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ISSN 2317-7721
o cercamento jurídico da
terra como necessidade da
especulação imobiliária1
Maria de Fdtima Tardin Costa
1. Introdução
2. Exclusão territorial na
produção do urbano do Brasil
so universo clandestino que ignora as normas mais gerais e básicas. Para Benny
Schvarsberg:
dos agentes e a distribuição dos bens no espaço que se define o valor das diferen-
tes regiões do espaço social reificado (isto é, fisicamente realizado).40
Com a aprovação do Estatuto da Cidade, foi gerada uma expectativa
sobre quais seriam as possibilidades reais, agora propiciadas, à gestão democrá-
tica da cidade. Esse tem sido o tema central em inúmeros congressos, seminá-
rios e debates, em todo o Brasil, que juristas, acadêmicos, planejadores, gestores
públicos e militantes passaram a discutir. Objetivamente, cabem aqui algu-
mas questões.: como essa Lei poderá conferir aos governos municipais uma atu-
ação de regulamentação que seja orientadora de um desenvolvimento urbano
mais eficaz com referência à implantação de políticas públicas redistributivas?;41
e, como efetivamente o Estatuto da Cidade pode atuar no combate à especula-
ção imobiliária e à apropriação privada de infra-estrutura pública na conjuntu-
ra econômica atual, voltada para objetivos práticos e imediatos, num Estado
onde o pensamento tradicional e positivista do campo jurídico reduz o direito
à ordem estabelecida e onde a prática jurídica deve muito às afinidades entre os
detentores da forma do poder simbólico (direito) e os detentores do poder
político ou econômico?42
6. Notas
1 Este texto trabalha idéias desenvolvidas na Espanha, 1470/0 no Reino Unido, 900/0 na Fran-
dissertação de Mestrado - A Cerca) urídica da ça e 600/0 nos EUA.
Terra na Produção Capitalista da Cidade. Agos-
5 HARVEY, p. 7 "... esse processo de criação do
to/2005. Pós-graduação de Direito da UER).
espaço urbano é cheio de contradições e tensões
2 Responsável pelo setor de Assentamentos Hu- e que as relações de classe nas sociedades capita-
manos do Escritório Regional do Programa das listas geralTI inevitavelmente fortes conflitos e
Nações Unidas para Assentamentos Humanos correntes cruzadas".
(UN-HABITAT). "Somam 1 bilhão de pessoas,
6 MARICATO, Ermínia. Metrópole, Legisla-
de um total de 2,9 bilhões que vivem em áreas
urbanas, que não possuem moradias de qualida- ção e Desigualdade. Estudos avançados, São
de ou sequer têlTI casa e que, nesse cenário de Paulo, v. 17, n. 48, luaio-ago. 2003.
crescentes carências habitacionais, em 2030, atin- 7 OLIVEIRA, Fabrício Leal de. Competitivi-
girão 400/0 da população do planeta." Trecho ex- dade e pragmatismo no Rio de Janeiro: a difu-
traído do Artigo: Brasil tem 33,9 milhões de são de novas práticas de planejamento e gestão
pessoas sem moradia. O Estado de S. Paulo, São das cidades na virada do século. 2003. 242 f.
) Paulo, 13 set. 2005, Caderno Metrópole. Tese (Doutorado) - Planejamento Urbano e
3 Segundo Eri!<Vittrup, "a falta da posse exclui Regional, Universidade Federal do Rio de J a-
os favelados que, sem títulos de propriedade, neiro. Rio de Janeiro, 2003. p. 196.
não têm acesso ao mercado de financiamentos.
8 Sobre como o Estado utiliza o planejamento
Os pobres não têm como dar garantias". Trecho
como instrumento a favor da acumulação capi-
extraído do artigo: Brasil tem 33,9 milhões de
talista, ver LIMA JUNIOR, Pedro de N'Jvais.
pessoas sem moradia. O Estado de S. Paulo, São
Uma estratégia chamada "planejamento estra-
Paulo, 13 set. 2005, Caderno Metrópole.
tégico": deslocamentos espaciais e atribuições
4 De 1997 a 2004, o preço médio das moradias de sentido na teoria do planejamento urbano.
cresceu 1950/0 na África do Sul, 131 % na 2003. 297 f. Tese (Doutorado) Instituto de
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