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Linguística I

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Bem vindo(a)!

Seja muito bem-vindo(a)!

Prezado(a) aluno(a), este material é recheado de informações e conceitos acerca dos


estudos da Linguística, e se você é um apaixonado pelo estudo da Língua precisa
conhecê-la em seus mais variados aspectos. Proponho, junto com você, construir
nosso conhecimento sobre a Linguística e suas atuais pesquisas, visto que trata-se
de uma ciência teoricamente nova, em comparação com o que já conhecemos hoje.

Na unidade I vamos iniciar os estudos de linguística conceituando a ciência e o


senso comum, depois o objeto de estudo da Linguística e ela como ciência de fato.
Passaremos por algumas etapas do estudo até encontrar Ferdinand de Saussure e
sua teoria da Linguística saussureana e paradigma saussureano.

Já na unidade II vamos ampliar nossos conhecimentos sobre a temática e vamos


conhecer a Gramática, Forma e o Processo de Signi cação, bem como o signi cado
das palavras (signi cado e signi cante). Ainda na unidade II vamos estudar a Forma
e signi cação: o signi cado e a estrutura linguística.

Já na unidade III teremos acesso aos fatos, dados e hipóteses na análise linguística,
bem como na Coleta de dados e a construção do corpus de análise e os fatos e
preconceitos linguísticos

Para nalizar nosso material, na unidade IV, conheceremos os Princípios de análise:


regras das línguas e regras linguísticas na descrição dos fatos linguísticos, a Análise
Linguística e suas ferramentas de análise na Linguística Descritiva: Palavras, lexemas
e sintagmas, bem como as construções gramaticais de sujeito e predicado.

Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada
de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados
em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e
pro ssional.

Muito obrigada e bom estudo!


Unidade 1
A de nição de ciência

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Introdução
Prezado(a) aluno(a), nesta unidade vamos conhecer a teoria de Ferdinand de
Saussure, considerado o pai da linguística moderna, que deu início aos estudos que
se tem hoje sobre a temática.

Antes, porém, serão tecidas considerações relevantes ao conceito de ciência e senso


comum, fatores importantes no que diz respeito ao conceito de tipos de
conhecimento para que pudéssemos chegar ao entendimento, hoje, de Linguística
enquanto ciência e ciência viva.

Por se tratar de um campo de estudo relativamente recente, os apontamentos aqui


apresentados são baseados em sua origem, em Saussure, mas com pinceladas de
correntes linguísticas mais recentes e que vieram para somar às ideias do linguista
suíço.

Vamos também identi car os fundamentos relevantes para o caráter cientí co dos
estudos linguísticos, de nir os conceitos estabelecidos e como eles se aplicam na
prática.

Aos amantes do estudo da língua, nossa sugestão é: atente-se aos conceitos, ideias e
informações aqui apresentadas para que seja possível compreender a Linguística
como ciência. A ciência que estuda a Linguagem.
A ciência e o senso comum

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Falar em ciência nos remete sempre a algo que está provado, quanti cado e
registrado, mas antes de tomarmos essas características como base, vamos analisar
qual ou quais seriam as diferenças entre o senso comum e a ciência.

Podemos de nir o conceito de senso comum como algo que é de conhecimento e


domínio popular, ou seja, algo que surge com a necessidade de resolver um
problema imediato ou mesmo para dar sentido a alguma situação.

O senso comum como objeto de re exão existe desde a origem dos


escritos losó cos. Aristóteles é tido como o primeiro pensador de que
temos registro como articulador das primeiras de nições de senso
comum (senso comunis). Antes dele, Platão, metaforicamente explicou
a vida na caverna como uma condição que nos aprisiona no mundo
sensível, fazendo-nos crer que a realidade estaria nas sombras
projetadas no fundo de uma caverna. (DOURADO, 2018, online).

Logo, ca evidente que o senso comum existe desde que a humanidade existe, o
Mito da Caverna de Platão, tão conhecida e discutida até hoje, é um dos maiores
exemplos que temos do que é o senso comum.

Na alegoria platônica existiam, de um lado, homens presos na caverna,


representando o homem comum e o seu “conhecimento” equivocado
e oriundo dos sentidos. Eles construíam, por consequência, falsas
imagens para entender e explicar a realidade (imersos no senso
comum). Do outro, a gura que se tornará o lósofo, ou seja, um dos
poucos homens que conseguiu alcançar outras formas de
conhecimento, saindo das sombras e caminhando em direção à luz.
(DOURADO, 2018, online).

Enquanto podemos de nir o senso comum como cultura popular, ou algo que não
foi comprovado cienti camente, nossos conhecimentos empíricos se resguardam
ao senso comum, o que não se deve ser menosprezado, a nal é um tipo de
conhecimento.

Mas, o que nos interessa de fato em relação à linguística, é entender que esta é um
tipo de conhecimento, mas que está bem longe de ser senso comum. A ciência,
portanto, é a parte do conhecimento que foi, de fato, comprovado, estudado.

Trata-se do conhecimento criteriosos e analisado, daquilo que foi, de alguma


maneira, comprovado e testado.

Veja a de nição:
A ciência, tanto por sua necessidade de coroamento como por
princípio, opõe-se absolutamente à opinião. Se, em determinada
questão, ela legitimar a opinião, é por motivos diversos daqueles que
dão origem à opinião; de modo que a opinião está, de direito, sempre
errada. A opinião pensa mal; não pensa: traduz necessidades em
conhecimentos. Ao designar os objetos pela utilidade, ela se impede de
conhecê-los. Não se pode basear nada na opinião: antes de tudo, é
preciso destruí-la. Ela é o primeiro obstáculo a ser superado. Não basta,
por exemplo, corrigi-la em determinados pontos, mantendo, como uma
espécie de moral provisória, um conhecimento vulgar provisório. O
espírito cientí co proíbe que tenhamos uma opinião sobre questões
que não compreendemos, sobre questões que não sabemos formular
com clareza (BACHELARD, 1996, p. 18).

Portanto, ca evidente que dentre os tipos de conhecimentos, o conhecimento


cientí co é o que nos interessa enquanto estudantes da língua e acadêmicos, a nal
é o conhecimento que não deixa dúvidas e não se gera contradição.

Podemos de nir, ainda, ciência como “saber produzido através do raciocínio lógico
associado à experimentação prática” e que nos leva à certeza daquilo que se busca,
é o conhecimento baseado na certeza e não na dúvida. É exata e indiscutível.
O problema da teoria

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
No tópico anterior conhecemos a diferença entre senso comum e ciência, conceitos
que foram estabelecidos, mas que no início do século XX foi questionado por um
lósofo chamado Karl Raimund Popper (1902-1994), suas indagações trazem dois
apontamentos sobre o problema da Teoria. A saber:

O problema da indução
Para Popper (2007), há um problema referente à validade ou à justi cação das
proposições universais das ciências empíricas, ele questiona: “Enunciados factuais,
que se baseiam na experiência, podem ser válidos universalmente? É possível saber
mais do que se sabe?”

Fato é que o “problema da indução” traz a luz algumas refutações:

A indução consiste em construir um discurso da ciência a partir de


fatos observados (experiência). Esse tipo de raciocínio pretende
anunciar leis universais baseadas em alguns fatos observados, ou seja,
a partir de certo número de observações, chega-se a uma conclusão
generalizada. Essa passagem do particular para o universal é o que
chamamos de indução. (BRITO, 2014, p. 10).

Outro questionamento de Popper está em torno da demarcação. Veja:

O problema da demarcação
Para o lósofo, a visão dos positivistas deixava lacunas no conceito estabelecido
como ciência, ou seja, não se pode considerar conhecimento algo apenas por não
ser provado cienti camente?

Os positivistas normalmente interpretam o problema da demarcação


de maneira naturalista; interpretam-no como se ele fosse um problema
da ciência natural. Em vez de torná-lo como razão que os leve a
empenhar-se em propor uma convenção adequada, acreditam estar
obrigados a descobrir uma diferença decorrente da natureza das
coisas, por assim dizer, entre ciência empírica, de um lado, e metafísica
de outro. Estão constantemente procurando mostrar que a metafísica,
por sua própria natureza, nada mais é que tagarelice vazia — “ilusão”,
como diz Hume, que devemos lançar ao fogo. (POPPER, 2007, p. 54).

Os problemas apresentados por Popper (2007) podem ser encontrados com


precisão no livro “Os dois problemas fundamentais da teoria do conhecimento” e
avaliados sob várias perspectivas apresentadas pelo autor. Vale a pena a leitura!
O objeto de estudo da
linguística e a linguística
como ciência

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Vamos a partir de agora entrar, de fato no campo de estudo da Linguística, mas para
isso é preciso compreender o seu objeto de estudo e entendê-la como ciência.

O estudo da linguagem humana sempre esteve inserido em outras ciências e não


era considerada autônoma, somente com a publicação de Curso de Linguística
Geral, de Ferdinand de Saussure, que ela passou a ser entendida e estudada como
ciência de fato:

A linguística é o estudo cientí co da linguagem humana. Desde a


antiguidade clássica até o início do século XIX a pesquisa linguística
estava inserida em outras ciências, tais como a lógica, psicologia e
loso a, não sendo reconhecida como ciência autônoma. Em 1916
Ferdinand Saussure publica seu Curso de Linguística Geral e a
linguística passa a ser estudada como ciência autônoma, tendo como
objeto de estudo a langue. Identi camos, assim, que ao proporem
novos parâmetros os estudiosos permitem a evolução cientí ca, como
ocorreu com a linguística, e que a “proliferação de versões teóricas e de
paradigmas concorrentes” se faz necessária no cenário cientí co, visto
que “é a comunidade cientí ca que propõe os parâmetros, que escolhe
e determina se uma teoria ou experiência é válida ou não” (ARAÚJO
apud CORACINI, 2007)

Fica evidente, portanto, que o objeto de estudo da Linguística é o funcionamento da


linguagem verbal humana, das línguas naturais, e como tal deve ser analisada de
vários âmbitos. Fiorin (2015) aponta que a Linguística tem por nalidade elucidar o
funcionamento da linguagem humana, descrevendo e explicando a estrutura e o
uso das diferentes línguas faladas no mundo.

Ferdinand de Saussure
Ferdinand de Saussure nasceu em Genebra, Suíça, em 26 de novembro de 1857. Foi
um estudioso da língua e lósofo que propiciou, através das suas elaborações
teóricas, o desenvolvimento da linguística enquanto ciência autônoma.

Saussure tem até hoje in uência nos estudos da teoria da literatura e nos estudos
culturais, e de niu os signos linguísticos e seus estudos, chamados de Semiologia
(ou semiótica). Seus conceitos serviram de base para o desenvolvimento de uma
corrente teórica chamada Estruturalismo, no século XX. Para o linguista suíço, a
linguística pretende:
Fazer a descrição e a história de todas as línguas que puder abranger, o
que quer dizer: fazer a história das famílias de línguas e reconstituir, na
medida do possível, as línguas-mães de cada família; procurar as forças
que estão em jogo, de modo permanente e universal, em todas as
línguas e deduzir as leis gerais às quais se possam referir todos os
fenômenos peculiares da histórias; delimitar-se e de nir-se a si
própria.” (SAUSSURE, 1995, p.13)

É notável que a Linguística é uma ciência relativamente nova e como tal está em
constante aperfeiçoamento. Novos estudos vêm surgindo sobre essa ciência e,
obviamente, novos conceitos podem ser apontados, aperfeiçoando as teorias de
Saussure.

Estruturalismo
O Estruturalismo foi uma corrente de pensamentos que agregou não somente a
linguística, mas também a sociologia, antropologia e demais áreas do
conhecimento, podendo ser entendida como uma metodologia em que os
elementos da cultura humana devem ser relacionados com um sistema maior, mais
abrangente.

O estruturalismo de Ferdinand Saussure ocupou-se do estudo sincrônico da língua,


e, mesmo não tendo usado a nomenclatura, Estruturalismo, deixou valioso estudo
sobre a estrutura da língua a que chamou de sistema. A publicação de seu trabalho
intitulado “Cours de linguistique général” só se deu em 1916, três anos depois de sua
morte. Este trabalho serviu de modelo e inspiração da corrente estruturalista, pós-
saussuriana, em abordagens social, cultural e psicológicas, entre outras. (LIMA, 2013,
online).

É fato que Saussure foi o precursor da Linguística e é considerado o pai da ciência,


pois estava à frente de seu tempo e conseguiu estruturar a língua para que fosse
possível estudá-la de maneira diferente do que havia até então.

Após os estudos de Saussure e o lançamento do seu Curso de Linguística Geral, em


1916, novos apontamentos foram surgindo e novas teorias surgiram para fomentar
ainda mais os estudos na área.

Funcionalismo
Posteriores a Saussure, duas tendências teóricas se estabeleceram para que os
estudos do estruturalismo fossem aprimorados, o funcionalismo e o formalismo:

Em tese, funcionalismo é a área da Linguística que busca estudar a relação que há


entre a estrutura gramatical das diversas línguas existentes e os contextos
comunicativos em que elas acontecem.
Os estudiosos desta corrente apontam a linguagem como uma ferramenta de
interação social, ou seja, não há como analisá-la isoladamente, mas sim através da
relação entre linguagem e sociedade, na prática das interações do cotidiano. Em
termos gerais, os funcionalistas buscam analisar dados reais da fala e escrita,
extraídos do contexto real da comunicação

Gerativismo/Formalismo
Além do funcionalismo, outra corrente que estabelece relações com a linguística é a
gerativista ou formalista de Noam Chomsky.

O formalismo tem como principal teórico e primeiro representante o linguista norte-


americano Noam Chomsky, que desenvolveu a teoria gerativa, a partir do nal da
década de 1950. Sua proposta era analisar, mais do que o desempenho dos falantes
(seu uso), a sua competência, o seu conhecimento linguístico subjacente. Assim, “o
papel do gerativismo no seio da linguística constituir um modelo teórico capaz de
descrever e explicar a natureza e o funcionamento da faculdade da linguagem”,
característica mental da espécie humana (Kenedy In: Martelo-te, 2008, p. 129). Logo,
sua visão de língua é a de uma entidade autônoma, que não depende do uso, da
comunicação na situação social. (MARTINS, 2009, p. 15).

Vale lembrar que teceremos aqui considerações relevantes ao que diz respeito do
estudo da Linguística, no entanto, as dicas de livros e leituras complementares que
faremos ao nal de cada unidade serão importantes para a compreensão integral da
temática, a nal trata-se de uma ciência complexa e relativamente nova, como já
dito anteriormente.

Nos tópicos seguintes vamos conhecer com mais detalhes a teoria de Saussure para
que seja possível identi car as concepções de signo e todas as características
linguísticas que foram fomentadas pelo suíço.

É importante, ainda, ressaltar que as informações das unidades seguintes deste


material serão baseadas apenas na teoria de Ferdinand de Saussure, portanto,
conheceremos a origem da ciência.
A exigência do caráter
explícito, sistemático,
objetivo

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
A teoria de Ferdinand de Saussure é, como já dito, a primeira para entender a
linguística como ciência. Portanto, vamos ver a partir de agora e nos tópicos que
seguem a divisão que ele faz para que fosse possível estudar a língua.

Entendamos algumas concepções de Saussure:

Língua: a língua é um sistema supra-individual utilizado como


meio de comunicação entre os membros de uma comunidade;
Fala: ato individual de vontade e inteligência;
Linguagem: fusão da língua e da fala, é social e individual;
Diacronia: estuda os fenômenos da língua e sua evolução;
Sincronia: os fenômenos da língua de uma determinada época;
Sintagma: a combinação de formas mínimas numa unidade
linguística superior;
Paradigma: banco de reservas da língua;
Signo: associação de um conceito com imagem acústica;
Signi cado: é o conceito e reside no plano do conteúdo.
Signi cante: é uma "imagem acústica" (cadeia de sons) e reside no
plano da forma;
Semiologia: a ciência que estuda os signos linguísticos.

Vamos agora ver como todas essas concepções se relacionam na teoria de Saussure
e como se aplica sua teoria no estudo da língua, e até mesmo nas concepções de
linguagem.

Para tanto, vamos analisar cada de nição com um olhar mais crítico e acadêmico
para que seja possível compreender o que Saussure nos deixou como legado,
levando-se em consideração que os estudos aqui apresentados são a base, a origem
do estudo linguístico e que a partir deles novos conceitos foram estabelecidos nos
anos posteriores.
O objeto da linguística
saussuriana e paradigma
saussureano

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
O objeto da Linguística, de fato, é a linguagem. Entenda-se linguagem como a soma
de Língua e Fala chamada por Saussure de Langue e Parole.

Temos aqui o que se chama de Dicotomia de Saussure:

Quadro 1: Dicotomia de Saussure

LANGUE PAROLE

Social Individual

Constante Variável

Realidade mental Realidade física

Homogênea Heterogênea

Conservadora Inovadora

Fonte: a autora

A dicotomia nos mostra que essa oposição do social versus o individual se mostra
útil, a nal, uma completa a outra, mas, o linguista alerta: 'a linguagem tem um lado
individual (parole) e um lado social (langue), sendo impossível conceber um sem o
outro’.

Logo, podemos dizer que a langue é necessária para que a parole seja clara e
compreensível e a parole estabelece as futuras mudanças da langue.

Sintagma vs. Paradigma


Outra concepção - ou eixos - de Saussure é a do sintagma e do paradigma, estas são
de nidas pelo linguista como “a combinação de formas mínimas numa unidade
linguística superior”.

O eixo paradigmático é o eixo das escolhas, e o eixo sintagmático é o das


combinações. Em termos gerais podemos dizer que o paradigmático são as opções
que temos de fazer combinações, enquanto o sintagmático são as combinações de
fato.

[...] a Sintagmática, centrada no eixo das combinações dos sintagmas, estabelece


relações baseadas no caráter linear da língua que, exclui a possibilidade de
pronunciar dois elementos ao mesmo tempo, ou seja, regras que limitam os falares,
privilegiando o uso coletivo em oposição ao individual. (SAUSSURE, 1995, p. 142).

O que Saussure diz é que há uma in nidade de opções na construção de uma frase
ou fala.

Por exemplo, se eu for falar algo que se re ra ao dia, dando uma característica para
ele, tenho inúmeras opções. Veja:

Quadro 2: opções de escolha de construção

Hoje uma noite estivera lindo

Ontem o dia esteve bonito

Amanhã a manhã está linda

Agora um tarde estará bonita

Fonte: a autora

“Hoje o dia está lindo”

Para que a frase fosse construída foram combinadas alternativas até que se
chegasse ao resultado. Essa relação de opções e escolhas é o que chamamos de
eixos sintagmáticos e paradigmáticos.

No discurso, os termos estabelecem entre si, em virtude de seu


encadeamento, relações baseadas no caráter linear da língua, que
exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo.
Estes se alinham um após outro na cadeia da fala. Tais combinações,
que se apoiam na extensão, podem ser chamadas de sintagmas.”
(SAUSSURE, 1995, p. 142).
Figura 2: Sintagma e paradigma

Sintagma

EU CANTO PORQUE SOU FELIZ.


Tu mudaste, mas continua linda.
Ele gostou, porém ficou confuso.
Nós iremos, pois estamos ansiosos.
Vós sabeis como permanecer jovem?
Eles comeram, entretanto parecem famintos.
Paradigma

Fonte: Chom'SkyPédia

Conclui-se que, “as relações sintagmáticas e as relações paradigmáticas ocorrem


concomitantemente.” (COSTA, 2008, p.122).
As características do signo
linguístico

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Entender o signo linguístico é requisito básico para compreendermos um pouco
mais a teoria de Saussure. Valendo-se do que já foi até aqui explanado sobre língua e
fala, temos o conceito de que a primeira é social, enquanto a segunda é individual.

O signo, pode ser entendido e de nido como uma unidade constituinte do sistema
linguístico é formado por duas partes: a do signi cado e a do signi cante.

Signi cante vs. signi cado


O signo linguístico constitui-se, basicamente, numa mistura desses dois elementos,
mas não anula um ou outro.

O signi cante é uma "imagem acústica" (cadeia de sons) e reside no plano da


forma;
O signi cado é o conceito e reside no plano do conteúdo.

Figura 3: signi cado e signi cante

Significante Significado

DOCE
Fonte: Chom'SkyPédia

O signo linguístico é, portanto, o resultado de uma combinação entre os membros


de um determinado grupo, ou seja, para haja sentido é preciso ter signi cado para
todos, o som em si não tem signi cado, mas quando é contextualizado e faz sentido
para esse grupo passa a ser entendido como signo.

Então, “a rmar que o signo linguístico é arbitrário, como fez Saussure, signi ca
reconhecer que não existe uma reação necessária, natural, entre a sua imagem
acústica (seu signi cante) e o sentido a que ela nos remete (seu signi cante).”
(COSTA, 2008, p.119).
REFLITA
“A língua é um sistema cujas partes podem e devem ser consideradas
em sua solidariedade sincrônica” (Saussure, 1975).

Linguística Sincrônica e Linguística


Diacrônica
O linguista determinou os fenômenos da língua através da sincronia e diacronia. É
sincrônico o que estuda os fenômenos da língua de uma determinada época através
de um recorte de uma fase, o diacrônico estuda os fenômenos da língua e sua
evolução, tendo como fator primordial o tempo.

Para Saussure:

É sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa


ciência, diacrônico tudo que diz respeito às evoluções. Do mesmo
modo, sincronia e diacronia designarão respectivamente um estado de
língua e uma fase de evolução. (SAUSSURE, 1995, p. 96).

Para entendermos melhor esses dois conceitos estabelecidos por Saussure, vamos a
um exemplo prático:

Vamos utilizar para análise a palavra VOCÊ:

Sincrônico:

4 letras: v-o-c-ê
2 sílabas: vo-cê

Diacrônico:

É chamada também de linguística histórica, portanto se utiliza das mudanças


ocorridas na língua para sua análise.

Pronome de tratamento
Expressão originária: vossa mercê
Variações da expressão: “vossemecê“, “vosmecê“, “vancê“ e você
Uso na segunda pessoa no singular (no lugar de Tu, principalmente na
oralidade)

“Vossa mercê” (mercê signi ca graça, concessão) era um tratamento


dado a pessoas às quais não era possível se dirigir pelo pronome tu, era
o elevado tratamento dado na terceira pessoa primeiramente aos reis
de Portugal. No século XV, quando os soberanos portugueses
adotaram o chamamento de alteza (vossa alteza, e sua alteza) foi o
título de mercê começado a ser dado às principais guras do Reino,
nas principais casas fora da Família Real, generalizando-se a dado
passo como forma de tratamento adotada pelos dalgos entre si. Este
processo foi lento e gradual. “Mercê“, do latim Merces, signi ca
benefício, presente, dignidade, recompensa, pagamento, relacionado
a MERX, que quer dizer “mercadoria, objetos para compra e venda”.
(LIMA, 2013, online).

Portanto, é possível notar como a sincronia e a diacronia são aplicadas na teoria,


enquanto a primeira se interessa pelo estudo em um recorte de tempo, a segunda
analisa os fatos históricos, a evolução e tudo o que está em torno.
SAIBA MAIS
A linguística não se a rma como uma ciência isolada, haja vista que se
relaciona com outras áreas do conhecimento humano, tendo por base
os conceitos dessas. Por essa razão, pode-se dizer que ela assim
subdivide:

* Psicolinguística – trata-se da parte da linguística que compreende as


relações entre linguagem e pensamentos humanos.

* Linguística aplicada – revela-se como a parte dessa ciência que aplica


os conceitos linguísticos no aperfeiçoamento da comunicação humana,
como é o caso do ensino das diferentes línguas.

* Sociolinguística – considerada a parte da linguística que trata das


relações existentes entre fatos linguísticos e fatos sociais.

Fonte: DUARTE, Vânia Maria do Nascimento. "Linguística"; Brasil Escola.

ACESSAR

Biogra a de Ferdinand de Saussure


Ferdinand de Saussure (1857-1913) foi um importante linguista suíço, estudioso das
línguas indo-europeias, foi considerado o fundador da linguística como ciência
moderna.

Para conhecer a vida e carreira de Saussure na íntegra acesse:

ACESSAR
REFLITA
“O tempo altera todas as coisas; não há razão para que a língua escape
a esta lei universal.”

Ferdinand de Saussure
Conclusão - Unidade 1

As informações até aqui apontadas são importantes para que possamos


compreender o estudo da Linguística enquanto ciência. Os conceitos de Ferdinand
de Saussure são extremamente relevantes para as pesquisas e as descobertas que se
tem hoje sobre o estudo da linguagem.

Os conceitos estabelecidos pelo linguista foram essenciais para que se pudesse


estudam a língua sob uma perspectiva mais profunda e não apenas baseada na
escrita e em todo o formalismo que até então havia estabelecido.

Fato é que Saussure deixou um importante legado conceitual para que os estudos
fossem ainda mais aprimorados nos anos e décadas posteriores.

Vale lembrar que a o livro que deu início na Linguística como ciência só foi publicado
alguns anos após a morte de Saussure e ele está no nosso material complementar
como dica – importante e indispensável – de leitura.

A nal, não há como falar de linguística sem falar de Ferdinand de Saussure, e nem há
como falar de Saussure sem citar sua obra primeira e fundamental “Curso de
Linguística Geral”. Boa leitura e bons estudos.
Livro

Filme

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Web

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Unidade 2
Gramática, forma e o
processo de signi cação

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Introdução
Prezado(a) aluno (a), nesta unidade vamos conhecer o processo de signi cação dos
signos linguísticos completando ainda mais o que foi visto da unidade I.

Além disso, a gramática normativa e a de nição de forma baseada na teoria de


Saussure serão nosso corpus de análise.

Vale lembrar que as de nições apontadas aqui serão de grande importância para a
continuidade do material nas unidades que virão, por isso, é imprescindível que as
características de signi cado e signi cante sejam bem absorvidas por você aqui
para que haja compreensão posteriormente.

Outra questão – não menos importante – está relacionada ao referente, ou seja, ao


contexto em que algo é dito ou escrito, por isso, faremos uma análise de uma
situação em que determinada palavra será empregada em contexto
completamente diferentes.

Fique atento às nomenclaturas e características que serão aqui apresentadas. Bons


estudos!
Gramática, Forma e o
Processo de Signi cação

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Quando se fala em gramática e forma logo nos vem à mente o conceito que temos
de gramática normativa, a nal é ela a responsável por nomear a formalizar as regras
estabelecidas para a fala e a escrita da Língua Portuguesa.

Antes, porém, vale lembrar que vimos na unidade I deste material que há correntes
teóricas da Linguística: a estruturalista, a funcionalista e a gerativista, e que cada
uma delas traz um conceito diferente sobre o estudo da Língua.

A eterna ‘briga’ entre gramáticos e linguistas está exatamente nesse ponto,


enquanto os gramáticos buscam a perfeição da forma escrita e falada, defendendo
as normas, os linguistas se preocupam em estabelecer uma comunicação que seja
entendida por emissor e receptor, desde que haja um contexto em que una
entendimento entre os dois.

Como diria Sírio Possenti, professor do Departamento de Linguística da


Universidade Estadual de Campinas:

Quanto a teorias e métodos: para os gramáticos, a autoridade dos


escritores é um critério para aceitar construções (e até exceções); para
os linguistas, o critério para aceitar construções são os dados: se um
fato ocorre sistematicamente, pertence à língua e deve ser descrito
pela gramática. Pronúncias como “paiaço” e “muié”; concordâncias
como “tu vai” e “os menino”, regências como “assistir o jogo” e
“obedecer às regras” etc. são exemplos de pontos de discordância.
(POSSENTI, 2012, online).

Vamos, então nos valer de alguns conceitos:

Gramática
A gramática é a nossa principal ferramenta de estudo da língua no que diz respeito
a sua estrutura, sua forma, suas regras e a ns:

A gramática normativa estabelece a norma culta, ou seja, o padrão


linguístico que socialmente é considerado modelar e é adotado para
ensino nas escolas e para a redação dos documentos o ciais. [...] Nas
línguas que têm forma escrita, como é o caso do português, o papel da
gramática normativa é apontar o que con gura a existência de um
padrão linguístico uniforme [...] (CIPRO NETO; INFANTE, 2008, p. 14-15).

Logo, é possível compreender que o papel principal da gramática é nortear a


maneira como se usará o padrão das palavras, é o direcionamento do que é “certo e
errado”. Vale lembrar, ainda, que há diversos tipos de gramáticas (que veremos na
unidade III deste material), mas nos atentaremos, a priori, pela gramática normativa.
Forma
Falar em forma, na Linguística, nos remete ao conceito de Saussure:

Segundo Saussure, forma designa toda a organização linguística ou


estrutura da fala ou da escrita. Opõe-se a substância, que designa a
realização física da língua como substância fônica ou grá ca. Saussure
diz que a língua é uma forma e não uma substância (ROCHA, 2001,
online).

Portanto, o conceito saussuriano de forma se estabelece na organização e estrutura


da língua como um todo, enquanto a substância está relacionada à expressão:

É fato que a substancialidade sonora e até mesmo a escrita é relevante


para a composição poética, visto que possibilitam efeitos estéticos
diversos, como rimas (internas ou externas), entonação, musicalidade e
até mesmo efeitos visuais. Entretanto, é fato que o pensamento
saussuriano a partir do CLG (Curso de Linguística Geral) é pautado sob
a formalidade relegada ao objeto língua, pela de nição de língua
enquanto forma, enquanto sistema cujos elementos estão em relação
diferencial e opositiva. (SOUZA, 2011, online).

Veja um exemplo em que há a aplicação de forma e substância:

Nós conseguiu

Segundo Saussure, há aqui defeito na substância, pois é notório seu equívoco. Já em


relação aos elementos sujeito e predicado, há coerência, pois estão relacionados de
forma correta. Saussure, atribui à substância a função de fazer a ligação com a
forma, é como se, em um comparativo, a língua está para a forma, assim como a fala
está para a substância, não sendo possível imaginar uma sem a outra.

Processo de signi cação


Na linguística, falar em processo de signi cação é remeter aos signos, o que vimos
na unidade anterior. Portanto, o processo de signi cação das palavras deve ser
compreendido desde os seus primórdios, quando a criança começa a balbuciar as
primeiras sílabas e tenta se comunicar através de gestos, expressões e
demonstrações de objetos e o que ela conseguir para mostrar o que deseja.
[...] Falando do "jogo simbólico" (jogo do faz-de-conta), ele mostra, com
rara habilidade, como o signo linguístico (a palavra) se organiza na
criança. No começo, o significado está subordinado ao objeto; depois, o
objeto subordina-se ao significado. No brinquedo, a criança opera com
significados desligados dos objetos e ações aos quais estão
habitualmente vinculados. Entretanto, por encontrar-se ainda presa à
materialidade dos objetos e das ações, fenômeno próprio do período
que prepara o pensamento operatório segundo Piaget, a criança não
pode ignorar as características dos objetos com os quais estrutura a
situação lúdica. O que ocorre é um deslocamento semântico de um
objeto a outro. Trata-se, diz Vygotsky, de um movimento no campo do
significado, o qual subordina a ele todos os objetos e situações reais.
Em "pensamento e fala", Vygotsky (1987) mostra como o aspecto
fonético e o aspecto semântico seguem, nos primeiros anos da criança,
movimentos opostos: o primeiro da parte ao todo (da palavra à frase), o
segundo do todo à parte (da frase à palavra). (PINO, 1993, p. 17).

Portanto, falar em processo de significação das palavras é entender que:

Significado: é o conceito, a parte abstrata do signo.


Significante: é o tangível, perceptível, material do signo.

Exemplo:

Figura 1: Exemplo de significado e significante

Fonte: Slide Share


Signi cação, referência e
contexto: o signi cado das
palavras

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
No tópico anterior vimos a respeito do conceito de signi cado e signi cante, mas é
evidente que tal conceito foi estabelecido fora de uma situação contextualizada, ou
seja, quando se pensa em signi cado de uma palavra logo recorremos ao referente.

Em outras palavras, só há como a rmar seu signi cado quando esta estiver
contextualizada. Mas, pensando linguisticamente, vale lembrar que a criança é um
bom exemplo de como funciona esse “jogo de sentido”, para ela uma palavra tem
aquele signi cado e pronto, pois a criança é objetiva. Conforme ganha maturidade
entende que a mesma palavra pode contemplar vários sentidos.

Falando ainda no que diz respeito à criança enquanto processo de descoberta de


signi cados e signi cantes, é possível notar como a relação de contexto e referência
é cada vez mais necessária.

Referência e contexto

Se você disser a uma criança a palavra BARATA, temos:

Signi cante: BA-RA-TA (a palavra de fato – oral -, como ela ainda


não sabe escrever, ela apenas ouve)
Signi cado: um animal pequeno e nojento

Mas, e se você disser:

“Passei em frente a uma loja e vi que a toalha de banho estava barata”


Figura 2 - Etiquetas de promoção

É evidente que a diferença entre os signi cados é completamente distinta, mas o


signi cante continua sendo o mesmo. Na primeira situação, o termo “barata” se
referia, de fato, ao “Gênero de insetos da ordem dos ortópteros, de hábitos noturnos,
cujas principais espécies se encontram nos armazéns e nas cozinhas”, como a rma
o Dicio.com. Já na segunda situação, a palavra tem seu signi cado completamente
em outro referente.

Logo, percebemos que o contexto situacional é importante para que haja


entendimento correto e não ambíguo da mensagem que se deseja transmitir.

Muitas vezes as crianças não são capazes de estabelecer essa diferença de


signi cados por serem ensinadas apenas através do signi cante. A diferenciação se
dará com o passar dos anos e com o amadurecimento da língua no contexto em
que a criança está inserida e à medida que será estimulada para perceber as
multiformas de aplicabilidade de uma mesma palavra.

No plano dos elementos essenciais do processo de comunicação, proposto por


Roman Osipovich Jakobson, o elemento “referente” é aquele que traz todo o
contexto situacional, ou seja, é a partir dele que será possível entender com
propriedade o que se pretende dizer.

Os elementos propostos por Jakobson são, ainda, aqueles que fazem relação com as
funções da linguagem, a saber:

Emissor → Função Emotiva ou Expressiva


Receptor → Função Conativa ou Apelativa
Código → Função Metalinguística
Mensagem → Função Poética
Canal → Função Fática
Referente → Função Referencial ou Denotativa

Portanto, é importante lembrar que, para a linguística, veri car toda referência, todo
contexto da situação é necessário para estabelecer a relação de signi cado e
signi cante. Quando se emprega uma palavra em um determinado contexto há
possibilidades de que o seu signi cado também seja exível.
Forma e signi cação: o
signi cado e a estrutura
linguística

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Como já visto até aqui na unidade II deste material, a forma e a signi cação das
palavras estão diretamente conectadas em seu contexto.

Para elucidar ainda mais a teoria saussureana podemos conceituar como as


unidades da língua que são chamadas de signos linguísticos, estes são organizados
e divididos de duas formas: o signi cado (conceito, plano de conteúdo) e o
signi cante (imagem acústica, plano de expressão). Há entre esses dois elementos
um vínculo natural com o conteúdo, por isso dizemos que o signo é arbitrário
absoluto, quando analisado sozinho, isoladamente, mas dizemos que é arbitrário
relativo, quando analisado em conjunto.

Após estabelecer o entendimento sobre signi cado e signi cante, é agora o


momento de falarmos um pouco sobre a estrutura linguística nos seguintes
quesitos:

Modalidade oral e escrita


Registro formal e informal
Variedade padrão e não-padrão

As estruturas linguísticas se modi cam não somente através dos referentes, como já
vimos, mas também através das modalidades:

Oral: linguagem falada (espontânea)


Escrita: linguagem que se utiliza de signos (planejada)

Já quando falamos sobre registros estamos nos referindo ao:

Formal: normalmente utilizado na escrita, mas há casos em que se utiliza a


formalidade, como um discurso presidencial, por exemplo;
Informal: a conversa do dia a dia, a troca de informações com pessoas que você
convive e que não há exigência de formalidade.

Já sobre a variedade, temos:

Padrão: que é aquele estabelecido pela gramática e chamado também de


norma culta e possui maior prestígio social;
Não padrão: que é a linguagem do dia a dia e que não se remete à gramática
para as construções.

Portanto, quando pensamos em processo de signi cação (levando-se em


consideração o que vimos até aqui sobre signi cado e signi cante) é preciso
estabelecer alguns critérios para o entendimento correto, o primeiro deles o
referencial, ou seja, o contexto em que se está dizendo. Depois, no que diz respeito à
estrutura linguística, podemos de nir a diferença que há entre a oralidade e a
escrita, a variedade e o padrão.
SAIBA MAIS
LITERATURA E LINGUÍSTICA LIMITES INTERDISCIPLINARES

As investigações sobre o texto literário, realizadas conforme as linhas de


orientação do método estruturalista, desenvolveram discussões acerca
da literatura e de metodologias analíticas, pela apropriação de
conceitos que já faziam parte do quadro categorial da Linguística. Na
tentativa de detectarem os princípios reguladores do discurso literário,
especialmente quando da abordagem das múltiplas narrativas, as
propostas dos teóricos da literatura, elaboradas nas primeiras décadas
do século XX, tiveram por base o legado do pensamento estrutural de
Saussure. A Linguística que ele inaugura desenvolveu-se de modo
dedutivo, por ter se constituído em uma ciência capaz de prescrever
um princípio geral de classi cação diante do heteróclito da linguagem.
E se tal fato ocorreu, foi porque Saussure sabia bem da impossibilidade
de se partir do estudo de cada uma das inúmeras línguas que teria que
abarcar.

Fonte: Maria Antonieta Jordão de Oliveira Borba (UERJ)

ACESSAR

REFLITA
“Sem a linguagem, o pensamento é uma nebulosa vaga, inexplorada.”

Ferdinand de Saussure
Conclusão - Unidade 2

Nesta unidade pudemos entender algumas características abordadas pela linguística,


especialmente no que tange ao processo de signi cação das palavras, bem como sua
aplicação referencial e contextualizada.

Falar em forma, na linguística, é apontar as evidências abordadas por Saussure e


entender como, de fato, ela funciona no dia a dia e no estudo da Língua.

A linguística é uma ciência viva que estuda a língua em suas mais variadas vertentes,
e mesmo que haja descobertas recentes e maneiras distintas de aplicá-la, ca
evidente que não há uma norma fechada e uma verdade absoluta quando se trata do
estudo de algo que é social.

E como tal não pode ser restrito, se o mundo se modi ca ano após ano e a sociedade
também, como podemos achar que a língua permaneceria intacta?

Os amantes da língua sabem como trata-se de um organismo vivo e e caz e que é


completamente exível e requer sempre possibilidades para se transformar.

Leitura complementar
Variação linguística e ensino de gramática

Edair Maria GÖRSKI e Izete Lehmkuhl Coelho

A variação social

Essa variação (também conhecida como variação diastrática) está relacionada a


fatores concernentes à organização socioeconômica e cultural da comunidade.
Entram em jogo fatores como a classe social, o sexo, a idade, o grau de escolaridade, a
pro ssão do indivíduo. São exemplos típicos de variação social: a vocalização do -lh- >
-i- como em mulher/muié; a rotacização do -l- > -r- em encontros consonantais como
em blusa/brusa; a assimilação do –nd- > -n> como em cantando/cantano; a
concordância nominal e verbal como em os meninos saíram cedo/ os menino saiu
cedo. Em relação à concordância verbal de terceira pessoa do plural, por exemplo,
Monguilhott (2009), ao investigar a fala da região de Florianópolis, mostra uma
correlação entre marcação de concordância e escolaridade. Os resultados apontam
que os informantes mais escolarizados, independentemente da idade, preservam
mais as marcas de concordância verbal. Velhos e jovens apresentam um aumento da
marcação de concordância, de 67% para 88% e de 72% para 89%, respectivamente,
com o aumento da escolaridade de fundamental para superior. Esses percentuais
correspondem aos resultados de outros estudos que controlaram a escolaridade em
amostras de outras regiões do Brasil (SCHERRE; NARO, 1997 e MONGUILHOTT, 2001).
No entanto, a frequência de marcação da concordância cai consideravelmente
quando o sujeito está posposto ao verbo, independentemente da escolaridade do
informante. Tanto a variação geográ ca como a variação social estão intimamente
associadas às forças internas que promovem ou impedem a variação e a mudança e a
identidade do falante. É como se o indivíduo, ao manifestar-se oralmente, já revelasse
a sua origem regional e social. É como se ele, pela sua forma de falar, se identi casse
como pertencente ou não a determinada comunidade e a determinado grupo social.
É nesse sentido que se diz que as regras variáveis podem ser motivadas extra-
linguisticamente, além de linguisticamente.

A variação estilística

Também chamada de variação contextual ou de registro, essa variação se manifesta


nas diferentes situações comunicativas no nosso dia-a-dia. Em contextos
socioculturais que exigem maior formalidade, usamos uma linguagem mais cuidada
e elaborada – o registro formal; em situações familiares e informais, usamos uma
linguagem coloquial – o registro informal. Mas, o que observamos na prática é que as
situações cotidianas de interação são permeadas por diferentes graus de formalidade,
mais do que por uma oposição polarizada. A variação estilística é regulada pelos
domínios em que se dão as práticas sociais (escola, igreja, lar, trabalho, clube, etc),
pelos papéis sociais envolvidos (professor-aluno, pai- lho, patrão-empregado, etc),
pelo tópico (religião, esporte, brincadeiras, etc). O grau de variação será maior ou
menor dependendo desses fatores. Na sala de aula, por exemplo, os professores
tendem a usar uma linguagem mais monitorada do que os alunos. Esse
monitoramento também está associado aos tipos de eventos. Encontramos maior ou
menor monitoramento entre eventos que são mediados pela língua escrita e eventos
mediados pela língua oral; entre eventos de explicação de um conteúdo e eventos de
motivação; entre eventos de sala de aula e eventos dos corredores, e assim
sucessivamente (BORTONI-RICARDO, 2004). Um exemplo de variação estilística é
encontrado no trabalho de Arduin (2005). Ao estudar a variação entre os pronomes
possessivos teu(s) e seu(s), a partir de amostras de fala da região Sul (projeto VARSUL),
ela mostra que nas relações assimétricas de inferior para superior a forma teu é
desfavorecida (apenas 44%) e a forma seu é a mais frequente, indicando um maior
distanciamento entre os interlocutores, como se fosse uma forma de respeito. Nas
relações assimétricas de superior para inferior a forma teu é a preferida (91%) e, nas
relações simétricas, a forma próxima e solidária mais frequente é teu (91%). Esses
resultados corroboram estudos de Loregian-Penkal (2004) sobre a variação
estilisticamente marcada dos pronomes tu e você em Santa Catarina: tu usado
geralmente em relações simétricas ou nas relações assimétricas de superior para
inferior, enquanto você em relações assimétricas de inferior para superior, marcando
relações de poder e solidariedade. Nas várias formas de interação, a língua que
utilizamos muda, de alguma maneira, para adaptar-se ao interlocutor e ao contexto
de situação. A variação, portanto, é inerente à fala e à própria comunidade de fala e
está relacionada aos diferentes papéis sociais exercidos por cada um dos
participantes.

Livro
Filme

Web

Acesse o link
Unidade 3
Fundamentos da
linguística descritiva

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Introdução
Prezado(a) aluno(a), nesta unidade vamos estudar as características da gramática
prescritiva, chamada mais comumente de gramática normativa e também da
gramática descritiva que, como o próprio nome diz, descreve as características da
língua.

Diferente da prescritiva, a descritiva se preocupa mais com o modo de como a


língua é construída e não com o certo e o errado que a normativa traz em suas
normas e regras rígidas.

Depois, vamos conhecer ainda alguns outros tipos de gramáticas, além das duas
que foram citadas no primeiro tópico. É importante saber que essa diferença entre
as gramáticas se faz necessário para que haja um estudo completo e profundo da
língua em sua totalidade, seja na escrita, na fala e nos seus contextos.

No tópico 4 deste material, você encontrará ainda um plano de aula elaborado com
o foco em análise linguística no gênero textual resenha crítica. O plano foi
desenvolvido para o sexto ano do ensino fundamental 2, mas pode ser adaptado e
reconstruído para as demais séries.

Veremos, ainda, o que é e como acontecem os preconceitos linguísticos, tão comuns


e muitas vezes feito sem que haja percepção, a nal esse comportamento do
brasileiro tem suas origens de anos e anos atrás. Aproveite e desfrute das
informações aqui apresentadas, bons estudos!
Descrição e prescrição

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Ao estudar linguística sabemos que muitos conceitos aparecem e que,
inevitavelmente, recorremos a Saussure para identi car as características dessa
ciência. O pai da Linguística foi, de fato, o precursor dos estudos na área, mas anos
após suas teorias novos conceitos foram aparecendo e novas perspectivas de se
estudar a língua.

Gramática prescritiva ou normativa


O que estudamos na escola é o que a gramática prescritiva, ou seja, a normativa diz
que é o “certo e o errado”.

Ela é repleta de regras do que se deve ou não fazer, classi cações, análises
profundas e difíceis e que, na maioria das vezes, deixa os alunos com certa aversão
ao estudo da língua (e não é para menos!). O que acontece é que todos nós
carregamos uma bagagem social, costumes, cultura, tradições e que re etem
diretamente na nossa forma de comunicar.

A comunicação pessoal ou familiar está diretamente ligada à nossa forma de agir


em sociedade, e seria um grande equívoco dizer que aquilo que você aprendeu
desde criança é certo ou errado se comparado à realidade comunicativa de outra
pessoa.

Veja o poema de Oswald de Andrade que trata bem essa questão do que é “certo e
errado” segundo a gramática prescritiva/normativa e o modo de dizer:

Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.

Fonte: ANDRADE, Oswald. Obras completas, Volumes 6-7. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.
Gramática descritiva
A linguística descritiva é a prova de que essa forma diferente de analisar o estudo da
linguagem se deu e é e caz e, consequentemente, surge a gramática descritiva.

Vamos analisar o nosso país: rico em cultura, regiões completamente distintas em


costumes, repleto de sotaques e uso recorrente de palavras diferentes. Ora, se a
língua é viva, como poderíamos analisá-la em uma única perspectiva em um país
tão diversi cado? Apontar o certo e o errado em questões de linguagem é como
ensinar uma mãe a educar seu próprio lho.

A linguística descritiva tem como objetivo estudar o sistema linguístico funcional


como as classes de palavras e suas unidades, mas além disso ela preocupa-se
também com os sons que compõem as palavras e as regras relacionadas à sintaxe.
Em termos gerais ela está cada vez mais disposta a estudar a classi cação e a
análise do objeto de fato, mas sem “julgar certo e errado”.

A linguística descritiva traz na gramática descritiva duas divisões:

Descrição formal: morfologia, fonologia e a sintaxe.


Descrição semântica: regras de interpretação semântica e as relações entre a
língua e o mundo extralinguístico.

A Gramática Descritiva - é a descrição de como a língua funciona, do


conjunto de regras que são usadas pelos falantes. Ao contrário da
normativa, a gramática descritiva leva em consideração tudo aquilo
que possa estabelecer uma comunicação, de acordo com determinada
variedade linguística, ou seja, tudo o que está incluído no sistema.
(FRAGA, 2011, online)

Portanto, ca evidente que a gramática descritiva não está interessada em dizer a


ninguém como usar a língua, o que poderíamos entender até mesmo como um
abuso de poder, mas sim está preocupada em descrever os modos como ela é
usada na vida real. A primeira turma ergue muros entre certo e errado; a segunda
dedica-se a demoli-los.
Conceito de "Gramática"

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
É importante sempre lembrar que quando falamos de gramática o primeiro
pensamento se remete à gramática normativa. E não está errado, a nal é essa
gramática que aprendemos a vida toda na escola.

Mas, agora como estudantes da língua e da linguagem, não há como continuar


a rmando que a normativa (ou a prescritiva) é uma verdade absoluta, não é
mesmo?!

Para isso, separei a sinopse (entenda-se como uma dica de leitura também) de um
livro do Professor Sírio Possenti, chamado “Por que (não) ensinar gramática na
escola”:

Sinopse: O livro expõe questões relativas à natureza e ao aprendizado das línguas,


destacando os fatores internos e externos da variação linguística, a natureza das
gramáticas "naturais", dos "erros" dos aprendizes ou falantes, e aspectos do
funcionamento da língua ligados aos contextos e valores sociais. Expõe e
exempli ca, ainda, os conceitos de gramática normativa, descritiva e internalizada, e
apresenta algumas sugestões práticas de como trabalhar em sala de aula a partir da
produção do aluno.

Na unidade anterior vimos como se divide a gramática descritiva da tão conhecida


prescritiva, mas qual seria a de nição ou o conceito de gramática?

Vamos recorrer ao dicionário:

Signi cado de Gramática


s.f.: Conjunto de princípios que regem o funcionamento de uma língua,
determinando o uso considerado correto de uma língua.

Mas, há ainda a de nição segundo a linguística:

[Linguística] Estudo sistemático, descritivo e analítico do que compõe uma língua,


suas frases, palavras, fonemas, processos de derivação, de exão etc.

É notório que a de nição de gramática se estabelece de maneiras diferentes em


determinados aspectos, para o conceito geral trata-se das regras da normativa, mas
sob a perspectiva linguística, vai muito além de imposições entre certo e errado e
abrange descrições, processos de construções, etc.

Vamos ver cinco concepções e tipos de gramáticas que podemos encontrar:


Quadro 1: Tipos de Gramáticas

Gramática Normativa: Utilizada em sala de aula, ela busca a padronização


da língua, indicando através de suas regras como devemos falar e escrever
corretamente. Sua abordagem privilegia a prescrição de regras
que devem ser seguidas, desconsiderando os fatores sociais, culturais e
históricos aos quais estão sujeitos os falantes da língua.

Gramática Descritiva: Analisa um conjunto de regras que são seguidas,


considerando as variações linguísticas da língua ao investigar seus fatos,
extrapolando os conceitos que de nem o que é certo e errado em nosso
sistema linguístico.

Gramática Histórica: Investiga a origem e a evolução de uma língua,


representando os estudos diacrônicos.

Gramática Comparativa: Estabelece comparação da língua com outras


línguas de uma mesma família. No caso de nossa língua portuguesa, as
análises comparativas são feitas com as línguas românicas.

Gramática internalizada: Conjunto de regras que o falante domina e utiliza


na comunicação, de maneira que as frases e sequências das palavras são
compreensíveis e reconhecidas como pertencendo a uma língua e não é
ensinada de forma convencional. Para se provar a existência da gramática
internalizada, há dois fatores linguísticos: a aprendizagem por repetição,
ouve-se a fala de outrem e se reproduz o que ouviu, aplicando as “regras”,
que são observadas por comparações; outro fator é a hipercorreção
gramatical.

Fonte: acesse o link Disponível aqui

É relevante, ainda, ressaltar, que o uso das gramáticas é importante, mas apenas o
seu manuseio não fará de você “um senhor da verdade absoluta”:
É importante também ter a consciência de que “saber gramática” não
implica necessariamente em “falar bem” ou “escrever corretamente”.
Isso é só mais um dos muitos mitos que compõem o preconceito
linguístico tão vigoroso em nossa sociedade. Se o conhecimento da
gramática normativa garantisse o “escrever bem”, todos os professores
de língua seriam excelentes escritores, prosadores criativos... Isso não
acontece, não é? Os gramáticos, então seriam os maiores artistas da
língua! Ora, sabemos que não é bem assim. Aliás, muito pelo contrário:
a maioria dos gramáticos escrevem num estilo rebuscado, empolado,
pouco ágil, usando recursos retóricos antiquados, justamente porque
se apegam demais à tradição (Bagno, 2004, p. 160).

E você, já tinha ouvido falar nas outras formas de gramática?!


Fatos, dados e hipóteses na
análise linguística

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Quando se fala em análise linguística estamos nos referindo ao estudo da língua, ou
seja, estamos dizendo que determinada língua poderá ser analisada de vários níveis,
a saber:

Níveis de análise linguística


Fonética/ Fonologia: fonética estuda os sons produzidos pela fala e a fonologia
é o sistema sonoro de um idioma;
Morfologia: estudo da estrutura e formação das palavras;
Sintaxe: estuda a disposição das palavras nas frases;
Semântica: é o estudo dos signi cados

A partir dos conceitos de nidos dos níveis da análise linguística, ca mais fácil
entender como podemos fazer essa análise. Há, portanto, algumas maneiras de
analisar algo linguisticamente:

Através de enunciados da fala: se optarmos por analisar a fala é importante


observar o grupo de falantes que escolhermos, bem como suas características.
Lembre-se de que na análise linguística não há o certo e o errado, mas sim há
modos diferentes de se comunicar e se expressar, principalmente se nossa
análise for verbal/oral;
Através de textos escritos: já ao analisar os textos escritos é preciso car atento
ao gênero textual, as escolhas de vocabulário, o estilo da escrita, o contexto
situacional, bem como todos os fatores que possam interferir nessa análise.

Critérios para uma análise linguística


Antes de escolhermos, de fato, nosso corpus de análise, ou seja, nosso objeto de
estudo, é importante car atento aos critérios que nos norteará para o estudo.

Na unidade I deste material abordamos os conceitos estabelecidos entre senso


comum e ciência, até chegarmos à concepção de que a linguística é uma ciência
nova e viva.

Como tal precisa ser analisada de foram coerentes e para que as nossas análises
sejam compreendidas e e caz vamos dividir em três partes: fatos, dados e hipóteses:

Fatos

Podemos entender como fato tudo o que é verídico, ou seja, o que aconteceu no
nível real, o que não é inventado. Por isso, um dos critérios de análise linguística deve
se basear em fatos, e não estamos nos referindo somente a acontecimentos, mas
sim em algo concreto. Por exemplo, um diálogo é um fato, bem como um poema
também é. Desde que seja algo que exista, de fato, já pode entrar para nossa análise;
Dados:

Outro critério não menos importante é a dos dados. Quando temos informações
baseadas em dados e registros tudo ca ainda mais fácil de se analisar. Como toda e
qualquer ciência necessita de registros e dados, na linguística também é importante
que haja, ainda mais se sua análise se tratar de algum evento ou acontecimento
histórico;

Hipóteses:

As hipóteses são importantes para que possamos organizar nossa análise. O


levantamento de hipóteses é fundamental para que essas “perguntas” sejam
respondidas ao longo da análise. Toda pesquisa requer hipóteses, a nal, se há
perguntas sobre o assunto deverá haver respostas ou, ao menos, sugestões para que
haja soluções do que nos propomos a analisar.
Coleta de dados e a
construção do corpus de
análise

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Neste tópico vamos nos atentar a um exemplo prático de análise linguística. Antes,
porém, vamos apenas conceituar o que seria o nosso corpus de análise:

Corpus de análise: podemos dizer que são os materiais mais importantes e de fontes
con áveis para que o pesquisador fundamente seu texto, adequado, portanto, ao
que se pede no caráter cientí co. Logo, podemos entender que o corpus em
qualquer pesquisa é a parte fundamental, ou seja, o material selecionado para
análise efetiva do que nos propomos a fazer. Mas, na linguística há o que chamamos
de Linguística de corpus. Veja a de nição do Instituto Brasileiro de Pesquisa e
Análise de Dados (IBPAD):

Linguística de Corpus é a área da Linguística utilizada para coleta e


análise de bases com dados textuais produzidos por falantes reais, a
exemplo de discursos, debates em mídias digitais, textos históricos, e
outras formas de produção, como as transcrições de entrevistas para
análises posteriores. Em Linguística de Corpus, estas bases de dados
textuais são objetos de pesquisa chamadas de Corpus. Corpora é o
plural de corpus – conjunto de dados linguísticos pertencentes ao uso
oral ou escrito da língua e que podem ser processados por
computador. Contamos com suporte da tecnologia na Linguística de
Corpus para potencializar as análises, usando ferramentas como
concordanciadores, corpora online, programas de análise e
comparação, dentre outros. O entendimento deste método de
pesquisa tem sido cada vez mais observado com atenção no mercado,
assim como na academia, em pesquisas sociais, sociolinguísticas,
educacionais, etc., que utilizem as metodologias da Linguística de
Corpus para sustentar análises e resultados de suas respectivas áreas.
(IBPAD, 2018, online).

Portanto, o que de fato nos interessa aqui é o que a linguística de corpus nos propõe,
e para tal criamos um plano de aula que poderá ser adaptado de acordo com a
temática trabalhada em sala e a realidade da sua turma:
Quadro 2: Plano de Aula com Análise Linguística

PLANO DE AULA

Título da aula: Resenha crítica – Análise Linguística/Semiótica

Finalidade da aula: Identi car os recursos linguísticos que compõem o


gênero resenha crítica e incentivar a criticidade do aluno na produção do
gênero

Ano: 6º ano do ensino fundamental 2

Gênero: Resenha crítica

Objeto de conhecimento: Forma de composição do texto

Prática de linguagem: Análise Linguística/ Semiótica

Fonte: a autora

A análise linguística proposta aborda os critérios estabelecidos pela semiótica, esta


que é:

A semiótica provém da raiz grega ‘semeion’, que denota signo. Assim, desta mesma
fonte, temos ‘semeiotiké’, ‘a arte dos sinais’. Esta esfera do conhecimento existe há
um longo tempo, e revela as formas como o indivíduo dá signi cado a tudo que o
cerca. Ela é, portanto, a ciência que estuda os signos e todas as linguagens e
acontecimentos culturais como se fossem fenômenos produtores de signi cado,
neste sentido de ne a semiose. Ela lida com os conceitos, as ideias, estuda como
estes mecanismos de signi cação se processam natural e culturalmente. Ao
contrário da linguística, a semiótica não reduz suas pesquisas ao campo verbal,
expandindo-o para qualquer sistema de signos – Artes visuais, Música, Fotogra a,
Cinema, Moda, Gestos, Religião, entre outros. (SANTANA, 2018, online).

Portanto, nossa análise linguística baseada no plano de aula para uma turma de
sexto ano do ensino fundamental 2 deve ser aplicada buscando todos os contextos
que o texto, imagem, gesto ou qualquer que seja o objeto analisado, traz.

Primeira parte: reconhecer as características de uma resenha crítica, se preferir


anote em tópicos para facilitar o entendimento junto ao aluno;
Segunda parte: ler o texto que será analisado (ou, se for o caso, assistir ao vídeo ou
lme) mais de uma vez para que haja xação das informações. No caso do texto
escrito é fundamental destacar os pontos importantes, o que pode ser feito através
de canetas coloridas ou algo que chame a atenção para tais informações. Aqui é que
serão levantadas características quanto ao comportamento das personagens,
personalidades, gestos, cenários, cores, intenções, contextos, en m, tudo o que for
importante para relacionar as ações devem ser anotadas e/ou destacas;

Terceira parte: fechamento das ideias levantadas. Após realizar as anotações


importantes sobre o gênero resenha, bem como das informações relevantes do
objeto analisado, é hora de produzir. O professor será o mediador nessa construção,
o aluno deverá analisar as ideias apontadas na primeira parte e correlacionar com as
da segunda parte, para que assim seja construído o texto de acordo com as análises
linguísticas que foram apontadas.
Fatos e preconceitos
linguísticos

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Segundo o Professor Marcos Bagno (1999) o preconceito linguístico pode ser
de nido como todo juízo de valor negativo (de reprovação, de repulsa ou mesmo de
desrespeito) às variedades linguísticas de menor prestígio social.

Um país tão diversi cado como o Brasil possui, obviamente, uma enorme variação
linguística, seja ela regional ou até mesmo variações ligadas à religião.

Vamos conhecer alguns tipos de preconceitos linguísticos:

Preconceito socioeconômico

Um dos tipos de preconceitos linguísticos mais comuns, mas que não deveria existir
é o que está relacionado às pessoas de classes sociais mais pobres que, pelo seu
contexto de vida, não tiveram acesso à educação ou não tiveram chances de estudar
adequadamente. Seu conhecimento é limitado e sua forma de comunicação acaba
re etindo essa lacuna social, na prática, essas pessoas se tornam marginalizadas e
não conseguem ingressar em determinadas pro ssões com bons postos no
mercado de trabalho.

Preconceito regional

Assim como o preconceito socioeconômico, o regional também acarreta inúmeros


problemas na relação com o mercado de trabalho. Os indivíduos que residem em
regiões menos favorecidas acabam sendo marginalizados por aqueles que residem
em regiões de maior ascensão econômica do país.

Preconceito cultural

Outro tipo de demonstração medíocre do preconceito linguístico é através do


“julgamento” de determinados gêneros musicais ou grupos sociais considerados
marginalizados. Essa aversão acontece por parte da elite intelectual que normatiza o
que é e o que não é bom “culturalmente”. Estilos como o sertanejo e o rap sempre
foram alvo de preconceito por trazer marcas da oralidade e, muitas vezes, até com
gírias e jargões especí cos.

Racismo

Palavras de origem africana ainda trazem essa herança racista que há no Brasil.
Termos como “macumba”, por exemplo, é um instrumento musical utilizado em
cerimônias religiosas, mas no Brasil está ligada à magia negra, satanismo ou
feitiçaria. Prova viva de que há, sim, preconceito com alguns termos da cultura afro.

Fica evidente, portanto, que o preconceito linguístico acontece quando há


intolerância das mais variadas áreas, sejam elas sociais ou culturais, e esse costume
está enraizado no Brasil desde que algumas classes sociais julgavam os costumes de
outras como certas ou erradas.
Em tempos em que a diversidade é cultuada e as pessoas estão cada dia mais
confortáveis para se expor, não há como nós, estudantes da língua e amantes da
diversidade de possibilidades criar um critério de juízo ou de verdade absoluta para
o que deve ou não deve ser feito.

SAIBA MAIS
Leia o texto de Drummond e veja os exemplos de variações linguísticas
no âmbito histórico:

ANTIGAMENTE

Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas


mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam
primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões,
faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas cavam longos meses
debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da
chuva e ir pregar em outra freguesia. (...) Os mais idosos, depois da
janta, faziam o quilo, saindo para tomar fresca; e também tomavam
cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao
animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de altéia.
Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se
metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas; não admira
que dessem com os burros n’água. (...) Embora sem saber da missa a
metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com
isso metiam a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse
a tramontana. A pessoa cheia de melindres cava sentida com a
desfeita que lhe faziam, quando, por exemplo, insinuavam que seu lho
era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo
encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas,
não: verdadeiros cromos, umas tetéias. (...) Antigamente, os sobrados
tinham assombração, os meninos lombrigas, asthma os gatos, os
homens portavam ceroulas, botinas e capa-de-gato (...) não havia
fotógrafos, mas retratista, e os cristãos não morriam: descansavam. Mas
tudo isso era antigamente, isto é, outrora. "

Carlos Drummond de Andrade


REFLITA
“O papel característico da linguagem com relação ao pensamento não
é criar um meio fônico material para expressar ideias, mas servir como
um elo entre pensamento e som."

(Ferdinand de Saussure)
Conclusão - Unidade 3

Nesta unidade pudemos conhecer os tipos de gramáticas que temos à disposição sobre o estudo da língua.
Desde a normativa, que é a que mais conhecemos e estudamos na escola até mesmo as características da
histórica que analisa fatos e acontecimentos.

O conceito que temos de gramática é, na maioria das vezes, super cial e levamos em consideração somente o
que aprendemos na normativa. Consequentemente, esse ensinamento somente através da gramática
normativa nos leva a um grande equívoco, na maioria das vezes inconsciente, que é do preconceito linguístico.

Essa de nição de certo e errado que aprendemos na gramática normativa é transpassado para a oralidade e
camos cada vez mais presos a essas normais, deixando de lado o que a língua realmente é: VIVA! Diante disso,
é evidente que tais preconceitos linguísticos devem ser aniquilados do nosso cotidiano, passando a ser um
exercício diário o aprendizado de que a diversidade linguística existe e precisa ser respeitada.

Leitura complementar
A variação linguística e o preconceito linguístico no âmbito escolar

Samuel Santos

Joice Lima Santana

André Luiz Ferreira Santana

O trabalho com o ato comunicativo e, sobretudo, com variantes e variáveis na perspectiva da sociolinguística
busca amenizar essa problemática, que, intoleravelmente, está embutida na esfera social, uma vez que a
hegemonia da norma gramatical atrelada ao certo e errado é uma das grandes responsáveis por esse problema
social. Assim, a rma Bagno (1999):

O preconceito linguístico está ligado, em boa medida à confusão que foi criada, no curso de
história, entre língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer essa confusão.
Uma receita de bolo não é um bolo, o molde de um vestido não é um vestido, um mapa-múndi não
é o mundo...Também a gramática não é a língua. A língua é um enorme iceberg utuando no mar
do tempo, e a gramática normativa é a tentativa de descrever apenas uma parcela mais visível dele,
a chamada norma Culta. Essa descrição, é claro, tem seu valor e seus méritos , mas é parcial( no
sentido literal e gurado do termo) e não pode ser autoritariamente aplicada a todo resto da língua
– a nal, a ponta do iceberg que emerge representa apenas um quinto de do seu volume total. Mas
é essa aplicação autoritária, intolerante e repressiva que impera na ideologia gerada pelo
preconceito linguístico. (BAGNO, 1999, p. 9-10).

Notoriamente, a tônica do preconceito linguístico está alicerçada nas entranhas da gramática normativa, logo,
a ciência linguística busca uma diminuição nessa problemática, mas é perceptível grande resistência por parte
dos pro ssionais de língua portuguesa, que encaram a normatividade gramatical como a perfeição da
linguagem. Com esse fato, se concretiza o desmerecimento da diversidade linguística, que é plural na esfera
brasileira.

Disponível em:

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Unidade 4
Princípios de análise
linguística

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Introdução
Prezado(a) aluno(a), nesta unidade vamos conhecer algumas características das
regras das línguas e como analisar linguisticamente alguns termos. Os aspectos
formais e de conteúdo da língua analisados sob a perspectiva sintática e semântica
também são relevantes para uma boa análise de conteúdo.

Outro fator importante, é que nessa unidade veremos com mais detalhes as
características da Linguística Descritiva e como ela se opõe à gramática normativa,
mostrando que não há certo e errado nas construções comunicativas.

Os conceitos de palavras, lexemas e sintagmas também serão explanados sob a


teoria de Noam Chomsky e o sistema arbóreo que nos mostra a divisão
sintagmática.

Sujeito e predicado é o nosso assunto no último tópico, apresentando os tipos de


sujeito, bem como os tipos de predicado. Essas concepções são importantes para
que seja possível realizar a análise linguística de forma adequada e entender que
enquanto ciência, a Linguística é indispensável para o estudo da língua em seus
mais variados aspectos.
Princípios de análise:
regras das línguas e regras
linguísticas na descrição
dos fatos linguísticos

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Vimos até agora os conceitos e características da linguística enquanto ciência e de
como ela pode ser entendida sob vários pontos de análise e estudo da língua. Nesta
unidade vamos nalizar o assunto de forma mais prática, apontando alguns
conceitos, mas evidenciando também exemplos para que seja possível identi car a
maneira de se fazer uma análise linguística.

Para isso, dividimos a linguística em partes. A saber:

Linguística Geral: Como o próprio nome diz, é a área que estabelece os conceitos
gerais dessa ciência, ela estuda de maneira global as análises e foca nos primeiros
conceitos da temática. Como não poderia deixar de ser, Ferdinand de Saussure é o
principal nome da linguística geral e os conceitos que temos dela vieram dele a
partir da obra Curso de Linguística Geral”. Nesse livro Saussure nos traz os conceitos
de: língua, fala, signo linguístico, signi cante, signi cado, sintagma, sincronia e
diacronia. Essa é a base de todo o conhecimento que temos sobre a ciência.

Linguística Aplicada: Aqui nessa categoria da linguística ela se preocupa mais com
as traduções dos textos e com os problemas que possam surgir no que diz respeito
ao ensino de línguas de modo geral.

Linguística Sincrônica: É aquela também chamada de linguística descritiva (e


vamos vê-la com mais profundidade nos próximos tópicos), aqui observa-se as falas
e as analisa ao mesmo tempo.

Linguística Diacrônica: Pode ser encontrada também como linguística histórica, a


análise aqui é feita através das manifestações linguísticas que são recolhidas ao
longo do tempo e através dos fatos.

Linguística Textual: Como o próprio nome sugere, ela contempla as análises dos
textos com o foco no processo comunicativo que há entre o escritor e o leitor do
texto. Aqui nesse tipo de análise linguística é evidenciado aspectos de coesão
textual, como intertextualidade, contexto e informações.
Língua e signi cação:
Aspectos formais e de
conteúdo (sintaxe e
semântica)

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Quando passamos a estudar a língua em seus vários aspectos tomamos
conhecimento das várias formas que esta pode se apresentar, ou até mesmo ser
analisada. Vamos entender aqui como essa divisão do estudo da língua acontece:

Quadro 1: Divisão do Estudo da Língua

Divisão do Estudo da Língua

Fonética: na parte da fonética podemos conhecer o conceito de fonema,


aparelho fonador e classi cação dos fonemas. Aqui também estudamos os
encontros vocálicos (ditongo, tritongo e hiato) e consonantais (perfeitos e
imperfeitos), etc.

Morfologia: é parte da língua que se atenta a estudar os morfemas e


estrutura das palavras (raiz, radical, tema, a xos, desinência, vogais
temáticas) e traz as características das classes gramaticais (substantivo,
artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo, advérbio, conjunção, preposição,
interjeição).

Sintaxe: é a porção da língua que estuda a maneira com que se organizam e


relacionam as palavras em uma oração. Temos aqui os termos essenciais
(sujeito, predicado, tipos de sujeito, classi cação dos verbos [VTD, VTI, VTDI]
entre outras características.)

Semântica: é a parte da língua que se atém ao estudo dos signi cados, ou


seja, os sentidos que elas podem se apropriar de acordo com o contexto que
estão inseridas (sinônimos, antônimos, parônimos, denotação e conotação,
etc.).

Fonte: a autora
Análise linguística e suas
ferramentas de análise na
linguística descritiva

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
A gramática descritiva é diferente da que conhecemos da gramática normativa por
se preocupar mais com questões de interpretação do que com regras e normas e o
que é “certo e errado”.

É o estudo do mecanismo pelo qual uma dada língua funciona, como


meio de comunicação entre seus falantes. Diferente da Gramática
Normativa que analisa as regras da língua, a Gramática Descritiva
estuda a língua escrita e falada, independente da formalidade. A
Gramática Descritiva nada mais é do que a descrição da estrutura e
funcionamento da língua, desde sua forma e função até estabelecer
suas regras de uso, ou seja, o que é gramatical e o que não é
gramatical. (MATTOSO, 2004, p. 11).

Ela se divide em formal e semântica:

Descrição formal: que é aquela que apresenta a morfologia, fonologia e a sintaxe da


língua;

Descrição semântica: regras de interpretação semântica e a relação entre a língua


e o mundo extralinguístico. Mostra ainda o léxico, que é o estudo das classes de
palavras (que na gramática normativa seria a morfologia, mas aqui é diferente).

A sintaxe estuda a formação interna das frases e os fatos sintáticos:

1) Posição linear: é a posição que uma unidade ocupa dentro de uma frase em
relação às outras unidades.
Exemplo:
João entregou o relatório atrasado para seu chefe.
João entregou o relatório para seu chefe atrasado .
Essa mudança de posição traz também mudança de sentido, e é isso que a posição
linear estuda.

2) Correspondência: é a propriedade que demonstra uma a nidade formal entre


frases e palavras.
Aqui vamos encontrar grupos de correspondências, e um deles é o topicalizado. Que
é quando o tópico é o assunto principal dentro de uma mensagem. Veja o exemplo:
A mãe levou o lho ao cinema hoje .
Hoje , a mãe levou o lho ao cinema.

A evidência dada na palavra “hoje” faz dele o tópico principal e destacado, ou seja,
ele está topicalizado, evidenciado, e sempre haverá um motivo para essa ênfase. Na
prática, a GD (gramática descritiva) analisa de forma mais abrangente os elementos
da mensagem. Veja:
Quadro 2: exemplo de análise descritiva

Lucas consertou o computador

sintático Sujeito objeto direto

semântico Agente paciente

Fonte: a autora

A gramática descritiva é importante para a análise mais prática da linguagem, mas


apesar de ser uma boa ferramenta para desenvolver capacidades interpretativas, é
importante que se faça uma transposição didática caso deseje fazer o uso da GD no
ensino fundamental ou médio.
Palavras, lexemas e
sintagmas

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Para a linguística a de nição de alguns conceitos são extremamente importantes
para que seja possível fazer uma análise mais detalhada, portanto temos:

Palavra: para a linguística o conceito de palavra se encontra sob os critérios:


semântico, fonológico e sintático

Semântica: signi cado

Fonológico: sons

Sintático: combinação

Lexema: unidade mínima de natureza não gramatical, ou seja, são palavras que
recebem su xos exivos e pertencem à mesma classe gramatical. Exemplo:

Cantor, Cantora, Cantores, Cantoras fazem parte do mesmo lexema, pois são de
mesma classe (verbos) e se diferem apenas por su xos

Sintagma: para a gramática tradicional, a sintaxe é a parte que estuda os vocábulos


classi cando-os em sujeito, predicado, objeto (direto e indireto), complemento
nominal, aposto, vocativo, adjunto adnominal, adverbial, entre outros. Se
analisarmos os mesmos aspectos sob a ótica da Linguística, vamos encontrar a
Gramática Sintagmática, que tem como objetivo estudar tais características de
forma mais simples

Vale lembrar que a características do sintagma depende do seu núcleo, portanto


temos o sintagma nominal, quando o núcleo for um nome; sintagma verbal, quando
o núcleo for um verbo; sintagma adjetival, quando o núcleo for um adjetivo.

Mas há ainda aqueles chamados de sintagmas preposicionados, geralmente


constituídos de uma preposição + um sintagma nominal. Uma das teorias da
Linguística é a de Avram Noam Chomsky (1965), um professor e lósofo
estadunidense, chamada de “diagrama arbóreo", nesse sistema os sintagmas
aparecem da seguinte maneira:

* Sintagma nominal (SN);

* Sintagma adjetival (SA);

* Sintagma verbal (SV);

* Sintagma preposicional (SP);

* Nome (N);

* Pronome (pro);

* Determinante (Det);
* Modi cador nominal (MOD)

* Oração (O)

Figura 1: sistema arbóreo

SN SV

Det N MOD V

SA

Adj.

Os estudantes brasileiros morreram

Fonte: acesse o link Disponível aqui

O sistema arbóreo, como cou conhecido, é utilizado para uma análise mais
profunda das frases e orações. Ele determina de forma mais detalhada a
classi cação de cada um dos elementos dispostos nos termos.
Funções e categorias
gramaticais: a importância
do processo de
classi cação

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Sabe-se que a Gramática normativa segue as regras da NGB - Nomenclatura
Gramatical Brasileira – de nindo as classes gramaticais em 10 partes. Sendo:

Variáveis: que variam em gênero e número:

1. Substantivo
2. Verbo
3. Adjetivo
4. Pronome
5. Artigo
6. Numeral

Palavras invariáveis: que não variam:

1. Preposição
2. Conjunção
3. Interjeição
4. Advérbio

Já a linguística ou as demais gramáticas tratam dessa divisão de maneira um tanto


equivocada, dividindo em classe e função:

Se o vocábulo apresenta forma, função e sentido, é lógico que os critérios mór cos,
sintáticos e semânticos se con itam nessa tentativa de classi cação. Contudo, não
se pode confundir classe com função, como é o caso da NGB. O nome, o pronome e
o verbo são classes. O substantivo, adjetivo e advérbio são funções. As classes são
estudadas na morfologia. As funções são estudadas na sintaxe. A diferença entre
classe e função, linguisticamente falando, é que a “classe” é identi cada por critérios
mór cos e semânticos; a “função” possui natureza estritamente sintática e varia de
acordo com o contexto. (SANTOS, 2018, online).

Logo, o que chamamos de nome não se trata apenas do substantivo, mas também
das funções básicas como o adjetivo ou o advérbio, e além dessa divisão, toda
palavra será:

Um nome: se a representação for estática, sem variações temporais.


Um verbo: se sofrer variações temporais, ou seja, se expressar uma
representação dinâmica ou indicar um processo da realidade, ou
Um pronome: se apenas situar uma representação no espaço/tempo.

Funções semânticas, léxico e gramática


As Figuras de Linguagem são responsáveis pela construção de sentido (semântica)
na hora da escolha do vocabulário e do contexto, são elas também as responsáveis
pela linguagem conotativa, ou seja, aquela que não é representada no seu sentido
real, mas sim no seu sentido gurado e contextualizado.

Já a denotação é a linguagem real e literal, costuma-se dizer que é a linguagem dos


dicionários, é a palavra no seu real signi cado, enquanto a conotação é o “querer
dizer” algo de maneira diferente. As guras de linguagem se subdividem em três
tipos: guras de palavras, guras de sintaxe (ou de construção) e guras de
pensamento.

Figuras de palavras

Metáfora: transferência de signi cados: A Amazônia é o pulmão do mundo;


Comparação: bem parecido com a metáfora, mas a diferença é que sempre vai
existir um comparativo expresso pelo “como, tal qual”: Você é alto como o seu
pai era.
Metonímia: uso de uma palavra pela outra: Eu amo ler Machado de Assis.
Sinestesia: mistura dos sentidos: Sua voz é doce e aveludada.

Figuras de Sintaxe (ou de construção)

Zeugma: uma palavra que foi omitida para evitar a repetição. Eu adoro calor, e
você frio.
Polissíndeto: repetição intencional de um conectivo: Eu amo ler, e escrever, e
cantar, e correr.
Anáfora: repetição intencional de uma palavra ou termo no início da frase:
Todos os dias ela vai ao mercado, todos os dias ela sai com seu cachorro, todos
os dias ela tenta viver um novo dia.
Pleonasmo: emprego redundante das palavras: Cheguei em casa e havia uma
surpresa inesperada.

Figuras de Pensamento

Antítese: palavras opostas na mesma construção: Ela estava entre a vida e a


morte.
Paradoxo: ideias opostas na mesma construção: Estou sonhando acordado
com o dia da minha formatura.
Eufemismo: amenizar uma notícia triste: Ele partiu para junto de Deus.
Ironia: quando se diz algo querendo dizer o oposto: eu achei linda roupa,
amiga.
Hipérbole: exagero exacerbado: Eu morri de tanto comer naquele rodízio.
Personi cação: dar vida a seres inanimados: O mar está calmo hoje.
Gradação: sentido de sequência de acontecimentos: O sentimento foi
mudando, diminuindo, desaparecendo

Já o conceito que temos de gramática pode ser entendido como:

Gramática Normativa: Utilizada em sala de aula, ela busca a padronização da


língua, indicando através de suas regras como devemos falar e escrever
corretamente. Sua abordagem privilegia a prescrição de regras que devem ser
seguidas, desconsiderando os fatores sociais, culturais e históricos aos quais
estão sujeitos os falantes da língua.
Gramática Descritiva: Analisa um conjunto de regras que são seguidas,
considerando as variações linguísticas da língua ao investigar seus fatos,
extrapolando os conceitos que de nem o que é certo e errado em nosso
sistema linguístico.
Gramática Histórica: Investiga a origem e a evolução de uma língua,
representando os estudos diacrônicos.
Gramática Comparativa: Estabelece comparação da língua com outras línguas
de uma mesma família. No caso de nossa língua portuguesa, as análises
comparativas são feitas com as línguas românicas.
Gramática internalizada: Conjunto de regras que o falante domina e utiliza na
comunicação, de maneira que as frases e sequências das palavras são
compreensíveis e reconhecidas como pertencendo a uma língua e não é
ensinada de forma convencional. Para se provar a existência da gramática
internalizada, há dois fatores linguísticos: a aprendizagem por repetição, ouve-
se a fala de outrem e se reproduz o que ouviu, aplicando as “regras”, que são
observadas por comparações; outro fator é a hipercorreção gramatical.

E o léxico nada mais é do que o conjunto de palavras de uma determinada língua,


que estão explanados em ordem alfabética e possui signi cações. Te parece
familiar? Talvez sim, a nal estamos falando do dicionário. Ele é o melhor exemplo do
que seria um léxico, um livro com as palavras da língua e suas signi cações.
Construções gramaticais:
sujeito-predicado

AUTORIA
Lucimari de Campos Monteiro
Quando estudamos os termos essenciais da oração na sintaxe, o primeiro conceito
que nos vem à mente é o Sujeito e Predicado. Eles podem se dividir:

Sujeito:

Determinado: quando ele é percebido na oração e se subdividem em:

Sujeito simples: possui só um núcleo;


Sujeito composto: possui mais do que um núcleo;
Sujeito oculto: é identi cado pela desinência verbal (terminação);
Sujeito indeterminado: quando não dá pra saber quem fez a ação;
Sujeito inexistente: não existe, normalmente, fenômenos da natureza.

Indeterminado: quando não é identi cado;

Inexistente: quando as orações possuem verbos impessoais.

Predicados:

Verbal: quando o verbo indica ação;

Nominal: quando o verbo indica estado;

Verbo-Nominal: quando o verbo indica ação e estado ao mesmo tempo.


SAIBA MAIS
Curiosidades Linguísticas - O su xo de nossa nacionalidade

O su xo da nossa nacionalidade, "brasileiros", foge a qualquer padrão


que indique país de procedência. "-Es" (japonês, francês, polonês) e "-
ano" (italiano, americano, colombiano), são os su xos mais comuns na
língua portuguesa, e -eiro, exceto no caso de "brasileiro", é um su xo
formador de substantivos relativos à pro ssão (bombeiro, pedreiro), e
não de adjetivo referentes à origem ou nacionalidade. Segundo Márcio
Pimenta, os primeiros brasileiros sequer haviam nascido no Brasil. Eram
portugueses que levavam o pau-brasil daqui para Portugal, um ofício,
portanto. Com o tempo, a palavra passou a designar todos aqueles que
daqui provinham, e depois os que aqui nasciam. Interessante, não?

ACESSAR

REFLITA
"A linguagem é um sistema de sinais que expressam ideias."

(Ferdinand de Saussure)
Conclusão - Unidade 4

Nesta unidade pudemos conhecer um pouco mais sobre as características das regras
das línguas e como analisar linguisticamente alguns termos. Vimos ainda os aspectos
formais e de conteúdo da língua analisados sob a perspectiva sintática e semântica.
Foi possível também identi car as características da Linguística Descritiva e como ela
se opõe à gramática normativa, mostrando que não há certo e errado nas
construções comunicativas.

Os conceitos de palavras, lexemas e sintagmas também foram apontados,


principalmente sob a teoria de Noam Chomsky e o sistema arbóreo que nos mostra a
divisão sintagmática.

O conceito de sujeito e predicado também foi estabelecido, mostrando os tipos de


sujeito, bem como os tipos de predicado. Essas concepções são importantes para que
seja possível realizar a análise linguística de forma adequada e entender que
enquanto ciência, a Linguística é indispensável para o estudo da língua em seus mais
variados aspectos.
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Considerações Finais

Prezado(a) aluno(a),

Neste material, busquei trazer para você as de nições de Linguística baseada na


teoria de Ferdinand de Saussure, um dos principais linguistas e estudiosos da língua
que já existiu.

Os conceitos estabelecidos por ele foram essenciais para que se pudesse estudam a
língua sob uma perspectiva mais profunda e não apenas baseada na escrita e em
todo o formalismo que até então havia estabelecido.

Fato é que Saussure deixou um importante legado conceitual para que os estudos
fossem ainda mais aprimorados nos anos e décadas posteriores.

A linguística é uma ciência viva que estuda a língua em suas mais variadas
vertentes, e mesmo que haja descobertas recentes e maneiras distintas de aplicá-la,
ca evidente que não há uma norma fechada e uma verdade absoluta quando se
trata do estudo de algo que é social.

Foram tecidas também considerações sobre os tipos de gramáticas, evidenciando


os quesitos da gramática descritiva e sua oposição à normativa, o que faz do estudo
da língua um aspecto ainda mais completo.

Espero que as dúvidas tenham sido sanadas e que todas as informações tenham
chegado até você de maneira didática e possível de compreensão.

A partir de agora acreditamos que você já está preparado para seguir em frente e
aplicar a gramática de forma e ciente e real, que é o que podemos chamar de
semantização da gramática na prática.

Até uma próxima oportunidade. Muito Obrigada!

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