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Linha do tempo da Neuropsicologia

Pré história: fósseis com marcas de trepanação (forma mais antiga da neurocirurgia),
golpes direcionados à cabeça que buscavam o tratamento/controle de dores e doenças
atribuídas à cabeça, sugerindo algum tipo de entendimento do que o cérebro era capaz.

Grécia Antiga: Hipócrates (460 a. C): Defende o encafalocentrismo - o encéfalo como a sede
do intelecto e responsável pelos distúrbios neurológicos. - Também realizou o primeiro
relato de trepanação como possível abordagem no tratamento de ferimentos na cabeça.
Demócrito (460 a.C) e Platão (429 a.C): Defendem que as faculdades mentais, como a
inteligência e a cognição, estão no cérebro (enfalocentristas)
Aristóteles (384 a.C): defensor da teoria cardiocêntrica, indo contra Platão, acreditava que o
coração mantinha o controle das sensações, da cognição e das funções de alta ordem, cabendo
ao cérebro “resfriar” o sangue, fazendo assim o seu “temperamento”.

Império Romano: Galeno (129): Desenvolveu a teoria ventricular, que defendia que os
processos mentais estariam relacionados aos líquidos que correm dentro dos ventrículos.

Renascimento: Da Vinci (1452) não negou a teoria ventricular, mas com base neles, propôs
que a imaginação, a cognição e a memória estavam ligadas a diferentes ventrículos. Andreas
Vesalius (1514) realizou estudos anatômicos por meio de dissecações de corpos humanos e
constatou que a anatomia dos ventrículos não mudava de modo significativo entre as espécies
de mamíferos. Trouxe uma questão importante: “sendo o ser humano uma espécie singular,
dotada de uma alma racional vinculada aos ventrículos encefálicos, como poderia este
apresentar tais regiões de forma anatomicamente compatível a de animais que careciam das
mesmas habilidades?” Os dois estudiosos juntos contribuíram um conjunto de técnicas de um
estudo mais acurado do encéfalo humano.

Pós Renascença: Willis (1621) defendia que o cérebro era como do controle da vontade e da
memória e o cerebelo e tronco encefálico como coordenadores das funções vitais. René
Descartes (1650) acreditava em um modelo mecanicista, o qual separa a conduta humana em
comportamentos reflexos (involuntários), que os seres humanos compartilham com os
animais, e no comportamento pensante (racional)

Século XVIII: marcado pela diminuição da influência da teoria ventricular e pelo aumento da
importância dada ao tecido encefálico. Os estudos anatômicos deram a possibilidade do
mapeamento detalhado do sistema nervoso central e periférico, a descoberta da substância
branca e da substância cinzenta do tecido encefálico e a identificação anatômica da superfície
cortical, mapeando seus giros e sulcos.

Séc XVIII - XIX:


Luigi Galvani (1737) e Emil du Bois (1818) descobriram que os nervos eram capazes de
conduzir eletricidade e que os músculos produziam movimentos quando os nervos
conectados a eles eram estimulados.
Franz Gall (1798–1819): Propôs a teoria da frenologia, que postula que características
mentais e comportamentais podem ser mapeadas na superfície do crânio.
Charles Bell (1810) e François Magendie (1821): Descobriram que os nervos possuem
funções distintas, com Bell focando nos nervos motores e Magendie nos nervos sensoriais.

Século XIX: surgimento do microscópio, possibilitando o estudo dos componentes do tecido


neural.
Camilo Golgi (1873) realizou uma descoberta crucial para a compreensão do funcionamento
do cérebro: identificou células específicas, os neurônios. Eles eram compostos por um corpo
celular, um axônio e dendritos. Através da técnica de coloração histológica, ele foi capaz de
visualizar a estrutura dos neurônios e perceber que são os dendritos que permitem a
comunicação elétrica entre um neurônio e outro. Golgi acreditava que os neurônios
formavam um tecido único, uma teoria conhecida como teoria reticular. No entanto, essa
teoria foi posteriormente rebatida pela
Santiago Ramon y Cajal (1887): surgimento da doutrina neuronal. Usando a mesma técnica
de coloração histológica, Cajal defendeu que cada neurônio é uma célula individual capaz de
receber e transmitir impulsos elétricos e se comunicar com os outros neurônios. A doutrina
neuronal se tornou fundamental para a compreensão do funcionamento do cérebro e é
amplamente aceita até hoje.
Paul Broca (1861) realizou estudos de casos clínicos em pacientes que apresentavam
alterações cognitivas graves. Em particular, ele estudou um paciente que tinha dificuldades na
linguagem expressiva, ou seja, ele compreendia tudo que era dito a ele, mas era incapaz de
falar. Quando o paciente faleceu, o estudo de seu cérebro encontrou uma lesão no lobo frontal
posterior esquerdo. Essa área do cérebro ficou conhecida como a área de Broca, responsável
pela produção da linguagem.
Carl Wernicke (1874), por sua vez, dedicou-se ao estudo de pacientes que tinham dificuldade
na compreensão da linguagem, mas ainda eram capazes de falar normalmente. Em suas
pesquisas, ele descobriu lesões na área superior do lobo temporal esquerdo, que ficou
conhecida como a área de Wernicke. Essa região do cérebro é responsável pela compreensão
da linguagem, permitindo que possamos interpretar e dar significado às palavras que
ouvimos.

Século XX:
Pierre Marie (1906) trouxe questionamentos importantes sobre as descobertas de Broca e
Wernicke no início do século XX. Ele realizou estudos nos mesmos pacientes que deram
origem às áreas de Broca e Wernicke e percebeu que outras áreas também estavam
lesionadas. Com isso, ele sugeriu que não se pode atribuir totalmente às áreas de Broca e
Wernicke a responsabilidade pelas funções que lhes são designadas.
Penfield (1950) ficou fascinado com as teorias localizacionistas e realizou experimentos no
cérebro. Ele construiu homúnculos sensoriais e motores, que tinham como objetivo ilustrar o
corpo humano em função da extensão das áreas corticais dedicadas a cada segmento
anatômico. Essas descobertas se tornaram importantes na neuropsicologia, permitindo aos
profissionais identificar as áreas do cérebro que estão comprometidas em pacientes que
sofreram AVC, por exemplo.
Ebbinghaus (1913) foi o primeiro psicólogo experimental a estudar o fenômeno da memória,
mostrando através de experimentos que ela pode ser quantificada. O surgimento da
Psicologia Cognitiva na década de 1950 foi uma resposta ao desinteresse dos
comportamentalistas pelos processos mentais. A influência dos computadores levou à
enxergar um computador como um modelo dos processos cognitivos humanos. A psicometria
se desenvolveu para avaliar e medir as habilidades cognitivas.
Dentre os principais estudiosos da memória, destacam-se Tulving, que desenvolveu o
conceito de memória de longo prazo, e Baddeley, que desenvolveu o conceito de memória de
trabalho.
Donald Hebb postulou que neurônios que se ativam ao mesmo tempo durante um estímulo
tendem a se tornar associados, esboçando os mecanismos neurais da plasticidade cerebral e
da aprendizagem.
Brenda Milner estudou o caso HM e mostrou a importância do hipocampo na consolidação da
memória.
Luria, um neuropsicólogo soviético, sugeriu a existência de três sistemas funcionais
encarregados do funcionamento cognitivo e comportamental humano, em oposição à ideia de
uma localização restrita. O primeiro sistema seria responsável pelo estado de vigília, o
segundo processaria e armazenaria informações provenientes do meio externo e o terceiro
seria responsável por programar, monitorar e regular a atividade mental.
Kandel (1980) estudou um animal primitivo, a aplysia, para explicar os fenômenos de
aprendizagem. Ele mostrou que, à medida que esse animal é estimulado a aprender algo
novo, as conexões neuronais ficam mais fortes. Essas descobertas foram importantes para o
estudo da aprendizagem e da plasticidade cerebral

Século XXI: Durante o período de avanço da neuroimagem funcional, tornou-se possível


observar o funcionamento do cérebro em tempo real enquanto algum processo cognitivo está
em andamento. Isso permitiu uma melhor compreensão do funcionamento cognitivo por meio
de redes neurais integradas, mostrando que, embora possam existir áreas cerebrais de
protagonismo para determinadas funções cognitivas, essas regiões fazem parte de sistemas
maiores. Além disso, os testes de avaliação neuropsicológica evoluíram, sendo cada vez mais
frequentes os testes computadorizados que levam em consideração as influências de novos
domínios no comportamento humano, como as tecnologias da informação e comunicação.
Essas novas ferramentas permitem avaliar as habilidades cognitivas de forma mais precisa,
identificando áreas de deficiência e facilitando a elaboração de intervenções personalizadas e
eficazes. Embora a neuropsicóloga tenha progredido nos últimos anos, restam ainda muitas
questões a serem respondidas.

Referências:
MATURANA, Wayson; MOGRABI, Daniel. Uma Breve História da Neuropsicologia. In:
FICHMAN, Helenice Charchat. Neuropsicologia Clínica. 1. ed. Santana de Parnaíba:
Manole, 2021. cap. 2, p. 31-51

DOUTORA; CIÊNCIAS, E.; PINHEIRO, M. Aspectos históricos da neuropsicologia:


subsídios para a formação de educadores Historical aspects of the neuropsychology: a
contribution to the educators formation. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/er/a/8rdR9H6JnmnskrKb4rSnGWk/?format=pdf&lang=pt>.

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