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• Gaúcho de Pelotas, região estancieira e de pecuária extensiva;

• Seu reconhecimento e sucesso foram alcançados postumamente, quando a Editora


Globo publica a primeira edição de Contos Gauchescos & Lendas do Sul em 1949;

• Teve um criação tradicional, campeira, o que confrontou com os costumes de uma


civilização urbana emergente, que aspirava relações socioeconômicas diferentes
da vida do campo e que implicariam grandes transformações no jeito de ser e no
modo de vida do gaúcho em meados do séc. XIX e início do XX,

• Teve um fim de vida precoce, aos 51 anos de idade, quando já sofria com a úlcera
e a pobreza, sobrevivendo há alguns anos de trabalhos informais como jornalista
em Pelotas
• Cancioneiro Guasca, 1910
• Contos Gauchescos, 1912
• Lendas do sul, 1913
• Casos de Romualdo, 1914
• Terra Gaúcha, embora incompleta, foi
publicada 1955
• Regionalismo: a obra marca fortemente o tradicionalismo de um rio
Grande do passado, que aspirava e vivia costumes e valores já
ultrapassados no final do séc. XIX e início do séc. XX.
• Regiões da campanha, da fronteira.
• A mudança da economia no Estado, agora urbana e industrial,
transformou as relações sociais e coletivas, os valores são outros, e o
gaúcho idealizado pelos românticos do Partenon Literário e pelo
Movimento Tradicionalista de Paixão Côrtes e Barbosa Lessa é revivido
saudosamente por Simões Lopes Neto. Todavia, aquele não existe mais.
• Simões Lopes Neto registra esse gaúcho nostálgico, cuja política, fronteiras
e valores são modernas, respiram o positivismo e o vago capitalismo
emergente.
• A estância e o pago são substituídos pelos poucos aristocratas que ainda
restam e pelos burgueses que se instauram; o comércio é o grande objetivo,
logo as fazendas familiares de criação dão lugar a fazendas de abate e
manipulação de carne.
• Cada vez mais, grandes proporções de terras pertencem a poucos, e o
êxodo rural é uma consequência. O gaúcho perde a sua terra.
• É o típico gaúcho: 88 anos, experiente, saudosista, ícone
de um tempo/espaço ultrapassados.
• É parte dos contos, pois ou os vivera, ou os presenciara,
ou os ouviu nos causos que alguém contou; logo, em
alguns contos, Blau fora testemunha ocular ou participara
das histórias.
• Oralidade: Blau é um sujeito que se vale das suas
experiências de vida, de sua sabedoria para narrar; assim,
é ele um narrador diferenciado, à moda antiga, que
compartilha, sugere, ensina, aprende, DÁ CONSELHOS e
forma uma memória coletiva, pois os fatos, muitas vezes,
passam de geração para geração, fincando muito da
alteridade (costumes e valores que identificam um povo
ou etnia) de um povo.
• Situações cotidianas pessoais se misturam a fatos
históricos, o que, muitas vezes, marca uma posição
ideológica.
• Não há como questionarmos Blau porque, em todos os
casos, “ele esteva lá”.
• Regionalista: campanha e fronteira.
• Expressa um jeito de ser próprio, fixa
uma peculiaridade, uma característica, - Ah!… esqueci de dizer-lhe
um modo de agir e se relacionar. que andava comigo um
cachorrinho brasino, um
• Prosaica: reflete a comunicação cusco mui esperto e boa vigia.
cotidiana de uma região. Era das crianças, mas às
• As gentes se reconhecem na língua, que é a vezes dava-me para
maior marca de quem somos e de como acompanhar-me, e depois de
somos. sair a porteira, nem por nada
• Interjeições, ditos populares, expressões fazia caravolta, a não ser
que representam todo um modo de se comigo. E nas viagens dormia
comunicar muito próprio: sempre ao meu lado, sobre a
 uso do castelhano misturado ao ponta da carona, na cabeceira
português; dos arreios.
(Trecho de Trezentas Onças)
 formação de um vocabulário
específico, da fronteira
(campanha)
• Educação campeira
• Capítulo de apresentação do narrador: Patrício,
apresento-te Blau, o vaqueano.
• 19 contos
• Todos narrados por Blau Nunes

• Temáticas:
 Os valores do gaúcho
 O cavalo, o cachorro e o campo
 A doma, a agricultura e a peleia
 O comportamento, a honra e a glória
 A mulher, o jogo e a vingança
 A violência: esta como símbolo de
honra, vingança e masculinidade
 A formação sociocultural do homem
gaúcho
 Os fatos históricos do RS
1. TREZENTAS ONÇAS
2. O NEGRO BONIFÁCIO
3. NO MANANTIAL
• 18 contos (13 haviam
4. O MATE DO JOÃO CARDOSO sido publicados em
5. DEVE UM QUEIJOO! jornais e revistas
6. BOI VELHO antes de saírem no
7. CORRER EGUADA livro)
8. CHASQUE DO IMPERADOR
9. OS CABELOS DA CHINA • Somente a partir da
10. MELANCIA — COCO VERDE 3ª edição (Editora
11. O ANJO DA VITÓRIA
Globo), em 1949,
12. CONTRABANDISTA
13. JOGO DE OSSO
aparece o 19º conto:
14. O DUELO DOS FARRAPOS
15. PENAR DE VELHO O ‘menininho’ do presépio
16. JUCA GUERRA
17. ARTIGOS DE FÉ DO GAÚCHO
18. BATENDO ORELHA!
19. O “MENININHO” DO PRESÉPIO
Os Contos
• Blau Nunes é narrador-protagonista
• Viaja com trezentas onças (moedas de ouro) na guaiaca
• Cruza com um grupo de viajantes
• Repousa na beira de um arroio, onde toma banho e dorme
• Quando retorna à viagem e chega na estância, léguas
depois, percebe que perdera o ouro
• O cusco chamava-lhe a atenção
• Resolve voltar ao local do arroio e nada encontra
• Põe-se a chorar (algo raro), tinha medo de ser chamado de
ladrão
• Pensa em suicídio, o que não comete, e fugir não é digno
• Resolve encarar o patrão e pagar com trabalho
• Chegando na estância, já sem saber como falar ao patrão,
percebe uma chaleira e a guaiaca com as trezentas onças
em cima da mesa
• O patrão brinca com a situação e todos riem
• O cão lembra amizade; o cavalo, liberdade; símbolos do
gaúcho de trabalho e esperança
• Blau é narrador onisciente
• Bonifácio: negro maleva e taura
• Tudinha: chinoca candongueira, linda, alta, delgada; olhos grandes,
ariscos
 Filha de Sia Firmina, um velha inteirona
• Disputa de uma carreira campeira
• O negro e Tudinha firmam uma aposta: Tudinha ganhará uma libra de
doces se o tordilho do Nadico vencesse, e ele vence
• Nadico e o Negro se estranham, e Bonifácio descasca o facão e peleia com
o chiru; a briga generaliza, e todos estão contra o Negro
• Nadico atravessa o pescoço do negro com uma adaga, e o major Terêncio
dispara fogo lanhando a perna do taura
• Bonifácio abre a barriga de Nadico, mas está gravemente ferido, prestes a
receber um golpe de boleadeiras, que acerta-lhe a cabeça
• Sia Firmina aparece e joga uma chocolateira de água fervente no Negro,
que atravessa a velha com seu facão até o esse
• Tudinha sobe por cima do Negro, vaza-lhe os olhos, retalha-lhe a cara de
ponta e de corte; ri desatinada e linda e distribuncha os culhões do
homem
• Mulheres são bichos caborteiros, não se pode confiar nelas, ainda mais se
desprezadas
No Manantial
• Blau Nunes é narrador-testemunha
• No meio do manantial há uma roseira sempre florida, plantada por um
defunto
• Maria Altina: filha de Mariano e Tanásia
 16 anos, apaixonada por André, um furriel
 O rapaz deu-lhe uma rosa colorada, que ela atravessou no seu
chapéu
 André tratava de firmar seu casamento com Altina
• Chico Triste: conhecido como Chicão
 Enrabichado pela prenda, carnalmente
 Bruto, despertava medo e raiva na rapariga
 Desprezado por Maria Altina quando pede-lhe uma de suas
rosas
 A moça soltava os bichos que ele dava de presente a ela, por isso
Chicão envia filhotes de avestruz sem pernas e asas
 Sente raiva pela notícia do casório de André com Altina
 Convida a gente de Mariano para uma festa de batizado em sua
casa
 No outro dia, quando se daria seguimento à festa, ficam na casa
Mª Altina, sua avó e Chicão; e a Negra Nina, quem viu tudo e
contou depois para as pessoas
O acontecido... continuação

• Chicão assassina a velha e estupra violentamente


Maria Altina
• A menina se desvencilha do homem, monta o Minha voz no teu ouvido
cavalo e desatina na coxilha seguida pelo Fez seu ninho pra canta...
estuprador
• Ela cai e fica presa no manantial e logo submerge, — Diabo!... parece que
sobrando apenas a rosa colorada na superfície do tenho areia nos olhos... e um pé-
lamaçal de-amigo na goela... — Ah!
• Chicão fica atolado até o peito, desesperado saudade!...
• Tanásia se acomete a procurar a filha e costeia o É uma amargura tão doce,
manantial, onde encontra Chicão patrãozinho!...
• Todos encontram Chicão atolado e perguntam o
que significa a cena, A Rosa Saudade é dor que não dói,
• Mariano saca a pistola e dispara em Chicão, Doce ventura cruel,
acertando o segundo tiro no ombro; atira-se sobre É talho que fecha em falso,
o desgraçado e o afunda É veneno e sabe a mel...
• Anos depois, o rancho de Mariano ficou
abandonado (Trecho de No Manantial)

• Blau fecha o conto com uns versos seus e se pega a


chorar, saudoso
Deve um queijo!...

• Blau narra uma anedota sobre o velho Lessa, um homem


tranquilo que precisou enfrentar provocações de um castelhano
• Lessa: bom de coração, pequeno na estatura, sisudo, de pouca
palavra
• Havia uma venda no Passo do Centurião, por onde passavam os
viajantes
• Um castelhano alto, gadelhudo, que cobrou um queijo de Lessa
por achar que ele é o tal canguçu
• Lessa paga o queijo, divide-o em dois, e uma das metades corta
em fatias e as oferece a todos
• O castelhano, já cheio do queijo, é obrigado por Lessa a comer
sempre mais uma fatia
• Lessa bate com o facão nas orelhas e no corpo do gadelhudo, que
se ajoelha e tem de comer até os farelos
• O castelhano, vomitando-se todo, foge

• Respeito é bom e se deve a todos; não se mexe com quem está


quieto
Boi Velho
• Blau narra um causo que viu E ria-se o inocente, para os
• Homem é bicho mau: é a única certeza que o narrador tem grandes, que estavam por ali,
calados, os diabos, cá pra mim,
• Estância dos Lagoões, dos Silva, gente política com remorsos por aquela
• Dois bois puxavam carretão judiaria com o boi velho, que os
 Dourado, um baio; Cabiúna, um preto havia carregado a todos, tantas
vezes, para a alegria do banho e
 Eram jovens e tinham seu valor das guabirobas, dos araçás, das
• O tempo passa: as crianças cresceram e os bois perderam a pitangas, dos guabijus!…
utilidade — Veja vancê, que desgraçados;
tão ricos… e por um mixe couro
• Já não havia mais banhos no arroio do boi velho!...
• Dourado amanheceu morto um dia, picado por uma cobra — Cuê-pucha!…é mesmo bicho
• Cabiúna dica dias mugindo de saudades acerca do corpo; os mau, o homem!
animais se entendem (Trecho de Boi Velho)
• Cabiúna perde peso e envelhece, ganha o mato e só
reaparece anos depois, num dia de sol
• É reconhecido pelos adultos, que agora eram pais; seu
destino é a morte, diz um dos rapazes
• Um peão é destinado a fazer o serviço e golpeou uma faca
até o cabo no coração do boi manso
• Cabiúna anda até o carretão, posta-se como se fosse puxá-lo
e espera o golpe final do peão; ajoelhou-se, caiu e morreu
• Tudo para não perder o couro, a carne; e logo o bicho é
carneado
Melancia – Coco Verde

• Blau narra uma história que um amigo reduzo lhe contara


• O chiru reduzo fora criado na casa dos Costas e era muito
companheiro de Costinha, um cadete apaixonado por Sia Talapa,
filha do fazendeiro Severo
• Severo desejava que a filha casasse com o primo, pois não aceitava o
namoro dela com Costinha
• O primo era dono de u bolicho grande
• Os amantes prometem-se casar
• O castelhanos bandearam a fronteira e Costinha foi-se enfrentá-los
(Guerra da Cisplatina, 1825-1828), despedindo-se da amada com um
beijo, o que só o reduzo viu
• O casal combinou de trocar recados sob codinomes que só eles
saberiam: Melancia (ela) e Coco Verde (ele)
• Severo se aproveitou da distancia de Costinha e providenciou o
casamento da filha com o Ilhéu, seu sobrinho
• Costinha ficou sabendo do casório ainda no acampamento; ele e o
reduzo encilharam os cavalos e estavam prestes a desertarem quando
o comandante encarrega-o de guiar a tropa
• Deserção era uma desonra que Costinha não queria
• No meio da montaria, o rapaz ordena ao chiru que vá embora avisar
à Melancia que Coco Verde está vivo e retornando
• O reduzo chega em momentos do casamento e justifica que trazia uns cavalos e que
não sabia de Costinha
• O casamento se daria à noite, e o reduzo é convidado pelo patrão a dizer umas
palavras aos noivos
 Ele se posta em frente a Sia Talapa e recita uns versos com os codinomes e
notícias da chegada de Costinha
 Sia Talapa desmaia e o Ilhéu arma uma briga com o reduzo
 O reduzo foge me meio à briga generalizada
• Passou os dias e Costinha retorna à estância de Severo, pedindo a mão da amada;
casaram-se e o reduzo volta como capataz do amigo

Eu venho de lá bem longe,


Da banda do Pau Fincado:
Melancia, coco verde
Te manda muito recado!

E enquanto todos se riram e batiam palmas, enquanto o ilhéu se arreganhava numa gargalhada gostosa, e o velho Severo, mui
jocoso, gritava — gostei, chiru! outra vez! — e enquanto se fazia uma paradita no barulho, a noiva se punha em pé como uma
mola, e com uma mão grudada no braço da ama, já não chorava, tinha um cobreado no rosto e os olhos luziam como duas
estrelas pretas!…
Lindaça ficou, como uma Nossa Senhora!
O Reduzo aproveitou o soflagrante e soltou outro verso:

Na polvadeira da estrada
O teu amor vem da guerra:...
Melancia desbotada!...
Coco verde está na terra!…

(Trecho de Melancia – Coco Verde)


O Anjo da Vitória
• Blau narra a própria história, a violenta transformação de um menino
em homem, “gaudério-gaúcho” durante a Guerra da Cisplatina (1825-
1828), numa derrota brasileira na Batalha do Passo do Rosário ou
Ituzaingó, fronteira com a Argentina
• Blau tem 10 anos e acompanhava seu padrinho, que era capitão e
liderava uma tropa na guerra
• Numa noite, a tropa fora surpreendida pelos castelhanos e houve um
grande tiroteio
• Blau e o chiru chegaram no quartel do Gen. Barbacena sem saber
como
• Gen. José de Abreu: valente em armas, guapo como um leão, batizado
de Anjo da Vitória pela gauchada
• Blau conhece o Major Bento Gonçalves, que seria seu general na
Revolução Farroupilha
• Os castelhanos atearam fogo no matagal à frente das tropas de José de
Abreu, e uma das tropas era comandada pelo padrinho de Blau
• Um novo tiroteio se inicia, sob densa fumaceira, deixando muitos Gen. José de Abreu
mortos e feridos. Um vento forte dissolveu a fumaça e blau percebe
que a própria infantaria havia cometido a chacina por não enxergar a
situação
• Ambos os exércitos se retiram, e o Gen. José de Abreu está morto,
bem como o padrinho de Blau e o chiru
• Blau se vê só, homem e gaúcho de fato agora.
Contrabandista
• Blau narra como testemunha, pois fora convidado ao casório
• Jango Jorge: 90 anos, contrabandista do Ibirocai, conhecia bem o
seu território, todas as querências
 Lutou na batalha de Ituzaingó ao lado de José de
Abreu (referência ao conto Anjo da Vitória)
 Casado com uma mulher muito prendada e formosa
• Blau posa na casa de Jango Jorge às vésperas do casamento da
filha, que estava à espera do noivo e do enxoval
• Jango sai pela madrugada para buscar o enxoval
• Nesse momento, Blau conta um breve histórico do contrabando no
RS
 Antes era tudo livre, não havia perigo em atravessar a
fronteira
 Depois da Guerra das Missões, o governo deu sesmarias a
muitos e o contrabando tornou-se ariscado
 Pólvora, cartas de jogo e prendas de ouro e acessórios de
prata
 Os paisanos das duas terras brigavam, mas os mercadores
se entendiam
 Até as guerras dos Farrapos e do Rosas a fronteira tinha
paz, depois se encheu de espanhóis e gringos emigrados
 Com a Guerra do Paraguai, o dinheiro inflacionou no Brasil
• Jango não retornava e estava tudo pronto, e a filha desesperada
• A comitiva aponta no início da noite com o corpo de Jango, que
trazia o embrulho com o vestido, o véu e as flores da filha
emplastados de sangue em seus braços
Jogo do Osso
• Blau narra um causo que vira a algum tempo durante uma taba de jogo do osso
• O narrador explica sobre os jogos característicos do RS: taba e carreira
• Vendola do Arranhão: o dono era meio espanhol meio gringo, adorava plata e era
trambiqueiro. Preparava os jogos e armava chinaredo para vender canha, comida e doces
• O jogo: a taba de jogo do osso usa o garrão de um boi. A parte achatada é suerte, a
arredondada, culo.
• Não se aposta facão, arma e cavalo
• Osoro e Chico Ruivo se topam a jogar, e este perde uma em cima da outra
• Osoro é um moreno mui milongueiro, compositor e metido às mulheres
• Chico Ruivo é domador e vivia com Lalica, quem aposta quando desafiado pelo adversário,
e perde novamente
• Há um diálogo entre os três, e Chico comunica a china do acontecido, e esta o repudia com
provocações que ferem o orgulho do homem
• Um violeiro toca uma dança chorona e Osoro e Lalica dançam à frente de Chico Ruivo;
uma, duas voltas, falando um ao ouvido do outro, provocando mais ainda Ruivo, que ouvia
tudo
• Eles se beijam enquanto ela deita a cabeça sobre o peito do negro
• Chico de enche de raiva, saca o facão e prende os dois num só golpe até baterem na parede
abraçados
• Chico Ruivo foge e diz: “- Siga o baile!”
• Não se provoca gaúcho de cabeça quente que perdeu tudo na taba
— Jogo o teu ruano contra as duas tambeiras da Lalica!
— E pouco, Chico!... Ainda se fosse a dona!...
— Osoro, não brinca!... Pois olha; jogo!
— O ruano? O que se passou entre aquelas três criaturas, não sei; se
— O mano contra a Lalica! Assim como assim, esta china já está me juntaram num canto do balcão da venda e falaram.
enfarando!... Por certo que o Chico Ruivo disse à china que a jogara
— Pois topo! numa parada de taba; o Osoro só disse uma vez:
Os mirones se entreolharam, boquejando, alguns; eles bem viam que — Eu, se perdesse o ruano, o Chico já ia daqui montado
o gaúcho estava sem liga, que já tinha perdido tudo, o dinheiro, o nele...
cavalo, as botas, um rebenque com argolão de prata; e agora, o outro, A Lalica deu uma risadinha amarela; olhou o Osoro,
o Osoro, para completar o carcheio, ainda tinha topado a última olhou o Chico Ruivo, cuspiu de nojo e disse pra este, na
parada, que era a china... cara:
A cousa ia ser tirana; correu logo voz; em roda dos dois amontoou-se — Sempre és muito baixo!..., guampudo, por gosto!...
a gente. — Olha, guincha, que te grudo as chilenas!...
O Osoro atirou, e deu suerte... — Ixe! Este, agora, é que me encilha, retalhado!...
O Ruivo atirou, e deu suerte... (...)
— Ora, não deu gosto! disse um.
— Outra mão! disse o outro. (Trecho de Jogo do Osso)
E o Ruivo atirou: culo!
O Osoro atirou: suerte!
— Ganhei, aparceiro!
— Pois toma conta, ermâo!
— Tu é que tens de fazer a entrega...
— Não tem veremos... Trato é trato!...
Já ia querendo anoitecer.
Artigos de Fé do Gaúcho
• Blau ensina e enumera os 21 provérbios regionais, do gosto popular, que marcam o
comportamento do bom gaudério
• Cavalos e mulheres: a cultura e os ensinamentos campeiros, coisa que nenhum doutor
saberá ensinar
• Os 10 primeiros falam do cavalo, que é tratado como um ser humano
• 11º: não se empresta mulher, cavalo e arma
 A mulher e seu comportamento
 Briga de mão, é briga brava
• Ob: o gaúcho respeita mais o cavalo, a peleia, a arma, o cachorro do que as mulheres, que
são comparadas às onças (bichos caborteiros, que enganam e são vingativas)
• Este é o próprio comportamento de Blau
1. Relacione os títulos dos contos de João Simões Lopes Neto aos resumos que vêm logo
a seguir, numerando os parênteses corretamente. (0,5 pontos)

1 – O Negro Bonifácio

2 - Deve um queijo!…

3 - Trezentas onças.

4 - No Manantial

( ) Numa venda, um castelhano "gadelhudo" provoca o velho Lessa, que, mesmo "nanico",
acaba por lhe dar uma lição, fazendo-o comer, até vomitar, o produto que Leça comprara por
insistência dele, isso depois de dar uma surra no provocador, abrindo a mão e mostrando-lhe
os cinco mandamentos.

( ) Conto macabro em que a obsessão de Chicão por Maria Altina - que não gostava dele e
estava apaixonada por outro - acaba causando uma desgraça, com a morte dos dois, além da
avó e do pai dela. Esta é a única situação em que, ao contar a história, Blau Nunes lacrimeja.

( ) Durante um briga generalizada, após uma aposta de carreira, Tudinha e sua mãe, Sia
Firmina, aproveitam-se para cumprir sua vingança: a velha joga uma chocolateira de água
fervente sobre o taura, que lhe atravessa com um facão até o esse, e a chinoca candongueira
sobe por cima do homem, vaza seus olhos, retalha sua cara de ponta e corte e, por fim,
distribuncha seus culhões.

( ) Depois de ter perdido a guaiaca na qual levava moedas de ouro do seu patrão, Blau Nunes
resolve se matar, mas comove-se com a visão das Três-Marias refletidas na água, com as
lambidas que o cachorrinho lhe dá nas mãos, com o relincho do seu cavalo e com o cantar de
um grilo, e resolve vender tudo o que tem para pagar a dívida e encarar o patrão pela falha no
serviço.

A sequência correta de numeração dos parênteses, de cima para baixo é:

(A) 3 – 1 – 2 – 4
(B) 2 – 4 – 1 – 3
(C) 1 – 4 – 2 – 3
(D) 4 – 1 – 2 – 3
(E) 3 – 4 – 1 – 2
1. Ainda sobre os Contos Gauchescos, seguem as seguintes afirmações (1 ponto):

I- Em Boi velho, temos a representação de um outro tipo de violência, que surge pela
mudança econômica que a região sofrera em meados do séc. XIX. O velho boi, puxador de
carro, já sem utilidade, Cabiúna, é sacrificado para que se aproveite pelo menos seu couro,
o que identifica a mudança de postura entre homem e animal e a inexistência da
compaixão ao que não tem mais serventia.

II - Artigos de Fé do Gaúcho enumera 21 provérbios regionais, do gosto popular, que


asseveram os valores e os costumes do bom gaudério. Sobre os cavalos e mulheres, o
guasca afirma que essa cultura e os ensinamentos campeiros são coisas que nenhum
doutor saberá ensinar. Aliás, o cavalo é tratado, pelo xiru, como um ser humano, o
cachorro tem todo seu respeito, a arma defende sua honra, e a mulher é igualada às onças,
bicho perigoso e carboteiro.

III - Em O Contrabandista, Blau Nunes é testemunha de uma tragédia. O velho Jango Jorge,
depois de um forte tiroteio com as forças imperiais da fronteira, chega ao casamento de
sua filha, Sia Talapa, com Costinha, já morto e carregando o vestido que havia ido buscar.

Quais afirmações estão corretas? Se houver alguma afirmação que considere incorreta,
justifique-a.

(A) Apenas a I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas I e II.
(D) Apenas II e III.
(E) Todas estão corretas.

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