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E. E. PROFª.

MAGDALENA SANSEVERINO GROSSO

Maxwel Pereira do Prado

A vida e seus mistérios

Artur Nogueira

2022
Maxwel Pereira do Prado

A vida e seus mistérios

Apresentação: Trabalho de pesquisa apresentado a disciplina de


ciências como requisito de nota bimestral

Professora: Auri Silva Guerrero


Índice/Sumário:
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................1

2. ORIGENS DA VIDA NA TERRA.............................................................................2

2.1. OBJETIVO E METODOLOGIA.............................................................................5

2.2. RESULTADOS E DISCUSSÃO...........................................................................6

3. CARACTERIZANDO O SER VIVO........................................................................10

3.1 O QUE É VIDA.....................................................................................................11

3.2 EVOLUÇÃO E VIDA.............................................................................................14

3.3 A ÁRVORE UNIVERSAL DA VIDA......................................................................15

3.4 O PROGENOTA...................................................................................................17

3.5 A QUÍMICA PRE-BIOTICA...................................................................................19

3.6 A ORIGEM DO CÓDIGO GENÉTICO..................................................................21

3.7 QUANDO OCORREU A VIDA..............................................................................22

4. POSSIBILIDADE DE VIDA FORA DA TERRA.......................................................25

4.1 O QUE PODEMOS ACHAR.................................................................................29

5. CONDIÇÕES PARA A EXISTÊNCIA.....................................................................31

6. VIDA HUMANA FORA DA TERRA........................................................................31

7. CONCLUSÃO........................................................................................................32

8. BIBLIOGRAFIA......................................................................................................33
1

1. INTRODUÇÃO

Os textos a seguir abordaram os mistérios a cerca da vida e sua origem. A vida


veio do espaço? Existe vida no espaço? O que define um ser vivo? Todas essas
perguntas serão respondidas no trabalho a seguir!
2

2. ORIGENS DA VIDA NA TERRA:

Os estudos sobre origem da vida constituem um campo de investigação


científica e um tema de ensino escolar, transmitido na universidade e em escolas de
nível fundamental e médio. Um problema que habitualmente atinge o ensino dessa
disciplina é a notória pluralidade de teorias e abordagens com que se defronta
qualquer um que examine o assunto, a sua transdisciplinaridade, e a falta de
capacitação dos professores para o ensino deste assunto. Apesar dessa dificuldade,
convém esclarecer que, em certa medida, essa pluralidade de abordagens repousa
sobre um fundo comum, ou consensual, de pressupostos básicos, acatado pelos
cientistas interessados nas ciências biológicas. São elementos dessa visão em
comum neste campo do conhecimento científico: (1) a possibilidade de existência de
vida em diferentes pontos do universo, uma vez que moléculas orgânicas simples não
parecem ser exclusividade do planeta Terra; (2) a hipótese de que a evolução química
teria sua base na conjunção de uma série de eventos abiogenéticos, que teriam dado
origem às primeiras moléculas orgânicas simples e, nesse contexto, (3) a formação
de grande quantidade de moléculas orgânicas simples e dos primeiros polímeros pode
ter tido mais de uma origem em função dos intensos bombardeios de radiação que a
Terra sofria (VIEYRA e SOUZA-BARROS, 2000; ZAIA,2003; PERETÓ, 2005;
DAMINELI e DAMINELI, 2007).

Além desses enunciados básicos, o consenso tende a abranger também a


definição de pontos críticos de investigação experimental e teorização. Exemplo típico
é o da tentativa de entender como foi possível estabelecer-se o tipo de relação que
existe, nos seres vivos que conhecemos, entre o metabolismo celular e os sistemas
informacionais baseados em ácidos nucléicos; este problema inclui também a relação
entre diferentes tipos de ácidos nucléicos (RNA e DNA). Porém, conforme
argumentamos anteriormente, desse pano de fundo comum emergem orientações de
pesquisa extremamente diversas e, frequentemente, conflitantes (VI-EYRA e SOUZA-
BARROS, 2000; ZAIA, 2003; PERETÓ, 2005; DAMINELI e DAMINELI, 2007).

Há um outro aspecto do problema, referente ao tipo de conhecimento científico


que está em jogo nos estudos sobre origem da vida. Aqui é importante estabelecer
uma distinção entre (a) ciência em condições de encerramento (fechamento) e (b)
ciência em condições abertas (BHASKAR, 1975)2. No primeiro caso, o objeto da
3

investigação científica consiste de entidades e estruturas básicas do mundo físico (e


que são diferentes em diferentes ciências da natureza, como a química, a biologia
etc.); o cientista pode isolar esses objetos de investigação – e essa seria a função dos
experimentos de laboratório – de interferências externas, de modo a determinar o
modo como entidades básicas influenciam ou originam processos e eventos no mundo
real. No segundo caso, estudam-se estruturas que estão além do controle
experimental, mas cuja explicação depende do conhecimento adequado de uma série
de estruturas e processos, em geral elucidados pela ciência em condições de
fechamento. Em princípio, essa distinção não é típica de disciplinas científicas inteiras;
é de se esperar que, em cada campo do saber, estudos dos dois tipos serão possíveis
e/ou necessários. No entanto, é seguro afirmar que, nas ciências da vida, a condição
aberta será encontrada no estudo de estruturas de grande alcance geográfico, como
na Ecologia, ainda mais quando acrescentamos uma dimensão temporal de longo
prazo, como na Biologia Evolutiva.

Não é difícil concluir que a ciência em condições abertas impõe exigências


especiais aos seus praticantes e estudantes, como, por exemplo, uma particular
flexibilidade de julgamento e uma especial capacidade de integrar conhecimentos de
tipos muito diferentes. Além disso, a ênfase na “previsão” dificilmente pode ser aí
decisiva (ela não é excluída, mas ganha preeminência a ideia de que o mais
fundamental na ciência é tornar algo inteligível, não fazer previsões). Devemos admitir
que filósofos da ciência influenciados pela tradição empirista provavelmente
questionariam esta interpretação. Conquanto exista aí um ponto importante de debate
teórico, gostaríamos de chamar a atenção para a ocorrência, nos meios em que se
exerce a atividade e a educação científicas, de uma discussão recorrente sobre: (a)
“ciência aplicada” e “ciência pura” e (b) relação entre “modelo” e “realidade”; ora, a
abordagem realista que acolhemos no presente trabalho tem justamente a virtude de
mapear a origem de tais debates na própria natureza fundamental do empreendimento
científico.

Pode-se, então, sugerir que a investigação e a aprendizagem do assunto


“origem da vida” trazem exatamente essas exigências epistemológicas e de formação;
e, também, que se as confundirmos com aquelas adequadas às condições de
fechamento, o nosso tema de ensino será abordado de maneira distorcida (por mais
diversas que sejam as informações a que os estudantes de graduação em geral têm
4

acesso), uma vez que não serão apresentados fundamentais elementos para a
compreensão do fenômeno (origem da vida) estudado3.

Com este breve sumário, apresentamos um dos aspectos que cercam a


temática do trabalho, aqui relatado, referente à riqueza de conteúdos do tema “origem
da vida” como um desafio ao ensino de ciências ao nível médio de escolaridade e em
cursos de formação de professores de ciências naturais.

Como nossa pesquisa tem o ensino da origem da vida como foco, julgamos ser
necessária a inclusão, em nossa discussão, de resultados de análise de livros
didáticos4 do Ensino Médio. Nestes livros, os conceitos são apresentados, mas não
aparecem as divergências e os problemas que estes conceitos ainda apresentam. Na
realidade, eles não captam a diversidadede ideias no campo de pesquisa em questão.
É interessante notar que uma situação semelhante foi detectada no caso dos estudos
sobre o conceito de ser vivo, ou definição de vida. Kawasaki e El-Hani (2002)
analisaram as definições de vida encontradas em livros didáticos do Ensino Médio5 e
constataram que nenhum deles apresentou ideias que demonstram as divergências
no meio científico. Preocupados com os textos escolares que chegam às salas de
aulas, Bizzo e Molina (2004) abordaram distorções de conceitos centrais do
darwinismo. Na perspectiva desses resultados, não é difícil concluir que questões tais
como ‘origem da vida’, ‘definição de vida’, ‘evolução e darwinismo’ são relevantes para
a formação científica, humana e social, e merecem, por isso mesmo, especial atenção
nos contextos educacionais.

Considerando as características científicas de conteúdo do tema em questão,


os resultados da análise de livros didáticos e as exigências oficiais do ensino do
assunto origem da vida nos Ensinos Fundamental e Médio6 (BRASIL, 2006), buscou-
se, na pesquisa aqui relatada, investigar as concepções de origem da vida de
licenciandos – futuros professores de ciências e biologia – de um importante curso de
graduação de uma universidade federal do Rio de Janeiro. Duas justificativas
sustentaram tal decisão: o tema origem da vida está previsto nos currículos escolares
tanto do Ensino Fundamental quanto de Ensino Médio; e a observação7 de que o
tema origem da vida é objeto, com alguma frequência, de relatos de dificuldades de
ensino. Com base nos resultados, tentaremos compreender, identificar e melhor
caracterizar dificuldades e possibilidades para a melhoria do ensino de “origem da
vida”.
5

2.1 Objetivo e Metodologia

Considerando o exposto na introdução, partimos do pressuposto de que,


possivelmente, seriam diversificados os conteúdos explicativos do tema origem da
vida entre os licenciados. Para distinguir os elementos básicos da diversidade de
explicações, optamos por fazer uso do conceito de representação social e da
metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).

O conceito de representação social “toma como ponto de partida, a diversidade


dos indivíduos, atitudes e fenômenos, em toda sua estranheza e imprevisibilidade.
Seu objetivo é descobrir como os indivíduos e grupos podem construir um mundo
estável, previsível, a partir de tal diversidade” (MOSCOVICI, 2003, p. 79).

A representação social dos sujeitos foi identificada e analisada de forma


qualitativa, a partir da metodologia do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) (LEFÈVRE
e LEFÈVRE, 2003). Esta metodologia baseia-se na ideia de que indivíduos de um
mesmo grupo possuem discursos semelhantes em relação a objetos comuns (temas
ou questões de interesse comum), uma vez que interagem socialmente vinculados a
tais objetos. Sistemas de crenças, valores e ações em um contexto social típico podem
ser identificados em relação a tais objetos – a isto também podemos chamar de
representação social. A metodologia do DSC, por meio de passos metodicamente
estabelecidos, pretende identificar representações sociais.

Para entender a ideia do DSC, é preciso estar claro que o discurso é a fala do
grupo no qual o sujeito se encontra. A justificativa, nas próprias palavras dos autores,
é que “quando uma pessoa ou uma coletividade tem um pensamento sobre um dado
tema, está-se dizendo que ela professa, ou adota, ou usa um ou vários discursos
sobre o tema” (LEFÈVRE e LE-FÈVRE, 2003, p. 14). O conjunto desses discursos é
a representação social do tema em questão. O DSC é o conjunto de tais discursos,
ou seja, é a representação social do tema, ou objeto, pesquisado. Para que os
discursos sejam identificados, são destacadas as expressões chave (ECH) de cada
resposta (ou depoimento) dos sujeitos investigados. Conjuntos de expressões-chaves
semelhantes são reorganizados em torno de uma ideia-central (IC), que sintetiza o
sentido básico de tais expressões. As ECH em conjunto formarão um discurso-síntese
sobre o tema em questão, e a IC nomeará este discurso. Ademais, é possível
encontrar-se uma ou mais IC e, portanto, um ou mais discursos-síntese, no grupo
6

estudado. Estes discurso síntese reconstroem, “com pedaços de discursos


individuais, como em um quebra-cabeça, tantos discursos-síntese quanto se julgue
necessários para expressar uma dada “figura”, ou seja, um dado pensar ou
representação social sobre um fenômeno” (LEFÈVRE e LEFÈVRE, 2003, p. 19).
Esses passos foram seguidos para a identificação da representação social do grupo
de licenciados em relação ao tema proposto: origem da vida.

A investigação dos conteúdos que cercariam o tema origem da vida entre


licenciados – explicações, valores, imagens – fez uso de um questionário estruturado,
mas sem comprometer a expressão livre dos sujeitos da pesquisa que também
garantiu o seu anonimato. O questionário foi aplicado a 39 licenciandos e permitiu,
além da obtenção de respostas em relação à origem da vida, a obtenção de dados
que caracterizaram o perfil das crenças religiosas do grupo. Demos destaque a esse
aspecto do pensamento dos sujeitos porque, por um lado, os religiosos e as
instituições religiosas não são indiferentes ao tema origem da vida. Por outro lado, as
ideias religiosas devem ser levadas em conta na caracterização do mundo cultural
dos sujeitos.

Para a caracterização da representação social sobre o tema origem da vida foi


feita a pergunta: como o licenciando explicava o surgimento do primeiro ser vivo na
Terra?

Para a caracterização das crenças religiosas, foram elaboradas perguntas


sobre o licenciando possuir ou não uma religião e, em caso afirmativo, qual seria esta;
se o licenciando, no caso de possuir alguma religião, frequentava algum culto religioso
e com que frequência; e se acreditava em Deus. Consideramos importante incluir
questões a este respeito, pois o tema origem da vida apresenta formulações religiosas
e estas poderiam ser usadas pelos licenciados na resposta à questão central deste
trabalho, o que auxiliaria o trabalho da interpretação dos resultados.

2.2 Resultados e discussão

O grupo investigado foi o de estudantes da licenciatura em Ciências Biológicas


de uma universidade pública localizada no Rio de Janeiro. Esta universidade é
7

reconhecida no Brasil por suas qualidades de ensino e pesquisa e tais características


referem-se também à unidade que oferece a formação de biólogos e licenciatura em
Ciências Biológicas, aliando um conjunto de disciplinas teóricas e atuação na
pesquisa.

Este curso está estruturado a partir dos temas principais da Biologia. Em


consulta realizada na página do curso de Ciência Biológicas dessa universidade é
possível perceber que o tema origem da vida não está previsto na ementa de nenhuma
disciplina, obrigatória ou eletiva, do ciclo básico ou nos desdobramentos curriculares
das seis modalidades possíveis de se cursar.

A pergunta central deste trabalho – Como você explica o surgimento da vida na


Terra pela primeira vez? – permitiu a identificação e caracterização de uma
representação social que inclui a presença de três ideias centrais: (1) Origem no Big
Bang; (2) Criação divina; e (3) Evolução química. O discurso Origem no Big Bang
incluiu as expressões-chave relacionadas à origem do universo através de uma
explosão inicial. O discurso Criação divina apresentou Deus como controlador dos
eventos que originaram a Terra e o primeiro ser vivo. O discurso Evolução química
incluiu as expressões-chave relacionadas a sequências de eventos que teriam
ocorrido sob a influência da atmosfera primitiva; incluem-se aí desde interações entre
moléculas inorgânicas até a formação do primeiro ser vivo. Cada licenciando só
apresentou uma ideia central em sua resposta, que foi religiosa ou científica. O Quadro
I apresenta os três DSC.

No discurso Origem no Big Bang não há nenhuma referência em relação à


origem da Terra e nem explicita o surgimento da vida na mesma; confunde a origem
da vida com a origem do universo, reunindo dados e informações sobre eventos que
teriam ocorrido em momentos e formas distintos. Esse discurso mostra indícios de
dificuldades básicas no campo das explicações científicas do tema.

O discurso Criação divina8 expressa a concepção religiosa da origem da vida.


Embora a maioria dos licenciandos possua crenças religiosas, ligadas ou não a uma
religião9, este discurso se mostrou de fraca adesão no grupo10, prevaleceu a
ancoragem científica. Ainda assim, merece atenção porque ele se manifestou sem
mostrar que há uma distinção entre o discurso científico e o religioso, ou seja, há
indícios de conflito entre um e outro.
8

O discurso Evolução química recorre às explicações derivadas do consenso


científico mínimo, já discutidas anteriormente; mas, ao desenvolverem o tema, os
licenciandos limitam-se a um sistema conceitual muito restrito. Por exemplo, as atuais
formulações sobre o assunto admitem que, na Terra, a origem das primeiras
moléculas orgânicas simples pode não ter sido única, uma vez que ocorreram diversas
catástrofes no momento da formação da mesma ou, mesmo, que a origem de
moléculas orgânicas pode ter acontecido em outras partes do universo. Por isso, não
se pode afirmar que a evolução química tenha acontecido apenas uma vez. Já os
licenciandos explicam-na como uma sucessão de eventos, com apenas um ponto de
partida, como pode ser visto no seguinte fragmento de discurso:

“A vida surge espontaneamente em qualquer parte do universo através do aumento da


complexidade de estruturas não vivas e a combinação de diversos fatores e eventos químicos, físicos
e biológicos, que juntos com as condições ambientais propícias originou a vida. A sucessão de eventos
complementares, como o de substâncias químicas se combinaram e começaram a se organizar e criar
complexidade”.

O não reconhecimento de certa diversidade de possibilidades para o processo


de origem da vida nos dá um primeiro indício de que o discurso dos licenciandos
enquadra a teoria em uma descrição típica de explicações científicas sob condições
de fechamento. Sob tais condições é que o cientista costuma observar uma
regularidade invariável de eventos e certa simplicidade nas relações de causa e efeito.
Ao mesmo tempo, a coerência interna do discurso coletivo levanta o problema da fonte
(ou das fontes) dessa narrativa coerente, embora simplificada demais.

É preciso observar também que o discurso dos licenciandos não põe a devida
ênfase sobre processos-chave. Nos seres vivos que conhecemos, a replicação de
moléculas portadoras de informações genéticas é uma característica universal. Isto
leva ao pressuposto de que, durante o processo de origem da vida, houve uma etapa
decisiva caracterizada pelo estabelecimento de uma relação de dependência mútua
entre ácidos nucléicos e proteínas (estruturais ou enzimáticas). Vale a pena ressaltar
que os alunos não deram destaque a esta questão e, também, que ela não está
presente nos livros didáticos. Mas, para a comunidade científica, ela é uma questão
decisiva, ou seja, entender como os ácidos nucléicos passaram a desempenhar as
9

funções que possuem hoje é tema primordial para o estabelecimento da teoria de


origem da vida (PERETÓ, 2005).

O discurso Evolução química também evidenciou sérias deficiências quanto ao


conteúdo efetivo dos conhecimentos dos licenciandos. Observe-se, por exemplo, a
referência às chuvas como fator de resfriamento do planeta Terra, explicação inepta
e que deixa de lado qualquer consideração sobre o processo espontâneo de perda de
calor pelo planeta, após a sua separação do Sol; e, também, o papel dessas chuvas,
o que é mencionado sem qualquer especificação causal, no surgimento, ou chegada,
aos mares, dos gases (possivelmente amônia (NH3) e metano (CH4)) envolvidos na
formação dos primeiros aminoácidos:

“Houve chuva que resfriou a superfície da Terra e com ela vieram os gases que foram
rearranjados por descargas elétricas e reações químicas formando os primeiros aminoácidos que, por
precipitação, chegaram aos “corpos de água”. Através de combinações de aminoácidos e descargas
elétricas surgiram os primeiros seres vivos (coacervados)”.

Em resumo, os licenciandos, no discurso Evolução química, partem da matriz


de ideias do consenso científico de que o ambiente que possibilitou a formação dos
primeiros seres vivos era radicalmente diferente do que temos hoje, mas restringem-
se à ideia clássica proposta por Miller (atmosfera primitiva) e não conhecem outras
possibilidades, hipóteses.

É de se notar também que esse discurso, embora apresentado como


reconstituição de eventos passados, numa escala temporal e geográfica vastíssima,
mostra encadeamentos que mais se parecem com o de um processo restrito, quase
elementar; as possibilidades de atividades relevantes por parte de cada componente
mostram-se muito limitadas, o que leva a enunciados do tipo “porque A, então B, o
que, por sua vez, só podia levar a C”. Mais uma vez devemos enfatizar que os
estudantes em questão parecem discutir um problema científico da ordem do “aberto”
segundo cânones de cientificidade mais adequados à dimensão do “fechado”.

Fica claro que o aspecto mais interessante de uma formação científica, ou seja,
a delimitação de quais são os problemas a serem resolvidos e quais são os problemas
mais importantes, parece também estar ausente nas formulações dos licenciandos.
10

Posto de outro modo: uma sequência de informações obtidas pela atividade dos
cientistas, por si só, não constitui uma abordagem científica.

Até aqui enfatizamos o tipo de epistemologia implícita ao discurso dos


licenciandos, bem como as suas imprecisões em termos de conteúdo conceitual.
Resta identificar a origem mesma desse conteúdo, ou seja, uma explicação da fonte
de onde provêm os conceitos que estruturam esse discurso. Isto foi obtido pela
comparação com livros didáticos do Ensino Médio11, que mostrou uma série de
semelhanças com o padrão de explicação contido no discurso Evolução química.
Postulamos que este discurso deve estar relacionado com o que os alunos
aprenderam no Ensino Médio12 e, quando chegam ao final da licenciatura, continuam
ligados a ele em suas atividades de ensino.

A ausência de aprofundamento ou, mesmo, de retificação deste conhecimento


na graduação pode contribuir para tal situação, pois na universidade pesquisada este
tema não está previsto em nenhuma disciplina obrigatória ou eletiva13, não há uma
diretriz curricular que determine, formalmente, o ensino de origem da vida na
graduação. Esta percepção foi confirmada em entrevistas realizadas com professores
da instituição com bons conhecimentos sobre a estrutura curricular. Tampouco o
assunto é sistematicamente tratado em disciplinas com as quais ele seria compatível
(como Biologia Geral, Bioquímica e Biofísica)14. Tal ausência foi justificada por este
tema não ser considerado fundamental e, portanto, professores poderiam, ou não,
incluí-lo em suas aulas. Nas palavras de um desses professores:

“O tema origem da vida era abordado na graduação na década de 1970 por ser um tema que
estava na “moda”. Com o tempo, saiu de “moda” e, consequentemente, foi deixando de ser abordado
na graduação e, além disso, é um tema muito especializado e nenhum professor, na nossa
instituição, faz pesquisas nesta área”.

3. CARACTERIZANDO O SER VIVO


11

3.1 O QUE É VIDA?

EMBORA A PALAVRA vida pareça ter um sentido óbvio, ela conduz a diferentes
ideais, tornando-se necessário definir o próprio objeto a que nos referimos neste texto.
Para psicólogos, ela traz à mente a vida psíquica; para sociólogos, a vida social; para os
teólogos, a vida espiritual; para as pessoas comuns, os prazeres ou as mazelas da
existência. Isso é parte da nossa visão fortemente antropocêntrica do mundo. Para uma
parte (relativamente pequena) das pessoas, ela traz à mente imagens de florestas, aves
e outros animais. Mesmo essa imagem é parcial, já que a imensa maioria dos seres vivos
são organismos invisíveis. Os micróbios compõem a maior parte dos seres vivos, a maioria
(80%) vivendo abaixo da superfície terrestre, somando uma massa igual à das plantas.
Entretanto, os micróbios ainda não ocupam a devida dimensão em nosso imaginário,
apesar de mais de um século de uso do microscópio e de frequentes notícias na mídia
envolvendo a poderosa ação de micróbios, ora causando doenças ora curando-as,
fazendo parte do ecossistema ou influindo na produção de alimentos. Esse quadro se deve
ao fato de que a vida ainda é um tema recente no âmbito científico, comparado com sua
antiguidade no pensamento filosófico e religioso.

Uma concepção muito difundida entre os povos de cultura judaico-cristã-islâmica é


que a vida foi insuflada na matéria por Deus, e seria, portanto, uma espécie de milagre e
não uma decorrência de leis naturais. É difícil traçar a origem dessa concepção, mas os
escritos de Aristóteles (384-322 a.C.) falam da pneuma, que seria uma espécie de matéria
divina e que constituiria a vida animal. A pneuma seria um estágio intermediário de
perfeição logo abaixo do da alma humana. A dualidade matéria/vida nos animais (ou
corpo/alma nos seres humanos) já aparecia na escola socrática, da qual Aristóteles era
membro, embora de modo um pouco diferente. Entre os animais superiores, o sopro vital
passaria para os descendentes por meio da reprodução. Entretanto, Aristóteles acreditava
que alguns seres (insetos, enguias, ostras) apareciam de forma espontânea, sem serem
frutos da “semente” de outro ser vivo. Essa concepção é conhecida como geração
espontânea e parece ter sido derivada dos pré-socráticos, que imaginavam que a vida,
assim como toda a diversidade do mundo, era formada por poucos elementos básicos. A
idéia de geração espontânea está também presente em escritos antigos na China, na
Índia, na Babilônia e no Egito, e em outros escritos ao longo dos vinte séculos seguintes,
como em van Helmont, W. Harvey, Bacon, Descartes, Buffon e Lamarck. Parece que sua
12

dispersão pelo mundo ocidental se deu por intermédio de Aristóteles, dada sua grande
influência em nossa cultura.

Um experimento de laboratório de Louis Pasteur (1822-1895) colocou um ponto


final na idéia da geração espontânea. Depois dele, passou-se a admitir que a vida só pode
vir de outra vida. Curiosamente, contudo, Pasteur dizia que não tinha eliminado totalmente
a possibilidade da geração espontânea. De fato, seu experimento não poderia se aplicar
à primeira vida, e a idéia de que a vida podia vir da matéria inorgânica continuou em pauta
entre outros grandes cientistas. Entretanto, ela mudou para um contexto tão diferente das
visões anteriores, que não podemos rotulá-la da mesma forma. Essa nova forma de
“geração espontânea” só seria válida para a primeira vida, daí para a frente seria exigida
a reprodução.

Charles Darwin (1809-1882) imaginava que uma poça de caldo nutritivo, contendo
amônia, sais de fósforo, luz, calor e eletricidade, pudesse ter dado origem a proteínas, que
se transformaram em compostos mais complexos, até originarem seres vivos. Entretanto,
a extensão da evolução para o mundo molecular como o primeiro capítulo da evolução da
vida só teve progresso a partir das idéias de Alexander Ivanovich Oparin (1894-1980). Ele
procurou entender a origem da vida como parte da evolução de reações bioquímica,
mediante a competição e seleção darwiniana, na terra pré-biótica (antes do surgimento da
vida)

Quanto ao local onde existiria vida, os vedas e upanishads na Índia imaginavam a


existência de partículas de vida permeando todo o Universo. Anaxágoras (~500-428 a.C.)
também imaginava que a vida estivesse presente em todo o cosmos. Giordano Bruno, no
Renascimento, pregou ardorosamente a existência de outros mundos habitados. A análise
de meteoritos feitas por Berzelius nos anos 1830 mostrou a existência de compostos
orgânicos no espaço. A partir disso, o físico e químico Savante A. Arrhenius (1859-1927)
propôs que, além de produtos orgânicos, a própria vida tivesse se originado no espaço,
sendo transportada para cá em meteoritos. Versões dessa idéia foram apresentadas por
Richter, Kelvin, Chamberlain e, mais recentemente, por Francis Crick, Fred Hoyle,
Chandra Wickramasinghe, John Oró e outros. Nem os defensores dessa hipótese,
denominada panspermia, nem os do cenário concorrente (segundo os quais a vida teria
se originado na Terra) apresentaram provas robustas sobre o sítio de origem da vida. Na
verdade, esse é um problema secundário, ante outras questões mais relevantes.
13

Ao longo do último século, a origem da vida começou a ser abordada


cientificamente, por meio de experimentos de laboratório e estudo de processos teóricos.
Ela se tornou um tema eminentemente interdisciplinar, envolvendo cosmologia,
astrofísica, planetologia, geologia, química orgânica, biologia molecular, matemática e
teoria de sistemas complexos. Nos últimos cinqüenta anos ela se desdobrou em diversos
subtemas, alguns dos quais alcançaram progressos notáveis. Algumas questões
fundamentais continuam, entretanto, sem solução.

Não temos nem sequer um conceito universalmente aceito do que é vida. Por que
uma definição como algo que nasce, cresce, se reproduz e morre, não é suficiente para
caracterizar a vida? Simplesmente porque existem diversos fenômenos naturais que
satisfariam a essa definição. Pense em algo como um incêndio ou uma tempestade, ou
mesmo alguns programas de computador. Uma definição como essa não ajuda em nada
os biólogos e por isso eles não dependem dela. Em vez de falar em “vida” de modo
genérico, o conceito de organismo vivo é muito mais operacional. Um organismo vivo é
baseado na célula, onde a informação genética está codificada no DNA (ácido
desoxirribonucléico) e se expressa na forma de proteínas. Nota-se que esse conceito é
moderno, posterior à invenção do microscópio e à descoberta do código genético. Para
chegar a esse ponto, passou-se por diversas modificações ao longo da história, como
veremos mais adiante.

É nesse contexto particular que a vida será abordada neste artigo. Mas por que, num
panorama com tantas vertentes e possibilidades, nos limitaremos a discutir somente o tipo
comum de vida que conhecemos? Existem outros tipos, aqui ou em outros planetas? Como
reconhecê-los? A restrição não é porque negamos a possibilidade de existirem outros
paradigmas de vida, mas porque essa é a única que possibilita uma abordagem científica,
por apresentar dados observacionais e modelos teóricos. Inúmeras tentativas de formular
um conceito geral de vida foram e estão sendo feitas, mas nenhuma delas apresentou
vantagens significativas para entender a vida que conhecemos, nem previu a existência de
formas ainda desconhecidas que possam ser submetidas à observação. Ainda não existe
uma Teoria Geral da Vida e isso restringe nossa capacidade de entendê-la. Só a descoberta
de outros exemplares de vida independentes da que conhecemos na Terra poderia nos levar
a ampliar os horizontes conceituais. No item final, mostraremos projetos que visam descobrir
vida fora da Terra e discutiremos sua factibilidade e sua potencial contribuição para a
compreensão da vida no âmbito científico.
14

3.2 EVOLUÇÃO E VIDA

A evolução é o processo de mudança dos organismos através do tempo, fazendo


que os organismos atuais sejam diferentes dos iniciais. Embora exista uma cadeia de
continuidade ao longo do tempo, não é fácil inferir as propriedades dos primeiros
organismos com base nos atuais. É possível recuperar algumas informações sobre a
estrutura corporal dos progenitores das espécies atuais por meio dos fósseis. Isso permitiu
fazer um mapa exuberante da evolução ao longo dos últimos ~540 milhões de anos (M.a.).
Todos os filos genéticos (arquiteturas corporais) existentes hoje surgiram na chamada
“explosão do Cambriano” que ocorreu por essa época. Ela se caracteriza pelo
aparecimento de seres multicelulares.

No período pré-Cambriano (era geológica anterior a 570 M.a.) os seres eram


unicelulares (feitos de uma única célula), o que dificultou enormemente a formação de
fósseis e sua descoberta através de microscópios. Os fósseis de microorganismos foram
rastreados até um passado tão remoto quanto 3,5 bilhões de anos (B.a.) atrás. Eles são
encontrados em agregados rochosos que ainda hoje são habitados por colônias de
bactérias, os chamados estromatólitos,1 como os da formação chamada de Apex do oeste
da Austrália. Eles apresentam onze tipos diferentes de fósseis, mostrando aliás como as
células se dividiam e multiplicavam (embora exista quem conteste que eles sejam fósseis
verdadeiros). Suas formas são indistinguíveis das algas fotossintéticas atuais
(cianobactérias) que infestam diversos ambientes da Terra. Mesmo sendo primitivos para
a vida atual, esses fósseis são de organismos tão complexos que não podem ter sido as
primeiras formas de vida. Microbiologistas e biólogos moleculares defendem que a
cianobactéria teria sido um dos últimos grandes grupos de bactérias a aparecer.

Como recuar nossos estudos mais para trás no tempo? É muito difícil encontrar
rochas mais antigas que 3,5 bilhões de anos, pois a superfície do nosso planeta é
constantemente reciclada. As rochas da superfície são forçadas a imergir pela tectônica
de placas, e nas profundezas da terra elas são cozidas sob pressão. Quanto mais antiga
uma rocha, mais rara ela é. Desse modo, não existem esperanças de encontrar fósseis
muito mais antigos que 3,5 bilhões de anos, o que interrompe o caminho em busca da
origem da vida por meio desse tipo de registro.
15

A evolução biológica é um fato surpreendente e inesperado quando temos em


mente que o código genético trabalha para fazer uma cópia exata de si mesmo. A dupla
hélice é uma garantia extra de fidelidade, providenciando duas cópias de cada informação
genética. Se só existissem as forças mantenedoras da identidade, não existiria a
diversidade biológica. Contudo, existem processos que levam a imperfeições na
reprodução. Esses são “erros” aleatórios, naturais em qualquer processo de cópia em
razão da radioatividade ambiental, dos raios cósmicos provenientes do espaço ou de
agentes químicos. Eles geram moléculas-cópias diferentes das originais, de modo que,
quando a molécula participa da reprodução, o organismo resultante terá (em geral)
pequenas diferenças de seu progenitor. Se ele for adaptado às condições do meio
ambiente, sobreviverá e poderá deixar descendência, aumentando a diversidade
biológica.

Não existe uma pressão para a produção de organismos mais complexos ou mais
“perfeitos”, como muitos acreditam. Os mais complexos não parecem ser mais vantajosos
do ponto de vista da sobrevivência que os mais simples. Se isso fosse verdade, existiriam
muito mais organismos complexos do que simples, ao contrário do que se observa na
natureza. Essa idéia de evolução como aperfeiçoamento é pregada pelos criacionistas,
segundo os quais a natureza segue um plano inteligente (inteligent design). Eles a aplicam
não só para a evolução biológica, mas também para todos os fenômenos naturais. Ela se
traduz simplesmente na crença de que as forças naturais não seriam capazes de criar
“ordem” e “beleza” se não forem guiadas por uma inteligência exterior à própria matéria.
Adotar esse ponto de vista é dar à ciência um mero papel de desvendar qual é esse plano
subjacente à natureza que já está preestabelecido para todo o sempre. Esse determinismo
foi abandonado pela Mecânica Quântica há quase um século.

3.3 A ÁRVORE UNIVERSAL DA VIDA

Atrás de sua enorme diversidade de formas, cores e tamanhos, os organismos


atuais mostram características muito similares que servem de parâmetros importantes
para entender sua origem. Por exemplo, a água é a substância (molécula) mais abundante
da matéria viva: 70% do corpo humano, 95% da alface, 75% de uma bactéria. Todos os
seres têm uma alta porcentagem de água, o que favorece a hipótese de uma origem em
16

meio aquoso. Sua composição atômica também é admiravelmente simples. Apenas quatro
elementos químicos – carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio (CHON) – somam 99,9%
da matéria viva. Eles estão entre os cinco mais abundantes do Universo, só deixando de
fora o hélio, que não faz ligações químicas. A bioquímica da vida é composta por
combinações desses átomos, formando água (H2O), metano (CH4), amônia (NH3),
dióxido de carbono (CO2), açúcares, proteínas, ácidos graxos e outros. Mesmo que muitas
proteínas tenham elementos metálicos e requeiram certos íons para funcionar, os
elementos mais abundantes são, de longe, os mencionados anteriormente. O fato de que
a vida se compõe dos átomos mais amplamente encontrados na natureza indica que ela
é simplesmente uma expressão da oportunidade e não uma excepcionalidade, um milagre,
que poderia ser feito com materiais arbitrários, inclusive raros.

Embora bactérias, baleias, palmeiras e elefantes sejam tão diferentes entre si na


forma, eles são extremamente parecidos na química. As moléculas simples se combinam
formando moléculas maiores – os monômeros,2 como os nucleotídeos e os aminoácidos.
Os nucleotídeos e aminoácidos usados pelos seres vivos são em pequeno número e
praticamente os mesmos. A junção desses monômeros em grandes cadeias forma os
biopolímeros: os ácidos nucléicos (RNA e DNA) e as proteínas. São eles que estão por
trás da diversidade biológica que observamos. Nos seres vivos atuais, o DNA carrega o
código de montagem das proteínas que são responsáveis pelas mais diversas funções.
Além da composição material, a forma de processamento de energia (metabolismo)
também é muito parecida em todos os organismos vivos, ocorrendo por um pequeno
número de processos intimamente relacionados. A Figura 4 indica TODOS os seres vivos
como parentes e apresentando uma origem comum.

Uma forma poderosa de diagnosticar o parentesco dos seres vivos é pela análise
genômica3 do RNA ribossômico 16s, que não pode ser aplicada a fósseis, pois esses
perderam seu conteúdo celular. Os ribossomos são complexos moleculares do interior das
células que participam da produção de proteínas. Essas fábricas de proteínas são
compostas de vários tipos de ácido ribonucléico (RNA). Mutações, ao longo do tempo,
alteram a ordem das bases no RNA ribossômico (RNAr). Organismos que fazem parte de
um grupo biológico que compartilha uma história recente têm RNAr semelhante, e quanto
mais afastado for o parentesco, mais esse se diferencia. A comparação do RNAr 16s entre
dois grupos que se originaram de um mesmo ramo evolutivo permite avaliar quantas
mudanças ocorreram desde a separação. Isso possibilita a construção de uma árvore em
17

que o comprimento do ramo é proporcional ao número de mudanças sofridas, chamada


de árvore filogenética universal.

Nota-se que, embora as plantas e animais sejam as formas mais familiares de vida
para nós, elas perfazem somente dois dos vinte ramos da árvore da vida. Além desses
dois, somente os fungos têm membros visíveis sem a ajuda de um microscópio. A maior
parte da vida é invisível a olho nu. Todos os organismos conhecidos pertencem a um dos
três domínios: bacteria (ou eubactérias), archea (ou arqueobactérias) e eucarya (ou
eucariotos). Todos os ramos se unem a um ramo único numa região entre bacteria e
archea. Esse ramo teria sido o do último ancestral comum (denominado progenota).

A árvore filogenética concorda bem com o estudo dos fósseis, que mostra que os
mais antigos eram do domínio bacteria e archea, e os mais recentes, do eucarya. Ela
poderia ser lida como uma seqüência temporal, em que o tempo presente estaria na ponta
dos ramos e o passado na direção de sua conexão com outro ramo. Entretanto, os tempos
de divisão dos ramos não podem ser medidos com precisão, pois as taxas de mutação
não são regulares com o tempo. Um outro aspecto da árvore universal é que ela se baseia
nos seres que estão vivos hoje, que somam menos de 1% de todas as espécies que se
sucederam na longa história do planeta.

A formação da árvore filogenética parece não ter sido tão simples e linear como
aqui apresentada. Nos eucariotos, as mitocôndrias (responsáveis pela respiração) e os
cloroplastos (responsáveis pela fotossíntese) parecem ter se originado de bactérias que
invadiram o interior de células se instalando numa associação simbiôntica.4 Da mesma
forma, organismos primitivos podem ter se associado “horizontalmente” trocando material
genético. Assim, em vez de um único tronco, a árvore filogenética pode ter se originado
de diversos troncos separados, que acabaram se unindo em três grandes ramos, que
depois se subdividiram em ramos secundários. Apesar disso, vamos continuar a falar do
ancestral comum, independentemente de ele ter aparecido como um único tipo de
organismo ou de ter sido o resultado de uma aglutinação de linhagens diferentes.

3.4 O PROGENOTA
18

O último ancestral comum deve ter tido características que são compartilhadas por
todos os seres vivos: reprodução por meio de genes (DNA), fábricas de proteínas
(ribossomo e RNA), mecanismos para reparar erros no código, obter e armazenar energia.
Ele deve ter sido mais parecido com os organismos mais primitivos (ramos mais baixos da
árvore universal) do que com os mais modernos (pontas dos ramos). Os organismos dos
ramos mais baixos são tolerantes ao calor, os termófilos e hipertermófilos. Eles vivem em
temperaturas parecidas com a da água fervente (90-113ºC), como as encontradas nas
fontes hidrotermais do fundo dos oceanos e em poças vulcânicas como as do Parque
Yellowstone (Estados Unidos). Entretanto, existem técnicas que permitem avaliar a
temperatura de formação de bases nitrogenadas, e elas indicam que os organismos
primitivos teriam se originado em ambientes de temperatura moderada e não extrema.
Outro fato que vai contra a origem da vida em alta temperatura é o efeito desagregador
que ela tem para o RNA, açúcares e alguns aminoácidos. A 100ºC a meia-vida de diversos
compostos é de segundos a horas. Assim, os hipertermófilos teriam se adaptado às altas
temperaturas e não se formado nelas. Isso, somado à maquinaria complexa que esses já
apresentam, indica que eles não poderiam ter sido a primeira forma de vida.

Na primeira metade do século passado, imaginava-se que a vida já teria se iniciado


fabricando seu próprio alimento (autotrofismo5) como fazem hoje os seres
fotossintetizantes. Na fotossíntese, por exemplo, o CO2 atmosférico é absorvido pela
célula, e, sob a ação da luz e com a utilização de água, gera uma série de compostos
orgânicos, em especial açúcares como a glicose. Numa etapa seguinte, eles são usados
para gerar energia e fabricar componentes estruturais (corpo). Os animais não geram, mas
capturam energia fabricada por outros organismos (heterotrofismo6). Mediante a
oxidação7 dos açúcares, percorre-se um caminho inverso ao da fotossíntese, liberando
energia e devolvendo CO2 à atmosfera. Por volta do início dos anos 1900, esses
processos estavam ainda sendo entendidos e se imaginava que, sem seres autotróficos,
não haveria fontes de alimento na Terra primitiva. Entretanto, o aparecimento de
organismos que já nascem fabricando sua própria comida parece implausível hoje em dia.

Na década de 1920, Oparin apresentou uma idéia nova, que teve grandes
desdobramentos. Ele usou um cenário de evolução darwiniana lenta e gradual, partindo
do mais simples para o mais complexo. A partir dos hidrocarbonetos e da amônia, ter-se-
iam formado outros compostos mais complexos, como carboidratos e proteínas.
Processos semelhantes, num ambiente redutor,8 foram propostos por J. B. S. Haldane
19

(1892-1964). Depois disso, o cenário autotrófico perdeu ímpeto, mas continua a ter seus
defensores até hoje.

3.5 A QUÍMICA PRE-BIOTICA

Os aminoácidos são fundamentais para a vida. No mundo atual eles são produzidos
por intermédio das proteínas, no interior das células. Para a vida ter surgido, eles
precisariam ter sido produzidos por processos abióticos (inorgânicos). A proposta Oparin-
Haldane é que os aminoácidos teriam sido produzidos a partir de moléculas carbonadas
mais simples, num ambiente redutor. Nos anos 1950, Harold Urey (1893-1981)
argumentou que a atmosfera da Terra, em sua origem, era parecida com a dos planetas
gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). Eles teriam mantido suas atmosferas quase
inalteradas por causa da grande massa (alta gravidade) e baixa temperatura (distantes do
Sol). Os planetas rochosos (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte) as teriam perdido pela baixa
gravidade e pela proximidade do Sol, que teria dissociado as moléculas pela ação dos
raios UV e que produz alta temperatura atmosférica. Como Júpiter e seus parceiros
gasosos têm atmosfera rica em amônia (NH3), metano (CH4) e hidrogênio (H2), assim
também teria sido a atmosfera primitiva da Terra e dos outros planetas rochosos.

A hipótese de Urey entusiasmou seu aluno Stanley Miller. Ele conhecia a teoria de
Oparin de que os aminoácidos poderiam se formar por processos abióticos numa
atmosfera redutora e decidiu colocar isso à prova no laboratório. Em 1953, montou um
experimento mimetizando os processos atmosféricos, em que um gás de amônia, metano
e hidrogênio passava por uma câmara onde havia descargas elétricas, depois era
condensado num recipiente de água e evaporado novamente, num ciclo contínuo. Em
poucos dias se formou um precipitado rico em aminoácidos. Esse resultado é espetacular
e abriu horizontes novos para o entendimento da origem da vida. O experimento é um
cartão-postal exibido pelos professores de ciências como sendo a demonstração de que
foi assim que a vida se originou na Terra, mas isso é incorreto por dois motivos.

O primeiro problema com o experimento de Miller é que a atmosfera da Terra nunca


foi redutora, pelo menos no grau necessário para formar aminoácidos. As inúmeras
variantes do experimento de Miller, quando realizadas em ambientes neutros
(intermediário entre oxidante e redutor) ou baixamente redutores, nunca produziram
20

quantidades relevantes de aminoácidos. A idéia de atmosferas redutoras em planetas


rochosos foi demonstrada inconsistente pela planetologia por volta dos anos 1970 (ver
Delsemme, 2000). Os planetas rochosos se formaram a partir de poeira seca, sem a capa
de água e elementos voláteis que formaram os planetas gasosos. É por isso que os
planetas rochosos têm atmosferas neutras (ricas em dióxido de carbono e nitrogênio), e
os gasosos têm atmosferas redutoras (ricas em hidrogênio, amônia e metano). O segundo
problema é que os experimentos nunca produziram vida ou qualquer coisa mais complexa
que aminoácidos.

Como se explica então o fato de que a Terra e outros planetas rochosos tenham
água hoje (embora pouca em comparação com os corpos mais distantes do Sol)? Os
fragmentos que restaram da formação de Júpiter e dos outros planetas gasosos foram
lançados para todos os lados, em forma de cometas, e muitos deles atingiram a Terra
trazendo grande quantidade de água e compostos carbonados. A formação da Lua (4,42
B.a.) pela colisão com um planetóide do tamanho de Marte com a Terra cozinhou a crosta
terrestre e vaporizou os oceanos trazidos pelos cometas. Novas quedas de cometas e
meteoritos trouxeram mais água e compostos carbonados. O calor dos impactos, o efeito
estufa da luz solar na atmosfera rica em CO2 e a dissociação das moléculas hidrogenadas
pela radiação UV não deixam muito espaço para uma atmosfera redutora (rica em
hidrogênio).

A descoberta das fontes hidrotermais submarinas trouxe uma nova esperança de


encontrar esse ambiente redutor. Esses locais são interessantes por serem abrigados
contra a queda de meteoróides e cometas, por exalarem compostos de interesse para a
química pré-biótica (H2S, CO e CO2) e pela fonte de energia térmica (temperaturas de até
350ºC). Se eles exalassem também HCN, CH4 e NH3, formariam um ambiente redutor e
possivelmente alguns tipos de aminoácidos, embora não todos os necessários para a vida,
por causa do efeito desagregador das altas temperaturas sobre alguns deles.

Enquanto é difícil encontrar um ambiente favorável à formação de aminoácidos na


Terra primitiva, o experimento de Miller se mostra amplamente operativo fora dela. Alguns
meteoritos (do tipo condrito), como o que caiu em Murchison na Austrália em 1969, contêm
boa quantidade de aminoácidos (100 ppm – partes por milhão), e eles são dos mesmos
tipos dos produzidos no experimento de Miller. Isso não é de estranhar, dado que esses
corpos se formaram na região dos planetas gasosos, onde o disco protoplanetário era rico
21

em hidrogênio. Os cometas são ricos em compostos orgânicos (50% H2O, 1% HCN, 1%


H2CO3, além de CO, CO2 e aminoácidos) e poderiam ter trazido boa quantidade de
aminoácidos nas últimas fases de formação da Terra. Os fragmentos pequenos,
especialmente a poeira cometária, não geram muito calor ao caírem, de modo que os
aminoácidos podem ter sobrevivido à queda. Atualmente, caem ~40 mil toneladas/ano de
poeira cometária e o fluxo deve ter sido 100-1.000 vezes mais elevado nos primórdios da
Terra. A questão ainda difícil de responder é se o aporte de aminoácidos de fora da Terra
teria sido suficiente para a origem da vida aqui.

A formação de aminoácidos é surpreendentemente fácil nos ambientes típicos do


Universo, ricos em hidrogênio molecular. Tanto que três tipos de aminoácidos simples
foram detectados em nuvens interestelares como a nebulosa de Orion. Aminoácidos mais
complexos são muito difíceis de ser identificados, mas podem estar presentes dada a
enorme variedade de moléculas complexas existentes nas nuvens interestelares.

Não se encontrou até agora um mecanismo ou ambiente que desse conta de


produzir toda a variedade de compostos orgânicos necessários para a vida. É possível
que a sopa pré-biótica tenha tido contribuições de diferentes processos ocorridos no
ambiente interplanetário, na atmosfera terrestre e nas fontes hidrotermais. Embora o
problema de saber quanto cada fonte contribuiu para a sopa pré-biótica continue em
aberto, a origem abiótica de compostos orgânicos essenciais para a vida, como os
aminoácidos, está firmemente embasada em experimentos de laboratório e processos
teóricos.

3.6 A ORIGEM DO CÓDIGO GENÉTICO

A origem do código genético talvez seja o passo mais desafiador para se entender
a origem da vida. O aparecimento de um script de reprodução corresponde ao
aparecimento de um software, ou uma memória natural. Que mecanismo tem essa
capacidade? A passagem do inorgânico para a vida inicia-se num meio disperso e
encontra seu foco dentro do ambiente celular. A montagem de moléculas menores numa
estrutura maior deve ter se dado num ambiente de competição e seleção. Não parece que
essa montagem tenha se dado simplesmente por processos aleatórios, senão deveríamos
ter uma série ininterrupta de moléculas, formando uma pirâmide com as moléculas simples
22

em grande número, formando a base e diminuindo em número à medida que aumenta o


tamanho. A molécula do DNA tem bilhões de átomos, um número imensamente maior que
as outras moléculas orgânicas menores. Esse salto de continuidade sugere que a
molécula de DNA tenha se formado por um processo específico, coordenando um grande
número de elementos simultaneamente.

O desenvolvimento e a reprodução dos organismos atuais se dão por intermédio de


um código genético universal (constituído sobre ácidos nucléicos) que contém as
informações sobre as seqüências de aminoácidos que constituem as proteínas. Os ácidos
nucléicos são a base da replicação e as proteínas, a do metabolismo. Grosso modo, o
processo de síntese protéica se baseia na transcrição das informações do DNA para o
RNA mensageiro e na tradução em proteínas. Por sua vez, as proteínas controlam a
catálise e a replicação do DNA. Esse processo é tão complexo que teria que ter passado
por estágios mais simples em fases anteriores. Como ele teria se iniciado? Parafraseando
o paradoxo do ovo e da galinha, surge a pergunta: quem surgiu primeiro, o código genético
ou o metabolismo? Existem defensores das duas possibilidades. Há uma hipótese de que
o RNA teria sido a primeira molécula ativa na origem da vida chamada de mundo de RNA.
Entretanto, o RNA também é tão complexo que existe a hipótese de um mundo pré-RNA,
mas a bioquímica que conhecemos não nos dá pistas sobre a química primordial e
teríamos que investigar novos panoramas. Ainda não é claro que tipo de molécula pode
ter formado o primeiro material genético, e as etapas que podem ter levado a um mundo
de RNA ainda são nebulosas.

A segunda vertente admite que o metabolismo pode ter vindo antes do código
genético. A idéia geral desse ponto de vista é que é possível que haja organização
considerável na própria seqüência de reações químicas, sem que haja um código
genético. Essa perspectiva, porém, ainda carece de evidências experimentais, já que
parece improvável que polímeros longos e reações complexas possam se organizar de
forma autônoma. Alguns autores acham possível que exista um princípio de auto-
organização que opere nesse sentido.

3.7 QUANDO OCORREU A ORIGEM DA VIDA


23

É comum as pessoas pensarem que algo tão complexo quanto a vida exigiria
processos que só ocorrem raramente, demandando tempos extremamente longos para
terem alguma chance de ocorrer. Os dados atuais indicam que isso não é verdade. Vamos
olhar para as primeiras eras geológicas da Terra. A formação rochosa Isua (na
Groenlândia) é uma das mais antigas, tem 3,8 B.a. Embora não contenha organismos
fósseis, ela tem indicações de contaminação por atividade biológica. O grafite encontrado
nela tem um teor de 13C (variedade de átomo de carbono com seis prótons e sete
nêutrons) em relação ao isótopo mais leve 12C com valores típicos de material orgânico,
como o encontrado em restos vegetais atuais. Até agora, não se encontrou outra
explicação, a não ser a fotossíntese para explicar essa anomalia do carbono.

Outro dado que aponta para a fotossíntese em épocas remotas são os imensos
depósitos de óxido de ferro (chamados de banded iron formation BIF), os mais antigos
com ~3,7 B.a. de idade. Nessa época, não existia oxigênio livre na atmosfera, como
indicado pela existência de pirita e uraninita. O oxigênio pode ter sido liberado nos oceanos
pela atividade de algas fotossintetizantes e consumido localmente, oxidando o ferro. Se
as rochas de Isua e os BIF mais antigos indicam existência de vida, ela deve ter surgido
antes de 3,8 B.a., dado que a fotossíntese, por ser um processo muito complexo, não deve
ter sido a primeira forma de produção de energia. O ancestral comum deve ter surgido
antes disso.

Mais um motivo para recuar o aparecimento do progenota para antes de 3,8 B.a. é
que os trezentos milhões de anos seguintes parecem ser muito curtos para a vida ter
atingido o nível de complexidade da cianobactéria, parente dos organismos que formaram
os estromatólitos. Mas não podemos recuar a origem da vida para tempos muito anteriores
a esse. A Terra se formou há 4,56 B.a., e há 4,46 B.a. já tinha crosta sólida, a água tinha
chovido das nuvens para formar os oceanos e a atmosfera tinha temperatura aceitável.
Mas nos primeiros ~700 milhões de anos ela era castigada por uma densa chuva
meteorítica, alguns dos fragmentos com centenas de quilômetros de tamanho. Uma
colisão dessas vaporizaria os oceanos e aqueceria tanto a atmosfera, que levaria mais de
mil anos para chover de novo. Se já existia vida na Terra nessa época, ela teria sido
destruída, não uma, mas muitas vezes. Ela só poderia ter se arraigado de forma estável
depois do fim da chuva de meteoros esterilizantes, ou seja, há menos de 3,9 B.a. Isso
deixa uma janela de <100 milhões de anos para a vida partir do zero e atingir o estágio de
produção de energia por fotossíntese. Se preferirmos descartar o diferencial de 13C ou os
24

BIF como indício de vida, o intervalo de tempo para a vida ter se formado e evoluído até o
nível de complexidade da cianobactéria sobe para meros 400 M.a. Nos 3,5 B.a. seguintes
a vida aumentou sua diversidade, mas não aconteceram saltos de complexidade tão
grandes quanto o inicial, do inorgânico para o vivo. Por isso, a janela de tempo de centenas
de milhões de anos é pequena e indica que esse salto não é tão difícil ou improvável para
a natureza.

A janela para a origem da vida, se ela se iniciou na Terra, pode ser bem mais curta
do que os quatrocentos milhões de anos indicados antes. Uma escala de tempo muito
curta poderia ser obtida do fato que as reações químicas que produzem as grandes
moléculas (polímeros) são reversíveis. Em escalas de dias a meses, a maioria delas
reverteria para componentes mais simples, em meio aquoso. Isso poderia ser evitado se
as grandes moléculas fossem retiradas do meio líquido, logo que formadas. Esse cenário
funcionaria se a vida tivesse surgido nas plataformas continentais e não no fundo dos
oceanos. No início, as placas litosféricas9 ainda estavam submersas, e as indicações mais
fortes são de que a vida tenha surgido no fundo dos oceanos. Outra forma de evitar a
reversibilidade seria encerrar as macromoléculas em membranas, como as paredes
celulares. Naquele tempo não havia células como as atuais, mas é possível que houvesse
membranas formadas por processos inorgânicos. Oparin sugeriu que coacervados,10
formados espontaneamente por polímeros em solução aquosa, tenham constituído a
membrana de uma protocélula. Embora eles realmente se formem em laboratório, são
muito instáveis. Outros tipos de formação de membranas são possíveis; por exemplo, os
proteinóides11 que Sidney Fox sintetizou em laboratório.

Mesmo depois de escapar da reversibilidade, os componentes da vida primitiva


encontrariam outras armadilhas fatais. Uma delas são as fontes hidrotermais que existem
no fundo dos oceanos. Elas reciclam um volume igual ao dos oceanos atuais em dez
milhões de anos. Entretanto, quando o interior da Terra era mais quente, esse processo
era muito mais forte e os tempos de reciclagem eram muito mais curtos. A água sai das
fontes hidrotermais com T>350ºC, sendo totalmente esterilizada.

Quanto menor a escala de tempo, mais simples deve ter sido o processo de origem da
vida. Na Terra, ela se instalou tão cedo e tão rapidamente que parece ser um mero subproduto
da formação planetária. Isso abre enormes perspectivas de que ela também tenha surgido em
outros planetas, que só na nossa galáxia devem ultrapassar a casa dos trilhões. No volume
25

visível do Universo existem cerca de cem bilhões de galáxias como a nossa, elevando o
número de planetas para mais de 1023. O fato de que a origem da vida seja um assunto tão
difícil de ser compreendido não nos deve induzir ao erro de assumir que também seja difícil de
ser realizada pela natureza. A janela para a formação de vida na Terra é tão estreita, que
alguns preferem acreditar que ela tenha aportado aqui já pronta (hipótese de panspermia). O
conforto que se ganha aumentando a janela de tempo para dez bilhões de anos e multiplicando
a diversidade de situações físicas e químicas por um número incontável de planetas se perde
pelo imenso isolamento cósmico dos astros e pela exigüidade de mecanismos viáveis de
transporte de seres vivos de um para outro. O transporte só é viável para planetas próximos,
como entre a Terra e Marte. O problema do mecanismo de origem se transfere daqui para
outro planeta, mas sua solução não se torna mais fácil.

4 POSSIBILIDADES DE VIDA FORA DA TERRA

AQUI, LÁ E EM QUALQUER LUGAR: AS POSSIBILIDADES DE VIDA FORA


DA TERRA

Mas, o que é a vida? Como saber se a mesma pode estar presente em locais
além-Terra? Que parâmetros podemos observar para detectar ou reconhecer
possíveis formas de vida nos Exoplanetas já descobertos ou mesmo nos corpos
celestes presentes em nosso Sistema Solar? O conceito de vida é muito abrangente,
pois esse conceito pode ser biológico, físico, químico e até mesmo filosófico. Podemos
dizer que:

• Um ser vivo apresenta constituição celular, as únicas exceções são os


vírus, que alguns autores consideram não-vivos, todavia, quando
estendemos o conceito de vida para a presença dos ácidos nucléicos e
das proteínas incluímos aí os vírus;
• Movimenta-se, ainda que seja movimentação das organelas celulares;
26

• Um organismo vivo se reproduz ao gerar cópias de si mesmo, como a


duplicação do material genético antes das divisões celulares (mitose e
meiose);
• Respira quando moléculas são usadas para fornecer energia ao
organismo;
• Interage adaptando-se ao ambiente com transformações graduais ao
longo de muitas gerações, o que chamamos de evolução.

Mas para se ter uma ideia, há aproximadamente 63 definições sobre o tema


que vai da mais simplória, “As coisas vivas são agregados peculiares de matéria
comum e uma força comum na qual em seus estados separados não possuem as
qualidades de agregação conhecida como vida” (BASTIAN, p. 124, 1872, apud
BARBIERI, p.

256, 2003); à mais elaborada, como a definição de FOX (2003, p. 262), onde:

A vida consiste de corpúsculos proteináceos formados de uma ou mais células


contendo membranas que permitem a ela se comunicar com o meio-ambiente via
transferência de informação por impulso elétrico ou substância química, e é capaz de
evolução morfológica pela auto-organização dos precursores, e mostra atributos de
metabolismo, crescimento e reprodução. Essa definição compreende ambas a
protovida quanto a vida moderna.

Independente da definição ou ponto de vista sobre os conceitos de vida, todas


elas são baseadas só, e somente só, nas formas de vidas que há aqui na Terra, pois
há uma preocupação e uma curiosidade humana em saber que prováveis aspectos
físicos, químicos e biológicos devem possuir seres de outras partes do universo,
principalmente com as descobertas de vários Exoplanetas em torno dos mais variados
tipos de estrelas.

As evidenciações cada vez mais frequente e em quantidade cada vez maiores


desses Exoplanetas, enchem a imaginação humana sobre as possibilidades da
existência de seres extraterrestres e também da perspectiva da colonização humana
em tais planetas no futuro.
27

EM ALGUM LUGAR DO PASSADO Segundo Dimas (2003), os cientistas


Aleksandr Oparin (1894-1980) e John B.S. Haldane (1892 – 1964) levantaram
hipótese de que a vida na Terra surgiu há bilhões de anos, resultado da combinação
de fatores físicos e químicos. Fatores físicos por conta da distância da Terra ao Sol, a
nossa estrela, chamada pelos astrofísicos de ‘zona habitável’, que é um local onde
um planeta não está muito próximo de sua estrela, não recebendo muita energia
térmica, nem tão pouco muito afastado, condicionando captar pouca energia calórica.

Outro fator físico se dá pelo resfriamento do planeta em sua camada exterior,


formando a crosta, capaz de reter um líquido essencial para abrigar as formas mais
primitivas de vida surgidas no planeta: a água. Mesmo com resfriamento, por milhares
de anos a superfície da Terra era recoberta de vulcões que expeliam lavas, que em
contato com a água, criavam vapores e mais tarde se transformariam em chuvas e
tempestades elétricas, carregadas de elementos químicos imprescindíveis para o
surgimento da vida.

Quimicamente, a chamada “sopa primordial”, composta por vapor d’água,


hidrogênio, amônia e metano propiciou a combinação necessária para a formação das
primeiras estruturas moleculares orgânicas simples, como diversos microrganismos,
algas e bactérias que, com passar do tempo, foram se transformando em estruturas
mais complexas, até chegarem aos grandes animais, a exemplo do ser humano.

Entender os mecanismos do surgimento da vida na Terra serve de base para


conjecturar quais os possíveis candidatos a abrigar vida, independente do tipo, da
estrutura e dimensões orgânicas, tanto dentro do sistema solar, quanto fora dele.

Na procura por vida em outros planetas também devemos prestar atenção para
o que está ou estava vivo em algum tempo.

SISTEMA SOLAR Nosso sistema Solar abriga em torno de 180 luas, 8 planetas
e 5 planetas anões. São potenciais candidatos a desenvolver ou abrigar vida os
planetas anões Ceres e Plutão; o planeta Marte e satélites Europa, Titan, Encélado,
Ganimedes, Calisto e nossa Lua.

Em todos esses corpos celestes citados, foram encontrados, usando o método


da espectrografia, assinaturas de água. Em alguns, como Europa, Ganimedes e
28

Ceres, além da água líquida e sólida, observou-se a presença de amônia, hidrogênio


e, em alguns casos, metano.

Encélado, lua do planeta Saturno, foi estudado pela sonda Cassini no ano de
2015. Fazendo sobrevoos com até 49 km de distância da sua superfície, a sonda
encontrou assinaturas de compostos orgânicos, o que eleva as especulações sobre a
sua potencialidade em abrigar vida, pois a mesma possui um grande oceano de água
líquida sob uma camada espessa de gelo. Em suas profundezas há fontes
hidrotermais (Figura 1), que formam gêiseres, observadas no polo sul da lua, que
expelem gelo de água e outros compostos.

OS EXOPLANETAS Os Exoplanetas são planetas que estão fora do nosso


Sistema Solar e orbitam os mais diversos tipos de Estrelas. Segundo o site
Enciclopédia dos Planetas Extra-solares, até a data de 31 de outubro de 2017 foram
catalogados 3693 Exoplanetas em 2768 sistemas planetários conhecidos.

O descobrimento dos Exoplanetas em meados dos anos 1990, do século XX,


ocorre principalmente pelo desenvolvimento da tecnologia dos equipamentos de
observações astronômicas. Essas descobertas atiçam a imaginação humana para a
possibilidade de encontrar seres extraterrenos ou mesmo de usar tais planetas como
futuras bases de colonização terráquea. Mas apesar do grande número de planetas
extrassolares descobertos, pouquíssimos podem ser considerados similares ao
planeta Terra, principalmente por habitarem a chamada zona “cachinhos dourados”,
dependendo do tamanho da sua estrela (Figura 2) e por terem características, como
diâmetro, velocidade de rotação, atmosfera; próximas as do nosso planeta.

OS EXOPLANETAS Os Exoplanetas são planetas que estão fora do nosso


Sistema Solar e orbitam os mais diversos tipos de Estrelas. Segundo o site
Enciclopédia dos Planetas Extra-solares, até a data de 31 de outubro de 2017 foram
catalogados 3693 Exoplanetas em 2768 sistemas planetários conhecidos.

O descobrimento dos Exoplanetas em meados dos anos 1990, do século XX,


ocorre principalmente pelo desenvolvimento da tecnologia dos equipamentos de
observações astronômicas. Essas descobertas atiçam a imaginação humana para a
possibilidade de encontrar seres extraterrenos ou mesmo de usar tais planetas como
futuras bases de colonização terráquea. Mas apesar do grande número de planetas
extrassolares descobertos, pouquíssimos podem ser considerados similares ao
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planeta Terra, principalmente por habitarem a chamada zona “cachinhos dourados”,


dependendo do tamanho da sua estrela e por terem características, como diâmetro,
velocidade de rotação, atmosfera; próximas as do nosso planeta.

Apesar da grande notícia, ainda enfrentamos o problema de fazer uma viagem


até esse sistema, que dista 40 anos-luz da Terra e, que por conta da atual tecnologia
de viagens espaciais, levaríamos alguns milhares de anos para chegar em Trappist-
1.

4.1 O QUE PODEMOS ACHAR?

Pesquisar sobre as possibilidades de vida em outros corpos celestes, tanto


dentro do nosso Sistema Solar, quanto em outros sistemas é, antes de mais nada, um
grande exercício de imaginação. É desafiar nossos limites biológicos, químicos e
físicos, para então conceber seres e organismos que não sejam uma mera reprodução
narcisista de nós mesmos.

Em seu poema “Psicologia de um vencido”, o paraibano Augusto dos Anjos


declama: “Eu, filho do carbono e do amoníaco...” contempla o principal ingrediente na
formação dos seres vivos, que é o carbono.

O carbono, devido a sua estrutura atômica, pode fazer ligações com o


nitrogênio, o oxigênio e o hidrogênio, formando, assim, a química orgânica. Toda
biologia terrestre tem como base o carbono, pois o mesmo é o principal elemento das
moléculas de DNA. O que faz elucubrar, a principio, que em outros planetas com
potencialidade de vida, também haja seres formados dessa mesma matéria.

Se estamos pensando em encontrar vida em outros planetas podemos pensar


em outras possíveis moléculas que possam desempenhar papeis semelhantes aos
das proteínas e dos ácidos nucléicos (DNA/RNA), mas também especula-se que
possam existir, numa atmosfera diferente da nossa, seres que sejam formados por
silício, que é o elemento que mais se aproximam do carbono, principalmente por ter a
possiblidade de fazer até quatro ligações atômicas com outros elementos. Porém, as
implicações para uma vida a base de silício são muito grandes, como mostra a bióloga
Andrea Kauffmann-Zeh, em seu ensaio, publicado na revista Galileu (2000, p. 87):

Reações químicas como a do tetracloreto de carbono com água gera dióxido


de carbono e ácido hidroclorídrico. Ela ocorre bem devagar à temperatura ambiente.
30

A reação análoga entre tetrafluoreto de silício e água gera violenta explosão! [...] Além
de correr o risco de auto-explodir, o ser de silício teria que se preocupar com a
possibilidade de autocombustão. [...] o silício não possui um solvente disponível. A
água é o solvente ideal para os compostos de carbono. Amônia é uma molécula prima
da água, mas, na temperatura ambiente da Terra, só existe como gás. Poderia
dissolver compostos de carbono nos planetas supergelados do Sistema Solar, onde
existe como líquido. Já o silício e seus compostos não se dissolvem nem em água,
nem em amônia. O solvente ideal para o silício é o ácido hidrofluórico, um composto
naturalmente raro no Sistema Solar. Seria necessário encontrar um Exoplaneta rico
em mares de fluoreto de hidrogênio, para ter a probabilidade de encontrar um ser vivo,
formado a partir de átomos de silício.

Entender os outros fatores que influenciam a formação biológica de um ser vivo,


tais como aceleração da gravidade do planeta, os tipos de gases que compõem a
provável atmosfera e também a cor da estrela a qual o planeta orbita, são elementos
que podem ajudar a conceber seres não terrestres.

Com os avanços nos estudos da astrobiologia, já é possível idealizar tais seres,


como foi feito para o filme Avatar, de 2009, dirigido por James Cameron. O filme se
passa na lua Pandora, que orbita o planeta Polyphemus, no sistema de Alfa Centauro,
habitada por seres com altura média acima dos 3 metros e de pele azulada. Essa
concepção é plausível, pois a lua Pandora tem quase a metade da gravidade da Terra,
o que possibilita esticar o tamanho dos Na’vis, e a pele azulada é explicada pelo alto
nível de gás carbônico e do nitrogênio, presentes na atmosfera, bem como com a
adaptação para se esconderem de predadores noturnos.

Procuramos vida com conceitos do que é vivo como conhecemos. Os


parâmetros de vida na Terra podem não ser suficientes para a identificação em outros
mundos. Provavelmente, o conceito de vida deverá sofre modificações para englobar
a visão da vida extraterrestre. Ainda somos crianças cósmicas perto da imensidão do
nosso universo, que por estimativa tem em média 14 bilhões de anos, enquanto nós,
humanos, não temos mais do que 10 mil anos civilizatórios e menos de 200 em
tecnologias que nos permitam romper os limites do espaço e do nosso Sistema Solar.
Mesmo assim, não devemos nos cercear da imaginação e dos estudos científicos para
nos prepararmos a possíveis viagens de colonização de luas, planetas e, também,
31

para prováveis seres alienígenas, sejam eles de carbono ou não, avançados


tecnologicamente ou não.

5 CONDIÇÕES PARA A EXISTÊNCIA

"A biosfera é a parte onde desenvolve a vida, responsável por dar condições
de propagação aos seres vivos (animais e vegetais), a temperatura média da Terra é
de 15oC, essencial para o desenvolvimento da vida.

Em planetas como Vênus e Mercúrio a temperatura é de 100o C e nos outros


a temperatura é de 40o C. Os elementos que proporcionam a propagação da vida são
temperatura, água e oxigênio, indispensável para qualquer ser vivo.

A biosfera é composta ou constituída pela hidrosfera (parte líquida presente na


Terra, mares, rios, lagos etc.), atmosfera (conjunto de gases que envolvem a Terra,
responsável pela consolidação dos climas e fenômenos, como chuva, ventos, neve) e
litosfera (é a superfície terrestre onde habita os seres vivos e palco das relações
humanas)."

6 VIDA HUMANA FORA DA TERRA

“Durante muitos séculos a curiosidade do homem acerca do espaço e


tudo que se encontra em seu interior sempre foi muito grande. Ao observar o
céu, especialmente à noite, é possível ver a olho nu alguns astros, estrelas etc.
Isso motivou a humanidade a estudar e pesquisar os enigmas oriundos do
universo.
Com o desenvolvimento tecnológico e das ciências, alguns países
destinaram vários anos de pesquisa e bilhões de dólares com a finalidade de
conhecer partes do universo através de viagens espaciais.
Nesse sentido, os percussores desse seguimento foram os Estados
Unidos e a União Soviética, principais potências mundiais da época, denominado
de mundo bipolar.
32

Esse fator político desencadeou a corrida espacial, que corresponde à luta


entre Estados Unidos e União Soviética de apresentar para a humanidade fatos
inéditos relacionados às questões espaciais.
A primeira exploração direta do espaço teve início no dia 4 de outubro de
1957, nessa data a União Soviética enviou um satélite artificial denominado de
Sputnik. O foguete foi lançado de uma base russa localizada no Cazaquistão.
No mês seguinte ao primeiro lançamento, a URSS enviou um novo satélite
chamado de Sputnik II, esse levava consigo uma cadela de nome Laika, esse
fato ficou na história, pois foi o primeiro ser vivo a entrar no espaço, é bom
ressaltar que esse animal nunca mais retornou à Terra.
O primeiro homem a entrar no espaço foi Yuri Gagarin, que pôde observar
a Terra de forma externa e viu a olho nu a tonalidade azulada do nosso planeta,
essa viagem teve início no dia 12 de abril de 1961.
Oito anos após o primeiro ser humano ter viajado ao espaço, aconteceu
um dos principais episódios desenvolvidos pela humanidade. No dia 20 de julho
de 1969, a Apollo XI foi lançada rumo à Lua, na nave espacial estavam a bordo
os astronautas Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Aldrin Jr. Dessa vez o
homem não contentou a apenas viajar para o espaço, foi mais longe, pousou na
superfície lunar; os tripulantes tiveram a oportunidade de pisar no “solo” de outro
corpo celeste, nosso satélite natural, a Lua.
Após o homem ter pisado pela primeira vez na superfície lunar
aconteceram novas 6 missões Apollo, desse modo, outros doze astronautas
tiveram o privilégio de pisar na Lua.
O Brasil também criou um satélite, que foi enviado ao espaço em fevereiro
de 1993, por meio do foguete espacial de origem norte-americana intitulado de
Pegasus. No dia 29 de março de 2006, aconteceu a primeira viagem espacial de
um brasileiro, que ocorreu por meio da nave russa Soyuz TMA-8.

7 CONCLUSÃO
Apesar de toda nossa evolução tecnológica, a vida, continua um grande
mistério, a maioria das coisas não tem de fato uma comprovação, são apenas
teorias seguidas de outras teorias.
33

8 BIBLIOGRAFIA:

https://www.scielo.br/j/ciedu/a/wKp7wfgyxcfyxtPgGxDfSCc/?lang=pt 15/11 15:34

https://www.scielo.br/j/ea/a/7YByCSpwXRnY4tWxVK39bQB/?lang=pt 15/11 16:05

https://brasilescola.uol.com.br/geografia/conquista-do-espaco2.html 16/11 12:34

https://www.google.com/amp/s/m.brasilescola.uol.com.br/amp/geografia/terra-
planeta-vida.html 16/11 13:01

CADERNO DE FÍSICA DA UEFS 16 (02): 2601.1-6 2018, AQUI, LÁ E EM


QUALQUER LUGAR: AS POSSIBILIDADES DE VIDA FORA DA TERRA 16/11
15:09

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