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Em 1978 no Annual Review of Neuroscience, anunciava a emergência de uma nova abordagem interdisciplinar
para o estudo do sistema nervoso, a Neurociência ou Neurociências. Muito embora elas façam parte da biologia, elas
ultrapassam os seus limites tradicionais. Nas suas relações com os comportamentos, com a vida mental e com a vida
afetiva, elas penetram o domínio das ciências do homem e da sociedade. Pelo impacto na patologia do desenvolvimento
ou nas doenças psiquiátricas, elas colocam questões de natureza ética.
O processo de integração das diversas ciências foi um processo gradual. Em primeiro lugar, entre 1950 e 1960,
ocorreu uma integração no campo das neurociências de várias disciplinas que antes eram independentes –
neuroanatomia, neurofisiologia, neurofarmacologia, neuroquímica e disciplinas ligadas ao comportamento. Em 1980,
surge uma nova neurociência emerge pela junção com outras áreas da biologia – biologia molecular e biologia genética.
Um terceiro passo foi marcado, em meados dos anos 80, pela junção da neurociência com a psicologia cognitiva, levando
a formação da neurociência cognitiva.
As neurociências são o conjunto das disciplinas científicas que estudam o sistema nervoso. O seu objeto de
estudo é o cérebro e o seu funcionamento. Compreender como funciona o cérebro é compreender como todas as funções
químicas, elétricas, celulares; mas é também compreender as funções comportamentais e compreender o funcionamento
do pensamento. É compreender não apenas o pensamento de modo filosófico, mas de um modo científico também.
Pelo fim do séc. XX, o naturalismo passa a ser respeitado dentro da filosofia e os progressos na psicologia
empírica e nas neurociências foram diminuindo a distância entre as questões filosóficas tradicionais acerca do
conhecimento e as estratégias empíricas para a exploração do modo como o cérebro aprende, recorda, raciocina, percebe
e pensa. Entrava-se no campo da neuroepistemologia.
A neuroepistemologia ocupa-se do estudo do modo como o cérebro representa o mundo, como um esquema
representacional cerebral pode aprender e quais são as representações e informações no sistema nervoso que são
importantes.
3. As neurociências cognitivas
Quando a psicologia emergiu como ciência experimental no final do séc. XIX, o seu fundador Gustav Fechner
e Wilhelm Woundt, focarem-se na psicofísica – a relação quantitativa entre estímulos físicos e sensações subjetivas. O
sucesso desta abordagem encorajou psicólogos a fazerem investigações mais profundas, que levou a fundação do
behaviorismo.
Esta vertente, embora tenha contribuído para o estabelecimento de princípios gerais do comportamento e da
aprendizagem, se mostrou bastante limitada. Em 1960, o behaviorismo deu lugar a uma abordagem mais abrangente
relacionada com os processos cognitivos e com as representações internas ⇾ focou-se nos aspectos da vida mental – da
percepção à ação.
Os estudos microscópicos de células únicas foram muito informativos, contudo o funcionamento cerebral
consiste numa atividade concertada de múltiplos sistemas e neurónios ⇾ os estudos rapidamente tornaram-se
insuficientes para a compreensão das ligações entre o cérebro e o comportamento.
Com a sofisticação das novas tecnologias foi possível monitorizar a atividade de grandes populações de
neurónios, quer em sujeitos normais, quer em sujeitos com lesões cerebrais. Quer a tomografia por emissão de positrões
(PET), quer a ressonância magnética nuclear funcional (RMNf) permitiu o estudo de grandes populações neuronais em
seres humanos acordados, envolvidos em tarefas cognitivas.
A necessidade da ligação entre estes dois grandes domínios era muito reclamada, tendo Mario Bunge (1980)
feito uma forte crítica ao facto de os dois domínios andarem tão distantes sugerindo a necessidade de se evoluir no
caminho de uma verdadeira neuropsicologia. Com isto, surge a psicofisiologia cognitiva: um ramo da psicofisiologia
que se ocupa do significado cognitivo das medidas do funcionamento fisiológico, mas que já apresentava uma
sobreposição considerável com as futuras neurociências cognitivas.
Mais tarde, as neurociências cognitivas vão assumir essa aproximação que se tornou possível a partir do
desenvolvimento de modelos computacionais dos processos cognitivos e cerebrais, do aparecimento de novas
tecnologias e neuroimagem não invasiva, entre outros fatores. Este ramo das neurociências deu origem a uma série de
assunções centradas no conceito de representação. Nomeadamente, o facto de muito trabalho central envolver a
representação do corpo, dos dados do mundo e de alguns acontecimentos do próprio cérebro. Desenvolver operações
computacionais nessas representações serve para extrair informação relevante, tomar decisões, recordar e mover-se
adequadamente.
As neurociências cognitivas deveriam acompanhar, entre outros, os desenvolvimentos dos dados sobre a
evolução. Segundo a perspectiva evolucionista, o cérebro é visto como uma espécie de tampão contra a agressão
ambiental e a grande variabilidade dos acontecimentos ambientais. De forma abreviada, ajuda muito ter um cérebro com
a capacidade para preparar o organismo para acontecimentos que têm grande probabilidade de acontecer e organizar
uma respostas comportamental a algo que não aconteceu, mas que se espera que venha a acontecer. A hipótese
evolucionista postula que, ao serviço da predição, a atividade neuronal mapeia os dados do mundo mais relevantes para
o organismo.
É partindo desta perspectiva que surge a questão central da neurociência cognitiva: como é que as estruturas
neuronais conseguem realizar isto?
Ao nível neuronal, a principal questão que orienta esta campo centra-se em quais os dados da atividade neuronal
que subjazem à codificação e descodificação da informação? Já que os neurónios apresentam uma grande variedade de
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atividade, então uma teoria da representação necessita de resolver o problema de saber como distinguir os sinais
genuínos das atividades de manutenção ou do mero ruído.
Ao nível das redes neuronias, a finalidade predominante tem sido encontrar modelos plausíveis que permitam
intersetar os factos acerca dos neurónios e dos seus padrões de conectividade com os dados psicofisiológicos derivados
dos estudos comportamentais.
Ao nível sistêmico, o maior desafio é compreender como é que os sistemas nervosos integram a informação, a
armazenam, recuperam informação relevante para as tarefas e usam a informação para desenvolverem decisões
comportamentais.
Estes desafios deram origem ao que McCulloch chamou de epistemologia experimental.
4. Epistemologia Experimental
A epistemologia experimental é a tentativa de descobrir como as funções cerebrais sustentam os fenómenos
mentais tais como a sensação e a percepção. McCulloch levantou questões que eram simultaneamente de natureza
fisiológica, psicológica e filosófica. Uma das consequências disto foi o chamado “decomposição da mente nos seus
elementos”, em razão do esforço de localizar os resultados da análise da mente nos seus elementos, faculdades e funções.
Neste sentido, o facto de se tentar “anatomizar” (para usar as palavras de Charles Bonnet, 1760) a mente nos seus
elementos mais simples estava naturalmente relacionada com o desenvolvimento e o progresso da anatomia e acabou
por se tornar um modelo teórico para a psicologia.
Enquanto que a psicologia cognitiva é útil para revelar as varáveis comportamentais, as suas interações e os
métodos para o controle dos processos cognitivos, perceptivos e motores, a neuroimagiologia funcional revela as áreas
cerebrais que se ativam especificamente por uma tarefa cognitiva particular e a neurologia do comportamento avalia em
que medida uma lesão cerebral pode afetar os processos cognitivos e comportamentais e em que medida um processo
cognitivo ou comportamental requer o suporte de uma área especifica do cérebro. O que resultou desta tentativa de
integração não foi mais do que um grande reducionismo.
Contudo, há sinais de uma mudança relativamente recente nesta perspetiva, mudança que aponta para uma
óptica integrativa menos reducionista que, apesar de a descrição do cérebro ainda ser tão incompleta, já existem
suficientes factos acerca do cérebro para que esse movimento possa ocorrer e possa abordar o cérebro como um sistema
integrado.
A disciplina que melhor se posiciona para operar esta integração é a psicofisiologia, pelo facto de se apresentar
como um nó integrador em consequência do seu posicionamento de interface entre dois níveis de integração da
informação – o biológico e o psicológico – e da sua emergência na interface de diversas disciplinas das neurociências.
Na verdade, a psicofisiologia ocupa-se, quer ao nível da explicação/compreensão, quer ao nível metodológico, dos
processos operativos cerebrais concomitantes dos fenómenos psíquicos e das relações do organismo com o meio, assente
numa dimensão integradora e auto-organizadora das ópticas neurofisiológica, etológica e filo-ontogenética (cf.
Marques-Teixeira, 1992).
5. O papel da Psicofisiologia
O que pretendemos relativamente à composição do comportamento humano? As opções são múltiplas, mas em
todas elas é identificável um fundo comum: descrever, compreender, explicar e, em alguns casos, intervir no
comportamento humano nas diversas situações contextuais em que está envolvido.
Existem 3 grandes domínios que interagem e se estruturam mutuamente: o domínio biológico, o domínio social
e o domínio do sentido e do significado. Ou seja, o estudo do comportamento humano recai, necessariamente, sobre um
membro singular de uma espécie, que é fruto de uma evolução; sobre um indivíduo singular que é ator da sua própria
socialização; sobre um indivíduo singular que se pensa, se determina e se avalia, que se procura dar sentido e coerência
à vida.
Body (1989) considera que esta disciplina se situa na interface das disciplinas do domínio biológico e das
disciplinas do domínio psicológico. Em termos gerais, deveria ser um problema reservado ao discurso científico da
biologia e dapsicologia -- a biologia, enquanto discurso organizador das observações e das experiências entre sistemas
vivos e a psicologia enquanto discurso organizador das observações e experiências sobre a produção de desejos, ideias,
crenças, sentimentos, comportamentos racionais, etc.. No que respeita ao âmbito da biologia, pode-se afirmar como
Atlan (1986) que esta ciência, tendo redescoberto o seu “verdadeiro objeto” – a organização da matéria – acaba por
impor uma específica organização do organismo (em níveis). Assim, um mesmo objeto – organismo – é ao mesmo
tempo um objeto físico, químico e biológico, fisiológico, linguístico e social.
A utilização da psicofisiologia como analisador desta rede e na condição de disciplina integradora, permite
integrar os dados das diferentes disciplinas com as suas próprias investigações, de onde podem emergir um conjunto de
características do funcionamento do Sistema Nervoso, que cruzam as diferentes disciplinas, constituindo um fio de
ligação entre elas.
Constiuição em redes
No curso da evolução é sobretudo a rede de axónios do sistema nervoso que se desenvolve e com ele o modo
de comunicação intercelular particularmente eficaz. A arquitetura desta rede é de tal forma que as mensagens podem
ser transmitidas de uma célula nervosa a uma outra ou a uma célula efetora muscular ou glandular a grandes distâncias
e segundo uma topografia muito precisa. Para além disso, a mensagem assim transmitida pode conservar características
inalteradas ao longo do trajeto percorrido, sem interferência por parte do contexto envolvente, porque a mensagem
consiste numa sucessão, com uma frequência dada, de sinais idênticos, em que cada um consiste numa variação do
potencial elétrico da membrana celular (potencial de ação) que se propaga com uma amplitude inalterada ao longo de
um prolongamento axónico da célula nervosa. Este prolongamento axonal constituí, com a bainha isolante mielínica
que o envolve, uma das fibras nervosas dum nervo periférico ou dum fascículo do sistema nervoso central.
A transmissão destes sinais eléctricos é bastante mais rápida do que aquela que é enviada pelas hormonas por
via sanguínea. Mas o funcionamento do sistema nervoso, combina uma transmissão de sinais de natureza química com
sinais de natureza elétrica através da propagação dos potenciais de ação, ao longo das fibras nervosas. Uma fibra
nervosa, liga-se a uma outra célula através de uma zona de junção designada por sinapse, que é ultrapassada não pelo
potencial de ação que aí chega, mas por uma molécula mensageira que é libertada na terminação nervosa pré-sináptica
sobre influência do potencial de ação que a vai estimular. É esta molécula mensageira (um neuromediador ou um
neurotransmissor) age sob receptores situados na membrana celular pós-sináptica, desencadeando um efeito de
modificador das propriedades da permeabilidade dessa membrana. Por outro lado, convém sublinhar que a interposição
de uma transmissão sináptica de natureza química fornece uma ocasião e um lugar para a intervenção de processos
complexos de integração e de modelação.
O neurónio, sendo uma célula especial, pode ser concebido como uma “máquina cibernética” pois este opera
uma conversão dupla, de sinal digital em sinal analógico (à entrada das dendrites) e o inverso (à saída para o axónio).
Como uma máquina cibernética, o neurónio engloba as (1) entradas de informação (sob a forma de impulsos
nervosos vindos de outro neurónios ou de outras sinapses do próprio neurónio em causa), portal de entrada que opera
uma transdução de energia e o reconhecimento de múltiplos neurotransmissores; (2) um processo, que opera no corpo
celular através do controlo dos processos biológicos, do tratamento dos sinais de entrada, para serem convertidos
digitalmente em (3) saída de informação, pelo axónio, através de potenciais de acção (que não são mais do que sinais
digitais modulados em frequência) que se dirigem para outros neurónios.
Os neurónios inibitórios do cérebro têm uma grande influência no fluxo eléctrico nas redes neuronais de tal
modo que os potenciais de acção são apenas produzidos quando existem sinais aferentes persistentes e acumulados. Por
isso, a modulação da extensão e magnitude da actividade inibitória dos interneurónios permite que o cérebro desacelere
a actividade e, desse modo, permite que o córtice tenha o nível de energia adequado para o processamento e controlo da
informação.
Tudo isto, em síntese, assenta numa regra básica que é suficiente para produzir oscilações neuronais: a
acoplagem mútua entre os neurónios excitatórios (E) e os inibitórios (I) (Wang, 2010). Segundo esta regra, sempre que
um neurónio E dispara, activa os neurónios I os quais, por sua vez, ao fim de algum tempo silenciam retoractivamente
os neurónios E e assim ad perpetuum. Deste modo, a conectividade E-I serve para manter a actividade neuronal dentro
de uma variação restrita, ao contrário do que aconteceria se a conectividade fosse E-E ou I-I. Neste caso, rapidamente
se produziriam uma excitação ou uma inibição fora de controlo (bem entendido, que estes tipos de conexões existem,
mas dentro de um controlo das ligações E-I). Este mecanismo de retro-acção recorrente, em escalada crescente, contém
uma rede intricada de milhões de neurónios excitatórios e inibitórios (em conjunto com a glia) que, em última análise,
contribui para o que é usualmente conhecido como ondas cerebrais ((Buzsáki e Watson, 2012.
Funcionamento rítmico
Dados da neurpfisiologia (Pavlidis, 1969) e da cronopsicofisiologia (Poirel, 1983) revelam que às alternâncias
ondulatórias dos metabolismos celulares de repouso, sobrepõem-se as linguagens rítmicas dos potenciais de ação de um
neurónio e de neurónios vizinhos em situação de interferência. Existe ainda um mecanismo candidato extensamente
explorado pela neurociência, segundo o qual o cérebro “liga” a atividade das suas diversas redes através de mecanismos
rítmicos.
Papel integrador
Esta característica emerge das propriedades específicas dos neurónios. Ao fazer o somatório das influências de
outros neurónios, o neurónio autoestrutura-se, criando a sua própria informação. Este, após ter traduzido, codificado e
confrontado a mensagem entrada, estabelece uma ressonância por identidade rítmica, ressonância esta que lhe vai
permitir a seleção de outros neurónios transmissores sucessivos.
Neste sentido, podem-se definir três modos de operação do cérebro: ao nível sináptico, os axónios neuronais
excitatórios ou inibitórios obedecem à lei do tudo ou nada – ou disparam ou não; ao nível das redes neuronais existem
modos de funcionamento por surtos ou tónicos; enquanto que no nível global do funcionamento do cérebro existe
atividade sincronizada ou dessincronizada.
Homeostase/homeorrese
A 3ª implicação situa-se em torno do conceito de homeostase. A aplicação da teoria do caos e das estruturas
fractais ao Sistema Nervoso rapidamente pôs em causa este princípio clássico.
Tomando o ritmo cardíaco como exemplo de uma expressão da função de regulação do Sistema Nervoso
Central, verificou-se que mesmo na ausência de flutuações nos estímulos exteriores, aquele ritmo, em vez de evoluir
para um estádio estável, homeostático, apresentava flutuações (Goldberg et al., 1990).
Ao nível mais direto do Sistema Nervoso, Mayer-Kuss, Rapp, Babloyantz e Destexhe (citados por Goldberg et
al., 1990) demonstraram através da análise de electroencefalogramas de pessoas saudáveis a evidência do caos no
sistema nervoso. Na verdade, uma das funções mais importantes do cérebro é a homeostase (refletindo uma adaptação
óptima a um ambiente em mudança constante). Isso requer princípios de auto-organização relativamente simples e
fluxos de informação alimentadores dessa regra adaptadora.
De facto, os sistemas caóticos operam sob um grande leque de condições e são adaptáveis e flexíveis. Esta
plasticidade permite ao sistema auto-organizar-se em função das exigências de um ambiente imprevisível e em contínua
alteração, mantendo, apesar disso, um nível mínimo de redundância.
Em síntese, pode-se afirmar que as implicações do actual paradigmas científicos sobre a neurociência podem-
se resumir num conjunto de conceitos-chave. Vários foram os esquemas explicativos do funcionamento cerebral que
tentaram aplicar os conceitos resultantes desta mutação da racionalidade. Assim, por um lado os modelos de cariz mais
anátomo-funcional e sistémico-cibernético basearam-se na concepção do cérebro como um sistema aberto/fechado ao
ambiente, desenvolvendo um conjunto de explicações essencialmente neurocibernéticas (nos modelos de cariz anátomo-
funcional) e sistémico-neurocibernéticas (nos modelos de cariz sistémico-cibernético); por outro lado, os modelos auto-
organizativos aplicaram os restantes conceitos-chave ao Sistema Nervoso, muitos deles a partir das propriedades deste
conceito (organização, simultaneidade de antagonismos, ordem/desordem).
Num plano mais prático pode-se afirmar que o cérebro é hoje concebido como um sistema constituído por uma
enorme quantidade de elementos complexos organizados e por um complexo conjunto de protocolos de comunicação.
Estes conjuntos estão organizados em micro e macrosistemas formando um conjunto harmónico com diferentes níveis
de análise e de processamento da informação dos quais emergem os complexos comportamentos.
3. Bipedismo
Há cerca de 6 milhões de anos, os primeiros hominídeos distinguiram-se dos seus antecessores primatas por
terem adotado a posição bípede, mas mantendo os seus cérebros com tamanhos cerca de 1/3 do dos cérebros do Homem
moderno.
Os primeiros australopitecíneos, surgidos há pouco mais de 4
milhões de anos, dedicar-se-iam frequentemente a trepar árvores, ainda
que as suas ancas sejam sugestivas de marcha vertical regular. Já a
pélvis e joelhos da Lucy, um fóssil de Australopithecus aferensis,
indiciam que estes nossos antepassados se deslocavam
predominantemente no solo, de modo bípede.
Muitas razões têm sido apontadas para explicar o bipedismo,
sendo a mais atrativa aquela que sugere que desse modo as mãos
ficaram livres para manipular e transportar objetos ou para pegar em
pedras e usa-las como armas (Fifer, 1987). Aliás, a locomoção vertical
seria naturalmente vantajosa no ambiente aberto da savana, permitindo
a melhor detecção de presas, bem como de potenciais predadores. Uma
hipótese mais recente (Jablonski & Chaplin, 1993) conjuga a postura
vertical com a manifestação de uma atitude de dominância ou ameaça
face a outros indivíduos, colocando-a na origem do bipedismo.
Se bem que haja muitos debates acerca da origem do bipedismo, o certo é que ele influenciou a estrutura social
dos humanos e o seu comportamento sexual, pelo menos segundo a sugestão de Lovejoy (1981). Com o aumento do
período de desproteção da infância que acompanhou o crescimento do cérebro, tornou-se necessário que os hominídeos
machos transportassem comida e fornecessem ajuda às mães e às suas crias.
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4. Padrões de evolução do cérebro
Desde há cerca de 3-4 milhões de anos, o cérebro humano aumentou muito de tamanho, embora apenas se tenha
tornado ligeiramente maior proporcionalmente ao tamanho do corpo. Há pouco mais de 2 milhões de anos, alguns
hominídeos evoluíram com cérebros um pouco maiores do que os dos outros primatas. Por essa altura apareceram
utensílios simples, talhados em pedra. Esses utensílios são atribuídos ao Homo Habilis e, embora rudimentares,
assinalam a capacidade de ir além dos determinismos biológicos através de uma modificação activa do habitat. Há cerca
de 1.5-1 milhão de anos o cérebro teve uma rápida expansão atingindo cerca de 2/3 do tamanho do cérebro do Homem
moderno. No tempo que se seguiu, o tamanho médio do cérebro aumentou para perto dos 1400 cc no Homem moderno,
num ritmo de crescimento descontínuo ao longo do tempo e do espaço.
A linguagem evoluiu muito provavelmente nos últimos 500 mil anos, época que Homo Sapiens arcaico. O
Homo Erectus há quase meio milhão de anos, já sinalizava o desenvolvimento do raciocínio abstracto que subjaz à
linguagem por detrás desse comportamento. A organização social do Homo Erectus indicia que já possuiria formas
bastante efectivas de comunicação, mesmo que fosse incapaz da fala como a conhecemos.
Quanto ao material de cultura religiosa que ainda hoje se reflete na atividade do Homem moderno, esse apareceu
com o Neanderthalesis, surgido há apenas 250.000 anos. Estes nossos antepassados não só enterravam os mortos, como
os faziam acompanhar de oferendas, evidenciando um ritualismo religioso e um pensamento simbólico sem paralelo até
então.
Muito embora tenhamos outros dados que nos distinguem dos outros primatas, tais como o bipedismo e uma
relativa perda de pelos, o cérebro e o comportamento que ele produz é o que nos distingue, verdadeiramente dos outros
primatas. A história evolutiva do cérebro não é apenas uma questão cronológica do seu aumento de tamanho, mas
também uma das alterações da sua organização funcional. O cérebro não é só um produto da evolução filogenética, mas
também da evolução somática, genética, ecológica, demográfica e, mais recentemente, dos contextos culturais e
linguísticos nos quais eles evoluíram.
Mas qual é a vantagem evolutiva de se ter um cérebro grande?
Período de 6 a 2 milhões de anos atrás ⇾ “fase australopitecínea” ou estádio 1 da evolução do cérebro dos
hominídeos. Com o advento do bipedismo, eles exploravam novos ambientes e fontes de alimentação de uma forma
diferentes dos seus antecessores e, a partir do Homo habilis, torna-se claro que estes hominídeos modificavam objetos
no seu ambiente, utilizando como utensílios.
Apesar de tudo isto, não existe um padrão consistente de aumento do tamanho do cérebro ao longo deste período
da evolução dos hominídeos. Parece não ter havido uma grande pressão seletiva para aumentar o tamanho dos cérebros
dos orangotangos, chimpanzés e gorilas ao longo dos últimos 8 milhões de anos e este padrão manteve-se durante os
primeiros 4 milhões de anos da evolução dos hominídeos. Os hominídeos da fase austrolopitecínea não só possuíam
cérebros com um tamanho próximo do dos símios, como exibiram um padrão de estabilidade do volume do cérebro
semelhante ao dos símios ao longo de um período de tempo relativamente longo. No entanto, houve sem dúvida uma
reorganização funcional do cérebro nesta fase. O que permanece desconhecido é quais foram os aspetos dessa
organização cerebral que estiveram envolvidos naquela evolução, ou qual a vantagem que poderão ter conferido.
Foi precisamente no período de cerca de 2-1.5 milhões de anos atrás - a primeira fase do Homo/primeiro Homo
Erectus (fase 2 de Holloway) - que se pode argumentar que houve uma vantagem seletiva do aumento do tamanho
cérebro na evolução hominídea. As espécies hominídeas de grandes cérebros (H. Habilis, Georgicus, Erectus)
substituíram a grande maioria das espécies da fase australopitecínea, deixando apenas os australopitecíneos mais
robustos e altamente especializados, os quais sobreviveram até há cerca de 1.4 milhão de anos. Houve também uma
expansão biogeográfica, primeiro de África para Ásia, e depois para além da Ásia, mas ainda não há conhecimentos que
o cérebro contribuiu para isto.
Os Neanderthalensis e os Homens modernos no plano anatómico fornecem o contraste local/global deste
cenário (fase 3 de Holloway). Muito embora os Neanderthalensis tivessem adquirido um tamanho absoluto do cérebro
um pouco superior ao dos Homens modernos, eles não passaram de uma população circunscrita, limitada geográfica e
ecologicamente à Europa e à Ásia ocidental.
Apesar de ter havido um grande progresso na compreensão sobre o modo como as estruturas e as funções
cerebrais têm mudado ao longo da evolução, esse mesmo progresso também tem tido alguns obstáculos. Primeiro,
porque ainda não há um consenso quanto às medidas apropriadas para avaliar o tamanho do cérebro (têm sido propostas
várias, tais como frações, residuais, quociente de encefalização, índice de progressão, volumes totais e volumes do
neocórtice); segundo, os mecanismos explicativos sobre as consequências funcionais das diferenças observadas no
tamanho do cérebro continuam pouco adequados; terceiro, continuamos com um conhecimento limitado sobre outras
diferenças para além das relacionadas com o tamanho cerebral; por último, temos poucos instrumentos de avaliação
comportamental disponíveis que permitam comparações não enviesadas entre as espécies.
O cérebro humano não é completamente uma versão em tamanho grande de um cérebro de um primata genérico,
já que apresenta uma heterogeneidade quanto às áreas cerebrais no seu conjunto. Na verdade, algumas não
acompanharam o crescimento geral do cérebro, enquanto outras sofreram um desenvolvimento acelerado.
Segundo o princípio de “mais tardio é igual a maior”, a razão neocórtice/bulbo é praticamente o dobro nos
humanos comparativamente com os chimpanzés (Frahm et al., 1982), ou seja, o volume do neocórtice aumenta mais
depressa do que o volume do cérebro, segundo uma função exponencial de 1.13 (Haug, 1987). Para além disso, o
princípio de Deacon (1990), segundo o qual “maior é equivalente a muito conectado”, prediz que o neocórtice humano
aumentado deverá expandir as suas projecções para as outras regiões, proporcionalmente mais pequenas. Na verdade,
os humanos apresentam um número elevadíssimo de projecções do neocórtice para os motoneurónios do bulbo e da
medula (Iwatsubo et al., 1990). Este aumento das projecções neocorticais provavelmente permitirá aos humanos
modernos produzirem movimentos controlados mais finos das mãos, dos músculos respiratórios, dos olhos, das
mandíbulas, dos lábios, da língua e dos músculos da vocalização.
Dentro do neocórtice, o córtice pré-frontal lateral tornou-se desproporcionalmente grande no Homo Sapiens.
Este aumento de tamanho desproporcional talvez tenha contribuído para o aumento da influência que o córtice pré-
frontal lateral tem no cérebro humano. Striedter (2006) propôs que esta expansão terá aumentado a capacidade dos
humanos para desenvolverem aquilo a que o autor chamou de “comportamentos não convencionais”, tais como olhar
ou apontar para o lado oposto de um estímulo relevante ou tornear barreiras para obter alimento. Esta capacidade, em
conjunto com o aumento da destreza atrás aludida e do aumento relevante das áreas associada à fala (39, 40 de
Brodmann) poderá ter sido a antecessora da emergência da linguagem simbólica (Deacon, 1997).
Se esta hipótese for verdadeira, então a linguagem humana emergiu, pelo menos em parte, como uma
consequência automática, mas adaptativa, do aumento do tamanho absoluto do cérebro, correlativa de um aumento da
sua complexidade. Uma vez emergida a linguagem, o comportamento humano alterou-se drasticamente, sem mais
alterações no tamanho absoluto médio do cérebro.
No início da ontogénese do Sistema Nervoso (SN), os neurónios são produzidos ao longo do canal central do
tubo neuronal para, depois, migrarem até ao seu destino final. Para além disso, associam-se em aglomerados para
formarem as diferentes estruturas cerebrais e para adquirirem formas específicas de transmissão das mensagens
nervosas. Por fim, o funcionamento neuronal, ou a sua ausência, vai eliminar conexões redundantes ou impróprias e
reforçar as que se mantêm.
Muitos aspectos do desenvolvimento neuronal continuam após o nascimento como, por exemplo, o refinamento
e a elaboração neuronal contínuos, a conectividade sináptica, a génese glial e, até, neuronal.
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Ontogénese: processo evolutivo acerca das alterações biológicas sofridas pelo indivíduo, desde o seu nascimento até
o seu desenvolvimento final.
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2. Passos do desenvolvimento embrionário do cérebro
Primeiro, dá-se início a uma série de divisões celulares e ao fim de
alguns dias o agregado de 16 células deixa a trompa de Falópio para se
alojar no útero. À medida que a divisão celular continua, começa a formar-
se uma cavidade no seu interior. O aparecimento desta cavidade identifica
esta estrutura como um blastocisto e indica a formação de dois tipos
distintos de células: um anel periférico de trofoblastos e uma massa interna
de blastómeros, os quais dão origem ao embrião e, por isso, a todas as
células com que nascemos e morremos.
a) Implantação e gastrulação
Após o processo de implantação, que é a ligação física do blastocisto ao útero, ocorre a gastrulação que conduz
à formação de 3 camadas de células - ectoderme, mesoderme e endoderme.
O desenvolvimento do cérebro nos mamíferos é um processo em cascata, de um conjunto de acontecimentos
histológicos que incluem, sucessivamente, a geração e diferenciação dos neurónios (Rakic, 1995), a migração e a
organização das projecções axonais entre conjuntos de neurónios (Barone, 1995), a formação e maturação dos contactos
sinápticos que constituem os passos finais da corticogénese (Bourgeois et al., 1994).
Dos 3 folhetos embrionários, é a ectoderme que dá origem ao tecido nervoso, dando também origem à pele.
Com o fecho do tubo neuronal começam a ocorrer um conjunto de alterações nas suas paredes. Em primeiro
lugar a parede de células dentro do tubo neuronal cresce em espessura e formam-se múltiplas camadas. Dentro destas
estruturas primordiais entram em funcionamento os seus programas genéticos de histogénese (proliferação e
diferenciação neuronal) produzindo cerca de 250000 neurónios por minuto.
Este processo de proliferação celular ocorre em duas fases distintas: (1) a divisão simétrica, em que células
neuroepiteliais formam células gliais radiais idênticas e permitem uma rápida expansão celular; e (2) a divisão
assimétrica, em que cada célula radial se divide numa nova célula radial e num neuroblasto, ou seja numa célula
precursora neuronal que irá organizar-se, em conjunto com outras, em colunas ontogénicas.
A divisão celular ocorre na zona de proliferação, situada na região mais interior do tubo neuronal. Uma vez
produzidos, os neurónios migram da superfície mais interna do tubo neural (chamada zona ventricular) para a superfície
mais exterior desse tubo (zona marginal), constituindo uma nova camada de células (zona intermédia), apesar de também
ocorrer alguma migração tangencial. Após a divisão neuronal terminar e à medida que o cérebro se desenvolve, os
neurónios vão-se acumulando no topo desta zona intermédia e vão formando novas camadas sob a zona marginal. Uma
migração adequada dos neurónios exige múltiplos
mecanismos em ação, que incluem, entre outros: (1) o
reconhecimento do caminho certo; e (2) a capacidade para se
mover em longas distâncias.
Um dos mecanismos que assegura o percurso de
longas distâncias é o movimento dos neurónios ao longo de
células gliais alongadas (que desaparecem após a fase de
formação cortical) que funcionam como guias da migração
neuronal e que formam vias transitórias no cérebro fetal.
Células gliais radiais atuam como guias dos neurónios
recém-formados, conduzindo-os ao seu destino final no córtice
e) Agregação celular
Trata-se do processo de associação de células semelhantes em aglomerados celulares a partir de propriedades
de “adesividade celular” (espécie de código de reconhecimento celular).
3. Glia e mielinização
Um outro acontecimento muito importante e que contribui em grande escala para o desenvolvimento do cérebro
é a mielinização. Trata-se de um processo pelo qual as células gliais envolvem grande parte dos axónios criando uma
bainha de matéria gorda conhecida como mielina. O principal papel da mielina é isolar eletricamente o axónio
permitindo, desse modo, um aumento da velocidade da transmissão do impulso nervoso. Apesar deste processo começar
pela 29a semana do desenvolvimento pré-natal (Lenroot & Giedd, 2006) e continuar ao longo da vida, o seu período
mais rápido ocorre durante os dois primeiros anos após o nascimento. As células gliais que mielinizam os neurónios do
sistema nervoso central são conhecidos por oligodendrócitos, enquanto no caso do sistema nervoso periférico esse papel
cabe às células de Schwann.
Corpo celular
O corpo celular contém o núcleo e uma massa mais ou menos
esférica de ambiente citoplasmático cheio de organelos e inclusões
celulares.
Dendrites
Na maior parte dos neurónios, saindo do soma existem as dendrites. São relativamente curtas e saem do soma
como os ramos de uma árvore. Em proporções variadas, as dendrites contêm os organelos presentes no soma. Em alguns
neurónios, as dendrites emergem no fim do axónio. As dendrites ramificam-se de forma elaborada, constituindo o
principal prolongamento de recepção de informação do neurónio.
As dendrites, pelas suas ramificações representam as relações que o tem neurónio tem com outros neurónios e,
por isso, o seu papel integrador ⇾ pontos de contacto (sinapses).
Axónio
Na maior parte dos neurónios emerge do soma um único axónio que se pode dirigir para distâncias longas
(através dos nervos) ou perderem-se na rede neuronal perto da sua origem. Os axónios enviam informações quer para
outros neurónios, quer para os músculos ou glândulas. Enquanto que as dendrites representam o poder integrativo de
um neurónio, os axónios e os seus colaterais representam o poder distributivo.
Neurónios Motores - projetam-se para células efetoras não neuronais e para outros neurónios motores e
recebem impulsos quer dos neurónios sensoriais, quer dos neurónios motores e não são em grande número. Enquanto
que os neurónios sensoriais são as primeiras células no processamento dos dados neuronais, os neurónios motores são
asúltimas. Dividem-se em (1) NEURÓNIOS PIRAMIDAIS (Figura 11), situados na camada V, com espinhas
dendríticas, axónio vertical descendente, árvore dendrítica bipartida (d. basais e um d. apical ascendente) e um corpo
celular em forma de pirâmide. (2) CÉLULAS DE MARTINOTTI (Figura 12), com poucas espinhas dendríticas,
distribuição das dendrites em torno do corpo celular esferoidal, vertical ou horizontal, axóniovertical ascendente e
irregularidade dos ramos colaterais do axónio.
4. Potenciais de ação
Os potenciais de ação resultam de alterações temporalmente coordenadas na permeabilidade selectiva da
membrana para diferentes iões, resultantes da ativação ou inativação dos canais iónicos dependentes da voltagem.
5. Transmissão Sináptica
O processamento da informação no cérebro está baseado em redes de conexões sinápticas complexas e
específicas. No ser humano, o número de sinapses é de aproximadamente 1015. São junções assimétricas de comunicação
entre dois neurónios, e existem, em média 1000-10000 sinapses por neurónio.
Existem sinapses químicas (com uma fenda sináptica relativamente grande e exigem a presença de
neurotransmissores para a passagem do impulso nervoso) e eléctricas directa entre os canais iónicos). Nas sinapses
químicas, em resposta ao potencial de ação, os terminais pré-sinápticos altamente especializados libertam o
neurotransmissor para a fenda sináptica. O neurotransmissor difunde-se para a área pós-sináptica na qual, um elaborado
aparelho de transdução de sinal medeia a receção do neurotransmissor e a propagação do sinal.
A diversidade da excitabilidade dendrítica depende da morfologia
e da distribuição dos canais (das alterações funcionais dinâmicas e
dependentes da voltagem).
Um canal iónico que é controlado pelos neurotransmissores (ou
outras substâncias químicas) designa-se por canal iónico ligado ao
neurotransmisor.
Muitos canais iónicos não são controlados primariamente por
substâncias químicas, mas antes pela magnitude do potencial de
membrana - são designados por canais iónicos dependentes da voltagem
(Figura 17).
Os efeitos de um neurotransmissor dependem primariamente das
propriedades e localização dos receptores que ele pode activar. Os receptores que fazem parte dos canais iónicos
6. Organização de neurónios
No Sistema Nervosos Central os neurónios que partilham funções comuns agrupam-se, geralmente, em núcleos
(núcleos singulares de neurónios); noutras partes do sistema nervoso os neurónios estão agrupados à superfície,
formando o córtice. As áreas corticais filogeneticamente mais antigas têm 3 camadas (p. ex., cerebelo), enquanto que
as mais recentes têm 6 camadas (o córtice cerebral).
A camada I, mais externa, também designada por molecular ou acelular, contém poucos neurónios, todos
inibitórios, com sinapses com as dendrites dos neurónios das camadas mais profundas. As principais estruturas que se
encontram nesta camada são dendrites e axónios de neurónios de camadas mais profundas
A camada II, ou granular externa, contém uma mistura de células piramidais com alguns neurónios inibitórios.
Embriogénese
A espinal medula deriva diretamente da zona caudal do tubo
neuronal. Inicialmente constituída por células germinais pluripotenciais,
dispostas numa camada única, denominada neuroepitélio. Por processos de
divisão mitótica, essas células multiplicam-se, dando progressivamente lugar
a neuroblastos (que vão originar os neurónios do SNC) e glioblastos (que vão
originar a macróglia). Após este processo de proliferação, as células germinais
mantêm- se numa camada unicelular que reveste o interior do canal central –
epitélio ependimário – mas os neurónios imaturos e os glioblastos migram em
direção ao exterior,
O manto diferencia-se em duas placas: uma na zona dorsal - a alar - onde se diferenciam os neurónios sensitivos
e, outra, na zona ventral - a basal - onde se desenvolvem neurónios motores. Enquanto a substância cinzenta da medula
tem origem na camada intermediária do neuroepitélio, a substância branca origina-se na camada marginal.
Microestrutura interna
A substância branca é maioritariamente constituída por axónios mielinizados, não só que estabelecem conexões
ao nível de cada segmento, mas sobretudo dos axónios que correm paralelamente à medula. A distribuição desses
axónios pela substância branca não é uniforme, mas sim organizada em três cordões (funículos) de feixes de cada lado:
(1) o posterior, entre o sulco mediano e o sulco lateral posterior; (2) o lateral, entre o sulco lateral posterior e a saída das
raízes anteriores dos nervos raquidianos; e o anterior, entre a saída das raízes anteriores e a fissura mediana anterior.
Por entre os principais feixes de transmissão da informação nervosa no sentido ascendente, em direcção às
estruturas encefálicas, encontram-se:
1- o fascículo grácil: no funículo posterior que, projectando no encéfalo, por exemplo, informação proprioceptiva
consciente ⇾ andar sobre uma corda bamba sem cair.
2- o trato espinotalámico: conduz informação nociceptiva e térmica (via fibras laterais), bem como informação de tipo
táctil protopática (via fibras anteriores) até o tálamo; o feixe espino-reticular: papel importante na transmissão sensorial
dolorosa e, também, o trato espinomesencefálico que cursa em associação com o trato espinotalámico, conduzindo
informação nociceptiva;
3- os tratos espinocerebelosos dorsal e ventral: conduzem informação proprioceptiva até ao córtice do paleocerebelo,
colaborando para a regulação inconsciente dos movimentos; ⇾ atividades involuntárias do SN autónomo
4- as fibras espinobulbares: cursam entre os cordões anterior e lateral até ao bulbo raquidiano, a partir de onde projeta
informação cutânea e propioceptiva no cerebelo.
Aspectos funcionais
A espinal medula ocupa o nível inferior na hierarquia do sistema motor, sendo responsável pela génese de
respostas reflexas somáticas e actuando como centro de controlo de actividade reflexa vegetativa, o que lhe permite
contribuir para a regulação homeostática global do organismo.’
Deste modo, apesar de se constituir como a divisão estruturalmente mais simples do SNC, a espinal medula
assume importantes funções sensoriais e motoras:
1- Recebe informação sensorial (somática e visceral) proveniente do corpo, transduzem os fenómenos físicos ou
químicos em impulsos nervosos;
2- Transmite essa informação no sentido ascendente até ao encéfalo, via neurónios de projecção;
3- Recebe informação proveniente do encéfalo e transmite aos órgãos efectores periféricos, possibilitando a execução
de movimentos e a regulação da postura;
Reflexos medulares
Os reflexos medulares são respostas automáticas, não aprendidas e estereotipadas a estímulos de tipo sensorial.
as respostas reflexas medulares envolvem apenas receptores e vias sensoriais, a espinal medula, as vias motoras e
respectivos órgãos efetores, dispensando a regulação por parte de estruturas supramedulares, ainda que tal regulação
possa acontecer e influenciar tanto a ocorrência como a intensidade da resposta reflexa.
Todos os reflexos medulares constituem arcos sensoriomotores. um arco reflexo é constituído por um receptor
sensorial, um neurónio aferente, uma ou mais sinapses que têm lugar, em regra, na matéria cinzenta da espinal medula,
um neurónio eferente e um órgão efetor.
Os arcos reflexos simples caracterizam-se por sinapses directas entre a fibra
sensorial e o neurónio motor que vai produzir a resposta na área estimulada (dizem-
se monossinápticos e são intra-segmentares), enquanto os arcos reflexos compostos
envolvem um ou vários neurónios de associação, que fazem a interligação
(interneurónios) da entrada sensorial com a saída motora (dizem-se reflexos
polissinápticos e podem ser intra ou intersegmentares), possibilitando que áreas
diferentes da que recebeu a estimulação sensorial sejam envolvidas na resposta
reflexa.
O reflexo de flexão, os reflexos cutâneos
e, ainda, os reflexos autonómicos que permitem
regular o funcionamento dos órgãos internos, dos vasos sanguíneos e das glândulas,
são, todos eles, reflexos polissinápticos.
Algumas respostas reflexas obedecem à “lei do tudo ou nada”, i.e. ou estão
presentes ou ausentes, mas outras podem apresentar uma gradação quantitativa.
Mesmo nos reflexos mais simples, a excitabilidade do neurónio motor pode ser
afectada por influências inibitórias ou excitatórias com origem em vários níveis do
sistema nervoso, suprimindo, atenuando ou, pelo contrário, amplificando a resposta
reflexa.
Qualquer lesão que afecte a via sensorial ou motora do reflexo, assim como a matéria cinzenta do segmento
medular em causa, produz a supressão ou, pelo menos, a atenuação do reflexo.
Por outro lado, visto que a maior parte das vias descendentes que convergem nos neurónios efetores,
nomeadamente as cortico-espinais, exercem um efeito inibitório sobre os reflexos medulares, o resultado comum da sua
lesão consiste na amplificação das respostas reflexas e, até, no ressurgimento de reflexos primitivos, como o de Babinski
(extensão do “dedo grande do pé” por estimulação plantar), que ficam habitualmente suprimidos pela actividade
supramedular nos primeiros meses de vida.
1. Estrutura macroscópica
Bulbo:
É formado por duas porções: porção fechada e aberta.
1) Face ventral: encontramos o sulco mediano ou longitudinal do bulbo.
Continua-se para cima e termina em uma depressão chamada forâmen cego que.
Há ainda os 2 sulcos laterais anteriores do bulbo. Nas porções mais superiores
desta face vamos encontrar duas dilatações chamadas pirâmides bulbares. Nas
porções mais inferiores, o sulco mediano anterior é parcialmente obliterado
pelo cruzamento da maior parte do tracto piramidal originando uma região
chamada decussação das pirâmides.
2) Face lateral: na porção lateral vamos ter ainda mais um sulco que é
continuação direta da medula e se denomina sulco lateral posterior.
3) Face dorsal: apresenta os seguintes sulcos: sulco mediano dorsal ou
longitudinal posterior, sulcos intermédios posteriores e sulcos laterais
posteriores.
Entre os sulcos mediano posterior e os sulcos intermédios posteriores vamos encontrar o fascículo grácil que
termina em uma dilatação chamada tubérculo grácil que é formada pelo núcleo do mesmo nome. Entre os sulcos
intermédio e lateral posterior vamos encontrar o fascículo cuneiforme que termina numa dilatação chamada tubérculo
cuneiforme que é formada pelo núcleo do mesmo nome.
Ponte (protuberância):
Na sua face ventral apresenta toda sua estrutura percorrida por sulcos horizontais formando as estrias
transversais da ponte, essas estrias agrupam-se nas porções mais laterais formando dois grossos feixes de substância
branca chamados braços da ponte ou pedúnculos cerebelosos médios. A barriga da ponte é percorrida por um sulco
mediano chamado sulco basilar formado pela artéria basilar.
Mesencéfalo:
Porção mais alta do tronco é dividida por uma estreita fenda chamada
aqueduto cerebral ou de Sylvius em duas porções: uma anterior chamada
pedúnculo cerebral e uma posterior chamada teto do mesencéfalo ou lâmina
tectal.
O pedúnculo cerebral é um grosso feixe de fibras de substância branca
em número par, separados entre si por uma fenda bastante pronunciada chamada
fossa interpeduncular. Na superfície dos pedúnculos cerebrais encontramos dois
sulcos: sulco lateral do mesencéfalo e o sulco medial do pedúnculo cerebral onde
se origina o III nervo craniano.
Teto do mesencéfalo (lâmina tectal): Nesta região encontramos 4
pequenas dilatações separadas entre si por um sulco em formato de cruz: são os
colículos ou tubérculos quadrigêmeos superiores e inferiores.
Alguns núcleos estão envolvidos nos mecanismos do sono. (p. ex., n. tegmental
pedúnculo-pontino, que é um núcleo colinérgico) (ver Figuras 6 e 7). Também faz parte da região locomotora do
mesencéfalo e, nessa medida, faz parte da regulação do comportamento.
Núcleos parabraquiais
Estes núcleos localizam-se na parte medial do pedúnculo cerebeloso
superior e dos tratos sensoriais (lemniscais) da protuberância e mesencéfalo.
Recebe informação visceral quer da medula espinal, quer do tronco
cerebral, enviando-a para o hipotálamo, para a amígdala e para o núcelo do rafe
(Holstege, 1988).
O núcleo parabraquial constitui um local de integração da informação
visceral (incluindo o tato, os sinais cárdio-respiratórios e a dor visceral) (Craig,
1996), enviando-a posteriormente para o núcleo central da amígdala para o
hipotálamo. Daí a sua importância na regulação das respostas emocionais
autonómicas em relação aos sinais viscerais, especialmente, a dor viceral.
Reflexos vestibulares
As aferências sensoriais dos otólitos e dos canais semicirculares do ouvido interno são usadas para orientar a
posição da cabeça no espaço. Os reflexos que ativam os neurónios motores dos músculos do pescoço são designados
por reflexos vestibulo-cólicos, enquanto que os que ativam os músculos dos membros são designados reflexos vestibulo-
espinhais.
Reflexos do pescoço
Rodar a cabeça em relação ao pescoço excita as fibras musculares do pescoço e os aferentes das articulações
cervicais. Isto evoca contrações reflexas dos músculos do pescoço (reflexos cervico-cólicos) e dos músculos dos
membros (reflexos cervico-espinhais). Os primeiros contraem os músculos do pescoço de modo a reorientarem a cabeça
em relação ao corpo, enquanto que os segundos causam a contração dos músculos dos membros em resposta a
movimentos rápidos da cabeça.
Cerebelo
Parecendo uma couve-flor, o cerebelo localiza-se na parte posterior do tronco cerebral e desempenha funções
importantes no controlo motor (especialmente na coordenação do tempo do movimento muscular), na planificação dos
movimentos motores e na aprendizagem de habilidades.
O cerebelo tem 3 grandes divisões:
1) O vestíbulo-cerebelo, que constitui a parte mais antiga
em termos filogenéticos, compreendendo porções do
flóculo e do nódulo. Tem conexões bidirecionais com
núcleos vestibulares do tronco cerebral.
2) O espino-cerebelo, localizado nas regiões medianas dos
hemisférios cerebrais, recebe informação somato-sensorial
e cinestésica da medula espinal, mantendo conexões
bidirecionais com ela.
3) O cérebro-cerebelo, recebe entradas de muitas regiões
distintas do córtice, incluindo os córtices de associação e
motor, estando envolvido na regulação de movimentos
complexos que requerem sequências complexas espaciais e
temporais envolvendo a aprendizagem sensório-motora.
Em termos restritos, o diencéfalo é descrito pelas seguintes 3 estruturas: tálamo, hipotálamo, neurohipófise e
epitálamo.
1. Tálamo
Originário da vesícula diencefálica, a sua localização pode ser definida como estando abaixo do fórnice e acima
do sulco hipotalámico, de cada um dos lados do 3o ventrículo. é constituído por duas massas ovais com cerca de 3 cm.
Praticamente tudo que o poemos
saber acerca do mundo externo ou do mundo
interno se baseia nas mensagens que têm de
passar pelo tálamo.
O támamo funciona como a
principal estação de distribuição da
informação sensorial para o córtice, sendo
constituído por vários núcleos organizados
em dois tipos de grupos: (a) núcleos de
distribuição e (b) núcleos de associação.
Cada núcleo de distribuição esta associado
com uma modalidade sensorial ou a um
sistema motor únicos.
Aquilo que é conhecido como
“tálamo límbico” consiste num conjunto de
núcleos talâmicos (quer dos distribuição, quer dos de associação) que se projetam para o córtice límbico.
Núcleos talámicos
Núcleos Reticulares
Localizam-se na lâmina medular externae os seus
neurónios são de transmissão gabérgica com extensivas ligações
com os núcleos do tâlamo dorsal. Estes núcleos são considerados
como servindo como válvulas para a transmissão tálamo-
cortical, mediando as influências inibitórias dos lobos frontais,
bem como do impacto excitatório da formação reticular do
tronco cerebral.
Tálamo límbico
É definido como a porção do tálamo que serve o sistema límbico (Bentivoglio et al., 1993) inclui o núcleo
talámico anterior, bem como partes de outros núcleos, tais como o núcleo dorsal lateral, os núcleos medianos e da linha
média, o pulvinar, entre outros.
Significado anátomo-funcional
Uma das suas principais funções é a filtragem das entradas sensoriais. O seu papel de integração da informação
vinda do encéfalo com a informação vinda da periferia, dá-lhe um estatuto importante na economia do cérebro. Para
além disso, está integrado no sistema lateral e mediano da dor. Por fim, assegura o controlo motor, através da integração
da informação descendente, sobretudo informação complexa motora. Em síntese, o tálamo constitui uma espécie de
“central de rede” na qual diferentes informações podem se sintetizadas numa história coerente.
2. Hipotálamo
Estando localizada, como o nome indica, abaixo do tálamo,
é o regulador central e constitui, em termos filogenéticos, o vértice
superior mais antigo do SN Vegetativo. É uma área muito antiga na
filogenia, com uma estrutura muito semelhante entre os seres
humanos e os animais mais inferiores. Nos mamíferos é a região
mais importante para a coordenação dos comportamentos essenciais
para a manutenção das espécies.
É constituído por cerca de 22 pequenos núcleos, sistemas de
vias de passagem e hipófise. Apesar de ser apenas 0.3% de peso total
do cérebro, está envolvido na maior parte dos aspectos
comportamentais, incluindo o alimentar, o sexual, o sono e a vigília,
a regulação da temperatura, comportamento emocional, a função
endócrina e o movimento.
Conexões do hipotálamo
Os sinais neuronais chegam ao hipotálamo por muitas vias. A principal
via que transporta sinais ascendentes da formação reticular do tronco cerebral é
a via prosencefálica mediana, que se dirige para o hipotálamo lateral. Por sua
vez, o hipotálamo lateral está interligado com as zonas periventricular, mediana
e hipotalâmica, bem como com a área pré-óptica.
As entradas ascendentes hipotalámicas vêm do locus coeruleus e dos
núcleos do rafe (efeito activador do hipotálamo), enquanto que as descendentes
vêm do sistema límbico (septo-hipocampo e amígdala).
As saídas do hipotálamo tendem a ser por longos axónios originários dos
corpos celulares localizados nas zonas mediana e lateral.A sua relação com a hipófise é de duas naturezas: (1) por via
neuronal com a hipófise posterior ou neurohipófise e (2) via vascular com a hipófise anterior ou adenohipófise.
3. Epitálamo
Constituído pela epífise e habénula. A epífise tem uma aparência glandular
e contém um único tipo de células designadas por pinealócitos. Nos seres mais
inferiores a epífise constitui o olho parietal, que é um órgão sensitivo importante para
a organização dos ritmos circadianos. Tem sido designada como “órgão da
tranquilidade” em razão das propriedades hipnóticas da metanonina. As suas células
segregam serotonina e melatonina, mas a sua produção é bloqueada pela luz. Ou seja,
a produção de melatonina é apenas feitadurante as horas de obscuridade. A acção da
melatonina faz-se sentir sobretudo no núcleo supraquiasmático e na hipófise anterior.
A habénula (núcleo habenular) localiza-se na parede do 3o ventrículo, na
parte posterior da epífise. É constituída por um pequeno núcleo mediano e por um
grande núcleo lateral. A principal via aferente é a estria medular que transporta sinais
do prosencéfalo mediano e do septo, do lobo límbico e do hipotálamo, bem como do
estriado ventral. A sua função é ligar as estruturas límbicas com os núcelos do tronco
cerebral superior.
2. Contextualização anatómica
O lobo temporal pode ser dividido em duas partes: a parte lateral mais recente (neocortical), responsável pela
audição, fala e integração da informação sensorial de diferentes modalidades sensoriais e a parte ventromediana, mais
antiga (constituída por arqui e paleocórtice), que é conhecida como consistindo nos componentes do sistema límbico (o
giro do parahipocampo, o córticeentorrinal, a formação hipocâmpica, o uncus, a amígdala e o córtice do pólo temporal
(Figuras 2 e 3) (Martin, 1996).
Toda a informação do mundo externo passa pelas áreas de associação uni e multimodais antes de convergirem
para o hipocampo e amígdala. Por isso, estas estruturas são consideradas como sendo centros supramodais.
Formação hipocâmpica
Esta formação ocupa uma posição central no sistema límbico e consiste no hipocampo propriamente dito em
conjunto com o giro dendatus e o subículo. As células dominanetes são as células piramidais.
Fórnice
Trata-se de um conjunto de fibras que transportam informação
do Hipocampo. É constituído pelos pilares anteriores, corpo e colunas
e as suas fibras dividem-se em: Ramo posterior, que termina nos Corpos
Mamilares; e ramo anterior que termina nos núcleos septais e no núcleo
accumbens.
6. Complexo Amigaloide
O complexo amigdalóide é um complexo de núcleos localizados dentro do lobo temporal, junto ao uncus (Figura
9). É uma das estruturas límbicas mais estudadas, com muita evidência a sugerir o seu papel na vida emocional (Le
Doux, 1992). De uma maneira geral a amígdala tem acesso à informação sensorial integrada das áreas corticais de alta
ordem.
Reconhecem-se 3 áreas nucleares principais na amígdala, muito embora cada uma delas possa também ser
subdividida: núcleos laterais (basolaterais), núcleo central, núcelos medianos (corticomedianos).
8. Giro supracaloso
Circuito de Papez
O clássico circuito de Papez permite uma retroacção
para o hipocampo através do giro cingulado. O circuito
começa no hipocampo, a partir do qual as fibras eferentes
saem pelo trígono, formando parte das fibras pós-comissurais
do pilar anterior que chegam aos corpos mamilares. Daí
dirigem-se para o núcleo anterior do tálamo e, através dele,
para o tracto mamilo-talámico (feixe de Vicq D’Azyr). De
seguida incorporam-se no fasíclo do cíngulo e dirigem-se
para trás para entrarem na circunvolução do hipocampo,
completando assim o circuito.
Estria Terminal
Um grupo de fibras que saem da amígdala constitutem a estria terminal, que se arqueia dorsalmente, passa pela
habénula e termina no hipotálamo, tâlamo e núcleo accumbens. Este núcleo faz parte dos Núcleos da Base e constitui a
ligação das estrututuras límbicas com a escolha da resposta motora adequada ao estado emocional, integrando o Sistema
de Recompensa.
Amígdala
As maiores conexões da cada um dos grupos de núcleos
que constituem a amígdala. Os núcleos laterais avaliam a
informaçãosensorial integrada com vista à atribuição de um
conteúdo emocional e ligam-se ao córtice pré-frontal, córtice
cingulado e estriado ventral.
Os núcleos medianos associam o gostoeadorcomas
emoções. O núcleo central liga-se com os centros autonómicos do
tronco cerebral para regular a respostas autonómica sensorial e
motora aos estímulos emocionais.
A maior parte das fibras que se dirigem do hipocampo para o hipotâlamo terminam nos núcleos mamilares.
Este segundo nível de controle evoluiu para: (1) tornar possível uma maior variabilidade no funcionamento
sensório-motor no funcionamento biológico interno; (2) para elaborar capacidades para o armazenamento de informação
e o seu posterior uso; (3) para elaborar a capacidade de atribuir significado auto-referencial aos acontecimentos através
dos processos de avaliação subjectiva.
As estruturas do sistema límbico evoluíram no sentido de: (1) controle e aprendizagem dos padrões sensório-
motores; (2) funções vegetativo-bioquímicas; (3) coordenação dos dois.
2. Lobos Frontais
Subdivisões anatómicas
Os lobos frontais localizam-se à frente do sulco central e são constituídos por 3 regiões anatómicas distintas:
(1) a região dorso-lateral; (2) a região mediana; (3) a região orbital ou orbitária. O córtice motor constitui a porção
posterior quer da região dorso-lateral, quer da região mediana. A parte do lobo frontal anterior à área motora, incluindo
o córtice orbital, é conhecida pelo córtice pré-frontal.
Do córtice motor partem a maioria dos axónios que constituem os tratos córtico- bulbar e córtico-espinal. O
córtice motor consiste nas seguintes porções: (1) córtice motor primário; (2) córtice pré-motor; (3) córtice motor
suplementar; (4) campos visuais frontais; (5) área da fala de Broca.
Córtice pré-motor
Está à frente do córtice motor primário e atrás do córtice pré-frontal. A maior parte dos neurónios deste córtice
têm projecções curtas para o córtice motor primário e uma pequena parte tem projecções longas para a formação reticular
através da cápsula interna. Da formação reticular estes axónios dirigem-se para a medula formando os tratos reticulo-
espinais.
Córtice Pré-frontal
O córtice pré-frontal está dividido nas seguintes regiões: (a) dorso-lateral (CPFDL); (b) ventro-mediana
(CPFVM); (c) orbito-frontal (COF) ou orbital (Figuras 4 e 5); (d) dorso-mediano (CPFDM).
3. Lobos Temporais
Os lobos temporais estão divididos em duas regiões: lateral e ventro-mediana. A 1a sustenta as funções
cognitivas associadas a vários sistemas sensoriais, enquanto que a 2a contém a maior parte das estruturas do sistema
límbico.
Subdivisões anatómicas
Na superfície lateral do lobo temporal destacam-se 3 giros: o temporal
superior, médio e inferior (Figura 10). Os giros e os sulcos são mais variáveis na
superfície inferior, onde se podem ver 3 giros paralelos: giro temporal inferior, giro
occipito-temporal lateral e mediano (giro fusiforme) (Figura 11).
Apresenta uma heterogeneidade funcional envolvendo áreas com funções
distintas (áreas primária /secundária auditivas, área visual secundária, área sensorial
terciária, área límbica). As áreas auditivas processam sensações auditivas e percepções
auditivas e visuais, asseguram o armazenamento de longo termo das informações
sensoriais e a tonalização afectiva das informações sensoriais.
Enquanto no hemisfério dominante se processa a memória verbal e os sons da
fala, no hemisfério não dominante processa-se a memória não verbal, os sons musicais
e a informação dasexpressões faciais. As suas lesões resultam em défices da percepção
auditiva, agitação, irritabilidade, comportamento pueril e afasia sensorial.
5. Lobos Ociptais
O córtice do lobo occipital contém a área visual primária (córtice estriado)
que ocupa uma grande porção da parte mediana do lobo occipital para dentro da
cisura calcarina e os córtices visuais secundário e terciário (que constituem a área
de associação visual).
6. Lobos Parietais
Está envolvido em funções cognitivas de alta ordem, tais como
a percepção do espaço externo e da imagem corporal. Está dividido em
duas grandes regiões: (1) sómato-sensorial, que é anterior e engloba um
mapa sensorial do corpo (homúnculo sensorial) e está envolvida na
diferenciação das 5 sensações básicas (pressão leve na pele, pressão
forte no tecido celular sub-cutâneo, movimento articular, dor e
temperatura). A estereognosia (capacidade de reconhecimento táctil de
um objecto tridimensional) é processada nesta região destes lobos; (2)
região sómato-visceral, posterior, está envolvida na cognição
(processamento da informação sensorial), na integração trans-modal
(reconhecimento de sinaissucessivos simultâneos como uma percepção
única), na coordenação espacial (representação dos mundos espaciais visual e somático), na abstração e na manipulação
de coordenadas espaciais (representação mental). As suas lesões provocam Incapacidade de discriminação entre
estímulos sensoriais, incapacidade para localizar e reconhecer partes do corpo (negligência), incapacidade de se auto-
reconhecer, desorientação espacial e incapacidade de escrita.
7. Vias de Associação
Existem basicamente dois tipos de fibras de associação: (1) fibras de associação curtas (que deixam uma dada
área do córtice e viajam para áreas adjacentes em bandas finas mas identificáveis, imediatamente por baixo da camada
10. Síntese
O cérebro espacializa e temporaliza. Isto é, estas acções descrevem que as alterações que o cérebro sofre em
resposta a estímulos externos e á sua própria actividade intrínseca são colocadas nos seus respectivos contextos espacial
e temporal. O conjunto de todos os estímulos com o seu contexto espacial cria uma matriz espacial, grelha ou estrutura
que opera através de pontos discretos do espaço físico do cérebro. O mesmo estímulo ou outros estímulos são colocados
em diferentes pontos no tempo físico. Colocar um único estímulo no seu contexto temporal particular torna possível que
esse estímulo se ligue e relacione com outros estímulos nos pontos discretos do tempo físico. Isto resulta numa matriz
temporal, grelha ou estrutura que opera através de distintos pontos no espaço físico.