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CONTRIBUIÇÕES PARA A NEUROCIÊNCIAS COGNITIVA

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Sumário

Contribuições para a Neurociência Cognitiva .................................................. 4

Raízes Cientificas que contribuem para a neurociência cognitiva ............... 4


Frenologia................................................................................................. 5

Teoria do campo agregado....................................................................... 9

Locacionalistas tardios ........................................................................... 10

Neurociência Cognitiva hoje....................................................................... 11


Contribuições da neurociência cognitiva à educação ............................. 16

Contribuições da neurociência cognitiva à Psicologia ............................ 20

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 25

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FACULESTE

A história do Instituto Faculeste, inicia com a realização do sonho de um


grupo de empresários, em atender a crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a Faculeste, como entidade
oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A Faculeste tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos
que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino,
de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Contribuições para a Neurociência Cognitiva

A neurociência cognitiva é uma área acadêmica que se ocupa do estudo


científico dos mecanismos biológicos subjacentes à cognição, com foco específico
nos substratos neurais dos processos mentais e suas manifestações
comportamentais. Se questionam sobre como as funções psicológicas e cognitivas
são produzidas no sistema nervoso central. A neurociência cognitiva é um ramo
tanto da psicologia quanto da neurociência, unificando e interconectando-se com
várias outras subdisciplinas, tais como a psicologia cognitiva, psicobiologia,
neuropsicologia e neurobiologia. Antes do desenvolvimento de tecnologias como a
ressonância magnética funcional, essa área da ciência era chamada de
psicobiologia cognitiva. Os cientistas que se dedicam a essa área normalmente
possuem estudos baseados na psicologia experimental ou neurobiologia, porém
podem vir de várias disciplinas, tais como a psiquiatria, neurologia, física,
engenharia, matemática, linguística e filosofia.

Os métodos empregados na neurociência cognitiva incluem paradigmas


experimentais de psicofísica e da psicologia cognitiva, neuroimagem funcional,
genômica cognitiva, genética comportamental, assim também como estudos
eletrofisiológicos de sistemas neurais. Estudos clínicos de psicopatologia em
pacientes com déficit cognitivo constitui um aspecto importante da neurociência
cognitiva.

Raízes Cientificas que contribuem para a neurociência


cognitiva

As primeiras raízes da neurociência cognitiva estão na frenologia, a qual é


uma teoria pseudocientífica que sustenta que a conduta pode estar determinada
pela forma do couro cabeludo.

Pierre Flourens, um psicólogo experimental francês foi um dos muitos


cientistas que desafiou a opinião do frenologistas. Através de seu estudo de coelhos
e de pombas, descobriu que lesões em áreas específicas do cérebro não produziam

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mudanças visíveis no comportamento. Ele sugeriu que o cérebro é um campo


agregado, o que significa que diferentes áreas cerebrais participam de tal
comportamento.

Em meados do século XIX, Franz Joseph Gall e J. G. Spurzheim seguraram


que o cérebro humano estava secionado em aproximadamente 35 diferentes
regiões. Em seu livro, “A Anatomia e la Fisiologia do Sistema Nervoso em Geral, e
do Cérebro em Particular”, Gall postulou que um bulbo maior em uma dessas áreas
significava que essa parte do cérebro estava sendo usado mais frequentemente por
essa pessoa. Essa teoria ganhou atenção pública significativa, levando a publicação
de diários de frenologia e a criação de frenômeros, instrumentos que medem os
solavancos das cabeças das pessoas. Ele propôs a teoria de que o cérebro é um
campo agregado, o que significa que diferentes áreas do cérebro participam do
comportamento.

Estudos realizados por cientistas europeus, como John Hughlings Jackson,


afirmaram que a visão locacionalista ou seccionalista do cérebro ressurgia como
a principal maneira de entender o comportamento. Jackson estudou pacientes com
danos cerebrais, particularmente epilepsia e descobriu que pacientes epiléticos
faziam os mesmos movimentos clônicos e tônicos de músculos durante seus
ataques. Isso fez com que Jackson criasse um mapa topográfico do cérebro, o qual
foi essencial para o entendimento futuro do lóbulo cerebral.

Frenologia

O termo frenologia é derivado das palavras gregas phren (mente) e logos


(conhecimento). A frenologia é baseada na ideia de que o cérebro é o órgão da
mente e as regiões físicas do cérebro podem contribuir para o caráter de uma
pessoa. Frenologia foi a primeira grande teoria a reconhecer a importância do
cérebro e postular que diferentes áreas do cérebro regulam diferentes funções e é
uma pseudociência que alega que a forma e protuberâncias do crânio são
indicativas das faculdades e aptidões mentais de uma pessoa. A frenologia baseia-
se no conceito de que o cérebro é o órgão da mente e se encontra dividido em
regiões com funções específicas denominadas módulos. Embora estes conceitos se
baseiem em factos reais, a frenologia extrapola conclusões para além das

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evidências empíricas de uma forma que diverge da ciência. O principal pressuposto


da frenologia, que alega que as medidas do
crânio são indicativas dos traços de
personalidade, encontra-se desacreditada por
evidências empíricas.

A frenologia foi criada em 1796 pelo


alemão Franz Joseph Gall, tendo exercido
alguma influência na psiquiatria e psicologia do
século XIX, sobretudo entre 1810 e 1840. O
rigor metodológco da frenologia era questionável
até para os padrões da época, sendo já
considerada pseudocientífica por diversos
autores do século XIX. Atualmente a frenologia é
considerada uma pseudociência. No entanto, a
noção de Gall de que o caráter, raciocínio e
emoções se situam em partes específicas do
cérebro é considerado um passo importante na
história da neuropsicologia.

Apesar de a frenologia ter sido desacreditada e não tendo qualquer mérito


cientifico, ainda tem defensores. Permaneceu popular, especialmente nos Estados
Unidos, ao longo do século 19 e deu origem a outras caracterologias
pseudocientificas como a craniometria e a antropometria. A frenologia foi defendida
por Ralph Waldo Emerson, Horace Mann e a Boston Medical Society quando
Spurzheim chegou em 1832 para The American Tour. Fowler Brothers e Samuel
Wells publicaram American Phrenological Journal and Life Illustrated que durou de
1838 a 1911. Em Edinburgh, o jornal de Combe, Phrenological Journal, foi publicado
entre 1823 e 1847. Outra indicação da popularidade da frenologia no século 19 é
que o livro de Combe, The Constitution of Man vendeu mais de 300.000 cópias
entre 1828 e 1868.

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Os princípios sobre os quais a frenologia se baseava eram cinco:

1) o cérebro é o órgão da mente;

2) os poderes mentais humanos podem ser analisados em um número


definido de faculdades independentes;

3) essas faculdades são inatas e cada uma tem sua sede em uma região
definida da superfície do cérebro;

4) o tamanho de cada uma dessas regiões é a medida do grau em que as


faculdades sentadas nela formam um elemento constituinte do caráter do indivíduo;

5) a correspondência entre a superfície externa do crânio e o contorno da


superfície do cérebro abaixo é suficientemente próxima para permitir ao observador
reconhecer os tamanhos relativos desses vários órgãos pelo exame da superfície
externa da cabeça.

O sistema de Gall foi construído por um método de empirismo puro, e seus


chamados órgãos foram identificados em bases bastante ilusórias. Tendo escolhido
arbitrariamente o lugar de uma faculdade, ele examinou as cabeças de seus amigos

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e os grupos de pessoas com essa peculiaridade em comum, e neles buscou a


característica distintiva de seu traço característico.

Alguns de seus estudos anteriores foram feitos entre internos de prisões e


manicômios lunáticos, e alguns dos traços que ele presumia detectar eram
“criminosos”. Eles batizavam o nome de manifestações excessivas, mapeando
órgãos de assassinato, roubo e assim por diante. No entanto, os nomes foram
alterados por Spurzheim para se alinharem com considerações mais morais e
religiosas. Gall assinalou em seu modelo da cabeça os lugares de 26 órgãos como
cercos redondos com inter espaços vagos.

Spurzheim e Combe dividiram todo o couro cabeludo em manchas oblongas


e contíguas identificadas por várias designações, tais como amatividade,
filoprogenitividade, concentricidade, adesividade, combatividade, destrutividade,
sigilo, ganância, construtividade, autoestima, amor à aprovação, cautela,
benevolência, veneração. consciência, firmeza, esperança, maravilha, idealidade,
sagacidade, imitatividade, individualidade, percepção de forma, percepção de
tamanho, percepção de peso, percepção de cor, percepção de localidade,
percepção de ordem, percepção de ordem, memória de coisas, percepção de
tempo, percepção linguística, compreensão comparativa e espírito metafísico.

A estrutura lógica e fácil de aprender da teoria frenológica rapidamente


capturou a imaginação de milhares de seguidores. A precisão e grau de segurança
científica destes termos e mapas fizeram grande progresso no tempo em que os
principais inimigos do racionalismo eram a religião, a subjetividade e a autocracia.
Devido a isto, Gall ganhou o apoio, assim como as mentes, de muitas figuras
científicas e políticas importantes em muitas partes do mundo. Ele era o seu
campeão, em um terreno dominado pelos ensinamentos de filósofos religiosos.

Eventualmente, a frenologia foi atacada pela ciência oficial, que não pôde
corroborar a teoria de Gall com achados concretos. Já em 1808, o Instituto da
França reuniu um comitê de sábios liderado por Cuvier, que declarou que a
frenologia não era confiável (alguns historiadores suspeitam que eles também não
tinham evidências científicas para apoiar esta informação, e que a conclusão foi
forçada por Napoleão Bonaparte, que estava furioso porque a interpretação de Gall

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sobre seu crânio tinha "esquecido" algumas qualidades nobres que ele pensava que
tinha...).

A frenologia foi comparada a outras formas de charlatanismo, principalmente


devido aos abusos nas mãos de empresários comerciais suspeitos. Sua morte
aconteceu nos últimos 25 anos do século IXX. Entretanto, ela deu origem a muitos
outros ramos científicos e pseudocientíficos baseados na análise quantitativa de
características faciais e craniais, tais como a craniologia, antropometria e
psicognomia, muitos dos quais sobreviveram bem até em eras modernas.
Surpreendentemente, ainda existem seguidores e crentes da frenologia entre nós.

Teoria do campo agregado

A polêmica teoria da Frenologia levantou


discussões e críticas pelos cientistas e religiosos da
época, até que em 1823 o fisiologista francês, Pierre
Flourens, a colocou sob prova. Em seus experimentos
no intuito de averiguar os esperados impactos
causados no comportamento de suas cobaias,
retirando delas as regiões anatômicas descritas no
mapeamento de funções cerebrais de Gall, Flourens,
concluiu que o cérebro não possuía regiões
específicas para cada função. Com base em seus
resultados ele afirmou que os hemisférios do cérebro
eram capazes de realizar toda e qualquer função
mental, desta forma, danos em um dos hemisférios
afetariam todas as funções.

Por sua vez, essa ideia ficou conhecida como


teoria do Campo Agregado, teoria cuja qual vingaria
por muitos anos no pensamento neurocientífico da
época até a chegada do Conexionismo Celular de
Paul Broca e Carl Wernicke.

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O campo agregado discorda da frenologia, pois este estuda o crânio e para


os cientistas do campo agregado o cérebro é a parte fundamental da conduta e o
crânio não representa as singularidades deste.

Locacionalistas tardios

Estuda principalmente as peças fisiológicas do cérebro procurando danos


físicos que não podem ser detectados através da fenologia. John Hughlings
Jackson foi um neurologista britânico. Jackson propunha uma base anatômica e
fisiológica organizada hierarquicamente para a localização das funções cerebrais.

H. Jackson procurou alcançar “generalizações racionais”; ou seja, uma lei


única que explicasse simultaneamente as diferentes manifestações físicas e
mentais o que, aliás, foi um pensamento dominante no final do século XIX. Para
tanto, ele supunha uma hierarquia do sistema nervoso, dividindo-o em centros
nervosos superiores, médios e inferiores. O próprio H. Jackson alertava para o
enfoque “materialista” de suas ideias. Nas suas palavras, todos os centros
nervosos, desde os mais superiores aos mais inferiores, seriam “máquinas sensório-
motoras”. Os centros nervosos superiores são considerados responsáveis por
funções mais numerosas, mais diferentes, mais complexas e mais especiais,
enquanto que os mais inferiores têm funções opostas, ou seja, têm funções menos
numerosas, mais gerais e menos complexas.

H. Jackson, a patologia atingiria os centros nervosos de forma localizada ou


uniformemente difusa. A região afetada não funcionaria adequadamente e
corresponderia, portanto, ao elemento negativo do processo de dissolução. Os
centros nervosos imediatamente inferiores à região afetada passam, então, a
funcionar dentro de suas possibilidades de desempenho. As manifestações clínicas
e mentais produzidas por esses centros nervosos “sobreviventes”, corresponderiam
ao elemento positivo do processo de dissolução.

Assim pensando, ele supunha que os casos de afasia, hemiplegia e epilepsia


eram exemplos de dissolução do sistema nervoso que se iniciavam em diferentes
centros cerebrais inferiores. A “insanidade mental”, por sua vez, teria seu processo

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de dissolução iniciado nos centros cerebrais mais superiores. A doença mental, isto
é, a alteração patológica, causaria estados funcionais negativos, que
corresponderiam a estados mentais negativos. Os sintomas mentais positivos
(ilusões, alucinações, delírios e comportamentos “extravagantes”) seriam o
resultado da atividade de centros nervosos mais inferiores, que não foram atingidos
pelo processo patológico de dissolução. Em outras palavras, ocorre a “sobrevivência
do mais forte”, no que diz respeito aos centros nervosos.

Compreende-se que mesmo que essas vertentes sejam considerada


pseudociência, não se pode esquecer que trouxeram um arcabouço de influencia
para o desenvolvimentos de varias outra ciências, inclusive a neurociência cognitiva.

A palavra “pseudociência” é derivada da raiz grega pseudo, que significa


“falso” e a palavra ciência, que é derivado da palavra latina “scientia”, significa
“conhecimento”. O termo pseudociência é muitas vezes considerado pejorativo,
porque sugere que algo está sendo apresentado como ciência imprecisa ou mesmo
enganosa.

Pseudociência é muitas vezes caracterizada por afirmações contraditórias,


exageradas ou improváveis, confiança em viés de confirmação em vez de tentativas
rigorosas de refutação, falta de abertura para a avaliação por outros especialistas e
ausência de práticas sistemáticas ao desenvolver teorias.

Neurociência Cognitiva hoje

O estudo do cérebro, do comportamento, da neurologia e do sistema


nervoso, chegou ao que hoje é chamado de neurociências, que consiste no estudo
sobre o sistema nervoso e suas funcionalidades, além de estruturas, processos de
desenvolvimento e alguma alteração que possa surgir no decorrer da vida. É uma
análise minuciosa sobre o que manda e desmanda em nossa vida. Já a
neurociência cognitiva é um campo da neurociência que foca na capacidade
cognitiva (conhecimento) do indivíduo, como o raciocínio, a memória e o
aprendizado.

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O que chamamos comumente de mente é um grupo de funções


desempenhadas pelo cérebro. As ações cerebrais são subjacentes a todo
comportamento, não apenas a comportamentos motores relativamente simples,
como andar e comer, mas a todas as complexas ações cognitivas que associamos
ao comportamento especificamente humano, como pensar, falar, criar obras de arte.

A neurociência continua a revelar a surpreendente complexidade e a


especialização do córtex cerebral. A partir de 1990, ocorreu um grande avanço nos
estudos sobre o cérebro, através do desenvolvimento tecnológico e uso de técnicas
como a IRMf – Imagem por Ressonância Magnética Funcional e a Tomografia por
Emissão de Pósitrons.

IRMf – Imagem por Ressonância Magnética Funcional

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Tomografia por Emissão de Pósitrons

Os avanços tecnológicos permitem várias maneiras de obter informações


detalhadas sobre a estrutura e o funcionamento do cérebro, como por exemplo, nos
ajuda a ver quais regiões do cérebro ficam relativamente mais ativas quando um
pensamento, emoção ou comportamento correspondente acontece. Hoje, é possível
estabelecer onde e quando ocorrem no cérebro os processos cognitivos específicos.
Essa informação pode permitir determinar a ordem em que diferentes partes do
cérebro tornam-se ativas quando alguém está realizando uma tarefa, além de
permitir também se duas tarefas envolvem as mesmas partes do cérebro da mesma
maneira ou se há diferenças consideráveis.

Nos estudos experimentais da neurociência cognitiva, cada nível de função


do cérebro é acessado por uma metodologia diferente, encontrando-se possíveis
correlações quando os resultados são comparados. Por exemplo, em uma sessão
de fMRI (functional Magnetic Resonance Imaging/Ressonância Magnética
Funcional) o sujeito executa tarefas cognitivas enquanto seu cérebro é

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esquadrinhado pelo equipamento de neuroimagem. É na interpretação de


resultados que os dados da neuroimagem são correlacionados com os dados
comportamentais da tarefa cognitiva, induzindo-se uma possível relação (causal ou
não) entre eles.

Explicações causais de cognição em termos de processos cerebrais são


possíveis e cientificamente desejáveis, embora talvez incompletas. Os efeitos de
neurotransmissores e receptores sobre estados cognitivos e emocionais estão
sendo progressivamente descobertos. O progresso do conhecimento da fisiologia do
cérebro não fará as disputas filosóficas sobre a natureza da mente desaparecerem,
mas pode provocar uma mudança do estilo de discussão: em vez de um confronto
de posições em nível puramente teórico, pode-se passar a discussões baseadas na
interpretação dos dados empíricos. Por exemplo, ao se discutir se um transtorno
mental – como a esquizofrenia – tem uma base genética, é possível classificar os
diversos tipos de alterações cerebrais correlacionados com as psicopatologias e
verificar se existem elementos comuns em suas diversas manifestações.

Embora a neurociência cognitiva descubra correlações entre o cérebro e a


mente, um „fosso restaria. Essa visão parece desafiar tanto o clássico princípio de
razão suficiente, de Leibiniz, o qual afirma que tudo aquilo que existe tem uma
razão, no sentido de explicação racional, quanto o modelo de lei de cobertura,

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usado para a explicação científica dos fenômenos e que postula serem as


propriedades dos efeitos dedutíveis das propriedades das causas (usando-se como
premissas as leis científicas e as condições iniciais do sistema em estudo). Uma
contribuição original da epistemologia da neurociência cognitiva seria a análise da
possibilidade de efetiva explicação de processos cognitivos com base em categorias
neurobiológicas.

No caso de se concluir por uma impossibilidade, resta ainda a alternativa


epistemológica de construção de modelos das relações entre processos cerebrais e
processos mentais conscientes. O monismo de duplo aspecto é uma posição
filosófica que entende serem indissociáveis os aspectos físicos e mentais, ambos
constituintes fundamentais do mundo em que vivemos, e não poderem ser
eliminados ou reduzidos um ao outro. Nessa perspectiva em que o mundo físico e o
mundo mental constituem uma unidade do tipo yin-yang, a tarefa da neurociência
cognitiva seria justamente a de encontrar as devidas correspondências
(isomorfismos ou homeomorfismos) entre padrões de atividade biofísica do cérebro
e padrões de atividade mental (consciente ou inconsciente).

Entender sobre o desenvolvimento de habilidades mentais é fundamental


para compreender a organização e o funcionamento da mente humana e entender
como processos cognitivos são executados pelo cérebro, em suas interações com o
(restante do) corpo e o ambiente, são temas que refletem o avanço de pesquisa
neurocientífica em uma área previamente ocupada por filósofos e psicólogos.

A neurociência cognitiva trás consigo varias contribuições para diversas


áreas de atuação, principalmente para a Educação e a Psicologia.

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Contribuições da neurociência cognitiva à educação

Uma das principais contribuição da neurociência cognitiva à educação é ao


processo de aprendizagem no incentivo do ensinar e o aprender para melhores
condutas no ensino-aprendizagem, que possibilite o aprimoramento das
capacidades lógicos cognitivas, e das habilidades de raciocínio perceptivo dos
alunos.

O cérebro é o responsável pelo raciocínio lógico do ser humano e, diante da


sua atuação, pode-se assimilar, processar, acomodar novas informações, lembrar-
se daquelas já existentes na memória e também associá-las para, por exemplo,
formular uma resposta mais apropriada para um determinado problema.

O cérebro recebe, processa e organiza as informações, sejam elas


provenientes de sons, de imagens, de textos, de músicas ou de discursos. A partir
daí, ele descarta ou armazena aquelas que julga necessárias para o indivíduo.
Sendo assim, quanto mais estímulos o cérebro receber, de diferentes fontes, maior
será a capacidade de estabelecer ligações com as informações que já estão
arquivadas e, maior será a capacidade de novas conexões sinápticas1 e,
consequentemente, maior será a capacidade de aprendizagem.

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O professor poderá identificar os potenciais, além de dificuldades, que


inviabilizam o pleno desenvolvimento das funções cognitivas dos seus alunos,
podendo desta forma trabalhar de acordo com as necessidades de cada um. Da
mesma forma estabelece-se uma dinâmica interna nos relacionamentos
interpessoais, e na própria forma de enxergar a escola como meio propício e
prazeroso para o desenvolvimento e aquisição de saberes.

A aproximação entre neurociência e educação se faz dentro dessas


singulares e pertinentes descrições, pois a aprendizagem acontece por meio dessas
redes cerebrais complexas, onde há o processamento das informações, além dos
fatores que possam influir sobre essas condições. Nesse sentindo

A neurociência se constitui como a ciência de cérebro e a educação como a


ciência do ensino e da aprendizagem e ambas têm uma relação de
proximidade porque o cérebro tem uma significância no processo de
aprendizagem da pessoa. Verdadeiro, seria, também afirmar o inverso: que
a aprendizagem interessa diretamente o cérebro (OLIVEIRA, 2011, p. 22)

Verifica-se uma significativa e crescente expansão dos conhecimentos sobre


o funcionamento do cérebro, e que mais se definiria como um campo de saber
chamado de neurociências. Evidentemente, há uma vinculação desta com a área
das ciências naturais como já referido, contudo sua relação fica mais estreita com a
educação a partir do momento em que se percebe a comunicação do aprender com
as estruturas cerebrais, formando as estruturas cognitivas, e a memória. Esse
aspecto torna a conexão entre neurociências e educação muito próximas.

A compreensão do professor sobre o sistema nervoso implica numa melhor e


mais apropriada proposta de ensino. Deter tais conhecimentos não significa
propriamente solucionar desarranjos intelectuais ou que o aluno sofra uma
transformação abrupta sobre suas faculdades intelectuais, mas corresponde numa
motivação por estímulos adequados para a revelação de um potencial individual.
Para tanto:

[...] o conhecimento, por parte do educador, do neurodesenvolvimento


permite a utilização de teorias e práticas pedagógicas que levem em conta
a base biológica e os mecanismos neurofuncionais, otimizando as
capacidades do seu aluno. (OLIVEIRA,2011,p.26).

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Conhecer os mecanismos científicos relacionados ao cérebro constitui uma


ferramenta a mais para o conceber da aprendizagem. É o cérebro que se encarrega
de tal atividade evidentemente, mas não somente basta essa informação, é
necessário que o professor se aprofunde no estudo de suas estruturas, localização
de áreas funcionais para a aprendizagem e detenha conceitos fundamentais para a
compreensão desta, para perceber distintas formas de aprendizagem e de como ou
não acontecem. Assim é fundamental que os professores conheçam como o
cérebro organiza os conhecimentos e as estruturas cerebrais que sustentam esses
conhecimentos.

A construção da aprendizagem significativa depende não somente da


inserção de conteúdo didático, atividades rotineiras, mas também se deve aliar a
maneira de como fornecer os assuntos e respectivos exercícios. Um conceito que
equipara esse posicionamento é de memória de longo prazo que é por sua vez a
ponte que articula a assimilação e consolidação, dando prosseguimento as
atividades e assuntos estudados. Com isso, é interessante e oportuno que o
professor mediante os saberes advindos da neurociência, acrescente na sua prática
docente, estruturas que fortaleçam e constituam sustento para uma aprendizagem
produtiva. Não se trata de manipular mentes, ou forçar um desempenho escolar
brilhante, mas de conduzir de forma ética, para o aperfeiçoamento das habilidades
individuais que poderão ser evidenciadas no decorrer das experiências.

Desse modo, o conhecimento neurocientífico transforma o emprego dessas


mesmas atividades, pois quando concebemos o saber sobre a construção do
aprendizado e de como esse é produzido nas estruturas cerebrais, de sua produção
sináptica, comporemos um plano bem mais objetivo, centralizando o aprender na
coerência literal de sua palavra. O aprender não pode ser somente vinculado a uma
questão de mérito, de notas altas, mas deve ser associado ao poder pensante,
racional, crítico do aluno, em que este também medeie nas discussões na sala de
aula, além de outras relações estabelecidas no ambiente escolar.

A educação não é somente trabalhada para mediar o saber dentro dos


parâmetros julgados como normais, mas temos de perceber que há uma
diversidade a ser contemplada com esforços dirigidos a entender, e corresponder

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significativamente para com suas expectativas. Portanto, devemos priorizar o ensino


de qualidade, independente de qualquer dificuldade ou comprometimento
intelectual. Crianças com um sistema nervoso organizado de uma forma variante
podem vir a necessitar, posteriormente de estratégias pedagógicas especiais.

Para tanto, é necessário que o professor esteja seguro o suficiente, mas


aliado a essa característica cabe oferecer ao profissional o suporte necessário, para
que este possa entender os mecanismos que levam o aluno a aprender inserido na
sua capacidade, percebendo neste o seu modo de entender o próprio saber.
Estamos diante de um contexto muito mais plural no que se refere as condições de
desenvolvimento dos indivíduos. São inúmeros casos de síndromes incluindo o
autismo, a síndrome de Down, transtornos comportamentais diferenciados como
TDAH (Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade), paralisias cerebrais,
dislexia, e as próprias dificuldades de aprendizado, que trazem novos desafios aos
professores.

A relação entre neurociência e educação mostra-se adequada no processo


ensino aprendizagem, quando se estabelece uma fundamentação de métodos que
viabilizem o aprender dentro das possibilidades e particularidades de cada aluno.

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Contribuições da neurociência cognitiva à Psicologia

A relação entre a Neurociência e a Psicologia é estreita e complementar, uma


vez que enquanto a Neurociência estuda o funcionamento do nosso cérebro sob a
ótica do sistema nervoso e suas estruturas, a Psicologia faz um análise detalhada
da nossa mente e consequentemente da forma como processamos as informações
e experiências que formam e determinam a essência dos nossos comportamentos.

A combinação entre Neurociência e Psicologia é realmente extraordinária. As


duas abordagens ajudam a entender como construímos e processamos as
informações, a compreender os níveis neurológicos, a formação dos modelos
mentais de aprendizagem, como também as formas de o indivíduo interagir com seu
meio e entender a si mesmo, sua luz e sombra, a formação dos comportamentos,
impulsos, sentimentos, emoções e a influência dos estímulos externos em suas
ações e reações.

Ao ampliar os conhecimentos sobre ciências que estudam nosso cérebro e


suas interferências, é possível ainda usar de forma mais consciente e efetiva a
capacidade mental e intelectual do indivíduo a seu favor, compreender os
comportamentos sabotadores e eliminá-los, identificar os pontos fortes e potenciá-
los, desenvolver a inteligência emocional e social, como também os
comportamentos enquanto profissional e ser humano.

O avanço da neurociência possibilita a melhoria da qualidade de vida humana


na sociedade atual, disponibilizando tratamentos efetivos não somente de moléstias
degenerativas, como também em quadros psiquiátricos graves, como depressão e
psicose, conteúdos que são estudados pela psicologia.

Pesquisam-se mais sobre o cérebro humano nos últimos 5 anos do que em


toda a existência do homem e seu cérebro com mais de 100 mil anos de idade. O
acesso às informações mais valiosas sobre o comportamento de consumo do ser
humano, só têm sido obtidas de forma assertiva no Neuromarketing por meio da
Neurociência e suas pesquisas neurocientíficas e biométricas. Antes de falar dos
métodos mais comuns, é importante ressaltar a diferença entre pesquisas

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neurocientíficas e pesquisas biométricas, pois a maioria das pessoas confunde e


chega a pensar muitas vezes, que a pesquisa com o Eye Tracking por exemplo é
neurocientífica, porém, é biométrica.

O objetivo da neurociência é estudar o sistema nervoso do cérebro, sendo


assim, podemos considerar uma pesquisa como neurocientífica somente quando ela
analisa de fato a parte interna do cérebro humano. Já a pesquisa biométrica por sua
vez, por mais que queira obter informações do irracional ou instintivo do cérebro é
feita por meio de análises periféricas (íris, voz, batimento cardíaco, suor,
temperatura corporal, membros do corpo, etc).

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Para se chegar a conclusões como por exemplo, afirmar que o cérebro toma
a decisão da ação em até 7 segundos antes que ela efetivamente aconteça no
cérebro, é preciso embasamento científico para comprovação dessa informação e
isso só é possível devido a união entre neurocientistas e neuro-marketeiros,
analisando os dados de pesquisas por meio das respostas cerebrais do
indivíduo pesquisado e não mais por pesquisas tradicionais. Segue abaixo alguns
aparelhos utilizados.

EEG ou eletroencefalograma:

Permite estudar o cérebro humano por meio


de eletrodos que captam a atividade elétrica
cerebral por medidas eletromagnéticas, com isso é
possível identificar e analisar quais estímulos
ativam determinadas áreas do cérebro
responsáveis pelas emoções do seres humanos.

Por meio dessa análise, é possível


medir engajamento, valência positiva e
negativa. Veja imagem abaixo.

Tipo de Pesquisa: Neurocientífica.

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Ressonância Magnética Funcional ou fMRI:

Permite analisar o cérebro em funcionamento, por meio de imagens da


anatomia cerebral ou imageamento funcional.

Essa técnica é de alto custo e por esse motivo pouco utilizada. Serve
principalmente para verificar aspectos envolvidos ao comportamento de consumo,
marketing sensorial, neuropolítica e tomada de decisão. Veja imagem abaixo.

Tipo de Pesquisa: Neurocientífica.

Condutância de Pele, Atividade Eletrodérmica ou Resposta Galvânica da


Pele (GSR)

Utiliza de eletrodos que passam uma pequena quantidade de corrente


elétrica entre dois pontos na superfície das mãos, que geralmente são nas pontas
dos dedos.

É uma das técnicas mais utilizadas na história da psicofisiologia e também


uma das mais antigas para quantificar estados de alta relevância emocional, seja
positivo ou negativo.

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Faculdade de Minas

Tipo de Pesquisa: Biométrica.

Expressões Faciais, Eletromiografia ou Face Reader

É utilizado para detectar a atividade muscular facial através de sensores


colocados em determinados locais da superfície da pele (acima dos músculos
faciais).

A análise dessa pesquisa tenta compreender as emoções do consumidor


(tristeza, alegria, surpresa, nojo, raiva, medo e
desprezo) em resposta a determinados estímulos
sensoriais (visuais, auditivos ou sinestésicos).

Tipo de Pesquisa: Biométrica

Podemos concluir que, quanto mais compreendemos nosso cérebro e seu


funcionamento, mais compreendemos nossos comportamentos, potencializamos
nossos resultados, uma vez que a relação entre Neurociência e Psicologia é um
excelente apoio neste processo.

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Faculdade de Minas

REFERÊNCIAS

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Educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.

EYSENCK, M. W.; KEANE, M. T. Manual de psicologia cognitiva. 5. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2007.

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Comportamento - Princípios da Neurociência - 4ª edição. Editora Manole; 2003.
KURCGANT, Daniela; PEREIRA, Mário Eduardo Costa. A teoria de John
Hughlings Jackson sobre evolução e dissolução do sistema nervoso: observações
clínicas, influências e repercussões. Revista Latinoamericana de Psicopatologia
Fundamental, v. 6, n. 1, p. 148-153, 2003.

MOURÃO-JÚNIOR, Carlos Alberto; OLIVEIRA, Andréa Olimpio; FARIA,


Elaine Leporate Barroso. Neurociência cognitiva e desenvolvimento humano. Temas
em Educação e Saúde, v. 7, 2011.

OLIVEIRA, Gilberto Gonçalves de, Neurociências e os Processos Educativos:


Um saber necessário na formação de professores. 2011. Disponível em:
http://www.uniube.br/biblioteca/novo/base/teses/BU000205300.pdf. Acessado em 10
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PEREIRA JR., Alfredo. Questões epistemológicas das neurociências


cognitivas. Trab. educ. saúde (Online), Rio de Janeiro , v. 8, n. 3, p. 509-
520, Nov. 2010 .

QUEIROZ, Florence Alves Pereira de. As Contribuições da Neorociência para


a educação escolar.

ROLIM, Camila. SOUSA, Raimunda Aurilia Ferreira de. A Contribuição da


Neurociência na Pedagogia.

SABBATINI, Renato M. E. Frenologia: A História da Localização Cerebral.


Cerebromente.

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