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Leitura Complementar

Segue um excelente texto sobre o tema Liquidação de Sentença retirado do


sítio do Dizer o Direito (recomendo acompanhar os informativos comentados),
disponível no endereço eletrônico http://www.dizerodireito.com.br, analisando
de forma bem detalhada o julgado REsp 1.549.467-SP, de relatoria da Min. Marco
Aurélio Bellizze, publicado no Informativo 590 do STJ.
Boa leitura!

LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA

É possível a utilização de deduções e presunções na apuração de lucros


cessantes.

É possível ao julgador, na fase de liquidação de sentença por arbitramento,


acolher as conclusões periciais fundadas em presunções e deduções para a
quantificação do prejuízo sofrido pelo credor a título de lucros cessantes. A
utilização de presunções não pode ser afastada de plano, uma vez que esta
espécie de prova é utilizada pelo direito processual nacional como forma de
facilitação de provas difíceis, desde que razoáveis. Na apreciação de lucros
cessantes, o julgador não pode se afastar de forma absoluta de presunções
e deduções, porquanto deverá perquirir acerca dos benefícios legítimos que
não foram realizados por culpa da parte ex adversa. Exigir prova absoluta do
lucro que não ocorreu, seria impor ao lesado o ônus de prova impossível
(prova diabólica). STJ. 3ª Turma. REsp 1.549.467-SP, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 13/9/2016 (Info 590).

O que é sentença líquida?

Segundo posição majoritária, para o CPC, sentença líquida é aquela que define o
quantum debeatur, ou seja, é aquela que fixa exatamente o valor da obrigação
devida.

Sentença deve ser líquida

Em regra, o juiz deverá prolatar a sentença líquida (art. 491). O CPC prevê, no
entanto, duas situações excepcionais em que será autorizado que o magistrado
profira sentença ilíquida. Confira:

REGRA (art. 491, caput): na ação de obrigação de pagar quantia, ainda que a
parte tenha formulado pedido genérico, a decisão deverá definir desde logo a
extensão da obrigação ("quanto se deve"), o índice de correção monetária, a taxa
de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros.

EXCEÇÕES. Em duas situações será permitido que o magistrado deixe de fixar os


parâmetros acima:
a) quando não for possível determinar, de modo definitivo, na sentença, o
montante devido;

b) quando a apuração do valor devido depender da produção de prova de


realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na
sentença.

Ocorrendo um desses dois casos, o valor devido deverá ser apurado por meio de
liquidação de sentença.

O que é a liquidação da sentença?

A liquidação da sentença pode ser conceituada como a etapa do processo que


ocorre após a fase de conhecimento e que se destina a descobrir o valor da
obrigação (quantum debeatur) quando não foi possível fixar essa quantia
diretamente na sentença.

Objetivo da liquidação

Descobrir o quantum debeatur e, assim, permitir o cumprimento da sentença


(execução).

Natureza

A liquidação da sentença não gera um processo autônomo. Trata-se apenas de


uma nova fase do processo. Sua natureza é, portanto, de fase procedimental.

A liquidação tem natureza cognitiva, ou seja, trata-se de uma fase de


conhecimento, não sendo considerada como uma fase executiva (execução).

Espécies

O art. 509 do CPC/2015 prevê apenas duas espécies de liquidação:

POR ARBITRAMENTO PELO PROCEDIMENTO COMUM


(antiga liquidação por artigos)
Ocorre quando for necessária a Ocorre quando for necessário alegar e
realização de uma PERÍCIA para se provar um FATO NOVO para se
descobrir o quantum debeatur. descobrir o quantum debeatur.
A liquidação por arbitramento deverá ser É utilizada quando forem necessários
feita quando: outros meios de prova para se
determinar o valor da condenação, além
a) o magistrado assim determinar na da perícia. Deve-se esclarecer que, na
sentença; liquidação por artigos, também pode ser
b) as partes convencionarem que será realizada perícia se esta for necessária
feito dessa forma; para provar um fato novo. O critério que
c) a natureza do objeto da liquidação a diferencia da liquidação por
exigir que seja feita dessa forma. arbitramento é que na liquidação por
artigos será necessário provar um fato
Requerida a liquidação por novo.
arbitramento, o juiz nomeará o perito e Obs.: fato novo é aquele que não tenha
fixará o prazo para que ele entregue o sido analisado e decidido durante o
seu laudo. processo. Não significa
necessariamente que tenha surgido
após a sentença. Novo = ainda não
apreciado no processo.
Prevista no art. 510: Prevista no art. 511:
Art. 510. Na liquidação por arbitramento, Art. 511. Na liquidação pelo
o juiz intimará as partes para a procedimento comum, o juiz determinará
apresentação de pareceres ou a intimação do requerido, na pessoa de
documentos elucidativos, no prazo que seu advogado ou da sociedade de
fixar, e, caso não possa decidir de advogados a que estiver vinculado,
plano, nomeará perito, observando-se, para, querendo, apresentar contestação
no que couber, o procedimento da prova no prazo de 15 (quinze) dias,
pericial. observando-se, a seguir, no que couber,
o disposto no Livro I da Parte Especial
deste Código.
Ex.: João estava construindo um prédio, Ex.: Pedro foi vítima de infecção
tendo essa construção causado danos hospitalar. O juiz condena o hospital a
na estrutura do imóvel vizinho. O juiz pagar todas as despesas que ele já teve
condena João a indenizar o autor da por conta da moléstia, bem como as que
ação. Na fase de liquidação, um ainda terá após a sentença. Na fase de
engenheiro irá fazer um laudo dos liquidação da sentença, Pedro irá alegar
prejuízos causados. e provar os gastos que teve após a
sentença.

Algumas vezes a sentença traz todos os parâmetros para se encontrar o


quantum debeatur, mas o valor exato da condenação dependerá de alguns
cálculos aritméticos (ex: o juiz condena o réu a pagar 500 mil, acrescidos de
multa de 2%, mais juros legais e correção monetária). Neste caso, será
necessária realizar liquidação?

NÃO. Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o


credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença (§ 2º do art. 509
do CPC).

Nestes casos, o próprio credor (com o auxílio do seu advogado e de programas


existentes na internet) elabora os cálculos e, após eles estarem prontos,
apresenta-os em juízo, instaurando-se logo em seguida o cumprimento de
sentença.

Obs: na época do CPC/1973 isso era chamado de liquidação por mero cálculo
aritmético (liquidação por cálculos do credor). O CPC/2015 deixou claro que esses
cálculos aritméticos não são uma terceira espécie de liquidação e que só existem
atualmente duas espécies: liquidação por arbitramento e pelo procedimento
comum.

Feita a revisão acima, imagine agora a seguinte situação hipotética:

A indústria "AA" ingressou com ação de indenização contra a empresa "ZZ" por
ela ter fornecido moldes errados, o que fez com que houvesse um paralisação na
sua linha de produção.

A demanda foi julgada procedente, tendo a ré sido condenada a pagar:

a) danos emergentes, no valor de R$ 200 mil;


b) lucros cessantes, a serem calculados em liquidação por arbitramento.

Vale ressaltar que quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, o
credor poderá promover simultaneamente:

1) a execução da parte líquida e


2) a liquidação da outra parte (em autos apartados).

Foi o que fez a indústria "AA". Iniciou-se, então, a liquidação por arbitramento.
O perito nomeado pelo juízo calculou que o prejuízo da autora, a título de lucros
cessantes, foi de R$ 300 mil.
O juiz acatou as conclusões da perícia.

A empresa devedora, contudo, não concordou com a decisão do juiz e recorreu


alegando que a perícia chegou a esse valor baseada em presunções e deduções
do quanto seria produzido e vendido e que essa metodologia não poderia ser
aplicada na liquidação.

A tese da empresa devedora foi aceita pelo STJ?

NÃO. Os argumentos da empresa devedora não foram acolhidos pelo STJ e a


decisão do juiz que acolheu a perícia foi mantida.

É possível ao julgador, na fase de liquidação de sentença por arbitramento,


acolher as conclusões periciais fundadas em presunções e deduções para a
quantificação do prejuízo sofrido pelo credor a título de lucros cessantes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.549.467-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado
em 13/9/2016 (Info 590).

As presunções não são apenas admitidas pelo direito processual, como em


algumas situações são fundamentais para a decisão do juiz.
Quando se fala em lucros cessantes estamos tratando sobre o ganho que a parte
prejudicada deixou de obter e que ela conseguiria naturalmente com o exercício
do seu trabalho normal.

Na apuração dos lucros cessantes a utilização de deduções e presunções é, na


maioria dos casos, imprescindível. Isso porque não se pode exigir do credor que
aponte uma conta exata do quanto deixou de lucrar em decorrência do ato ilícito
praticado pelo devedor, sob pena de se exigir do credor a prova de fatos que não
aconteceram. Essa exigência é considerada como prova diabólica e impossível. O
resultado disso seria praticamente negar a reparação integral do dano
considerando que o credor não teria condições de provar algo que não ocorreu
(um lucro que não aconteceu por culpa do devedor).

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