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Texto enviado por Egídio José Romanelli

NEUROCIÊNCIAS:

Última fronteira das CIÊNCIAS do homem:


o Neuroquímica
o Neuroendocrinologia
o Neurolingüística
o Neuroimunologia
o Neuropsicologia

No apagar das luzes: “A década do cérebro”.


Eis a mais nova disciplina e uma das mais antigas curiosidades
humanas.
Entre os gregos: a sede do psiquismo é o cérebro ou o coração.
Idade Moderna: Descartes rompe a unidade corpo-alma e torna-se o
“avô” da
psicologia moderna
Século XIX: surge à base da neurologia moderna

Controvérsia das localizações cerebrais: Gall e a frenologia, Broca e


Wernicke.
As áreas de Brodmann.
As novidades propostas por Luria
Posição da neuropsicologia nas neurociências
Os três cérebros em um de Paul McLean

Visão sistêmica da neuropsicologia

A partir da metade do século XIX, em oposição à corrente


idealista da Psicologia, que considerava os processos superiores
como expressão do mundo espiritual, surge o movimento materialista.
Na Rússia cientistas como Sechenov e Pavlov introduzem nos seus
modelos explicativos o componente fisiológico (vide teoria do Reflexo
Condicionado).
Na década de 30, na no século XX, Vygotsky vai “fazer objeto de
investigação as

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formas superiores da atividade consciente, peculiares do homem, e
enfocá-las desde a
ótica da análise científica, explicar causalmente a origem das mesmas
e estabelecer as
leis objetivas a que se subordinam”. Assim, a vida psíquica passa a ser
considerada uma forma de refletir a realidade, é plasmada pelo
cérebro e se explica pelas leis objetivas desta atividade.
A. R. Luria, em estudos com pacientes lesionados, põe em
prática esta concepção, fundando assim a Neuropsicologia como a
investigação da correlação entre o estudo dos mecanismos cerebrais
implicados na atividade consciente do homem, e sua perturbação em
casos de lesão cerebral. Através desta forma de investigação, é
possível um diagnóstico tópico, precoce e mais exato das lesões, o
estabelecimento de programas de ação terapêutica e reeducativa, e
uma forma mais ampla de compreensão da atividade mental e da
psicodinâmica do homem. Dentro desta análise, a Neuropsicologia vai
se basear em alguns conceitos fundamentais:

Função: encarada como um sistema funcional, onde a presença


de uma tarefa
(invariável), é desempenhada por mecanismos diversos (variáveis), e
levam o processo a um resultado constante (invariável). Ex.: o
movimento.

Localização: As funções mentais são organizadas em sistemas


de zonas que
cumprem cada uma o seu papel dentro de um sistema funcional, e
cada componente
pode estar em regiões diferentes do cérebro.

Sintoma: A verificação de um sintoma (perda de uma dada


função) se dá pela
análise da atividade mental alterada, buscando a determinação dos
fatores envolvidos
nesta atividade, e a determinação das estruturas cerebrais que
constituem sua base.

Análise sindrômica.

Neuroanatomia microscópica
“O neurônio”

Atualmente, os neurobiologistas acreditam que a estrutura


responsável pela

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diferenciação do homem dos outros animais, como o sentir, pensar,
aprender, é a
interconexão sináptica entre os neurônios.
Os neurônios possuem a mesma organização geral e aparato
bioquímico que as
demais células do corpo, o que lhes dá especificidade é sua forma
celular, a membrana
mielinizada e as sinapses, que transferem informações de um neurônio
ao outro.
Estas estruturas não param de trabalhar nunca. Mesmo enquanto
dormimos, elas mantêm as funções vegetativas. São formadas de
corpo celular, dendritos e axônios dotados de botões terminais por
onde os neurônios estabelecem contato através das sinapses.
A partir do momento em que os impulsos nervosos chegam nos
botões terminais, ocorre a liberação dos neurotransmissores,
substâncias químicas produzidas pelo próprio organismo e que, em
contato com os receptores próprios, podem excitar ou inibir a
transmissão.
Entretanto, qual a relação entre neurônio, neurotransmissores e
comportamento? É sabido que os animais possuem toda a
programação de seu comportamento no DNA de sues neurônios, ao
passo que o homem nasce praticamente “desprogramado” sendo que
sua aprendizagem se dá pela estimulação, a fim de que as conexões
entre os neurôniosvão se formando.
As células nervosas possuem uma plasticidade enorme, que
permite que um
neurônio possa ter ligação com outros cem mil. Pode-se dizer,
seguramente, que o
comportamento de um indivíduo é o seu neurônio e, o seu neurônio é
aquilo que de certo modo foi seu comportamento em suas primeiras
experiências de vida.

Neuroanatomia macroscópica
“O cérebro”

Sabemos que a aprendizagem se dá no cérebro. Entretanto, isso


não ocorre de
forma isolada, mas sim, sincronizada com outros sistemas,
destacando-se o sistema
nervoso.
O sistema nervoso recebe milhares de informações dos
diferentes órgãos
sensoriais e a seguir integra todas elas para determinar qual a
respostas a ser executada pelo organismo. Porque exerce esta
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atividade pode ser considerado como ordenador e integrador destas
informações que podem ser tanto do mundo exterior quanto do
interior.
Pode ser dividido, didaticamente, em:

a) Sistema nervoso central:

Está localizado dentro da cavidade craniana e do canal vertebral,


sendo constituído pelas seguintes estruturas:

1. Medula espinhal é um prolongamento do tronco


encefálico e ocupa o espaço central da coluna vertebral,
sendo o centro dos movimentos reflexos.
2. Encéfalo: divide-se em:
a. Tronco encefálico: formado pelas seguintes estruturas
ligadas ao sistema neurovegetativo: mesencéfalo, ponte
e bulbo.
b. Cerebelo: controla o equilíbrio do corpo e a
coordenação de
movimentos.
c. Cérebro: órgão de integração central, dividido em dois
hemisférios cerebrais.
Esquematicamente pode ainda ser dividido em duas regiões:
– Subcortical: Compreende a massa central branca formada por
axônios de
neurônios.
– Cortical: camada exterior formada pelos corpos dos neurônios,
de cor cinza,
também chamada de córtex.

Pode ser dividida em quatro lobos:


– Occipital: responsável pelas funções visuais;
– Temporal: responsável pelas funções auditivas;
– Parietal: responsável pelas funções somestésicas e de
orientação espaço temporal;
– Frontal: responsável pela vida psíquica, pela programação,
regulação e execução da ação.

b) Sistema nervoso periférico: constituído por nervos espinhais,


gânglios e
terminações nervosas, tanto sensitivas (aferentes) quanto motoras
(eferentes).

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As três unidades funcionais mais importantes

Estas são as unidades funcionais mais abrangentes e explicam o


funcionamento
geral do sistema nervoso:

1ª unidade funcional: o cérebro desperto


Regula o tônus cortical e a vigília

2ª unidade funcional: o cérebro informado. Compreende as


áreas sensoriais
(pós-centrais). Tem como função receber, analisar e armazenar as
informações
recebidas.

3ª unidade funcional: o cérebro humanizado. Compreende os


lobos frontais
(pré-frontais). Tem como função programar, regular e executar
uma atividade.

Agora vamos esclarecer um pouco mais sobre cada uma:

1ª unidade funcional

Localização: a 1ª unidade funcional localiza-se principalmente no


tronco cerebral,
tendo a formação reticular (Brodal, 1984) como órgão mais importante.
Está intimamente ligado a outros centros como o diencéfalo, os
núcleos da base e o córtex pré-frontal.

Funções:
– Ativação e inibição cortical – consciência, vigília e sono.

– Regulação do sono – ritmo sono/vigília.

A 1ª unidade funcional, juntamente com as áreas subcorticais


(diencéfalo), é
responsável pelas funções psicofisiológicas, ou seja, aquelas mais
primárias dos animais, também chamadas de neurovegetativas, como
o equilíbrio hormonal, a regulação metabólica, o sistema nervoso
autônomo.

Ativadores da 1ª UF:
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– Metabolismo – funções neurovegetativas (fome, sede, alterações
térmicas,
metabólicas, dor, emoções)
– Efeito dinamogênico – a necessidade de receber constantemente
estímulos
externos, informações visuais, auditivas, somestésicas.
– Estimulação cortical – estímulos gerados pela 3ª UF (raciocínio,
volição,
desejos).

2ª unidade funcional

A 2ª unidade funcional é a responsável pela recepção, análise e


armazenamento
de informações. É composta por neurônios isolados que possuem
diferentes
características de acordo com sua função nas diferentes áreas.
Funciona de acordo com a lei do “tudo ou nada”, recebendo
impulsos
individualizados e transmitindo-os para outros grupos de neurônios.
Sua localização é na região posterior do cérebro envolvendo os lobos
occipital, parietal e temporal.
A 2ª unidade funcional, diferentemente da 1ª, possui grande
especificidade modal.Ela se estrutura em áreas primárias, secundárias
e terciárias.

Áreas primárias ou de projeção: Responsáveis pela recepção de


estímulos, se
constituem pelo conjunto de células da camada IV aferente. Seus
neurônios possuem
uma grande especificidade modal, ou seja, são altamente específicos
para cada função
do analisador correspondente. No lobo parietal se desenha o Boneco
de Penfield
sensitivo.

Áreas secundárias ou de projeção-associação: São compostas,


em sua maioria, por neurônios associativos das camadas celulares II e
III de axônios curtos, possibilitando assim que essas zonas façam a
síntese de estímulos recebidos nas zonas de projeção (primárias).

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Áreas terciárias ou de associação - integração: também se
constitui
principalmente das camadas II e III, e se relaciona com a função de
integração. É a
responsável pela simbolização. A maior parte dos neurônios desta
área é de caráter
multimodal.
3ª unidade funcional
Toda organização da atividade consciente está vinculada à 3 a UF.
Ela é a
responsável pela programação, regulação, e verificação do
comportamento do homem.
Está localizada na região frontal do córtex.

Como na 2ª UF, também está dividida em três áreas:

Áreas primárias: localizam-se no giro pré-central que é um


aparelho efetor do
córtex. Têm natureza projetiva como todas as outras áreas primárias,
contudo
se diferenciam por apresentar a camada de células V onde encontram-
se as
células piramidais gigantes de Betz que são motoras, que enviam
fibras para os
núcleos motores espinhais, os quais inervam os músculos. Estas áreas
são
responsáveis pela eferentação dos estímulos que dão origem aos
movimentos
motores. Nestas áreas se desenha o Boneco de Penfield Motor.

Áreas secundárias: têm por função a organização harmônica dos


impulsos
que geram movimentos coordenados. Morfologicamente se
constituem do
mesmo tipo vertical de estriamento do córtex motor, mas diferem
no
desenvolvimento incomparável de células piramidais pequenas.
Estas áreas
ficam localizadas na região pré-motora do lobo frontal.

Áreas terciárias: consideradas a parte mais importante da 3a UF,


são

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representadas pelas divisões pré-frontais. Esta zona não possui
células
piramidais, e, por isso, é conhecida como córtex frontal granular,
ou seja, que
não contém células motoras. Desempenha um papel decisivo na
elaboração de
intenções e programas, e na regulação e verificação das formas
mais
complexas do comportamento humano.

Esta região possui um sistema muito rico de conexões tanto com


os níveis
inferiores do cérebro como com todas as demais partes do córtex.
Segundo Luria: “porções terciárias dos lobos frontais são na
verdade uma
superestrutura acima de todas as outras partes do córtex cerebral, de
modo que elas
desempenham uma função muito mais universal de regulação geral do
comportamento
que a desempenhada pelas áreas terciárias da 2a UF.”
Devido a esta sua importância, lesões nesta região causam
graves distúrbios nos programas comportamentais complexos.

Leis do funcionamento cerebral

A 2ª UF e 3ª UF estão sujeitas a três leis básicas que regem as suas


organizações
estruturais em matéria de funcionamento. Referem-se ao
desenvolvimento, composição e especialização das áreas primarias,
secundarias e terciárias do córtex cerebral.
1ª lei da estrutura hierárquica das zonas corticais.
2ª lei da especificidade modal crescente.
3ª lei da lateralização progressiva de funções.

A primeira, sobre a estrutura hierárquica as zonas corticais, diz


que a ordenação
funcional dos sistemas corticais não é de caráter fixo. Como já visto
anteriormente, elas
se alteram durante a maturação do Sistema Nervoso Central. Numa
criança o córtex se
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desenvolve a partir das áreas primárias, estas são por sua vez
imprescindíveis. Já no
adulto, as zonas corticais superiores (terciárias) assumem o papel
dominante.
A segunda lei básica é relativa à especificidade modal
decrescentes. Está
associada intimamente à primeira lei, e pode ser entendida como o
caráter de cada região de acordo com o seu nível de especialização.
Deste modo, considera-se que as zonas primárias são super
específicas. Suas células são muito especializadas, caracterizando a
área como zona de projeção. As áreas secundárias possuem media
especificidade, e a maior concentração de neurônios associativos,
permitem a ocorrência da percepção de uma modalidade. A
constituição das áreas terciárias as define como possuindo a menor
especificidade modal. Conhecidas também como áreas de
superposição ou supramodais, cabe à elas o papel de integração entre
as diferentes regiões corticais e subcorticais.
A terceira lei, da lateralização progressiva das funções, se refere
à definição de um dos hemisférios cerebrais como dominante.
Considera-se que as atividades das áreas primárias são semelhantes
em ambos os hemisférios. Porém, na maturação das zonas
secundárias e terciárias ocorre uma diferenciação. A dominância
hemisférica
normalmente se dá no hemisfério esquerdo na grande maioria das
pessoas, sendo a
responsável pelas funções da fala e todas as atividades superiores a
elas relacionadas.

Sensação e percepção

O papel das sensações e percepções no desenvolvimento


harmonioso das
diferentes áreas do comportamento humano é indubitavelmente
singular. As diferentes
linhas de pensamento não descartam a importância, principalmente
quanto às primeiras experiências.
Luria, neste sentido, considera a sensação como uma das bases
mais importantes para que os demais processos, entre eles os
superiores e mais complexos se desenvolvam. Define-a como “um
processo elementar de registro imediato de impressões que provém da
realidade externa ou interna, que envolve a participação ativa de
elementos do organismo”.
Sensação é a simples chegada de um estímulo à área primária
cortical. Por isso
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que toda sensação é elementar.

Para se processar, necessitam da integridade:


1. de um receptor;
2. de uma via nervosa;
3. das áreas primárias do córtex sensorial.

Classificando-as em grandes grupos, tem sem:


- sensações exteroceptivas;
- sensações proprioceptivas; e
- sensações interoceptivas.

As percepções envolvem elementos de maior complexidade. Exigem


a participação
de níveis diferenciados, e por isso, Luria enquadra suas formas mais
elevadas entre os
processos superiores.

Divide-se em duas formas:


– Percepção de uma modalidade sensorial, que ocorre
basicamente nas áreas
secundárias;
– Percepção global, cuja responsabilidade é das áreas terciárias
ou de
integração.

Na percepção, como na sensação, existira sempre a participação


e a interferência
da 1a UF, a qual fornecerá adequação dos níveis de tônus e vigília
necessários para que os processos ocorram normalmente.
Caberia ressaltar também, que principalmente na atividade
perceptiva, questões
como as experiências anteriores, o fator emocional, motivacional,
cultural entre outros,
colaboram para a particularidade na vivência deste processo, o que
exige uma atenção
especial por parte daqueles que o avaliam.

Aprendizagem

Já é ponto comum na sociedade a importância da aprendizagem


na vida dos
indivíduos. De fato, a vida saudável, a sobrevivência em nossa cultura
e a conquista de
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um espaço profissional dependem bastante da aprendizagem – formal
ou informal – já
que o nosso instinto não nos contempla com tudo o que precisamos
para superar os
desafios do dia-a-dia. O desenvolvimento humano é longo se
comparado ao de outras
espécies, basta observar a duração da infância e da adolescência.
Durante todo este
período, e adentrando na vida adulta, a aprendizagem tem seu espaço
privilegiado na
vida do homem.
A neuropsicologia entende a aprendizagem como recepção e
troca de informações
entre ambiente e os centros nervosos (ROMANELLI, 2003). Para a
aprendizagem ocorrer com sucesso ela necessita do amadurecimento
das áreas nervosas correspondentes à determinada função, aliado à
estimulação do meio. Isto significa dizer que há um conjunto de
necessidades durante o desenvolvimento do novo ser, que interfere
em sua capacidade de aprender.
Quanto aos processos cognitivos, LUZ (in SANVITO, 1991) expõe
que eles incluem o uso do conhecimento e habilidades em novas
situações a partir das informações selecionadas e transformadas
recebidas do meio ambiente.
As funções cognitivas envolvem processos para se alcançar
novos conhecimentos. Seu início ocorre com a sensação, efetuada
pelas áreas primárias, matéria-prima do recém nato para sua relação
com o mundo. Esse caminho trilhado no cérebro necessita da
interrelação constante entre fatores genéticos, relacionados ao
amadurecimento do neurônio e das áreas cerebrais, e fatores
ambientais, vinculados à estimulação do meio externo, dos agentes
sociais.
A aprendizagem segue determinados passos ou caminhos no
nosso sistema
nervoso, constituindo um grande foco de estudo da neuropsicologia
cognitiva. O primeiro passo constitui a chegada de determinado
estímulo no cérebro, na área primária, como foi acima explicado. Esse
tipo de informação é bastante precária, rudimentar, sendo chamada de
sensação. As sensações, de acordo com LURIA (1991, v. II), são as
formas mais elementares que constituem a fonte básica dos
conhecimentos do homem pertinentes ao mundo exterior e ao próprio
corpo. São os canais de comunicação de informações por meio dos
órgãos dos sentidos. As sensações constituem a condição mais

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fundamental do desenvolvimento psíquico do indivíduo, referente ao
processo pelo qual o indivíduo capta sinais internos e externos.
Uma criança recém-nascida só tem sensação, ou seja, ela vê,
ouve, mas não tem elementos suficientes para interpretar as
informações, que ainda não fazem muito sentido para ela. A passagem
para o segundo passo representa um avanço em relação ao primeiro:
já se tem a percepção, em que há a formação de uma imagem mental,
mais elaborada que a sensação. Trata-se de imagens visuais,
auditivas, tácteis e outras mais.
A integração de todas as percepções ocorre no terceiro passo,
em que se constitui uma percepção global da informação, material que
serve de base para construir todo o conhecimento. A partir das
imagens formadas pela percepção, e reunidas nas áreas de integração
(terciárias) há matéria-prima básica para as demais funções
cognitivas,permitindo um salto marcante do sensorial para o racional,
constituindo a base da atividade intelectual direta.
Diante disso, a neuropsicologia formula alguns postulados
básicos sobre as
funções psicológicas superiores, tendo em conta que a aprendizagem
é o processo que
leva ao conhecimento, que tem como resultado o próprio
desenvolvimento cognitivo. A
neuropsicologia cognitiva entende a aprendizagem como recepção e
troca de informações entre ambiente e os centros nervosos. A
sensação e a percepção, porta de entrada do mundo exterior, são
essenciais para que se formem as imagens, e estas são a
matériaprima para se chegar ao conhecimento, que é o resultado da
aprendizagem:

Imaginação: é a capacidade do indivíduo manipular e combinar


imagens;
Linguagem: é um meio de comunicação que fixa a memória, fixa
a
aprendizagem;
Memória: é a capacidade de registrar e evocar imagens e idéias;
Pensamento: é a capacidade do indivíduo trabalhar com idéias
ou conceitos,
advindos da generalização das experiências com o meio;
Raciocínio: é um pensamento seguindo normas lógicas;
Criatividade: é a combinação de uma imaginação fértil com uma
grande
inteligência.

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Todos esses processos juntos formam a inteligência, que pode ser
definida como a habilidade de entender, analisar e compreender o
mundo para resolver problemas.
A aprendizagem é um processo bastante complexo que requer um
grande conjunto
de habilidades para ocorrer de forma satisfatória. Por isso mesmo
depara-se muitas vezes com crianças que não conseguem aprender
determinado conhecimento ou habilidade com a mesma facilidade que
seus pares. Neste caso a visão aqui apresentada permite uma
compreensão acerca dos fenômenos que interferem neste processo,
garantindo uma concepção sistêmica.
Acredita-se que a teoria neuropsicológica constitui-se em
instrumento essencial
aos educadores, na medida em que possibilita uma compreensão mais
abrangente da
aprendizagem e, por conseqüência, subsidia uma eficiente ação
pedagógica.

REFERÊNCIAS

LURIA, A. R. Curso de psicologia geral. 2 ed. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 1991.
Volume II.
LUZ, J. de A. A. da. Aspectos cognitivos das emoções. In: SANVITO, W.
L. O cérebro e
suas vertentes. 2 ed. São Paulo: Roca, 1991.
ROMANELLI, E. J. Neuropsicologia aplicada aos distúrbios de
aprendizagem “Prevenção
e terapia”. In: Temas em educação II – Livro das Jornadas 2003.
Pinhais: Futuro
congressos e eventos, 2003.

Atenção
O termo atenção é de uso corrente e está ligado à atitude do
sujeito frente a um
objeto para percebê-lo adequadamente ou para desenvolver um
pensamento lógico. Luria define como “o fator responsável pela
escolha dos elementos essenciais para a atividade mental, ou para o
processo que mantém uma severa vigilância sobre o curso preciso e
organizado da atividade mental”.
A criança já apresenta sinais da atenção voluntária, denominada
por Pavlov de
“reflexo de orientação”. Entretanto, ao passo que o “reflexo de
orientação” tem origem
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biológica, a atenção voluntária é um ato social formado da interação
da criança com o
meio.
As estruturas cerebrais envolvidas na organização da atenção
são: formação
reticular, sistema límbico e lobos frontais. Existem alguns testes que
podemos utilizar para verificar o nível de amadurecimento dessas
estruturas, através de uma avaliação
neuropsicológica.

Psicogênese da atenção:
o Origem: primária ou secundária
o Natureza: biológica, psicológica ou social
o Duração: imediata ou mediata
o Grau de focalização: difusa ou concentrada
o Origem psíquica: involuntária ou voluntária

Fatores determinantes da atenção:


o De origem externa: movimento, tamanho, intensidade, novidade,
contraste,
repetição, estímulo inesperado.
o De origem interna: de origem biológica (necessidades
biológicas) e de
origem psicológica (individual no nível volitivo e cognitivo e social
em nível
de valores).

Patologias da atenção:
o Verifica-se que os autores possuem diferentes terminologias
para designar
tais patologias. Pode-se dizer que, de modo geral, elas vão desde
uma
incapacidade total de percepção dos estímulos (por fatores
neurológicos ou
não) até a superfixação de um estímulo, em detrimento de todos
os outros.

Movimento voluntário

Os sistemas corticais que preparam o organismo para o


movimento podem ser

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identificados no córtex humano da seguinte forma: um para a
preparação do movimento e outro para sua execução.

Zonas corticais pós-centrais e a organização aferente do


movimento:
As zonas pós-centrais situam-se posteriormente ao sulco central.
As áreas
primárias desta região exibem uma estrutura somatotópica (BPS) e
uma lesão nessa
região pode causar uma perda ou diminuição da sensibilidade.
Sobrepostas às áreas
primárias estão às áreas secundárias, cujos neurônios respondem a
estímulos mais
complexos e a estimulação desta área evoca sensações mais gerais.
Uma lesão
patológica nesta área reflete-se invariavelmente no curso do
movimento.

Zonas pré-motoras do córtex e a organização eferente do


movimento:
As zonas pós-centrais, das quais acabamos de falar, exercem
uma influência
ajustadora ou moduladora sobre as zonas primárias, de projeção, do
córtex motor.
Quanto à área pré-motora, sabe-se que ocupa a maior parte da região
pré-central, com
grande importância na organização de movimentos habilidosos
humanos complexos.
Lesões nas zonas pré-motoras levam a um distúrbio de movimentos
habilidosos ou, se for mais profunda, perde-se a função inibidora e
moduladora, levando o individuo a
apresentar “perseveração motora”.

Os lobos frontais e a regulação de movimentos e ações:


A manutenção do tono cortical ótimo é essencial para a condição
básica de todas as formas de atividade consciente, a saber, a
formação de planos e intenções
suficientemente estáveis para resistirem a qualquer estímulo
distrativo ou irrelevante. Os lobos frontais possuem um papel
extremamente importante na regulação do tono cortical

NEUROPSICOLOGIA: CARACTERÍSTICAS E
DIVERSIDADE
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Linguagem

A linguagem, na abordagem neuropsicológica, é um instrumento


para a atividade
intelectual. Assim como usamos um balde para transportar água,
usamos a linguagem
para transmitir nossas idéias para outras pessoas e importar idéias
dos outros para o
nosso intelecto.
A linguagem humana, que surgiu do trabalho, é justamente por
isso totalmente
diferente da “linguagem” animal que surge de necessidades
biológicas. Enquanto o
animal usa sua linguagem para manifestar apenas estados
emocionais, o homem usa da linguagem para reorganizar o
pensamento e sua atividade cognitiva, baseando-se em um
sistema de códigos (signos) que são instrumentos determinados
socialmente.

A linguagem humana pode ser dividida em três tipos:

o Linguagem gestual: onde predomina o uso da mímica e da


expressão corporal
para a transmissão da idéia
o Linguagem gráfica ou pictórica: onde predomina o uso do
aspecto visual e
motor (desenhos) para a transmissão da idéia
o Linguagem oral: onde predomina o uso da fala para a
transmissão da idéia.

Desta forma temos o seguinte esquema:

o Idéia: o que penso ou quero transmitir


o Enunciado: a linguagem que eu uso para transmitir minha idéia
e que você usa
para receber minha idéia
o Idéia: o que você pensa após meu enunciado.

Teoricamente, com o auxílio da linguagem você deve entender


minha idéia a partir do enunciado e vice-versa. Contudo, o enunciado
(linguagem) pode ter algumas

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distorções. Por exemplo, quando digo “você viu como aquele professor
é um animal?”,
você entende que estou qualificando-o como uma pessoa que sabe
trabalhar muito bem os conteúdos, que conhece os pressupostos
teóricos da matéria e é capaz de relacionarse com os alunos de uma
forma dinâmica e interessante?
Para entendermos bem o que ocorreu aqui precisamos discutir
sobre a “palavra”,
que é o componente básico da linguagem. Um gesto de apontar o dedo
para a direita é
uma palavra (palavra da linguagem gestual), uma placa com um carro
desenhado e uma faixa vermelha por cima é uma palavra (palavra da
linguagem pictórica) e uma palavra, existem tantas aqui, escrita ou
falada é, apesar de redundante, uma palavra. Desta forma “palavra”
procura designar o uso da linguagem oral.
Para esclarecer isto usamos a definição de A. R. Luria (1981) que
define a palavra como uma “matriz multidimensional complexa”. Por
quê? Porque envolve os seguintes
aspectos:

Acústico: O fonema que representa dimensão auditiva (acústica)


de um som.
Morfológico: O morfema que representa a dimensão visual de um
som.
Motor: O articulema que representa a dimensão sensório-motora
(movimento
buco/facial) de um som.
Gráfico: O grafema que representa a dimensão sensório-motora
(óculo-manual) do desenho de um som.
Semântico: O significado e o sentido de um som (valor da
palavra). No exemplo do professor a palavra “animal” é igual em
quase todos os aspectos, mas muda na dimensão semântica e
pode causar confusão com relação a sua compreensão.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

NEUROPSICOLOGIA: CARACTERÍSTICAS E
DIVERSIDADE
18
LURIA, A. R. Fundamentos de neuropsicologia. São Paulo: Livros
técnicos e científicos,
1981.
BARBIZET, J. Manual de neuropsicologia. Porto Alegre: Artes Médicas,
1985.
STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas,
2000.
KANDELL, E. R. Fundamentos da neurociência e do comportamento.
Rio de Janeiro:
Prentice-Hall do Brasil, 1997.
BEAR, M. F. , CONNORS, B. W. PARADISO, M. A. Neurociências:
desvendando o
sistema nervoso. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.
CHANGEUX, J. P. O homem neuronal. Lisboa: Dom Quixote, 1995.
SANVITO, W. C. O cérebro e suas vertentes. São Paulo: Rocco, 1991.
KAGAN, A. Uma introdução à afasiologia do Luria. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997.

NEUROPSICOLOGIA: CARACTERÍSTICAS E
DIVERSIDADE

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