano. Enquanto
valor de uso é condição constitutiva e indispensável à existência humana. Para entender
a dimensão educativa do trabalho, precisamos ter essas compreensões.
Dessa maneira, nos escritos de Marx e Engels a união entre trabalho educação é
apresentada como um elemento de superação e contraposição à forma que o trabalho
assume na sociedade capitalista. Devido a isso, o trabalho como princípio educativo em
seu caráter formativo é expressão do trabalho como “[...] ação humanizadora mediante o
desenvolvimento de todas as potencialidades do ser humano”. (FRIGOTTO;
CIAVATTA, 2012, p. 749).
É também a partir dessa compreensão que Marx apresenta ao longo dos seus
escritos a necessidade da formação e da educação politécnica. Isso porque a afirmação
do trabalho como princípio educativo está diretamente relacionada com a efetivação da
formação politécnica. A maneira pela qual Marx (1983) elabora o conceito de educação
politécnica expressa o reconhecimento da necessidade da combinação trabalho
produtivo e educação. Para ele, “[...] a formação politécnica elevará a classe operária
acima dos níveis das classes burguesa e aristocrática”. (MARX, 1983, p. 60).
Educar pela politecnia levaria os trabalhadores à cisão da alienação do processo
de trabalho e à ruptura com processos de expropriação dos conhecimentos dos
trabalhadores especialmente promovida pela escola moderna sob a égide do capital.
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Em seu texto “Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem” (1876), Engels
2004, p. 13) afirma que o trabalho “[...] é condição básica e fundamental de toda vida humana. E em
tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem”.
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Observa-se aqui o sentido político da proposta marxiana de educação, ou seja, seu
fundamento articula-se estritamente a luta dos trabalhadores contra o processo de
alienação do trabalho imposta pelo capitalismo.
Na análise de Frigotto (2012, p. 275), “a educação politécnica resulta, assim, no
plano contraditório da necessidade do desenvolvimento das forças produtivas das
relações capitalistas de produção e da luta consciente de necessidade de romper com
limites intrínsecos e insanáveis destas mesmas relações”. Seguindo esses pressupostos,
a educação politécnica comprometida com a formação integral dos trabalhadores institui
os meios para superação do trabalho abstrato, parcial e mutilado.
Logo, trabalho como princípio educativo e a politecnia são duas categorias que
estão imbricadas e que têm como horizonte a formação omnilateral. Haja vista, é
importante ter presente que a formação para o trabalho e a politecnia, mesmo na lógica
da forma histórica escolar capitalista, pode representar a possibilidade para engendrar
processos educativos que caminhem no sentido da formação omnilateral. (SOUZA
JUNIOR, 2008). Por sua vez, a omnilateralidade
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tecnologia, a cultura e a relações humanas em seu conjunto dos grilhões da
sociedade capitalista. (FRIGOTTO, 2012, p. 267).
Cabe destacar ainda que a realização plena dessas categorias só será possível
com a superação do modo de produção capitalista. Para Suchodolski (1976, p. 146) nos
escritos de Marx e Engels é possível observar elementos essenciais de uma nova
pedagogia, dessa maneira
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As questões apontadas nas análises de Suchodolski sobre a teoria marxista da
educação são atuais. Pois, na sociedade capitalista a educação tem se constituído
historicamente como um instrumento de dominação da classe dominante que, de acordo
com seus interesses, impõe aos trabalhadores formas de educar. Isso sem dúvida
expressa, a preocupação desta classe em doutrinar permanentemente os trabalhadores
para que estes estejam embebidos dos valores da sociedade capitalista. Trata-se aqui,
certamente, de uma educação de caráter minimalista e unilateral, construída por meio da
subordinação a um quadro de valores ideológicos arraigados aos interesses dominantes,
que atuam por meio de mecanismos de interiorização4 a favor da legitimação da ordem
social estabelecida. Conforme destaca Suchodolski (1976a)
Considerações Finais
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Conforme Mészáros (2006, p. 264), “[...] o complexo sistema educacional da sociedade é também
responsável pela produção e reprodução da estrutura de valores no interior da qual os indivíduos
definem seus próprios objetivos e fins específicos. As relações sociais de produção reificadas sob o
capitalismo não se perpetuam automaticamente. Elas só o fazem porque os indivíduos particulares
interiorizam as pressões externas; eles adotam as perspectivas gerais da sociedade de mercadorias como
os limites inquestionáveis de suas próprias aspirações. É com isso que os indivíduos ‘contribuem para
manter uma concepção de mundo’ e para a manutenção de uma forma específica de intercâmbio social,
que corresponde àquela concepção de mundo”.
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A retomada do neoliberalismo5 no Brasil e na América Latina representa
retrocessos na luta política dos trabalhadores e nos coloca como desafio central a luta
pelo socialismo. Mais do que lutar pela garantia de direitos, impõe-se a tarefa de
retomarmos o projeto de mudança das relações sociais capitalistas e de anunciar e lutar
por uma nova sociedade. Acreditamos que a educação tem papel importante neste
processo à medida que, se vinculada aos interesses da classe trabalhadora, pode
contribuir para o desvelamento das relações capitalistas de produção e para anunciar as
possibilidades concretas de uma educação na qual o trabalho se constitua como
princípio educativo.
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No Brasil entendemos que a materialização da retomada do Neoliberalismo pode ser observada desde
o processo que levou ao impeachmeant da Presidente Dilma Roussef e colocou na presidência Michel
Temer, bem como na aprovação de medidas econômicas levadas a cabo por este governo, tais como a
aprovação da PEC 055, a reforma do Ensino Médio, a terceirização e outras ainda em curso, como a
reforma trabalhista e da previdência social. Tais reformas tem tido como justificativa a necessidade do
ajuste econômico.
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homens bons sob o capitalismo. Ora, é inegável que tal ‘argumento educativo’ (tão
presente nas pedagogias modernas) serve aos interesses da classe dominante ao negar
que as causas e as soluções dos problemas sociais estão nas relações sociais.
Neste sentido, coloca-se como tarefa política e educativa urgente produzir aquilo
que Mészáros (2006) definiu como contrainternalização e, ao mesmo tempo, forjar
possibilidades concretas de construção de uma proposta educativa que recupere o
princípio educativo do trabalho, tal qual colocou Marx e Engels e que, com os avanços
das forças produtivas, tem na politecnia a chave para uma educação voltada à formação
integral, pois, “[...] a ligação entre ensino e trabalho é, para Marx, também valiosa
porque supera a divisão entre trabalho físico e intelectual, que é originada pela divisão
do trabalho e acaba com o desenvolvimento prejudicial e unilateral do indivíduo
humano”. (SUCHODOLSKI, 1976, p. 23).
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