O documento discute os desafios do planejamento urbano no Brasil, 20 anos após um artigo de Ermínia Maricato. Ele destaca que as cidades brasileiras ainda ignoram a realidade vivida e beneficiam uma pequena parcela da sociedade, enquanto a maioria enfrenta problemas como falta de saneamento e violência. Também critica os "planos discurso" que não levam em conta a desigualdade e defende mudanças como considerar as demandas populares e políticas públicas nos lugares mais precários.
Descrição original:
Título original
Resenha_ As ideias fora do lugar e o lugar fora das ideias.
O documento discute os desafios do planejamento urbano no Brasil, 20 anos após um artigo de Ermínia Maricato. Ele destaca que as cidades brasileiras ainda ignoram a realidade vivida e beneficiam uma pequena parcela da sociedade, enquanto a maioria enfrenta problemas como falta de saneamento e violência. Também critica os "planos discurso" que não levam em conta a desigualdade e defende mudanças como considerar as demandas populares e políticas públicas nos lugares mais precários.
O documento discute os desafios do planejamento urbano no Brasil, 20 anos após um artigo de Ermínia Maricato. Ele destaca que as cidades brasileiras ainda ignoram a realidade vivida e beneficiam uma pequena parcela da sociedade, enquanto a maioria enfrenta problemas como falta de saneamento e violência. Também critica os "planos discurso" que não levam em conta a desigualdade e defende mudanças como considerar as demandas populares e políticas públicas nos lugares mais precários.
Em 1999, Ermínia Maricato sintetiza com essa autoria, a origem do
Planejamento Urbano no Brasil, os desafios já enfrentados, os caminhos já percorridos e o que poderia ser do futuro. Hoje, 20 anos depois, o debate ainda se faz presente e as palavras ainda retratam uma realidade que não encontrou os caminhos da mudança. O texto, sem dúvidas, é um ótimo começo para entender como chegamos no atual (Não) Planejamento Urbano que abriga as cidades brasileiras. O título faz analogia à distância que existe entre o planejamento e a realidade concreta, que sempre beneficiou uma pequena parcela da sociedade/cidade. E a uma sociedade que, de forma incompreensível, vive em uma cidade ilegal, no sentido mais literal da palavra, em oposição ao que exige a lei.
“Para a cidade ilegal não há planos, nem ordem. Aliás ela
não é conhecida em suas dimensões e características. Trata-se de um lugar fora das ideias.”
Com isso, é preciso entender, de forma clara, como se comporta a cidade
real e as matrizes que fundamentaram o planejamento contemporâneo para elas não venham a se repetir. A leitura leva a reflexão de como, desde o início, a realidade foi ignorada. Com pupilas européias, os primeiros planos para as cidades brasileiras não eram adequados a realidade vívida, tinham interesses econômicos e endereçados a pequena parte da população. E, tristemente, séculos depois, a cidade real segue sendo ignorada. A desigualdade de renda no Brasil é uma das mais expressivas do mundo e os reflexos disso estão nas nossas cidades, aparentemente desconhecida por muitos. Às pessoas de baixa renda, resta a exclusão urbanística e a segregação territorial, que trazem consigo problemas como falta de saneamento, riscos ambientais, violência, entre outros. Mas, ainda assim, estão longe das ações dos planejamentos, da valorização, da solução.
“O resultado é: planejamento urbano para alguns,
mercado para alguns, leis para alguns, modernidade para alguns, cidade para alguns.”
A Globalização, o seu aprofundamento entre os países pobres e ricos, a
heterogeneidade entre cidades, regiões e espaços foi o colapso do Planejamento Urbano. Após isso, é possível perceber uma sucessão de erros e consequências de más gestões e fiscalizações ineficientes. O Planejamento Urbano se limita aos “planos” e, com isso, entra em cena os chamados “Planos Discurso”, que no debate é universal, é legal, mas em sua exequibilidade, não passa de um potencializador da desigualdade, que é eficiente para a cidade que o mercado dita as regras. A industrialização chegou junto aos baixos salários, que não garantiam a moradia para muitos. As gestões urbanas tem a tradição regressiva, da completa ruptura, o que dificulta a continuidade de qualquer processo ou transformação. A aplicação arbitrária da lei, que não abrange a todos. Esses fatos colaboraram para o caminho que a cidade real percorreu: para as periferias, os espaços que “sobraram”. O papel da publicidade também é crucial nessa jogada, afinal, a mídia tem instrumentos para formalizar ideologias, e é o seu poderio. Porém, a dissimulação da realidade para com a população começa aí. Os interesses políticos e econômicos também interferem nas publicidades, que acabam retratando a imagem de territórios restritos que são vistos como universais. É preciso construir consciência real com as demandas populares, mostrar a cidade oficial, o que percorre pelas margens. Organizando e estudando todos os agentes até então, é óbvio que os rumos do planejamento urbano precisa de mudanças, começando pelas relações sociais, indo mais a fundo com a relação entre Universidades de Arquitetura e Urbanismo, sociedade e cobranças legislativas. Sabendo que, o desenvolvimento está diretamente atrelado aos índices de nível de desemprego, distribuição de renda, políticas sociais e amplitude do mercado imobiliário habitacional. Um plano urbanístico jamais fará milagre, todos os agentes que contribuem para os altos índices da desigualdade brasileira devem ser freados. E a atuação das políticas públicas deve estar nos lugares mais precários, garantindo justiça social.
“A crise do planejamento urbano e a busca de uma nova matriz
teórica constitui um momento importante para uma produção intelectual comprometida com a democracia no Brasil (...) Trata-se também de ousar apontar caminhos, mesmo em meio à tormenta…”