Você está na página 1de 27

61022 - Introdução à Economia (2022/2023)

1. Ciência Económica

Margarita Arantes Salgueiro de Carvalho

Sistemas Económicos de Margarita Carvalho é


disponibilizado sob a Licença Creative Commons-
Atribuição - NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0
1 Internacional
Índice [1. Ciência Económica]

0. Introdução

 Mankiw, N. G (2021). Principles of Economics, 9th ed.*, Cengage:

cap. 2 (“Thinking like an Economist”)

*[nota: outras edições podem ser usadas].

1. Ciência Económica

 Neves, J. C. (2018). Princípios de Economia Política, Babel, 7ª ed.:

pág. 17 a 39.

2
0. Introdução

3
Conceitos básicos - O que é a Economia?

À Economia interessa analisar a dimensão económica da realidade social,


constituindo os “fenómenos económicos” (se assim lhes podemos chamar), uma
abstração dessa realidade.

A Economia é uma perspetiva sobre os problemas do homem e da sociedade.

Apesar das várias definições existentes, o contributo da Economia passa pelo


fornecimento de propostas para uma gestão eficiente dos recursos escassos
disponíveis com vista a alcançar o máximo bem-estar das pessoas.
ECONOMIA

MACROECONOMIA
MICROECONOMIA
analisa o comportamento agregado ou global
estuda o comportamento básico dos agentes
dos agentes económicos e ocupa-se dos
económicos individuais e os mecanismos da
termos como a inflação, o emprego, o produto
formação dos preços.
total de uma economia

4
Conceitos básicos: microeconomia e macroeconomia

 A microeconomia, tal como o início da palavra indicia, estuda o comportamento


das unidades mais pequenas que compõem a Economia: um mercado de um
determinado produto, o consumidor, o produtor, o trabalhador, etc. Centra,
assim, a sua análise no comportamento de entidades individuais como os
mercados, as empresas ou as famílias.

 Em contrapartida, a macroeconomia estuda a economia no seu todo, pondo em


evidência as interações entre as diferentes partes. Preocupa-se com a análise
do comportamento agregado ou global dos agentes económicos. Estuda
problemas como a criação de riqueza, a inflação, o desemprego ou as crises
económicas.

5
Conceitos básicos: economia positiva e normativa

 A economia enquanto ciência depende da sua capacidade de distinguir os


factos e argumentos racionais das meras expressões de opinião. Daí a
importância de distinguir entre economia normativa e economia positiva.

 A economia positiva dedica-se ao estudo objetivo de como uma economia


funciona e para isso usa explicações de natureza científica, assentando por isso
em hipóteses suscetíveis de serem testadas. Estabelece, assim, proposições
factuais (no caso de se verificarem tais circunstâncias, então terão lugar tais
acontecimentos);

 A economia normativa produz recomendações que envolvem juízos de valor.


Oferece prescrições para as ações baseadas em juízos de valor pessoal e
subjetivos. Ocupa-se “do que deveria ser”. À partida, não há respostas certas
nem respostas erradas. Estas questões podem e devem ser debatidas, mas
nunca serão resolvidas pela ciência...

6
A Economia como ciência

A Economia como ciência deverá respeitar as seguintes condições:

 Ter um campo de estudo específico, i.e., ter um objeto de estudo;


 Ter uma terminologia própria, i.e. possuir um corpo de conceitos
específicos;
 Utilizar o método científico na pesquisa.

A Economia preocupa-se com a previsão e explicação de fenómenos.

 (acho que estes dois tópicos podem vir mais à frente, quando se volta a
falar de modelos e assunções...)Utilização de modelos que representam a
realidade;

 Os modelos económicos omitem detalhes da realidade, com vista a


permitir analisar o que deveras importa - Assunções (simplificação da
realidade)

7
A Economia como ciência

Etapas da explicação económica:

1. Decidir sobre o que se deseja explicar ou predizer;

2. Identificar as variáveis relevantes;

3. Especificação das suposições da teoria;

4. Especificação das hipóteses;

5. Testar a teoria comparando as previsões com os acontecimentos;

6. Evidência empírica (pró ou contra as suposições teóricas).

8
Os instrumentos da análise económica

A economia baseia-se num conjunto de conceitos, de técnicas e de procedimentos


que ajudam a analisar e a resolver os problemas económicos.

Variáveis:

Variável económica é algo que influencia as decisões relacionadas com os problemas


económicos fundamentais, ou algo que descreve os resultados dessas decisões.

Modelos:

Os modelos permitem a representação da realidade económica - simplificação da


realidade económica através de hipóteses, pressupostos, condições, argumentos…
(vejam-se os dois exemplos apresentados nas páginas seguintes).

Gráficos:

Os gráficos oferecem uma forma de expressar visualmente ideias que pareceriam


menos claras se descritas através de equações ou palavras. Ao analisar dados
económicos, os gráficos oferecem uma forma de descobrir como as variáveis se
relacionam de facto.
9
Os instrumentos da análise económica

Para responder a diferentes questões, os economistas trabalham com:

 Hipóteses (assunções): simplificam o mundo complexo em que vivemos,


tornando-o mais fácil de entender.

 Modelos económicos: representações simplificadas de uma realidade mais


complexa.

10
Os instrumentos da análise económica

Modelo 1. Diagrama do Fluxo Circular do Rendimento


O Diagrama de fluxo
circular é um modelo
visual da economia que
mostra como os dólares
circulam pelos mercados
entre as famílias e as
empresas.
Inclui os mercados de
bens e serviços e de
fatores de produção.
Trata-se de um modelo
que representa, de forma
simplificada, a interação
das empresas e as
famílias.

Fonte: Mankiw, N. Gregory (2021), Principles of Economics, 9th ed., Cengage.

11
Os instrumentos da análise económica

Modelo 2. Fronteira de Possibilidades de Produção


A fronteira de
possibilidades de
produção mostra as
combinações de produtos
– neste caso, carros e
computadores – que a
economia tem a
possibilidade de produzir,
dados os fatores de
produção e a tecnologia
de produção disponíveis.

[Nota: este ponto será


desenvolvido mais à frente,
pretendendo-se nesta seção
apenas ilustrar a sua
utilidade enquanto
instrumento de análise
económica.
Fonte: Mankiw, N. Gregory (2021), Principles of Economics, 9th ed., Cengage.

12
1. Ciência Económica

3
Objeto de estudo da ciência económica

Já vimos que à Economia interessa analisar a dimensão económica da realidade


social, estudando e explicando o comportamento humano em sociedade
relativamente à produção, às trocas e à utilização de bens e serviços.

O problema fundamental para a Economia, e para a sociedade, é o de conjugar,


por um lado, as necessidades ilimitadas de novos bens e serviços, e, por outro
lado, a escassez de recursos (como sejam, o trabalho, o equipamento, as
máquinas, a terra) necessários à produção desses bens e serviços. Relaciona-se,
assim, com as escolhas a fazer tendo em conta que existem necessidades
ilimitadas e recursos escassos para as satisfazer.

Esta ideia é evidente na expressão de Samuelson e Nordhaus (2005) “A


Economia é o estudo de como as pessoas e a sociedade decidem empregar
recursos escassos, que poderiam ter utilizações alternativas, para produzir bens
variados e para os distribuir para consumo, agora ou no futuro, entre as várias

14 pessoas e grupos da sociedade.”


Princípios (postulados) básicos da Economia

A ciência económica no seu esforço de compreender a realidade parte do princípio


de que os agentes são racionais e os sistemas se equilibram.

Daqui resultam dois postulados:

 Racionalidade: cada pessoa, nas suas decisões, procura escolher aquilo que
lhe parece melhor, tal escolha racional significa escolher a melhor alternativa, a
recusa natural do erro e do desperdício.

 Equilíbrio: sendo os agentes racionais, as várias decisões individuais vão


interagir de forma a encontrar a situação mais equilibrada. Assim, quando
confrontadas, as decisões de vários agentes combinam-se entre si da melhor
maneira possível.

[Nota: Veja-se a este propósito a “História do Autocarro”, apresentada nas páginas 22 a 24,
assim como os desenvolvimentos feitos nas páginas seguintes (p. 24 a 29)].

15
Princípios (postulados) básicos da Economia

A ideia subjacente à “Mão Invisível” de Adam Smith, considerado Pai da Economia,


de que os agentes, ao interagirem no mercado, atuam como se fossem guiados
por uma ‘mão invisível’ que os leva a resultados de mercado desejáveis e que é
evidente no exemplo do Autocarro, permite demonstrar que a sociedade funciona
bem, sem que ninguém se preocupe com isso.

Contudo, o que sucede quando os agentes livres, atuando individualmente, não


resolvem por si a questão de forma satisfatória? O que sucede ao mercado
quando esta “mão invisível” não funciona?

Quando o mercado não funciona bem, se a “mão invisível” falha, então o Estado
poderá intervir através da política económica (este ponto será desenvolvido mais à
frente).

16
Princípios (postulados) básicos da Economia

Através dos postulados da racionalidade e do equilíbrio, a economia explica como é que


uma sociedade consegue pôr a funcionar um sistema (a que chamamos sistema
económico) complexo e poderoso, que nos permite o acesso a uma multiplicidade de
bens.

Este sistema económico complexo funciona de forma contínua e, em cada dia, o


problema económico renova-se em cada tomada de decisão. Nesse sistema cada um
tenta produzir o que melhor sabe fazer e consumir o que mais gosta, de forma a
maximizar o seu bem-estar.

O sistema económico traduz o modo como a sociedade se encontra “organizada” no


sentido de resolver os problemas básicos de qualquer economia. As soluções para os
problemas centrais – O quê?, Como? e Para quem produzir? – de uma sociedade irão
depender, fundamentalmente, do tipo de organização económica vigente e os
instrumentos de que uma sociedade dispõe para a solução do problema económicos
são a tradição, a autoridade e o mercado - veja-se a este propósito as páginas 34 a 39

17 de Neves (2018).
Escassez e Escolha

Como os recursos que uma sociedade dispõe para a produção de bens e


serviços não são ilimitados, o problema da escassez implica que a sociedade
terá necessidade de fazer escolhas. Não se pode produzir tudo o que as
pessoas desejam, são necessários mecanismos que ajudem as sociedades a
escolher quais os bens a produzir e quais as necessidades a satisfazer.

Deste modo, na presença de escassez deparamo-nos sempre com um


Problema Económico

− Multiplicidade de necessidades (“as necessidades humanas têm


natureza ilimitada”);

− Escassez de recursos (Lei da escassez);

Problema fundamental da economia – Problema da Escolha


18
A Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP)

 A Fronteira de Possibilidade de Produção (FPP) é um instrumento útil na


ilustração dos problemas da escassez e da escolha.

 Os recursos à disposição são insuficientes de modo a permitirem a satisfação


integral das necessidades, pelo que todas as sociedades, independentemente
do seu nível de desenvolvimento deparam-se com a necessidade de realizar
escolhas.

 A FPP dá-nos as combinações máximas de produção de dois bens (trata-se de


uma simplificação) que podem ser obtidas por uma economia dados os
conhecimentos tecnológicos e a quantidade de fatores de produção (terra,
trabalho e capital) disponíveis .

Assume portanto:
‒ Pleno emprego de fatores;
‒ Tecnologia constante.

19
A Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP)

 Para representar graficamente a FPP temos que saber que pares de bens são
produzidos, representando nos eixos dos gráficos as quantidades físicas
produzidas de cada bem.

 No exemplo a seguir apresentado, os bens produzidos são manteiga e


espingardas

Possibilidades de Manteiga Espingardas


produção (milhões de (milhares)
quilos)
A 0 15
B 1 14
C 2 12
D 3 9
E 4 5
F 5 0

20
A Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP)

 Cada ponto da FPP representa uma combinação possível face aos recursos e
tecnologia disponíveis na economia.

 A FPP ilustra bem a ideia de eficiência.

A FPP é uma curva


que passa por todas
as combinações
máximas de produção
Espingardas (milhares)

de manteiga e
espingardas para
esta economia

Manteiga (milhões de quilos)

21
A Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP)

 O objetivo é utilizar a técnica mais eficiente, ou seja, a combinação de fatores


de produção que permita obter a máxima produção de ambos os bens com
recursos disponíveis (eficiência produtiva).

 Está-se numa situação de eficiência económica se, para aumentar a produção


de um bem, isso só é possível se se diminuir a quantidade produzida do outro
bem.

‒ Isto significa que nos situamos num ponto sobre a FPP onde se utilizam as
técnicas de produção mais eficientes.

 Já os pontos no interior da FPP, tal como o ponto U, são pontos ineficientes no


sentido em que é possível aumentar a produção de um bem sem diminuir a
produção do outro.

‒ Podemos estar no interior da FPP ou porque não estamos a utilizar


plenamente os recursos de que dispomos,

‒ ou porque não estamos a utilizar a técnica de produção mais eficiente.

22  Estas combinações podem ser produzidas mas não são eficientes.


A Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP)

 O problema da escassez está presente uma vez que não é possível produzir
combinações de produção que estão no exterior da FPP (por exemplo I).

 Sendo a FPP uma curva com inclinação negativa que representa as


combinações máximas de produção , então o aumento da produção de um bem
implica uma diminuição da produção do outro bem.

 A partir da análise da FPP é evidente que ao efetuarmos escolhas há lugar a um


custo, na medida em que ao escolhermos mais de uma coisa e isto implica
termos menos de outra (custo de oportunidade).

 Sendo os recursos disponíveis escassos, então, para produzir mais de um bem,


terá de reduzir-se a produção do outro bem.

 Mais: A configuração côncava da FPP indica-nos que o custo de oportunidade


de um bem cresce à medida que se vai aumentando a produção desse bem.

23
Custo de Oportunidade

Ao efetuar uma escolha, renuncia-se a bens, serviços ou atividades que iriam


proporcionar satisfação.

Custo de Oportunidade

O Custo de Oportunidade representa assim:

― Alternativa/Oportunidade que é preterida quando se faz uma


escolha.

― O valor do que de melhor deixamos de fazer para fazer o que


fizemos.

 A expressão “Não há almoços grátis” traduz esta ideia ao querer dizer que
todas as escolhas têm um custo, um custo de oportunidade.

24
Vantagens absolutas e comparativas

 O conceito de custo de oportunidade pode ser aplicado às teorias das


vantagens absolutas e comparativas (estas teorias estão na base das teorias
explicativas do comércio internacional).

“O comércio pode ser bom para todos” (Mankiw, 2021)

Por que pessoas e países optam por ser interdependentes?

 O sistema económico centra-se na troca onde cada um tem liberdade de


produzir e consumir o que deseja.

 Na ausência de comercio, só poderíamos consumir aquilo que produzíssemos.


Assim, o comércio permite que todos aproveitem uma maior quantidade e
variedade de bens e serviços.

25
Vantagens absolutas e comparativas

 Os países beneficiam com o comércio e a especialização (ao vender os bens


que produzem a um preço melhor no exterior e ao adquirir uma maior variedade
de bens e serviços a um preço menor do que poderia ser se produzido
domesticamente).

 A teoria das vantagens absolutas (desenvolvida por Adam Smith, 1776) explica
os ganhos do comércio internacional no caso em que um dos países é mais
eficiente do que o outro, em termos absolutos.

 Falamos de vantagem absoluta quando, na produção de bem, são empregues


menos fatores produtivos (recursos) comparativamente a outro produtor. A
vantagem absoluta permite comparar a produtividade de uma pessoa, país ou
empresa com a de outra.

 Cada país deve assim especializar-se nos bens que produz de forma mais
eficiente (com custos inferiores ou com produtividade superior).

26
Vantagens absolutas e comparativas

 David Ricardo (1817), com o princípio da vantagem comparativa, veio explicar


que existem ganhos com o comércio internacional mesmo quando um dos
países é, em termos absolutos, mais eficiente do que o outro na produção de
todos os bens.

 A especialização far-se-á com base na eficiência relativa, i.e., do custo de


oportunidade mais baixo.

 O comércio pode assim beneficiar todos os membros da sociedade porque


permite que os agentes se especializem em atividades nas quais têm uma
vantagem comparativa.

[NOTA: as temáticas dos “ganhos de comércio” e “vantagem comparativa” são desenvolvidas


nas páginas 162 a 167 de Neves (2018)].

27

Você também pode gostar