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ASSENTADOS NOS LUGARES CELESTIAIS

Watchman Nee
Introducão

Se a vida do crente deve ser agradável a Deus, é necessário que essa esteja
inteiramente ajustada a Ele. Com demasiada frequência, na aplicação desse princípio a
nossas vidas, enfatizamos apenas algum detalhe de nossa conduta ou de nosso serviço
a Deus. Portanto, muitas vezes, não conseguimos apreciar a magnitude do ajuste que
temos que fazer e o ponto que deveríamos iniciar. Porém, Deus julga tudo, do princípio
ao fim, pelas perfeições do seu Filho.

As Escrituras afirmam claramente que a Deus lhe compraz reunir todas as


coisas em Cristo, no qual fomos também feitos herança (Efésios 1:9-11). É minha oração
sincera que nas páginas deste livro sejam nossos olhos novamente abertos para que
vejamos que só enfatizando devidamente esse ponto, poderemos esperar a realização do
propósito de Deus para as nossas vidas, a saber, que sejamos para o louvor da sua glória
(Efésios 1: 12).

Servirá de base para as nossas meditações a epístola de Paulo aos Efésios.


Como tantas das outras epístolas do apóstolo, essa também tem duas partes: uma
doutrinal e outra prática. A parte doutrinal, que engloba os capítulos um a três, trata
principalmente dos grandes feitos da redenção que Deus tem realizado em nosso favor
por meio de Cristo. Logo a seguir, a seção prática que vai do capítulo quatro ao capítulo
seis, nos apresenta, à luz dessa redenção, as demandas de Deus no que se refere à
conduta e ao zelo. As duas partes estão intimamente ligadas; porém, como veremos, a
ênfase em cada caso é distinta. Além disso, a segunda metade, a parte prática, pode ser
por sua vez, convenientemente subdividida, segundo seu tema, numa seção longa que
vai desde 4:1 até 6:9, e uma segunda seção mais breve, que se estende desde 6:10 até o
final da epístola. A primeira seção está relacionada com a vida que levamos no meio do
mundo e a segunda com o conflito que o crente trava com o diabo. De modo que temos,
no total, três subdivisões da epístola aos Efésios, apresentando, uma, a posição que o
crente ocupa em Cristo (1:1-3:21), outra, a segunda, sua vida no mundo (4:1-6:9), e, a
terceira, sua atitude diante do inimigo (6:10-24).

De todas as epístolas de Paulo, é a de Efésios que encontramos os valores mais


altos no que diz respeito à conduta do crente. A carta abunda em riquezas espirituais;
todavia, é intensamente prática. A primeira metade da carta revela que nossa vida em
Cristo é de união com Ele em lugares celestiais. A segunda metade nos ensina, em
termos bastante práticos, como devemos viver essa vida, nós que estamos sobre a terra.

Não é nosso propósito dar um estudo detalhado da epístola. Só examinaremos


alguns dos princípios centrais que se encontram nela. Para esse fim empregaremos uma
palavra chave que cremos expressa a ideia central de cada seção.

Na primeira divisão da carta, assinalamos a palavra assentar (2:6). Essa é a


palavra chave dessa seção, que contém o segredo de uma verdadeira experiência cristã.
Deus nos fez assentar com Cristo nos lugares celestiais e todo crente tem que começar
sua vida espiritual desde esse ponto de descanso.
Na segunda divisão enfatizamos a palavra andar (4:1), como uma expressão da
nossa vida nesse mundo, e que é justamente o tema dessa segunda seção do livro. Nela
somos exortados a manifestar em nosso andar uma conduta que esteja condizente com
a nossa elevada vocacão.

Finalmente, na terceira divisão, encontramos a chave da nossa atitude diante do


inimigo nas palavras ficar firmes (6:11), que expressam nosso lugar de vitória.
De maneira que temos três palavras chaves em Efésios: primeira, nossa posição em
Cristo: assentar (2:6); segunda, nossa vida nesse mundo: andar (4:1) e terceira, nossa
atitude frente ao inimigo: ficar firmes (6:11).
A vida do crente sempre apresenta essas três atitudes: diante de Deus, diante do
mundo e diante dos poderes satânicos.

Para ser um instrumento útil nas mãos de Deus, o homem precisa estar bem
ajustado na sua posição em sua vida diária e no combate contra as forças do mal.
Não satisfará as exigências de Deus se deixa de dar importância a qualquer dessas três
disposições, já que cada uma delas é uma esfera na qual Deus deseja expressar a glória
da sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado (1:8).

Tomaremos então essas palavras: assentar, andar e ficar firmes, como balizadores
do ensino dessa epístola, de sua mensagem para nossos corações.

Será de muito proveito observar tanto a ordem como a relação em que aparecem.
Nota do tradutor: no presente trabalho, será apresentada apenas a primeira
divisão, isto é, nossa posição em Cristo nos lugares celestiais.

Capítulo 1

Assentados
Vamos começar este capítulo lendo alguns versículos da carta de Paulo aos Efésios:
"O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo... ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo­
º sentar à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e
poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas
também no vindouro" (1:17,20,21); ainda: "E juntamente com ele nos ressuscitou e
nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus... porque pela graça sois salvos,
mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se
glorie" (2:6,8,9). Deus o fez sentar e do mesmo modo nos fez sentar.

Consideremos primeiramente o que está implicado na palavra "sentar". Como já


temos dito, revela o segredo de uma vida celestial. A vida cristã não começa com um
"caminhar", começa com um "sentar".
A era cristã começou com Cristo, de quem lemos que, "depois de ter feito a
purificação dos pecados, assentou-se à direita da majestade nas alturas" (Hebreus 1:3).
Da mesma maneira, podemos dizer que a vida individual cristã começa quando o
homem se vê em Cristo; quer dizer, quando, por fé, nos vemos assentados com ele em
lugares celestiais.

A maioria dos crentes erra, procurando andar a fim de poder sentar e descansar,
mas isso é inverter a ordem. O raciocínio humano nos diz que se não andamos, não
alcançaremos nosso objetivo. Que podemos conseguir sem esforço? Como é possível
avancar
, se não nos movemos? Mas a vida de fé é uma coisa estranha. Se no comece
'
nos esforçamos para fazer, nada obtemos. Se nos afligimos para obter, perdemos tudo.
A razão está em que o cristianismo inicia não com muito fazer, senão com um grande
"está consumado" (João 19:30).

Assim vemos que a carta aos Efésios começa declarando que Deus nos tem
abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo (1:3), e
desde o início nos convida para que nos sentemos a fim de podermos desfrutar do que
Deus nos tem dado, e não que façamos algo nós mesmos.

O andar implica em esforço; no entanto, Deus diz que nós somos salvos não por
obras, não por nosso esforço, senão por sua graça, por meio da fé (2:8).

Comumente usamos a expressão "salvo pela fé"; mas, o que queremos dizer com
isso? O que queremos dizer é que somos salvos por confiar no Senhor Jesus Cristo. Nada
fizemos para nos salvarmos. Simplesmente descarregamos nele o peso das nossas almas
pecaminosas. Começamos nossa vida de crente dependendo, não de nossas obras, mas
sim do que Cristo já tinha feito em nosso favor. Quem não fez isso não é crente, pois
o primeiro passo na vida de fé é dizer: nada posso fazer para conseguir me salvar, mas
Deus, em sua graça, fez para mim, em Cristo, tudo o que era preciso para que eu fosse
salvo.

A vida cristã, do princípio ao fim, descansa sobre a base de uma completa


dependência no Senhor Jesus. Não existe limite à graça que Deus deseja derramar sobre
nós. Ele nos dará tudo; mas nada poderemos receber enquanto não descansemos nele.
Sentar-nos indica atitude de descanso; algo foi concluído. O trabalho termina e nos
sentamos.
É paradoxo, mas também certo que na vida de fé nós só avançamos se primeiro
aprendemos a sentar.

Na verdade, o que significa sentarmos? Enquanto caminhamos ou estamos em pé


carregamos todo o peso de nosso corpo sobre as pernas, mas quando nos sentamos,
todo o peso do corpo, não importa quanto seja, descansa sobre a cadeira na qual
estamos sentados. Ficamos cansados quando estamos caminhando ou quando estamos
de pé, mas rapidamente desaparece o cansaço quando sentamos. Andando ou parados,
despendemos energias, mas, ao sentarmos, imediatamente descansamos, porque a
carga não está mais sobre os nossos músculos e nervos, mas sobre algo que está fora de
nos.
Do mesmo modo, na esfera espiritual, sentarmos significa simplesmente
descarregar todo o peso, nossa carga, nós mesmos, nosso futuro, tudo, no Senhor.
Deixamos que ele leve a carga e já não tentamos nós mesmos leva-la.

Isso tem sido norma divina desde o princípio. Na criação, Deus trabalhou desde o
primeiro dia até o sexto, e no sétimo descansou. Podemos dizer que durante esses seis
dias Deus estava muito ocupado; mas, terminada a tarefa que se havia imposto, parou
de trabalhar. O sétimo dia veio a ser o sábado de Deus, o descanso de Deus. Pensemos
em Adão. De que modo se relacionava sua posição com esse descanso de Deus? Se
nos narra de Adão que ele foi criado no sexto dia. Evidentemente, pois, não teve
participação alguma naqueles primeiros seis dias de trabalho, porque sua existência
começou no final deles. O sétimo dia de Deus não era, na verdade, senão o primeiro de
Adão. Enquanto Deus trabalhou seis dias e depois desfrutou seu sábado, a vida de Adão
começou com o sábado. Já que Deus trabalha antes de entrar no descanso, o homem
primeiro tem que entrar no descanso de Deus e só então pode trabalhar. Além disso, foi
porque a obra de Deus estava realmente completada que o homem pode iniciar sua vida
no descanso.

Eis aqui o evangelho, que Deus se estendeu ainda mais e completou também a obra
de salvação, de maneira que nós nada necessitamos fazer para merecê-la, senão que pela
fé podemos entrar para participar diretamente dos benefícios de sua obra consumada.

Sabemos bem que, entre estes dois fatos históricos, o descanso de Deus na criação
e seu descanso na obra da redenção, se encontra toda a trágica história do pecado de
Adão e de seu juízo, dos esforços incessantes e infrutuosos do homem, e da vinda
do filho de Deus para fazer sua obra e se dar a si mesmo até que a posição perdida
fosse restaurada. "Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também" foram as suas
palavras até que, finalmente, tendo concluído sua obra de redenção, pode exclamar:
"está consumado".

Em virtude desse grito de triunfo, a comparação que temos feito está correta.
O evangelho realmente significa que Deus tem feito tudo em Cristo e que nós
simplesmente entramos por meio da fé no gozo desse feito glorioso.

Está claro que em seu contexto nossa palavra chave não significa uma ordem para
sentarmos, senão o desejo de que nos vejamos sentados com Cristo. O apóstolo roga
que os olhos do nosso entendimento sejam abertos ( 1: 18) para compreender o conteúdo
dessa verdade de duplo significado que Deus, primeiro, por seu grande poder, fez Jesus
sentar nos lugares celestiais e, depois, por sua graça, também nos fez sentar com ele.

Assim, a primeira lição que temos que aprender é que a obra não é nossa, senão
de Deus. Não somos nós os que trabalhamos para Deus, mas sim que ele trabalha para
nós. Deus nos dá essa posição de descanso. Deus traz a obra consumada de seu filho e a
apresenta para nós. Então diz: sentem.

Seu oferecimento, eu creio, não pode ser expresso em termos mais apropriados
que as palavras do convite para aquele grande banquete encontradas no evangelho de
Lucas 14:17: "Vinde, porque tudo já está preparado".
De modo que começamos nossa vida de crentes, não trabalhando, mas sim
descobrindo o que Deus já proveu para nós.

Partindo desse ponto, a experiência do crente continua do mesmo jeito que


começou, não baseada em seu próprio esforço, mas sempre baseada na obra consumada
de outro. Cada nova experiência espiritual é iniciada por fé no que Deus já fez. Um
novo sentar-se, podemos dizer. Isso é uma norma de vida e Deus mesmo foi quem a
estabeleceu. De modo que, desde o princípio até o fim, cada etapa sucessiva da vida do
crente segue esse princípio divinamente estabelecido.

Por exemplo, como posso receber poder do Espírito para o serviço? Tenho
que trabalhar por ele? Tenho que suplicar ou afligir minha alma com jejuns e
quebrantamentos para que me torne merecedor? Nunca! Não é isso que as Escrituras
ensinam. Lembremos; como foi que recebemos o perdão dos pecados? Efésios 1:6-8 nos
afirma que foi pela riqueza da sua graça que ele nos concedeu gratuitamente no amado.

Nada fizemos para merecer o perdão. Nossa redenção está em Cristo, e, por meio do
seu sangue, é nossa em virtude daquilo que ele fez.

Qual, pois, é a base bíblica para o derramamento do Espírito Santo? É a exaltação


do Senhor Jesus Cristo (Atos 2:3 3).

Recebo o perdão dos meus pecados porque Cristo morreu por mim na cruz; recebo
o poder do Espírito Santo porque ele foi exaltado à destra da majestade nas alturas.
Como o Espírito Santo é dado porque o Senhor Jesus Cristo foi glorificado, o dom do
Espírito não depende daquilo que eu seja ou daquilo que eu faça. Não recebo o perdão
por alguma coisa que eu tenha feito, assim como tampouco recebo o Espírito Santo por
alguma ação minha. Recebo tudo, não por andar, mas por me sentar. Vale dizer, por
descansar no Senhor Jesus Cristo. Assim que, como não há necessidade para esperar
para ter as primeiras experiências da salvação, tampouco há necessidade para esperar o
derramamento do Espírito Santo.

Permita-me assegurar que não há necessidade de suplicar a Deus por esse dom,
nem agonizar, nem celebrar reuniões para espera-lo. O Espírito Santo é recebido não
como resultado de nossos esforços, mas como fruto da exaltação do Senhor Jesus
Cristo. "Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho
da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da
promessa" ( 1: 1 3).
Consideremos outro tema, que é especial de Efésios.

De que maneira chegamos a ser membros de Cristo? O que é que nos põe em
condições para fazer parte daquele corpo que Paulo chama "a plenitude de Cristo"?

Certamente não conseguirei isso por caminhar. Não sou unido a ele por esforço
próprio algum. "Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados
numa só esperança da vossa vocação" (4:4). O livro de Efésios nos apresenta fatos
consumados. Começa com Jesus Cristo e com o fato de que Deus nos escolheu nele antes
da fundação do mundo ( 1 :4). Quando o Espírito Santo nos revela a Cristo e cremos nele,
imediatamente, sem esforço algum de nossa parte, começa para nós uma nova vida em
união com ele.
Se o que já temos dito é certo no que diz respeito ao perdão dos pecados e ao dom
do Espírito Santo, o que podemos dizer sobre a santificação? De que modo podemos
ser libertados do pecado? Como é crucificado o velho homem? Da mesma maneira.
O segredo está não em andar, mas, sim, em sentar. Não em tentar fazer, senão em
descansar na obra já consumada. "Como viveremos ainda no pecado, nós os que para
ele morremos? Ou, porventura, ignorais que todos os que fomos batizados em Cristo
Jesus, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo
batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai,
assim também andemos nós em novidade de vida" (Romanos 6:2-4). "E estando nós
mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo" (Efésios 2:5). Todas
essas afirmações se encontram no tempo passado, o aoristo do grego. Como se explica
isso? Pela razão de que Cristo foi crucificado nos arredores de Jerusalém há uns dois mil
anos e eu fui crucificado juntamente com ele. Essa é a realidade histórica. A experiência
dele vem se constituir na minha história, de maneira que Deus já pode falar de mim
como possuindo tudo nele. Tudo o que tenho agora, tenho com Cristo. As Escrituras
nunca se referem a essas coisas no tempo futuro nem como coisas que deveriam ser
desejadas no presente. Elas são, quanto a Cristo, verdades históricas, e todos os que
cremos participamos delas.

Os conceitos "crucificado com Cristo, vivificado, ressuscitado, assentado em


lugares celestiais" são tão confusos ao sentido humano, como foram as palavras do
Senhor a Nicodemos em João 3:3. Ali o assunto era como nascer outra vez. Aqui é
algo ainda menos provável. Algo que não só deve ser efetuado em nós como o novo
nascimento, senão algo que tem que ser visto e aceitado como nosso pela simples razão
de que já se efetuou noutro há muitos anos. Como pode ser isso? Não se pode explicar.
Precisamos aceitar das mãos de Deus como algo que ele fez.

Não nascemos juntamente com Cristo, mas, sim, fomos crucificados juntamente
com ele (Gálatas 2:19), de modo que nossa união com Cristo iniciou com a sua morte.
Deus nos incluiu nele ali. Estivemos com Cristo na cruz porque estávamos nele. Sim,
mas como posso estar certo de que estou em Cristo? Podemos estar certos porque a
Bíblia afirma que é assim, e porque é Deus quem nos pôs ali. "Mas vós sois dele, em
Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação,
e redenção" (1 Coríntios 1:30). "Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo, e
nos ungiu, é Deus" (2 Coríntios 1:21). É algo feito por ele em sua soberania sabedoria,
para ser visto, crido, aceitado e desfrutado por nós. Se eu coloco um bilhete entre as
páginas de uma revista e em seguida queimo a revista, o que acontece com o bilhete?
A mesma coisa que acontece com a revista! Os dois viram cinzas. O que acontece com
a revista, acontecerá também com o bilhete que foi colocado nela. A história da revista
e do bilhete é uma só. Do mesmo modo, Deus nos colocou em Cristo. O que acontece
com Cristo, também acontece conosco. Tudo o que é experimentado por ele, também é
experimentado por nós. Nosso velho homem foi crucificado juntamente com ele para
que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos (Romanos
6:6). Isso é história. Nossa história escrita antes que nascêssemos. 21. Tu crês? É a
verdade! Nossa crucificação com Cristo é um fato histórico glorioso. Nossa libertação
do pecado está baseada, não naquilo que nós possamos fazer e nem mesmo naquilo que
Deus fará por nós, mas sim naquilo que ele já fez por nós em Cristo.
Se nós compreendemos isso e descansamos nele (Romanos 6:11), descobrimos o
segredo da vida santa, mas a verdade é que muito pouco disso conhecemos na prática.
Por exemplo, se alguém diz algo não muito bonito a teu respeito em tua presença,
como reages? Comprimes os lábios, mordes a língua, engoles saliva e fazes um grande
esforço para te conteres e, se, à base de muito esforço consegues dissimular o desgosto
e conservar uma boa compostura, consideras que conseguiste uma grande vitória. Mas
o problema é que o desgosto persiste. Apenas conseguiste dissimular a raiva. Em certos
casos, nem isso consegues.

O que acontece? O que sucede é que estamos tentando andar antes de sentarmos, e
esse é o caminho da derrota.
Permitam-me repetir. Nenhuma experiência cristã pode começar com andar. É
imprescindível que comece com um firme sentar. O segredo da tua libertação do pecado
não está em fazer alguma coisa, senão em repousar naquilo que Deus já fez.

Certa vez, um engenheiro saiu do seu lar para uma viagem ao extremo oriente
ausentando-se por uns dois ou três anos. Em sua ausência, sua esposa foi infiel com
um dos seus melhores amigos. Quando regressou, descobriu que havia perdido sua
esposa, seus dois filhos e um dos seus melhores amigos. Ao final de uma conferência
em que eu tinha a palavra, esse pobre homem, tomado de sofrimentos, aproximou-se
de mim, abrindo-me seu coração. Durante dois anos, de dia e de noite, meu coração tem
estado cheio de ódio, disse. Sou crente, e sei que deveria perdoar minha esposa e aquele
amigo, mas, por mais que me esforce, não consigo. Cada dia procuro amá-los e cada
dia fracasso. O que posso fazer? Absolutamente nada, disse para aquele homem. Como
assim? Perguntou ele, surpreendido. Devo continuar odiando a eles? Então, expliquei a
ele: a solução do seu problema está nisto: quando o Senhor Jesus morreu por você na
cruz, não apenas levou seus pecados, senão a você também. Deus crucificou ao seu filho
e, ao mesmo tempo, crucificou ao seu velho homem com ele, de modo que esse você que
não consegue perdoar foi crucificado e tirado do caminho. Deus já tratou com todo esse
assunto na cruz. Não resta a você, pois, nada para fazer. Diga, simplesmente, ao Senhor,
que você não pode fazer nada, e que não vai procurar fazer alguma coisa, mas que confia
que ele fará isso em ti. Diga a ele que não é capaz de amar nem de perdoar, mas que
confia que ele perdoará e amará em teu lugar, e que ele fará essas coisas em ti.
O pobre homem ficou atônito. Então disse: isso é algo novo para mim. Sinto tanto
que preciso fazer alguma coisa. Depois de um breve silêncio, voltou a perguntar: mas,
o que posso fazer? Eu, então, lhe respondi: Deus está esperando até que você pare de
fazer. Quando você parar de fazer, Deus, então, poderá começar. Quando se tenta ajudar
alguém que está se afogando, há dois caminhos a seguir: o primeiro é dar um golpe nele
e deixa-lo inconsciente. O segundo é deixa-lo gritar e lutar até que se esgotem as suas
forças. Se se tenta intervir enquanto tenha força, você mesmo estará correndo perigo,
porque, em seu desespero, se prenderá a você e lhe levará para o fundo, e tanto você
como ele perderão a vida. Deus está esperando que se esgotem completamente seus
próprios recursos, para logo ele intervir. Ele, na mesma hora que você deixe de fazer,
fará todo o necessário. Deus está esperando que você se desespere.
Meu amigo engenheiro deu um salto. Irmão, disse, agora entendo! Louvado seja o
Senhor. Já está tudo bem comigo. Eu não posso fazer nada. Ele já fez tudo. E, com o rosto
radiante, se foi feliz.

De todas as parábolas dos evangelhos, creio que a do filho pródigo provê o


exemplo máximo de como agradar a Deus. O pai tinha dito "que era preciso que nos
regozijássemos e nos alegrássemos" (Lucas 15:32). Nessas palavras o Senhor revela o
que, naquilo que diz respeito à redenção, alegra profundamente o coração do pai. Não é
o irmão mais velho que, sem cessar, trabalha para o pai, senão o mais novo, que nada faz
para o pai, senão que deixa ao pai que faça tudo para ele. Não é o irmão mais velho que
quer ter a glória de ser sempre o doador, senão o mais jovem, que está disposto a receber.
Quando o pródigo regressou ao lar, tendo desperdiçado toda sua parte da herança, o pai
não teve nenhuma palavra de repreensão pelo desperdício, nem uma só pergunta pelo
dinheiro mal usado, não manifestou dor pelas coisas perdidas, apenas se alegrou pelo
retorno do seu filho e que agora podia dar a ele novamente das suas riquezas.

Deus é tão rico que seu maior deleite está em dar. Seus tesouros são tão repletos
que se entristece quando tiramos dele a oportunidade de nos presentear com elas.
Para o pai era grande a satisfação de encontrar no filho pródigo um candidato para
dar a melhor roupa, o anel, as sandálias e uma festa. Foi sua dor não poder encontrar
oportunidade semelhante no filho mais velho. Suas riquezas são inesgotáveis. Ele
verdadeiramente se alegra quando recebemos tudo aquilo que nos quer dar. Também
lhe entristece nosso esforço por fazer algo para Ele por que Ele é tão, tão capaz. Sua
vontade é que sempre deixemos a Ele fazer. Ele deseja ser o eterno Doador e o eterno
Feitor.

Se apenas pudéssemos ver quão nco e quão grande Ele é, rapidamente


deixaríamos em suas mãos todas as obras que precisam ser feitas.

Crês que se tu abandonasses todos os teus esforços para agradar a Deus teu
bom comportamento cessaria? Se tu abandonas todos teus esforços para agradar a
Deus, pensas que os resultados seriam piores daqueles que se te esforças? Quando nós
procuramos fazer as coisas é quando nos colocamos debaixo da lei; mas as obras da lei,
mesmo as nossas boas obras, são obras de morte, que não agradam a Deus.
Na parábola mencionada anteriormente, tanto o irmão mais velho quanto o filho
pródigo encontravam-se afastados das alegrias do lar paterno. O filho mais velho,
ainda que não estivesse longe do lar, estava em casa apenas posicionalmente. Ele
nunca chegou a desfrutar verdadeiramente o posto que teoricamente ocupava, porque
recusou abandonar suas próprias boas obras.

Apenas deixe de te esforçar e verás quão grande doador é Deus. Pare de fazer, e
descobrirá quão grande feitor Ele é.

O filho mais novo andou mal, mas logo retornou ao lar e encontrou descanso e é ali
onde começa a vida cristã.
Deus, que é rico em misericórdia, por seu grande amor com que nos amou, nos fez
assentar nos lugares celestiais com Cristo Jesus (Efésios 2:4-6).
Era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos (Lucas 15:32).

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