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Hipócrates
Da doença sagrada, (Séc. 4 a.C.)
INTRODUÇÃO
VINHETA CLÍNICA
essas observações com a teoria da evolução das espécies. Darwin afirma que
a expressão dos estados afetivos seria de base inata e teria caráter adaptativo,
permitindo a comunicação de estados internos do organismo, de modo que
possam ser reconhecidos externamente e conferindo um grau de previsibilida-
de ao comportamento1,3.
Pouco tempo depois, em 1878, Paul Broca realizou uma extensa investiga-
ção comparativa entre cérebros humanos e de outros mamíferos. Estabeleceu
a distinção principal entre os dois como sendo o volume do lobo frontal e da
região que chamou de grande lobe limbique. Na visão de Broca, o “lobo límbi-
co” compreenderia principalmente as estruturas mediais dos hemisférios, que
perderam sua dominância funcional para o lobo frontal, este muito mais vo-
lumoso no humano do que em outras espécies. Para além de sua contribuição
teórica e anatômica, a terminologia proposta por Broca seria revisitada no sé-
culo seguinte, dando origem à famosa expressão “sistema límbico”4.
Com William James (1884) e Carl Lange (1885), chegou-se a um desen-
volvimento teórico capaz de contemplar explicações tanto para as ocorrên-
cias fisiológicas como as de natureza psicológica que podem ser verificadas
nos estados chamados de emoções. Para esses autores, as reações emocionais
proviriam de processos fisiológicos de adaptação a estímulos do ambiente. A
mente, fazendo uma leitura do que o corpo está sentindo, passaria a interpretar
a realidade com o viés daquela determinada emoção. Isso aconteceria mesmo
que essas alterações fisiológicas não chamassem tanto a atenção ou que fossem
plenamente conscientes. Por exemplo, ao ser exposto a uma situação de perigo,
primeiro o corpo desencadeia um aumento da frequência cardíaca, da sudore-
se, da dilatação dos capilares etc. e, só após a mente perceber essas ocorrências,
chega-se à conclusão de que se está com medo3,5.
Ao longo do tempo, muitos autores revisaram a teoria de James-Lange, mas
foi mantido o seu cerne: o conceito de que existe uma distinção entre o estado
somático e o estado psicológico, ambos ocasionados por uma resposta emocio-
nal e que podem se interinfluenciar3,5.
TEORIA DO APPRAISAL
A partir desta crítica, novas ideias foram se desenvolvendo acerca das inte-
rações entre emoção e razão, ou como se denominou na ciência, cognição. Um
dos debates de maior destaque nos primórdios do estudo das relações entre
emoção e cognição foi travado por Lazarus e Zajonc. Enquanto o primeiro
defendia as emoções como secundárias e dependentes da cognição, o segundo
defendia a ideia de que estas eram anteriores e independentes da cognição. A
construção teórica de Lazarus, baseada no conceito de appraisal, inaugurado
por Arnold, foi amplamente difundida e aperfeiçoada ao longo do tempo por
diversos autores, constituindo as chamadas teorias do Appraisal. Essas teorias
partiam do pressuposto de que as emoções seriam geradas a partir de avalia-
ções (appraisal) de estímulos vivenciados6.
Diversos modelos foram, então, concebidos para entender o processo de
geração destas respostas emocionais. Dentre os mais utilizados, está o modelo
concebido por Gross na década de 1990 e amplamente estudado e refinado9.
Destaca-se, a partir desta perspectiva, um aspecto apontado como crucial para
a geração das emoções: que a situação seja interpretada como relevante em rela-
ção aos objetivos correntes do indivíduo10. Em última análise, seria o significado
da situação em relação aos tais objetivos pessoais que gerariam uma emoção11.
Esses objetivos poderiam ter base biológica ou cultural, poderiam buscar o
benefício social ou individual e, geralmente, competiriam entre si. A integração
destas diferentes influências determinaria se seria gerada uma emoção, qual seria
MOTIVAÇÃO E EMOÇÃO
ções, mas o instinto de busca de alimento gerado por esse sentimento seria um
exemplo de motivação3,22,23.
Em contrapartida ao arousal, a motivação mostra-se um fenômeno que
persiste de modo mais significativo e constante ao longo do tempo e que tem
uma meta mais ou menos bem definida, não sendo apenas um estado genérico
e indiferenciado de alerta do organismo. Contudo, guardando certa semelhan-
ça com o conceito de arousal, a motivação tende a energizar os atos, confe-
rindo-lhes diferentes graus de intensidade e força na sua execução, guiando e
mantendo o comportamento de acordo com a necessidade da situação3,19.
TOMADA DE DECISÃO
Amígdala
A informação chega até a amígdala por duas vias. Uma via, mais rápida e
transmitindo os estímulos de modo menos refinado, resulta de fibras aferentes
sensoriais que chegam à amígdala via tálamo. A outra via possui uma etapa
cortical antes de enviar projeções para amígdala, sendo mais lenta em ocasio-
nar respostas e trabalhando com informações com um grau maior de proces-
samento. A plasticidade da amígdala em face a um novo estímulo é primeiro
resultante da via rápida. Com o tempo, passa a haver maior relevância da via
lenta, na medida em que ocorre o aprendizado e as respostas tornam-se mais
refinadas e deliberadas19,27.
A amígdala envia fibras diretamente para o hipocampo, realizando uma
conexão necessária para que ocorra o aprendizado emocional (o hipocampo
possui participação fundamental no processo de fixação e evocação de memó-
rias declarativas). Também projeta para áreas neocorticais polimodais, além
do hipotálamo, núcleo leito da estria terminal e regiões mesencefálicas como
a substância cinzenta periaquedutal, todas relevantes para estados afetivos e
reações de estresse do organismo27.
Ínsula
Córtex pré-frontal
AMPLIANDO OS ESTUDOS
Redes neurais de larga escala recebem essa designação por serem sistemas
que abrangem várias regiões em pontos distantes do encéfalo. As regiões com-
ponentes de uma rede atuam de modo coordenado e têm conectividade prefe-
rencial entre si. Em relação às neurociências das emoções, três redes seriam mais
importantes: a rede de saliência, a rede modo-padrão e a rede executiva central28.
A rede de saliência é composta por estruturas habitualmente associadas à
regulação emocional e à motivação. Uma de suas regiões principais é o giro
do cíngulo anterior, o qual age como ponto de contato para dois subsistemas:
um revolvendo em torno de circuitos corticolímbicos e frontoinsulares, sob in-
fluência da atividade noradrenérgica amigdaliana, e outro baseado nos circui-
tos de recompensa e motivação dopaminérgicos frontoestriatais. Essas divisões
CONCEITO-CHAVE
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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