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As opções totalitárias

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, parecia que a democracia liberal


se ia impor em todos os países da Europa. Na realidade, porém, o período entre as
duas guerras acabou por ser um período negro para a demografia europeia.
Por toda a parte, desenvolveram-se os movimentos políticos de extrema-
direita favoráveis ao autoritarismo, isto é, movimentos políticos que atacavam a
democracia parlamentar e propunham a implantação de ditaduras. Na Rússia
soviética, o totalitarismo adquiriu uma feição revolucionária: nasceu da aplicação
do marxismo-leninismo e culminou no estalinismo. Já na Itália e posteriormente na
Alemanha, o Estado totalitário foi produto do fascismo e do nazismo e revestiu um
cariz mais conservador.

Totalitarismo- Sistema político, no qual o poder se concentra numa só


pessoa ou no partido único, cabendo ao Estado o controlo da vida social e individual.

Os fascismos: teoria e práticas

Fascismo- Sistema político instaurado por Mussolini na Itália, a partir de


1922. Profundamente ditatorial, totalitário e repressivo, o fascismo suprimiu as
liberdades individuais e coletivas, defendeu a supremacia do Estado, o
corporativismo, o militarismo e o imperialismo. Por extensão, o termo fascismo
designa também todos os regimes totalitários de direita e até mesmo simplles
regimes autoritários.

Os regimes fascistas rejeitam:


➔ O individualismo, pois em primeiro lugar estava os interesses do
Estado;

➔ A igualdade, pois impõem a ideia de que existem raças superiores e


raças inferiores;

➔ O liberalismo económico, pois privilegia os interesses individuais;

➔ Os comportamentos baseados na razão, o sistema parlamentar,


pois é uma forma de manifestar as fraquezas do poder;

➔ A democracia, pois é um regime considerado fraco e incapaz de


contribuir para o bem do estado;

➔ O comunismo e o socialismo, porque conduziam a divisões na


sociedade que prejudicamvam a afirmação internacional do estado.
Os regimes fascistas defendem:

➔ O militarismo, pois a violência impõem ordem e respeito;

➔ O nacionalismo, pois consideram a Nação como um bem supremo;

➔ O corporativismo, pois é fundamental para ultrapassar as


dificuldades socioeconómicas;

➔ A autarcia, ao defenderem que o Estado deve ser autossuficiente, o


culto do chefe da Nação;

➔ O racismo.

Corporativismo- Forma de organização sociecnómica que defende a


constituição de corpos profissionais (corporações) de trabalhadores,
patrões e serviços, que conciliam os seus interesses de modo a
promoverem a ordem, a paz e a prosperidade, ou seja, o bem-estar
geral.

Os regimes fascistas atuavam de diversas maneiras de forma a impor os seus


ideais. Neste contexto, as milícias armadas e polícias políticas intervinham na
repressão das greves e manifestações, ocorriam manifestações de força e ordem,
em que militares divulgavam os ideais de orgulho nacional e de culto ao chefe da
nação, cativando assim a população, eram ensinados aos jovens as regras do Estado e
do chefe, a guerra e os valores impostos, com o principal objetivo de formar
potenciais servidores do regime e a propaganda ia sendo cada vez mais intensa,
controlando as pessoas, ao impor a sua ideologia e os seus valores, prometendo
ordem e estabilidade, prometendo o fim da agitação social, apelando à
superioridade da raça e prometendo emprego e prosperidade económica.

Para além disso, havia ainda a repressão da inteligência, sendo que se


controlavam as publicações, a rádio, o cinema, os jornais e até se perseguiam os
intelectuais.

Como referido anteriormente, o modelo económico dos regimes fascistas foi a


autarcia, com o propósito de tornar a nação autossuficiente e de resolver o nível de
desemprego. Para tal, foram adotadas políticas económicas de grande intervenção
que respondiam às necessidades do estado: Em Itália, o Estado passou a intervir
mais na economia, em que as corporações ajudavam na planificação mais detalhada
da aquisição de matérias, da quantidade de produção e dos salários. Para além disso,
foram divulgadas campanhas que mostravam os trabalhadores a serem explorados
para conseguirem um nível elevado de produção. Assim, aumentou-se a
produção, o que fez diminuir as importações e o défice, aumentando o
número de exportações e ajudando na evolução de indústrias menos
desenvolvidas.

Elites e enquadramento das massas


Super-homens, os chefes foram promovidos à categoria de heróis.
Simbolizavam o Estado totalitário, encarnavam a Nação e guiavam os seus destinos.
Deviam ser seguidos sem hesitação, prestando-se-lhes um verdadeiro culto que
raiava a idolatria.

Mas as elites não incluíam apenas os chefes. Delas faziam parte a raça
dominante, os soldados e as forças militares, os filiados no partido, os
homens de uma forma geral. Consideradas cidadãs inferiores, às mulheres nazis, que
estavam destinadas a vida de lar e a subordinação ao marido.

Numa sociedade profundamente hierarquizada e rígida, as elites


mereciam o elevado respeito das massas. A obediência cega das massas
obedeceu a prática fascista, avessa a vontade individual e ao espírito crítico.
Começava logo nos primeiros anos com a integração das crianças em organizações.
Na Itália, depois de passarem por sucessivos escalões de formação, os jovens
integravam, a partir dos 18 anos, as Juventudes Fascistas. Na Alemanha,
entravam nas Juventudes Hitlerianas. Eram desta forma dada uma forte
inculcação de valores nacionalistas e anticomunistas nas crianças e jovens.

A arregimentação de italianos e alemães prosseguia na idade adulta, deles


esperando a total adesão e a identificação com o fascismo. Contava-se, para efeito,
com diversas organizações de enquadramento de massas:

➔ O Partido Único (Nacional-Fascista – na Itália, Nacional Socialista –


na Alemanha) e as milícias cuja filiação se tornava indispensável para
o desempenho das funções publicas e militares e de cargos de
responsabilidade;

➔ A Frente do Trabalho Nacional-Socialista e as corporações


italianas, que forneciam aos trabalhadores condições favoráveis na
obtenção de emprego (substituíram os sindicatos livres, entretanto
proibidos);

➔ A Dopolavoro na Itália e a Kraft durch Freud na Alemanha,


associações destinadas a ocupar os tempos livres dos trabalhadores
com atividades recreativas e culturais.
O Estado totalitário fascista investiu muito no controlo das mentes e das
vontades. Uma gigantesca maquina de propaganda, apoiada nas então modernas
técnicas audiovisuais, promovia o culto ao chefe, publicava as realizações do regime e
submetia a cultura a critérios nacionalistas e até racistas.

Propaganda- Conjunto de meios destinados a influenciar a opinião pública.


Nos Estados totalitários, a propaganda procura inculcar nas massas a sua ideologia e
os seus valores culturais e morais. Entre os meios utilizados, citam-se os discursos, a
imprensa, panfletos, cartazes, a rádio, o cinema, a televisão, marchas, canções,
uniformes, emblemas, manifestações.

O culto da força e da violência e a negação dos direitos humanos


A violência esteve no âmago do fascismo e do nazismo. Ambas as ideologias
defenderam o culto da força e a “natureza selvagem” do Homem, afirmando que,
só em contexto de guerra, a Humanidade se revela corajosa e superior. A violência
acompanhou, desde o inicio, a prática fascista.

Na Itália, ainda Mussolini não conquistara o poder e já os esquadristas


semeavam o pânico com as suas 2expedições punitivas”. Incendiaram e pilhavam os
sindicatos e as organizações políticas de esquerda. Só mais tarde, os esquadristas
foram reconhecidos oficialmente como milícias armadas do Partido Nacional-
Fascista. Cabia-lhes vigiar, denunciar e reprimir qualquer ato conspiratório.
Idênticas funções que competiam à policia politica.

O mesmo aparato repressivo e atentatório dos mais elementares direitos


humanos à liberdade e à segurança teve lugar na Alemanha. O Partido Nacional-
Socialista criou as Secções de Assalto (S.A.) e as Secções de Segurança (S.S.),
milícias temidas pela brutalidade das suas ações, em que os espancamentos e a
tortura eram procedimento corrente.

Com a vitória do nazismo em 1933, as milícias e a polícia política (Gestapo)


exerceram um controlo apertado sobre a população e a opinião pública.
A todos envolviam numa atmosfera de suspeita e de denúncia generalizadas.
Incentivavam a vigilância mútua, indo ao ponto de mentalizar as crianças para
apresentarem queixa dos pais que contrariasse as disposições nazis. A criação dos
campos de concentração, completou o dispositivo repressivo do nazismo.
Administrados pela S.S. e pela Gestapo, neles se encerraram os opositores políticos.

A violência racista
Nazismo- Sistema político instaurado por Hitler na Alemanha a partir de
1933. Para além de perfilhar os princípios ideológicos do fascismo, distinguiu-se pelo
racismo violento, fundamentando-o numa suposta superioridade biológica e
espiritual do povo ariano, ao qual pertenceriam os alemães. Ao Estado nazi - erigido
em Estado racial - incumbiria não só a preservação da raça superior, libertando-a do
contacto com os elementos impuros -, mas também a sua expansão - do que resultou
a teoria do “espaço vital” e o imperialismo alemão.

O desrespeito do nazismo pelos direitos humanos atingiu os cumes do


horror com violência do seu racismo. Para Hitler, os povos superiores eram os
arianos, que tinham nos alemães os seus mais puros representantes.

- A eugenia nazi

Obcecados com o apuramento físico e mental da raça ariana, os nazis


promoveram o eugenismo, aplicando as leis da genética na reprodução humana.

O primeiro objetivo do nazismo deveria ser a purificação da raça ariana pela


seleção dos seus membros mais genuínos e eliminação dos impuros.

Para isso, desenvolveram profundos estudos para determinar as


características da raça ariana e aplicaram as conclusões da analise dos tipos
fisionómicos e mentais na depuração eugénica da raça. Isto é, encontrados os
indivíduos perfeitos, machos e fêmeas eram acasalados e submetidos à aplicação
rigorosa das leis da genética a fim de obter novos cidadãos dotados com as
qualidades raciais superiores.

Ao mesmo tempo, deficientes mentais, doentes, portadores de qualquer


deficiência ou debilidade eram esterilizados ou eliminados.

- O antissemitismo

O passo seguinte da política racista alemã era preservar a pureza da raça pela
eliminação das raças inferiores que a contaminavam. Entre todas, a mais inferior era
constituída pelos judeus que acusavam de serem causadores de todos os males da
sociedade. De seguida, fizeram do seu extermínio um dos grandes objetivos
políticos.

Logo em 1933, começou a primeira vaga de perseguições antissemitas:


boicotaram-se as lojas dos judeus, interdita-se o funcionalismo público e as
profissões liberais aos não arianos (no fim do ano, 3000 médicos, 4000 advogados e
2000 artistas estavam sem emprego)excl.

O segundo movimento antijudaico iniciou-se em 1935, com a adoção das


Leis de Nuremberga, para a “proteção do sangue e da honra alemães”: os alemães de
origem judaica foram privados da nacionalidade; o casamento e as relações
sexuais entre arianos e judeus foram proibidos, punindo-se com severidade os
infratores.

Em 1938, realizou-se, a liquidação das empresas judaicas e o confisco dos


seus bens. Nesse ano, ficou tristemente célebre o pogrom da "Noite de Cristal" (9-10
de novembro), em que foram destruídas sinagogas e lojas dos judeus, tendo
muitos deles parado de existir. O segregacionismo foi levado a pontos extremos:
os judeus deixaram de poder exercer qualquer profissão e de frequentar
lugares públicos, passando a ser identificados pelo uso obri gatório e vexatório da
estrela amarela.

A fase mais cruel do antissemitismo chegou com a Segunda Guerra


Mundial. Os nazis puseram em prática o plano de destruição do povo judaico, que se
veio a saltar no genocídio de quase 6 milhões de judeus (homens, mulheres e
crianças) nos campos de concentração. Este extermínio ficou designado por
“solução final do problema judaico”.

Perseguidos nas ruas, aprisionados nas suas casas e encurralados em guetos


onde passaram as maiores provações, os judeus acabaram deportados para campos
de concentração. Campos de trabalho foi a designação que a perversidade nazi
Ihes atribuiu. Campos de morte foi no que se tornaram pelas carências
alimentares e de higiene, pelas doenças, pela brutalidade dos trabalhos forçados,
pelas execuções sumárias, pelos massacres nas câmaras de gás.

Nos campos de concentração terminaram os seus dias milhões de


judeus, mas também muitos ciganos e eslavos, cujo único crime foi o de
não terem nascido arianos.

Antissemitismo - O mesmo que hostilidade aos Judeus. As perseguições aos


Judeus, na Europa, relacionaram-se com motivos religiosos e adensam-se depois que
o cristianismo triunfou como religião oficial do Império Romano (séc. IV),
lembrando que os Judeus não reconheceram Cristo e pediram a Pilatos a sua morte.
Invejados pelos seus negócios e, em especial, pela prática da usura, os Judeus
sofreram perseguições recorrentes a partir da Idade Média, sendo-lhes imputada a
origem da Peste Negra. Na Península Ibérica, os judeus convertidos ("cristãos-
novos") foram as grandes vítimas da Inquisição nos séculos XVI a XVIII. No século
XIX, o antissemitismo assumiu, em alguns países europeus, o carácter de racismo, ao
identificar o povo judeu com uma raça inferior e destruidora. Esta forma de
antissemitismo atingiu o auge em pleno século XX, na Alemanha nazi, origi nando a
morte de milhões de judeus.

Genocídio - Política praticada por um governo visando a eliminação em


massa de grupos étnicos, religiosos, económicos ou políticos. Embora a História
registe múltiplos genocídios, foram os regimes totalitários que levaram a extremos a
prática do genocídio. O genocídio judaico durante a Segunda Guerra Mundial é
também apelidado de Holocausto ou, em hebreu, de Shoah (catástrofe).

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