Você está na página 1de 1

Virada Lingüística

Paulo Ghiraldelli Jr *
(notas adicionais de Alfredo Veiga-Neto)
1
A “virada linguística” ou linguistic turn é o nome adotado para um novo rumo que a Filosofia
ganhou no século XX, e que Donald Davidson2, em uma entrevista nos seus últimos dias de vida,
considerou como algo que não vai retroceder.
Em suma, é o seguinte: com a Filosofia, os gregos antigos perguntavam sobre a realidade, os
modernos, com Descartes, passaram a perguntar sobre o conhecimento da realidade e, assim, criaram a
dualidade sujeito-objeto, transformaram a Filosofia em epistemologia, subjugando a metafísica, a
ontologia e a cosmologia (e a ética, a estética etc.) à teoria do conhecimento. Enfim, criaram o que a
coleção "Os Pensadores", a Abril Cultural, espelha muito bem: todos os textos publicados lá e, portanto,
considerados como sendo os centrais na Filosofia, são textos de “método”.
Por quê? Porque se digo que a tarefa básica de um filósofo é explicar o conhecimento, volto
minha atenção para o pólo cognitivo da relação sujeito-objeto e, então, passo a criar uma exposição de
como é que o conhecimento é possível e como é que ele ocorre. O conhecimento, que é “crença
verdadeira bem justificada”, torna-se o centro da Filosofia. É necessário então explicar, agora não mais de
modo vago, a verdade e como as crenças ganham valor de verdade. Se digo tudo isso do conhecimento, as
perguntas que me fazem são: Como você chegou a tudo isso? Como você pode montar uma teoria do
conhecimento que é melhor do que a do seu vizinho, o filósofo concorrente? Então, eu digo: eu mostro
meu método, ele é que é superior ao do meu vizinho. Assim, a característica da História da Filosofia,
guiada pelo pensamento moderno, é a de tomar a Filosofia a partir de dois núcleos: texto de epistemologia
seguido de texto de método.
Os textos de epistemologia e de método avançaram a ponto de ampliarem em muito o que hoje
chamamos de Filosofia da Mente. Tentando explicar o funcionamento do aparato cognitivo e a verdade,
os filósofos chegaram a dois pontos:
1) o sujeito não é uma unidade e, talvez, nem seja sujeito, talvez tenhamos de manter a noção de
mente e de individualidade, mas não associá-la, mais, imediatamente, à noção de sujeito moderno — ou
abandonamos tal noção ou a reconstruímos;
2) a mente não consegue apontar para o real e explorar o real sem a linguagem, pois esta não é
apenas a expressão de pensamentos e, sim, a maquinaria do próprio pensamento e a única forma pela qual
acessamos o pensamento, nosso e de outrem.
Este segundo ponto é o centro da linguistic turn: os filósofos tenderam, então, a centrar atenção
na linguagem, em vários sentidos. A Filosofia da Linguagem ganhou um impulso muito grande no século
XX e tende a chamar a atenção, ainda, como ponto central, no século XXI.
Essas duas conclusões fizeram a ponte da Filosofia moderna para a Filosofia contemporânea.

Mais detalhes, no livro da Editora Manole: Introdução à filosofia.


Portal Brasileiro da Filosofia:
http://pragmatismo.blogspot.com , http://professordefilosofia.blogspot.com

* Paulo Ghiraldelli Jr - www.ghiraldelli.pro.br


Centro de Estudos em Filosofia Americana - www.cefa.org.br
Editor do Portal Brasileiro da Filosofia - www.filosofia.pro.br

1
Em Portugal: viragem lingüística. Em espanhol: giro linguístico.
2
Filósofo norte-americano (1917-2003). Lecionou Filosofia e Música, em Stanford, Harvard, Princeton, Chicago e
em Berkeley. Como filósofo da linguagem, criou e desenvolveu (entre outras) as noções de virada lingüística,
Filosofia da Mente e princípio de caridade.

Você também pode gostar