A teoria analítica de Carl Jung

Embora a teoria de Jung seja

identificada como uma teoria
psicanalista devido à enfase que dá aos
processos inconscientes, ela difere em
alguns aspetos notáveis da teoria de
Freud.
Pontos de discordância entre
Jung e Freud
O primeiro ponto no qual Jung
discordou de Freud foi quanto ao papel
da sexualidade – Jung ampliou a
definição freudiana de libido,
redefinindo-a como uma energia
psíquica mais generalizada, que inclui o
sexo, mas não se restringe a ele
A segunda, diz respeito à direção das
forças que influenciam a personalidade.
Enquanto Freud via os seres humanos
como prisioneiros ou vítimas de
eventos passados, Jung argumentou
que somos moldados tanto pelo nosso
futuro como pelo nosso passado. Somos
afetados não só por o que nos
aconteceu quando crianças, mas
também pelo que aspiramos fazer no
futuro.
Talvez o aspeto mais distintivo da visão
de Jung dos seres humanos é que ela
combina teleologia com causalidade. O
comportamento humano é
condicionado não apenas pela história
individual e racional (causalidade), mas
também pelas metas e aspirações
(teleologia). Tanto o passado como a
realidade quanto o futuro como
potencialidade orientam o nosso
comportamento presente.
A visão de Jung é prospetiva no sentido
em que olha para a frente, para a linha
de desenvolvimento futuro da pessoa, e
retrospetiva, no sentido em que tem
em conta o passado. Segundo Jung “a
pessoa vive por metas, assim como por
causas” => esta insistência no papel do
destino no desenvolvimento humano
separa Jung de Freud
Para Freud existe apenas a interminável
repetição de temas instintivos (do
instinto) até a morte, e para Jung
existe um desenvolvimento constante e
criativo, a procura da totalidade, e o
anseio de renascimento.
A teoria de Jung também se distingue
de todas as outras abordagens à
personalidade pela forte enfase
colocada nas fundações étnicas e
filogenéticas da personalidade=> vê a
personalidade individual como produto
da sua história ancestral. Os seres
humanos modernos foram moldados na
sua presente forma pelas experiências
cumulativas de gerações passadas,
estendendo-se às origens obscuras e
desconhecidas do ser humano. As
fundações da personalidade são
arcaicas, primitivas, inatas,
inconscientes e provavelmente
universais.
Freud enfatiza as origens infantis da
personalidade, ao passo que Jung
enfatiza as origens raciais da
personalidade => existe uma
personalidade racialmente pré-formada
e coletiva que funciona seletivamente
no mundo da experiência e é
modificada e elaborada pelas
experiências vividas. A personalidade de
um indivíduo resulta de forças internas
agindo sobre e sendo influenciadas por
forças externas.
A estrutura da personalidade
A personalidade total, ou a psique,
conforme chamada por Jung, consiste
em várias estruturas diferentes que se
podem influenciar umas às outras.
As principais são o ego, o inconsciente
pessoal e seus complexos, e o
inconsciente coletivo e seus arquétipos, a
anima e o animus, e a sombra. Além
desses sistemas interdependentes,
existem as atitudes de introversão e
extroversão e as funções do
pensamento, do sentimento, da
sensação e da intuição. Finalmente,
existe o self, que é o centro de toda a
personalidade.
O Ego
O ego é a mente consciente. Ele é
constituído por perceções, memórias,
pensamentos e sentimentos
conscientes. O ego é responsável pelos
nossos sentimentos de identidade e de
continuidade, e, do ponto de vista da
pessoa, considera-se que esteja no
centro da consciência.
Ego- Para Jung, é o aspeto consciente da
personalidade
O ego é o centro da consciência, a parte
da psique preocupada com a perceção,
raciocínio, sensações e lembranças. É a
consciência que temos de nós mesmos
e é responsável pela execução das
atividades normais da vida quando
estamos acordados; age de maneira
seletiva, admitindo na consciência
apenas parte dos estímulos aos quais
somos expostos.
O Inconsciente Pessoal
O inconsciente pessoal no sistema de
Jung é semelhante ao conceito de pré-
consciente de Freud. É um reservatório
de material que já foi consciente, mas
foi esquecido ou reprimido porque era
insignificante ou perturbador.
Todos os tipos de experiências estão
armazenados no inconsciente pessoal.
Este pode ser comparado a um arquivo
e é preciso pouco esforço mental para
tirar dele alguma coisa, examinar por
algum tempo e colocá-lo de volta, onde
ele ficará até a próxima vez que o
quisermos usar ou que nos lembremos
dele.
Inconsciente pessoal- o reservatório de
material que já foi consciente, mas foi
esquecido ou reprimido.
Complexos
Há medida que vamos arquivando cada
vez mais experiências no nosso
inconsciente pessoal, começa-mos a
agrupá-las nos complexos.
Um complexo é um grupo organizado
ou uma constelação de sentimentos,
pensamentos, perceções e memórias
que existem no inconsciente pessoal.
Os complexos organizam-se em torno
de um tema comum, por exemplo,
podemos dizer que uma pessoa tem um
complexo de poder, significando que ela
está preocupada com esse tema a
ponto de influenciar o seu
comportamento, ela pode tentar
tornar-se poderosa concorrendo a um
cargo publico ou pode identificar-se
com o poder ao conduzir um carro de
alta velocidade. O complexo direciona
as ideias e os comportamentos de
várias maneiras, e determina como a
pessoa percebe o mundo.
Um complexo pode-se comportar como
uma personalidade autônoma com uma
vida mental e um motor próprios. Ele
pode assumir o controlo da
personalidade e utilizar a psique para
os seus próprios fins.
Complexo- para Jung é um centro/núcleo
ou padrão de emoções, perceções e
desejos no inconsciente pessoal
organizado em torno de um tema
comum.
Os complexos podem ser conscientes ou
inconscientes. Aqueles que não estão
sob controlo do consciente podem-se
introduzir na consciência. A pessoa com
um complexo geralmente não tem
consciência dessa influência, embora
outras possam observar isso com
facilidade.
Jung achava que os nossos complexos
provinham não só da nossa infância e
das nossas experiências como adultos,
mas também das experiências dos
nossos ancestrais, a ascendência da
espécie contida no inconsciente
coletivo.
O Inconsciente Coletivo
O conceito de um inconsciente coletivo,
ou transpessoal, é um dos aspetos mais
originais e controversos da teoria de
Jung da personalidade.
Ele é a estrutura mais poderosa e
influente da psique e, em casos
patológicos, domina o ego e o
inconsciente pessoal.
O inconsciente coletivo é o reservatório
de traços de memória latentes
herdados do nosso passado ancestral,
um passado que inclui não apenas a
história racial dos seres humanos como
uma espécie separada, mas também
seus ancestrais pré-humanos ou Portanto...
animais.
O inconsciente coletivo é o nível mais
O inconsciente coletivo é o resultado
profundo e menos acessível da psique.
psíquico do desenvolvimento evolutivo
Jung acreditava que assim como cada
humano, um resíduo que se acumula
um de nos acumula e arquiva todas as
em consequência de repetidas
experiências pessoas no inconsciente
experiências ao longo de muitas
pessoal, a humanidade coletivamente
gerações. Ele é quase totalmente
faz o mesmo, como espécie,
separado de tudo o que é pessoal na
armazenando experiências da espécie
vida do indivíduo e aparentemente é
no inconsciente coletivo => essa
universal. Todos os seres humanos têm
ascendência é transmitida a cada nova
mais ou menos o mesmo inconsciente
geração.
coletivo. Jung atribui a universalidade
do inconsciente coletivo à semelhança Inconsciente coletivo- o nível mais
da estrutura do cérebro em todas as profundo da psique, que contem o
etnias humanas, e essa semelhança, por acumular de experiências herdadas de
sua vez, deve-se a uma evolução espécies humanas
comum.
Todas as experiências que sejam
As memórias ou as representações universais (aquelas que são repetidas
étnicas não são herdadas como tal; nós praticamente inalteradas por todas as
herdamos a possibilidade de reviver gerações) tornam-se parte da nossa
experiências de gerações passadas. São personalidade. Para Jung, o
predisposições que nos fazem reagir ao inconsciente coletivo era o repositório
mundo de uma maneira seletiva. Tais de experiências ancestrais.
predisposições são projetadas no
Consequentemente, Jung ligava a
mundo. Por exemplo, uma vez que os
personalidade de cada individuo ao
seres humanos sempre tiveram mães,
passado, não só a infância, mas
todo bebê nasce predisposto a perceber
também à história da espécie.
e a reagir a uma mãe. O conhecimento
da mãe, individualmente adquirido, é a
realização de uma potencialidade
não herdamos essas experiências
herdada que foi inserida no cérebro
coletivas diretamente. Por exemplo, não
humano pelas experiências passadas da
herdamos o medo de cobras, mas sim o
espécie humana.
potencial para temê-las.
Para Jung determinadas experiências Entre os muitos arquétipos propostos
básicas caraterizaram todas as por Jung estão o herói, a mãe, a
gerações na história da humanidade: criança, deus, morte, poder e o velho
sábio. Alguns destes são mais
• As pessoas sempre tiveram uma
desenvolvidos do que outros e
figura materna
influenciam a psique mais
• vivenciaram nascimentos,
consistentemente => entre esses estão
mortes,
a persona, a anima e o animus, a sombra
• enfrentaram terrores
e o self.
desconhecidos no escuro,
• idolatraram o poder ou algum
Arquétipo da persona
tipo de figura divina
• temeram um ser malvado A palavra persona refere-se a uma
máscara que o ator usa para
A universalidade dessas experiências
representar vários papeis ou expressões
em inúmeras gerações deixa uma
para o publico => o arquétipo de
marca em cada um de nós quando
persona é uma máscara, a face publica
nascemos e determina a maneira como
que usamos para nos apresentar como
percebemos e reagimos ao nosso
alguém diferente de quem realmente
mundo.
somos.
Arquétipos
Achava que a persona era necessária
Um arquétipo é uma forma universal de porque somos forçados a representar
pensamento (ideia) que contém um vários papeis na vida para nos sairmos
grande elemento de emoção. bem, por exemplo na escola e no

As experiências antigas contidas no trabalho e para nos darmos bem com

inconsciente coletivo manifestam-se uma serie de pessoas.

por temas/padrões recorrentes => os

Arquétipo da persona- a face publica ou
arquétipos. Existem muitas dessas
papel que a pessoa apresenta para os
imagens de experiências universais,
outros
tantas quanto experiências humanas
que são comuns a todos, ao serem A persona é uma máscara adotada pela

repetidos na vida de várias gerações pessoa em resposta às demandas das

subsequentes, os arquétipos são convenções e das tradições sociais e às

gravados na nossa psique e expressos suas próprias necessidades arquetípicas

nos sonhos e fantasias. internas (Jung, 1945). É o papel

atribuído a alguém pela sociedade, o
Arquétipos- imagens de experiências no
papel que a sociedade espera que a
inconsciente coletivo
pessoa desempenhe na vida.
O propósito da máscara é causar uma
impressão definida nos outros e muitas
vezes, embora não necessariamente,
oculta a verdadeira natureza da pessoa.
A persona é a personalidade pública,
aqueles aspetos que apresentamos ao
mundo ou que a opinião pública impõe
ao indivíduo, em contraste com a
personalidade privada existente por
trás da fachada social.
Se o ego se identifica com a persona,
como acontece frequentemente, o
indivíduo torna-se mais consciente do
papel que está a desempenhar do que
dos seus sentimentos genuínos
(“inflação da persona”). Ele se aliena de
si mesmo e toda a sua personalidade
assume uma qualidade plana ou
bidimensional. Ele se torna a mera
aparência de um humano, um reflexo
da sociedade ao invés de um ser
humano autônomo. O núcleo do qual a
persona se desenvolve é um arquétipo.
Esse arquétipo, como todos os
arquétipos, origina-se das experiências
da raça.
Nesse caso, as experiências consistem
em interações sociais em que a
assunção de um papel social teve um
propósito útil para os humanos ao
longo de sua história como animais
sociais. (A persona é parecida com o
superego de Freud em alguns aspetos.)
Arquétipos anima e o animus
Estes arquétipos referem-se ao
reconhecimento, por parte de Jung, de
que os humanos são essencialmente
bissexuais.
A nível fisiológico, o macho secreta
tanto hormônios masculinos quanto
femininos, assim como a fêmea. No
nível psicológico, as características,
temperamentos e atitudes masculinas
e as femininas são encontradas em
ambos os sexos, devido a séculos de
convivência. A homossexualidade é
apenas uma das condições, mas talvez
a mais notável, que deu origem à
conceção de bissexualidade humana.
A psique da mulher contem aspetos
masculinos (arquétipo animus) e a
psique do homem contem aspetos
femininos (arquétipo anima).
Arquétipos:
Anima- aspetos femininos da psique
masculina
Animus- aspetos masculinos da psique
feminina
Essas caraterísticas do sexo oposto
ajudam no ajuste e na sobrevivência da
espécie porque permitem que uma
pessoa de um sexo entenda a natureza
do outro sexo. Os arquétipos
predispõem-nos a gostar de certas
caraterísticas do sexo oposto, as quais
regem o nosso comportamento em
relação a ele.
Jung insistiu que tanto a anima quanto
o animus tem de ser expressos. Um
homem precisa mostrar as suas
caraterísticas femininas e masculinas,
e uma mulher tem de expressar as suas
caraterísticas masculinas e femininas.
Caso contrário, esses aspetos vitais
ficarão latentes e subdesenvolvidos,
levando a uma unilateralidade da
personalidade.
Esses arquétipos, embora possam ser
condicionados pelos cromossomas
sexuais e pelas glândulas sexuais, são
os produtos das experiências raciais do
homem com a mulher e da mulher com
o homem. Em outras palavras, ao viver
com a mulher ao longo das épocas, o
homem se feminilizou; ao viver com o
homem, a mulher se masculinizou.
Tais arquétipos não só fazem com que
cada sexo manifeste características do
outro sexo, mas também agem como
imagens coletivas que motivam cada
sexo a responder aos membros do outro
sexo e a compreendê-los. O homem
apreende a natureza da mulher por meio
de sua anima, e a mulher apreende a
natureza do homem por meio de seu
animus. Mas a anima e o animus
também podem levar a
desentendimento e à discórdia se a
imagem arquetípica for projetada sem
consideração pelo caráter real do
parceiro. Isto é, se um homem tentar
identificar a sua imagem idealizada de
mulher com uma mulher real e não
levar em conta as discrepâncias entre o
ideal e o real, ele pode sofrer um
amargo desapontamento quando
perceber que as duas não são idênticas.
Tem de haver um compromisso entre as
necessidades do inconsciente coletivo e
as realidades do mundo externo para
que a pessoa seja razoavelmente bem-
ajustada.
Arquétipo da sombra
É o arquétipo mais poderoso, contem os
instintos animais básicos e primitivos,
e, portanto, tem as suas raízes mais
profundas de todos os arquétipos. Os
comportamentos que a sociedade
considera maldosos e imorais residem
na sombra, e esse lado obscuro da
natureza humana deve ser domado se
as pessoas quiserem conviver em
harmonia. Temos de restringir, superar
e nos defender desses impulsos
primitivos. Caso contrário, a sociedade
vai-nos punir.
Arquétipo Sombra- o lado obscuro da
personalidade, o arquétipo que contem
instintos animais primitivos
No entanto, deparamo-nos com um
dilema – a sombra não é só a fonte do
mal, mas também da vitalidade,
espontaneidade, criatividade e emoção.
Portanto, se ela for totalmente
reprimida, a psique vai se tornar sombria
e sem vida. É função do ego reprimir
suficientemente os instintos animais
para sermos considerados civilizados e ao
mesmo tempo permitir uma expressão
suficiente dos instintos para fornecer
criatividade e vigor.
se a sombra for totalmente
suprimida, não só a personalidade se
tornará superficial, mas também a
pessoa ficará sujeita à possibilidade de
a sombra se revoltar => os instintos
animais não desaparecem quando são
reprimidos, eles ficam latentes, a
espera de uma crise ou uma fraqueza
no ego para obter controlo – quando
isso ocorre, a pessoa passa a ser
dominada pelo inconsciente.
O arquétipo da sombra também é
responsável pelo aparecimento, na
consciência, de pensamentos,
sentimentos e ações desagradáveis e
socialmente repreensíveis, que podem
então ser escondidos da visão pública
pela persona ou reprimidos no
inconsciente pessoal. Assim, o lado
sombra da personalidade, que deve a
sua origem a um arquétipo, permeia os
aspetos privados do ego e também uma
grande parte dos conteúdos do
inconsciente pessoal.
A sombra, com os seus instintos
animais vitais e apaixonados, dá à
personalidade uma qualidade encorpada
ou tridimensional. Ela ajuda a
completar a pessoa inteira.
(semelhança entre a sombra e o
conceito freudiano de id.)
Arquétipo do self
Representa a unidade, a integração e a
harmonia da personalidade total. Para
Jung, a luta pela integridade é a meta
primordial da vida. Este arquétipo
envolve a reunião e o equilíbrio de
todas as partes da personalidade.
Neste arquétipo, os processos
consciente e inconsciente são
assimilados para que o self, que é o
centro da personalidade, se desloque do
ego para um ponto de equilíbrio no
meio do caminho entre as forças
opostas do consciente e do
inconsciente. Como resultado, o
material do inconsciente passa a ter
maior influência sobre a personalidade.
A realização total do self está no
futuro, é uma meta- algo para se
procurar, mas que raramente se é
encontrado. O self serve de fonte
motivadora, empurrando para a frente,
em vez de nos para trás (como ocorre
com as nossas experiências passadas)
Ele não pode começar a emergir
enquanto os outros sistemas da psique
não se tiverem desenvolvido- isto
ocorre por volta da meia-idade (um
período de transição crucial no sistema
de Jung, onde acreditava que ocorriam
as grandes mudanças da personalidade).
O desenvolvimento do self é impossível
sem o autoconhecimento, e torna-se
assim o processo mais difícil com que
nos deparamos e requer persistência,
percetividade e sabedoria.
O self é o ponto central da
personalidade, em torno do qual todos
os outros sistemas estão constelados.
Ele mantém esses sistemas unidos e dá
à personalidade unidade, equilíbrio e
estabilidade.
O self é a meta da vida, uma meta que
as pessoas buscam incessantemente,
mas raramente alcançam. Como todos
os arquétipos, ele motiva o
comportamento humano e provoca
uma procura de integralidade,
especialmente pelos caminhos
oferecidos pela religião.
Antes que um self possa emergir, é
necessário que os vários componentes
da personalidade se tornem totalmente
desenvolvidos e específicos. Por essa
razão, o arquétipo do self não se torna
evidente até que a pessoa tenha atingido
a meia-idade. Nessa época, ela começa
a fazer um sério esforço para mudar o
centro da personalidade do ego
consciente para um que esteja a meio
caminho entre a consciência e a
inconsciência. Essa região intermediária
é a província do self.
Arquétipo do self- para Jung, o
arquétipo que representa a unidade,
integração e harmonia da personalidade
total.
Atitudes e funções
Atitudes: extroversão e introversão
Distinguiu 2 importantes atitudes ou
orientações da personalidade:
• a atitude de extroversão
• a atitude de introversão
A atitude extrovertida orienta a pessoa
para o mundo externo, objetivo; a
atitude introvertida orienta a pessoa
para o mundo interior, subjetivo.
Essas duas atitudes opostas estão
ambas presentes na personalidade, mas
habitualmente uma delas é dominante
e consciente, enquanto a outra é
subordinada e inconsciente. Se o ego é
predominantemente extrovertido em
sua relação com o mundo, o
inconsciente pessoal será introvertido.
Grande parte da nossa perceção
consciente e da reação ao ambiente é
determinada por atitudes mentais
opostas de extroversão e introversão.
Jung achava que a energia psíquica
pode ser canalizada externamente, para
o mundo exterior, ou internamente,
para o self.
As pessoas extrovertidas são abertas,
sociáveis e socialmente assertivas,
voltadas para as outras pessoas e para
o mundo exterior. As introvertidas são
tímidas e tendem a concentrar-se em si Postulou quatro funções psicológicas:
mesmas, nos seus pensamentos e
• sensação
sentimentos.
• intuição

Extroversão- uma atitude da psique • pensamento

caraterizada por uma orientação para o • sentimento

mundo exterior e outras pessoas.

O pensamento é ideacional e
intelectual. Ao pensarem, os seres
Introversão- uma atitude da psique
humanos tentam compreender a
caraterizada por uma orientação para as
natureza do mundo e a si mesmos.
ideias e sensações da própria pessoa

O sentimento é a função de avaliação: é

Segundo Jung, todos têm capacidade
o valor das coisas, quer positivo quer
para ambas as atitudes, mas somente
negativo, com referência ao sujeito. A
uma predomina na personalidade. A
função de sentimento dá aos humanos
atitude predominante, então, tende a
as suas experiências subjetivas de
direcionar o comportamento e a
prazer e dor, de raiva, medo, tristeza,
consciência da pessoa. No entanto, a
de alegria e amor.
não predominante continua a ser
influente e torna-se parte do A sensação é a função percetual ou de

inconsciente pessoal, e aí ela pode realidade. Ela transmite os fatos ou as

afetar o comportamento. representações concretas do mundo.

Por exemplo, em determinadas A intuição é a perceção por meio de

situações, uma pessoa introvertida processos inconscientes e de conteúdos

pode apresentar caraterísticas da subliminares. A pessoa intuitiva vai

extroversão, desejar ser mais além de fatos, sentimentos e ideias em

extrovertida ou se sentir atraída por sua busca da essência da realidade.

uma pessoa extrovertida.

Por exemplo, supõe-se que uma pessoa

As funções psicológicas está parada a beira da lagoa das 7

cidades, nos Açores. Se predominar a
Quando Jung reconheceu que havia
função do sentimento, ela vai
diferentes tipos de extrovertidos e
experienciar uma sensação de
introvertidos, propôs distinções
admiração, de grandeza e de beleza
adicionais entre as pessoas com base
arrebatadoras. Se ela estiver controlada
no que ele chamava de funções
pela função da sensação, verá as lagoas
psicológicas – que se referem a formas
simplesmente como são é ou como uma
diferentes e opostas de perceber ou
fotografia as representaria. Se a função
entender o mundo externo real e o
do pensamento controlar o seu ego, ela
nosso mundo interno subjetivo.
tentará compreender as lagoas em
termos de teoria e princípios
geológicos. Finalmente, se prevalecer a
função intuitiva, o espectador tenderá
a ver as 7 lagoas como um mistério da
natureza que possui um significado
profundo, que é parcialmente revelado
ou sentido como uma experiência
mística.
O pensamento e o sentimento são
chamados de funções racionais porque
utilizam a razão, o julgamento, a
abstração e a generalização. Elas
permitem que os humanos procurem
legitimidade no universo.
Elas julgam e avaliam as nossas
experiências. Embora as funções de
pensamento e sentimento sejam
opostas, ambas tratam da organização
e da classificação de experiências.
Pensar envolve julgar conscientemente
se uma experiência é verdadeira ou
falsa. A avaliação feita pela função de
sentimentos é expressa em termos de
gostar ou não, agrado ou desagrado.
A sensação e a intuição são
consideradas funções irracionais porque
se baseiam na perceção do concreto, do
particular e do acidental.
Não utilizam os processos da razão,
estas funções constatam as
experiências, mas não as avaliam. A
sensação reproduz uma experiência
através dos sentidos, da mesma forma
que a fotografia copia um objeto. A
intuição não surge diretamente de um
estímulo externo. Por exemplo, se
achamos que há outra pessoa connosco
num quarto escuro, esta convicção
pode estar baseada na nossa intuição
ou num palpite, e não numa experiência
sensorial real.
Como a nossa psique contém ambas as
atitudes de extroversão e introversão,
temos capacidades para as 4 funções
psicológicas. Da mesma forma que
temos só uma atitude dominante,
apenas uma função predomina. As
outras ficam submersas no
inconsciente pessoal. Além disso,
apenas um par de funções predomina –
o racional ou o irracional. Uma pessoa
não pode ser regida pelo pensamento e
pelo sentimento ou pela sensação e
pela intuição, pois elas são funções
opostas.
Habitualmente, uma das quatro
funções é mais diferenciada do que as
outras três e desempenha um papel
dominante na consciência. Esta é
chamada de função superior. A menos
diferenciada das quatro é chamada de
função inferior. Ela é reprimida e
inconsciente e expressa-se em sonhos e
fantasias. A função inferior é sempre o
outro membro do par que contém a
função superior. Se o pensamento for
superior, por exemplo, o sentimento
deve ser inferior. Quanto mais uma
dada função domina o funcionamento
consciente, mais a função inferior fica
submersa no inconsciente. Em essência,
Jung está a designar uma função como
superior quando ela é a mais
desenvolvida das quatro.
Os tipos psicológicos
Jung propôs 8 tipos psicológicos com
base nas interações das duas atitudes e
quatro funções
O tipo pensamento extrovertido vive
estritamente de acordo com as regras
da sociedade, tende a reprimir os
sentimentos e as emoções, ser objetivo
em todos os aspetos da vida e ser
dogmático nas ideias e opiniões. Ele
pode ser considerado rígido e frio. As
pessoas deste tipo tendem a ser bons
cientistas, porque se concentram em
adquirir conhecimento sobre o mundo
exterior e utilizar regras logicas para
descrevê-lo e entendê-lo.
O tipo sentimento extrovertido tende a
reprimir o modo pensamento e ser
extremamente emotivo. Ele respeita os
valores tradicionais e os códigos morais
que lhe foram ensinados, é
extremamente sensível as opiniões e
expetativas dos outros, é compassivo e
faz amigos facilmente, alem de tender
a ser sociável e vivaz. Para Jung, este
tipo é encontrado com mais frequência
nas mulheres do que nos homens.
O tipo sensação extrovertida
concentra-se no prazer, na felicidade e
na procura de novas experiências. São
pessoas muito voltadas para o mundo
real e adaptam-se a diferentes tipos de
pessoas e situações mutáveis. Como
não são dadas à introspeção, tendem a
ser extrovertidas, com grande
capacidade de aproveitar a vida.
O tipo intuição extrovertida encontra o
sucesso nos negócios e na política
devido à sua grande habilidade de
explorar oportunidades. Estas pessoas
sentem-se atraídas por novas ideias e
tendem a ser criativas, elas conseguem
inspirar outros a realizar e a conquistar
e também tendem a ser volúveis,
mudando de uma ideia ou aventurando-
se para outra, e a tomar decisões
baseando-se mais em palpites do que
na reflexão. As suas decisões, no
entanto, são geralmente corretas.
O tipo pensamento introvertido não se
dá com os outros e tem dificuldade em
transmitir ideias. Estas pessoas
concentram-se mais no raciocínio do
que nos sentimentos e não têm bom
senso pratico. São extremamente
preocupadas com a privacidade,
preferem lidar com abstrações e teorias
e concentram-se mais em entenderem-
se a si próprias do que a outras
pessoas. Os outros consideram-nas
teimosas, indiferentes, arrogantes e
sem consideração.
O tipo sentimento introvertido reprime
o pensamento racional. Estas pessoas
são capazes de emoções profundas, mas
evitam qualquer manifestação externa
delas. Elas parecem misteriosas,
inacessíveis, tendem a ser quietas,
modestas e infantis, têm pouca
consideração pelos sentimentos e ideias
dos outros e parecem tímidas, frias e
autoconfiantes.
O tipo sensação introvertida parece
passivo, calmo e desligado do mundo
quotidiano. Estas pessoas encaram a
maioria das atividades humanas com
benevolência e deleite. Elas são
esteticamente sensíveis, expressando-
se na arte ou na música, e tendem a
reprimir a sua intuição.
O tipo intuição introvertida concentra-
se intensamente na intuição, são
pessoas que tem pouco contacto com a
realidade, são visionarias e utópicas-
indiferentes, não se preocupam com
assuntos práticos e são pouco
compreendidas pelos outros.
Consideradas estranhas e excêntricas,
ela tem dificuldade em lidar com a vida
diária e fazer planos para o futuro.
Nota: os extrovertidos canalizam a
libido para o exterior
Perspetiva clínica
● Jung não nega a perspetiva freudiana
a propósito da neurose, ou seja, os
momentos de rutura existem, mas a
maneira como Jung considera a própria
neurose é completamente diferente,
contraposta à perspetiva freudiana. Da
sua experiência com os seus pacientes
Jung constata como seja dominante em
muitos deles a necessidade de
compreender o sentido da própria
existência individual e como seja
necessário enriquecê-la com a
descoberta de toda uma dimensão
íntima que geralmente é posta de parte
na primeira parte da vida. Não é por
acaso que o ponto de partida deste
processo possa ser um momento
traumático (luto, perda de trabalho,
momento de crises, entre outras), pode
ser a causa aparente de uma
necessidade mais profunda de
reapropriar-se de si mesmo.
● A psicoterapia para Jung está
direcionada em estabelecer o diálogo
entre consciente e inconsciente, que é
o elemento fundamental para
compreender o sentido do conflito e
para determinar um desenvolvimento
eficaz da personalidade no caminho da
individuação pessoal.
● Para Jung a relação terapêutica não é
uma técnica generalizada que se aplica
de forma indiferenciada a todos, mas a
relação terapêutica é experimentada no
seu significado genuíno, intersubjetivo.
É uma relação e como todas as relações
são únicas, o paciente tem de sentir a
presença ativa do terapeuta e isso é
necessário para o acontecer do
processo de mudança e evolução.
● O processo que se desenvolve dentro
da relação terapêutica, é uma
renovação que envolve ambos os
intervenientes (paciente e terapêutica)
e é daqui que deriva o caráter nunca
acabado e definitivo que tem como
meta o self. Ou seja, a relação
terapêutica transforma todos os
participantes (não é uma relação de
amizade, mas implica o dar-se do
terapeuta e é inevitável que o
terapeuta também saia modificado),
isto contradiz a ideia pragmática,
mecanicista sobre a neutralidade do
terapeuta.
● Outro elemento peculiar através do
qual o processo de individuação num
processo analítico se desenvolve, são os
conteúdos do inconsciente, analisados
através dos sonhos, na interpretação do
sonho, de cariz junguiano assumem
significados diferentes da análise
freudiana. Para Jung é importante
revelar o caráter compensatório e
perspético do sonho e, portanto, propõe
uma modalidade diferente de
interpretação é característica peculiar
do sonho desenvolver uma função
compensatória a respeito da atividade
consciente, o sonho é uma
compensação da realidade consciente.
● O caráter compensatório torna-se
uma nova modalidade de interpretação
do sonho, principalmente porque o
sonho permite antecipar novos
conteúdos no próprio processo da
análise, no sonho vão aparecendo novos
elementos à medida que vamos fazendo
caminho.
● A psicologia analítica serve como um
método de análise dos sonhos da
amplificação, amplifica as imagens, as
sensações que o sonho traz para
promover o mais possível o
enriquecimento a extensão do conteúdo
onírico. A interpretação dos sonhos
junguiana não é atribuir um significado
aos sonhos, mas compreender através
da amplificação consciente dos
elementos que aparecem nos sonhos. O
objetivo da amplificação é tentar
enriquecer a experiência que o sonho
traz com a intervenção, colaboração do
próprio terapeuta.
● Outro elemento importante para Jung
é que os conteúdos oníricos do
inconsciente pessoal devem ser sempre
considerados antes e tornados
conscientes antes de dar atenção aos
conteúdos do inconsciente coletivo, ou
seja, a temática do inconsciente
pessoal tem precedência das do
inconsciente coletivo, porque a história
pessoal está também impregnada de
elementos simbólicos da história
coletiva.
● O conteúdo manifesto no sonho para
Jung não é uma cobertura para
manifestar outra coisa, mas é o que o
inconsciente quer realmente revelar,
temos de concentrar a nossa atenção
no conteúdo manifesto, porque no
processo clínico temos de ter em conta
que os conteúdos do sonho são
projeções dos complexos inconscientes
e portanto são particularmente
adequados a penetrar o sentido do
conflito que o paciente vive e traz e
para determinar as características e as
perspetivas que melhor se prestam para
a compreensão da personalidade
Interações entre os sistemas da
personalidade
A compensação pode ser ilustrada pela
interação de atitudes contrastantes de
extroversão e de introversão. Se a
extroversão for a atitude dominante ou
superior do ego consciente, então o
inconsciente vai compensar,
desenvolvendo a atitude reprimida da
introversão. Isso significa que, se a
atitude extrovertida for frustrada de
alguma maneira, a atitude inferior
inconsciente da introversão vai assumir
o controlo da personalidade e
manifestar-se. Todos os conteúdos da
mente consciente são compensados
pelos conteúdos da mente inconsciente.
Dentro destes sistemas, temos a função
transcendente que se baseia no facto de
um sistema poder compensar a
fraqueza do outro sistema tanto como
se pode opor a este.
➢ Princípio da equivalência: A energia
nunca se perde, ela desloca-se para
outro valor. Se a quantidade de energia
de um determinado elemento psíquico
diminuir ou desaparecer, a energia não
se perderá, mas reaparecerá num novo
valor (transferência para outro). Se um
valor é reprimido, a sua energia pode
ser usada para criar sonhos/fantasias.
➢ Princípio de entropia: Afirma que a
distribuição de energia no psiquismo
procura um equilíbrio ou harmonia
(compensatório). A entropia governa os
intercâmbios da energia em toda a
personalidade com o objetivo de
construir um sistema perfeitamente
equilibrado. Isto não ocorre, se
ocorresse, a psique deixaria de
funcionar, ficaria paralisada, pois não é
um sistema inteiramente fechado (por
não haver tensão, não tem energia,
havendo um colapso; sendo assim o
desequilíbrio é necessário).
Os vários sistemas e as atitudes e consciente será um tipo intuitivo ou
funções que constituem a sensorial inconscientemente. Da mesma
personalidade total interagem de três forma, o ego e a anima em um homem
maneiras diferentes. e o ego e o animus em uma mulher
terão uma relação compensatória. O
• Um sistema pode compensar a
ego do homem normal é masculino,
fraqueza de outro sistema,
enquanto a anima é feminina; e o ego
• um sistema pode se opor a outro
da mulher normal é feminino, enquanto
sistema,
o animus é masculino. Em geral, todos
• ou dois ou mais sistemas podem
os conteúdos da mente consciente são
se unir para formar uma síntese.
compensados pelos conteúdos da mente
A compensação pode ser ilustrada pela inconsciente.
interação das atitudes contrastantes
O princípio de compensação
de extroversão e de introversão. Se a
proporciona uma espécie de equilíbrio
extroversão for a atitude dominante ou
entre elementos contrastantes que
superior do ego consciente, então o
impede a psique de se tornar
inconsciente vai compensar,
neuroticamente desequilibrada.
desenvolvendo a atitude reprimida da
Virtualmente todos os teóricos da
introversão. Isso significa que, se a
personalidade supõem que a
atitude extrovertida for frustrada de
personalidade contém tendências
alguma maneira, a atitude inferior
polares que podem entrar em conflito.
inconsciente de introversão vai assumir
Jung não é exceção. Ele acreditava que
o controle da personalidade e
uma teoria psicológica da personalidade
manifestar-se. Um período de intenso
precisa basear-se no princípio da
comportamento extrovertido é
oposição ou do conflito, porque as
comumente seguido por um período de
tensões criadas por elementos
comportamento introvertido. Os sonhos
conflitantes são a própria essência da
também são compensatórios, de modo
vida. Sem tensão não haveria energia e
que os sonhos de uma pessoa
consequentemente nenhuma
predominantemente extrovertida terão
personalidade.
uma qualidade introvertida, e,
inversamente, os sonhos de um A oposição existe entre todos os
introvertido tenderão a ser elementos da personalidade: entre o
extrovertidos. ego e a sombra, entre o ego e o
inconsciente pessoal, entre a persona e
A compensação também ocorre entre
a anima ou o animus, entre a persona e
as funções. Uma pessoa que enfatiza o
o inconsciente pessoal, entre o
pensamento ou o sentimento na mente
inconsciente coletivo e o ego, e entre o
inconsciente coletivo e a persona. A
introversão se opõe à extroversão, o
pensamento se opõe ao sentimento, e a
sensação se opõe à intuição.
A DINÂMICA DA PERSONALIDADE
Jung imaginou a personalidade, ou
psique, como um sistema de energia
parcialmente fechado. Dizemos que é
incompletamente fechado porque a
energia de fontes exteriores precisa ser
acrescentada ao sistema, por exemplo,
pela alimentação. A energia também é
subtraída do sistema, por exemplo, pela
realização de trabalho muscular.
Também é possível que estímulos
ambientais produzam mudanças na
distribuição de energia dentro do
sistema. Isso acontece, por exemplo,
quando uma mudança súbita no mundo
externo reorienta a nossa atenção e
perceção.
O fato de que a dinâmica da
personalidade está sujeita a influências
e a modificações de fontes externas
significa que a personalidade não pode
atingir um estado de perfeita
estabilização, como poderia acontecer
se ela fosse um sistema
completamente fechado. Ela só pode
tornar se relativamente estabilizada.
Energia Psíquica
A energia pela qual o trabalho da
personalidade é realizado se chama
energia psíquica (Jung, 1948b). A
energia psíquica é uma manifestação
da energia de vida, que é a energia do
organismo como um sistema biológico.
Ela se origina da mesma maneira que
toda a energia vital, a saber, dos
processos metabólicos do corpo.
O termo de Jung para a energia vital é
libido, mas ele também usa libido
paralelamente com energia psíquica. A
energia psíquica é um constructo
hipotético; ela não é uma substância ou
um fenômeno concreto.
Consequentemente, não pode ser
medida ou sentida. A energia psíquica
encontra a sua expressão concreta na
forma de forças reais ou potenciais.
Desejar, querer, sentir, prestar atenção
e buscar são exemplos de forças reais
na personalidade; disposições, aptidões,
tendências, inclinações e atitudes são
exemplos de forças potenciais.
O Processo de Individuação
Que a personalidade tem a tendência a
desenvolver-se na direção de uma
unidade estável é um aspeto central da
psicologia de Jung.
O desenvolvimento é um desdobrar-se
da totalidade original não-diferenciada
com que nascem os seres humanos. A
meta suprema desse desdobrar-se é a
realização da condição de ser si mesmo.
Para realizar tal meta, é necessário que
os vários sistemas da personalidade se
tornem completamente diferenciados e
inteiramente desenvolvidos. Se alguma
parte da personalidade for
negligenciada, os sistemas
negligenciados e menos desenvolvidos
agirão como centros de resistência que
tentarão capturar energia de sistemas
mais desenvolvidos. Se houver muitas
resistências, a pessoa tornar-se-á
neurótica. Isso vai acontecer quando os
arquétipos não puderem se expressar
por meio do ego consciente ou quando
o envoltório da persona se tornar tão
espesso que abafará o resto da
personalidade. Um homem que não
oferece uma saída satisfatória para
seus impulsos femininos, ou uma
mulher que contém as suas inclinações
masculinas estão armando problemas,
porque a anima ou o animus nessas
condições tenderão a encontrar
maneiras indiretas e irracionais de se
expressar. Para ter uma personalidade
sadia e integrada, todos os sistemas
precisam atingir o grau mais pleno de
diferenciação, desenvolvimento e
expressão. O processo por meio do qual
isso é atingido chama-se processo de
individuação (Jung, 1939, 1950).
Sonhos
Jung, como Freud, prestou muita
atenção aos sonhos. Ele os considerava
como sendo prospetivos assim como
retrospetivos em conteúdo, e
compensatórios para aspetos da
personalidade do sonhador
negligenciados na vida de vigília. Por
exemplo, um homem que negligencia
sua anima terá sonhos em que
aparecem figuras de anima. Jung
também diferenciava os sonhos
“grandes”, em que existem muitas
imagens arquetípicas, dos sonhos
“pequenos”, cujos conteúdos estão mais
estreitamente relacionados às
preocupações conscientes do sonhador.
Jung (1948) arquitetou a personalidade,
ou psique, como um sistema de energia
parcialmente fechado. Parcialmente
fechado, porque a energia de fontes
exteriores precisa ser acrescentada ao
sistema, por exemplo, pela
alimentação. A energia também é
subtraída do sistema, por exemplo, pela
realização do trabalho muscular.
Também é possível que estímulos
ambientais provoquem transformações
na distribuição de energia dentro do
sistema. O facto de a dinâmica da
personalidade estar submetida a
influências e a modificações de fontes
externas indica que a personalidade não
pode atingir um estado de perfeita
estabilidade, como poderia acontecer se
ela fosse um sistema fechado. A
personalidade apenas pode tornar-se
relativamente estável. O aspeto mais
relevante da teoria da personalidade de
Jung, é o conceito do inconsciente
coletivo com os seus arquétipos, a sua
ênfase no carácter revolucionário do
desenvolvimento da personalidade. Jung
acreditava que os humanos estão
constantemente a progredir (ou a
tentar progredir) de um estádio de
desenvolvimento menos completo para
o mais completo.