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Nesta obra, o autor pretende criticar diversos aspetos na sociedade portuguesa da sua época,

sendo esta uma das mais emblemáticas características da sua escrita. Vamos agora realçar
algumas das suas críticas:

Naturalismo/Realismo

Tomás de Alencar fora o principal e mais contínuo crítico deste tema. Algumas das suas críticas
são:

 designa o realismo/naturalismo por: “literatura «latrinária»


 culpabiliza o naturalismo de publicar “rudes análises” que se apoderam “da Igreja, da
Burocracia, da Finança, de todas as coisas santas dissecando-as brutalmente e
mostrando-lhes a lesão”, e deste modo destrói a velhice de românticos como ele;
 acusa o naturalismo de ser uma ameaça ao pudor social;

Carlos da Maia considera que “o mais intolerável no realismo era os seus grandes ares
científicos” e Ega, apesar de defender o movimento artístico em questão, concordava com esta
crítica; Craft desaprova o realismo, pelo facto de estatelar a realidade feia das coisas num livro.

Neste capítulo, é evidente também a crítica às finanças. Este assunto espelha a crise financeira
que o país passava no século XIX. Eça descreve-o de forma irónica através de Cohen, o
representante das Finanças, ao afirmar que os “empréstimos em Portugal constituíam uma das
fontes de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida como o imposto”, aliás era «cobrar
o imposto» e «fazer o empréstimo» a única ocupação dos ministérios.

Desta forma concordavam que o país iria “alegremente e lindamente para a bancarrota”. No
entanto, Ega não aceitara baixar os braços e logo dera a solução revolucionária para o
problema de finanças que o país atravessava – a invasão espanhola.

Por fim, surgem também críticas relacionadas com a História Política.

Dada a sugestão perfeita para a bancarrota, Ega delira com a ideia e pretende “varrer a
monarquia” e o “crasso pessoal do constitucionalismo”.

A invasão espanhola leva Ega a criticar a raça portuguesa, afirma que esta é a mais cobarde e
miserável da Europa, “Lisboa é Portugal! Fora de Lisboa não há nada.” e que todos iriam fugir
quando se encontrassem perante um soldado espanhol. A sociedade tinha receio de perder a
independência, mas só uma sociedade tão estúpida como a do Primeiro de Dezembro pensaria
que a invasão traria esta consequência.

Ega é a principal personagem que satiriza a história política, e isso pode ser confirmado ao
longo das conversas em que este se envolve.

De todos os aspetos que são louváveis nesta obra, a linguagem e estilo apresentam um maior
destaque pois são o que eleva esta obra face às suas contemporâneas. Algumas das
características linguísticas evidentes neste capítulo e características da prosa queirosiana são:

A Versatilidade e maleabilidade. Pode-se verificar esta característica através, por exemplo, do


uso de diferentes registos linguísticos, como:

Registo literário e cuidado sendo que existe uma construção frásica elegante e cuidada assim
como imagens sugestivas, presente por exemplo nas descrições presentes no episódio.
Podemos assim considerar o léxico erudito.
E também existe registos familiar e corrente reproduzindo a linguagem oral do português do
fim do século XIX, presente, por exemplo, nas falas das personagens. Ex.: “uma
«sarrabulhada»”; “carradas de talento”; …

A existência de Estrangeirismos como :

O uso de anglicismos (vocábulos de origem inglesa) e galicismos ou francesismos (vocábulos de


origem francesa) evidenciam o desejo de mostrar requinte e cosmopolitismo, revelando o jogo
de aparências da alta sociedade lisboeta e espelhando a submissão acrítica ao modelo cultural
francês (evidente pela personagem Dâmaso). Temos como exemplos alguns vocábulos ou
expressões, como: “Très chic”, um shake-hands”, entre outros…

A existência de Neologismos

A riqueza da prosa queirosiana reside também na criação de novas palavras como, no caso
deste episódio, “uma face escaveirada”.

Uso do diminutivo

Ao utilizar diminutivos como “cadelinha escocesa” ou “Carlinhos da minha alma”, é projetada a


subjetividade do narrador, indicando afeto. O diminutivo pode ainda ser usado num sentido
pejorativo, como no exemplo: “Num golpezinho muito seguro e muito a direito- disse Cohen
sorrindo”;

Hipálage: “passou-lhe para os braços uma deliciosa cadelinha escocesa”; “românticos bigodes”

No primeiro caso há uma atribuição de uma qualidade da dona à sua cadela e, no segundo, a
atribuição de uma característica de Alencar (herói romântico) aos seus bigodes

Reprodução do discurso no discurso

As personagens expõem-se e denunciam o seu carácter, mostrando a sua essência por aquilo
que afirmam, através do discurso direto e do discurso indireto livre, tipo de discurso híbrido
onde a voz da personagem penetra a estrutura formal do discurso do narrador, como se
falassem em uníssono, conservando assim características dos discursos direto e indireto.

Estes são aqueles que evidenciam maior destaque, sendo clara a presença de outros inúmeros
recursos estilísticos ao longo da obra.

Os Maias encena uma crónica de costumes, retratando, com rigor fotográfico e muito humor,
a sociedade lisboeta da segunda metade do século XIX. O episódio do Jantar no Hotel Central
evidencia estas características e muitas mais, funcionando como um resumo excelente
daquelas que são as temáticas mais relevantes desta obra. A forte presença de temas que
ainda hoje são pertinentes como a instabilidade económica e a vida política assim como o
papel que a ironia toma nesta crónica, levam ao seu destaque em comparação a outras
passagens da obra.

Terminamos este trabalho com uma frase do autor retratado, que para sempre será lembrado
pelo peso e verdade das suas palavras. “A arte é um resumo da natureza feito pela
imaginação.” – Eça de Queiroz

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