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Há 50 anos morria Albert Einstein. Este judeu alemão nascido numa família
pouco religiosa não acreditava em um Deus personalizado, mas valorizava
o pressentimento de algo além da apreensão humana e associava ética
científica a religião.
"Fazer parte das pessoas que podem dedicar sua valiosa força de observação e
investigação a coisas objetivas e desvinculadas do tempo é uma graça especial.
Como sou feliz e grato por usufruir desta graça que nos torna independentes do
destino pessoal e do comportamento dos demais! Mas esta independência não deve
nos cegar, no entanto, a ponto de ignorarmos os deveres que continuam nos
vinculando à humanidade de antes, de agora e de depois", observa Einstein.
lousa do Carnegie Institute, Mt. Wilson Observatory, Pasadena, Califórnia (14/01/1931)A origem da
religião para Einstein é o medo. Medo de fome, doença e morte. É preciso
apaziguar o Deus ou os deuses, a fim de escapar da desgraça. Em um nível mais
elevado, a fé surge de sentimentos sociais. Neste caso, religião é como uma
superestrutura moral que regula a vida da comunidade. Para Einstein, a religião
moral é a religião dos povos com tradição cultural. Mas ele ainda distingue uma
terceira forma de vivência religiosa: a religiosidade cósmica.
A religiosidade cósmica seria apenas para "indivíduos especialmente ricos e
comunidades especialmente nobres". O conceito cósmico de Deus não se prende
mais a imagens pessoais, de modo que não requer nem Igreja, nem dogmas, nem
orações. Neste caso, Deus é um princípio. Sua linguagem é a matemática. Venerá-
lo significa fazer ciência.
"Sou religioso"
"A coisa mais bela e profunda que o ser humano pode vivenciar é o sentimento do
misterioso", diz Einstein. "Ele está na base da religião e das aspirações mais
profundas da arte e da ciência. Quem nunca vivenciou isso me parece morto ou
cego. Sentir que, por trás do vivenciável, se esconde algo inacessível à nossa
mente, algo cuja beleza e sublimidade só nos alcança de forma mediada e como
um fraco reflexo: isso é religiosidade. Neste sentido, sou religioso. A mim, basta
pressentir estes mistérios com espanto e tentar apreender com a mente e com toda
humildade uma imagem pálida da estrutura sublime do ser."
Albert Einstein tocando violino numa viagem de navio, em 1931A fé
de Einstein é a fé na racionalidade da construção do mundo, a crença de que é
possível entrever seus princípios. Sendo assim, sua célebre frase "Deus não joga
dados" não se refere a um Deus personalizado que determina arbitrariamente o
destino das pessoas. É uma afirmação sobre a física, mais especificamente sobre a
relação de difusão da física quântica. Na religião de Einstein, não há lugar para
impasses ou afirmações difusas.
"Ciência sem religião é paralítica"
A ciência é apenas um instrumento para alcançar certos objetivos. "O que este
instrumento cria em mãos humanas depende inteiramente da natureza dos
objetivos que se mantêm vivos em meio à humanidade. Após estas metas serem
fixadas, o método científico oferece os meios para atingi-las", afirma Einstein.
Justamente pelo fato de a ciência, como uma religião sem Deus personalizado, ser
inteiramente independente de juízos de valor, suas metas devem ser impostas com
extrema responsabilidade. No início dos anos 30, Einstein ainda dissociava
rigorosamente a religião cósmica dos físicos da religião moral. Posteriormente, ele
passou a ressaltar cada vez mais sua ligação.
Porém uma coisa é certa, desde que o matemático russo Alexander Friedmann e o
cosmólogo belga Georges Lemaître descobriram, na década de 1920, a solução
temporal para as equações gravitacionais: não existe um universo estático,
imutável.
Somos os únicos?
É altamente provável que nós, seres humanos, também estejamos vivendo num
universo aberto, com espaço infinito. E tentamos a cada dia refletir sobre o papel
que nos cabe num mundo assim.
O mundo finito da Idade Média era sabidamente geocêntrico, porém a Terra e suas
belezas não constituíam fonte de vida: a razão de ser do homem estava reduzida a
esperar o Além.
"Ele não esteve aqui por um tempo infinito, foi um tempo breve e ele não
permanecerá por uma infinitude. E no fim, quando ele houver desaparecido, nada
terá acontecido."
Não apenas ele não habita o centro do universo, como não existem pontos centrais
nesse mundo homogêneo. A radiação cósmica de fundo (RCFM), descoberta em
1965, reflete igualmente a uniformidade quase perfeita do universo.
Diante de tais constatações – caso não se apele para as opções metafísicas sobre o
sentido da vida – estará o ser humano obrigado a cair num niilismo autodestrutivo?
Para o homem do século 21 em geral não é mais admissível o recurso a instâncias
religiosas como fonte de sentido. Pelo menos na Europa, a consciência crítica
alcançou camadas tão amplas da população que para elas está fora de cogitação
procurar a resposta na ligação com um ser espiritual extraterreno.
Justamente porque em dois mil anos de existência a teologia cristã não conseguiu
fornecer argumentos suficientes para a aceitação racional de um tal ser.
Diante de uma situação epistemológica tão desoladora, seria bem pouco inteligente
uma pessoa racional fundar o sentido de sua vida e a sua orientação existencial
sobre um ser ontologicamente tão duvidoso.
Deste modo, sabiamente antecipava aquilo que, na era cristã, encontraria seu
apogeu nas visões infernais de um Dante Alighieri (A Divina Comédia).
Nem os deuses imortais, cuja existência nenhum mortal é capaz de provar, nem a
amplitude do cosmos oferecem ao ser humano apoio, força ou orientação. Valores
fomentadores da felicidade não aparecem simplesmente em nosso caminho: é
preciso nós mesmos os definirmos. Tampouco a filosofia poderá preparar um
pacote de valores para cada um. A felicidade humana é individual.
Não há motivo para resvalar num niilismo apático em face à condição humana – a
qual, sem dúvida, é de total insignificância cosmológica. Embora o "fenômeno
homem" seja – diante das miríades de mundos – antes um fenômeno passageiro e
secundário, ainda podemos – administrando nossa finitude de modo inteligente –
alcançar uma forma de vida plena de significado.
Mas o ser humano livre não se deve deixar ludibriar. Começando por estabelecer,
ele próprio, uma tabela de valores para sua conduta de vida, ele já estará
praticando uma forma de definição de sentido.
Funcionário
do CERN e o modelo do acelerador
Quão rápido?
Certa vez cheguei à cifra de 50 meses. Não se trata de uma estimativa, mas sim do pior cenário possível.
Que, apesar de tudo, não se pode descartar.
Como se poderia reagir, caso algo assim ocorresse?
Não haveria reação possível.
Não haveria nenhuma forma de controlar o problema?
Quem dera. Mas tudo indica que o buraco negro estaria a uma distância tão grande abaixo da superfície
que de início nada se perceberia. E quando se notasse sua presença, devido às radiações emitidas pela
Terra, não se poderia isolar o fenômeno nem lançá-lo, por exemplo, ao espaço, num foguete.
Por que o senhor crê que seus colegas reagiram com tanto repúdio a suas advertências?
É sempre assim. Quando a maioria crê em algo, os que afirmam o contrário só são reconhecidos muito
tempo depois. Ou nunca.
Michelangelo: A Criação
"Os cientistas têm que admitir que necessitam de uma fé, para reconhecer
relações fora do mundo observável", afirma o teólogo Hans Schwarz, num
ensaio para a DW-WORLD.
"Durante longo tempo a teologia acreditou, na qualidade de rainha das ciências, ter
uma reposta definitiva para todas as questões. Ela pensava ser onissapiente.
Contudo essa arrogância irritou as outras ciências. Por isso a teologia foi deposta de
seu pedestal, que as ciências naturais então ocuparam. Agora anunciavam, no
lugar da teologia, saber a resposta certa para todas as perguntas da humanidade.
Sua arrogância também foi desmacarada, e espalhou-se um ceticismo cada vez
maior quanto às pretensões das ciências naturais."
O teólogo norte-americano Langdon Gilkey, falecido em 2005, fez este relato das
relações mútuas entre teologia e ciências naturais durante um congresso reunindo
ganhadores do Prêmio Nobel e teólogos.
Apesar disso, necessitamos das ciências naturais a cada dia, sobretudo em sua
forma aplicada, a fim de administrar nossa vida cada vez mais complexa. Estamos
constantemente circundados pelos resultados das ciências aplicadas, da luz elétrica
ao laptop, da geladeira ao automóvel. Sem eles, estaríamos mais ou menos
perdidos.
Para que precisamos, além disso, da teologia, ou mesmo da fé? Não basta
transformarmos em ações nossos conhecimentos fatuais, adquiridos através da
ciência?
Perda da inocência
Há mais de 200 anos, o filósofo Immanuel Kant advertia que nem todos os
problemas se permitem solucionar através da experiência sensória, ou seja, do
empirismo. Ao contrário dos empíricos britânicos, dentre eles David Hume, o
filósofo alemão constatara que a razão humana e a experiência sensorial em que
ela se baseia só podem devassar o mundo dos fenômenos.
Devido ao tremendo progresso das ciências aplicadas nos séculos 19 e 20, esse
consenso foi se perdendo. Passamos a adotar o princípio de que tudo o que seja
tecnicamente factível é também certo.
Mas o filósofo Karl Jaspers caracterizou com razão a crença na dominação técnica
de nosso mundo como "superstição da ciência". Desde Hiroshima e Dresden, para
não falar em Auschwitz, as ciências naturais perderam sua inocência.
Regiões limítrofes
Além disso, tanto no campo teórico como no prático, os cientistas esbarram cada
vez mais em limites que exigem uma avaliação ética, ou mesmo metafísica. Assim,
os médicos se confrontam diariamente com o impasse de como e sob que condições
a vida deve ser preservada.
Um outro fato, puramente prático, também nos ocupa: notamos cada vez mais
claramente que os recursos naturais não são inesgotáveis. Porém a ciência não
consegue nos responder de forma conclusiva como podemos lidar de forma
responsável com nossos recursos.
Enquanto durante longo tempo a ética foi uma questão para a filosofia ou a
teologia, desenvolve-se cada vez mais uma "ética da técnica", ou uma "ética da
medicina", assim como um intercâmcio crescente entre teólogos e cientistas, no
tocante a questionamentos metafísicos.
Quando os cientistas acatam os conselhos do teólogos, não é por que estes sempre
saibam todas as respostas com exatidão. Mas sim por que muitas questões
ultrapassam a competência dos pesquisadores, cujo procedimento se baseia nos
princípios empíricos da ciência.
Dessa maneira, o teólogo tem que estar familiarizado com os fatos científicos,
assim como o cientista com os fundamentos da fé. E como este poderia estar alheio
a tais problemas: todo cientista é também um ser humano e, como tal,
constantemente confrontado, em sua existência, com as questões da fé.
Os cientistas devem admitir que precisam de uma crença, para estarem aptos a
reconhecer as relações mais profundas, para além dos fatos puros e do mundo
observável. Do mesmo modo, teólogos necessitam do saber detalhado fatual-
científico, para que sua fé não definhe em ideologia cega.
"Para o cientista que viveu dentro da crença no poder da razão, a história termina
como um sonho mau. Ele escalou a montanha de sua ignorância e está prestes a
alcançar o mais alto cume. Ao alçar-se por sobre a última rocha, é saudado por um
grupo de teólogos, que lá estavam sentados há séculos."
Três importantes instituições científicas alemãs – a Sociedade Alemã de Pesquisa (DFG), a Academia
Nacional de Ciência Leopoldina, em Halle, e a Academia Alemã de Ciências Técnicas (Acatech) –
tomaram recentemente posição conjunta em relação à biologia sintética.
Trata-se de um ramo científico que "dilui as fronteiras entre o vivo e o tecnologicamente construído",
unindo biologia, química, física, matemática, engenharia, biotecnologia e informática. A biologia sintética
teria como fim a criação de novas vacinas, mas também novas fontes energéticas, explicam.
O presidente da Acatech, Reinhard Hüttl, calcula que levará cerca de 20 anos até essa técnica chegar ao
mercado. No entanto, com sua declaração conjunta, as instituições pretendem "estabelecer, desde cedo, o
diálogo com a sociedade" sobre uma tecnologia do futuro que – assim como a engenharia genética – abre
grandes chances, mas também implica riscos.
Pois a pretensão de criar vida artificial tem seus antagonistas. E tudo começou em Massachusetts, nos
Estados Unidos.
Seu raciocínio central foi o seguinte: para quem pretende realmente compreender a vida, não basta apenas
decompor seres vivos; também é preciso saber remontá-los. Como num jogo de Lego, o desafio dos
bioengenheiros era criar estruturas complexas a partir de "tijolos" simples – no caso, moléculas biológicas
(biobricks).
O resultado final do processo são organismos feitos sob medida para desempenhar determinadas funções.
Uma brincadeira que vai além da tecnologia genética tradicional, a qual opera exclusivamente com a
transferência de genes de uma espécie a outra.
Uma vez por ano, Knight e Endy convidam bioconstrutores de todo o mundo para um grande concurso de
bricolagem molecular no MIT. E então bactérias brilham em padrões coloridos ou piscam em ritmo de
polca, conectadas a uma aparelhagem de som.
Alguns desses altos artesãos começaram até a construir com microorganismos uma espécie de
computador, e ao menos já conseguiram conectar alguns comutadores biológicos entre si.
Para alguns, tudo não passa de brincadeira para bioengenheiros. Outros veem o nascimento de uma nova
biotecnologia. Pensando nos bioarquitetos do futuro, a firma BioArts, de Regensburg, já fornece peças
sob medida de ácido desoxirribonucleico (DNA), responsável pela transmissão da informação genética.
Primeiros passos
Porém alguns cientistas querem mais. O pioneiro do genoma, Craig Venter, planeja produzir, dentro de
alguns anos, vida artificial partindo de matéria morta. Seu futuro organismo sintético já tem até um nome:
Mycobacterium laboratorium.
Como explicou Wimmer, a meta era conhecer melhor o agente infeccioso. Contudo, o resultado não foi
um ser vivo artificial. Pois, apesar de compostos por material biológico, os vírus nem são capazes de se
reproduzir independentemente nem dispõem de metabolismo próprio, ambos pré-requisitos essenciais
para caracterizar um ser vivo.
Brincadeira a sério
A bactéria Mycobacterium genitalium é, sem sombra de dúvida, um tal organismo. Craig Venter já
construiu seu genoma, cerca de 100 vezes maior do que o de um vírus. Além do mais, já provou que,
enxertado numa membrana celular, o genoma sintético assume o comando.
Agora, cabe repetir esses dois procedimentos com material genético criado por seres humanos. "Isso seria
vida artificial", afirma Venter. Já o filósofo Andreas Brenner, da Universidade da Basileia, discorda. "Não
pode haver vida artificial. Só existe vida. A forma como foi criada não tem qualquer relevância."
E se inicia o debate sobre uma nova ciência. As questões em aberto ainda são numerosas. O que
aconteceria se bioterroristas criassem agentes infecciosos de doenças totalmente desconhecidas?
Organismos artificiais poderiam desencadear uma catástrofe ecológica? O ser humano tem sequer o
direito de se tornar um criador?
Pelo menos para uma pergunta Craig Venter tem uma resposta pronta. Acusado de estar brincando de
Deus, o enfant terrible da ciência avançada replicou: "Como assim, 'brincando'?"
Como no futebol
Para ele, a grande discussão sobre o assunto em todos os níveis, até o da "luta das
culturas", fundamenta-se justamente em crenças, ou seja, em posições pessoais,
defendidas com veemência mas sem base real em dados empíricos. "E tenho a
sensação de que esta discussão tem se realizado num nível bem baixo", recrimina o
jornalista.
Diretor do projeto LHC, Lyn Evans (e) e engenheiro Carlos Robles na central de
controle do CERNEstá claro que não sabemos o que ocorrerá. Por isso realizamos esta experiência, para
saber em detalhes o que vai acontecer. Pode ser que se produzam algumas grandes surpresas. Contamos
com equações muito precisas que nos dizem como se formou a matéria, mas não fomos capazes de
desmembrá-la para conhecer sua composição exata. Supomos que parte do universo é formada por uma
espécie de vazio. Mas pela primeira vez poderemos saber que tipo de átomo forma essa matéria.
Comumente se refere a isto como "a busca das partículas Higgs", mas pode ser que não se trate de um
único tipo de partícula, e sim de toda uma combinação de fatores e elementos.
Em todo caso, esperamos averiguar de que é feito o espaço. De um lado, podem-se elaborar toda uma
série de equações belíssimas que combinariam todas as descrições das forças físicas da natureza,
presentes até agora em teorias separadas. Poderia resultar numa grande teoria unificada com este
"trabalho de campo". Mas para tal temos que incorporar os achados deste exercício prático e que poderá
revelar existirem novas partículas. Temos equações maravilhosas que não foram submetidas ao ensaio
prático.
Por último, os astrônomos constataram recentemente que grande parte da massa do universo não é
formada por matéria como a estudamos na biologia ou na química, composta de prótons, nêutrons, quarks
e todas essas coisas que já entendemos bem. É algo novo, que se chama "matéria escura" e interage de
modo muito débil com a matéria normal. Assim, grande parte do universo tem uma conformação que
ainda nos é desconhecida, e com este projeto poderíamos produzir uma quantidade suficiente de matéria
escura para estudá-la a fundo. É a conexão entre a física fundamental e a cosmologia. Entretanto, como
disse, pode-se produzir alguma surpresa.
Núcleo
eletromagnético do LHC
Explique-nos, por favor: o que sucede hoje em Genebra?
O que hoje toma lugar é um grande feito de engenharia. Se tudo sair bem, de início teremos prótons
circulando por todas as partes do túnel, em condições de grande – mas não definitiva – aceleração. Será
um divisor de águas, mas ainda não é o começo do experimento físico. Não haverá colisões nem se
estudarão novos fenômenos. Basicamente, trata-se de verificar se a máquina funciona direito.
A experiência só inicia, se tudo sair bem, no ano que vem. Quando se produzirão os primeiros resultados,
isto depende, naturalmente, do que formos descobrindo e também de quão rapidamente nós mesmos
entenderemos os aspectos técnicos do LHC. É difícil fornecer uma data precisa, mas espero que dentro de
um ano possamos saber mais sobre os tópicos que mencionei e determinar se vamos por um caminho
acertado ou se deveremos esperar mais três ou quatro anos.