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Poema Regresso

Estrutura Interna:
O nível fónico-formal ajuda a
compreender os laços de uma
afetividade partilhada que se
estabeleceu desde sempre entre a
Natureza e o sujeito poético. 

Assim, estamos perante um poema


constituído por três estrofes (o número três
é o número da perfeição, da pureza, um
número divino, sendo curioso verificar que o
sujeito poético estabelece uma ligação com
a Terra e expressa através dela o próprio
sentido do sagrado), de quatro versos (o
número quatro simboliza o terrestre, a
totalidade do criado e do revelado, logo a
universalidade). Os versos são,
maioritariamente, decassilábicos heróicos.
Quanto à rima, deparamo-nos com a rima
cruzada (ABAB), nas duas primeiras quadras,
e a rima é interpolada (ABBA), na última
quadra.

Recursos expressivos:

 Adjetivação: “dura” (v.2), “rijos” (v.3), “cansado” (v.4): serve para reforçar a ideia de
austeridade da vida;
  Personificações: “Como os rijos carvalhos me acenaram” (v.3) e “Cantava cada fonte à
sua porta…” (v.5) - indica a alegria da chegada do sujeito poético à sua terra Natal. 
 Frases exclamativas: “Ah! Minha, Serra, minha dura infância!” - transmite o
saudosismo do Sujeito poético e as memórias da infância...

Estrutura Interna:
Este poema começa por demonstrar o carinho e a saudade do poeta perante a sua terra natal,
para a qual regressa com o intuito de fugir ao cansaço e de encontrar a sua felicidade perdida.
Isto é visível quando ele recorre à interjeição “Ah!” e ao determinante possessivo minha (“…
minha serra…”), o qual, para além da ideia de posse, expressa ainda ternura – seja pela “serra”
que o viu nascer, seja pela infância que, mesmo “dura”, nem por isso deixou de ser um período
maravilhoso da sua vida, porque essa infância foi vivida no seio da Natureza, onde não havia
“cansaço.

Para sua ventura, o sujeito poético acaba por ser acolhido de braços abertos pela Natureza,
que animizada comunga da saudade do mesmo. Daí que os “rijos carvalhos” acenem, mal
avistam ao longe o filho que andava perdido mas que pretende agora reencontrar-se consigo
mesmo e com a Terra-mãe.
Também as fontes, personificadas, receberam o poeta com alegria, com cantos. Para os
Gauleses, as fontes eram divindades que tinham a propriedade de curar as feridas e reanimar
os guerreiros mortos, correspondendo exatamente às pretensões de “O poeta [que] voltou!”.
Com o regresso do Poeta, o seu passado de sofrimento, de “desterro” e inutilidade vai sendo
esquecido progressivamente e, até mesmo, os seus versos construídos na “terra morta”
(=inferno da vida) perderam o valor, devido à sua falta de inspiração genesíaca. Deste modo,
podemos verificar a expressividade da oposição entre a “fonte” (=vida/ renascimento) e “terra
morta” (=morte).

Finalmente, o céu, também ele personificado, desvenda toda a sua alegria pelo retorno às
origens da ovelha tresmalhada que, acolhida e acarinhada desta maneira deita-se “no colo dos
penedos” (imagem metafórica deveras expressiva!), a contar as suas “aventuras” e "segredos”
aos deuses do paraíso reconquistado.

Podemos concluir que este poema se assume como um verdadeiro hino à Terra-mãe /
Universo, remete para o canto das coisas elementares, do mundo agrário, razões pelas quais
não teremos qualquer dúvida em inseri-lo na temática da atração telúrica torguiana.

Pedro Morgado, N.º21 do 12.ºD

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