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AS IDEIAS FORA DO LUGAR

E O LUGAR FORA DAS IDEIAS

Em 1999, Ermínia Maricato sintetiza com essa autoria, a origem do


Planejamento Urbano no Brasil, os desafios já enfrentados, os caminhos já
percorridos e o que poderia ser do futuro. Hoje, 20 anos depois, o debate ainda se
faz presente e as palavras ainda retratam uma realidade que não encontrou os
caminhos da mudança. O texto, sem dúvidas, é um ótimo começo para entender
como chegamos no atual (Não) Planejamento Urbano que abriga as cidades
brasileiras.
O título faz analogia à distância que existe entre o planejamento e a realidade
concreta, que sempre beneficiou uma pequena parcela da sociedade/cidade. E a
uma sociedade que, de forma incompreensível, vive em uma cidade ilegal, no
sentido mais literal da palavra, em oposição ao que exige a lei.

“Para a cidade ilegal não há planos, nem ordem. Aliás ela


não é conhecida em suas dimensões e características.
Trata-se de um lugar fora das ideias.”

Com isso, é preciso entender, de forma clara, como se comporta a cidade


real e as matrizes que fundamentaram o planejamento contemporâneo para elas
não venham a se repetir.
A leitura leva a reflexão de como, desde o início, a realidade foi ignorada.
Com pupilas européias, os primeiros planos para as cidades brasileiras não eram
adequados a realidade vívida, tinham interesses econômicos e endereçados a
pequena parte da população. E, tristemente, séculos depois, a cidade real segue
sendo ignorada.
A desigualdade de renda no Brasil é uma das mais expressivas do mundo e
os reflexos disso estão nas nossas cidades, aparentemente desconhecida por
muitos. Às pessoas de baixa renda, resta a exclusão urbanística e a segregação
territorial, que trazem consigo problemas como falta de saneamento, riscos
ambientais, violência, entre outros. Mas, ainda assim, estão longe das ações dos
planejamentos, da valorização, da solução.

“O resultado é: planejamento urbano para alguns,


mercado para alguns, leis para alguns, modernidade para
alguns, cidade para alguns.”

A Globalização, o seu aprofundamento entre os países pobres e ricos, a


heterogeneidade entre cidades, regiões e espaços foi o colapso do Planejamento
Urbano. Após isso, é possível perceber uma sucessão de erros e consequências de
más gestões e fiscalizações ineficientes. O Planejamento Urbano se limita aos
“planos” e, com isso, entra em cena os chamados “Planos Discurso”, que no debate
é universal, é legal, mas em sua exequibilidade, não passa de um potencializador
da desigualdade, que é eficiente para a cidade que o mercado dita as regras.
A industrialização chegou junto aos baixos salários, que não garantiam a
moradia para muitos. As gestões urbanas tem a tradição regressiva, da completa
ruptura, o que dificulta a continuidade de qualquer processo ou transformação. A
aplicação arbitrária da lei, que não abrange a todos. Esses fatos colaboraram para o
caminho que a cidade real percorreu: para as periferias, os espaços que “sobraram”.
O papel da publicidade também é crucial nessa jogada, afinal, a mídia tem
instrumentos para formalizar ideologias, e é o seu poderio. Porém, a dissimulação
da realidade para com a população começa aí. Os interesses políticos e
econômicos também interferem nas publicidades, que acabam retratando a imagem
de territórios restritos que são vistos como universais. É preciso construir
consciência real com as demandas populares, mostrar a cidade oficial, o que
percorre pelas margens.
Organizando e estudando todos os agentes até então, é óbvio que os rumos
do planejamento urbano precisa de mudanças, começando pelas relações sociais,
indo mais a fundo com a relação entre Universidades de Arquitetura e Urbanismo,
sociedade e cobranças legislativas. Sabendo que, o desenvolvimento está
diretamente atrelado aos índices de nível de desemprego, distribuição de renda,
políticas sociais e amplitude do mercado imobiliário habitacional. Um plano
urbanístico jamais fará milagre, todos os agentes que contribuem para os altos
índices da desigualdade brasileira devem ser freados. E a atuação das políticas
públicas deve estar nos lugares mais precários, garantindo justiça social.

“A crise do planejamento urbano e a busca de uma nova matriz


teórica constitui um momento importante para uma produção
intelectual comprometida com a democracia no Brasil (...)
Trata-se também de ousar apontar caminhos, mesmo em meio
à tormenta…”

ALUNA: MARIA CLARA MOURA

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