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História da Neuropsicologia

Professor: Wayson Maturana


Uma breve história da neuropsicologia
Wayson Maturana de Souza; Daniel C. Mograbi (2021)
Nascimento da neuropsicologia

▪ Neuropsicologia: Investiga relações entre estruturas


cerebrais, funções cognitivas e comportamento
humano.
▪ Karl Lashley: Frequentemente associado ao
nascimento da neuropsicologia (Sociedade de
Psiquiatria e Neurologia de Boston, 1936). Willian Osler Kurt Goldstein
▪ William Osler usou o termo neuropsicologia (neuro-
psychology).
▪ Kurt Goldstein usou o termo neuropsicológico
(neuro-psychological) no início do século XX.
▪ O estudo do cérebro e mente vem da antiguidade.

Karl Lashley
Pré-história

▪ Fosseis de Crânios com marcas de golpes fatais.


▪ Evidências de que os homens primitivos identificavam a
fatalidade dos golpes na cabeça.
▪ “Thames Beater”: (“batedor do Tamisa”; período
neolítico; c.a., 7000 aC a 2000 aC).
▪ Os ferimentos em crânios encontrados em algumas
regiões da Europa são compatíveis a feridas feitas por
algo semelhante ao instrumento (Dyer & Fibiger, 2017).
Trepanação

▪ Trepanação: Ferimentos de formato regular no crânio


▪ Sugere uma lesão em área calculada e com precisão
incompatível com conflitos.
▪ Trepanação ante-mortem: Realizada com indivíduos vivos
em uma área anteriormente intacta do crânio, sem indícios
de patologia ou fratura (período Mesolítico e Neolítico; c.
10.000 aC; Nicklisch et al., 2018).
▪ Registros na Idade do Bronze, do ferro, Grécia Antiga, Roma
antiga e Idade Média.
▪ Motivos: Religiosos/místicos/sobrenaturais e/ou doenças e
dores atribuídas à cabeça (Bear et al., 2016).
Grécia Antiga – Hipócrates (c. 460-355 a.C.)

▪ Descrição da trepanação em sua obra “Sobre


lesões na cabeça”.
▪ Mudança na utilização da trepanação: razões
médicas (Tsermoulas et al., 2014).
▪ Apontou o cérebro humano como semelhante
ao de outros animais e divididos em duas
partes proporcionais (hemisférios).
▪ Chegou a relatar déficits motores contralaterais
a lesões cerebrais.
Teoria humoral ou dos temperamentos

▪ Atribuída a Hipócrates e desenvolvida por Galeno


(Império Romano).
▪ Condição de saúde dos seres humanos seria mantida
pelo equilíbrio entre quatro humores (i.e., fluidos
corporais): sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra,
procedentes, respectivamente, do coração, sistema
respiratório, fígado e baço.
▪ As doenças seriam causadas por um desequilíbrio
entre os humores.
▪ Predominância de um desses humores na constituição
dos temperamentos humanos.
Teoria humoral ou dos temperamentos

▪ Sanguíneo: Otimista, sentimental, extrovertido e instável.


▪ Colérico: Estrategista, racional, extrovertido e ousado.
▪ Melancólico: Intenso, profundo, introvertido e analítico.
▪ Fleumático: Sensato, trabalhador, introvertido e realista.
Grécia Antiga – Encefalocentrismo X Cardiocentrismo

▪ Encefalocentrismo: Faculdades mentais atribuídas a


cabeça.
Hipócrates, Demócrito e Platão.
▪ Cardiocentrismo: Faculdades mentais atribuídas ao
coração.
▪ Aristóteles: Coração mantinha o controle das sensações,
paixões e cognição. O cérebro “esfria” (tempera) o
sangue.
▪ Extensão do debate até o período Pós-Renascentista.
Roma Antiga – Galeno (c.129 – 216)

▪ Roma antiga: Cérebro como responsável pela maior


parte das funções cognitivas e comportamentais.
▪ Paixões eram vistas como funções do fígado e do
coração (Finger, 1994).
▪ Galeno: Famoso médico Romano.
▪ Observações anatômicas e dissecções de animais.
▪ Observou que o sistema nervoso periférico tinha
origem no cérebro (identificou cérebro, medula e
nervos).
Roma Antiga – (c.129 – 216)

▪ Interesse pelos ventrículos cerebrais.


▪ Descreveu quatro ventrículos com riqueza de detalhes.
▪ Teoria ventricular: O coração produzia o pneuma vital
(ar/espírito vital) e distribuía para os ventrículos. Nas
cavidades ventriculares era transformado em pneuma
psíquico (ar/espirito psíquico).
▪ Pneuma psíquico corria dos ventrículos para o corpo através
dos nervos.
▪ Nervos rompidos: não conduziam pneuma psíquico para o
corpo e impossibilitava o movimento e sensações.
▪ Pneuma psíquico: Responsável pelo pensamento, memória,
sensações e movimentos.
Renascimento – Mudança na forma de enxergar o mundo

• Mudança cultural na visão sobre o ser


humano.
• Começo de contestação da teoria
ventricular.
• A teoria ventricular demorou 1300 anos
para ser revista.
• Os estudos anatômicos do renascimento
produziram mudanças na compreensão
do cérebro.
Renascimento – da Vinci (1452 – 1519)

▪ Esboçou mudanças na teoria ventricular.


▪ Injetou cera nos ventrículos de bois criando moldes e
descobrindo diferenças anatômicas dos ventrículos,
comparado ao que era descrito.
▪ Postulou que a imaginação, cognição e a memória eram
atrelados a distintos ventrículos.
Renascimento – Vesalius (1514 – 1564)

▪ Realizou estudos anatômicos em corpos humanos.


▪ Identificou que a anatomia dos ventrículos não mudava
tanto entre humanos e animais.
▪ Trouxe questionamento sobre a alma racional humana ser
associada aos ventrículos, visto que estes não eram tão
distintos dos ventrículos de outros animais.
▪ Embora não tenha refutado a teoria ventricular, contribuiu
com técnicas usadas nos estudos neuroanatômicos
posteriores.
Pós-Renascença – René Descartes (1596 – 1650)

▪ Entendimento encefálico mecanicista.


▪ Influência da tecnologia hidráulica nas explicações.
▪ Defensor da teoria dos fluidos.
▪ Comportamentos reflexos: involuntários, que os humanos
compartilham com outros animais obedeciam ao fluxo de fluídos
através dos nervos (Res-extensa).
▪ Res Cogitans: Responsável pelo comportamento voluntário, racional e
metafísico (alma).
▪ Glândula Pineal: Comunicação entre o corpo e a alma, atuando no
controle dos fluídos.
Pós-Renascença – René Descartes
Pós-Renascença – Thomas Willis (1621 – 1675)

▪ Atribuiu ao corpo estriado a função de ponto de encontro entre os


“espíritos sensoriais e motores”.
▪ Cérebro responsável pelo controle da vontade (ideias e
movimentos) e da memória.
▪ cerebelo (incluindo a ponte, os colículos e estruturas adicionais)
responsável por funções vitais (e.g., respiração e batimentos
cardíacos).
▪ Fez estudos neuroanatômicos e de anatomia comparativa
importantes para o entendimento funcional do cérebro.
Final do século XVIII – Mudanças no mapeamento do
Sistema Nervoso

▪ Queda das explicações ventriculares e


aumento da importância do tecido encefálico.
▪ Mapeamento detalhado da anatomia do
sistema nervoso central e periférico.
▪ Descoberta da substância branca e cinzenta.
▪ Identificação e mapeamento anatômico da
superfície cerebral (giros e sulcos).
O estudo científico do
sistema nervoso

Estudos fisiológicos, histológicos e a era da


localização cortical.
Século XVIII – Luigi Galvani (1737 – 1798)

▪ Experimento com rãs eutanasiadas.


▪ Eletricidade animal.
▪ Usou um gancho de cobre e zinco para
“fechar um circuito” entre a medula e a pata
da rã.
▪ O fechamento do circuito gerava convulsões
motoras na rã.
▪ O mesmo não ocorria com o contato feito por
materiais não condutores.
Século XVIII – Luigi Galvani
Século XIX – Emil du Bois-Reymond (1818 – 1896)

• Complementou as descobertas de Galvani sobre a


eletricidade animal.
• Mostrou que os músculos podiam ser
movimentados por eletricidade, que era conduzida
pelo sistema nervoso.
• Evidências de que o próprio encéfalo podia gerar
estímulos elétricos.
• Evidência da eletricidade como força motriz do
sistema nervoso.
Século XIX – Charles Bell (1774 – 1842) & François Magendie
(1783 – 1855)

• Identificaram que a junção entre a medula e o nervo


periférico eram compostos duas raízes:
• Secção das raízes ventrais: O animal perdia a função
motora (Bell).
• Secção das raízes dorsais: O animal perdia a sensibilidade
(Magendie).
• Raízes ventrais - do encéfalo e medula para o corpo
(eferente);
• Raízes dorsais – do corpo para medula e encéfalo
(aferente).
Século XIX – Descoberta do Neurônio (1865)

▪ Avanço da microscopia.
▪ Otto Deiters (1834 – 1863) – Anatomista alemão.
Morreu antes de publicar seus resultados.
▪ Identificação do neurônio.
▪ Foi identificado o corpo (soma) e os neuritos
(dendritos e axônios).
▪ Especulava-se que os neuritos podiam se unir aos
vasos sanguíneos.
Século XIX – Camillo Golgi (1843 – 1926)

▪ Desenvolveu uma técnica de coloração que


possibilitou visualizar a estrutura do
neurônio.
▪ Impregnação por prata (1873).
▪ Formação reticular do sistema nervoso:
Acreditava que os neurônios eram
interligados formando um tecido único.
Século XIX – Santiago Ramon Y Cajal (1852 – 1934)

▪ Pai da neurociência moderna.


▪ Aprimorou o método de coloração de
Golgi (1887).
▪ Doutrina Neuronal: Neurônios como
células desconectadas entre si e que
consistem em unidades fundamentais do
sistema nervoso.
Século XIX – Golgi X Cajal

▪ Competição pela explicação do sistema nervoso.


▪ Dividiram o prêmio Nobel de 1906.
▪ “Vitória” da doutrina neuronal.
▪ Hoje se sabe que a maior parte dos neurônios se
comunicam por meio de neurotransmissores
liberados nas fendas sinápticas.
▪ Existência de sinapses elétricas (principalmente
em invertebrados).
Século XIX – Franz Gall (1758 – 1828)

▪ Propôs que o cérebro era composto de regiões


funcionais para diferentes atributos mentais.
▪ Exame do crânio de humanos e outros animais.
▪ Método correlacional: Buscava protuberâncias e
depressões no crânio dos indivíduos para explicar
seus comportamentos.
▪ Sugeriu 27 áreas dedicadas a funções específicas.
Século XIX – A Organologia de Gall

▪ 19 funções compatíveis com outros animais


(e.g., instinto, amor pela prole e
destrutividade).
▪ 8 funções estritamente humanas (e.g.,
sabedoria, bondade/benevolência e sentimento
religioso).
▪ Pseudociência que influenciou a frenologia
(principalmente nos EUA).
Século XIX – Marie Jean Pierre Flourens (1794 – 1867)

▪ Foi designado pelo Institut de France para testar a


Organologia (1822).
▪ Conduziu experimentos de estimulação elétrica e lesão
no cérebro de animais para colocar a Organologia à
prova.
▪ Já tinha identificado que o cerebelo desempenhava
papel importante na motricidade e o cérebro na
percepção sensorial.
▪ Não encontrou evidências das áreas postuladas por Gall.
Darwin (1809 – 1882) e a Evolução das Espécies

▪ A origem das espécies (1859).


▪ O homem como um animal biológico, sob as
mesmas regras naturais que outros animais.
▪ Cada espécie evoluiu de um ancestral comum.
▪ Diferenças entre espécies surgem por seleção
natural.
▪ O comportamento é uma das características
selecionadas.
▪ Essencial para compreender a importância dos
modelos animais.
Cérebro entre espécies
Cladogramas
Século XIX – Paul Broca (1824 – 1880)

▪ Nova luz as hipóteses de localização cortical.


▪ Atendimento ao Paciente Leborgne (paciente Tan).
▪ Quando internado, Tan tinha perda da linguagem
articulada, fala espontânea, sem outros déficits
funcionais (1861).
▪ Afasia de Broca: Lesão do giro frontal inferior
esquerdo (área de Broca).
Século XIX – Carl Wernicke (1848 – 1905)

▪ Apresentou uma teoria complementar a de Broca sobre afasia


(1874).
▪ Sugeriu uma série de centros interconectados ligados a linguagem
em sua dimensão semântica, falada e escrita.
▪ Atendeu pacientes com afasias ligadas a compreensão, mas com
fala fluente e de boa tonalidade.
▪ Afasia de Wernicke: Afasia com déficits semânticos (a fala é fluida,
mas sem sentido. Déficit na compreensão da linguagem).
▪ Área de Wernicke: Área temporal e parietal esquerda ligada a
compreensão da linguagem.
Século XX – Karl Kleist (1879 – 1960)

▪ Estudou danos cerebrais de inúmeros


ex-combatentes da primeira guerra
mundial (1930).

▪ Desenvolveu um mapa detalhado de


regiões cerebrais.

▪ Relacionou danos focais nestas áreas a


determinados déficits funcionais.
Século XX – Wilder Penfield (1891 -1976)

Apresentou um mapa topográfico e funcional das faculdades motoras e


sensoriais (década de 1950).
Giro pré-central: mapa topográfico motor.
Giro pós-central: mapa topográfico somatossensorial.
Homunculos de Penfield: ilustração “cartunesca” que ilustram o corpo
humano em função da extensão das áreas corticais dedicadas ao
diferentes segmentos anatômicos.
Nascimento e desenvolvimento
da neuropsicologia

O desenvolvimento dos testes, avaliação neuropsicológica, e


compreensão da relação estrutura-função.
Século XX – Surgimento da Psicologia Cognitiva

▪ Psicologia Cognitiva surge em meio a chamada “Revolução


Cognitiva” (1950).
▪ Resposta ao desinteresse do Behaviorismo pelos processos
mentais.
▪ Influência dos modelos computacionais (Imput –
Processamento – Output).
▪ Estudo de diferentes processos psicológicos (e.g.,
percepção, linguagem, atenção, memória).
▪ Uso de modelos teóricos para o entendimento das funções
cognitivas (e.g., modelo de Baddeley & Hitch para memória
operacional, 1974).
Século XIX e XX – Surgimento dos testes

▪ Dois desenvolvimentos importantes:


1. Testes de cabeceira (bed-side tests)
2. Desenvolvimento e aprimoramento dos testes psicométricos.
▪ Bateria de avaliação neuropsicológica da inteligência de Konrad
Rieger (1889) e bateria de investigação da inteligência de
Theodor Ziehen: testes clínicos de identificações de déficits
cognitivos.
▪ Carência de referências para comparações entre escores.
▪ Dependência da avaliação subjetiva do investigador.
Século XIX e XX – Surgimento dos testes

▪ Francis Galton e Charles Spearman (1884): primeira bateria de teste


mental e fator “g” de inteligência.
▪ Alfred Binet e Theodore Simon (1905): Escala de inteligência para
crianças.
▪ James McKeen Cattell: introduziu a avaliação psicológica em diversos
campos como na indústria e na educação.
▪ David Weschsler (1939): Weschsler-Bellevue Intelligence Scale
(precursora da WAIS) – medida geral de QI além de medidas
compartimentadas: inteligência verbal, e de performance.
▪ Instrumentos neuropsicológicos da primeira metade do século XX:
teste de cor-palavra de Stroop (1935), Figuras complexas de Rey
(1941) e teste de aprendizagem auditivo-verbal de Rey (RAVLT, 1941).
Século XX – Donald Hebb (1904 – 1985)

▪ Sugeriu que os neurônios podiam formar conexões complexas entre si,


estabelecendo um processamento único para distintos estímulos (1949).
▪ “Neurons that fire together, wire together”: Neurônios que se ativam
juntos, se conectam juntos.
▪ Mecanismos básicos da plasticidade neural.
▪ Trabalho essencial para conectar o processo de aprendizagem a
formação de novas memórias.
Século XX – Brenda Milner (1957) e o caso H.M.

▪ Pesquisadora a fornecer evidências anatômicas de


múltiplos sistemas de memória.
▪ Henry Molaison: Cirurgia bilateral do lobo temporal
medial. – Hipocampo bilateralmente removido (1953).
▪ Amnésia anterógrada: Déficits na capacidade de
memorizar informações subsequentes a cirurgia.
▪ Hipocampo: Grande importância na consolidação da
memória.
▪ Outras memórias preservadas (e.g., de procedimento e
operacional).
Taxonomia da memória de longo-prazo

▪ Squire (2004)
Século XX – Alexander Romanovic Luria (1902 – 1977)

▪ Aluno de Lev Vigotsky.


▪ Conduziu extensos estudos neuropsicológicos na URSS.
▪ Destaque a história individual e social nos processos mentais superiores
(e.g., linguagem, aritmética e regulação emocional).
▪ Contraponto ao localizacionismo: apresentou três sistemas funcionais.
▪ Primeiro sistema: regulação fisiológica vital e sustentação da vigília
(tronco encefálico e diencéfalo).
▪ Segundo sistema: obtenção, processamento e armazenamento de
informações provenientes do meio externo (lobos temporais, parietais e
occipitais).
▪ Terceiro sistema: programação, monitoramento, regulação e verificação
da atividade mental (lobo frontal).
Neuropsicologia no Século
XXI

Estado atual & Desenvolvimento futuro


Século XX – Surgimento das técnicas de neuroimagem

• Técnicas de imageamento cerebral possibilitaram


estudar o cérebro vivo e em funcionamento.
• Uso durante tarefas cognitivas específicas.
• Identificar estruturas relacionadas a determinadas
funções/tarefas.
• Técnicas pouco invasivas.
• Passo importante para a maior aproximação entre
Psicologia cognitiva e Neurociências.
Século XX – Desenvolvimento da Neurociência Cognitiva

▪ Surgida no final da década de 1970.


▪ Busca estudar o relacionamento entre
as funções cognitivas e distintos
circuitos cerebrais.
▪ Estudo sistemáticos de tópicos até
então difíceis de serem estudados por
uma perspectiva neurobiológica (e.g.,
consciência, metacognição, tomada de
decisão e emoção/sentimentos).
Século XX – Hipótese do Marcador Somático (Damásio, 1996)

• Respostas fisiológicas disparadas durante estados emocionais


ajudam no processo de tomada de decisão, fazendo
associações entre eventos, independente da consciência.
• Córtex órbitofrontal: Responsável por relacionar e avaliar
informações emocionais e de custos/recompensas (integra
“razão e emoção”).
• Danos ou mal funcionamento órbitofrontal: Problemas de
autocontrole, na análise de risco (custo/benefício) e na
tomada de decisão (e.g., Phineas Gage e EVR; Eslinger &
Damasio, 1985).
Caso Phineas Gage

• Acompanhado por John Harlow (1848)


• 25 anos, capataz da construção civil.
• Concentração apurada.
• Execução de passos metódicos.
• Líder de um grupo grande de operários.
• Definido como o homem mais eficiente e capaz do
seu serviço.
Caso Phineas Gage

• Áreas Lesionadas: Córtex pré-frontal ventromedial (nos dois hemisférios,


com áreas laterais preservadas) e região de ligação do córtex frontal com
córtex límbico.
Caso Phineas Gage

• Mudança na personalidade
• Gostos e aversões
• Sonhos e aspirações
• Linguagem obscenas
• Déficits na tomada de decisão
• "Gage deixou de ser Gage“ - John Harlow
Século XXI – Redes complexas do funcionamento cerebral

• Os primeiros estudos em neurociência cognitiva


buscavam encontrar regiões corticais correlatas as
funções cognitivas.
• Os resultados mostraram uma circuitaria complexa.
• Localizacionismo X holismo.
• Visão moderna e parcimoniosa: Regiões de
protagonismo para determinadas funções
cognitivas, pertencentes a sistemas integrados
maiores.
• Human Connectome Project (Hagmann et al.,
2007).
Século XXI – Estado Atual da Neuropsicologia

• Avaliação de temas complexos da


cognição/comportamento.
• Desenvolvimento de formas e critérios de
testagem.
• Desenvolvimento de estudos e adaptações
transculturais de tarefas.
Século XXI – Estudo de temas complexos e refinamento da
avaliação/reabilitação neuropsicológica

▪ O desenvolvimento das ciências da mente e do


cérebro permitiu o surgimento de avaliações de
“novos domínios” do comportamento humano.
❖Domínios menos difundidos começaram a ser
mais estudados:
▪ Cognição social
▪ Tomada de decisão
▪ Teoria da mente
▪ Memória prospectiva
▪ Atividades de vida diária
Século XXI – Expansão dos testes computadorizados

❖Desenvolvimento e expansão dos testes


computadorizados permitem:
▪ Mais fácil padronização de aplicação.
▪ Correção simples e automatizada.
▪ Cálculos de métricas complexas (e.g., tempo de
reação).
▪ Possibilidade de formar/fomentar um banco de dados.
Século XXI – Necessidade de estudos e adaptações
transculturais

• Adaptação transcultural: Adaptar a linguagem e o


conteúdo de um teste para um contexto cultural
específico, garantindo sua equivalência em relação
ao instrumento original.
• Necessidade de um teste ser avaliado por boas
técnicas psicométricas, garantindo a validade e
precisão.
• Também é necessário a criação de normas com
base na população alvo.
• Poucos testes adaptados para a população
brasileira.
• Grande esforço nos últimos anos para a adaptação
de testes no Brasil.
Conclusão

▪ A neuropsicologia enquanto disciplina formal nasceu no século XX.


▪ O conhecimento sobre o sistema nervoso se acumulou desde a pré-
história até os dias de hoje.
▪ Este conhecimento permitiu compreender melhor a relação entre o
cérebro, o funcionamento cognitivo e os comportamentos.
▪ Ao longo deste desenvolvimento, áreas importantes para o
determinadas funções cognitivas foram identificadas.
▪ O entendimento moderno é de que a riqueza do processamento
cognitivo deriva de sistemas neurais complexos e interrelacionados.
▪ Isto possibilitou melhorias nos métodos de avaliação, mas trouxe novas
perguntas e desafios.
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Wayson Maturana

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