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A neuropsicológica é uma ciência do século XX, mas as raízes da sua história remontam a
Antiguidade.
Pré-história: O sistema nervoso tal como o conhecemos hoje surgiu há cerca de 30.000- 35.000
anos.
Antiguidade: O povo Egípcio acreditava que a alma e a mente eram sinônimos. Essa ideia
durou por muito tempo dentro da medicina e da filosofia entre o século IV e II a.C. Para eles a
sede da alma estava no coração e não no cérebro, que era jogado fora cada vez que um deles
falecia.
Entre as mais antigas informações escritas sobre o sistema nervoso, destaca-se o papiro
descoberto no Egito por Edwin Smith, no século XIX. Esse papiro é um verdadeiro tratado de
cirurgia e contém a descrição clínica detalhada de pelo menos 48 casos com os respectivos
tratamentos racionais e prognósticos.
Durante o período pré-medieval, a medicina de Cláudio Galeno, (cerca de 130-203), teve
enorme projeção.
580-510 a.C.: Pitágoras admitia que no encéfalo estava situada a mente, enquanto no coração
localizavam-se a alma e as sensações.
500 a.C.: Alcmeon descreveu os nervos ópticos e investigou os distúrbios funcionais do
encéfalo, considerando-o a sede do intelecto e dos sentidos.
460-370 a.C.: Hipócrates, na Grécia considerado o pai da medicina lidava diretamente com seus
pacientes e por isso tinha uma visão bastante diferente: o cérebro era a fonte dos prazeres, das
tristezas, do riso e do choro. Ele conferia razão e julgamento ao cérebro, o que foi confirmado
pouco tempo depois.
Hipócrates discutiu a epilepsia como um distúrbio do encéfalo, e o considerava como sede da
inteligência e das sensações (tese cefalocentrista).
427-347 a.C.: Platão considerava o encéfalo como sede do processo mental e julgava a alma
tríplice, sendo o coração a sede da alma afetiva, o cérebro da alma intelectual, e o ventre da
concupiscência (apetite sexual).
335-280 a.C.: Herófilo, médico de Alexandria, que efetuou grandes avanços anatômicos,
estudando com minúcias, entre outros, o sistema nervoso central e o periférico .
384-322 a.C.: Aristóteles admitia ser o coração o centro das sensações, das paixões e da
inteligência (tese cardiocentrista), enquanto o encéfalo tinha como função refrigerar o corpo e a
alma.
(1596- 1650): René Descartes, que foi um dos principais marcos da história da mente e do
cérebro humano. Para ele, mente e corpo seriam entidades separadas, porém interligadas e
mutuamente influentes. Esta ideia ficou conhecida como dualismo mente-corpo cuja pergunta
central era: a mente e o corpo são distintos, ou seja, são feitos de “materiais” diferentes, ou a
mente é a experiência de um cérebro físico? Para Descartes, sim. O principal problema dessas
ideias reside no erro lógico de considerar um fator causal entre uma substância imaterial (a
mente) e uma material (o cérebro).
( 1800- 1820): Franz Gall acreditava que a mente não era unificada, mas sim composta por
múltiplos componentes em diferentes partes do cérebro. Suas ideias ficaram conhecidas como a
ciência da Frenologia cuja prática era relacionar traços de personalidade com as medidas das
saliências do crânio. Valores humanos como benevolência, obediência e justiça eram
considerados neste “cálculo”.
(1820- 1848) Flourens foi o principal opositor dessas ideias, para ele as partes do córtex tinham
uma contribuição igualitária para todas as habilidades mentais. O que auxiliou a deduzir isso,
era que ele lançava mão de métodos científicos com animais: removia partes do cérebro e
observava os comportamentos. Também cometeu erros porque confiava demais nos seus
estudos.
( 1848- 1861): Phineas Gage, sofreu um grave acidente numa construção ferroviária na
Inglaterra. Ele tinha apenas 25 anos e lesionou uma importante região do cérebro, o córtex pré-
frontal que ajuda a regular nossos comportamentos e emoções, sobreviveu porém ficou com
sequelas cognitivas e comportamentais. Este acidente foi considerado uma grande tragédia
porque os recursos médicos naquela época ainda não eram tão desenvolvidos como hoje. Por
isso, apenas séculos mais tarde descobriu-se a importância do córtex pré-frontal, visto que
pacientes com lesões nessa mesma região apresentavam grandes alterações de personalidade. O
córtex pré-frontal é responsável pelo nosso senso de julgamento crítico, raciocínio, tomada de
decisão etc.
(1920- 1957) Karl Lashley afirmou que o córtex cerebral teria igual participação de todo
pensamento. Essa ideia ficou conhecida como Lei da ação das massas, que diferia das ideias
localizacionistas, pois atribuía regiões cerebrais a funções específicas.
( 1960- 1990) Três anos mais tarde, dois grandes pesquisadores Sperry & Gazzaniga dando
continuidade aos seus estudos sobre de secção do corpo caloso (o maior feixe de fibras do
cérebro que une os dois hemisférios), descobriram que de certa forma a separação dos
hemisférios “divide a mente”. Cada um com suas percepções, pensamentos e consciência
independentes. Este estudo conferiu o prêmio Nobel a dupla de cientistas.
Recentemente, artigos têm sido produzidos refletindo acerca dos obstáculos envolvidos no
crescimento da neuropsicologia no mundo, de forma geral, e na América Latina. Na perspectiva
de J. Ponsford (2017), avaliando os últimos 25 anos da neuropsicologia em diferentes
continentes (Ásia, África, América Central, América do Sul e Nova Zelândia), os maiores
obstáculos à expansão da neuropsicologia incluem: restrições econômicas à prestação de
serviços de saúde, limitação da disponibilidade de métodos adequados de avaliação e
tratamento, a diversidade linguística e o analfabetismo, o estigma e/ou falta de conhecimento
acerca das alterações neurológicas, a ausência de formação especializada nos cursos de
graduação e supervisão, ausência de credenciamento nos planos de saúde de neuropsicólogos,
os baixos salários e a reduzida visibilidade do campo na maioria dos países (Ponsford, 2017).
REFERÊNCIAS:
HAZIN, Izabel; FERNANDES, Isabel; GOMES, Ediana; GARCIA, Danielle. Dossiê Historia
Social da Psicologia. Neuropsicologia no Brasil: passado, presente e futuro, Rio Grande do
Norte, Brasil, ano 2018, v. 18, n. 4, ed. 4, p. 1137-1154, 1 fev. 2019. Disponível em:
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/42228/29274. Acesso em: 3
mar. 2021.
PINHEIRO, Marta. Dossiê: Educação-saúde: Diferentes olhares. Aspectos históricos da
neuropsicologia: subsídios para a formação de educadores, [s. l.], 12 jan. 2005. DOI
https://doi.org/10.1590/0104-4060.372. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?
pid=S0104-40602005000100011&script=sci_arttext. Acesso em: 3 mar. 2021.