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ESTRATÉGIA DE INSPEÇÃO a boa performance do prédio, a segurança e o conforto dos

seus usuários (IBAPE/SP – Instituto Brasileiro de Avaliações e


PREDIAL Perícias do estado de São Paulo - “Inspeção Predial - Check-up
Predial: Guia da boa Manutenção”, 2005).

A Inspeção Predial deve ser entendida como uma vistoria para


avaliar os estados de conformidade de uma ediicação, mediante
aspectos de desempenho, vida útil, segurança, estado de
EQUIPE conservação, manutenção, desempenho, exposição ambiental,
Daniel Rodrigues Rezende Neves - Engº Civil – Mestrando em utilização, operação, observando sempre às expectativas dos
Construção Civil Universidade FUMEC usuários.

Nos países de primeiro mundo, manter o patrimônio imobiliário


Luiz Antônio M. N. Branco - MSc – Professor Universidade em boas condições de uso é uma questão cultural e rotineira,
FUMEC sendo que a contratação dos serviços de Inspeção Predial
para elaboração de um plano para manutenção é realizada
naturalmente, demonstrando a consolidação desta atividade
nestes países.
RESUMO Nos EUA e no Canadá, a Inspeção Predial é considerada
Neste artigo serão apresentadas as técnicas para a realização da como pré-requisito em qualquer transação imobiliária, sendo
Inspeção Predial. Para tanto buscou-se o conceito de Inspeção obrigatória a juntada do laudo de inspeção para a assinatura dos
Predial e as ferramentas utilizadas na aplicação deste serviço, contratos. Nos prédios públicos desses países pode-se veriicar
para ins de difundir o conhecimento, orientar os proissionais o Certiicado de Inspeção Predial nos quadros de avisos, e nos
da área e antecipar as ações contra a deterioração precoce dos imóveis residenciais disponíveis para venda e locação, este
imóveis, de forma a garantir a segurança do edifício e preservar certiicado é geralmente ixado atrás da porta, permitindo em
o bem estar dos ocupantes. ambos os casos ao usuário ou ao futuro morador, avaliar as
Será feita uma abordagem sobre todos os procedimentos condições físicas e o estado de conservação destas ediicações.
utilizados na aplicação da Inspeção Predial, englobando desde No Brasil as transações imobiliárias são completamente
a elaboração da proposta comercial para a prestação do serviço, diferentes, pois, grande parte das negociações é concretizada
até a formatação do trabalho para a materialização do laudo. levando em consideração as informações fornecidas pelo atual
Também será apresentada uma possível metodologia para proprietário do imóvel ou pelo intermediador da venda, ignorando
enquadramento das anomalias considerando o seu grau de as informações técnicas que deveriam ter sido anteriormente
gravidade, risco e tendência, possibilitando ao síndico do levantadas por um proissional especializado. Com o laudo de
condomínio e/ou gestores da ediicação um direcionamento de inspeção predial em mãos, o comprador e/ou usuário estaria
todos os serviços a serem realizados e a ordem cronológica com munido de informações técnicas fundamentadas, capazes de
que estes serviços deverão ser executados. orientá-lo na negociação do valor ou até mesmo direcioná-lo em
sua decisão de compra.
Palavras-chaves: Inspeção, Deterioração, Anomalias.
Além de orientar as transações imobiliárias, o laudo de inspeção
predial funciona como uma importante ferramenta no auxílio para
identiicação de anomalias e falhas, que podem comprometer
o funcionamento do edifício ou até mesmo colocar em risco a
INTRODUÇÃO integridade física dos seus usuários.

Os acidentes prediais decorrentes de falhas na construção Na realização da inspeção predial, as anomalias ou falhas
ou na manutenção predial vêm causando mortes e prejuízos constatadas serão devidamente analisadas e classiicadas
injustiicáveis. Desabamentos, incêndios, quedas de marquises de acordo com o grau de risco apresentado, fornecendo ao
e fachadas, vazamentos, iniltrações e tantas outras mazelas condomínio um direcionamento de todos os serviços a serem
provenientes dos descuidos com a ediicação, podem ser evitados realizados e a ordem cronológica com que estes serviços
com medidas preventivas simples, de longo prazo, através de deverão ser executados, possibilitando um planejamento de
um planejamento que se inicia com a Inspeção Predial para a todos os gastos e a racionalização dos serviços.
posterior implantação do plano de manutenção, que garante

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Grande parte das anomalias e falhas constatadas através da desempenho, exposição ambiental, utilização e operação,
inspeção predial podem a curto prazo comprometer o bom observando sempre às expectativas dos usuários.
funcionamento do edifício e a integridade física dos seus
O registro ou apontamento de não-conformidades possuem
ocupantes.
denominações técnicas diferenciadas, sendo a anomalia
construtiva o termo indicado para aquele problema proveniente
da própria construção, a anomalia funcional o termo indicado
para o problema de uso, e falha, o termo indicado para a
HISTóRICO DA INSPEÇÃO não-conformidade decorrente da manutenção, tal que essas
denominações devem ser classiicadas quanto ao grau de
PREDIAL gravidade, urgência e tendência.
A Inspeção Predial foi trazida para o Brasil no ano de 1999, através Portanto o enfoque do vistoriador deve ser tríplice, ou seja,
de um trabalho técnico apresentado no X Congresso Brasileiro técnico, funcional e de manutenção, exigindo uma visão
de Avaliações e Perícias de Engenharia - COBREAP, sendo que sistêmica tridimensional.
após esta data, os estudos sobre o tema foram aprofundados,
novas técnicas foram introduzidas e algumas adaptações foram
realizadas, com o objetivo de adequar a Inspeção Predial às
necessidades do nosso mercado.

Para ins de padronizar a Inspeção Predial, no ano de 2001, o


Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias do estado de São
Paulo - IBAPE/SP lançou a primeira norma técnica sobre o tema,
proporcionando ao proissional responsável pela elaboração
do serviço, um balizador das atividades a serem executadas.
Desde o seu lançamento esta norma tem passado por diversas
atualizações, sendo a última delas, realizada no ano de 2009.

GOMIDE (2009) deiniu a Inspeção Predial como sendo uma


vistoria técnica da ediicação para a apuração de suas condições
técnicas e para determinação das medidas preventivas e
corretivas necessárias para a boa conservação e manutenção
do prédio.

No entanto, este conceito tem evoluído rapidamente e hoje


tal deinição destaca o aspecto da avaliação técnica, da
funcionalidade e da manutenção da ediicação, buscando a
Qualidade Predial Total, levando em consideração o uso e a as
condições de conformidade proposta por JURAN, (1990).

Desta forma, o conceito de Inspeção Predial mais abrangente


e em conexão ao objetivo de qualidade predial total foi deinido
como sendo a avaliação das condições técnicas, de uso e de figura 1: Esquema da visão Sistêmica Tridimensional
manutenção da ediicação visando orientar a manutenção e obter
Fonte: (GOMIDE; PUJADAS; FAGUNDES NETO, 2006).
a Qualidade Predial Total (GOMIDE; PUJADAS; FAGUNDES
NETO, 2006).

COMO CONTRATAR O SERvIÇO


O QUE É A INSPEÇÃO PREDIAL DE INSPEÇÃO PREDIAL
Com o objetivo de classiicar as complexidades e abrangências
NA PRÁTICA das inspeções, e para balizar o orçamento do serviço
A Inspeção Predial é uma vistoria para se avaliar os estados possibilitando eventuais comparações orçamentárias, a norma
de conformidade de uma ediicação, mediante aspectos de estabeleceu três níveis de serviço, que abrangem a maioria

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dos contratos, sem embargo da possibilidade de criarem outros INíCIO DOS TRABALHOS
níveis, dependendo da necessidade.
- Análise da Documentação:
Estes níveis de serviços são deinidos como nível de rigor,
O item 9 da norma de Inspeção Predial do IBAPE/SP, estabelece
que consiste na classiicação da Inspeção Predial quanto à
a análise das documentações Administrativas (Instituição,
complexidade da vistoria e à elaboração do seu relatório inal,
especiicação e convenção de condomínio, regimento interno
levando em consideração o número de proissionais envolvidos, a
do condomínio, manual do proprietário...) e das documentações
profundidade na constatação dos fatos, o estado de conservação
Técnicas (Projeto aprovado, projeto modiicado, projeto
do imóvel e as necessidades do cliente.
executivo...) levando em consideração o nível de serviço
O item 7.2 da norma de Inspeção Predial do IBAPE/SP, conceitua contratado e a tipologia do empreendimento vistoriado.
os três níveis de rigor da seguinte forma:
Caso a ediicação a ser inspecionada não possua todos os
7.2.1 – NÍVEL 1: Vistoria para a identiicação das anomalias documentos que o item 9 da norma de Inspeção Predial
aparentes, elaboradas por proissional habilitado com orientação preconiza, isto será relatado no Laudo, no entanto, não trata-
técnica pertinente;
se de um impedimento para a realização do serviço, tendo em
Este nível se enquadra, ordinariamente, nos imóveis cuja natureza vista que este serviço não têm como inalidade a “legalização”
evidencia sistemas e componentes construtivos simples, tais do edifício.
como: casas térreas, sobrados, e edifícios sem elevador.
- Vistoria preliminar e elaboração de questionário:
7.2.2 – NÍVEL 2: Vistoria para a identiicação das anomalias
aparentes identiicadas com o auxílio de equipamentos, elaborada Após a análise da documentação o proissional deve realizar
por proissionais de diversas especialidades, contendo indicação uma inspeção prévia no imóvel a ser vistoriado, para ins de
de orientações técnicas pertinentes. coletar informações e a fazer uma apreciação técnica. As
Este nível se enquadra, ordinariamente, nos imóveis cuja natureza informações coletadas servirão como base para a montagem
evidencia sistemas e componentes construtivos complexos, tais do seu questionário para obtenção das informações, conforme
como: edifícios de múltiplos andares, galpões industriais, etc. preconiza o item 10 da norma de Inspeção Predial do IBAPE/SP.
7.2.3 – NÍVEL 3: Vistoria para a identiicação das anomalias
aparentes e das ocultas constatáveis com o auxílio de equipamentos,
incluindo testes e ensaios locais e/ou laboratoriais especíicos,
INfORMAÇÕES DOS USUÁRIOS, RESPONSÁvEIS,
elaborada por proissionais de diversas especialidades, contendo PROPRIETÁRIOS E GESTORES DAS EDIfICAÇÕES
indicação de orientações técnicas pertinentes.
Recomenda-se a vistoria de todos os compartimentos do imóvel,
Este nível se enquadra, ordinariamente os imóveis com suspeitas na impossibilidade deve-se obter informações sobre eventuais
de vícios ocultos signiicativos. reformas e modiicações nos mesmos, bem como outras
relativas ao desempenho, funcionalidade, conforto, saúde, e
demais condicionantes no uso do imóvel.
RESPONSABILIDADE DO INSPETOR PREDIAL
Assim sendo é imprescindível obter informações através de
O item 16 da norma de Inspeção Predial do IBAPE/SP, deine
questionário especíico, recomendando-se consultar a Norma de
como sendo de resposabilidade do Inspetor Predial, os seguintes
Procedimentos.
subitens:
Os informes ou relatórios de acompanhamento de rotina da
16.1 – O proissional é responsável única e exclusivamente pelo
manutenção deverão ser veriicados pelo inspetor predial para
escopo e pelo nível de inspeção contratada.
analisar o desempenho desses serviços.
16.2 – Exime-se de qualquer responsabilidade técnica a empresa
ou proissional quando o seu Laudo de Inspeção Predial não As informações coletadas são de suma importância para o
for observado pelo proprietário ou usuário da ediicação, e por conhecimento das principais não-conformidades e benfeitorias
qualquer anomalia decorrente de falhas de projeto, construtivas, do prédio, facilitando ao proissional a elaboração do seu check-
de materiais e de deiciência de manutenção, bem como de suas list, procedimento este que será citado a seguir.
conseqüências.
Cumpre salientar que não existe um modelo especíico e
Convém ressaltar que a responsabildade do inspetor predial deinido de questionário, pois cada imóvel apresenta as suas
limita-se ao seu trabalho, não abrangendo problemas do edifício. particularidades.

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ELABORAÇÃO E PREENCHIMENTO DO CHECK-LIST ramiicações de distribuição internas, desde o subsolo, até o topo
do prédio, devendo ser inspecionado todos os quadros elétricos,
O check-list trata-se de um formulário destinado a anotação das
iações aparentes e dispositivos de segurança instalados, sendo
constatações técnicas e dos resultados encontrados na vistoria.
importante propor soluções econômicas quando as mesmas não
Este formulário tem como objetivo facilitar o levantamento dos
izeram parte do sistema predial, como é o caso de sensores
dados no campo de forma a tornar a vistoria dinâmica.
foto-elétricos para lâmpadas de garagem / hall de circulação; e
O presente check-list possibilita o planejamento da vistoria, sistemas de segurança, quando por exemplo, a ediicação não
bem como o arquivamento das informações encontradas, possuir um sistema de pára-raios.
servindo como prova física do nível de qualidade da inspeção
Para vistorias em sistemas civis ou hidráulicos, deve-se
realizada. Não existe um modelo padrão e acabado, cada
inspecionar todos os elementos visíveis no sentido descendente,
proissional deverá elaborar o seu formulário consoante com
ou seja, do topo do edifício para o último subsolo e veriicar
suas preferências e rotinas.
as anomalias que indicam perdas de desempenho ou outros
O grau de complexidade do check-list deverá ser proporcional ao problemas em trechos não aparentes, como é o caso de manchas
nível de rigor do serviço contratado, bem como as características de iniltração de água junto a tubulações hidráulicas.
apresentadas pelos componentes e equipamentos dos diversos
Os sistemas e equipamentos passíveis de inspeção, são
sistemas construtivos a serem inspecionados.
basicamente:
O item 11 da norma de Inspeção Predial do IBAPE/SP, recomenda
– estrutura;
que a listagem do formulário deverá abranger, no mínimo, todos
os componentes e equipamentos passíveis de inspeção ocular, – alvenaria;

destacando-se os seguintes: – revestimentos;

11.1 – Estrutura; – instalações hidráulicas, de combate a incêndio e gás, instalações


elétricas e pára raios;
11.2 – Alvenaria;
– ar condicionado;
11.3 – Revestimentos;
– ventilação forçada – exaustores e ventiladores;
11.4 – Impermeabilizações;
– elevadores;
11.5 – Esquadrias;
– escadas rolantes;
11.6 – Cobertura;
– bombas e outras máquinas;
11.7 – Paisagismo;
– piscinas e outros equipamentos de lazer, incluindo condições de
11.8 – Instalações (elétricas, hidráulicas...).
playground;
Segundo a NBR 5674 – Manutenção de ediicações, da ABNT,
– paisagismo e etc.
item 8.4, tem-se:
As inspeções devem ser orientadas por listas de conferências
padronizadas (check-list), elaboradas considerando: O TRABALHO DE CAMPO
A) Um roteiro lógico de inspeção das ediicações; Na primeira inspeção deve-se constatar primeiramente a
existência ou não de um manual de operação, uso e manutenção,
B) Os componentes e equipamentos mais importantes na
ediicação; para dar subsídio à coleta das informações técnicas e elementos
a serem vistoriados.
C) As formas de manifestações esperadas da degradação do
edifício; Caso a ediicação possua o referido manual, a vistoria deverá
ser realizada com base nesse documento, veriicando se os
D) As solicitações e reclamações dos usuários.
procedimentos e prazos foram executados e cumpridos conforme
planejado.
O QUE DEvE SER INSPECIONADO E DE QUE fORMA Caso a ediicação não possua o referido manual e esteja dentro
O inspetor predial deverá vistoriar a ediicação na íntegra, desde do prazo de garantia (05 anos de uso), instruir o síndico ou
o subsolo até o último pavimento. gestor da ediicação, para que recorra à construtora responsável
pela execução do edifício e exija o fornecimento deste manual,
Para vistoriar os sistemas elétricos, a inspeção deve ser executada
a partir do ponto de entrada de energia à ediicação, até as suas

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expondo à empresa construtora o que determina o Art.12 da compatível com o conhecimento desta equipe, por exemplo a
Seção II, do Código de Defesa do Consumidor: Foto 1.
O construtor responderá independente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por informações
insuicientes ou inadequadas sobre a utilização e riscos.

Caso a ediicação não possua o referido manual e não esteja


dentro do prazo de garantia, o síndico ou gestor da ediicação
deverá ser instruído para a contratação deste serviço através de
uma empresa especializada.

A primeira inspeção de um edifício requer maior atenção


e abrangência, pois é necessário separar as anomalias
construtivas originais (passíveis de reparos cobertos pela
garantia), ou mesmo das endógenas dos prédios sem garantia
(passíveis de reparos por empresas especializadas), daquelas
funcionais decorrentes da degradação, e também das falhas de
manutenção (GOMIDE; PUJADAS; FAGUNDES NETO, 2006). foto 1: Lodo proveniente da ausência de manutenção

Fonte: GRANATO, 2006


A DIfERENÇA ENTRE ANOMALIA E fALHA As anomalias incorrigíveis são aqueles problemas que requerem
A anomalia trata-se de vício construtivo e a falha trata-se de vício a re-execução completa do serviço, incluindo demolição do
da manutenção. item daniicado e a elaboração de um novo projeto. Para este
caso, soluções paliativas podem ser proposta a im de evitar o
As anomalias podem ser classiicadas como: agravo destes danos, como é o caso da Foto 2, onde ocorreu o
– endógenas – provenientes de vícios de projeto, materiais esmagamento por compressão do pilar.
e execução;

– exógenas – decorrentes de danos causados por terceiros;

– naturais – oriundas de danos causados pela natureza;

– funcionais – provenientes do uso inadequado e da


degradação.

As falhas de manutenção podem ser classiicadas como:

– de planejamento – decorrentes de falhas do plano e


programa (manuais);

– de execução – oriundas dos procedimentos e insumos;

– operacionais – provenientes dos registros e controles


técnicos;
foto 2: Esmagamento por compressão no pilar
– gerenciais – devido a desvios de qualidade e custos. (oxidação da ferragem)

Fonte: GRANATO, 2006


CLASSIfICAÇÃO DAS ANOMALIAS E fALHAS
Após a classiicação das anomalias, o inspetor deve enquadrá-
las como sendo corrigíveis ou incorrigíveis, visando à adequação
do plano de reparos e a um direcionamento destas correções.

As anomalias corrigíveis podem ser identiicadas como pequenos


problemas que podem ser corrigidos pela própria equipe de
manutenção, ou seja, que apresentam um grau de complexidade

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ENQUADRAMENTO DAS ANOMALIAS E fALHAS A avaliação realizada pelo inspetor no que diz respeito à
manutenção, deverá ser fundamentada tomando como referência
O enquadramento para a classiicação das anomalias e falhas
os itens prescritos no manual de operação, uso e manutenção,
deve ser realizado da seguinte forma:
tendo em vista, que a improvisação e o desatendimento das
* Condições técnicas: orientações se fazem presentes em grande parte das ediicações,
contribuindo desta forma, para o surgimento de anomalias e
– Crítica: excesso de anomalias incorrigíveis (procedimentos
problemas, causando gastos dispendiosos e desnecessários.
fora dos objetivos da manutenção, envolvendo a contratação
de especialistas, conseqüências de perdas altas de Um exemplo clássico de uma anomalia causada em virtude da
desempenho) e corrigíveis (possíveis correções que a ausência de manutenção no rejunte das juntas do revestimento
manutenção pode incorporar, devido à baixa complexidade, cerâmico é mostrada na Foto3.
praticidade e baixos custos);

– Regular: quantidade aceitável de anomalias corrigíveis;

– Satisfatória: ausência ou quantidade mínima de anomalias


corrigíveis.

* Condições de uso:

– Crítica: excesso de irregularidades incorrigíveis de


segurança, habitabilidade, conforto e sustentabilidade;

– Regular: quantidade aceitável de irregularidades de uso


incorrigíveis;

– Satisfatória: ausência ou quantidade mínima de


irregularidades de uso corrigíveis.

* Condições de operação e manutenção: foto 3: Existência de elorescência no rejunte


do revestimento cerâmico
– Crítica: excesso de falhas incorrigíveis e corrigíveis;

– Regular: quantidade aceitável de falhas corrigíveis;


QUANTO AO USO
– Satisfatória: ausência ou quantidade mínima de anomalias
corrigíveis. Deve-se analisar todos os documentos relativos ao uso e
operação, dentre eles as convenções de condomínio, os
De acordo com (LÍVIO; PUJADAS; FAGUNDES NETO, 2006),
manuais técnicos fornecidos pela construtora, as contas de água
pode-se também, classiicar as condições retro de forma genérica,
e energia elétrica, enim, todos os documentos que estejam
adotando os resultados de impacto como base:
interligados ao uso da ediicação.
– Crítica: impactos irrecuperáveis;
Grande parte das anomalias apresentadas referem-se à
– Regular: impactos parcialmente recuperáveis; falhas de projetos e problemas provenientes das modiicações
“adaptações” realizadas para atender às necessidades dos
– Satisfatória: ausência ou possibilidade mínima de
usuários, que interferem no bom funcionamento da estrutura e
impactos recuperáveis.
prejudicam o funcionamento dos elementos construtivos ao qual
foram projetados.
CLASSIfICAÇÃO QUANTO À MANUTENÇÃO A Foto 4 exempliica uma adaptação realizada pelos moradores
A fase inicial de funcionamento de uma ediicação é repleta de um edifício de forma a ocultar o problema existente.
de problemas, pois, em geral, tudo é utilizado e operado sem
qualquer planejamento ou conhecimento (LÍVIO; PUJADAS;
NETO, 2006), desta forma, se faz de suma importância a
existência do manual de operação, uso e manutenção, pois,
os mesmos contemplam todas estas informações até então
desconhecidas pelos seus usuários.

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GRAU URGÊNCIA PESO
Total Evento em ocorrência 10
Alta Evento prestes a ocorrer 8
Média Evento prognosticado para breve 6
Baixa Evento prognosticado para adiante 3
Nenhuma Evento imprevisto 1

Quadro 2 – índices que demonstram a urgência de reparos


nas anomalias
Fonte: GOMIDE; PUJADAS; FAGUNDES NETO, 2006).

GRAU TENDÊNCIA PESO


Total Evolução imediata 10
Alta Evolução em curto prazo 8
Média Evolução em médio prazo 6
Baixa Evolução em longo prazo 3
foto 4: Suporte instalado para conduzir a água proveniente Nenhuma Não vai evoluir 1
de uma iniltração da laje Quadro 3 – índices que demonstram a tendência das anomalias
Fonte: PUJADAS, 2008 Fonte: GOMIDE; PUJADAS; FAGUNDES NETO, 2006).
Cabe ao inspetor identiicar quais são estas interferências A metodologia consiste em classiicar o nível de cada não-
existentes e traçar diretrizes a im de adequar a necessidade conformidade nas três funções e calcular o produto dos
dos usuários com o espaço físico existente, bem como todos os respectivos pesos. As prioridades serão determinadas pela
seus componentes. ordem decrescente do valor apurado.

Deve-se criar um quadro com base no modelo (exemplo) abaixo


ANÁLISE DOS RESULTADOS apresentado, para a avaliação das prioridades.

Após a realização de todo o trabalho de campo, o inspetor deverá ELEMENTO GRAVIDADE URGÊNCIA TENDÊNCIA Nº PONTOS PRIORIDADES
VISTORIADO
realizar a análise dos graus de risco considerando a gravidade,
Vazamento
a urgência e a tendência dos mesmos, visando determinar uma 10 10 10 1000 1º
de gás
ordem de prioridades das atividades necessárias para a correção Gotejamento
das anomalias identiicadas. de água no 3 10 1 30 3º
cavalete
GOMIDE; PUJADAS; FAGUNDES NETO (2006) mostram uma Trincas no
adaptação do sistema desenvolvido por KEPNER e TREGOE, 10 10 8 800 2º
pilar
cujas funções de criticidade e pesos utilizados na determinação
Quadro 4 – Avaliação das prioridades das falhas
das prioridades podem ser feitas conforme os quadros abaixo
Fonte: GOMIDE; PUJADAS; FAGUNDES NETO, 2006).
demonstrados:
Após a avaliação das prioridades, o inspetor deverá colocadas
GRAU GRAVIDADE PESO
em ordem decrescente de valor e fazer as suas recomendações
Total Perda de vidas humanas, do meio ambiente ou do próprio edifício 10
técnicas para cada anomalia identiicada, conforme o quadro
Alta Ferimentos em pessoas, danos ao meio ambiente ou ao edifício 8 abaixo:
Média Desconfortos, deterioração do meio ambiente ou do edifício 6
1º Vazamento de gás Reparos nos vazamentos de gás na prumada 1000
Baixa Pequenos incômodos ou pequenos prejuízos inanceiros 3
2º Trincas no pilar Reparos nas trincas do pilar 800
Nenhuma Nenhuma 1
Gotejamento de
3º Reparos no gotejamento de água do cavalete 30
Quadro 1 – índices que demonstram a gravidade das água no cavalete
anomalias
Quadro 5 – Ordem de prioridades e orientações técnicas
Fonte: GOMIDE; PUJADAS; FAGUNDES NETO, 2006).
Fonte: GOMIDE; PUJADAS; FAGUNDES NETO, 2006).

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As orientações técnicas foram mencionadas no quadro acima,
no entanto é necessário que sejam feitas as considerações
CONCLUSÃO
técnicas em uma folha a parte, discriminado o que deve ser feito Diante do exposto, veriica-se que a Inspeção Predial propicia
com maior detalhamento e direcionamento das atividades. a preservação patrimonial e contribui para a racionalização dos
gastos com as manutenções a serem realizadas, pois direciona
as manutenções necessárias de acordo com o grau de risco e
ELABORAÇÃO DO LAUDO TÉCNICO urgência apresentado, desta forma, garantindo a segurança dos
Trata-se da materialização de todo o trabalho realizado, incluindo moradores e propiciando uma melhor orientação na condução
vistoria, anotações dos danos técnicos e análise de documentos, dos negócios imobiliários.
devidamente apresentados de forma clara e objetiva através de
um Laudo Técnico de Inspeção Predial, fundamentado sobre as
normas vigentes, expondo as condições gerais da ediicação e
direcionando as ações de manutenção a serem realizadas na REfERÊNCIAS BIBLIOGRÁfICAS
presente ediicação.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR
O item 15 da norma de Inspeção Predial do IBAPE/SP descreve 5674:99: Manutenção de Ediicações - Procedimento. Rio de
os seguintes itens a serem contemplados no laudo: Janeiro, 1999.

– Identiicação do solicitante; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NBR


13.752:96: Perícias de engenharia na construção civil. Rio
– Classiicação do objeto da inspeção;
de Janeiro, 1997.
– Localização;
BRASIL, MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, SECRETARIA DE DIREITO
– Data da Diligência; ECONÔMICO, DEPARTAMENTO DE PROTEÇÃO DE DEFESA
– Descrição Técnica do Objeto: DO CONSUMIDOR. Decreto nº 2.181, de 20 de março de 1997.

* Tipologia; CORRÊA, Marcelo, Engenharia Legal – Teoria e Prática


Proissional, Ed. Pini. São Paulo, 2003.
* Utilização;
GOMIDE, Tito; PUJADAS, Flávia, NETO, Jerônimo, Técnicas
* Idade;
de Inspeção e Manutenção Predial, ed. Pini. São Paulo, 2006.
* Padrão construtivo;
GOMIDE, Tito; GULLO, Marco, FAGUNDES NETO, Jerônimo,
– Nível utilizado; Engenharia Diagnóstica em Ediicações, ed. Pini. São Paulo,
– Critério adotado; 2009.

– Relação dos elementos construtivos e equipamentos GOMIDE, Tito, Inspeção Predial. X COBREAP - Congresso
vistoriados com a descrição das respectivas anomalias, Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia). Porto Alegre,
classiicadas por grau de risco e urgência (LISTAGEM DE 1999.
VERIFICAÇÃO); GRANATO, J. E. Técnicas de Impermeabilização e Isolação
– Relatório fotográico; Térmica. VIII Congreso Latinoamericano de Patolgia de la
Construccion, Assunção, 2005.
– Relação de documentos analisados;
IBAPE/SP – Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de
– Indicação das recomendações técnicas e/ou das
Engenharia de São Paulo – Inspeção Predial - Check-up
medidas preventivas e corretivas necessárias (plano de
Predial: Guia da boa Manutenção, 2005.
manutenção), quando a inspeção estiver classiicada em
nível 3; IBAPE/SP – Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de
Engenharia de São Paulo – Norma de Inspeção Predial, 2007.
– Avaliação do estado de conservação geral do imóvel;
PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE/MG, Decreto
– Recomendação do prazo para nova Inspeção Predial;
nº 9.005 de 26 de Novembro de 2006, que regulamenta a Lei nº
– Data do LAUDO; 4.695 de 22 de abril de 1987.
– Assinatura do proissional responsável, acompanhado do PUJADAS, Flávia, Apostila de Inspeção Predial, XIII Congresso
nº do CREA e nº IBAPE Brasileiro de Avaliações e Perícias. Fortaleza-CE, 2006.
– Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). SINDUSCON/MG – Manual Garantias. Belo Horizonte, 2007.

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