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POEMAS

NEGROS
(1947)
JORGE DE
LIMA
45 POEMAS
DE LIVROS
DIVERSOS
JORGE DE LIMA

• 1893 – 1953
• LOCAL DE NASCIMENTO: UNIÃO –AL
• LOCAL PRÓXIMO DE ONDE SE LOCALIZAVA O
QUILOMBO DOS PALMARES
• MUITO INFLUENCIADO PELAS LENDAS E
CAUSOS DO POVO NEGRO DA SERRA
• INFLUENCIAD POR GILBERTO FREIRE, AUTOR
DE “CASA GRANDE E SENZALA”
ATENÇÃO!!!
• MUITAS PERSONAGENS DOS POEMAS
SÃO EVOCADAS PELA MEMÓRIA DA
INFÂNCIA DO POETA, COMO CELIDÔNIA,
ZEFA LAVADEIRA, MARIA DIAMBA E
BENEDITO CALUNGA.
• A MEMÓRIA AFETIVA INFANTIL PODE
SUAVIZAR AS RELAÇÕES DESIGUAIS
TÍPICAS DO NORDESTE PATRIARCAL
ESTILO LITERÁRIO
• SEGUNDA FASE DO
MODERNISMO (1030-1945):
POESIA REFLEXIVA

CONQUISTAS DA FASE ANTERIOR:


VERSO LIVRE
LINGUAGEM COLOQUIAL
COTIDIANO
CRÍTICA SOCIAL
NOVIDADE : TEMÁTICA NEGRA
LASAR SEGALL
TEMAS MARCANTES
• MISTICISMO RELIGIOSO : CRENDICES, SUPERSTIÇÕES

• RAÍZES MESTIÇAS DO BRASIL

• COTIDIANO DAS SOCIEDADES RURAIS

• CRÍTICA SOCIAL

• OS HORRORES DA ESCRAVIDÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS


MESTIÇAGEM VISTO COMO POSITIVO

• SOCIEDADE HÍBRIDA: SENHORES BRANCOS E


SUAS RELAÇÕES CARNAIS COM SUAS
ESCRAVAS NEGRAS TERIAM FORMADO UMA
SOCIEDADE EM QUE AS QUESTÕES DE
PRECONCEITO RACIAL NÃO SERIAM TÃO
CONTUNDENTES QUANTO NOS EUA , POR
EXEMPLO.
• ATENÇÃO: GILBERTO FREIRE PREFACIOU O
LIVRO “POEMAS NEGROS”
CRÍTICA !
PERSPECTIVA ADOTADA PELO POETA
É ACUSADA DE EXTERIOR E
DISTANCIADA POR FALAR A PARTIR DE
OUTRO LUGAR SOCIAL E DA
CONDIÇÃO DE BRANCO (AINDA QUE
SE TRATE DE UM POETA DE
ASCENDÊNCIA NEGRA...),
DEFESA DE GILBERTO FREYRE
• “Jorge de Lima não nos fala dos seus irmãos,
descendentes de escravos, com resguardos profiláticos
de poeta arrogantemente branco, erudito, acadêmico, a
explorar o pitoresco do assunto com olhos distantes de
turista ou de curioso. De modo nenhum. Seu verbo se faz
carne: carne mestiça. Seu verbo se torna carnalmente
mestiço quando fala de "democracia", de "comidas", de
"Nosso Senhor do Bonfim", embora a metade
aristocrática desse nordestino total, de corpo colorido
por jenipapo e marcado por catapora, não esqueça que a
"bisavó dançou uma valsa com D. Pedro II", nem que o
avô teve "bangüê". (ENGENHO DE AÇÚCAR)
FORMA

• MAIORIA SÃO POEMAS CURTOS EM VERSOS


LIVRES

• VOCABULÁRIO DE RAIZ AFRICANA


I - Novos poemas

• Essa negra Fulô


• Comidas
• Santa Rita Durão
• Minha sombra
• Flos Sanctorun
• Meus olhos
• Cantigas
“SANTA RITA DURÃO”
• POETA ÉPICO DO ARCADISMO ,
INTRODUZINDO TEMÁTICA INDÍGENA ANTES
DO ROMANTISMO.AUTOR DE “CARAMURU”
“Essa negra fulô”
(...) Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô!) O Sinhô foi ver a negra
Cadê meu frasco de cheiro levar couro do feitor.
Que teu Sinhô me mandou? A negra tirou a roupa,
— Ah! Foi você que roubou! O Sinhô disse: Fulô!
Ah! Foi você que roubou! (A vista se escureceu
que nem a negra Fulô).
(...)
Essa negra Fulô! Redondilhas maiores - 7- medida velha)
Ó Fulô! Ó Fulô! sozinho a negra Fulô.
Cadê meu lenço de rendas, A negra tirou a saia
Cadê meu cinto, meu broche, e tirou o cabeção,
Cadê o meu terço de ouro de dentro dêle pulou
que teu Sinhô me mandou? nuinha a negra Fulô.
Ah! foi você que roubou! (...)
Ah! foi você que roubou! Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Essa negra Fulô! Ah! Foi você que roubou,
Essa negra Fulô! foi você, negra fulô?

O Sinhô foi açoitar Essa negra Fulô!


FULÔ

• ESCRAVAS DE DENTRO

• MUCAMAS

• DIFERENTES DA RALÉ DA ENXADA , “OS DE FORA”

• RELAÇÕES CORDIAIS À LA FREYRE


“HISTÓRIA”
• SEDUÇÃO DO SINHÔ PELA NEGRA E A VINGANÇA DA
SINHÁ ENCIUMADA.
• A PERSPECTIVA BREJEIRA COM QUE LIMA
ENFOCAVA FULÔ É AQUI ABANDONADA EM FAVOR
DA ÓPTICA SOLIDÁRIA, IRMANADA AO SOFRIMENTO
DA EX-PRINCESA AFRICANA, ADQUIRIDA POR UM
"CACO DE ESPELHO", DEFLORADA PELO CAPITÃO,
POSSUÍDA PELOS MARINHEIROS E FERRADA COM
UMA ÂNCORA NAS ANCAS, DURANTE A TRAVESSIA
PARA O BRASIL, ONDE ELEVOU EM VÃO A VOZ EM
NAGÔ PARA OXALÁ, SURDO A SEUS APELOS.
Era princesa. apanhou, apanhou, apanhou.
Um libata a adquiriu por um caco de Fugiu para o mato.
espelho. Capitão do campo a levou.
Veio encangada para o litoral, Pegou-se com os orixás:
arrastada pelos comboieiros fez bobó de inhame
Peça muito boa: não faltava um dente para Sinhô comer,
e era mais bonita que qualquer inglesa. fez aluá para ele beber;
No tombadilho o capitão deflorou-a. fez mandinga para o Sinhô a amar.
Em nagô elevou a voz para Oxalá. A Sinhá mandou arrebentar-lhe os dentes:
Pôs-se a coçar-se porque ele não ouviu. Fute, Cafute, Pé-de-pato, Não-sei-que-diga,
Navio negreiro? não; navio tumbeiro. avança na branca e me vinga.
Depois foi ferrada com uma âncora nas Exu escangalha ela, amofina ela,
ancas, amuxila ela que eu não tenho defesa de
depois foi possuída pelos marinheiros, homem,
depois passou pela alfândega, sou só uma mulher perdida neste mundão.

“HISTÓRIA”
depois saiu do Valongo, Neste mundão.
entrou no amor do feitor, Louvado seja Oxalá.
apaixonou o Sinhô, Para sempre seja louvado..
enciumou a Sinhá,
II – Poemas escolhidos

• Nordeste
• Enchente
• O filho pródigo
• Poema relativo
• Mulher proletária
• Poema do nadador
• Poema à bem-amada
Nordeste, terra de São Sol!
Irmã enchente, vamos dar graças a Nosso Senhor,
que a minha madrasta Sêca torrou seus anjinhos
para os comer.
São Tomé passou por aqui?
Passou, sim senhor!
Pajeú! Pajeú!
Vamos lavar Pedra Bonita, meus irmãos,
com o sangue de mil meninos, amém! “NORDESTE”
D. Sebastião ressuscitou!
S. Tomé passou por aqui?
Passou, sim senhor.
Terra de Deus! Terra de minha bisavó
que dançou uma valsa com D. Pedro II.
São Tomé passou por aqui?
Tranca a porta, gente, Cabeleira aí vem!
Sertão! Pedra Bonita!
Tragam uma viagem para D. Lampião!
“MULHER PROLETÁRIA”
Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.

TEMÁTICA PROLETÁRIA TAMBÉM PRESENTE EM


“O FILHO PRÓDIGO”
Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
REIFICAÇÃO
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.
III – Poemas Negros • O banho das negras(EM
PROSA)
• Bicho encantado • Cachimbo do sertão
• Banguê • Obambá é batizado
• História • Poema de encantação
• Democracia • Rei é Oxalá, rainha é Iemanjá
• Retreta do vinte • Foi mudando, mudando
• Quichimbi sereia negra • Janaína
• Zefa lavadeira (EM PROSA) • Quando ele vem
• Benedito Calunga • Xangô
• Ladeira da Gamboa • Pra donde que você me leva
• Passarinho cantando (EM PROSA)
• Exu comeu tarubá • Maria Diamba
• Ancila negra • Olá! Negro
ORIXÁS.... OXALÁ

XANGÔ

IEMANJÁ
EU-LÍRICO, POR VEZES...É PODEROSA VOZ

• BRANCA
• MASCULINA
• PATRIARCAL
Punhos de rede embalaram o meu canto
para adoçar o meu país, ó Whitman. (POETA AMERICANO COM POEMAS DE TEMÁTICA AFRO )
Jenipapo coloriu o meu corpo contra os maus-olhados,
catecismo me ensinou a abraçar os hóspedes,
carumã me alimentou quando criança,
Mãe-negra me contou histórias de bicho,
moleque me ensinou safadezas,
massoca, tapioca, pipoca, tudo comi,
bebi cachaça com caju para limpar-me,
tive maleita, catapora e ínguas,
bicho-de-pé, saudade, poesia;
“DEMOCRACIA”
fiquei aluado, malassombrado, tocando maracá,
dizendo coisas, brincando com as crioulas,
vendo espíritos, abusões, mães-d’água,
conversando com os malucos, conversando sozinho,
emprenhando tudo o que encontrava,
abraçando as cobras pelos matos,
me misturando, me sumindo, me acabando,
para salvar a minha alma benzida
e meu corpo pintado de urucu,
tatuado de cruzes, de corações, de mãos-ligadas,
de nome de amor em todas as línguas de branco, de mouro ou de pagão.
“MARIA DIAMBA”
Para não apanhar mais
Falou que sabia fazer bolos
Virou cozinha.
Foi outras coisas para que tinha jeito.
não falou mais.
Viram que sabia fazer tudo,
Até mulecas para a Casa-Grande.

Depois falou só,


Só diante da ventania
Que ainda vem do Sudão;
Falou que queria fugir
Dos senhores e das judiarias deste mundo
Para o sumidouro.
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos e a quarta e a quinta
gerações de teu sangue sofredor tentarão apagar tua cor!
E as gerações dessas gerações quando apagarem não apagarão
de suas almas, a tua alma , negro!
Pai-João, Mãe-Negra, Fulo, Zumbi,
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde
negro cabinda, negro congo, negro ioruba,
negro que foste para o algodão de U.S.A
para os canaviais do Brasil,
para o tronco, para o colar de ferro, para a canga
de todos os senhores do mundo;
“OLÁ, NEGRO”
eu melhor compreendo agora os teus blues
nesta hora triste da raça branca, negro!

Olá, Negro! Olá, Negro!

A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!


E és tu que a alegras ainda com os teus jazzes,
com os teus sons, com os teus lundus!
Os poetas, os libertadores, os que derramaram
babosas torrentes de falsa piedade
não compreendiam que tu ias rir!
E o teu riso, e a tua virgindade e os teus medos e a tua bondade
Olá, Negro! Negro, ó proletário sem perdão,
proletário, bom,
Pai-João, Mã-Negra, Fulo, Zumbi proletário bom!
que traíste as Sinhás nas Casas Grandes, Blues
que cantaste para o sinhô dormir, Jazzes,
que te revoltaste também contra o Sinhô; songs,
quantos séculos há passado lundus…
e quantos sobre a tua noite, Apanhavas com vontade de cantar,
sobre as tuas mandingas, sobre os teus medos, choravas com vontade de sorrir
sobre tuas alegrias! com vontade de fazer mandinga para o branco
ficar bom,
Olá, Negro! para o chicote doer menos,
para o dia acabar e negro dormir!
negro que foste para o algodão de U.S.A Não basta iluminares hoje as noites dos
para os canaviais do Brasil, brancos com teus jazzes
quantas vezes as carapinhas hão de com tuas danças, com tuas gargalhadas!
embranquecer Olá, Negro! O dia está nascendo!
para que os canaviais possam dar mais doçura O dia está nascendo ou será a tua gargalhada
à alma humana? que vem vindo?

Olá, Negro! Olá, Negro!


MUSICALIDADE NA LITERATURA
• LEMBRA “CAMINHOS CRUZADOS”

• “CARNAVAL EM VENEZA” CANTADA COMO FUGA POR


JONJOCA (JOÃO BENÉVOLO)

• GRAMOFONE

• MÚSICAS ERUDITAS APRECIADAS POR NOEL

• POLIFONIA DE ÉRICO VERÍSSIMO


“BANGUÊ”
• ENGENHO DE AÇÚCAR QUE AINDA USAVA
TRAÇÃO ANIMAL

• DECADÊNCIA PELA CONCORRÊNCIA COM AS


USINAS E NOVAS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO
DE TRABALHO

• ÉTICA PROTESTANTE (EUA)


IV – Livro de sonetos (MUDANÇA DE RUMO EM SUA
CARREIRA LITERÁRIA : ABANDONO DA FORTE TEMÁTICA
CATÓLICA EM QUE VINHA, MANTÉM O MISTÉRIO E O
SENTIDO DE TRANSCENDÊNCIA)

• Os seus enfeites
• Apenas eu te aceito, não te quero
• Sinto-me salivado pelo Verbo
• Vereis que o poema cresce independente
• Este poema de amor não é lamento
• Nas noites enluaradas cabeleiras
• Nas noites enluaradas as olheiras
SONETO: TRADIÇÃO CAMONIANA

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