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ANDANDO NA TERRA ASSENTADOS NOS LUGARES
CELESTIAIS

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Temos procurado demonstrar que a experiência cristã não
inicia com o andar, mas sim com o descansar. Cada vez que
invertemos a ordem, temos como resultado o fracasso.
O Senhor Jesus Cristo fez tudo para nós. Agora precisamos
descansar confiantemente nele. Quando empreendemos alguma
coisa impulsionados pela nossa própria energia, imediatamente nos
encontramos, podemos assim dizer, diante de uma muralha
intransponível. Apenas quando confiamos no Senhor nos vemos
conduzidos pelo seu poder. Nunca é demais repetir que toda a
verdadeira experiência espiritual começa com a atitude de
descansar. Todavia, não termina aí. Ainda que a vida cristã inicia
com o sentar, sempre depois vem o andar. Só se estamos
firmemente sentados, fortalecidos pelo descanso, é que
começamos, então, realmente a andar.
O sentar descreve nossa posição com Cristo nos lugares
celestiais; o andar é a expressão prática aqui na terra desse lugar
que ocupamos nos céus. Como povo celestial nos corresponde
levar a impressão celestial em toda nossa conduta nessa terra. E
isso traz consigo novos problemas.
Que nos ensina, pois, a epístola aos efésios acerca do nosso
andar? Encontramos duas coisas enfatizadas pela carta. Da
primeira trataremos a seguir.
Efésios 4:1 e 2 diz: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no
Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes
chamados, com toda a humildade e mansidão”. Efésios 4:17-24 diz:
“Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como
também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios
pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de
Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu
coração, os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à
dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza.
Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que, de fato, o
tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em
Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do
velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do
engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos
revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão
procedentes da verdade”. Efésios 5:2 diz: “Andai em amor, como
também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como
oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”. Efésios 5: 8 e 10 diz:
“Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai
como filhos da luz, provando sempre o que é agradável ao Senhor”.
Várias vezes aparece a palavra “andar”, cujo significado literal
é o de caminhar ao redor e que é usada aqui por Paulo de um modo
figurativo para representar nosso comportamento, nossa conduta.
Traz, em seguida, para nossa consideração, o assunto do andar do
cristão e esta segunda parte da epístola se ocupa principalmente
disso. A prova de nossa conduta está nos nossos relacionamentos e
esse é o marco dentro do qual consideraremos o tema. As relações
entre cristãos, entre vizinhos, entre marido e mulher, entre os filhos
e seus pais, entre empregados e empregadores, são tratadas de
uma forma bastante prática.
Destaquemos claramente que o corpo de Cristo não é algo
remoto e irreal que se expressa unicamente em termos celestiais.
Ele está muito presente e é bastante prático e se comprova nas
nossas relações com os demais.
Se bem que é verdade que somos um povo celestial, não é
suficiente falar de um céu distante, a menos que tragamos o
celestial para os nossos lares e para os nossos locais de trabalho,
aos nossos negócios, às nossas cozinhas, e o pratiquemos aí. Do
contrário, carecerá de significado.
Gostaria de sugerir, queridos irmãos, que aqueles que somos
pais, e aqueles que somos filhos, busquemos no Novo Testamento
como os pais devem se comportar e como devem os filhos se
comportar. Talvez nos surpreendamos com o que encontraremos,
pois temo que apesar de falarmos muito sobre estarmos sentados
em lugares celestiais em Cristo, levamos uma vida muito duvidosa
em nossos lares. O mesmo se aplica a esposos e esposas. Há
muitas passagens para eles. Leia Efésios 5 e logo depois passe
para 1 Coríntios 7. Faria bem para cada marido e esposa ler esse
último capítulo com atenção para descobrir o que demanda uma
verdadeira vida matrimonial, um matrimônio espiritual diante de
Deus e não uma mera teoria. Não se atrevam a teorizar sobre algo
tão prático.
Olhemos agora para o campo dos relacionamentos cristãos e
vejamos como são diretos os mandamentos de Deus sobre o tema
que estamos meditando: “andeis com toda a humildade e
mansidão”, “por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade
com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros. Irai-vos
e não pequeis”, “não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe”,
“longe de vós, toda a amargura”, “sede uns para com os outros
benignos, perdoando-vos uns aos outros”, “enchei-vos do Espírito”,
“sujeitando-vos uns aos outros”, “obedecei”, “deixando as ameaças”,
etc. Tudo isso encontramos nos capítulos 4,5 e 6 de Efésios. Nada
poderia ser mais prático do que essa lista de imperativos.
O Senhor iniciou seus ensinos desta mesma forma.
Observemos atentamente a composição destas frases nesta porção
do Sermão do Monte: “Ouvistes que foi dito: olho por olho, dente por
dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a
qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra; e, ao
que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a
capa. Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas. Dá
a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe
emprestes. Ouvistes que foi dito: amarás o teu próximo e odiarás o
teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai
pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai
celestial, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir
chuvas sobre justos e injustos. Porque, se amardes os que vos
amam, que recompensa tendes? Não fazem os publicanos também
o mesmo? E, se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis
de mais? Não fazem os gentios também o mesmo? Portanto, sede
vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celestial”. (Mateus 5: 38-
48).
Desde o dia em que Adão comeu da árvore do conhecimento
do bem e do mal, o homem fica ocupado em definir o que é bom e o
que é mal. O homem natural construiu seu próprio código daquilo
que é bom e daquilo que não é bom, bem como daquilo que é justo
e daquilo que é injusto e se esforça para viver de acordo com essa
regra.
Evidentemente, como cristãos, somos distintos. Sim, mas em
que sentido? Desde a nossa conversão um novo senso de justiça
começou a se formar em nós, de modo que também ficamos
preocupados para distinguir o que é bom e o que é mal. Todavia,
nos temos dado conta de que nosso ponto de partida é outro? Para
nós, Cristo é a árvore da vida. Nós não partimos de um conceito
ético do bem e do mal. Não partimos daquela outra árvore, do
conhecimento do bem e do mal. Nosso ponto de partida é Cristo, a
árvore de vida, e, para nós, é todo um assunto de vida.
Nada tem causado mais dano ao nosso testemunho do que o
afã de ser justos e exigir justiça de todos os demais. Dessa maneira
nos temos reduzido a considerar as coisas como assuntos de bem e
mal. Nos perguntamos se somos tratados justa ou injustamente e,
baseados nisso, procuramos justificar nossas ações.
Porém, essa não é a norma para o cristão. Para ele, o assunto
é saber levar a cruz.
Se me perguntas: “está bem que alguém me dê uma bofetada
no rosto”? Te responderei: “claro que não”. Mas, não será que
queres te aferrar aos teus direitos? Como cristãos, nossa norma
nunca pode ser a do bem e do mal, mas sim a da cruz. O princípio
da cruz é o nosso princípio de conduta.
Louvado seja Deus que faz brilhar seu sol sobre justos e
injustos. Ele nos trata de acordo com a regra da sua graça e não
com a do bem e do mal, e essa também deve ser a nossa norma de
vida, perdoando-nos uns aos outros, assim como Deus nos perdoou
em Cristo (Efésios 4:32).
A norma baseada no bem e no mal é aquela que rege os
gentios e as autoridades desse mundo. Minha vida está regida pelo
princípio da cruz e pela perfeição do Pai: “Portanto, sede vós
perfeitos como perfeito é o vosso Pai celestial” (Mateus 5:48).
No sul da China havia um irmão que tinha uma plantação de
arroz na descida do seu campo. No tempo da seca ele costumava
usar uma roda que era operada por um pedal e que puxava a água
do canal de irrigação até seu plantio. Seu vizinho tinha dois lotes
abaixo do seu e uma noite abriu um buraco no muro de retenção e
toda a água que regava seu lote escorreu. Nosso irmão tornou a
encher de água sua plantação e o vizinho voltou a fazer a mesma
coisa, e isso aconteceu várias vezes. Ao final, ele consultou os
demais irmãos, dizendo que tinha procurado manter a paciência e
não retribuir mal por mal, mas seria isso justo?
Depois de ter levado em oração, um dos irmãos lhe disse: “se
só pensamos no que é justo, seremos pobres cristãos. Precisamos
fazer algo mais do que é justo”.
O irmão ficou bastante impressionado. Na manhã seguinte
voltou com o seu pedal e puxou água para o arroz do seu vizinho e
pela tarde para o seu.
Depois disso a água não foi mais tirada do seu campo como
antes. O vizinho ficou impressionado de tal forma que procurou
saber a razão e não muito tempo depois ele também acabou se
convertendo ao Senhor.
Assim que não te apoie nos teus direitos porque andaste a
segunda milha. Não penses que já tens cumprido teu dever. A
segunda milha é apenas o modelo para a terceira, a quarta, a
quinta, etc. A norma imposta é semelhante a Cristo. Não temos
nada em que nos apoiar. Nada que pedir ou demandar. Só temos
que dar.
Quando o Senhor morreu na cruz, não o fez porque tínhamos
esse direito. Foi graça o que o conduziu para ela. Agora, como seus
filhos, sempre procuramos dar aos outros aquilo que lhes
corresponde, ou até menos. Devemos pensar que nem sempre
estamos nós no que é justo. Às vezes fracassamos, e é bom fazer
desses fracassos uma aprendizagem para estarmos dispostos a
confessar e fazer mais do que o necessário. Isso é o que o Senhor
quer. “Para que vos torneis filhos do vosso Pai celestial” (Mateus
5:45). É um assunto de uma filiação prática.
É verdade que Deus nos tem predestinado para sermos
adotados como seus filhos por meio de Jesus Cristo, como diz
Efésios 1:5. Mas nos equivocamos quando cremos ser maiores de
idade, filhos maduros.
O Sermão do Monte nos ensina que as criancinhas adquirem a
responsabilidade de filhos na medida em que manifestam o mesmo
espírito e atitude do Pai. Somos exortados a ser perfeitos em amor,
manifestando a graça de Deus. Assim é que Paulo descreve: “Sede,
pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor,
como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós,
como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave” (Efésios 5:1 e 2).
Portanto, devemos enfrentar um desafio. Mateus capítulo 5 nos
apresenta um regime de vida que facilmente poderíamos julgar
como demasiadamente elevado e nesta parte de Efésios Paulo o
reconhece. A dificuldade está em que não encontramos em nós
mesmos a capacidade para alcançar essa estatura de andar como
convém a santos (Efésios 5:3).
Onde, pois, encontramos a solução para resolver nosso
problema de cumprirmos com as exigências divinas tão elevadas? O
segredo encontramos, segundo as palavras de Paulo, no poder que
atua em nós, conforme Efésios 3:20, e, numa passagem similar,
escrita em Colossenses 1:29, onde diz: “para isso é que eu também
me afadigo, esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia
que opera eficientemente em mim”.
Estamos, outra vez, na primeira parte da epístola aos efésios.
Qual é o segredo do poder da vida do cristão? De onde consegue o
poder? Permita-me dar a resposta numa frase. O segredo do crente
está no seu descanso em Cristo. Seu poder emana da posição que
Deus lhe deu. Todos os que estão sentados podem também andar,
porque no pensamento divino, o andar segue espontaneamente o
sentar.
Estamos sentados eternamente em Cristo para poder andar
continuamente diante dos homens. Se abandonamos por um
instante nosso lugar de repouso em Cristo tropeçamos
imediatamente e nosso testemunho diante dos homens fica
prejudicado. Por outro lado, se permanecemos em Cristo, nossa
posição ali assegura o poder para andar como é digno dele aqui
sobre a terra.
Se queremos ilustrar essa verdade, pensemos não num
corredor participando de uma prova de corrida, senão num homem
sentado num automóvel, ou melhor ainda, num homem sentado
numa cadeira para inválidos conduzida a motor. Que faz ele? Anda,
mas também se senta. E continua andando porque permanece
sentado. Seu avanço é o resultado da sua posição de sentado. É
por certo um exemplo bastante inadequado da vida cristã, mas pode
servir em alguma coisa para nos recordar que nossa conduta e
comportamento depende fundamentalmente do nosso descanso
interior em Cristo.
Isso explica o que Paulo nos diz nessa epístola. Ele
primeiramente aprendeu a sentar-se; alcançou esse lugar de
descanso em Deus. Consequentemente, seu andar não está
baseado nos seus próprios esforços, senão na obra poderosa de
Deus nele. Nisso reside o segredo desse poder interior, por ter se
visto sentado em Cristo.
Seu andar entre os homens se torna possível, pois Cristo mora
nele. Dessa verdade resulta sua oração pelos efésios, para que
Cristo habite nos seus corações, pela fé (Efésios 3:17).
Como funciona meu relógio de pulso? Se move por si mesmo
ou é impulsionado? Certamente ele funciona porque primeiro foi
impulsionado por uma força exterior, não pertencente a ele. Só
então, pode cumprir com a função para a qual foi construído.
Nós também fomos criados para cumprirmos certas funções,
“pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras,
as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”
(Efésios 2:10).
O que se viu publicamente na vida do apóstolo Paulo era
simplesmente a manifestação de que Deus obrava nele. Deus
estava fazendo algo dentro, estava obrando poderosamente nele.
Como resultado dessa obra escondida, Paulo pode fazer algo que
era evidente.
Escrevendo aos filipenses, diz: “desenvolvei a vossa salvação
com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o
querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:
12,13).
Deus está obrando em nós. Que isso se exteriorize! Mas é
inútil procurar exteriorizar se primeiro não permitimos a Deus que
obre em nosso interior.
Comumente nos esforçamos para sermos mansos e benignos,
sem antes experimentar a mão de Deus forjando em nós a
mansidão e a benignidade de Cristo.
Procuramos exteriorizar o amor, mas descobrimos que não o
temos, e logo pedimos ao Senhor e nos surpreendemos quando
parece que Ele não nos dá. Usemos uma ilustração. Talvez haja
algum irmão de caráter um tanto difícil, com quem tenha certas
dificuldades. Cada vez que o encontra, ele diz ou faz alguma coisa
que te ofende ou que te contraria, e isso te incomoda. Então, tu
pensas: “eu sou cristão, então devo amá-lo. Quero amá-lo, e,
verdadeiramente, estou decidido a proceder assim”. Então, você ora
sinceramente: “Senhor, aumenta meu amor por ele. Meu Deus, me
dá amor”. Então, dominando-te, e fazendo um grande esforço de
vontade, te diriges a ele, desejando sinceramente demonstrar a ele
o amor que pediste, mas, tristemente, ao te encontrares com ele,
alguma coisa acontece que anula todas as tuas boas intenções.
Nada te ajuda em tua atitude e, subitamente, surge novamente todo
o rancor e, finalmente, tudo o que consegues fazer é trata-lo com
cortesia.
O que ocorreu? Pode-se dizer que estavas equivocado ao
pedir a Deus seu amor? Não! O mal está em que buscaste esse
amor como alguma coisa em si, quando na verdade Deus estava
querendo manifestar através de ti o amor do seu Filho. O equívoco
estava no fato que quiseste usar o dom de Deus como algo teu e
com a força da tua própria resolução para fazer o que Deus mesmo
teria feito mediante o impulso de seu próprio amor através de ti.
Nisso reside a diferença, e que possamos compreendê-lo.
Esse é o lado positivo. E sobre o lado negativo, como
podemos dominar aqueles outros elementos, tais como o
ressentimento, pensamentos amargos, sentimentos negativos que
nascem das mínimas provocações? Sobre isso gostaria de chamar
a atenção aos termos, quase poderia dizer, passivos, de um dos
mandamentos que já temos feito referência, que diz: “Longe de vós,
toda amargura, e cólera, e ira, e gritaria, e blasfêmias, e bem assim
toda malícia” (Efésios 4:31). Para tais palavras, sem dúvida, dirás:
“É muito difícil! Como poderei satisfazer essas demandas de modo
que não fique nenhum pedacinho daquelas coisas? Não, a
pretensão de eliminá-las completamente seria inútil. Não vale a
pena lutar porque bem sei que resultaria num fracasso”. A isso eu
responderia que estás certo, que não conseguirias, mas que o
Senhor pode, e as palavras de Paulo citadas acima não implicam
que Ele o fará. O poder da sua cruz é suficiente para conduzir à
morte e ao sepulcro tudo aquilo que emana da velha natureza e tua
responsabilidade é não a de lutar contra essas coisas, senão de
confiá-las ao Senhor, permitindo que sua cruz faça a sua obra em
tua vida.
Volte a recordar tua posição de repouso no Senhor. Senta-te
ali e deixe que todas essas coisas te sejam tiradas. Em Cristo temos
tudo. Cristo é o dom de Deus. Nada temos fora dele para receber. O
Espírito Santo foi enviado para produzir em nós o que é de Cristo,
não para produzir algo aparte, fora dele. Somos fortalecidos com
poder no homem interior por seu Espírito, para conhecer o amor de
Cristo. Assim Paulo diz em Efésios 3:16 e 19.
O que manifestamos exteriormente é aquilo que primeiro Deus
tem operado interiormente. Tragamos novamente à memória estas
palavras notáveis de 1 Coríntios 1:30. Não apenas nos colocou
Deus em Cristo, senão que “Cristo Jesus se nos tornou da parte de
Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”.
Esta é uma das verdades mais notáveis das Escrituras: “Ele se
nos tornou da parte de Deus...”. Se cremos nisso, podemos
introduzir aí qualquer necessidade e saber que Deus honrou esse
fato, porque o Senhor Jesus Cristo mesmo, mediante o Espírito
Santo, fez em nós tudo o que nos falta.
Nos temos acostumado a considerar a santidade como uma
virtude, a humildade como uma graça e o amor como um dom que
devem ser buscados em Deus, porém, o Cristo de Deus é em si
mesmo tudo isso. Se temos a Ele temos tudo o que necessitamos.
Normalmente, em meus tempos de necessidade, eu
considerava a Cristo como uma pessoa aparte, nunca o vinculando
com as coisas que sentia tanta falta. Durante dois anos andei
apalpando na escuridão, buscando reunir toda essa soma de
virtudes que eu considerava que compreendiam o total da vida
cristã, mas sem sucesso.
Um dia, então, no ano de 1933, fui iluminado pela luz celestial,
e vi a Cristo estabelecido por Deus para ser meu na sua plenitude.
Que diferença! Quão inúteis resultaram tantos esforços!
As virtudes em si, que antes tanto buscava aparte de Cristo,
são coisas mortas. Dar-nos conta disso será como iniciar uma vida
nova. A partir daí, nossa santidade se escreverá com um S
maiúsculo, e nosso amor com um A maiúsculo. Cristo mesmo em
nós é a resposta para todas as demandas de Deus.
Retorna agora àquele irmão com quem é tão difícil estar. Mas,
desta vez, antes de sair, dirige-te a Deus desta maneira: “Senhor,
finalmente vejo que por meus meios não consigo amá-lo; mas sei
que há em mim uma vida, a vida de teu Filho, e que a lei dessa vida
é o amor. Não posso nada que não seja amá-lo”.
Não terás necessidade de esforçar-te. Repousa nele. Conta
com sua vida. Então, e nessa mesma confiança, anima-te a vê-lo e
isso será notável, que, inconscientemente, e eu enfatizaria a palavra
inconscientemente, porque logo mais tarde, te surpreenderás que
estarás falando com ele amavelmente, sem agressividade. E, sem
dar-te conta, o estimarás como irmão. Mantém com ele uma
conversação espontânea e uma verdadeira camaradagem, e, ao
regressar, estarás dizendo: “que notável! Não fiz nenhum esforço
para me dominar e, todavia, não me irritei. De alguma maneira
incompreensível o Senhor me acompanhou e o seu amor é o meu
triunfo”.
A manifestação da sua vida em nós é, num sentido muito real,
algo espontâneo. Quer dizer, não requer nenhum esforço nosso. A
regra imperiosa não é nos esforçarmos, mas confiar. Não depende
das nossas forças, mas das dele. É o fluir contínuo da vida o que
indica se estamos em Cristo. Ele é a fonte de vida da qual emanam
as águas doces.
Pode-se comprovar que um bom número de pessoas apenas
está fingindo ser cristão. Sua vida de crente não é senão um
simulacro. Vivem uma vida espiritual, falam uma linguagem
espiritual, e adotam atitudes espirituais, mas tudo é deles mesmos.
Esse mesmo esforço que fazem para ser espirituais deve servir
justamente para indicar que alguma coisa está errada.
Com grande esforço conseguem se abster de fazer alguma
coisa, de falar isso, comer aquilo; e quão penoso é para nós,
chineses, tentarmos falar alguma língua estrangeira! Por mais que
nos esforcemos, não flui espontaneamente, não é verdade?
Precisamos nos obrigar a falar daquela maneira. Mas não há nada
mais fácil que falar o idioma próprio. Ainda quando esquecemos o
que estamos fazendo continuamos falando! As palavras fluem. Elas
nos vêm com perfeita naturalidade, e é justamente essa
naturalidade que faz todos saberem o que somos.
Agora, nossa vida é a vida de Cristo, manifestada em nós pelo
Espírito Santo; e a lei dessa vida é espontânea. Logo que
entendamos essa verdade, cessaremos de nos esforçar e
abandonaremos toda simulação. Nada é mais mortal para a vida de
um cristão que querer aparentar. Não há maior bênção do que
quando cessam nossos esforços para aparentar e quando as
nossas atitudes se manifestam com livre naturalidade, e nossas
palavras e orações, nossa vida mesma, são espontâneas
manifestações da nossa vida interior, e não uma atitude forçada.
Temos descoberto quão bom é o Senhor? Ótimo. Ele é assim
em nós! Seu poder é grande? Pois bem, em nós seu poder não será
menor! Bendito seja Deus! Sua vida é tão poderosa como sempre e
essa vida não se manifestará com menor poder que quando se
manifestava antigamente nas vidas daqueles que têm a ousadia de
crer na palavra de Deus.
Que quis dizer o Senhor em Mateus 5:20: “Porque vos digo
que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e
fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”?
Já temos visto como que, partindo desse dito, o Senhor
começa a comparar as demandas da lei de Moisés com suas
próprias exigências tão tremendas, repetindo as palavras “ouvistes
que foi dito aos antigos... eu, porém, vos digo...”.
Mas, depois do fracasso do homem durante vários séculos em
querer alcançar o primeiro nível, como é que agora o Senhor pensa
em elevar sua demanda a um nível mais alto ainda?
Só pode fazê-lo porque tinha fé em sua própria vida. Não
temia impor a si próprio as demandas mais exigentes.
É verdade, encontraremos grande consolo na leitura das leis
do reino, como estão escritas no evangelho de Mateus, nos
capítulos de cinco a sete, porque revelam a absoluta confiança que
o Senhor tem na sua própria vida, que agora Ele colocou ao alcance
dos seus filhos.
Esses três capítulos apresentam as demandas divinas feitas à
vida divina. A magnitude das exigências que Cristo impõe revela
quão grande é sua confiança nos recursos que Ele nos deu para
satisfazer essas demandas.
Se se nos apresenta alguma situação difícil, um assunto do
que é justo ou injusto, bom ou mal, não é necessário recorrer à
sabedoria. Não há necessidade de recorrer à árvore do bem e do
mal. Nós temos a Cristo, e Ele se nos tornou da parte de Deus
sabedoria. A lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, nos comunica
continuamente seu conceito do que é bom ou mal, e a atitude de
espírito em que devemos enfrentar a situação.
Sempre terão situações aparecendo para nós, coisas que
ferirão nossa sensibilidade cristã quanto ao que é justo e que
colocarão a prova nossas reações. É indispensável compreender o
princípio que rege a cruz, que a norma de nossa vida atual não é o
velho homem, mas o novo, que é criado segundo Deus, em justiça e
retidão procedentes da verdade (Efésios 4:22-24).
Esta deve ser nossa oração: “Senhor, não tenho mais nenhum
direito para defender! Tudo o que tenho é por tua graça e tudo está
em ti”.
Recordo de uma anciã japonesa, cristã, em cuja casa certa
vez entrou um ladrão e que, em sua fé tão simples e prática no
Senhor, preparou para ele uma comida e logo lhe ofereceu as
chaves. O homem ficou muito envergonhado por essa atitude tão
bondosa e Deus falou com ele pelo testemunho dela. Hoje, ele é
irmão em Cristo.
Muitos cristãos conhecem bem a doutrina, porém vivem vidas
que a contrariam completamente. São conhecedores do conteúdo
dos capítulos de um a três de Efésios, mas não praticam aquilo que
está nos capítulos quatro a seis. Seria melhor não ter a doutrina do
que viver uma contradição.
Tem dado Deus algum mandamento? Descanse nele para
obter os recursos necessários para satisfazer o mandamento. Que
possa o Senhor nos ensinar que a norma da vida cristã é de
estender-nos muito mais além do que é nosso mero dever, a fim de
que façamos o que lhe agrada.
Resta alguma coisa a acrescentar ao que já foi dito no que
concerne ao andar do cristão? A palavra andar contém, como
veremos, algo mais do que já temos dito.
Certamente indica conduta ou comportamento, mas também
dá a ideia de avanço. Andar significa seguir adiante. Nosso desejo é
considerar, brevemente, esse assunto de nosso progresso em
direção ao alvo.
Paulo diz em Efésios 5:15-17: “Portanto, vede prudentemente
como andais, não como néscios, e sim como sábios, remindo o
tempo, porque os dias são maus. Por esta razão, não vos torneis
insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor”.
Se observará que nos versículos que acabamos de citar existe
uma ideia de aproveitar bem o tempo e os contrastes entre
“sabedoria” e “necedade” e “ver prudentemente como andar,
remindo o tempo” e “insensatos”. Isso é importante. Por isso quero
agora citar duas outras passagens em que aparecem justamente
esses mesmos pensamentos.
Uma está em Mateus 25:1-13: “Então, o reino dos céus será
semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram
a encontrar-se com o noivo. Cinco dentre elas eram néscias, e
cinco, prudentes. As néscias, ao tomarem as suas lâmpadas, não
levaram azeite consigo; no entanto, as prudentes, além das
lâmpadas, levaram azeite nas vasilhas. E, tardando o noivo, foram
todas tomadas de sono e adormeceram. Mas, à meia-noite, ouviu-se
um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro! Então, se levantaram
todas aquelas virgens e preparam as suas lâmpadas. E as néscias
disseram às prudentes: dai-nos do vosso azeite, porque as nossas
lâmpadas estão se apagando. Mas as prudentes responderam: não,
para que não nos falte a nós e a vós outras! Ide, antes, aos que o
vendem e comprai-o. E, saindo elas para comprar, chegou o noivo,
e as que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e
fechou-se a porta. Mais tarde, chegaram as virgens néscias,
clamando: senhor, senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: em
verdade vos digo que não vos conheço. Vigiai, pois, porque não
sabeis o dia nem a hora”.
A outra está em Apocalipse 14:1,4,5: “Olhei, e eis o Cordeiro
em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil,
tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai. São estes
os que não se macularam com mulheres, porque são castos. São
eles os seguidores do Cordeiro por onde quer que vá. São os que
foram redimidos dentre os homens, primícias para Deus e para o
Cordeiro; e não se achou mentira na sua boca; não têm mácula”.
Um grande número de passagens das Escrituras assegura
que o que Deus começou também concluirá. Nosso Salvador é
Salvador até o fim! Nenhum cristão estará “meio” salvo quando o fim
chegue, ainda que com muita razão poderia se dizer de alguns de
nós.
Agora, Deus aperfeiçoará a todos os homens que têm fé nele.
Isso é o que cremos e o que devemos ter em mente naquilo que a
seguir vamos tratar.
Falamos com Paulo: “Estou plenamente certo de que aquele
que começou boa obra em vós há de completa-la até o dia de Cristo
Jesus” (Filipenses 1:6).
O poder de Deus não tem limites. Ele é Todo-poderoso para
apresentar-nos imaculados, sem manchas, diante da sua glória
(Judas 24; 2 Timóteo 1:12; Efésios 3:20).
Todavia, ao considerar o aspecto subjetivo, a aplicação de
tudo isso em nossas vidas, aqui e agora, nesse mundo, nos
deparamos com a questão de quando isso se cumprirá.
Em Apocalipse capítulo catorze encontramos primícias e hora
de ceifar. Qual é a diferença entre hora de ceifar e primícias?
Certamente não é a qualidade, porque a colheita é a mesma. A
diferença reside apenas no tempo do amadurecimento. Algumas
frutas ficam maduras antes que outras e assim são as primícias.
Meu povo natal numa província da China é famoso pelas suas
laranjas. Eu diria, e, sem dúvida, me sinto bastante parcial..., que
em todo o mundo não há outras iguais. Ao contemplar as colinas, no
início da temporada das laranjas, se vê tudo verde. Porém, se
alguém observar atentamente essas árvores, verá que aqui e ali
algumas frutas já estão se manifestando na sua cor alaranjada,
apresentando todo esse quadro uma vista muito bonita. São como
botões de ouro salpicando o verde escuro das árvores. Mais tarde
todas as frutas amadurecerão e os laranjais se cobrirão de uma cor
dourada. Mas, no início da temporada, são essas primícias que são
arrancadas e recolhidas com cuidado e são também as que obtêm
os mais elevados preços no mercado, podendo chegar a um valor
até três vezes mais do que as outras alcançaram.
O Cordeiro está buscando primícias (Apocalipse 14:4).
As prudentes da parábola não são as que trabalham melhor,
mas são aquelas que trabalham prudentemente nas primeiras
horas. Observemos que as outras também eram virgens, insensatas
certamente, mas não eram falsas. Tinham saído com as prudentes
para esperar o noivo, tinham azeite nas suas lâmpadas e essas
ardiam. A diferença está em que não haviam calculado a demora do
noivo e agora o azeite nas suas lâmpadas acabou e não tinham
reservas. Além disso, as prudentes não tinham suficiente para
repartir. Algumas pessoas têm dificuldade nesse ponto com a
palavra do Senhor, quando disse para as insensatas: “não vos
conheço”. Como ele poderia dizer isso delas? Se representam suas
filhas verdadeiras, desposadas, como uma virgem pura para Cristo
(2 Coríntios 11:2)? Porém, devemos reconhecer a ênfase desse
ensino da parábola, que certamente há um privilégio servir a ele no
futuro, que seus filhos podem perder ao não estar preparados. Diz
que as cinco chegaram à porta e disseram: “senhor, senhor, abre-
nos!” Mas, que porta? Certamente, não a porta da salvação. Se
estás perdido, não podes chegar à porta do céu e chamar. Portanto,
quando o Senhor diz “não vos conheço”, sem dúvida, emprega
essas palavras num sentido limitado, como na seguinte ilustração.
O filho de um magistrado foi preso por conduzir
imprudentemente. Foi levado ao tribunal e logo se deu conta de que
seu pai estava sentado na cadeira do juiz. O procedimento de um
tribunal é mais ou menos o mesmo em todo o mundo. Então,
fizeram perguntas ao jovem. Qual é o seu nome? Qual seu
endereço? Qual seu trabalho? E assim por diante. Assustado, o
jovem olhou para seu pai e lhe disse: “mas, papai, quer dizer que
não me conheces?” Dando golpes na mesa, o pai respondeu
firmemente: “jovem, não lhe conheço. Qual seu nome?” Com
certeza, não queria dizer que realmente não o conhecia em casa.
Ele o conhecia muito bem. Mas, neste lugar e neste momento, não o
conhecia. Ainda que, todavia, era filho do seu pai, o jovem tinha que
continuar com o procedimento do tribunal e pagar sua multa.
Dado o fato que todas as virgens tinham azeite em suas
lâmpadas, o que distingue as insensatas é o fato de que não tinham
reservas em suas vasilhas. Como cristãos verdadeiros, essas
virgens têm vida em Cristo e, por conseguinte, mantêm um
testemunho perante os homens, mas não é um testemunho
constante, permanente. Têm o Espírito, mas não estão, se assim
pode ser dito, cheios do Espírito.
Nos momentos de crise se veem obrigadas a sair para
comprar mais azeite. Todas tinham azeite suficiente. A diferença
está em que as prudentes tinham o suficiente para as horas de
necessidade, enquanto que as insensatas, quando o azeite
acabava, descobriam que já era tarde para alcançar seus
propósitos. É tudo um assunto de tempo, de estar prevenidos para
os momentos de necessidade e isso é o que o Senhor busca
inculcar nos seus, quando no final exorta a serem não apenas
discípulos, senão discípulos alertas.
“E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas
enchei-vos do Espírito” (Efésios 5:18).
Em Mateus capítulo vinte e cinco, o assunto não é a aceitação
inicial de Cristo, nem ainda a vinda do Espírito Santo sobre seus
servos para dar os dons espirituais. É assunto de ter reservas de
azeite na vasilha, de que a luz esteja brilhando por todo o tempo de
espera que for necessário por meio daquela provisão milagrosa e
contínua do Espírito em nosso interior.
Ainda que na parábola encontramos lâmpadas e azeites, na
verdade nós somos ao mesmo tempo lâmpadas e vasilhas, e assim
o Senhor toma as medidas necessárias a fim de que conheçamos
essa plenitude.
“Enchei-vos” (Efésios 5:18) não é uma expressão muito
comum no grego com relação ao Espírito Santo. Significa ser cheio
de um modo contínuo e constante pelo Espírito Santo. Refere-se
não apenas a um ato, mas sim a um estado permanente. Não em
uma crise, como no Pentecostes, senão uma condição permanente
em que o cristão deve ser encontrado. Ademais, não é algo exterior,
mas interior. Não é assunto de dons espirituais e manifestações
exteriores, mas da atuação e da presença pessoal do Espírito Santo
em nosso espírito assegurando que a luz das lâmpadas brilhe sem
minguar, mesmo depois da meia-noite, se for necessário.
Não é, então, assunto de manifestações exteriores, senão da
presença pessoal e operante do Espírito Santo em nosso espírito.
Mais ainda, não é de todo um assunto pessoal, como nos
esclarece o versículo seguinte (Efésios 5:19). É algo que
compartilhamos com os demais cristãos, numa dependência mútua,
porque o significado de ser cheio do Espírito, se analisado bem, não
inclui apenas “entoando e louvando de coração ao Senhor”, mas
também “falando entre vós com salmos, com hinos e cânticos
espirituais”.
Para alguns é muito difícil cantar sozinhos, mas é diferente
cantar acompanhado e em harmonia num coral, num quarteto ou
mesmo em dois. O ensino sobre a unidade do Espírito está bem
estabelecido em Efésios 4:3,15 e 16. O ser “cheios do Espírito” tem
a finalidade que possamos cantar unidos um novo cântico diante do
trono, como expressa Apocalipse 14:3. Para não desviar do nosso
objetivo, repetirei que a necedade ou a sabedoria depende disso. Se
és sábio, buscarás conhecer essa plenitude imediatamente, mas se
és néscio, irás postergar para outra data.
Alguns de nós somos pais e temos filhos. Quanto diferem
nossos filhos em seus temperamentos! Um obedece imediatamente;
outro pensa que demorando um pouco evitará a necessidade de
obedecer. Se esse é o caso e és muito débil para deixa-lo escapar,
então o que demora um pouco realmente é o sábio, porque
consegue não fazer nada. Mas se tua palavra é firme, se tua ordem
não pode ser descumprida, isto é, terá que ser obedecida, então o
mais sábio é aquele que obedece rapidamente.
Tenhamos plena certeza acerca da vontade do Senhor. Se as
palavras do Senhor pudessem ser descontadas, descumpridas, sem
arcar com as consequências, não seria uma necedade escapar
delas. Mas como nosso Deus é um Deus imutável, que não muda,
com uma vontade invariável, sejamos sábios, aproveitemos bem o
tempo, asseguremos a provisão constante de azeite em nossas
lâmpadas, para que sejamos tomados de toda a plenitude de Deus,
como diz em Efésios 3:19.
A parábola não responde todas nossas perguntas. Como as
insensatas compraram? Não sabemos. Não nos diz em lugar algum
que passos mais Deus vai dar para conduzir todos seus filhos para
a maturidade. Isso não é da nossa conta. O que nos concerne são
as primícias. O Senhor nos pede para seguir em frente e não
especular sobre o que vai ocorrer se não vamos adiante.
É impossível evitar alcançar a maturidade ou pagar o preço
correspondente tratando de esquivar a responsabilidade, mas a
sabedoria está ligada à questão de quando a alcançaremos. Os
sábios aproveitam bem o tempo. Assim como minha caneta está
agora na minha mão e pronta para ser usada, do mesmo modo
cooperando com o Senhor, os sábios proveem a Deus o que Ele
necessita. São instrumentos adequados para seu pronto serviço.
Olhemos para o apóstolo Paulo. O veremos consumido por
uma paixão ardente. Ele viu que os propósitos de Deus estão
relacionados com ele, estão relacionados com o cumprimento dos
tempos (Efésios 1:10). Ele é um daqueles que primeiramente
esperaram em Cristo, descansando numa salvação que está ainda
por ser revelada no que diz respeito a sua plenitude nos séculos
vindouros (Efésios 1:12; 2:7).
Que faz ele à vista de tudo isso? Anda, segue em frente, e não
apenas anda, mas corre, como diz em 1 Coríntios 9:26: “Assim corro
também eu, não sem meta”, e em Filipenses 3:14: “prossigo para o
alvo”.
Muitas vezes, quando vejo irmãos adquirindo conhecimento de
verdades espirituais e fica evidente o crescimento, o avance no
Senhor, surge no meu coração este pensamento: se tivesse
compreendido isto cinco anos atrás!
Tão curto é o tempo, ainda que estamos progredindo. Tão
grandes e urgentes são as necessidades, porque, recordemos, não
é assunto de benefício que poderíamos granjear-nos, senão a
necessidade de que o Senhor tem nessa hora. Sua necessidade
atual é de instrumentos prontos. Porque? Por que os dias são maus,
como diz o livro de Efésios 5:16.
A situação do povo de Deus é desesperadora. Que possamos
enxergar isso! É possível que o Senhor tenha que proceder conosco
com muito rigor. Paulo teve que dizer sobre si mesmo: “sou um
nascido fora de tempo” (1 Coríntios 15:8). Ele tinha atravessado
crises graves, a fim de chegar ao ponto em que se encontrava, e,
contudo, ia adiante. Sempre é um assunto de tempo. Pode ser que
Deus tenha que fazer alguma coisa em nós rapidamente,
comprimindo-o num prazo bastante breve pois, sem dúvida, algo Ele
tem que fazer.
Que os olhos de nosso entendimento sejam iluminados para
saber qual seja a esperança a que Ele nos tem chamado, e que
possamos andar, digamos, de um modo melhor, correr, conhecendo
qual seja a vontade do senhor (Efésios 1:18; 5:17).
O Senhor sempre amou as almas dos que se arriscam.

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