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SISTEMA NERVOSO:

INICIANDO A CONVERSA
Rafael Appel Flores
Silvio Luiz Indrusiak Weiss

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O cérebro é um órgão que sempre intrigou e despertou a
curiosidade dos cientistas ao longo dos tempos e, embora muito se
saiba sobre o seu funcionamento, ainda existem muitos segredos a
serem desvendados.
Então, vamos iniciar o estudo que mais tem impactado o mundo
contemporâneo: o estudo do cérebro!

Em primeiro lugar, é importante que você entenda o que é o Sistema Nervoso


(SN), o cérebro e suas funções para o funcionamento do organismo e
manutenção da vida em geral.

2 Sistema nervoso: Iniciando a conversa


Essa é pra Preste muita atenção, porque é a partir dessas infor-
registrar! mações que você vai compreender o sistema nervoso
como um conjunto de órgãos com capacidades quase
ilimitadas de auto-organização e de aprendizado. Em
outras palavras, você vai compreender aqui como o
cérebro humano aprende e como otimizar esse proces-
so de aprendizado em exemplos práticos, aplicados à
sala de aula!

Apesar da complexidade do assunto, a ideia é dar os primeiros passos


e, aos poucos, aprofundar os conhecimentos nessa área. Então, fique
atento, porque a partir de agora você já está transformando seu cérebro
por meio de novas experiências em tempo real. Esperamos que essas
lembranças sejam duradouras!

Sistema Nervoso (SN)

Para entender o sistema nervoso (SN) é importante esclarecer aspectos mais


amplos da vida e da evolução. O primeiro desses é o fato de nós, seres humanos,
fazermos parte de uma cadeia biológica: a dos seres vivos.
Uma das características comuns a todos esses organismos é ser composto
por células. As células podem ser definidas como as unidades estruturais e
funcionais de todos os seres vivos – de plantas e insetos a mamíferos complexos.
Essas estruturas são vivas e, além de carregar a informação genética de um
determinado organismo, desempenham funções relacionadas ao metabolismo
(equilíbrio interno do corpo), reprodução, mobilidade e interação com o
ambiente.

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Células

Mas, como se sabe, a evolução adapta e amplia as funções


celulares para que o organismo interaja com mais eficácia em seu
meio, garantindo sua sobrevivência (defesa, alimentação etc.) e
perpetuação da espécie (reprodução). Então, o que no início são
células especializadas desempenhando suas funções, posteriormente
tornam-se tecidos, órgãos e sistemas orgânicos complexos, como o
sistema nervoso humano.
As principais funções do sistema nervoso que serão estudadas
aqui foram definidas antes mesmo de ele existir, decorrente da
necessidade do organismo interagir de forma mais especializada
e eficiente com o ambiente em que estava inserido. Foi assim
que surgiram as primeiras células nervosas, com funções bem
primitivas e sem um sistema nervoso constituído, apenas para
captar as informações do meio e dar uma resposta motora. Já foram
encontradas células nervosas sem um sistema nervoso estruturado,
por exemplo, na água viva, um organismo muito antigo encontrado
desde bem cedo nos oceanos primitivos do planeta.

4 Sistema nervoso: Iniciando a conversa


Essa é pra Aqui é fundamental entender a relação dinâmica de interdepen-
dência que se estabelece entre o organismo e seu meio, pois, à
registrar! medida que o meio pressiona as mudanças no organismo, o orga-
nismo também provoca modificações no meio.

Pode-se exemplificar esta relação com a tecnologia. O homem


cria tecnologia desde o surgimento da espécie humana (ferra-
mentas, equipamentos, smartphones, softwares, processos de
gestão etc.). Ao interagir com a mais variada gama de produção
tecnológica, o próprio homem, os grupos sociais e toda a civili-
zação também mudam de forma contínua e recorrente. Isso só
é possível devido à dinâmica de organização do cérebro huma-
no, sua ilimitada capacidade de aprendizado e às propriedades
adaptativas que ele possui.

Essa capacidade adaptativa


e evolutiva pode ser
aplicável a qualquer sistema
de nosso organismo. A
relação recíproca do meio
ambiente com o organismo
(e vice-versa) pode provocar
mudanças funcionais
significativas, que vão
desde o desenvolvimento
de sistemas complexos,
como sistema nervoso,
até o aperfeiçoamento
de ações motoras mais
complexas. A evolução do
homem primitivo para uma
locomoção bípede (em dois
pés) ou o desenvolvimento
do movimento de pinça para
pegar pequenos objetos
com as mãos são exemplos
clássicos da evolução
diretamente conectada às
necessidades que o indivíduo
possui em seu meio ambiente.

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Mas, você pode estar pensando
agora: não vivo apenas para
isso, nem mesmo penso na
“sobrevivência” em meu cotidiano
e sequer me preocupo com a
“perpetuação da espécie” ou com
outras questões relacionadas a isso.

Você tem razão! Mas não é completamente verdadeiro pensar


que você não vive para isso. Mesmo que as “áreas conscientes”
do seu cérebro “não se preocupem com isso” e estejam
envolvidas com o trabalho, com o aprendizado da música, da
matemática, o ser humano possui um conjunto de outras regiões
que são responsáveis por essas funções, executando-as com
perfeição e garantindo o funcionamento adequado do nosso
metabolismo (equilíbrio homeostático) e nossa sobrevivência. É
por isso que ficamos “liberados” para outras funções relevantes
relacionadas ao aprendizado, à produtividade, à criatividade, aos
relacionamentos e às interações sociais, por exemplo.

Todos esses processos neurais primitivos desdobram-se sem


necessitarmos “dar atenção” a eles, pois são resolvidos pelo SN
em outras instâncias. Caso aconteçam imprevistos ou essas áreas
“não consigam resolvê-los”, nossa área consciente interfere para
resolver e propor soluções criativas aos problemas; é quando nós
tomamos “pé da situação”.

6 Sistema nervoso: Iniciando a conversa


Exemplo
Quando você caminha ou corre, não é necessário que se concentre a cada
instante na coordenação do passo a passo sucessivo dos pés e pernas. Você
decide andar ou correr por decisão do seu cérebro, que envia as informações
até os músculos de suas pernas, que executam o movimento com perfeição.
Esse movimento é totalmente coordenado, e, assim, você é liberado para falar
ao telefone, conversar com uma companhia ou apreciar a paisagem enquanto
corre. Caso você tropece ou encontre um obstáculo do qual precise desviar,
parar ou acelerar, é o seu cérebro que decide a melhor estratégia para manter
sua integridade e conservação. Isso é o que queremos dizer com “tomar pé da
situação”.

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Em sua vida, você vai tomar decisões diante das mais diversas situações, planejadas
ou não, avaliando momento a momento sua “sobrevivência” e o melhor “custo-
benefício” para você, sua família e seu negócio, por exemplo. Essa avaliação
envolve uma complexa rede de informações neurais que se correspondem quase
instantaneamente, formada por suas experiências e vivências, seu aprendizado e suas
memórias armazenadas.
Agora você pode estar pensando que seu cérebro possui uma capacidade limitada
para memorizar experiências e conhecimentos, e isso pode prejudicar sua tomada
de decisão. Sim, isso é verdade! Mas também é verdade que “novos neurônios”
nascem no hipocampo cerebral (principais áreas da memória) ao longo de toda a vida,
compensando essa limitação.

Essa é pra
registrar!
Então, seu cérebro faz sempre uma escolha das infor-
mações que irá “reter” para uso contínuo e daquelas
que podem “adormecer”. Conhecer esse processo na
educação é fundamental!

Você também vai observar que, quanto mais “experimentamos” o conhecimento


(não é sinônimo de decorar!) por meio de linguagens verbais e não verbais, mais
retemos informações na memória de longo prazo. E esta é uma capacidade
exclusivamente humana! Ao longo do nosso desenvolvimento enquanto
espécie, não aprendemos apenas a partir das vivências e conhecimentos, mas
aprendemos também por que é necessário aprender. Isso quer dizer que cada
novo aprendizado para o ser humano deve torná-lo mais consciente de que
ele existe e compartilha um mundo em coletividade com outras pessoas, com
a sociedade. Isso cada vez mais turbina nosso cérebro, possibilitando uma
separação enorme em relação aos outros seres vivos.

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Então como nos diferenciamos
tanto de outras espécies? Como
nosso cérebro adquiriu tantos
recursos cognitivos? Como foi
possível, tendo em vista nossa
proximidade genética e biológica
com algumas espécies, termos nos
distanciado tanto delas?

A resposta está na maneira como


surgiu na nossa espécie um processo
evolutivo multidimensional
simultâneo e com várias “frentes de
interação” do organismo com seu meio.
A esse processo os estudiosos dão o
nome de hominização. Sua menção
aqui serve para buscarmos algumas
explicações sobre as causas de tamanha
diferenciação e para compreendermos
o que é “ser” humano, tendo em vista
a complexidade desse processo e
não apenas as alterações biológicas.
A análise da hominização dá uma
importante “pista” para o trabalho
educacional.

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Para entender a hominização como um processo multidimensional,
é necessário um exercício de análise. Deve-se observar um longo
período de tempo (em torno de 1,5 a 2 milhão de anos) em
que diversos eventos ambientais e biológicos atingiram nosso
comportamento e nossas estruturas corporais, provocando alterações
em nossa constituição morfofisiológica, química, genética, assim
como no meio, de forma recorrente. A figura a seguir reforça a
natureza desses fatores multidimensionais, enfatizando as alterações
da morfofisiologia humana que tiveram consequências definitivas
no ambiente. Por outro lado, mesmo sem mencioná-las na figura,
as constantes alterações do clima, eventos geológicos, entre outros,
pressionaram constantemente a evolução e interagiram com os
elementos do esquema.

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Figura 01 – Alguns fatores nas interações multifuncionais
simultâneas no processo de hominização
Fonte: Adaptado de Sanvito (1991)

Desde aquele tempo até os dias de hoje nós criamos técnicas,


ferramentas e instrumentos inovadores para funcionarem
como apoio ou como uma extensão dos nossos órgãos e
que foram capazes de substituir nossos esforços. Exemplo
bem simples seria uma colher ampliando a capacidade da
mão ou uma pedra cortante substituindo o trabalho dos
dentes no corte da carne. Em um contexto mais atual, seria
o computador como apêndice do cérebro, ampliando nossa
capacidade de armazenar e processar informações.

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Portanto, em substituição à vida
selvagem e primitiva, o aumento
dos recursos cerebrais possibilitou
à civilização desenvolver-se em
todos os aspectos, inclusive a
voltar-se para si e conhecer-se
melhor. Também possibilitou
um controle quase total sobre
os recursos necessários à
nossa sobrevivência, tais como
abastecimento, segurança e
saúde, liberando-nos para outros
empreendimentos mais voltados
ao lazer, às atividades físicas, aos
relacionamentos e ao aprendizado.

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REFERÊNCIAS
DETHIER, V.; STELLAR, E. Comportamento animal. São Paulo: Edgard Blucher: USP,
1973.

ECCLES, J. A evolução do cérebro: a criação do eu. Lisboa: Instituto Piaget, 1989.

HERCULANO-HOUZEL, S. A vantagem humana. São Paulo: Companhia das Letras,


2017.

MATURANA, H.; VARELA, F. A árvore do conhecimento. São Paulo: Palas Athena,


2001.

NAPIER, J. A mão do homem: anatomia, função, evolução. Rio de Janeiro: Zahar,


1983.

SANVITO, W. O cérebro e suas vertentes. 2. ed. São Paulo: Roca, 1991.

USHERWOOD, P. Sistemas nervosos. São Paulo: Edusp, 1977.

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