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Faculdade de Letras e Ciências Sociais

Departamento de linguística e literatura

Curso: Ensino de Português-Laboral

Disciplina: Literatura portuguesa

Tema: Neo-realismo Português

Discente: Issufo Pedro Issufo Docente: Dr. José Camilo Manusse

Maputo, Novembro de 2022

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Índice

Introdução....................................................................................................................................3

1. Neo-realismo: Conceito....................................................................................................4

1.1. Neo-realismo (contexto de surgimento)........................................................................4

1.2. Características do Neo-realismo........................................................................................6

1.3. Autores e Obras............................................................................................................6

2. Neo-realismo e sua relação com outras literaturas................................................................7

2.1. Caso do Brasil..............................................................................................................7

2.2. Caso de Moçambique...................................................................................................8

2.3. Caso de Angola............................................................................................................8

Conclusão...................................................................................................................................10

Bibliografia................................................................................................................................11

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Introdução

Para entender com segurança a actividade de contestação social e política que marca o
neo-realismo é preciso conhecer as determinações históricas subjacentes ao movimento.
O Neo-realismo posiciona-se contra o regime político e propõe uma literatura
comprometida com os interesses sociais. É por essa atitude original, de defesa dos
oprimidos e de denúncia da exploração das massas que o movimento se coloca como
um neo, um novo realismo. O Novo realismo coloca-se diferente em relação ao
Realismo do Século XIX porque se baseia na concepção marxista da arte e de
sociedade. As raízes ideológicas e as preferências temáticas entre o Realismo de Eça de
Queirós e o novo Realismo são distintas. O movimento em estudo é original e inovador.
Assim, neste presente trabalho, tenta-se mostrar um pouco do contexto histórico do neo-
realismo, as suas características, os autores e obras destacadas e a sua relação com
outras literaturas, caso de (Brasil, Moçambique e Angola).

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1. Neo-realismo: Conceito

Neo- Elemento de formação de palavras que exprime a ideia de novo e liga-se por hífen
ao elemento seguinte quando este começa por uma consoante: h, r, s.

Realismo-conhecido como a doutrina segundo a qual o real representa de forma exacta,


objectiva, simples e imparcial. (Grande dicionário p.625-705)

Segundo Maria Malato (p.247-258, 2008), Neo-realismo, forma moderna do realismo


filosófico, segundo a qual, no processo de conhecimento, o objecto não perde a sua
própria natureza, isto e, não se reduz a um modo de ser de um sujeito. Designou-se, na
Europa, um conjunto de correntes que, contrariando a desconstrução sintáctica da forma
dos simbolistas, futuristas, modernistas e surrealistas.

1.1. Neo-realismo (contexto de surgimento)


O Neo-realismo foi um movimento artístico que surgiu no início do século XX que teve
influências de movimentos políticos, socialismo, comunismo e o marxismo. Como se
referiu acima, o nome Neo-realismo vem das palavras novo realismo, ou seja, uma
vertente artística influenciada pelo realismo, mas com um perfil moderno. Trata-se de
um movimento de vanguarda, com características modernas e inovadoras no campo da
linguagem. O neo-realismo foi uma importante corrente artística, que influenciou
diversas formas de arte, inclusive a literatura. No final da década de 30, surge o
movimento literário neo-realista em Portugal. Surgem, então, escritores da segunda
geração modernista empenhados em produzir uma literatura contra o fascismo e,
portanto, de caracter social, documental, combativa e reformadora. Este movimento
eclode como uma movimentação cultural protagonizada por um grupo de jovens que
além de possuírem afinidades, eram atentos e sensíveis a conjuntura mundial marcado
por uma crise económica que se fazia seguir pelo desemprego, pela fome, pela difusão e
implantação dos regimes totalitários, neste caso, o Nazismo na Alemanha. A herança
realista e anti-burguesa, republicana, socialista. Cabe a base doutrinária marxista fazer a
distinção entre um movimento e outro. Ainda sobre o movimento Neo-realista, acredita-
se que a luta de classes tem caracter de equação indispensável para o entendimento da
dinâmica social. O escritor vincado a ela, com efeito, vê-se em identidade com as forcas
transformadoras do mundo. Para eles, a literatura deve portar um caracter social e
compromissada com a redenção do homem. Além de marxista, o Neo-realismo e

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refutador das crenças biológicas de eugenia ou superioridade natural dos brancos sobre
outros povos. De certa maneira, pode-se afirmar que este conjunto de ideias embasou o
Nazismo e suas aberrações. Delas, o movimento e testemunha ocular encontra ela, ele
posiciona-se.

Por essas razoes, torna-se possível afirmar que o grupo Neo-realista traçou uma
constante ligação entre a arte e os fenómenos históricos. E isso, e o que explica o
caracter essencialmente colectivista e a proposta de uma relação de solidariedade
naquele tempo de intensas desigualdades sociais e regionais, de violenta exploração
económica e social, de violenta repressão política, social, ideológica e cultural, bem
como a manipulação das consciências e da vida social. A publicação do romance
Gaibéus de Alves Redol, lançado no ano de 1940 e tida como sendo o marco inicial da
literatura neo-realista portuguesa. O Portugal, retratado na obra de literária Gaibéus e o
mundo rural da beira, em deslocamento para o ribatejo. A colheita do arroz pede mão-
de-obra e, para a região, camponeses beirões dirigem-se. Encarando-se o
desenvolvimento da historia retratado nesta narrativa, o grande herói e colectivo, ou
seja, e o povo que sofre. Na verdade, Gaibéus e a designação para o grupo dos
trabalhadores rurais em marcha que, ao longo da trajectória, para entretimento, histórias
são contadas. Em verdade, uma emenda-se a outra e, narrando, os camponeses se
narram. Destacam-se a sua vivacidade e a sua resistência aos impérios de toda a sorte.
Sem embargo destes factos, a narrativa e mais que documento social, uma vez que se
supera a pura necessidade da denuncia. O autor, entretanto, dizia que ficaria satisfeito,
se vissem o seu escrito como ´´um documentário humano fixado no Ribatejo´´.

Como Suplemento, faz-se arrolamento da questão do presencismo (1927-1939), que,


por sua vez, liderado por José Régio, Miguel Torga e Branquinho da Fonseca, através
das publicações da Revista Presença, lancada em 1927, pretendia produzir textos
literários destituídos de temas sociais, políticos e filosóficos. Portanto, isso explica ou
subsiste a ideia de que este movimento literário político-social, neste sentido, o Neo-
realismo português não foi uma corrente aderida por todos os escritores desse período.
Bem a seguir, são apresentadas algumas das principais características do Neo-realismo
português. Os artistas Neo-realistas estavam, sucintamente, empenhados em criar uma
arte voltada para a realidade, e, portanto, as questões sociais, culturais, politicas e
económicas pelo qual passava a sociedade.

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1.2. Características do Neo-realismo
Para Urbano Tavares Rodrigues, citado por Ana Ferri (2008), o Neo-Realismo
português teve como características principais “uma explícita solidariedade com o
trabalhador (operários ou rurais) ” e “uma manifesta vontade de intervenção
transformadora”, abaixo segue as todas as características do Neo-realismo:

 Anti-capitalismo; simplicidade no estilo de escrever; Arte de Vanguarda;


Temática social, económica, histórica e regional; luta de classes (burguesia e
proletariado); Estilo como elemento estético; Objectividade e simplicidade;
Linguagem popular, coloquial e regional; Repudio as formas tradicionais;
vulgarização de personagens.

1.3. Autores e Obras


Os autores dessa época são, sobretudo, activistas políticos que se posicionaram
abertamente contra a pobreza do Pais, contra o atraso e a exploração do trabalhador.
Tomam posicionamento naquilo que se pode chamar de luta de classes, denunciando as
desigualdades da época. E os autores emblemáticos e as suas respectivas obras de
destaque que tanto contribuíram para o movimento Neo-realista foram:

 A ´´A Selva´´ do ano de 1930 de Ferreira de Castro;


 Carlos de Oliveira (1921-1981) e paradigmático para se definir o percurso das
melhores produções em prosa e verso do neo-realismo português. As suas três
primeiras colectâneas poéticas (turismo, 1942; Mãe pobre, 1945; Colheita
Perdida, 1948);
 ´´As Sete partidas do mundo´´ do ano de 1938, de Fernando Namora;
 ´´Esteiros´´ do ano de 1941, de Soeiro Pereira Gomes;
 ´´Aldeia Nova, 1942´´, ´´Cerro-maior, 1944´´. O romance ´´Seara de Vento´´ de
Manuel de Fonseca, 1911, foi proibido pela censura. As suas obras são
frequentemente apresentações das matérias narrativas sob forma cinematográfica
e são um verdadeiro roteiro;
 ´´As solicitações e emboscadas´´ de 1945, de Mário Dionísio.

António Alves Redol (1911-1969) produziu no primeiro romance neo-realista português


´´Gaibéus´´ (1939) e foi o principal escritor militante dessa corrente literária. De origem
popular, o que mais tarde iria reflectir de forma preponderante na sua escrita. Na
infância e na juventude, volta seus olhar para a dimensão social, mais especificamente

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para as condições de reivindicação de mudança social. E teve uma participação activa
em movimentos da causa e foi preso duas vezes.

2. Neo-realismo e sua relação com outras literaturas

O escritor brasileiro, José Saramago, ao publicar, em 1985, a obra Jangada de Pedra,


formula considerações essenciais sobre a literatura de seu Pais e da península ibérica,
que, de certo modo, acabam por suscitar a relação da literatura de Portugal e Espanha
com a brasileira e as africanas. A obra tem o seu eixo temático desenvolvido em torno
da insólita cisão da península ibérica da Europa.

2.1. Caso do Brasil


Para o caso do brasil, o movimento de neo-realismo influenciou o grupo dos
modernistas. Na literatura, os autores procuravam explorar diversos temas regionalistas
e nacionalistas, tanto na prosa quanto na ficção, no romance e na poesia social. Alguns
temas como a desigualdade social, as lutas de classe, a pobreza e os problemas
económicos do pais ganharam destaque nesse movimento artístico, que usava como um
de seus elementos principais a figura sofrida do nordestino. Houve destaque de alguns
escritores de renome que impulsionaram a literatura neo-realista no Brasil como: José
Saramago (A Bagaceira, 1928); Rachel de Queiroz (O Quinze, 1930); Graciliano Ramos
(Vidas Secas, 1938); Jorge Amado (Capitães de Areia, 1937); Erico Veríssimo (O
tempo e o Vento), entre outros escritores renomados.

No que se refere a produção literária em Africa, percebemos que, por questões de cunho
histórico, suas literaturas se desenvolveram apenas apos o processo de independência do
Brasil, remetendo-nos a segunda metade do seculo XIX. As referidas questões foram
originadas pelo maior afluxo lusitano as terras africanas na tentativa de repor as perdas
económicas advindas do processo de libertação do Brasil. Sob a estética romântica,
surgem, portanto, obras como os ´´ Sonetos de um mercador´´ do governador Luís
Mendes de Vasconcelos e ´´ espontaneidades da minha alma´´, de José Maia Ferreira,

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em 1849, ambos que bebem de fontes românticas em cronicas e relatos de exótica
literatura de viagens.

2.2. Caso de Moçambique


Em relação ao nosso País, Moçambique, de acordo com Silva (2011), a amplitude
atingida pela Negritude universaliza a questão racial e estabelece novos diálogos da
poetisa moçambicana, Noémia de Sousa que, em 1949, escreveu o poema ´´a Billie
Holliday´´. Noémia e inspirada pela voz magoada da cantora norte-americana na cancão
<Into each heart some rain must fall> aprisionada na solidão de seu quarto escuro,
entende seu lamento como clamor racial que não distingue nacionalidade. Portanto, e,
de facto, na lírica de Noémia de Souza que se pode contemplar também o poema ´´moça
das docas´´, na qual a poetisa narra as desventuras das mulheres negras subjugadas por
´´homens loiros e tatuados de portos distantes´´ que demandam o direito a esperança do
retorno a ilusão, a felicidade e segurança de um <novo dia luminoso que se avizinha>.

De acordo com Manusse (2007), a recepção da estética neo-realista em Moçambique


pode ser considerada como tendo se operado, entre vários processos, no contexto dos
colaboradores da revista Itinerário. Esta colaboração efectuou-se no quadro histórico
das relações culturais entre Portugal e os restantes países de língua portuguesa, com
destaque particular para o Brasil literário.

Caso de Angola

Em relação a literatura angolana, ainda de acordo com Silva (2011), a necessidade de


retractação do real vivido e da estagnação social vai ao encontro de um movimento
liderado por intelectuais e que acaba por ultrapassar as fronteiras nacionais para atingir
os outros Países da Africa dita lusófona. ´´Vamos descobrir Angola´´ tornou-se, em
1948, o salvo-conduto para a implementação dos estudos africanos que haviam sido
postos de lado ate então. Tal como afirma Memmi citado por Dutra (2005), a
reprodução de Padrões colonialistas servira de paradigma literário ao colonizado que,
por sua vez, abordava temas telúricos africanos de modo superficial, posto que a
literatura portuguesa hegemónica considerava questões endógenas incapazes de
fomentar uma produção <<séria>>. A Introdução, portanto, de temas africanos nas
letras e nas artes, aliados ao estudo da história do continente, surge de modo inovador e

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soma-se a outro movimento da década de 40, revestido de contornos nitidamente
naturalistas. O escritor angolano, Pepetela, em Mayombe, de certa maneira, extrapola o
limite ideológico das narrativas da revolução que finalmente chegou a Angola ao
discutir espacialmente no interior de uma floresta valores universais como a
fraternidade e o amor. A floresta da Cabinda, distante como Camaxilo, domina o
cenário e rasura vestígios da cultura portuguesa ao apresentar uma majestade tropical
que determina um novo tempo: as arvores enormes, das quais prendem cipos grossos
como cabos, permitem, quando querem, a entrada da luz do sol e do luar e, por entre as
suas copas fechadas, <<apenas o fumo pode libertar-se e subir>>. Portanto, o meio
físico torna-se condutor da obra inaugural da literatura angolana, a diegese permeada
por varias vozes enunciadoras que, coordenadas por um narrador em terceira pessoa,
enfeitiça o leitor e esconjura o veneno da tirania colonialista.

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Conclusão

Desta feita, acredita-se que, em Portugal, o cenário politico e social não era menos
perturbadora. Entrementes, a instauração da ditadura militar após o Golpe de 1926,
precedera a estrutura daquela que seria considerada a mais longeva experiência
autoritária moderna do oriente europeu, devido a ditadura salazarista, cujo nome tem
como referência o seu fundador e líder, António de Oliveira Salazar. Na verdade, o
Neo-realismo tomou-se de intenções ambiciosas visto que tinha a pretensão de ser um
movimento cultural de conscientização das mentes e de transformação da realidade
portuguesa, através da dotada reflexão sobre um momento histórico em que, os grandes
problemas dos homens deixaram de ser individuais para serem colectivos, em que o
desemprego, a fome, as guerras já eram tidos como males, outrossim, colectivos.
Portanto, pode dizer-se que o Neo-realismo português ficou patente nas artes plásticas,
na música, na literatura e até na própria forma de pensar e agir como um ser humano
que almeja uma mudança positiva e justa capaz de conduzir a satisfação total, o que é
visível até hoje.

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Bibliografia

Dutra, R.L. (2005). Castro Soromenho e a agonia da terra: algumas considerações


sobre o Neo-realismo em Angola.

Ferri, Ana. (2008). Fernando namora e o neo-realismo português. UFRJ

Grande Dicionário, Língua portuguesa. Porto Editora LD. (2004), (P. 627-705).

Júnior, Benjamin Abdala e Paschoalim, Maria Aparecida (1943). A história social da


literatura portuguesa, São Paulo, (p. 1032-1048)

Malato, Maria Luísa. (2008). História da literatura europeia: uma introdução aos
estudos literários, Lisboa, (p. 247-252)

Manusse. J.C. (2007). Revista itinerário e a recepção da estética presencista e neo-


realista em Moçambique. Revista Ecos. Brasil.

Silva, M. (2011). Angola, Moçambique e Cabo Verde: uma introdução a prosa de


ficção da Africa lusófona. PPG-LET-UFRGS. Received from:
http://www.Researchegate.net.publication./320597139.

Toda matéria. (2022). Neo-realismo em Portugal. Retrieved 25 de Novembro de 2022


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