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3Olá a todos.

Nesta apresentação, escolhi falar acerca do livro “O Monte dos Vendavais” de


Emily Bronte. Emily Jane Brontë nasceu em 1818 em Thornton, Inglaterra, e foi uma escritora e
poetisa. Não existem muitas informações sobre a sua vida mas sabe-se que tanto Emily como
as suas irmãs se dedicaram ao mundo da escrita. Em 1845, estas publicaram a obra Poemas,
utilizando pseudónimos. A razão pela qual as três irmãs decidiram não revelar os seus nomes
veio-se a saber anos mais tarde, estando relacionada com o facto de não quererem chamar a
atenção e sendo mulheres, receavam que os seus livros não fossem levados a sério pelos seus
contemporâneos. Vítima de tuberculose, Emily acabou por falecer com 30 anos, em 1848, um
ano após a publicação da sua obra-prima “O Monte dos Vendavais”, o seu primeiro e único
romance. Apesar de não ter sido bem recebido na altura da sua publicação, atualmente a obra
é reconhecida como um clássico e teve inúmeras adaptações para filmes.

A história inicia-se em 1801, no Monte dos Vendavais, com o encontro entre Mr. Lockwood e o
seu senhorio, Mr. Heathcliff. Ao conhecê-lo Lockwood constata que Heathcliff é reservado,
autoritário, frio e bastante agressivo. Depois de se encontrar obrigado a pernoitar na
residência devido a uma tempestade, é testemunha de comportamentos perturbadores por
parte dos residentes e o ambiente sombrio da casa causa-lhe desconforto e leva-o a acreditar
que estivesse assombrada. Tudo isto suscita-lhe interesse e leva-o a tentar saber mais sobre a
vida de Heahtcliff. Assim, decide pedir à sua governanta Nelly, que tinha trabalhado no Monte
dos Vendavais, que lhe satisfaça esta curiosidade. É por inúmeras analepses que sabemos, ao
mesmo tempo que este novo convidado, toda a negra e trágica história de amor de Catherine
e Heathcliff, cuja influência se estendeu aos seus descendentes.

Tudo começa quando o patriarca da família Earshaw, pai de Catherine e Hindley volta de uma
das suas viagens acompanhado por Heathcliff, um órfão que encontrou e decidiu acolher. A
partir das narrações de Nelly começamos a acompanhar a infância destas personagens e as
relações que estabelecem entre si. Catherine e Heathcliff formam rapidamente um laço que os
torna inseparáveis enquanto o contrário acontece com Hindley que via no órfão um intruso e o
tratava violentamente nas costas do pai. Depois da morte de Mr. Earnshawn, este tratamento
piora drasticamente sendo que Hindley força Heahtcliff a abandonar os estudos e a trabalhar
na quinta como um empregado comum. Esta situação começa a criar tensão entre Cathy e
Heahcliff pois enquanto esta é apresentada a pessoas de estatuto elevado que a ensinam a
desejar as coisas mais luxuosas da vida e lhe incutem ideias daquilo que é esperado dela
socialmente, este é completamente deixado para trás devido às circunstâncias em que se
encontra. Com o passar dos anos, apesar de apaixonada por Heathcliff, Catherine cede e acaba
por casar com Edgar Linton, filho de uma abastada família, o que destroça Heathcliff e leva ao
seu desaparecimento. Passados três anos, este regressa como um homem frio e rico com um
único objetivo: vingança. E a partir daí é-nos contada a história desta sua vingança e as
consequências desta que se estendem por décadas.

A parte deste livro que mais me marcou foi uma conversa que Catherine teve com Nelly acerca
do seu noivado com Edgar Linton, pois considero que reflete perfeitamente o conflito principal
assim como a complexidade das emoções e personagens retratadas. Nas suas palavras:

“Agora degradar-me-ia casar com Heahtcliff; por isso, ele nunca saberá como o amo, e amo-o,
não por ele ser bonito, Nelly, mas porque ele é mais eu própria do que eu sou. Seja do que for
que as nossas almas são feitas, a dele e a minha são iguais, e a de Linton é tão diferente como
um raio de luar é diferente do relâmpago, ou a geada do fogo. (…) Os meus grandes tormentos
neste mundo têm sido os tormentos de Heathcliff, e eu absorvei e senti cada um deles desde o
princípio; o meu grande pensamento na vida é ele. Se tudo mais desaparecesse e ele
permanecesse, eu continuaria a existir; e se tudo o mais permanecesse e ele fosse aniquilado,
o universo transformar-se-ia num imenso desconhecido. O meu amor por Linton é como a
folhagem das florestas. O tempo há-de mudá-lo, tenho perfeita consciência disso, como o
Inverno muda árvores. O meu amor por Heathcliff assemelha-se às rochas eternas que existem
por baixo: uma fonte de pouco deleite visível, mas necessárias. Nelly, eu sou Heathcliff, ele
está sempre na minha mente, não como um prazer, do mesmo modo que eu não sou sempre
um prazer para mim mesma, mas como o meu próprio ser.”

Esta declaração de amor permite entender que as personagens centrais Heathcliff e Catherine
são semelhantes em vários aspetos. Ambos são teimosos e possessivos e colocam o seu amor
acima de tudo e todos, não se interessando em quem magoam no processo, mostrando-se
incrivelmente egoístas. O desejo da concretização do seu amor só é ultrapassado pela
necessidade de vingança de Heathcliff. Este é, na minha opinião, a personagem do livro mais
complexa e curiosa. Não é representado como um ser sem coração e incapaz de amar sendo
que é consumido pelo amor que tem por Cathy. Porém, em vez de viver por este amor,
Heathcliff cede ao egoísmo e desafia a ser compreendido. Consegue ser igualmente ofensivo
no seu amor e ódio, estando sempre disposto a ultrapassar o limite. O romance provoca o
leitor com a possibilidade de Heathcliff ser algo diferente do que parece — que a sua
crueldade é apenas uma expressão do seu amor frustrado por Catherine, ou que os seus
comportamentos sinistros servem para esconder o coração de um herói romântico. No
entanto, Heathcliff, não muda e a sua malevolência prova-se tão grande e duradoura que não
pode ser adequadamente explicada, mesmo como um desejo de vingança. Como ele próprio
salienta, o seu abuso contra indivíduos particularmente fracos ou indefesos é puramente
sádico.

Assim, este livro é acima de tudo uma narrativa complexa e cheia de contradições, num
ambiente negro e deprimente, com personagens marcadas pela insanidade e o orgulho. É
realmente um estudo sobre o lado mais obscuro do ser humano e ao extremo que pode ser
levado em determinadas circunstâncias.

Existe uma espécie de maldição nesta história de amor que a imaginação poética e fantástica
de Emily Brontë desenhou no período pré-vitoriano. Todo o ambiente da narrativa nos conduz
ao ponto sem retorno da tragédia, o que não deixa de ser o mais intrigante pois o leitor possui
o desejo de continuar a leitura apesar de parecer evidente que não existe um final feliz no
horizonte. Deste modo, recomendo este livro a todos pois para além de ser um clássico não
deixa de ter uma leitura bastante acessível e uma narrativa extraordinária que provoca todos
os sentidos.

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