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Psicologia da motivação e das emoções

Motivação como cognição:


Teoria socio-cognitiva (Teoria
da autoeficácia) (A. Bandura)
Conteúdos
TEORIA SOCIO-COGNITIVA (Bandura, 1977, 1986, 1997, 2001)

Introdução
Fundamentos da teoria sociocognitiva
◦ Causalidade reciproca
◦ Agência humana
Autoeficácia
◦ Características
◦ Fontes e consequências
◦ Desenvolvimento
Implicações
◦ Desempenho
◦ Escolhas profissionais e académicas

Avaliação da teoria
1925-2021
TEORIA SOCIO-COGNITIVA
(Bandura)
Visão pró-ativa da motivação
Como é exercido o controlo sobre o meio e sobre si
Crença acerca de si próprio/a mais do que análise objetiva da realidade.

Perspetiva retrospetiva (e.g.


Perspetiva prospetiva
atribuições)

Valorização das expetativas


Análise do valor do resultado em conseguir alcançar um
resultado específico
Causalidade recíproca/
reciprocidade triádica
Agência humana é o produto da interação de características da pessoa, do meio e
do comportamento.
Capacidade da pessoa exercer controlo sobre si própria (processos cognitivos,
emoções e ações) e sobre o seu meio.

Crença da pessoa na
Comportamento
própria capacidade
humano em controlar
acontecimentos
futuros

Fatores pessoais (ex.:


Fatores do meio
cognições, afetos, crenças)
Dois tipos de expetativas

Pessoa Comportamento Resultado

Expetativas de Expetativas de
eficácia resultado

Será que
Consigo fazer?
funciona?
Autoeficácia
Autoeficácia
“…crenças nas capacidades próprias para organizar e executar os cursos de ação
requeridos para lidar com situações prospetivas.”(Bandura, 1995, p.2).

Construto micro analítico - forma-


Prospetivo - crenças e expectativas
se por referência a situações e
referem-se à realização futura.
tarefas particulares.

Autoeficácia

Não é sinónima de inteligência ou Não é sinónima


“capacidade real” de com gostar ou ter interesse
Autoeficácia
É uma capacidade generativa.

A maioria das situações de desempenho são


indutoras de stress, ambiguidade,
imprevisibilidade.

Acreditar que se é capaz torna-se mais


determinante do que a capacidade efetiva
Autoeficácia
Possuem competências necessárias para alcançar os objetivos ou são
capazes de adquirir - crenças otimistas

Cognições
mobilizadas para
analisar a situação

Crenças de
autoeficácia

Emoções
Comportamentos de
desencadeadas na
investimento e
interação da pessoa
persistência
com a situação
Autoeficácia

• Dificuldade da tarefa • Firmeza da • Amplitude das


• Nr de etapas convicção de eficácia situações a que a
julgadas necessárias pessoal para eficácia diz respeito
para alcançar o desempenhar um Gerais vs especificas
objetivo comportamento

Magnitude Força Generalidade

grau de certeza de poder vir a


desempenhar com sucesso uma
determinada tarefa.
Elevada Auto-eficácia

- Interesse pelas - Evitam tarefas


atividades em que se difíceis
envolvem
- Acham que as
- Sentido de tarefas difíceis estão
compromisso acima das suas
- Recuperam capacidades

Baixa Auto-eficácia
rapidamente dos - Focam-se nos erros e
obstáculos e frustrações resultados negativos
- Tarefas difíceis vistas - Perdem rapidamente
como desafios a confiança nas
próprias capacidades
Fontes de informação da
autoeficácia
Experiências
anteriores

Estados Auto Experiências


fisiológicos e/ou
eficácia vicariantes
emocionais

Persuasão verbal
Experiências
anteriores de
desempenho
Experiências anteriores de
desempenho
Se já consegui uma vez, consigo outra vez
Forma mais eficaz de criar sentido de autoeficácia
Sucessos ou insucessos obtidos em situações anteriores
Efeitos não são lineares

Se sucessos foram atingidos


no âmbito de tarefas Não fortalece a autoeficácia
demasiado fáceis ou
distantes da atual

Experiências desafiadoras

Papel das interpretações cognitivas sobre o acontecimento (dificuldade da tarefa,


esforço despendido, ajuda recebida, preconceção sobre a própria capacidade)
Sucesso
dos outros
Experiências vicariantes
Se ele/a consegue, eu também consigo

Observações e imitações dos comportamentos de


outros

Depende características do modelo:


◦ Semelhança/proximidade do modelo
◦ Semelhança/proximidade da situação enfrentada pelo
modelo
◦ Poder
Experiências imaginadas
Experiência:
Shunk & Hanson (1985)

Dificuldades nas operações de subtração

Modelo de pares Modelo adulto Sem modelo

• Observar a aquisição • Observou a


das competências de demonstração das
subtração por parte de operações por parte
outras crianças da do professor
mesma idade do
mesmo sexo

Apreciação das suas


capacidades para fazer   
subtrações
Persuasão verbal ou social
Sei que consegues fazer isto!

Outra pessoa consegue persuadir o individuo de que este é capaz de alcançar


os objetivos
Tem de ser credível. Se a pessoa for vista como competente para emitir uma
opinião, se confia nela e a admira.
Valência da mensagem
Frequência

Perde efeito se não houver experiência de sucesso. Persuasão aumenta a


expetativa de sucesso, se este não ocorre o efeito (experiência de fracasso) é
mais saliente
Autoeficácia é mais fácil de destruir do que de promover.
Estados fisiológicos e
emocionais
Reações emocionais dão pistas sobre o possível sucesso ou fracasso

Stress/tensão, humor de Humor positivo, bem-estar físico e


desânimo é interpretado emocional aumenta a convicção de se
como vulnerabilidade ser capaz.
Pistas são tratadas cognitivamente

Aumenta
Maior Diminui Falta de
ativação
autoeficác ativação eficácia
fisiológica
ia fisiológica
Experiências anteriores

Observar os saltos dos outros

Incentivos/críticas dos outros

Estado fisiológico
(ansiedade/calma)
Efeitos da
Autoeficácia
Efeitos da autoeficácia
As crenças de eficácia regulam o funcionamento e ajustamento humano,
através de quatro processos:

Processos de seleção

Processos motivacionais

Processos cognitivos

Processos emocionais
Processos de seleção
Regra geral, as pessoas Melhoram o Autoeficáci
escolhem tarefas e desempenho a elevada
contextos nos quais
esperam ter sucesso,
evitando aqueles que
Procuram ajuda Objetivos
consideram transcender
as suas capacidades. (se necessário) desafiantes

Empregam
Fazem ajustes
estratégias efetivas
Monitorizam o
progresso
Processos motivacionais
Autoeficácia afeta
(Escolha das atividades)
Esforço
Persistência

Valor e expetativas do resultado

As pessoas com autoeficácia frágil vão duvidar das suas capacidades para
corresponder às exigências e vão desistir à mínima adversidade.
Os que acreditam na sua eficácia pessoal, redobram os esforços para superar
mesmo os obstáculos mais exigentes.
Processos cognitivos
(projeção no futuro)

Definição de metas e estratégias para as alcançar


Previsão de consequências possíveis das ações
Testagem hipotética - crenças de autoeficácia influenciam o tipo de cenários
que são construídos antecipadamente.
◦ Pessoas com elevado sentimento de eficácia visualizam cenários de sucesso - guias e
suporte positivos para o desempenho.
◦ Quem põe em causa as suas capacidades, antecipa dificuldades e cenários de
fracasso o que debilita o seu desempenho.

Pessoas com crenças de autoeficácia mais elevadas estabelecem metas mais


elevadas e desafiantes, comprometem-se mais na prossecução das mesmas e são
capazes de manter maior eficiência e eficácia na tomada de decisão.
Processos emocionais
Autoeficácia determina a compreensão das respostas dadas aos
acontecimentos de vida
Stress/ansiedade e depressão experimentado

Ao duvidarem das suas capacidades, exacerbam a severidade das possíveis


ameaças, preocupando-se com perigos cuja frequência é efetivamente diminuta e
que são até improváveis.

Esta exacerbação aumenta os níveis de stresse e a ansiedade e ocupa a mente com


pensamentos prejudiciais o que dificulta a adoção de estratégias comportamentais
que poderiam transformar ambientes ameaçadores em ambientes seguros.
Autoeficácia prediz…
Motivação

Realização

Autorregulação

Decisões (ex. escolha carreira)


(Bandura, 1997; Klassen & Usher, 2010; Multon, Brown, & Lent, 1991;
Pajares, 1997; Schunk & Pajares, 2009; Stajkovic & Luthans, 1998).
Evidência empírica
Desempenho (via
influência nos
objetivos)
(Zimmerman &
Bandura, 1994)
Desempenho
académico (meta-
análise- Mullon et
al., (1991))
Desempenho
profissional
(meta-análise
Stajkovic &
Luthans, (1998))
Desempenho e
persistência
matemática
(Schunk, 1981)
Desenvolvimento da
autoeficácia

Família Escola Influências


• Promoção de desafios, • Estrutura da instrução socioculturais
curiosidade e autonomia • Feedback acerca do • Pares: observar pares
• Encorajamento e desempenho semelhantes a ter
aspirações elevadas • Nível de competição sucesso
• Modelos positivos • Práticas de avaliação • Impacto de estereótipos
• Combinação de afeto, • Quantidade e tipo de – importância de
apoio e monitorização atenção do professor modelos que contrariam
de género, etnia, NSE

Nível socioeconómico -
recursos
Implicações
MODELOS

Modelo Estatuto
Convincente

Qualidades
Experiências pessoais
Professor Poder
vicariantes
seguidas de
experiências
reais de Competência
sucesso
Autorregulação
Perceção
positiva de
eficácia

Metas próximas
e exigentes

Estratégias de
resolução de
problemas
eficazes

Prevê resultados
com maior
acuidade
Resistência ao stress
Maior AE
◦ > melhor gestão de emoções
◦ protetora face a situações de stress
◦ controla pensamentos ruminativos irrelevantes e manifestações fisiológicas de
emoções

Baixa AE
-> situações são vistas como mais ameaçadoras
-> sentem-se incapazes de controlar cognições intrusivas
-> sentem-se menos comprometidas com os objetivos que escolhem
Profecia autorrealizada
Maior AE
Crenças de autoeficácia  sujeito faz
escolhas no meio
Mais amplo leque de
carreiras

“Filtro crítico”
Baixa AE

Mais inf. sobre cada uma

Evitar situações
desafiadoras, que
Mais seguros para tomar
podiam ser de decisão
desenv. pessoal
Ex.: escolhas vocacionais (Lent
& Hacket, 1987) Mais investimento na
preparação para essa carreira
Avaliação da Teoria
Abordagem prospetiva Diferenças individuais (ex.:
persistência de alguns alunos não é
Construtivista afetada pelos insucessos)
Aprendizagem social Descura o processo de realização da
Expetativas > valor tarefa (foca no antes, nas expetativas
e no depois, a justeza das expetativas)
Controlo sobre os resultados > sobre o
processo de decisão Determinantes da mudança

Aspeto subjetivo das cognições Persistência e desistência

Relação entre cognição e objetivos é


mais ampla
Bibliografia
Coimbra, S. & Fontaine, A. M. (2010). Será que sou capaz? Estudo diferencial de auto-eficácia com
alunos do 9.º ano. Revista Brasileira de Orientação Profissional, 11 (1), 5-22

Fontaine, A. M. (2005). Motivação em contexto escolar (pp. 117-134). Lisboa: Universidade Aberta.

Schunk, D. & Pajares, F. (2009). Self-efficacy theory. In K. Wentzel & A. Wigfield (Ed.). Handbook of
Motivation at School. Oxon, UK: Taylor Francis (doc no moodle)

COMPLEMENTAR
Neves, S. & Faria, L. (2009). Auto-conceito e auto-eficácia: Semelhanças, diferenças, inter-relação e
influência no rendimento escolar. Revista da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, 6, 206-218.
Coimbra, S. & Fontaine, A. M. (2010). Construction and validation of Self-efficacy towards Adult Roles
Scale. Contemporary Issues in Education, 7-22.
Perguntas para refletirem:
Qual é a diferença entre autoeficácia e capacidade? Porquê que esta
diferença é importante?

De que modo a teoria de autoeficácia vos pode ajudar a compreender a


motivação de um/a vosso/a amigo /a no âmbito académico ou social?

De que modo a autoeficácia pode ajudar a compreender as diferenças e


desigualdades entre grupos sociais? Qual a importância de iniciativas como
os sistemas de quotas para combater essas diferenças ou desigualdades?

Será que podem existir níveis demasiado elevados de autoeficácia?


Outras questões
1. Vê uma colega a ter um mau desempenho e a verbalizar o seu
stress com a situação. Pensa: “Se ela não consegue, como é que
eu vou conseguir?”
O seu sentido de autoeficácia está a ser afetado por:
a) Experiências anteriores
b) Estado fisiológico
c) Persuasão verbal
d) Experiência vicariante
2. A fonte que mais determina a força da expetativa de autoeficácia é:
a) Comportamentos passados
b) Persuasão verbal
c) Experiências vicariantes
d) Estado fisiológico

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