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UMA ABORDAGEM DA
PEDAGOGIA SEGUNDO RUDOLF STEINER
Parecia ser inevitável, na nossa civilização, que o percurso escolar de uma pessoa
estivesse ligado ao medo. Conhecemos as histórias do quarto escuro, da palmatória,
das orelhas de burro à janela, da permanência em horas extraordinárias, da
peregrinação por outras salas com dísticos esclarecedores do “crime”, etc., etc.!
Felizmente que sucessivas legislações vieram refrear estas medidas “pedagógicas”.
Medo de quase tudo: dos testes, das notas, do trabalho a entregar, de desiludir os
pais, de desiludir os professores, de dar o salto no plinto, de ir à visita de estudo e
enjoar no autocarro, de descrever numa folha todos os passos do voleibol, de não
arranjar namorado, de não ser escolhido para a equipa do torneio inter-turmas, de
ser chamado ao conselho directivo, de ser ridículo com os ténis sem marca, de não
decorar as fórmulas de química, dos colegas grandes do último ano, dos jogos no
pátio, do professor de matemática, de perder o autocarro, de ir às casas de banho e
ficar fechado, de VIVER!
A maioria destes medos advém da consciência que a criança tem de, numa avaliação
do seu desempenho, não atingir aqueles misteriosos objectivos mínimos que é
suposto ela atingir e que lhe foram expressamente explicados no início das aulas. A
partir desse momento a criança perdeu a sua inocência na espontaneidade do
perguntar e aprender: ela sabe que tudo o que fizer, disser e mostrar é para a
avaliação e passa a estar envolvida numa atmosfera de medo difuso. A punição,
outrora exterior, interiorizou-se, agredindo agora a criança nos seus sistemas
orgânicos. Já não lhe doem as mãos ou as nádegas: ela tornou-se asmática ou sofre
de vómitos frequentes.
Temos que reelaborar toda a concepção de escola e de praxis pedagógica, incluindo o
conceito de avaliação - porque ela existe. A pedagogia Waldorf
Em 1919, Rudolf Steiner, engenheiro austríaco, posteriormente doutorado em
filosofia, fundou em Stuttgart, na Alemanha, a primeira escola livre, ligada à fábrica
de cigarros Waldorf-Astoria. Os alunos eram filhos de operários, de dirigentes e
também de pais alheios à fábrica, que optavam pela pedagogia ali seguida, baseada
no estudo aprofundado do Conhecimento da Natureza Humana. Actualmente são
mais de 500 as escolas espalhadas por todo o mundo.
De acordo com a sua concepção, o Homem é um ser físico, anímico e espiritual, cujo
desenvolvimento decorre por fases, cada uma com necessidades intrínsecas. Estas
exigem uma prática pedagógica adequada, só tornada possível pelo estudo da
Natureza Humana.
Quando é atingida a maturidade para entrar na escola, o que se dá por volta dos sete
anos (a tendência actual é de precocidade, com os perigos que qualquer precocidade
contra-natura pode trazer consigo), a maioria das forças vitais que se empenhavam
no seu organismo ficam disponíveis e poderão ser encaminhadas para uma
aprendizagem sistematizada. A imitação, embora actuante (ela subsistirá até ao fim
da vida), vai perdendo relevância e o que se torna agora importante é o desejo de
admirar, de venerar alguém que lhe revele o mundo exterior. A criança há muito que
se apercebeu da sua existência mas já não se lhe entrega incondicionalmente como
dantes.
O apelo de liberdade
Chegado o fim da escolaridade, por volta dos dezoito anos, todos os alunos tiveram a
oportunidade de conhecer e exercitar as áreas teóricas e práticas que os habilitam a
enveredar por imensas possibilidades profissionais: de marceneiro a arquitecto, de
ourives a médico, de jardineiro a músico, de electricista a advogado, o leque é quase
infinito. Não é raro que um jovem, após ter passado nos exames de acesso à
universidade, opte seguidamente por uma profissão manual. A sua escolaridade
transmitiu-lhe o sentido de dignidade de QUALQUER área do trabalho humano e, se
bem que inserido numa sociedade de discurso diferente, fre-quentemente encontra
em si a força individual de seguir uma profissão que lhe traz felicidade e realização
pessoal, normalmente ligada à estética ou ao social. Tendo percorrido um programa
curricular adequado a cada fase do seu desenvolvimento, pôde adquirir confiança
nas suas capacidades e estará preparado para enfrentar, em jovem adulto e ao longo
da vida, os desafios que esta lhe trouxer. O medo surgirá sempre e de novo, pontual,
objectivo, mas a autoconfiança permitir-lhe-á controlá-lo, ultrapassá-lo e, muito
possivelmente, solucioná-lo.