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O herói romântico na obra Amor de


Perdição de Camilo Castelo Branco.

Susana Sousa, A93489

Literatura Portuguesa do Romantismo ao “fim de século”

Susana Sousa, A93489


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Estudos Portugueses
susanasousa2122000@gmail.com
UC Literatura Portuguesa do Romantismo ao “fim de século”
Introdução

Neste trabalho será abordado o herói romântico na obra Amor de


Perdição, de Camilo Castelo Branco. Para esta abordagem ser feita é preciso
ter em conta o movimento literário no qual a obra se insere e as características
desse mesmo movimento.

Esta abordagem será feita através de um processo de imagologia


literária, ou seja, a partir da sua representação no contexto da obra serão
apresentadas as características e situações que caracterizem a personagem
masculina no romance como um herói romântico.

O objetivo deste trabalho é, de forma clara, expor essas características e


explicar quais as consequências que estas têm no enredo da obra.

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1. O Herói Romântico.

O herói romântico pode ser definido como uma personagem que


acredita e se move por ideais e valores elevados. Uma personagem que está em
constante conflito consigo mesmo e com a sociedade.

A ideia de herói romântico aparece geralmente ligada à ideia de


“homem fatal”, normalmente representado pelo mito de Don Juan.

Um homem fatal é aquele que tem um extraordinário poder de sedução,


muito atraente e que tem o poder de destruir tudo que o rodeia, mais
concretamente, as mulheres que o rodeiam.

A personagem do herói romântico vive numa busca incessante pela


romântica do absoluto amoroso.

2. Simão Botelho como herói romântico.

Simão Botelho na obra Amor de Perdição é a encarnação da figura do


herói romântico, sendo um herói romântico que segue a representação do
“homem fatal”. Simão Botelho é um herói romântico donjuanesco, vai
condenar à destruição a mulher que ama e as duas mulheres que o amam.

É uma personagem masculina caracterizada por ser um jovem


extremamente atraente, “Os quinze anos de Simão têm aparências de vinte. É
forte de compleição; belo homem com as feições da mãe, e a corpulência dela;
(…)”(Castelo Branco, 2019: 30), “Quis parecer a Simão Botelho que este era o
digno porte de um amante corajoso” (idem), tal e qual um “homem fatal” deve
ser.

Começa desde cedo a demonstrar a sua inadaptação à sociedade em que


vive e o conflito com a mesma. Não concorda com os ideais dos pais quanto às
companhias que deve ter, “Na plebe de Viseu é que ele escolhe amigos e
companheiros.” (idem), entra regularmente em conflitos violentos, “Simão
passava nesse ensejo; e, armado dum fueiro que descravou dum carro, partiu

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muitas cabeças, e rematou o trágico espetáculo pela farsa de quebrar todos os
cântaros.”(idem) , coisa que não é adequada ao seu estatuto na sociedade, acha
que a melhor forma de suceder é ir contra as regras impostas pela mesma.

Depois de fugir para Coimbra com a ajuda de sua mãe, a seguir de um


desacato que o poderia levar a ser preso, e com o propósito de iniciar os seus
estudos, continua a meter-se regularmente em confusões. Em Coimbra, Simão
começa a defender a mudança na sociedade portuguesa depois de ler “Mirabeu,
Danton, Robespierre, Demoulins e muitos outros algozes e mártires do grande
açougue (…)” (idem). Defende a ideia de que Portugal precisa de uma
mudança drástica e de deixar de seguir os antigos modelos de governação.

2.1 A Redenção do herói romântico.

O amor vai ter um efeito redentor em Simão Botelho. Quando se


apaixona por Teresa de Albuquerque decide mudar o rumo da sua vida, “No
espaço de três meses fez-se maravilhosa mudança nos costumes de Simão.”
(idem), e dedicar-se única e exclusivamente a esse amor sem limites, “Da
janela de seu quarto é que ele a vira pela primeira vez, para amá-la sempre.”
(idem). Vai traçar um grande plano para a sua vida e vai dedicar-se ao
cumprimento disso, “(…) ele ia formar-se para poder sustentá-la, se não
tivessem outros recursos;(…)” (idem), “Estudava com fervor, como quem já
dali formava as bases do futuro renome e da posição por ele merecida, bastante
a sustentar dignamente a esposa.” (idem).

Por este amor, Simão vai enfrentar a autoridade dos pais e as regras
sociais. Vai ignorar qualquer conflito que haja entre as famílias de ambos e
concentrar-se em única e exclusivamente conseguir viver feliz com a sua
amada.

Quando se torna cada vez mais difícil cumprir o seu plano, começa a
entrar numa angústia profunda, numa instabilidade emocional e num conflito
interior.

Passa a existir uma luta interna entre resolver tudo na violência:

“O académico, chegando ao período das ameaças, já não tinha clara luz nos olhos para
decifrar o restante da carta.(…) Não era sobressalto do coração apaixonado: era índole

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arrogante que lhe escaldava o sangue. Ir dali a Castro Daire e apunhalar o primo de Teresa na
sua própria casa.” (idem)

E fazer o que estava correto para não perder Teresa, “Mas eu perco-a!
Nunca mais hei-de vê-la…Fugirei como um assassino, (…), e ela mesma há-de
horrorizar-se da minha vingança…” (idem).

A sua elevação de caráter não fica por aqui. Além de mudar os seus
antigos costumes, vai demonstrar também um grande sentido de honra, um
grande respeito pelos que não são da sua condição social, como Mariana e João
da Cruz, e quando mata Baltasar não hesita em se entregar à justiça, “- Eu não
fujo – tornou Simão – Estou preso. Aqui tem as minhas armas.” (idem), nem
aceita ajuda da sua família para atenuar a sua pena ou para ter privilégios no
cárcere, e no final aceita o seu destino no degredo sem medo ou hesitação.

Teresa vai representar a imagem da Mulher-Anjo que tem uma


capacidade redentora e leva à metamorfose de homens fatais, tendo esse
mesmo efeito em Simão Botelho.

2.2 A destruição das mulheres que rodeiam o herói romântico.

Este amor incondicional que nunca poderá ser concretizado, além de o


levar à própria destruição, vai encaminhar as duas mulheres que amam, Teresa
e Mariana, para essa mesma destruição.
A partir do momento que Teresa se apaixona por Simão, a sua vida, que
até ali era tranquila, dá uma reviravolta, passa de ser uma simples menina de 15
anos que vive tranquilamente com o pai, para uma mulher que aceita ser presa
num convento em vez de casar com o Primo Baltasar. Deixa de ser uma
menina alegre e passa a ser uma mulher que vive constantemente amargurada,
chegando mesmo a optar por morrer a viver sem o seu amado. Apesar de a sua
morte ser provocada por uma doença há diversas situações que levam a querer
que ela mesma escolheu a morte, como por exemplo, quando melhora
subitamente depois de descobrir que Simão foi salvo da forca, ou mesmo
quando morre no exato momento que Simão parte para o degredo, “Rompe a
manhã. Vou ver a minha última aurora… a última dos meus dezoitos anos!”
(idem), dando a entender que foi ela que escolheu quando morrer.

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O amor por Simão Botelho condena outra rapariga à morte, Mariana.
Mariana que desde logo se demonstra atraída e apaixonada pelo rapaz, escolhe
abdicar da sua vida e servi-lo no cárcere, até mesmo segui-lo para o degredo,
de forma diferente de Teresa, mas com o mesmo propósito, escolhe a morte a
viver sem o seu amado apesar de o seu amor não ser correspondido,
“- Quando eu vir que não lhe sou precisa, acabo com a vida. Cuida que eu ponho
muito em me matar? Não tenho pai, não tenho ninguém, a minha vida não faz falta a pessoa
nenhuma. O senhor Simão pode viver sem mim? Paciência!... Eu é que não posso…” (idem).

Ambas as mulheres que amaram Simão tiveram a morte como destino


final, mas antes disso as vidas delas sofreram uma reviravolta e passaram a ser
repletas de sofrimento e angústia.

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Conclusão

Concluindo, depois de analisar a personagem Simão Botelho, perante as


características pré-concebidas do que é um herói romântico e a partir de
exemplos presentes na obra, podemos concluir que a personagem principal
masculina da obra Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, cumpre todos
os requisitos para ser considerado um herói romântico.

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Bibliografia

Ativa

Castelo Branco, Camilo (2019) Amor de Perdição, Porto, Livros do Brasil.

Passiva

Do Carmo Pinheiro e Silva Cardoso Mendes, Maria (s/d) Os Don Juans de


Camilo Castelo Branco, Universidade do Minho

https://www.santillana.pt/files/DNLCNT/Priv/_11811_c.book/253/resources/re
cursos_professor/u3_sistematizacao_amor_de_perdicao.pdf [consultado em 23
de dezembro de 2021]

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