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APRESENTAÇÃO

DE APOIO

O QUANTO PODEMOS CONFIAR


NAS NOSSAS MEMÓRIAS?
Ementa da disciplina
Estudo dos mecanismos neuroquímicos e comportamentais frente a aquisição, consolidação e
extinção da memória e seu papel nas interações socioculturais. Estudo das falsas memórias e
de suas implicações.
Professores
CRISTIANE REGINA GUERINO FURINI
Professora PUCRS

Possui graduação em Farmácia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006), Ênfase em Bioquímica - Análises
Clínicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2009). Mestre em Medicina e Ciências da Saúde pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (2009). Doutorado em Medicina e Ciências da Saúde pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (2012). Pós-Doutorado PNPD pela PUCRS. Atualmente, professora da Escola de Medicina e pesquisadora do Centro de
Memória, Instituto do Cérebro, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, tendo como tema principal de trabalho o
estudo dos mecanismos farmacológicos e bioquímicos envolvidos na consolidação, persistência, extinção e reconsolidação de
memórias.
Encontros e resumo da disciplina
AULA 3

Pode-se traçar um paralelo entre


a memória humana e a memória
dos computadores.

Há lógicas matemáticas na
biologia humana.

O potencial de ação é crucial


no processo da sinapse.

CRISTIANE REGINA GUERINO FURINI


Professora PUCRS
"A memória é talvez a capacidade mais crítica que
temos como seres humanos. Ela não é
simplesmente um registro de experiências; é a
base de nosso conhecimento do mundo, nossas
habilidades, nossas esperanças e sonhos e nossa James McGaugh
capacidade de interagir com os outros e, assim, 1931

influenciar nossos destinos. A investigação de


como o cérebro nos permite conectar nossa
existência presente com nosso passado e futuro
é, portanto, essencial para a compreensão da
natureza humana".
"Cada um de nós é quem é
porque tem suas próprias
memórias"

Ivan Izquierdo
1937-2021
Como as memórias são
formadas?
Aquisição

Consolidação

Evocação
Aquisição

Visão, audição, paladar, olfato e tato

A aprendizagem é o processo
de aquisição das novas
informações que vão ser
retidas na memória.
Consolidação
Processo dependente do tempo e pelo qual
novas memórias são estabilizadas em
memórias de longa duração.
Evocação
Recordar/lembrar de uma memória

Não se pode lembrar algo que não foi


consolidado.

Permite modificar a memória - fazer novas


associações.
Aprendizagem:
É o processo de aquisição de informações.

Memória:
É a capacidade de adquirir, armazenar e
recuperar informações.
Neurônios
• 86 bilhões de neurônios.

• Recebem, transmitem, armazenam e resgatam as


informações.

• Pode-se dizer que a sinapse é a sede celular da


aprendizagem e da memória.

• O local onde se dão os mecanismos moleculares para


prolongar a permanência de uma informação captada ou
observada.
Memória

Memória de trabalho –
Perdura por alguns segundos.
Não forma arquivo.
Memória de trabalho
• Muito rápida e fugaz.

• Atua como um gerenciador da realidade.


https://neurosciencenews.com/working-memory-prefrontal-cortex-2108/

• Determina o contexto em que fatos, acontecimentos ou


outros tipos de informações ocorrem.

• E se vale a pena ou não fazer uma nova memória da


informação ou se a informação já se encontra nos “arquivos”.
Memória de trabalho
• Seu tempo de armazenamento é apenas o
suficiente para que a informação seja
utilizada para conclusão de uma tarefa.

•Após concluído o procedimento que


demandava a informação, ela é descartada.

Assim, a memória de trabalho é o alicerce da


aprendizagem, pois determina a capacidade de processar
informações, seguir instruções e acompanhar atividades.
Memória

Memória de curta duração



Perdura no máximo 6 horas.
Forma um arquivo
temporário.
Memória
Memória de longa duração –

Perdura por muitas horas, dias,


semanas ou anos.

Formação de novas conexões sinápticas


entre as células neuronais ou alterações
das existentes - formação de redes
neurais.
http://www.g2conline.org/3dbrain/
Episódica
O conjunto de experiências pessoais passadas
que ocorreram em um determinado momento
e lugar.
https://blogs.correiobraziliense.com.br/vrum/wp-
content/uploads/sites/51/2020/04/ayrton-senna-
550x366.jpg

Flashbulb memories (memórias de flash): Memórias detalhadas de


quando e onde ouvimos falar de eventos chocantes.
Semântica
Fatos e conceitos associados que
compõem nosso conhecimento geral do
mundo.
Neocórtex

Não associativa e priming


Habituação:
A exposição repetida ou
prolongada a um estímulo Vias reflexas
resulta em uma redução
gradual na resposta. Priming:
Capacidade de pensar em um
estímulo, como uma palavra
Sensibilização:
Resposta vigorosa a ou objeto, como resultado de
quase todo estímulo, uma exposição recente ao
depois de submetido a estímulo.
um estímulo ameaçador. escola es_ _la
ausente aus_ _ _ _
Estriado
Procedimentos
A aquisição gradual de habilidades como
resultado da prática ou “saber fazer” as
coisas. Cerebelo
Associativa - condicionamento clássico
Quando um estímulo evoca uma resposta por estar
emparelhado com um estímulo que naturalmente evoca uma
resposta.

Ivan Pavlov
1849-1936
Schacter et al., Psychology, 2016.
Evolutivamente, essa forma de aprendizado
é adaptativa: é benéfico conhecer – e, assim,
evitar – pistas contextuais que podem
prever resultados perigosos.

Condicionamento aversivo -
condicionamento de medo
Um evento aversivo desencadeia medo
intenso e pistas contextuais no ambiente
(p.ex., visões, sons e cheiros) tornam-se
condicionalmente associadas ao trauma.
O medo é extremamente importante e a
amígdala tem papel central no circuito neural
envolvido na regulação do condicionamento
do medo.
Amígdala

Mas se desregulado
pode levar a
transtornos como
fobias, pânico e TEPT.
Esquema dos
circuitos neurais
envolvidos no
condicionamento
do medo e no
transtorno de
estresse pós-
traumático.

Ross et al., 2017.


H. M. - Henry G. Molaison

Acidente bicicleta – 7 anos

Epilepsia intratável -
Cirurgia de remoção
dos lobos temporais mediais em
1953
William Scoville
Brenda Milner

• Começou acompanhar H. M. em 1957.


1918
• Verificou que a epilepsia estava controlada.

• Mas H. M. esquecia eventos diários, tão rápido


quanto eles ocorriam.

• Entretanto, não apresentava perda intelectual ou de


percepção.
“O que você faz durante um dia típico?”

H.M.: "Veja, isso é difícil – o que eu não faço. . . Eu não


me lembro das coisas.”

“Você sabe o que fez ontem?”

H.M.: "Não, eu não sei."

“Que tal esta manhã?”

H.M.: “Eu não me lembro disso.”

"Você poderia me dizer o que você almoçou hoje?"

H.M.: “Não sei, digo a verdade. Eu não sei-"

“O que você acha que vai fazer amanhã?”


Corkin, S. 2013.
H.M.: "O que for benéfico".
H. M. Controle

https://doi.org/10.1523/JNEUROSCI.17-10-03964.1997

10.1146/annurev-neuro-061010-113720
Traçado de estrela no espelho
Tarefa motora complexa
H.M. aprendeu após 10 tentativas

Sugeriu assim que há mais de


um tipo de memória no
cérebro e que alguns tipos de
memórias estavam fora do
lobo temporal medial.
A visão que emergiu do
estudo de H.M. e outros
pacientes é que as https://doi.org/10.1038/nrn2335

estruturas do lobo temporal

http://www.g2conline.org/3dbrain/
medial são especializadas
em estabelecer e manter
memórias explícitas.
Neurônios do hipocampo de ratos que
respondiam a lugares específicos das
redondezas por onde andavam (gaiola, campo
aberto) – Células de lugar (place cells)
John O’Keefe
As células de grade (grid cells) são May-Britt e
encontradas no córtex entorrinal e formam Edvard Moser
uma grade regular para mapear a localização Nobel de Medicina - 2014
do animal em seu ambiente.

As células de lugar e as células de


grade no hipocampo posterior e córtex
entorrinal criam mapas cognitivos
espaciais.
Motoristas de táxi de Londres que aprendem o nome e a posição de
milhares de ruas na cidade para seus exames aumentaram
significativamente o volume hipocampal após concluir o treinamento.
Modulação da memória
Estresse
Alerta
Motivação
Recompensa
Interesse
Atenção
Novidade - preferência por estímulos desconhecidos
Experiências prévias
Sentido e significado - importância dada para a
informação
Lembra o que Lembra o que Lembra onde e Não lembra
e onde e não onde não o que
Aquisição

ç ã o
iliza
Consolidação es ta b
es
D
Reconsolidação
Evocação
Rea Extinção
tiva
pro çã o
lon
gad
a
Extinção
Nova memória.

Diminuição gradativa da resposta de medo.

Não é esquecimento, pois a memória original pode ser


expressa novamente com o passar do tempo através de
dicas.

Terapia comportamental – terapia de exposição.


Condicionamento clássico

Ivan Pavlov
1849-1936

Schacter et al., Psychology, 2016.


As memórias de medo também
podem ser extintas pela apresentação
repetida do CS sem o US durante o
treino de extinção. Myers e Davis, 2002
TEPT - psicoterapia para reverter o impacto do
condicionamento do medo (por exemplo, terapia de
exposição).

Ao longo do tempo, a exposição ao


estímulo condicionado em um
ambiente seguro, sem o resultado
adverso esperado pode levar à
extinção (o estímulo condicionado não
está mais associado ao
incondicionado).
10.1152/physrev.00018.2015

O aprendizado da extinção
depende principalmente do
hipocampo, da amígdala e do
córtex pré-frontal
ventromedial.
10.1073/pnas.1400423111
Uma breve exposição a um
novo ambiente aumenta a
extinção do medo
condicionado contexto.
47 adultos
Extinção facilitada pela
exposição a uma novidade.
https://doi.org/10.1038/s41386-021-01222-z

90 indivíduos com TEPT


Hidrocortisona, D-cicloserina ou placebo
foram administrados uma hora antes do
aprendizado de extinção.

Uma única dose de HC e DCS facilitou a


aprendizagem da extinção
em participantes com sintomas de
TEPT.
https://doi.org/10.1017/S0033291719001387

2020 Jul;50(9):1442-1451.

TEPT - maior ativação do


CPFm, incluindo COF, CCA,
CPFvm, ínsula posterior e giro
temporal superior, hipocampo
posterior e hipocampo
anterior estendendo-se para a
amígdala durante o
condicionamento.
https://doi.org/10.1017/S0033291719001387

2020 Jul;50(9):1442-1451.

TEPT - maior ativação do giro


parahipocampal estendendo-se
à amígdala e hipocampo
anterior, córtex occipital
médio, ativação bilateral do
córtex insular médio-posterior
durante o aprendizado de
extinção.
https://doi.org/10.1017/S0033291719001387

2020 Jul;50(9):1442-1451.

TEPT- maior ativação da


amígdala estendendo-se
para o hipocampo
anterior, CCA dorsal,
vmPFC e COF durante a
evocação da extinção.
10.1016/j.neuroimage.2021.118261

Conectividade média para todas as


regiões do cérebro mostrando
conectividade induzida pela
Regiões do cérebro aprendizagem de extinção.
com diferença na
conectividade regional
durante a fase tardia
do aprendizado de
extinção.
10.1016/j.neuroimage.2021.118261

Regiões do cérebro
exibindo padrões de
conectividade alterados
em todas as fases
experimentais.
10.1016/j.neuroimage.2021.118261

Os resultados mostram que o engrama da extinção da


memória de medo envolve uma grande rede de
circuitos cerebrais que se estende além do 'circuito do
medo' tradicionalmente estudado.
Se é verdade que a memória nos permite, na
maioria das situações, acessar a informação
sobre o passado, também não é menos verdade
que esses registros raramente são uma cópia fiel
da realidade que anteriormente vivenciamos.
Assim, quando falamos de memória devemos
assumir que esta é, por natureza,
reconstrutiva e não um sistema semelhante a
uma câmera de vídeo que permite gravar os
acontecimentos e, mais tarde, revê-los tal e
qual como ocorreram.
Será que nossas memórias são
mesmo confiáveis????

DebbiSmirnoff
Falsas memórias

Capacidade de lembrar eventos que na


realidade não ocorreram.

É uma lembrança que parece real, mas que


na verdade é fabricada em parte ou no todo.
Importante:

As falsas memórias não são mentiras ou


fantasias.

Elas são semelhantes às memórias verdadeiras


tanto no que diz respeito a sua base cognitiva
quanto a base neurofisiológica.
Elas se diferenciam das memórias verdadeiras por
serem compostas no todo ou em parte por
lembranças de informações ou eventos que na
realidade não ocorreram.

Ou seja, são frutos do funcionamento normal de


nossa memória.
Uma jovem de 14 anos perde sua mãe afogada na piscina de
casa.
30 anos depois um tio comenta que ela havia sido a primeira
a encontrar a mãe boiando na piscina.
A partir desse momento, a jovem passa a lembrar
vividamente a cena.

Entretanto, alguns dias depois, seu irmão telefona para lhe


dizer que o tio havia se confundido e, que na verdade, a mãe
havia sido encontrada na piscina pela tia.
Essa jovem era Elizabeth Loftus
renomada neurocientista que pesquisa
sobre falsas memórias.
Elizabeth Loftus
1944
Um ponto importante levantado por ela é que:

"A ideia mais assustadora é que aquilo em que nós


acreditamos com todo nosso coração pode não ser
necessariamente verdade".
Psychology Today (Neimark, 1996).
Histórico:

Utilizou pela primeira vez o termo


Falsas lembranças em 1881.

Ao estudar o caso de Louis, um homem


Théodule-Armand Ribot de 34 anos, com lembranças de
(1839-1916)
eventos que nunca haviam ocorrido.
Categorizou a sugestão na memória em dois tipos:

Autossugerida:
fruto de processos internos do indivíduo

Alfred Binet
Deliberadamente sugerida:
(1857-1911)
provém do ambiente

Sendo as distorções da memória advindas desses dois processos,


denominadas de falsas memórias espontâneas e sugeridas
(Loftus et al., 1978).
Verificou que quando as pessoas leem
histórias, às vezes se lembram falsamente de
detalhes específicos que nunca foram
apresentados.

Frederic C. Bartlett Descreveu a recordação como sendo um


(1886-1969)
processo reconstrutivo, baseado em
esquemas mentais e no conhecimento
geral prévio da pessoa.
Na década de 50, propôs um procedimento com uma série de
lista de palavras, associadas a uma palavra que não era
incluída no material do estudo.

Constatou que muitas das listas produziam falsas recordações


da palavra associada mas não apresentada na lista.
James Deese
1921-1999
Na década de 90, Roediger e McDermott adaptaram
24 listas de Deese, com o objetivo de verificar a
formação de falsas memórias.

Hoje conhecido como Paradigma DRM.


(Deese, 1959; Roediger & McDermott, 1995)
Paradigma DRM

Lista de palavras: Das quais uma palavra crítica


Estado (cidade) está faltando.
Capital
São realizados testes de reconhecimento
Ruas
ou recordação.
Metrô
Bairros
A lembrança ou reconhecimento dessa
palavra ausente (geralmente chamada de
distração crítica ou atração crítica) é a
medida de memória falsa.
Na década de 70, novo procedimento para
estudo das falsas memórias:

Procedimento de Sugestão de Falsa


Informação
Elizabeth Loftus
1944
- Cena de um acidente de carro por um motorista que não
respeitou a placa: "parada obrigatória".

- O experimentador sugeria alterações quanto


ao que havia sido visto na cena original e em
outro momento questionava o participante
sobre a cena original.
“Sobre a velocidade que os carros
estavam indo quando eles (se
encostaram / bateram / chocaram /
colidiram / esmagaram) um com o
outro?”

A velocidade estimada foi afetada pelo


verbo utilizado.
O verbo implicava informações sobre a
velocidade, o que afetava
sistematicamente a memória dos
participantes sobre o acidente.
Uma semana depois, sem ver o filme novamente, eles
responderam a dez perguntas, uma das quais foi
colocada aleatoriamente na lista:

“Você viu algum vidro quebrado? Sim ou não?"

Importante: Não havia vidro quebrado no filme original.


Os participantes que ao
serem questionados
receberam o verbo smashed
(esmagaram) foram mais
propensos a dizer "sim" à
pergunta
sobre o quão rápido os
carros estavam indo quando
bateram.

As perguntas feitas após um evento podem causar uma


reconstrução da memória daquele evento.
Com este e outros estudos
desenvolvidos, Elizabeth Loftus e
colaboradores constituíram um
marco incontornável na história do
estudo das falsas memórias.
As falsas memórias podem ocorrer devido a dois
processos:

- Devido a uma distorção endógena.


- Falsa informação oferecida pelo ambiente externo.

Classificadas como:
Falsas memórias espontâneas
Falsas memórias sugeridas
Falsa memória espontânea

Resultantes de distorções endógenas, internas ao


sujeito.

A lembrança é alterada internamente, fruto do


próprio funcionamento da memória, sem
interferência da uma fonte externa.

A interferência pode passar a ser lembrada como


parte da informação original e comprometer a
fidedignidade do que é recuperado.
Falsa memória sugerida

Sugestão de falsa informação externa ao sujeito,


Ocorre devido a aceitação de uma falsa informação posterior ao
evento ocorrido e a subsequente incorporação na memória original.

Efeito da sugestão da falsa informação

Pode ocorrer de forma deliberada ou intencional.


Informação
Evento após o Teste
evento
Ou seja, nossa memória é
suscetível a distorções mediante
sugestões de informações
posteriores aos eventos.
Como as lembranças são
distorcidas a ponto de se
tornarem diferentes do que
realmente experienciamos?
Variáveis que podem influenciar no processo de
reconstrução de lembranças

Traço de memória

Eventos semelhantes Visão de si

Entorno social Crenças

Esteriótipos Expectativas

Sugestão de falsa informação Estado emocional

Lembrança reconstruída
Stein, 2010.
Falsas memórias e memórias autobiográficas
Por serem estruturadas em torno do "eu",
as memórias autobiográficas são
extremamente precisas?

Será mesmo?
A resposta é: Não!

Podemos afirmar hoje que as lembranças


que temos de nosso passado não são um
retrato fiel dos fatos.

Nossas lembranças estão sujeitas a


distorções.

Sendo possível recordarmos de situações


que nunca nos ocorreram.
Falsa memória autobiográfica
Uma falsa memória autobiográfica é uma lembrança
incorreta de parte de um evento ou uma lembrança
incorreta de um evento inteiro.

A pessoa que se lembra de uma memória falsa


acredita que está acessando uma memória real
– não é uma tentativa de mentir.
(Loftus, 2005).
Mas o estudo das memórias autobiográficas
pode ser limitante pois:

- O pesquisador raramente tem acesso.

- Inúmeras variáveis.

- Algumas situações ocorrem repetidamente.

- As lembranças do indivíduo se misturam com suas crenças,


visão de si, crenças impostas por outras pessoas.
Entrevistaram participantes que haviam visitado o
parque da Disney quando crianças e durante a
entrevista sugeriram que os participantes haviam
interagido com o personagem Pernalonga.

Entretanto o Pernalonga é um personagem da


Warner Bros.
Posteriormente, quando questionados sobre
essa informação e suas lembranças:

16% relataram se lembrar de terem apertado


a mão do personagem.

Somente 7% fizeram referência a ser


impossível esse evento ter ocorrido.
Falsas memórias ricas / totalmente falsas

Sem Sugestão
sobre o Teste
Evento passado
https://doi.org/10.3928/0048-5713-19951201-07

Entrevistaram os pais Enviaram uma


do participantes correspondência aos Um evento foi criado
Registraram 3 eventos participantes (18-53 anos),
pelos pesquisadores:
que ocorreram na explicando o objetivo do
que o participante
estudo e 4 breves descrições
infância do participante havia se perdido no
de eventos que supostamente
ocorreram na infância. shopping quando tinha
3 ocorreram de fato. 5 anos.
https://doi.org/10.3928/0048-5713-19951201-07

1 a 2 semanas
depois

Participantes escreviam
tudo que lembravam Participantes entrevistados
sobre os eventos, Eram fornecidos pedaços das
podendo dizer que não histórias como dicas de
se lembravam de nada. evocação.
https://doi.org/10.3928/0048-5713-19951201-07

25% aceitaram a sugestão da falsa


informação - lembravam de terem se
perdido no shopping.

"As pessoas podem ser levadas a lembrar seu passado de


diferentes maneiras, e podem até ser levadas a lembrar de
eventos inteiros que nunca aconteceram com elas".
Falsas memórias e emoção

Será que as memórias com conteúdo


emocional tendem a ser mais resistentes a
distorções?
Falsas memórias e a emoção

Estímulos emocionais também podem produzir


falsas memórias, e estímulos negativos parecem ser
mais suscetíveis à produção de falsas memórias.
10.1177/0956797614562862

- 60 estudantes de graduação entre 18 e 31 anos.

- Convencer os participantes de que eles cometeram um


crime quando tinham entre 11 e 14 anos.

- O entrevistador contava duas histórias, uma que realmente


havia ocorrido com o participante e outra que era falsa.
10.1177/0956797614562862

Assalto

Participantes - Crime - contato


Assalto com arma
crime com a polícia
Roubo

Se feriram

Participantes - Evento Atacado por um


Sem crime emocional cachorro

Perderam dinheiro
10.1177/0956797614562862

70% - falsas memórias de terem cometido um crime que


resultou em contato com a polícia.

73.33% dos que tinham falsa memória do assalto ou assalto


com arma descreveram detalhes do contato com a polícia (p.ex.
descrição física dos policiais).

76,67% foram classificados como tendo falsas memórias dos


eventos emocionais.
10.1177/0956797614562862

Essas falsas memórias relacionadas aos crimes eram


semelhantes às falsas memórias de eventos não criminais
e aos relatos de memórias verdadeiras, tendo os mesmos
tipos de componentes descritivos e multissensoriais
complexos.
https://doi.org/10.1177/0956797619864887

Examinaram as falsas memórias na semana anterior ao


referendo irlandês sobre o aborto em 2018.

3140 participantes viram seis notícias sobre eventos da


campanha – duas fabricadas e quatro autênticas.
https://doi.org/10.1177/0956797619864887

• 48% dos participantes lembraram de pelo menos um dos dois


eventos fabricados;
• 37% - memória específica de ouvir ou ver um dos eventos;
• 11% - memória mais geral de que o evento aconteceu.

Quando a opção “acreditar” foi incluída


63% dos participantes relataram uma memória ou uma crença em
pelo menos um dos eventos fabricados.
https://doi.org/10.1177/0956797619864887

Os eleitores “sim” (aqueles a favor da legalização do aborto) eram


mais propensos a “lembrar” de um escândalo fabricado em relação
à campanha para votar “não”.

Os eleitores “não” eram mais propensos a “lembrar” de um


escândalo fabricado em relação à campanha para votar “sim”.
https://doi.org/10.1177/0956797619864887

Um aviso subsequente sobre a possível desinformação


reduziu ligeiramente as taxas de falsas memórias, mas não
eliminou esses efeitos.

O estudo sugere que as pessoas são mais suscetíveis a formar


falsas memórias para notícias falsas que se alinham com suas
crenças.
Será que alguém poderia ser
resistente a formação de falsas
memórias?
10.1073/pnas.1314373110

Indivíduos com
Memória autobiográfica
altamente superior -
são tão suscetíveis
quanto os indivíduos do
grupo controle.
O estudo das falsas memórias tem
grande impacto no contexto forense.
O Innocence Project (EUA), organização que
identifica e interfere em casos de réus injustamente
condenados.
O projeto ajudou a libertar pelo menos 337 pessoas que foram
condenadas injustamente.

Em média, essas pessoas cumpriram 14 anos de prisão por um


crime que não cometeram.

A falha na memória, principalmente de testemunhas oculares,


desempenhou um papel em pelo menos 75% desses casos.

Esses números são apenas para os EUA e apenas para os casos


em que o DNA estava disponível.
https://innocenceproject.org/
"A memória, assim como a liberdade, pode ser frágil"

Elizabeth Loftus
OBRIGADA!

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