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UNIDADE IV

FENOMENOLOGIA, EXISTENCIALISMO E AS TEORIAS TRADICIONAIS E


CRÍTICAS DA EDUCAÇÃO

Profa. Me. Dyeinne Cristina Tomé

Objetivos de Aprendizagem
Os objetivos são compreender as principais contribuições da fenomenologia e
do existencialismo para a filosofia moderna; Conhecer o contexto histórico e
teórico que marcou o surgimento da fenomenologia; Analisar a abordagem
desta teoria com ênfase na sua concepção sobre a problemática do
conhecimento; Discutir a crítica e o desenvolvimento propiciado pelo
existencialismo a essa teoria.
Os objetivos são conhecer as concepções modernas de educação e a
expansão da escola; investigar a Influência do positivismo e da concepção
liberal de homem nas teorias pedagógicas; discutir as teorias crítica e Escola
de Frankfurt.

Plano de estudos:
Nesta unidade, serão abordados os seguintes tópicos:
1. Edmund Husserl e o surgimento da fenomenologia;
2. O existencialismo de Jean-Paul Sartre.
3. Surgimento da pedagogia e da reflexão sobre a educação;
4. Escola tradicional e algumas características;
5. Teoria crítica e as contribuições para a educação.

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CONVERSA INICIAL

Como conhecemos as coisas? Como acontece o processo de conhecimento?


Estas questões devem receber uma atenção especial de todo educador. Com
elas poderemos refletir sobre as diferentes teorias que norteiam a construção
de diversos processos de ensino-aprendizagem.
Nesta unidade, vamos conhecer as contribuições de duas vertentes filosóficas:
a fenomenologia e o existencialismo. Apesar de distintas, essas teorias estão
profundamente conectadas.
O percurso que faremos vai da fenomenologia ao existencialismo e
passaremos, portanto, pela produção teórica de dois grandes pensadores:
Edmund Husserl (1859-1938) e Jean-Paul Sarte (1905-1980). O primeiro é o
fundador da fenomenologia, e o segundo, que por meio de uma profunda
apreensão da teoria fornecida pelo primeiro, consegue aperfeiçoar esta
abordagem, com uma contribuição tão radical, que acaba por criar uma nova
concepção filosófica, o existencialismo.
Veremos quais são as respostas deles, como se dá o processo de
conhecimento e as implicações dessas teorias, pensando na educação, pois,
ambas as vertentes possuem fundamentos de algumas concepções que ainda
exercem influência nos processos educacionais da atualidade.
Iniciaremos a nossa unidade com uma discussão breve sobre o surgimento da
pedagogia enquanto uma teoria orientadora de práticas educativas.
Pode parecer estranho à primeira vista, a ideia de que nem sempre na história
existiu aquilo que hoje chamamos de Pedagogia, ou melhor de que o
pensamento sobre o que é a educação e como ela deveria ser não foi sempre
compreendido como uma parte específica da reflexão humana sobre o ato de
educar.
Foi nesse sentido que durante muito tempo a humanidade utilizou o saber
espontâneo como orientador da prática educativa, entre eles pode-se falar
mesmo de concepções místicas, para a explicação e transmissão dos
requisitos necessários para a continuidade da espécie. Até hoje podemos ver

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famílias e escolas que muitas vezes utilizam-se do senso comum1 para a
educação das crianças.
Neste caso, não dá para afirmar que exista uma teoria pedagógica
sistematizada, ainda que seja possível retirar da análise deste tipo de modelo
de prática educativa, uma concepção teórica empirista, pautada na realidade
factual e que não abarca uma reflexão clarificada sobre os meios e os fins
propostos por essa forma de educação. É com a necessidade de
sistematização, da exigência do rigor conceitual, a definição dos fins e a
escolha dos meios para estes fins que surge a pedagogia, ou teoria geral da
educação.

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Senso comum é o modo de pensar da maioria das pessoas, são noções comumente
admitidas pelos indivíduos. Significa o conhecimento adquirido pelo homem partir de
experiências, vivências e observação do mundo. É um saber que não se baseia em métodos
ou conclusões científicas, e sim no modo comum e espontâneo de assimilar informações e
conhecimentos úteis no cotidiano. Ou seja, o senso comum descreve as crenças e proposições
que aparecem como normal, sem depender de uma investigação detalhada para alcançar
verdades mais profundas como as científicas.
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1. EDMUND HUSSERL E O SURGIMENTO DA FENOMENOLOGIA

A palavra fenômeno é muito antiga e tem muitos significados. Mas


compreenderemos fenômeno como aquilo que pode ser distinto, contrastante
ou até oposto à realidade, porque é algo diferente dela. É neste mesmo sentido
que Platão utiliza para diferir o mundo sensível do mundo inteligível na Alegoria
da Caverna2.
Aqui trabalharemos com a noção de fenômeno utilizada por Husserl e que foi
extraída de outro importante filósofo: Immanuel Kant, que cunhou o termo
fenômeno para resolver uma questão fundamental da filosofia moderna: a
relação sujeito objeto no processo do conhecimento.

Figura 3– Immanuel Kant

Fonte: ADEPRIN, 2017.

O Quadro, a seguir, mostra num esquema básico como podemos comparar a


vertente idealista com a realista e estabelecer qual a posição de Kant em
relação a elas.

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Lembra-se da unidade anterior? Vamos relembrar! Na “Alegoria da caverna” Platão conta uma
história na qual os indivíduos que estão na caverna não conseguem ver o que está lá fora. Eles
apenas veem as sombras que as coisas externas formam no interior da caverna. É esse o
significado utilizado por Kant e apropriado pela fenomenologia.
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Quadro 3– A relação sujeito/objeto de acordo as diferentes vertentes filosóficas
Vertente Relação sujeito/objeto no processo de
Filosófica conhecimento

Prioridade do objeto: a representação


Realismo que fazemos em nossa consciência está
(Positivismo) subordinada ao objeto em si mesmo como
ele é na realidade

Prioridade do sujeito: a verdade do


Idealismo
objeto é a ideia que fazemos dele em
(Hegel)
nossa consciência

Não prioriza sujeito, nem o objeto. O


conhecimento se daria através da relação
entre a "apreensão sensível" e a
Kant
"formalização" feita pela consciência.
Sujeito: consciência que apreende o
fenômeno

Fonte: Elaborado pela autora

Neste, podemos observar o panorama intelectual da filosofia do período


precedente ao surgimento da fenomenologia. Mas, com relação ao período
histórico vivido pela humanidade na segunda metade do século XIX e no início
do século XX, qual a sua influência sobre a filosofia?

O século XIX apareceu cheio de esperanças no homem, que


acreditava firmemente no futuro da ciência, certo do progresso
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de uma civilização enriquecida constantemente pelas
descobertas técnicas, cuja nocividade só parecia evidente a
alguns espíritos mais avisados. Sucede-lhe um século XX, em
que predominavam a dúvida, o sofrimento e a desilusão. Os
temas constantes dessa época são o desespero, a derrelição,
a angústia e a náusea, o desgosto e a vergonha (MARTINS,
1985 p. 23).

Vamos relembrar alguns fatos históricos? Em 1914 eclodiu a I Guerra Mundial,


durou cinco anos. Em seguida, a crise econômica de 1929 e a II Guerra
Mundial de 1939 a 1945. Isso significou uma mudança radical nas
perspectivas. As questões que perturbavam os filósofos agora era a crise.
Quando Husserl publica seu primeiro livro, duas correntes filosóficas
dominavam o debate sobre o processo de conhecimento, cada uma delas com
uma concepção diferente.
Por um lado, havia a resposta da corrente conhecida como idealismo, segundo
a qual os fenômenos e as coisas existentes no mundo são apenas as
representações mentais que fazemos delas.
Por outro lado, temos o realismo. Também neste caso existem muitas
concepções acerca do que se entende por realismo. Quando nos referirmos a
“realismo” estaremos sempre entendendo como contraposição ao vocábulo
“idealista”. Isto é, segundo o qual quem tem a primazia no processo de
conhecimento seria o objeto. Isto é, a representação que fazemos das coisas
em nossa consciência tem como base os objetos em si mesmos.
Em seu “Dicionário de Filosofia3”, José Ferrater Mora nos mostra que
modernamente o termo “idealismo” possui muitas concepções distintas. No
entanto, geralmente o termo “idealismo” é usado para se referir ao que na
filosofia é conhecido como “idealismo alemão”, que tem Kant como um de seus
principais representantes.
Segundo Mora (2001, p. 21), “O traço mais fundamental do idealismo consiste
em adotar como ponto de partida para a reflexão filosófica não ‘o mundo ao
redor’ ou as chamadas ‘coisas exteriores’ (o ‘mundo exterior’ ou ‘mundo
externo’), mas o que chamaremos doravante de ‘eu, ‘sujeito’ ou ‘consciência’

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Um dicionário d filosofia é um ótimo instrumento para tomarmos conhecimento dos conceitos
fundamentais de cada teoria. Ele não apresenta apenas uma definição, ele também traz o
desenvolvimento do conceito ao longo do tempo e entre as correntes filosóficas.
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[...]. Com efeito, o ponto de partida adotado é, para empregar o vocabulário de
Schopenhauer4 “a representação do mundo”, não “o mundo”. Assim, o
idealismo começa com o “sujeito”.
O que nos interessa aqui é saber que a vertente idealista considera que a
consciência do sujeito é quem em última instância determina a existência real
do objeto, pois, é dela que Husserl parte para formular sua teoria – e como
veremos, é também ao idealismo que a fenomenologia retornou.
Ao invés de colocar a primazia do processo de conhecimento no sujeito ou no
objeto. Kant acreditava que o processo de conhecimento se dava numa
correlação entre a apreensão sensível das coisas mesmas e a formalização à
qual as coisas são submetidas pela nossa consciência.
Veja que se esta apreensão é entendida como assimilação das coisas pelo
sujeito, então, em última instância, anula-se o objeto. Foi essa insuficiência que
Husserl detectou na filosofia de Kant e para a qual forneceu uma alternativa.
É essa a razão do surgimento da fenomenologia. Ela surge como uma tentativa
de propor à filosofia uma resposta para a questão de como conhecer as coisas
que constituem a realidade humana, mais precisamente, foi uma tentativa de
formular uma teoria sobre o processo de conhecimento.
Merleau-Ponty (2011) define fenomenologia no prefácio de seu livro
“Fenomenologia da Percepção”:

O que é fenomenologia? Pode parecer estranho que ainda se


precise colocar essa questão meio século depois dos primeiros
trabalhos de Husserl. Todavia, ela está longe de estar
resolvida. A fenomenologia é o estudo das essências, e todos
os problemas, segundo ela, resumem-se em definir essências
[...] Mas a fenomenologia é também uma filosofia que repõe as
essências na existência, e não pensa que se possa
compreender o homem e o mundo de outra maneira senão a
partir de sua “faticidade” (MERLEAU-PONTY, 2011 p. 112).

Agora conheceremos quais são as principais contribuições que a


fenomenologia oferece à filosofia por meio de seu precursor e principal
representante: Edmund Husserl.

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Schopenhauer (1778 – 1860) foi um filósofo alemão do século XIX, influenciou filósofos como
Friedrich Nietzsche. As obras mais conhecidas são O mundo como vontade e representação
(1819) e Parerga e Paralipomena (1851).
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Figura 4– Edmund Husserl

Fonte: WAROSU, 2017.

Husserl rejeita a visão positivista de tratar as ciências do espírito como são


tratadas as ciências naturais e empíricas, ainda que também seja obrigada a
apresentar um fundamento cientificamente rigoroso.
Edmund Husserl (1859-1938) forneceu uma concepção que buscava acabar
com o impasse entre essas duas correntes de pensamento e assim se tornou
fundador da fenomenologia.
A frase mais conhecida de Husserl é a que ele afirma que “é necessário voltar
às coisas mesmas”. Mas na verdade, os teóricos da fenomenologia achavam
que não seria possível conhecer as coisas tal como elas são na realidade, o
que poderíamos conhecer eram apenas os fenômenos, que seriam a
representação mental, que fazemos subjetivamente em nossa própria
consciência.
Para este pensador, a consciência subjetiva não é nada fora da relação com o
objeto do conhecimento. A consciência tem sempre que ser consciência de
alguma coisa.
Desse modo, eles tentavam mostrar que tanto a resposta dada pelo idealismo,
quanto à dada pelo realismo à questão de conhecer as coisas estavam ambas
incorretas.

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2. O EXISTENCIALISMO DE JEAN-PAUL SARTRE

O existencialismo estuda a relação entre a existência humana e a filosofia. O


termo “existencialismo” surge por volta de 1930-1950 para designar um
movimento intelectual que reuniu artistas, escritores e filósofos. Seus principais
representantes são Kierkegaard, Hurssel, Jaspers, Marcel, Heidegger, Sartre,
Merleau-Ponty e Camus.
O contexto histórico marcado pelas guerras mundiais exigia desses
Pensadores novas abordagens capazes de explicar a crise pela qual a
humanidade passava por aquele momento.
Confira algumas informações básicas sobre esses autores:

Quadro 4– Informações Sobre alguns dos principais filósofos citados

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Fonte: criado pela autora.

Diante da desolação causada pelos acontecimentos das guerras e das crises,


os modelos científicos e as concepções de mundo, assim como, os valores
éticos e morais, antes tomados como as grandes referências do conhecimento,
haviam se tornados questionáveis.

Figura 5– Jean-Paul Sartre

Fonte: PSIQUÊ, 2017.

Para o existencialismo, “todas as coisas que compõem o mundo obedecem a


uma determinação prévia, exceto o ser humano”. “É neste sentido que ele
afirma que “Não há nada que defina o homem antes dele existir”, isto é, a
existência é que permite conhecer a realidade humana”. Esta existência é
entendida como existência histórica, isto é, uma existência construída pelos
homens ao longo do tempo.
Vamos pensar um pouco mais sobre existência e história, indo um pouco mais
fundo no que Sartre está chamando de mundo. O mundo é o lugar onde me
situo enquanto homem, e me relaciono com o que está fora de mim, ao mesmo
tempo que me constitui como campo de minha ação. Isso quer dizer que os
seres humanos são os únicos seres no planeta capazes de se projetar
antecipadamente no que fazer dessa situação a partir de determinados
momentos históricos.

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Quando nascemos, encontramos um lugar, pode ser um país, que está situado
em um continente, onde se fala determinada língua, se tem determinados
costumes etc. Também está sobre certa jurisdição e corresponde a todos os
outros elementos tecnológicos, produtivos, sociais e culturais que dimensionam
esta situação em que me insiro e agora posso também modificar.
A defesa de Sartre sobre a liberdade remete contra antigos dogmas,
superstições e tradições, que buscam, cada uma à sua maneira, definir e
defender uma essência humana que esteja descolada da história, mas no
entanto, coerente com os princípios que esta doutrina defende. Assim, as
famosas assertivas de Sartre, como “o homem é o que ele faz de si mesmo”.
Soaram às vozes conservadoras da metade do século XX como heresias que
deveriam ser combatidas.
Segundo Sartre (1978), o dado primordial é a própria existência, o que faz com
que a realidade humana não possa ser deduzida de qualquer necessidade que
se estabeleça antes da própria existência.
O único destino fatal aos quais os homens estão submetidos é a liberdade para
construir sua existência. Nisto consiste o existencialismo, esta radical
contribuição de Sartre para a filosofia e para a teoria do conhecimento.
Em uma famosa conferência conhecida como “O Existencialismo é um
Humanismo”, Sartre sintetiza alguns dos princípios fundamentais da filosofia
existencialista esclarecendo seus posicionamentos contra seus críticos, que,
entre eles, estavam os comunistas, os católicos, entre outros.
Figurava também em torno do tema existencialismo uma grande moda, que
atingia artistas de toda parte, o que para Sartre implicava em uma confusão
que nada significava aos olhos da filosofia existencialista propriamente
elaborada.
Nas palavras do próprio:

O que significa, aqui, dizer que a existência precede a


essência? Significa que, em primeira instância, o homem
existe, encontra a si mesmo, surge no mundo e só
posteriormente se define. O homem, tal como o existencialista
o concebe, só não é passível de uma definição porque, de
início, não é nada: só posteriormente será alguma coisa e será
aquilo que ele fizer de si mesmo. Assim, não existe natureza

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humana, já que não existe um Deus para concebê-la. O
homem é tão-somente, não apenas como ele se concebe, mas
também como ele se quer; como ele se concebe após a
existência, como ele se quer após esse impulso para a
existência. O homem nada mais é do que aquilo que ele faz de
si mesmo: é esse o primeiro princípio do existencialismo.
(SARTRE, 1987, pg. 56).

Se Sartre partiu dos estudos da fenomenologia de Husserl: resguardando da


mesma aquilo que considerava ser a ideia fundamental desta escola filosófica:
a intencionalidade, isto é, a ação da subjetividade no processo de apreensão
do objeto pelo sujeito.
A intencionalidade figurou assim como um dos conceitos em que Sartre alçou
seu projeto filosófico transcrito em obras literárias, filosófica, teatrais e em
periódicos e panfletos políticos. Desse modo, em um intercâmbio que o filósofo
húngaro István Meszáros chamou de dialética entre autor e obra, Sartre pôde
dar continuidade à fenomenologia, ao mesmo tempo em que dava a ela uma
faceta política muito mais radical.
Unindo a intencionalidade com outra categoria fundamental da sua filosofia, a
liberdade, Sartre acreditava que quanto mais o homem se colocar em
inclinação contrária às ordens autoritárias, dogmas, tradições, que apenas
justificassem uma domesticação, ou uma coisificação das possibilidades do
homem, era possível escapar destas determinações e assim defender com a
própria vida, com a própria jornada humana através das suas escolhas os
valores das novas relações desejáveis para uma humanidade mais justa.
Nesse sentido, o existencialismo de Sartre é um humanismo, porque defendia
que certa essência humana consiste justamente em sempre guiar-se pela
liberdade tendo o homem como próprio fim, e quanto mais o próprio indivíduo
tivesse essa consciência, mais universal a sua vontade se concretizava.

Fique Por Dentro

No vídeo “Fenomenologia e Existencialismo”, o filósofo Franklin Leopoldo e


Silva trata o percurso de construção teórica que vai da fenomenologia, de

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Edmund Husserl, até o existencialismo, de Jean-Paul Sartre. Este vídeo pode
ajudar a compreender melhor as diferenças e originalidades de cada uma
dessas escolas de pensamento.
Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=Z2XPHjSYBfw> Acesso em: 24
out. 2017.

Outro vídeo interessante é o “Curso de Introdução à Fenomenologia” do


professor Nichan Dichtchekenian. De uma maneira bastante didática, ele
consegue apresentar os principais conceitos elaborados por Edmund Husserl.
Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=u_A0-xxbogE> Acesso em: 24
out. 2017.

Reflita

De que maneira as concepções que vimos até agora se relacionam com as


perspectivas com as quais trabalharemos como profissionais da educação?
Como o método pelo qual se dá o processo de conhecimento nas teorias
estudadas influencia na prática pedagógica?
As práticas educacionais assumem suas formas de acordo como se concebe o
processo do conhecimento. Segundo Bicudo (1983, p. 45), o que distingue as
diferentes formas de educação é se esta se centra na “[...] pessoa que está
sendo educada”, ou se “[...] na área de conhecimento estudada”.
No caso de uma educação que se centra na pessoa que está sendo educada,
teríamos como fundamento filosófico as concepções idealistas de educação,
que centram o processo de conhecimento no sujeito.
O aluno, nessa abordagem, é concebido como um ser que se encontra nesse
processo educacional como um ser que está constantemente atualizando suas
possibilidades.
Desta maneira, o aluno deveria ter contato com a maior variedade possível de
atividades e competências que permitam a ele desenvolver suas habilidades
nas mais diferentes áreas do conhecimento.
Este é um modelo de educação completamente distinto e muitas vezes
inteiramente oposto ao modelo tradicional praticado nas escolas, que em sua
maioria procuram privilegiar uma educação condicionada ao desenvolvimento
de habilidades específicas voltadas ao desenvolvimento de atividades de
cunho profissionalmente.

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Indicação De Leitura

Introdução à fenomenologia
Autor: João Ribeiro Júnior
Idioma: Português
Editora: Edicamp
Assuntos: Filosofia
Ano: 2003
Resumo: Este livro apresenta o essencial da doutrina
filosófica da fenomenologia de modo claro, com estilo vigoroso e com
abundância de exemplos. O livro examina fenômenos tais como percepção,
figuras, imaginação, memória e linguagem e mostra
como o pensamento humano nasce da experiência.
Fonte: SARAIVA, 2017.

Existencialismo
Autor: Jaques Collete
Tradutor: Paulo Neves
Idioma: Português
Editora: L&PM Pocket
Assunto: Filosofia
Edição: 1ª
Ano: 2009
Resumo: "A história do pensamento é pontuada por uma série de despertares
existencialistas, o primeiro sendo o apelo de Sócrates: Conhece-te a ti mesmo."
Um dos principais movimentos filosóficos do século XX, o existencialismo teve
maior impacto na literatura e nas artes do que qualquer outra escola de
pensamento. Mais do que uma crônica filosófica dos anos 1930-1950, este livro
mostra as principais linhas do ideário existencialista em torno das noções de
realidade, liberdades individuais e subjetividade, perpassando o pensamento
daqueles que mais influenciaram o movimento: Kierkegaard, Husserl, Jaspers,
Marcel, Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty e Camus. O existencialismo não
pode ser visto apenas como uma corrente filosófica, já que passou para a
história como um movimento intelectual intimamente marcado pelas

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consequências de duas guerras mundiais, legando à humanidade novos modos
de escrita, de comunicação e de inserção na sociedade.
Fonte: L&PM EDITORES, 2017.

Indicações de Filme

Porco Espinho

Lançamento: 2009
Diretor: Mona Achache
Elenco: Josiane Balasko, Garance Le Guillermic, Togo Igawa, Anne Brochet
Gênero: Drama
Nacionalidade: França/Itália
Sinopse: conta a história de Paloma uma menina séria e inteligente de 11 anos,
que decidida a se matar em seu décimo-segundo aniversário. Fascinada por
arte e filosofia, a menina passa o dia filmando seu cotidiano, a fim de fazer um
documentário. À medida que a data de seu aniversário se aproxima, ela
conhece pessoas que a fazem questionar sua visão pessimista do mundo.
Fonte: PSICOLOGIA E CINEMA, 2017.

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Indicações de Filme

De Repente, Califórnia
Lançamento: 2007
Diretor: Jonah Markowitz
Elenco: Trevor Wright, Brad Rowe, Ross Thomas
Gêneros Drama/Romance
Nacionalidade: EUA
Sinopse: Zach (Trevor Wright) é um rapaz que, desde que foi forçado a largar
seu sonho de estudar artes, coloca as necessidades dos outros acima das
suas e por isso passa seus dias trabalhando em um emprego sem futuro e
ajudando sua irmã mais velha, Jeanne (Tina Holmes) e seu sobrinho Cody
(Jackson Wurth). Em seu limitado tempo livre, ele surfa, desenha e aprecia a
companhia do seu amigo Gabe (Ross Thomas). Quando o irmão de Gabe,
Shaun (Brad Rowe) retorna à cidade, é atraído pelo altruísmo e talento de Zach
e, assim, os dois iniciam um relacionamento íntimo e verdadeiro. Shaun
incentiva Zach a dar rumo à sua vida e a investir nas suas artes. Zach, porém,
entra em conflito com sua própria identidade, tendo que conciliar seus próprios
desejos e necessidades com os de sua família e amigos, enquanto tenta
compreender os sentimentos que tem por Shaun.
Fonte: ADORO CINEMA, 2017.

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3. SURGIMENTO DA PEDAGOGIA E DA REFLEXÃO SOBRE A
EDUCAÇÃO.

Inicialmente, a pedagogia era relacionada com a filosofia e tinha por objetivo


transformar o homem em um ser perfeito, desenvolvendo por meio da
educação, tudo o que o ele era capaz de fazer, ou seja, o desvelamento da
essência humana mais perfeita. Hoje em dia, um dos possíveis nomes ao qual
essa tendência pedagógica é reconhecida, é como: “pedagogia essencialista”.
A pedagogia essencialista pode ser encontrada não somente na Grécia Antiga,
mas também, em outros períodos históricos posteriores, como Idade Média,
Modernidade, nos anos iluministas, da qual aparecem em suas concepções e
visão de homem e mundo das formulações e propostas. As concepções
essencialistas coexistem até hoje com teorias posteriores em que proporão sua
superação por meio de críticas sobre o projeto geral destas pedagogias.
Segundo a filósofa da Educação Maria Lúcia de Arruda Aranha (2002): “Os
limites dessa abordagem se encontram na visão parcial dos procedimentos
educacionais, excessivamente centrados no indivíduo e nos modelos ideais
que determinam, a priori, o que é o homem ‘universal’ e como deve ser a
educação”. (ARANHA, 2002, p. 148).
Em resumo, entre as críticas que foram surgindo ao longo da história
contrapondo esta teoria está a análise de que ela tende ao “individualismo”,
centrando a sua concepção no indivíduo, desconsiderando o ambiente social
do qual ele está inserido. Outra analise negativa está em considerá-la
“intelectualista”, na medida em que define um tipo de intelecto ideal ao qual
todo o patamar educativo deve almejar.
Entre os séculos XVIII e XIX houve uma acentuada mudança nas tendências
ligadas a preocupação filosófica com a educação. De um lado, temos
Rousseau e os seguidores de seu pensamento, aos quais se ocupavam muito
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mais com preceitos e posicionamentos bem intencionados sobre a educação,
mas de pouco sucesso prático. E do outro, Rousseau e a ideia de que é
necessário conhecer bem aquele que se quer educar. Tal ideia foi sustentada
no ideal de que um adulto feliz é fruto de uma educação harmoniosa e livre de
coações dos impulsos humanos.
No entanto, no século XIX, as ciências humanas se distanciaram da filosofia
com métodos e objetos próprios, entre estas ciências estava à psicologia, a
qual exerceu muita influência na educação com propostas de elucidar questões
como: o nível de dificuldade, ritmo de aquisição de conhecimentos, controle e
distúrbio de aprendizagem.
Entre estes psicólogos também há muitas diferenças teóricas. Desde Binet que
criou o famoso teste de Q.I.; passando por psicólogos que privilegiam as
experiências comportamentais (Watson, Skinner, Thorndike); As relações
interpessoais (Freud, Piaget); as relações sociais e o trabalho (Vigotsky);
outros com base na filosofia fenomenológica, como Kofkka e Kohler; e
Também, a tendência pragmatista norte-americana com William James e
Dewey.

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4. ESCOLA TRADICIONAL E ALGUMAS CARACTERÍSTICAS

Quando falamos em escola tradicional, podemos afirmar, de modo geral, que


durante, pelo menos, quatro séculos (XVI ao XX) a educação apresentou as
seguintes características:

Relação professor-aluno: É centrada no professor e na transmissão dos


conhecimentos. É o professor quem detém o saber, a autoridade, além de
dirigir e ser exemplo a ser seguido pelos alunos no processo de aprendizagem.
A consequência mais grave desse tipo de relação é ter como resultado um
aluno passivo, reduzido a receptor simplório da tradição cultural. Por essas
características esta relação é chamada de “magistrocêntrica”.

Conteúdo: O conhecimento a ser aprendido pelos alunos é centrado no


esforço necessário e despendido por ele. É dessa ênfase no esforço que
derivam o caráter abstrato, verbalista e exagerado cunho do saber acumulado,
valorizando demasiado o passado e as obras clássicas tradicionais, eleitas pelo
professor. Novamente uma das consequências desta relação é o afastamento
dos problemas atuais do cotidiano dos alunos, enfim com a própria vida
presente.

Metodologia: É valorizada a aula expositiva, centrada no professor, os


exercícios são de fixação, leituras repetidas e cópias. Os horários, e os
currículos são rígidos, as individualidades dos alunos são ignoradas, sendo
vistos como um bloco único e homogêneo. As provas são o principal
instrumento de avaliação, favorecendo um clima de competição devido às
punições e os prêmios que esse tipo de sistema acaba aplicando.

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Deste modo, podemos afirmar que esta forma de educar nos remete a
característica empirista de educar (pedagogia essencialista), porque dá ênfase
à assimilação, por parte do aluno de um conhecimento completamente externo,
que só pode ser adquirido por transmissão, sem a exigência de maiores
elaborações por parte dos indivíduos-alunos.
Essas foram as características gerais da escola tradicional, em seguida
falaremos um pouco mais sobre algumas das muitas faces que esta escola
tomou ao longo dos quatro séculos citados. Para podermos aprofundar assim,
algumas teorias filosóficas que marcaram a educação ao longo do século XX e
início do XXI.
Essas mudanças ocorrem pelo fato da escola ter sido interpelada às exigências
históricas diversas. Em um primeiro momento (século XVI e XVII), as escolas e
os colégios tem uma organização marcada pelas ordens religiosas,
interessadas no processo de evangelização das crianças. Podemos destacar a
ação dos jesuítas, principais educadores das colônias recém-descobertas pelos
europeus.
Os jesuítas eram professores rigorosos, cuidadosos e tradicionais em sua
prática pedagógica. A predileção por parte destes professores era pela tradição
clássica, assim ensinavam o latim ao invés das línguas chamadas vernáculas5,
e se omitiam quanto às críticas nascentes da modernidade à filosofia medieval,
especialmente São Tomás de Aquino e a lógica aristotélica, a qual a Igreja
Católica havia se apropriado.
Alheios aos embates filosóficos que nasciam neste período, rejeitam as
descobertas científicas como as de Galileu Galilei. Ignoram também a filosofia
cartesiana, e em conjunto, matérias como: história, geografia e matemática,
dando ênfase a retórica e aos exercícios de erudição.
Quando falamos sobre as linhas gerais da escola tradicional, podemos
destacar os jesuítas como os principais executores desta escola em seu viés
mais rígido: o universo é exclusivamente pedagógico, separados do mundo e

5
Vernáculo, nome dado à língua nativa de um país ou de uma localidade. Vernáculo é utilizado
sempre para designar o idioma puro, utilizado tanto no falar, como no escrever; sem acréscimo
de palavras de idiomas estrangeiros.
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da vida. São estimuladas a clausura, a renúncia, o sacrifício, e a vigilância, pois
é o principal meio para se controlar a disciplina.
Aos poucos, modos paralelos começaram a surgir na forma de entender e
praticar a educação, com uma tendência mais realista que buscava trazer
modelos mais ligados à vida real, é o chamado “realismo pedagógico”. No meio
religioso foi Martin Lutero (1483-1546), precursor da reforma protestante um
dos primeiros a defender uma escola primária para todos, repudiar os castigos
físicos, o verbalismo exacerbado típico da escolástica, e como contraponto
propôs o uso de jogos, exercícios físicos, música, literatura, história e
matemática.
Em seguida, no século XVII, outro grupo se destacou, eram os “Oratorianos”6
que a partir de um espírito mais moderno de educação, voltaram para as novas
ciências e para o pensamento de Descartes: ensinavam francês, estudavam
história e geografia com o recurso dos mapas, além de encorajarem a
curiosidade científica e utilizar um sistema disciplinar muito mais brando.
Mas essa tendência “realista” teve mesmo seus principais adeptos nos
defensores secular do pensamento, voltado para a superação da influência
religiosa na forma de entender o mundo. Pensamentos renascentistas como
Erasmo, Rabelais e Montaigne se destacam. No século XVII, outros teóricos se
preocuparam com as questões metodológicas, muitas vezes refletidas nas
ideais iniciais da pedagogia. Derivados da busca metodológica pela verdade,
deduziam que se existe métodos para que o conhecimento esteja correto,
deveria existir também um para ensinar de modo seguro e rápido.

3.1 Comênio e Locke


José Amós Comênio (1592-1670), autor de “Didática Magna”, postulava que a
aprendizagem tinha um ponto de partida muito claro: sempre o que é
conhecido. Com isso, ele queria dizer que o conhecimento deveria partir das
próprias coisas, com isso dando valor as experiências e a educação dos
sentidos. É a ação como produto e como prognóstico da meta educativa.

6
Os “Oratorianos” ou “Ordem de São Filipe Néri”, representam uma sociedade de vida
apostólica fundada em 1565, em Roma, por São Filipe Néri, para clérigos seculares, sem votos
de pobreza e obediência, dedicando-se à educação cristã da juventude e do povo e a obras de
caridade.
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John Locke (1632-1704) foi um filósofo inglês de grande influência na política
britânica e na filosofia ocidental. Elaborou o pensamento liberal, e foi na
epistemologia (teoria do conhecimento) um defensor do empirismo. Partiu de
uma crítica ao francês, René Descartes, em especial contra o argumento deste
último, sobre a natureza inata das ideias, isso é de que as ideias se
desenvolvem naturalmente nos homens. Para Locke, era fundamental a parte
do mestre/professor para proporcionar atividades fecundas que auxiliem a
criança a desenvolver a razão.
Criticava também a preocupação excessiva com o latim. Defensor que era da
atividade mercantil que estava no auge em conformidade com os interesses
ingleses, Locke considerava mais importante o estudo de contabilidade e
escrituras. Enfim, eram os interesses da vida prática que devia prevalecer na
educação. Filiado ao “realismo”, a pedagogia de Locke propõe o estudo de
história, geografia, geometria e das ciências naturais. Entretanto, apesar de
representarem um avanço real quanto à dominação da Igreja Católica na
pedagogia, o século XVII viu ainda, um forte predomínio do ensino
tradicionalmente acadêmico e intelectualista.

3.2 Iluminismo e educação


O século XVIII ficou conhecido na história como o século das luzes. De modo
simples, podemos dizer que a palavra “luzes”, ou ilustração, neste contexto,
dizia respeito à razão humana, bem como a sua capacidade de interpretar e
reorganizar o mundo. Foi o apogeu de um processo de secularização do
conhecimento, a face mais otimista que se afastava do domínio da
religiosidade.
Diversos pensadores e políticos influenciaram na construção de Estados que
tornassem a educação laica7. Um deles foi Kant, influente filósofo iluminista,
que defendia o preceito de que o homem atingia a moral se fosse livre e
autônomo. A liberdade e a autonomia eram frutos da vitória da disciplina sobre
as inclinações individuais.

7
A educação laica, baseada no laicismo, é um tipo de educação elementar que se caracteriza
por ser um ensino desvinculado da educação religiosa.
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O processo educativo, por desenvolver a razão nas crianças levaria
necessariamente à formação de um caráter moral desejado. Para Kant, era
necessária a “obediência voluntária”, quando pessoalmente o individuo
reconhece que as exigências são mais razoáveis (exercem mais a razão) do
que os pequenos prazeres momentâneos.

4. A ESCOLA TRADICIONAL NO SÉCULO XIX E A INFLUÊNCIA DA


FILOSOFIA E DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Com o avanço da industrialização em conjunto com o desenvolvimento das


ciências, a escola teve que enfrentar, ao menos, dois fatores: em primeiro lugar
se evidenciou o caráter dual da escola, que consiste no fato de existir
diferenças substanciais entre a escola para a elite social e da escola para a
população proletária.
O outro fator foi ter surgido à necessidade de não privilegiar as ciências
humanas no ensino da juventude, e fomentar o estudo das ciências. Neste
sentido, se destaca a atuação de Augusto Comte, conhecido como fundador do
positivismo (tema de nossa unidade I). Só para relembrar, Comte tinha uma
concepção de desenvolvimento humano bem peculiar: acreditava que os
homens passam ao longo de toda sua vida, pelas etapas as quais a
humanidade, enquanto conjunto social havia passado. Assim, a criança e o seu
pensamento coisificado deveria ser superado pela metafísica na adolescência.
O estado científico de consciência, o estado positivo, seria fruto da maturidade
intelectual.
O positivismo foi, muitas vezes, o principal influente pelo “cientificismo” que
marcou a construção dos currículos escolares. Por exemplo, do Brasil é
possível dizer que houve forte preocupação, com a transmissão de um
conteúdo enciclopédico, com o intuito de transmitir boa parte das ciências
naturais.

4.1 A Escola que se universalizou

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Verifica-se na expansão mundial da escola pública, pertencente à última
metade do século XIX, uma progressiva desvalorização dos conteúdos
tradicionais, permeados pela substituição da leitura de clássicos pela utilização
do manual didático como principal fonte de ensino. Essa desvalorização
acompanha o movimento geral que Lukács denominou como decadência
ideológica da burguesia. Que é quando esta classe abandona de vez a sua
situação objetiva como classe revolucionária e progressista, passando a se
tornar uma força conservadora e reacionária dentro do conjunto social. No
Brasil, movimentos pedagógicos que visavam à difusão da leitura de clássicos,
também foram substituídos pela expansão baseada no manual didático,
condutor pedagógico da simplificação do conteúdo.
A especialização tipicamente burguesa da divisão de trabalho fabril acompanha
o movimento expansionista da escola no século XIX, reproduzindo no interior
desta, a mesma divisão, tornando o professor um trabalhador assalariado,
ligado à reprodução de uma condição que excluía a condição de erudição ou
de detentor do conhecimento através de uma longa experiência com a
disciplina, através de uma “facilitação” proposta pelo aviltamento dos
conteúdos, e a especialização de trabalho que já atingia o trabalhador da
manufatura, barateando o serviço pedagógico.
A expansão escolar foi uma pauta dos trabalhadores para que seus filhos não
fossem completamente excluídos das necessidades básicas de conhecimento
para a socialização, revelou-se uma face inesperada, quando, em conjunto
com o expansionismo decorreu esses fatores amputadores da qualidade da
transmissão do conhecimento, como a exclusão dos clássicos do conteúdo,
barateamento de serviço, entre outros fatores que impossibilitaram o
conhecimento da totalidade para a classe trabalhadora, dificultando o
entendimento da condição histórica de sua força de trabalho.
Foi desenvolvido um “simulacro de escola”, quando a educação torna-se direito
universal, acabou por tornar-se pouco frutífera, devido a sua adaptação às
condições de trabalho, impossibilitando tempo e condições para uma relação
pedagógica de fato, o que colaborou para a dominação religiosa nos espaços
educativos, transformando a escola em lugar de catequização. A contradição

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fica a cargo da pequena burguesia que reforça os conteúdos ensinados para os
filhos por meio de centros de excelência privados.
A transformação do capital globalizante da fase da livre concorrência para a
fase monopolista (essência do imperialismo) transformou completamente a
função social da escola, criando uma relação intrínseca entre Estado e escola
na manutenção das tensões sociais. Fenômeno característico, a ampliação de
órgãos públicos e estatais que se sustentam numa espécie de parasitismo
social e ocioso, atividades que não estão ligadas a produção direta dos meios
de subsistência, e sequer servem para exercer as finalidades à que
supostamente foram criadas, mas, sobretudo como burocratização necessária
para a dominação burguesa do Estado.
A violência do capital nas transformações sociais aumentou não somente o
exército de reserva como o número de ociosos e miseráveis. A escola foi
pensada em uma forma de adestramento desses sujeitos, complementando a
sua situação de depreciação geral, é nesse momento que surge o grosso do
funcionalismo público e das profissões liberais que visavam à harmonização
das relações entre capital e trabalho, anulando-se na própria prática as
“proclamadas intenções” liberais dos órgãos burocráticos.
As complexas interações entre burguesia e estado que se entrelaçaram com
maior predominância na consolidação da fase imperialista do capitalismo, teve
na escola uma oportunidade de reaproveitar os trabalhadores expulsos pelo
desenvolvimento tecnológico das indústrias, e em conjunto com este, o
surgimento de toda uma indústria escolar (livros didáticos, materiais impressos,
editoras etc.), já que o Estado torna-se comprador monopolista dos livros
didáticos.
Althusser, teórico francês marxista, definiu a escola como aparelho ideológico
reprodutor da burguesia de caráter número um, apesar da forte tendência a se
interpretar o fenômeno escolar, por essa ótica, apresenta-se no texto duas
críticas a essa concepção.
Outra crítica possível à classificação que Althusser denominou de “audiência”
devido ao fato de que poucos órgãos de poder estatal teriam tanto tempo de
“doutrina” com a criança como a escola. Hoje em dia, acredita-se que a
predominância de este tempo doutrinário, cabe, sobretudo, a outros
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fenômenos, como a mídia, fazendo com que a potência da escola como
principal aparelho reprodutor ideológico da dominação burguesa, mostra-se
precária para uma análise crítica concreta da situação da escola pública na
história e na contemporaneidade.
Ao longo do século XX até hoje, o Estado continua a deturpar a função
especificamente pedagógica da escola, e isso pode ser percebido em fatos
como, o grande contingente de alunos da escola pública que a frequentam
devido à merenda escolar, programas de auxílio estatal para manter o aluno na
escola (bolsa-escola), sem compreender a que esta tem servido de fato, e
ainda outras facetas de dominação social, como o grande aumento do número
de mulheres no mercado de trabalho, obrigando estas a colocar maior
quantidade de crianças na escola, bem como a utilização da escola, pela
família (sobretudo das camadas mais baixas) como único local possível de
socialização.

4.2 Concepção liberal de homem e de educação


De início é importante compreendermos que a palavra liberal assim como
outras já abordadas aqui, passou por intensas modificações de diferentes
necessidades históricas. Assim, quando falamos em “escola liberal”, podemos
pensar num primeiro momento em uma escola progressista, avançada em
termos modernos. Mas aqui abordaremos a proposta surgida do “liberalismo”.
A teoria que influenciou a política e a economia do poder consolidado pela
burguesia.
Pode-se localizar o surgimento da burguesia na Idade Média, em segmentos
sociais como os artesãos e os comerciantes, que também povoaram as
primeiras cidades, desestruturando o modelo feudal antigo, essencialmente
agrário.
O que caracteriza o capitalismo? Podemos elencar sem dificuldades alguns
elementos, tais como: a abolição da servidão e o advento da mão de obra
assalariada, que é quando o trabalhador camponês saiu do campo e passou a
povoar e ampliar a população das cidades.
A economia, para o capitalismo, deve ser de mercado, naturalmente
equilibrada pela lei da oferta e da procura, esse equilíbrio, segundo os filósofos
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liberais, torna reduzida a necessidade de o Estado intervir. Para alguns
pensadores, a teoria do Estado mínimo é o produto do esforço da burguesia de
evitar e se livrar do controle exercido pelos reis no sistema feudal.

4.3 Características da economia de mercado e da concepção de homem e


mundo liberais
São características típicas do liberalismo e da economia de mercado:

● Defesa da propriedade privada dos meios de produção;


● Garantia de funcionamento da economia a partir do lucro e da livre
iniciativa;
● Estimulação do comércio e da indústria justificando o interesse pelo
desenvolvimento acelerado tecnológico e científico, o exemplo maior
dessa relação é a própria Revolução Industrial;
● Não intervenção do Estado, estendendo essa exigência à Igreja,
dominante na Idade Média. E a laicidade do Estado;
● Todas as referidas mudanças históricas e econômicas se integram com a
hegemonia da burguesia enquanto classe, após as Revoluções Gloriosa e
Francesa, quando tomam o poder político.

Surgem, portanto, novas formas de entender o mundo e o homem. Esses


princípios ficam claros em John Locke (1632-1704). Locke desenvolveu uma
teoria sobre o “contratualismo”8 para explicar a origem do poder de forma não
religiosa. Se antes os reis explicavam seu poder pela divina providência, agora
seria um contrato social, que legitimado pelo próprio homem – com seu
consentimento – dava o aval para a instauração do poder. Portanto o indivíduo
livre e cidadão que concordaria com este contrato. Para Locke (1978), existem
direitos naturais do indivíduo, que seriam: a vida, a liberdade e a propriedade.
Mas se em Locke existe a forma acabada de uma teoria que fundamente o
liberalismo político, a sua forma ideológica perdurará ao longo do
8
Contratualismo é uma classe abrangente de teorias que tentam explicar os caminhos que
levam as pessoas a formar governos e manter a ordem social. O contratualismo seria, desta
forma, um acordo entre os membros da sociedade, pelo qual reconhecem a autoridade,
igualmente sobre todos, de um conjunto de regras, de um regime político ou de um governante.
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desenvolvimento da revolução industrial, e a sua ênfase nas naturezas distintas
influenciará as disputas entre os antagonismos representativos das classes que
compõem a sociedade burguesa moderna.
Destacaremos, aqui, a ideia do indivíduo isolado para indicar a representação
dependente do liberalismo que permaneceu – mesmo com as diferenças entre
diversos pensadores – nas concepções hegemônicas de educação. Assim, o
indivíduo abstrato, quer dizer, apartado – na consciência – das suas relações
reais, nas quais está inserido, compõem um dado jogo de forças para
sobreviver, é entendido como uma essência metafísica que, tomada como a
verdadeira natureza humana, deve ser o método adequado para entender os
processos educativos e elucidar a questão da formação das novas gerações.
Para entender um pouquinho mais, de um dos possíveis limites encontrados –
como em todos os pensadores e sistemas os têm – nas teorias pedagógicas
que entram em consonância com perspectivas isoladoras do indivíduo e a
perpetuação do modelo desigual de escola burguesa, que universalizando a
estrutura e o acesso às instituições, destituiu-o na sua faceta qualitativa do
conteúdo educativo, vamos dar voz ao filósofo e pensador da educação
contemporâneo István Meszáros (2009):

Inevitavelmente, qualquer orientação metodológica que possua


em seu cerne estrutural o ponto de vista da individualidade
isolada segue a tendência de insuflar o indivíduo – o qual, em
virtude de ser o pilar de sustentação de todo o sistema, pode
apenas ser imputado – em um tipo de entidade
pseudouniversal. Eis porque as concepções dúbias de
“natureza humana” – que constitui um dos mais importantes
lugares comuns de toda a tradição filosófica [...] Não são os
únicos corolários apriorísticos de determinados interesses
ideológicos, mas ao mesmo tempo é também a realização de
um imperativo metodológico inerente com vistas a elevar a
mera particularidade ao patamar de universalidade.
(MÉSZÁROS, 2009, p. 49)

Assim, vemos que certa concepção de indivíduo e de educação permeou com


suas diferenças, desde a aurora da modernidade até às sistematizações mais
robustas, como as incorporadas pelo liberalismo e pelo positivismo. Agora,
vamos falar um pouco de uma teoria herdeira do pensamento crítico ocidental,
denominará a si própria como crítica e figura como uma das principais escolas
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influentes no embate entre o conhecimento defendido pelos fundamentos
iluministas do projeto moderno e a crítica que refuta e rejeita este projeto
iluminista, apontando os alicerces, nos quais a dominação política e cultural
permanece inalterada e irresolvida, a teoria crítica, mais especificamente de
Teodor Adorno.

4.4 A teoria crítica e as contribuições para a educação


O filosofo Theodor Adorno (1903 – 1969) em conjunto com outros
pesquisadores do Instituto Social de Frankfurt, como Max Horkheimer (1875 –
1973) e Herbert Marcuse (1898 – 1973), foi autor de conceitos importantes que
diagnosticavam as somatizações da cultura industrial perpetrada por um
capitalismo tardio que a partir da coisificação9, da brutalidade e da imensa
irracionalidade destrutiva e alienadora que se revelara nas duas guerras que
marcaram a primeira metade do século XX.
Deste, destaca-se, por exemplo, a indústria cultural10 que faz uma severa
crítica aos elementos da cultura inseridos e reproduzidos pela racionalidade
técnica do modo de produção capitalista e rebaixados como material de
consumo, perpetuando no nível da cultura a dominação econômica própria do
capitalismo.
Em textos educacionais, Adorno, por exemplo, coloca a importância de sempre
estarmos atentos a uma autocrítica pautada pela dúvida e pela incerteza,
especialmente no que concerne ao suposto saber de quem fala e age, quando
pensamos em falar e agir na prática pedagógica. Este cuidado torna-se uma

9
A “coisificação” do homem é um sinal do trágico destino da humanidade: a banalização da
vida, a perda de valores éticos e morais, invertendo a prioridade da “coisa” sobre a vida. O
crescente hedonismo coisifica o homem, pois este passa a ser um instrumento com uma
finalidade única e suprema do prazer.
10
O termo indústria cultural foi criado pelos filósofos alemães Theodor Adorno e Max
Horkheimer, a fim de designar a situação da arte na sociedade capitalista industrial. Da qual, a
ela seria tratada simplesmente como objeto de mercadoria, estando sujeita as leis de oferta e
procura do mercado. Ela encorajaria uma visão passiva e acrítica do mundo ao dar ao público
apenas o que ele quer. As pessoas procurariam apenas o conhecido, o já experimentado. Por
outro lado, essa indústria prejudicaria também a arte séria, neutralizando sua crítica a
sociedade.
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importante reflexão a respeito das representações que colocamos em prática
como as conformações da disciplina, autoridade, e da sujeição do aluno.
Além desta contribuição, podemos falar também do artigo “Tabus acerca do
magistério” de Adorno (2009), sobre a profissão de professor, em um período
em que a referida indústria cultural está presente com muita força na sala de
aula, agindo muitas vezes diretamente nas subjetividades dos educadores e
alunos.

Segundo Adorno (2009), aliada a esta influência está às concepções


pré-consciente que agem em uma definição negativa da atividade do professor:
ele é a figura autoritária, possessiva e disciplinadora, que detém a autoridade
sobre os alunos, tais representações configuram-se como impeditivos da
efetivação de uma relação calcada em valores humanos, pedagogicamente
formadores de humanidade. Ter consciência destes impeditivos não significa
que devemos nos posicionar de maneira pessimista na sala de aula, isto é, nos
colocar como meros contempladores desta ordem em um espaço em que isso
pode servir justamente para criar relações que revertem à homogeneização
imposta pela indústria cultural. Por isso, é importante para o professor ter
consciência desta dimensão da cultura em sala de aula.
Todas essas influências do meio social na formação psicológica de alunos e
professores trazem otimismo no conhecimento formal do iluminismo como
possibilidade muito distante de resolver problemas como a educação destes
próprios educadores, problema colocado desde Marx. Isto é, como educar
pessoas que formarão outras pessoas que não continuarão a perpetuação de
um mundo de privilégios? Onde os próprios educadores na época do
Iluminismo se colocavam como a vanguarda progressista contra os ranços da
dominação dogmática da cultura.
Adorno e Horkheimer também foram críticos do Iluminismo, em diversos
momentos, para eles, chamavam de “mundo administrado”, isto é, os fatores
econômicos, culturais e sociais que conduzem automatizando ou planejando, o
monopólio da consciência e da opinião dos indivíduos, e assim obstaculizar a
imaginação de um mundo diferente daquele em que se está inserido e
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presente. Para os dois, na obra “A Dialética do Esclarecimento” é defendida a
tese de que o projeto iluminista estava fadado a voltar-se contra si próprio em
forma de dominação.
Entretanto, mais uma vez, desnudar as lógicas da dominação através de um
árduo trabalho de crítica, exorta-nos educadores, a reavaliarmos
constantemente as nossas práticas para termos com ela devida atenção. Em
uma sociedade em que predomina a busca incessante pelo lucro, pelo usufruto
de mercadorias como principal veículo de fruição espiritual, artística, e etc.
tornando-os indivíduos inertes a uma ordem cultural que lhes monopoliza e
lhes é estranha. A ação do professor como transmissor de um conteúdo
científico deve permitir entender a realidade e a si próprio como inseridos em
esferas macro culturais que não estão desvinculadas das relações
estabelecidas em sala de aula.
Com isso, os conceitos da teoria crítica podem sempre ser utilizados em
debates frutíferos, uma vez que vivemos em uma era altamente monopolizada
e globalizada pelo modo de produção capitalista e seus mecanismos
reguladores, sejam mercantis ou estatais, colocando o professor como veículo
de produção de espaços de reflexão críticas acerca da sociedade e do nosso
papel nela.

Fique Por Dentro

Assista ao programa da TV Futura sobre a Sociedade do Consumo e a


contribuição de Herbert Marcuse debatendo a teoria social crítica, com
exemplos práticos do dia a dia e conversando sobre o tema com estudantes de
arte e filosofia.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=r2upxbgkxs8> Acesso em:
23 out. 2017.

Reflita
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Durante a ascensão do nazismo no final da década de 1920 e o poder absoluto
sobre a Alemanha e em parte significativa da Europa Ocidental na década de
1930, os pesquisadores alemães da Escola de Frankfurt tiveram que exilar-se
nos Estados Unidos, onde estabeleceram outro centro de pesquisas. De
tendências marxistas e de origem judaica, os pesquisadores jamais teriam
terreno fértil para atividades intelectuais e políticas na Alemanha de Hitler. O
sombrio período da ocupação nazista, um notável pensadores ligado também à
Escola de Frankfurt, mas nem sempre como contínuo de Adorno, Horkheimer e
Marcuse foi Walter Benjamin (1892-1940) que se suicidou na fronteira da
França com a Espanha quando foi abordado por tropas nazistas no meio de
uma fuga.
Instalados nos EUA, os pensadores alemães estavam em terreno fértil para
compreender a sociedade da indústria cultural, um lugar onde o capitalismo
avançado, durante e no pós-guerra, saiu fortalecido da derrocada nazista e os
seus modelos de padrões de vida floriam-se e se multiplicavam como o
“american way of life”, em tradução livre o jeito americano de viver, que
incorporava muitas vezes, um emprego médio para a satisfação de bens de
consumo básicos reproduzidos em círculo nuclear familiar.
Aos poucos os pesquisadores de Frankfurt puderam notar no próprio seio da
sociedade norte-americana que se apresentava como a vencedora do conflito
com a ameaça nazista e como ponta de lança de um novo tipo de sociedade
harmoniosa, que em conjunto com um capitalismo recuperado de uma crise
dos “Anos Gloriosos” pavimentaram o caminho de uma normatização da cultura
e da vida sob a base do trabalho explorado. Essa pavimentação era também
autoritária, fomentando muitas vezes uma cultura de dominação tão eficiente
em suas sutilezas e mecanismos prosaicos quanto a violenta subjugação
nazista dos valores à seus projetos de superioridade racial e da máquina de
guerra.
Com esta constatação, a de que o autoritarismo e
a violência simbólica rondam e constituem o
homem mesmo em regimes democráticos,
representando-os muitas vezes como selos
fechados de um destino rigorosamente
mecanizado pela indústria e pelos veios do
capitalismo como quer Marcuse (2012) em “O
Homem Unidimensional”. Os autores deram o
início à uma longa corrente teórica que
multiplica-se na investigação das formas pelas quais à indústria cultural
renova-se continuamente na reprodução descontrolada do capital em pleno
período da regência dos sistemas financeiros de crédito especulativo.
Esta discussão é totalmente integrada a Educação, na medida em que está
constitui-se como área de um Direito Universal que é perpassado pelas
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determinações macro econômicos e culturais e assim reflete e é passível de
também refratar a influência gigantesca dos meios de consumo materializados
em bens culturais que invadem hoje em dia a sala de aula, como demonstra a
irritação generalizada dos educadores com o uso abusivo de aparelhos
eletrônicos e celulares hoje massificados como bem de consumo, e em índices
cada vez maiores.

Indicações De Leitura

Compreender Adorno

Autor: Alex Thomson


Tradutor: Rogerio Bettoni
Idioma: Português
Editora: Vozes
Assunto: Filosofia
Edição: 1ª
Ano: 2010
Resumo: O livro de Alex Thomson não apenas busca iluminar as ideias de
Adorno, ele também oferece uma contribuição para a teoria social
contemporânea. O livro, portanto, visa ter um valor de esclarecimento para
graduandos e também oferecer um estímulo a pós-graduados e acadêmicos.
Fonte: LIVRARIA CULTURA, 2017.

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Indicações De Leitura

A dialética do esclarecimento

Autores: Theodor W. Adorno & Max Horkheimer


Tradutor: Guido de Almeida
Idioma: Português
Editora: Zahar
Assunto: Filosofia
Idioma: Português
Edição: 1ª
Ano: 1985
Sinopse: Este livro apresenta uma crítica filosófica e psicológica de amplo
espectro das categorias ocidentais da razão e da natureza, de Homero a
Nietzsche. Inicia o livro um estudo sobre o entrelaçamento da racionalidade e
da realidade social, bem como o entrelaçamento da natureza e da dominação
da natureza, preparando um conceito positivo do Esclarecimento, afirmando
que o mito já é Esclarecimento e este acaba por reverter à mitologia. Nessa
primeira parte, estuda-se a dialética do mito e do Esclarecimento na 'Odisseia'
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e, logo a seguir, ocupa-se dos 'implacáveis realizadores do Esclarecimento' -
Kant, Sade e Nietzsche. A parte central do livro é um ataque à 'indústria
cultural' do capitalismo cultural que, pelo domínio da mídia, confere a todas as
manifestações culturais um ar de semelhança. Finaliza o livro uma discussão
sobre os 'Elementos do antissemitismo', durante a qual é esboçada uma
pré-história filosófica do antissemitismo e do seu irracionalismo.
Fonte: LIVRARIA CULTURA, 2017.

Indicação De Filme

O Show De Truman

Lançamento: 1998
Direção: Peter Weir
Elenco: Jim Carrey, Laura Linney, Natascha McElhone
Gêneros: Drama/Comédia/Ficção científica
Nacionalidade: EUA
Sinopse: Truman Burbank (Jim Carrey) é um pacato vendedor de seguros que
leva uma vida simples com sua esposa Meryl Burbank (Laura Linney). Porém
algumas coisas ao seu redor fazem com que ele passe a estranhar sua cidade,
seus supostos amigos e até sua mulher. Após conhecer a misteriosa Lauren
(Natascha McElhone), ele fica intrigado e acaba descobrindo que toda sua vida
foi monitorada por câmeras e transmitida em rede nacional.
Fonte: ADORO CINEMA, 2017.

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CONCLUSÃO

Assim, o aluno pôde ter um pequeno exemplo do que é a atividade da Filosofia


da Educação, quando esta analisa criticamente os pressupostos e a visão de
homem e de mundo que certa prática pedagógica pode exercer no mundo real.
O abrangente estabelecimento do modo de produção capitalista na era
moderna propiciou uma velocidade sem precedentes no desenvolvimento
contínuo da indústria e das ciências em geral, propiciando revoluções
tecnológicas e científicas que impulsionaram o surgimento de debates e de
idealizadores de métodos rigorosos na busca pelo conhecimento da verdade
sobre o homem.

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Internacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Caro(a) acadêmico(a), como você pôde perceber, a filosofia ao longo da


história apresentou diferentes modos de pensar e refletir acerca das questões
emblemáticas vivenciadas por cada filosofo em seu tempo. Com isso, foi
possível compreendermos como tais pensamentos influenciou o saber e o fazer
educacional.
Como vimos, a filosofia positiva de Augusto Conte foi uma das primeiras
doutrinas filosóficas e tinha como ponto principal compreender as coisas do
mundo por meio do que era considerado científico, afastando tudo que não
fosse exato, observável ou comprovável. Deste modo, os acontecimentos
sociais deveriam ser observados e analisados como experiências científicas.
Para o positivismo o sistema educacional deveria direcionar todo o
conhecimento, de modo que ele se tornasse o motor que movia a humanidade.
Depois, falamos um pouco do conceito de dialética para o materialismo
histórico, seus representantes e sua influência para a educação. No Brasil, a
exemplo, temos a proposta pedagógica conhecida como histórico-crítica e seu
principal representante, Saviani. Para a pedagogia histórico-crítica, a educação
é o ato de produzir direta e intencionalmente em cada indivíduo a humanidade
que é produzida histórica e coletivamente.
Também estudamos, o modo como as abordagens teóricas, conhecidas como
fenomenologia e existencialismo, e seus teóricos compreendiam e pensavam a

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realidade humana. A partir daí, vimos como estas correntes filosóficas e suas
formulações influenciaram a educação.
Por fim, compreendemos como o surgimento da pedagogia, enquanto uma
teoria filosófica e orientadora de práticas educativas pode ser entendida como
uma parte específica da reflexão humana sobre o ato de educar.
Desta maneira, abordamos quatro pensamentos fundamentais da filosofia para
e sobre a educação. Refletimos e compreendemos como tais ideias filosóficas
influenciaram e influenciam as práticas e fazeres dentro da história dos saberes
pedagógicos.

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