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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 BIOLOGIA - CONCEITO DE VIDA ............................................................ 4

3 NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO BIOLÓGICA .................................................. 8

4 A HISTÓRIA DA BIOLOGIA...................................................................... 10

4.1 O começo da civilização fez começar a Ciência ................................ 10

4.2 A Ciência na Grécia............................................................................ 12

4.3 O rico Império Romano e a pouca Ciência ......................................... 14

4.4 A Biologia na Idade Média.................................................................. 15

5 AS CONCEPÇÕES MECANICISTAS E VITALISTAS DOS SERES VIVOS


...................................................................................................................17

6 AS PESQUISAS EXPERIMENTAIS NO SÉCULO XIX NA CONSTITUIÇÃO


DAS TEORIAS ESTRUTURANTES DA BIOLOGIA .................................................. 20

7 O PROCESSO DE DEFINIÇÃO: Determinismo X Indeterminismo ........... 31

8 REDUCIONISMO E HOLISMO: Diferentes perspectivas sobre o conceito


de Vida.................. .................................................................................................... 33

9 VIDA E SUA DEFINIÇÃO: Um processo ainda em construção ................ 35

9.1 Algumas interpretações e categorias históricas de Vida .................... 37

9.2 Vida a partir do princípio da Biossemiótica......................................... 38

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 39

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 BIOLOGIA - CONCEITO DE VIDA

Fonte:academia.edu

As opiniões dos biólogos abrangem todos os aspectos da vida, passado e


presente. O seu foco os leva dos átomos às relações globais entre os organismos
vivos e o meio ambiente. Para entender o foco do estudo da biologia — a vida —,
deve-se refletir sobre os diferentes níveis de organização da natureza (PEDROTTI,
2019).
Desde os primeiros tempos, nossos ancestrais olhavam ao redor e se
perguntavam sobre a origem da vida, o universo e tudo o que existe. No entanto, há
uma questão ainda mais simples e profunda: o que é vida? Por muito tempo, esse
tema não foi visto como preocupante ou científico. Os motivos para isso foram os mais
variados e se destacaram entre muitos (DIAS, 2021).
De acordo com Dias (2021), muitos cientistas acreditavam não existir
necessidade de conceituar vida para o desenvolvimento de suas pesquisas empíricas.
Segundo Mayr (1982), por exemplo, o reconhecimento de aspectos qualitativos ou
qualitativos é visto como algo não científico, meramente descritivo e classificatório, o
que evidencia a incapacidade de compreensão dos fenômenos biológicos.
Ainda que ainda não exista uma definição universal de “O que é a vida?
“Durante o século XIX o conceito de vida desenvolveu-se como um problema de cunho
científico. Com o advento da astrobiologia, a vida volta a ser objeto de estudo e agora
é a protagonista de um novo campo que não só é fascinante, mas também

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multidisciplinar. Além dessa área, reaparece o conceito de vida, que trabalha com
questões que, por serem extremamente subjetivas, muitas vezes fogem de uma
definição (DIAS, 2021).
Segundo Dias (2021), a Astrobiologia se preocupa e busca por respostas sobre
a origem, evolução e distribuição da Vida no Universo. Assim, considerando a
importância que o conceito sobre “O que é Vida?” possui, não apenas para a
Astrobiologia, mas para a própria Biologia Teórica e outras tantas áreas da Ciência da
Vida e Natureza, a abordagem desse tema pode ser visto como objeto
desfragmentador e integrador entre Ciência e a Filosofia.
A palavra biologia vem de bio, que significa "vida" e Logos, que significa
"estudo"; consequentemente, a biologia é o ramo da ciência que estuda os seres
vivos. Os seres vivos são definidos como organismos descendentes de um ancestral
comum, que surgiu há cerca de 3,5 milhões de anos. Devido à sua ancestralidade
comum, os organismos vivos compartilham muitas características, apesar de serem
incrivelmente variados. Mas, afinal, o que é vida? "Quais são as propriedades dos
seres vivos? “Porque os biólogos reconhecem a vida a partir das propriedades e
processos dos organismos vivos (DIAS, 2021).
Veja, a seguir, algumas propriedades e processos que estão associados à vida
segundo Sadava et al (2009) apud Dias (2021):

 Célula: todos os organismos vivos são constituídos por uma ou mais células.
Alguns organismos vivos são unicelulares e compostos por uma única célula
que executa todas as funções da vida, enquanto outros são multicelulares e
compostos por uma série de células especializadas que desempenham
diferentes funções.
 Adaptação evolutiva: os organismos vivos são geneticamente relacionados,
ou seja, possuem um ancestral comum. Essa é a teoria da evolução proposta
por Charles Darwin, segundo a qual os organismos têm a capacidade de
evoluir, ou seja, toda população de organismos possui variações genéticas. Por
meio da seleção natural, essas variações aumentam a probabilidade de um
organismo se adaptar a certas condições ambientais e sobreviver às
condições;

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 Regulação: os organismos vivos podem regular o seu ambiente interno, ou
seja, milhares de reações bioquímicas ocorrem dentro e entre as células, as
quais devem ser precisamente controladas para que essas células realizem de
maneira eficiente suas funções;
 Processamento de energia: os organismos vivos adquirem nutrientes a partir
do ambiente para fornecer energia e construir novas estruturas, ou seja,
alimentar-se fornece energia e nutrientes ao organismo, o que o mantém
organizado e funcionado. Distintos organismos conseguem energia de
diferentes fontes, e são considerados como produtores e consumidores. Os
produtores extraem energia do meio ambiente e produzem seus próprios
alimentos. As plantas, por exemplo, são um exemplo de produtor, pois
fotossintetizam a partir da energia solar para produzir açúcar, que é a fonte de
energia da planta (alimento). Os consumidores obtêm energia e nutrientes
alimentando-se de outros organismos; um exemplo são os gafanhotos que
comem folhas;
 Resposta ao ambiente: capacidade de reagir de acordo com as condições do
meio em que o organismo vivo está inserido. Os organismos interagem
continuamente e de muitas formas diferentes. Existem interações com fatores
ambientais (incluindo solo, temperatura, umidade) e interações entre
organismos da mesma espécie (da mesma) ou entre organismos de espécies
diferentes;
 Crescimento, desenvolvimento e reprodução: os organismos vivos contêm
informações genéticas para se reproduzir e perpetuar a própria espécie, e a
informação genética herdada controla o padrão de crescimento de
desenvolvimento de cada organismo vivo. Assim, o DNA é considerado a
molécula característica da vida, pois é a base para o crescimento,
sobrevivência e reprodução de todos os organismos vivos. A reprodução se
refere aos mecanismos pelos quais os pais passam o DNA para seus filhos,
que contém as informações que direcionam o crescimento e o desenvolvimento
do organismo;
Para a biologia, essas são as propriedades que todos os organismos vivos têm
em comum. Portanto, com cada organismo recém-descoberto, essas propriedades

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são avaliadas a fim de compreender a vida desse organismo. No entanto, algumas
formas de vida podem não ter tudo isso. Propriedades e processos ao mesmo tempo.

Por exemplo, os vírus, embora não tenham células, provavelmente evoluíram


de organismos celulares e são considerados organismos vivos por muitos
biólogos (SADAVA et al., 2009 apud DIAS, 2021).

Temas unificadores do estudo da vida A biologia é um tema extremamente


amplo, de modo que, diariamente, novas descobertas biológicas são realizadas.
Assim, as informações relacionadas ao estudo da vida devem ser ordenadas e
concentradas de forma acessível em poucos e importantes tópicos. A partir disso,
cinco tópicos de conexão foram definidos (REECE et al., 2015):
 organização;
 informação;
 energia e matéria;
 interações;
 evolução.
O tema organizacional consiste em uma organização hierárquica em níveis, e
em cada nível é possível estudar a vida em grande escala (biosfera, ecossistema,
comunidade, população, organismo, órgãos / sistema orgânico) ou em microescala
(tecidos, células), organelas e átomos), observando a relação e interação entre os
níveis individuais. A informação demonstra que os processos da vida envolvem a
expressão e a transmissão de informação genética. A informação genética é
codificada nas sequências de nucleotídeos do DNA, com a informação herdada sendo
passada de pais para filhos. Sequências de DNA chamadas de genes projetam a
produção de proteínas em uma célula, que são então traduzidas em proteínas
específicas em um processo denominado expressão gênica (DIAS, 2021)
Segundo Dias (2021) energia e matéria como um tema demonstram que a vida
requer a transferência e transformação de energia e matéria. Todos os organismos
têm que desempenhar funções que requerem energia. Por exemplo, os produtores
convertem energia solar em energia química, parte da qual é repassada aos
consumidores. Os compostos químicos circulam entre os organismos e o meio
ambiente, fazendo com que a energia flua através do ecossistema.
As interações como um tópico de conexão são de fundamental importância
para os sistemas biológicos, uma vez que os organismos interagem constantemente
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com os fatores físicos. Por exemplo, as plantas absorvem nutrientes do solo e
compostos químicos do ar e usam energia solar enquanto os organismos interagem
uns com os outros, uma interação que pode ocorrer entre membros da mesma espécie
ou entre membros de espécies diferentes. A evolução é o tema central da biologia, a
qual consiste nos processos de mudanças que têm transformado a vida na Terra. É
responsável pela uniformidade e a diversidade da vida, além de explicar as
adaptações evolutivas e o ajuste de organismos aos seus ambientes (DIAS, 2021).

As descobertas biológicas sobre os organismos vivos também podem ser


generalizadas, uma vez que toda avida está relacionada a descendentes
provenientes de um ancestral comum, de modo que o conhecimento obtido a
partir de investigações de um tipo de organismo, às vezes, pode ser
generalizado para outros organismos. Dessa forma, os biólogos podem usar
sistemas de pesquisa modelo, pois suas descobertas podem ser transferidas
para outros organismos (SADAVA et al., 2009 apud DIAS, 2021).

3 NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO BIOLÓGICA

Fonte: biologia.seed

Incluso aos temas unificadores da biologia, a organização aparece como o item


principal. Na imagem, podemos observar a hierarquia da vida, que ocorre na seguinte
ordem (organização): biosfera → ecossistema → comunidade → população →
organismo → sistema de órgãos/órgão → tecido → célula → organela → molécula →
átomo.

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Com um pouco mais de detalhes sobre os níveis de organização biológica, a
biosfera, por ser o nível mais abrangente, abrange todas as regiões continentais,
oceânicas e atmosféricas e é constituída pelos diversos ecossistemas de nosso
planeta. O ecossistema consiste em uma comunidade que interage com o ambiente
físico e químico. Uma comunidade é composta por todas as populações de todas as
espécies em uma determinada área; cada população é composta por um grupo de
indivíduos do mesmo tipo de organismo ou espécie que vivem em uma determinada
área (DIAS, 2021).

Um organismo é um indivíduo constituído por uma ou mais células. A célula


é a unidade básica estrutural e funcional da vida e, dependendo de sua
função, pode conter várias organelas. Organelas são componentes
funcionais de uma célula e consistem em diferentes moléculas que são
formadas pela união de átomos. Os átomos são estruturas básicas de todas
as substâncias (vivas e não vivas) (SADAVA et al., 2009; EVERS et al., 2011
apud DIAS, 2021).

A partir dessa organização, os conceitos biológicos podem ser reduzidos a


componentes mais simples e mais facilmente investigados (reducionismo), mas ao
olhar a imagem do átomo para a biosfera, podem ser demonstradas novas
propriedades que antes estavam ausentes na biosfera. As propriedades resultam das
interações entre os componentes dos níveis anteriores. As moléculas, por exemplo,
não vivem quando vistas separadamente, mas em certa quantidade e organização
formam uma célula viva. Por conseguinte, a vida (uma propriedade emergente)
aparece no nível celular, mas não nos níveis baixos da organização da natureza
(DIAS, 2021).

Portanto, para aprofundar o conhecimento das propriedades emergentes, os


biólogos complementam o reducionismo com a biologia de sistemas, que
consiste em estudar um sistema biológico a partir da análise das interações
entre seus componentes (SADAVA et al., 2009; REECE et al., 2015 apud
DIAS, 2021).

Em cada nível da hierarquia, é possível identificar uma correlação entre


estrutura e função: o estudo de uma estrutura biológica permite destacar o que ela faz
e como funciona, assim como o estudo da função de uma estrutura biológica. A célula
é a menor unidade organizacional capaz de realizar todas as atividades necessárias
à vida. Todas as células compartilham certas características, por exemplo, todas as
células são circundadas por uma membrana plasmática, que regula a passagem de

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substâncias entre a célula e ambiente, mas existem dois tipos principais de células:
procariotas e eucariotas (DIAS, 2021).
As organelas das células eucarióticas são envoltas por membrana, e algumas
organelas, como o núcleo, são encontradas em células de todos os eucariotos. No
entanto, algumas organelas são específicas de grupos celulares distintos (p. ex., o
cloroplasto é encontrado apenas em células com capacidade fotossintetizante). As
células procarióticas não possuem o núcleo ou outras organelas envoltas por
membrana. Outra diferença é com relação ao tamanho das células: células
procarióticas são geralmente menores do que as células eucarióticas (SADAVA et al.,
2009; REECE et al., 2015 apud DIAS, 2021).

4 A HISTÓRIA DA BIOLOGIA

Fonte: historiadomundo.com

4.1 O começo da civilização fez começar a Ciência

A civilização ocidental começou no Oriente Médio com os povos da


Mesopotâmia e do Egito. Na Mesopotâmia, os sumérios realizaram pesquisas sobre
hormônios, tecidos e anatomia, e compararam animais de diferentes espécies;
remédios manufaturados com alho, canela, azeitonas e várias outras ervas; e também
desenvolveram técnicas de tratamento de feridas causadas por soldados em combate
e até de problemas dentários (ARAÚJO et al, 2012).

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Segundo Araújo (2012) no Egito, terra dos faraós e das pirâmides, o
conhecimento da anatomia possibilitou a confecção de múmias que ainda hoje
existem, bem como os avanços da medicina que possibilitaram o tratamento de
fraturas, a construção de próteses e a realização de operações, para remover
tumores, circuncisões, amputações e trepanações possíveis. Foram os egípcios que
fizeram a primeira classificação anatômica do corpo humano, dividindo-o em cabeça,
tronco e membros.
Foi desenvolvida por chineses no Oriente, estudos sobre plantas, animais,
saúde e doença humana. A teoria Yin Yang surgiu da visão do mundo, natureza, vida,
saúde e doença. Os dois termos representam uma visão dualística do universo em
que Yin incluiria as condições da mulher, escuridão, frio, flexibilidade, terra e vazio.
Enquanto em Yang seria masculino, claro, quente, rígido, celestial e pleno. Além
disso, os seres vivos e outros elementos e estruturas que compõem o universo seriam
reunidos de acordo com alterações do yinyang, que inclui cinco estágios em um ciclo
de mudança: água, fogo, metal, madeira e terra. Para os chineses, o estágio em que
um organismo se encontra explicaria sua forma, função e estado de saúde. Um
exemplo de ideia resultada dessa teoria foi a explicação de que a função cardíaca
está relacionada ao pulso e ao fluxo sanguíneo contínuo no corpo (ARAÚJO et al,
2012).
Este conceito não foi adotado na ciência ocidental até o século XVII. Outra
região com importante desenvolvimento no leste foi a Índia. Na região do Indo
floresceu entre 2700 e 1500 AC. Uma civilização. C., e parte do conhecimento
adquirido naquela época agora se encontra nos livros védicos, no conteúdo desses
livros há referências ao conhecimento da ciência da vida, incluindo a medicina. De
acordo com esse conhecimento, o corpo consiste em cinco elementos (vento, terra,
fogo, água e vazio), e saúde, doença e funções fisiológicas são explicadas pela
combinação dos três humores ativos (vento, bile e fleuma) em harmonia com sangue.
Além disso, os seres vivos são divididos em quatro categorias das quais nascem
(útero, ovo, calor e umidade, semente) (ARAÚJO et al, 2012).

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4.2 A Ciência na Grécia

A cultura ocidental é aprimorada na ciência desenvolvido na Grécia antiga.


Muitos foram os estudiosos da época, também chamados de filósofos, que tiveram
ideias para explicar os seres, elementos e fenômenos que compunham o universo.
Essa é a única maneira de manter algumas das ideias daquele dia. A primeira
explicação da constituição do universo foi dada por Tales de Mileto (c. 625547 a C), o
filósofo responsável pelo teorema da matemática de Tales e o primeiro a estudar as
coisas da matemática. Isso sugeria a água como o elemento que compõe todos os
seres e estruturas do universo. Posteriormente, Anaxímenes (fl. 546/545 a.C.) propôs
que o elemento básico seria o ar, explicando que a água resultava da condensação,
enquanto que o fogo surgia quando o ar era aquecido. Xenophane von Kolophon
(576490 a.C. Heráclito de Éfeso (556/469 a.C.) sugeriu que o fogo era o elemento
fundamental do universo e, com base nessa ideia, quando adoeceu e desenvolveu
edema, decidiu ser enterrado até o pescoço em esterco de vaca ficar para que o calor
gerado evaporasse o excesso de água em seu corpo e ele fosse curado. Obviamente
ele morreu nesta situação (ARAÚJO et al, 2012).
De acordo com Araújo (2012) uma proposta que perdurou até o Renascimento
foi apresentada por Empédocles de Agrigento (c. 492/432 a C), que propôs o ar, a
terra, o fogo e a água como elementos do universo. Nos fragmentos dos seus dois
livros que sobreviveram, sobre a Natureza e Purificações, esse filósofo também
sugeriu que, embora os primeiros seres fossem originados da Terra, os seres atuais
seriam resultantes de um processo de seleção daqueles que tinham mais coragem,
capacidade ou velocidade para se blindar, preservar e reproduzir. Ele também
acreditava que os embriões seriam parte do pai e da mãe, mas que a prole masculina
se desenvolveria na parte mais quente do útero e teria uma proporção de calor mais
alta do que as fêmeas.
O atomista Demócrito de Abdera (ca. 460-370 a.C), discípulo do criador da
teoria dos átomos, Leucipo de Mileto (fl. ca. 430 a.C.), criou essa teoria para elucidar
a existência do Universo, dos seres vivos e de suas interações. Tendo sido um dos
escritores mais fecundos da Antiguidade, ele lançou ideias de que todos os animais
teriam órgãos dos sentidos que se desenvolviam antes do aparelho digestivo, e que
na respiração, inalar era absorver átomos, e exalar era expulsá-los. Para elucidar a

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natureza das coisas vivas, Demócrito realizou a dissecação de vários animais. Além
disso, estabeleceu a prática posteriormente utilizada por Aristóteles (384/322 a. C
Chegou a realizar vários estudos sobre anatomia, reprodução, embriologia, febre e
doenças respiratórias, e também via o cérebro como um órgão do pensamento, ideia
que foi posteriormente adotada por Aristóteles (que fez o cérebro ser considerado o
refrigerador do sangue) foi questionado (ARAÚJO et al, 2012).
Um contemporâneo muito famoso de Demócrito foi Hipócrates de Kos
(aproximadamente 460/361 a C), que é conhecido hoje como o pai da medicina.
Baseado nas ideias de Demócrito, Hipócrates criou a teoria de que saúde e doença
eram relacionadas aos quatro elementos (terra). Assim como o universo, o corpo
humano consistiria nos quatro elementos conexos aos quatro humores (bile negra,
bile amarela, fleuma e sangue) e às quatro qualidades (quente, frio), úmido e seco).
As características individuais dependem das proporções de cada um desses fatores
e determinam o temperamento característico que cada pessoa possui (melancólico,
colérico, sanguíneo e fleumático). Segundo essa teoria, a saúde do indivíduo
dependia do equilíbrio entre os fluidos corporais, o que levou à definição de técnicas
ainda hoje utilizadas na medicina: sangramento, desintoxicação e controle da dieta
(ARAÚJO et al, 2012).
Ainda segundo Araújo (2012) um filósofo importante até hoje foi Platão
(429/347 a C). Platão foi aluno de Sócrates (470/399 a C), que fundou uma escola que
formou muitos filósofos, inclusive Aristóteles, respeitado por muitos como o pai da
Biologia. De acordo com sua maneira de pensar, Platão considerava que a explicação
dos fenômenos naturais deveria ser feita a partir da razão pura e não por meio da
observação direta da natureza. A cabeça era a primeira parte do corpo que se formava
porque era quase esférica e servia como órgão da alma imortal, o apetite do fígado.
Em uma conclusão que contradiz a teoria evolucionária atual, ele sugeriu que
as espécies animais seriam o resultado de degenerações que ocorrem nos humanos.
Seu aluno Aristóteles discordou de muitas de suas idéias, como você verá na próxima
lição. Uma importante cidade da Antiguidade foi Alexandria, fundada no Egito por
Alexandre, o Grande (356-323 a.C.) e reconhecida pela relevância da sua gigantesca
biblioteca. Dois importantes cientistas que atuaram nessa cidade foram Herófilo (ca.
330-260 a.C.) e Erasístrato (ca. 310-250 a.C.). Embora seus escritos não tenham
sobrevivido, eles se tornaram anatomistas conhecidos a partir das críticas severas dos

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seus inimigos, tendo em vista terem efetuado várias vivissecções em seres humanos
Através das operações, Herófilo foi capaz de observar as conexões do sistema
nervoso central entre o cérebro, medula espinhal e nervos, distinguir nervos de
tendões, descrever o sistema digestivo, distinguir artérias de veias de pulsações e
posicionar o cérebro como um centro de inteligência (ARAÚJO et al, 2012).
Embora não tivesse rejeitado a teoria humoral de Hipócrates, ele considerava
que a vida era guiada por quatro fatores: nutrição (fígado e órgãos digestivos), poder
aquecedor (coração), sensibilidade e percepção (nervos) e força racional (cérebro).
Por sua vez, Erasístrato dirigiu seus estudos com o objetivo de explicar e tratar
doenças, inclusive usando torniquetes para diminuir a nutrição dos tecidos afetados,
e procurou preveni-los com medicamentos e higiene. Ele descreveu o fígado, a
vesícula e o coração, inclusive suas valvas, sugerindo a sua ação como bomba.
Quando descobriu que estava com um câncer, resolveu se suicidar (ARAÚJO et al,
2012).

4.3 O rico Império Romano e a pouca Ciência

Os romanos são até hoje cultuados pela sua competência em lidar com
agricultura, engenharia, saneamento, higiene, administração e, principalmente, com
as guerras. O mesmo não pode ser feito para suas contribuições para a Biologia. No
entanto, é possível destacar alguns, como Lucrécio (9944 a C (2379 d C) que escreveu
o Compêndio de História Natural, uma obra que trata de observações sobre o céu e a
terra, geografia, etnografia, história natural, história animal, terra, A silvicultura, a
horticultura e a produção de vinho, azeite e medicamentos foi mantida como referência
até ao século XVI (ARAÚJO et al, 2012).
Segundo Araújo (2012), um importante texto (Sobre a Matéria Médica) foi
escrito por Dioscórides (aprox. 4090), que descreveu cerca de 500 plantas, além de
medicamentos obtidos de plantas, animais e minerais. Claudio Galeno (aprox.
130/210 DC) foi um importante médico romano cujas idéias existiram até o século XIX
como referência para a prática médica do galenismo, que durou até o século XVII.
Partindo da ideia de Platão da existência de uma alma tripartida (nutriente, animal e
razão), Galeno define que o corpo humano está organizado para utilizar o pneuma
(ar) que seria o gerador da vida.

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Com base nessa ideia, ele descobriu que o fígado processa o pneuma para
formar o espírito natural e o distribui pelas veias para nutrir e fazer crescer o corpo; o
coração era responsável por coordenar os movimentos e distribuir o espírito da vida
pelas artérias para aquecer e revigorar o corpo; o cérebro formou o espírito animal,
que se distribuiu pelos nervos para possibilitar as sensações e o movimento muscular.
Embora suas concepções fossem aceitas por muito tempo, algumas delas continham
falhas que foram reconhecidas posteriormente. Vários desses erros foram registrados
nos dados de consequências anatômicas como resultado de suas conclusões de
dissecação em animais, e não em humanos (ARAÚJO et al, 2012).

4.4 A Biologia na Idade Média

Galeno foi um cientista importante no Império Romano, não teve ninguém


comparável a ele na Idade Média. Dadas as barreiras de acesso aos livros pagãos,
incluindo as obras de pensadores gregos e romanos, o progresso do cristianismo é
uma das razões para essa situação. Aqueles estudiosos que insistiam em continuar
com aquelas obras foram exilados, levando-as consigo e deixando a pobreza cultural
em seu lugar (ARAÚJO et al, 2012).
Segundo Araújo (2012) o conhecimento transmitido naquela época era limitado
e regulado por dogmas e convenções religiosas. Uma questão que surge nessa
situação é, se os escritos de autores pagãos foram eliminados, então como é possível
encontrar textos de pensadores como Platão, Aristóteles e Hipócrates hoje? Isso foi
possível porque as obras de autores rejeitados na Europa foram preservadas pelos
árabes, que as tinham como referências de seu conhecimento. Um grande evento na
Idade Média foi o surgimento das universidades no século XI, com a Universidade de
Bolonha (fundada na Itália em 1088 e ainda em funcionamento) sendo a primeira a
ser estabelecida.
A criação das universidades permitiu a introdução da educação formal com
currículos padronizados e aulas dirigidas a grandes grupos de alunos que, embora
vindos de diferentes regiões e falando diferentes línguas, estudavam latim, língua que
permaneceu por muito tempo como aquele com quem todos os textos foram escritos.
O currículo consistia nas sete artes liberais: Gramática, Retórica, Aritmética,
Geometria, Astronomia e Música. No final da Idade Média, o número de universidades

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europeias já estava em 80, e os currículos já começavam a incluir outras disciplinas
(ARAÚJO et al, 2012).
Um estudioso importante desse período foi o professor da Universidade de
Paris e frade dominicano Tomás de Aquino (1225-1274), posteriormente santificado
pelo Vaticano, que resgatou a obra de Aristóteles ao promover uma síntese entre a
doutrina cristã e o pensamento aristotélico. A interpretação dos trabalhos de
Aristóteles foi a referência usada por Alberto Magno (ca. 1200-1280), também
professor na Universidade de Paris e dominicano, nos seus estudos sobre a natureza.
Reconhecido como o Médico Universal, ele descreveu várias espécies de plantas e
foi possivelmente o primeiro a produzir arsênico, mais conhecido por suas publicações
sobre minerais, vegetais e plantas e animais (ARAÚJO et al, 2012).
De acordo com Araújo (2012) Roger Bacon (1214-1292), um franciscano que
estudou nas universidades de Paris e Oxford e ficou conhecido como Doutor
Maravilhoso é hoje considerado como o primeiro cientista moderno. Ele considerava
que a Ciência experimental era compatível com a Filosofia, a Metafísica e a religião.
Uma de suas visões, que ainda é válida, é a existência de quatro obstáculos que
impedem a realização da verdade das coisas: autoridade fraca e incompetente, velhos
hábitos, opinião popular analfabeta e encobrir a ignorância com uma aparência de
sabedoria. Hildegard de Bingen (1098-1179) foi uma das poucas medievais que
conseguiu ultrapassar a barreira que impedia as mulheres de atuar nas universidades.
O Livro da Medicina simples foi possivelmente o primeiro livro escrito por uma
mulher que incluiu as propriedades terapêuticas de plantas, animais e metais. Embora
as idéias de sua época fossem de que os problemas de saúde mental eram o resultado
de possessão demoníaca, Hildegard sugeriu que esses problemas eram o resultado
de causas naturais, o que agora está sendo confirmado. Ao contrário dos europeus,
que só aceitaram o conhecimento dos gregos após a intervenção de Tomás de
Aquino, os árabes recorreram a uma enorme quantidade de material de gregos,
romanos, persas e índios, que fizeram muito antes de um dos mais importantes
estudiosos. Um desses tempos europeus foi o médico Abu Bakr Mohamed Ibn
Zakariya alRazi (865/923), conhecido no oeste medieval como Razes, que escreveu
200 obras sobre medicina e filosofia. Uma delas foi o livro Sobre a varíola e o sarampo,
obra que caracterizou as duas doenças, confirmando sobre terapias e diagnósticos.
Uma característica desse estudioso era a sua visão crítica da Ciência, ao julgá-la

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como sempre sujeita ao progresso, o que fazia com que os conhecimentos anteriores
fossem sempre passíveis de revisão. Nesse sentido, uma obra interessante que ele
publicou foi o livro Dúvidas em relação a Galeno (ARAÚJO et al, 2012).

Classificado como "Galeno islâmico", Abu Ali Hysayn ibn Abullah ibn Sina
(9801037), conhecido no Ocidente como Avicena, escreveu o cânone da
medicina que por muito tempo foi uma referência para a medicina islâmica e
europeia até a gênese de Outro Notável Islâmico O médico foi AlaalDin Abu
alHasan Ali Ibn Abi alHazm al Qarshi alDimashqi (conhecido como Ibn
AlNafis) (12131288) que escreveu o Livro Geral de Medicina que compilou
em 80 volumes os 300 volumes de notas que ele possuía.

Sua descrição da circulação pulmonar, também conhecida como pequena


circulação, mostrou que Galeno estava errado ao afirmar que o sangue flui pelo septo
cardíaco da direita para a esquerda que separa os ventrículos e antecipa a descrição
dos europeus Servet e Colombo em três séculos (ARAÚJO et al, 2012).

5 AS CONCEPÇÕES MECANICISTAS E VITALISTAS DOS SERES VIVOS

Fonte: oficina-de-filosofia

No século XIX, os conceitos mecanicistas da pesquisa biológica dos séculos


XVII e XVIII não são mais suficientes para explicar o que é a vida, porque o mundo da
matéria inerte e mecânica pode produzir a única capacidade da vida: redistribuir-se
pelo espaço. Na biologia, existe um novo princípio de organização da atividade, que
é qualitativamente diferente do princípio da matéria morta, pois, por não haver

17
diferença qualitativa no campo da matéria, ela não pode produzir tais características
especiais (JUNIOR et al, 2016).
Segundo Júnior (2016), a teoria da evolução só surgiu quando alguns
pensadores tentaram utilizar um novo modelo de mundo profundamente influenciado
pelo desenvolvimento e pensamento propositivo de Hegel. Collingwood (1986) ainda
estudou que, no mesmo período, o pensamento hegeliano acarretou uma nova
probabilidade para a visão de mundo dos pensadores naturais. Hegel acreditava que
a natureza é governada por leis vagas, porque não descrevem com precisão o
comportamento de cada indivíduo isolado, mas sim uma tendência geral. Isso ocorre
porque sempre há um potencial na natureza que não pode ser totalmente realizado.
O pensamento de Hegel introduziu o pensamento do propósito interno natural
relacionado à transformação, mudança e progresso. A natureza é uma tendência que
flui de dentro para o espírito, é real em si mesma, mas é temporária. Esta visão
histórica da natureza, vida e espírito humano introduziu novos conceitos na
cosmologia do século XIX e apontou para um tipo de ciência natural e natural que não
é mais como a física mecânica do século XVIII, mas como a biologia evolutiva do neste
século. Visão da vida (JUNIOR et al., 2016).

Para Hegel, a natureza era vista não como um mecanismo e sim como um
movimento em que o mecanismo era um dos elementos constitutivos, cujas
leis são as mesmas que as leis do espírito e fazendo parte deste. Seu sistema
está desenvolvido na Fenomenologia do Espírito. Com a ascensão da
abordagem física sobre os seres vivos no início do século XIX os naturalistas
lançaram um novo olhar sobre a natureza da vida e tentaram propor
argumentos científicos contra a teoria de Descartes sobre os organismos,
para tanto se utilizam de argumentos vitalistas (MAYR, 2008 apud JUNIOR
et al, 2016).

A teoria da vitalidade apareceu no século XVII. Era uma resistência à filosofia


mecânica de Descartes e ao fisicalismo proposto por Galileu e Newton para explicar
a vida. Os vigoristas têm uma variedade de explicações. Por exemplo, um grupo de
vitalistas entende que a vida está relacionada a uma substância especial que não
pode ser encontrada na matéria inanimada, ou está relacionada a um estado especial
da matéria, o que indica que não é adequada para explicações físicas e químicas;
outro grupo de teorias da vitalidade O autor insiste na existência de uma força especial
diferente da física. Existem múltiplas opiniões sobre a natureza de tais forças (JUNIOR
et al., 2016).

18
Na Inglaterra todos os fisiologistas dos séculos XVI, XVII e XVIII tinham ideias
vitalistas, sendo tal movimento vicejante até o período de 1800 a 1840. Na
França os principais representantes foram a Escola de Montpellier, o
histologista Bichat e, até mesmo Claude Bernard, que se considerava
adversário do vitalismo acabou apoiando noções vitalistas. As filosofias
práticas de biólogos, tais como Wolff, Blumenbach e Müller, também eram
antifisicalistas (MAYR, 2008 apud JUNIOR et al, 2016).

A interpretação da teoria da vida perdurou por muito tempo, talvez, segundo o


autor aqui, porque naquela época não havia escolha a não ser reduzir a vida como
máquina. A primeira substância orgânica produzida artificialmente por Wöhler em
1828 provou fortemente a tese de que os vitalistas distinguem vivos e não vivos. O
último suporte para a vitalidade na biologia ocorreu em 1930. Vários fatores levaram
à perda de seu status, principalmente no século XX (JUNIOR et al., 2016). Radl (1988)
apud Júnior (2016) acredita que a ciência biológica moderna nasceu por volta da
primeira metade do século XIX, quando a metafísica da filosofia naturalista começou
a se depreciar. Nesse período, seu autor principal não estava mais no palco europeu.
Não é que todas as suas obras tenham sido abandonadas, mas a visão romântica e
vibrante da natureza e da vida por trás delas. O tempo passou a exigir uma
compreensão diferente do mundo que deixava de ser romântico, o materialismo
passou a predominar, mas, ao contrário do século XVIII, agora estava voltado para a
vida.

Todavia, a filosofia naturalista não desapareceu, pois ela, para o autor,


responde a uma necessidade essencial do homem, e não morre nunca. Cabe
ressaltar que, principalmente no início do século, o pensamento biológico não
se reduzia a um conjunto bem delimitado de ideias. Ao mesmo tempo em que
se desenvolviam novas frentes de estudo e novas técnicas, como também se
alterava a estrutura do fazer científico, questões de caráter filosófico eram
inseparáveis da investigação biológica (FREZZATTI Jr., 2003), como é
possível perceber com a teoria celular que se formula neste século (TEULÓN,
1982 apud JUNIOR et al, 2016).

O século XIX consistiu principalmente em discussões entre mecanicistas e


vitalistas que duraram até as primeiras décadas do século XX. Inorgânicos e
discussões sobre do que é feita a vida (JUNIOR et al, 2016).
Não havia consenso sobre o caráter da vida, havia um acalorado debate entre
diferentes correntes para definir tal fenômeno. Vitalistas, mecanicistas, químicos e
outros negaram o estado dos processos orgânicos. Eles foram reduzidos a leis
mecânicas ou físico-químicas, ou tinham leis específicas? Também por quem utilizou
métodos de pesquisa físico-química. Olhar para este século é um desafio, pois as
19
diferentes posições teóricas dos diferentes biólogos e filósofos envolvidos foram
(FREZZATTI Jr., 2003 apud JUNIOR et al, 2016).

6 AS PESQUISAS EXPERIMENTAIS NO SÉCULO XIX NA CONSTITUIÇÃO DAS


TEORIAS ESTRUTURANTES DA BIOLOGIA

Fonte: clickestudante.com

Ao longo dos últimos séculos, as práticas experimentais para a compreensão


dos fenômenos naturais foram gradualmente fortalecidas. Na primeira metade do
século XIX, portanto, iniciou-se uma preocupação geral com as diretrizes
estabelecidas pelos experimentadores para garantir os resultados dessas simulações
experimentais. No final do século XVIII, Cuvier rejeitou o microscópio, assim como
Bichat, porque para ele oferecia visões distorcidas dos objetos, pois os microscópios
da época ainda eram bastante rudimentares. Mas já em 1807 era possível usar
ampliações de 180 a 400 diâmetros. Em 1837, Meyer ampliou os órgãos das plantas
500 vezes e a partir de 1840 o microscópio tornou-se mais comum (RADL, 1988 apud
JUNIOR et al, 2016). John Herschel foi um dos pioneiros na busca de um método
adequado para a ciência em 1830. Para ele, tudo começa com a descoberta das leis
da natureza. Daí a incorporação dessas leis nas teorias por generalização indutiva ou
a criação de hipóteses que as conectem. A biologia experimental surgiu da aplicação
de tais procedimentos em diferentes ramos das ciências da vida (JUNIOR et al, 2016).

20
Durante o século XIX a descoberta do princípio da conservação de energia
nos sistemas físicos e químicos estimulou diversos pesquisadores a
avançarem esses estudos nas ciências da vida como Carl Voit (1831-1908),
Max von Pettenkofer (1818-1901) e Max Rubner (1854-1932), e outros
(HADDAD JÚNIOR, 2007 apud JUNIOR et al, 2016).

Histologia foi nomeada em 1819 pelo pai de August Karl Mayer (1787-1865)
em homenagem à Anatomia Geral de Bichat, uma ciência que descreve o tecido
animal e vegetal. Foi também durante este período que a fisiologia e a farmacologia
contemporâneas foram moldadas. Ele foi Magendie, um dos primeiros grandes
fisiologistas, autor do Elementary Compendium of Physiology, 1816 (MAGENDIE,
1824), e um dos precursores do experimentalismo moderno (SENET, 1956). Efeitos
de várias substâncias (morfina, emetina) nos animais. Estricnina, veratrina, etc.) e
publicou a coleção de fórmulas para a fabricação e uso de vários novos medicamentos
no início do século XIX (JUNIOR et al, 2016).
No entanto, como cita Garret (1988), o primeiro Instituto de Farmacologia foi
criado em Giessen, em 1844, por Philip Phoebus. Rudolf Buchheim, seu sucessor, é
amplamente considerado o verdadeiro iniciador da farmacologia moderna. Sob sua
liderança, ele estudou Oswald Schmiedberg, que publicou o primeiro jornal de
farmacologia experimental. Os seus trabalhos foram muito importantes assim como
seu Instituto em Estrasburgo. Podemos dizer que a primeira geração de
farmacologistas europeus e americanos tem suas raízes em Estrasburgo; por outro
lado, Claude Bernard (1813 - 1878), o discípulo mais importante de Magendie, foi o
primeiro a usar substâncias farmacologicamente ativas, como o curare, para estudar
os mecanismos biológicos, seus estudos se tornaram clássicos (JUNIOR et al, 2016).

Este pesquisador é de extrema relevância para o nascimento da fisiologia


experimental contemporânea tendo, em 1865, publicado o livro Introdução ao
Estudo da Medicina Experimental, o qual lançou as bases metodológicas da
nova fisiologia experimental, concentrando-se na autonomia da fisiologia e na
importância da experimentação (ROMO, 2007 apud JUNIOR et al, 2016).

O fisiologista necessitaria atentar primordialmente com fenômenos fisiológicos


por natureza. Bernard também formulou a ideia unificadora da fisiologia moderna: a
teoria do meio interno. Este meio refere-se ao fluido entre as células, o líquido
intersticial. A fisiologia seria entendida como o conjunto de operações realizadas pelo
organismo cujo propósito é a manutenção do equilíbrio do meio interno. Conforme
discute Canguilhem (1977), Claude Bernard considerava os fenômenos vitais como

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resultantes unicamente de causas físico-químicas. Por outro lado, ele também
confirmou que o organismo se desenvolve de acordo com um projeto, um plano de
ordem, uma regularidade, cuja organização leva ao seu equilíbrio interno (JUNIOR et
al, 2016).
Segundo Júnior (2016) na realidade, a fisiologia se apresentava como uma
ciência pouco darwiniana, com procedimentos “a priori” feitos em laboratório, com
preocupações pouco ligadas às flutuações populacionais tal como as questões
darwinistas, muito mais voltados para a determinação das constantes funcionais dos
organismos. Neste caso a teoria cartesiana estava, fortemente, presente. Por outro
lado, Johannes Müller (1801-1858), autor de Elementos de Fisiologia (1843),
reconhecido pela configuração inicial da fisiologia alemã, era contrário à viviceração e
preconizava a observação.

Seus discípulos também fizeram fundamentais contribuições para a fisiologia,


a principal delas foi a Teoria Celular de Schleiden (1804-1881) e Schwann
(1810-1882). Outros dois alunos de Müller, Emil du Bois-Reymond (1818-
1896) e Hermann von Helmholtz (1821-1894), obtiveram um grande avanço
na eletrofisiologia medindo a velocidade de condução de um potencial de
ação no nervo (GONZÁLES, 1998 apud JUNIOR et al, 2016).

O cenário histórico prévio à formação da teoria celular se inicia no século XVII


com as observações de Hooke e nos séculos posteriores com a reunião de um grande
número de informações e observações imprecisas e que aludiam vagamente a
entidades biológicas que tinham a natureza ainda em discussão. O conceito de célula
ainda era aplicado pelos botânicos e zoólogos longe de ser unívoco (RECIO, 1990).
Ele era percebido ora como um ente real, ora uma mera cavidade oca (JUNIOR et al,
2016).
Segundo Júnior (2016), no início do século XIX, com o avanço dos estudos
microscópicos, células sanguíneas e vesículas foram cada vez mais observadas,
buscando assim uma articulação com a teoria das fibras, pois mesmo que seja
provável que as células, elas foram estudadas sob a égide da fibra. Dento desta
expectativa, houve algumas tentativas para modelar a organização das unidades
básicas (fibras) do organismo. Berg propõe o que chamou de teoria de fileira de
contas. Podem ser citados nesse contexto também Prevost e Dumas, Home e
Heusinger, sobretudo Milne Edwards y a Hempel em sua obra de 1819 Einleitung in
die Physiologie des menschlichen Organismen.

22
Sendo assim, a teoria celular elaborada por Schleiden e Schwann surge num
cenário que possuía investigações longas e diversas realizadas por uma
tradição de investigação microscópica em torno da estrutura orgânica e a
natureza do organismo, mas também com a existência de conclusões
altamente especulativas dos filósofos naturais. Até 1830 essas tendências se
mesclavam (RECIO, 1990 apud JUNIOR et al, 2016).

O trabalho de Schleiden sobre fitogênese de 1838 e posteriormente (1839)


publicado trabalho de Schwann, que estendeu a pesquisa de Schleiden aos animais,
teve grande mérito: eles sistematizaram testes teóricos e separaram observações e
dúvidas especulativas que se espalharam na anatomia até aquele ponto e na fisiologia
vegetal, conseguiram, assim, uma linguagem teórica uniforme, a representação de
observações reproduzíveis e, sobretudo, a possibilidade de submeter o grande
repertório de formas orgânicas e operações fisiológicas a unidades estruturais e
funcionais celulares. A ideia de célula permitiu unificar todos os seres vivos. Estas
foram as maiores consequências que puderam ser notadas a partir de 1839 (JUNIOR
et al, 2016).

Mas é sabido que a teoria celular de Schleiden-Schwann sofreu correções


desde sua formulação (RECIO, 1990). Schleiden e Schwann rechaçavam a
ideia vitalista que o seu próprio mestre Müller defendia, porém cada um a
partir de um ponto de vista distinto. Schwann defendia a unificação fisiológica
propondo-se medir as propriedades fisiológicas do órgão a partir da
mensuração física, tendo como hipótese a possibilidade da unificação da
natureza por meio das leis (RECIO, 1990 apud JUNIOR et al, 2016).

Sua posição filosófica era a de um racionalismo cristão na linha de Descartes


e Leibniz. O vitalismo queria combater essa uniformidade criando diferenças entre o
mundo orgânico e o inorgânico e buscando uma demarcação entre as ciências
biológicas e físicas. Schleiden, por sua vez, com uma formação filosófica neokantiana,
rejeitou a possibilidade ontológica das teorias científicas e não queria atingir o reino
da realidade como Schwann pretendia (RECIO, 1990). Forneceu uma explicação
única para o desenvolvimento dos organismos, confirmar que as células nos tecidos
animais se originam da mesma forma que as das plantas e descobrir que todo o tecido
é feito de células (JUNIOR et al, 2016).
Para Recio (1990) apud Júnior et al, (2016), isto trouxe consequências
fisiológicas e uma nova era para a Biologia que passa a designar uma atividade
científica que buscava a resolução teórica, a explicação e a justificação dos
fenômenos que se tornaram seu objeto. Essa teoria introduziu um novo paradigma

23
que até hoje dirige as fases da pesquisa biológica, modifica as idéias sobre a estrutura
dos seres vivos e dá início à união teórica da zoologia e da botânica.
Júnior et al, (2005) igualmente analisam que a teoria celular foi uma
generalização fundamental para a Biologia, pois originou o substrato material do
mundo orgânico.
Piñero (2004) entende que a teoria celular forneceu os primeiros princípios
unificadores das ciências biológicas, assim como Teulón (1982) formulou que o
paradigma da teoria celular possibilitou esclarecer um problema fundamental dos
biólogos, nascidos no século XVII, que é expressa na relação entre matéria vital ou
estrutura vital. De acordo com o autor são, na verdade, dois os problemas enfrentados,
o primeiro é a estrutura – que passa a ser um novo tipo de fenômeno a ser investigado.
E o segundo é o status da célula na hierarquia do mundo orgânico. A teoria celular
sofreu correções, ampliações e desenvolvimento nos séculos XIX e XX (JUNIOR et
al, 2016).

Realizando uma análise histórica e filosófica, Recio (1990) considera que a


teoria celular de Schleiden-Schawnn, em sua primeira formulação e
mudanças subsequentes, é compreendida como um programa de
investigação lakatosiana. Por este período há o aumento da busca pelos
estudos dos fenômenos biológicos a partir de princípios científicos que se
consolidavam na física e na química. Exemplo disso foi Carl Ludwig (1816-
1895), em Leipzig, que estudou a fisiologia renal e a respiração. Combateu o
vitalismo, insistindo nas explicações de origem física e química. Inventou o
quimógrafo, além das descobertas da lei do “tudo ou nada”, do centro
vasomotor bulbar, da permeabilidade capilar e do período refratário cardíaco
(GONZÁLES, 1998 apud JUNIOR et al, 2016).

Numa histórica reunião feita em Berlim em 1847, Helmholtz, Ludwig, Du Bois


Reymond e Brücke, recomendaram que a pesquisa fisiológica se baseasse na física
e na química, então em franco desenvolvimento (MENDES, 1994). Mendes (1994)
explica que na época do estabelecimento da doutrina da evolução (em um sentido
diferente do que hoje) a intenção era comparar as funções nas diferentes tribos a fim
de subsidiar achados morfológicos e paleontológicos. Esse não foi o móvel primordial
da Fisiologia Comparada e, sim, uma atitude natural em uma época na qual essa
evolução, com Darwin e seus fiéis seguidores Huxley e Haeckel, configurava uma
revolução científica a que cumpria de alguma forma aderir. Cabia, pois, tentar
demonstrar que as funções também tinham evoluído em paralelo com as formas e até
se explicariam recorrendose a estágios anteriores (JUNIOR et al, 2016).

24
Segundo Júnior et al, (2016) a endocrinologia é outra área que se constituiu
vinculada a fisiologia experimental neste período. Cita-se A. Berthold (1849), ligado
às suas origens, este autor desenvolveu um experimento fundamental na descoberta
dos hormônios, promoveu a retirada cirúrgica dos testículos das torneiras, e constatou
que estes alteravam a morfologia, o comportamento sexual e os agonistas desses
animais. A substituição deste material recuperou as propriedades perdidas. Para o
autor, esse comportamento indicava a existência de um mecanismo de sinalização
independente no sistema nervoso.
Outro fisiologista, pesquisador nas atividades hormonais foi Charles Eduard
BrownSequard (1817 - 1894), importante por seus trabalhos de aplicação dos
princípios da físicoquímica à patologia. Foi um dos primeiros a pesquisar secreções
internas (os hormônios) e descobrir a importância da glândula supra-renal. Foi,
também, um dos primeiros a utilizar ratos para experimentos. Sua teoria de reposição
hormonal ficou famosa (JUNIOR et al, 2016).
Johann Friedrich Miescher foi o precursor da Bioquímica de ácidos nucléicos.
Sua descoberta do DNA ocorreu em 1869. Ele queria definir os componentes químicos
do núcleo celular e utilizava glóbulos brancos derivados do pus em sua pesquisa.

A escolha desta célula deveu-se à disponibilidade e tamanho do núcleo.


Analisando os núcleos, Miescher descobriu a presença de um composto de
natureza ácida que era desconhecido até o momento. Era rico em fósforo e
em nitrogênio, desprovido de enxofre e resistente à ação da pepsina (enzima
proteolítica). Esse composto, que aparentemente era constituído de
moléculas grandes, foi denominado, por Miescher, nucleína (CLAROS, 2003
apud JUNIOR et al, 2016).

Conforme Claros (2003), em 1880, Albrecht Kossel, demonstrou que a nucleína


continha bases nitrogenadas em sua estrutura. Nove anos depois, Richard Altmann
conseguiu a nucleína com alto grau de pureza, demonstrando sua natureza ácida e
dando-lhe, então, o nome de ácido nucléico. Em 1882 Walter Flemming descobriu
corpos com formato de bastão dentro do núcleo das células, que denominou
"cromossomos". Em 1890, foi descoberto em levedura (fermento biológico) outro tipo
de ácido nucléico, que continha uracila ao invés de timina e ribose ao invés da
desoxirribose. Dessa maneira, foram caracterizados dois tipos de ácidos nucléicos,
de acordo com o glicídio que possuíam: ácido ribonucléico e ácido desoxirribonucléico
(CLAROS, 2003).

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Quanto às questões ligadas ao adiantamento, Maupertuis (1751), em sua
publicação A Vênus Física, notou que quanto mais longe o embrião está do
nascimento, mais desigual ele é do animal adulto. Assim a preexistência não explicava
a herança. Para o autor, o líquido seminal de cada animal é feito de partículas do
corpo todo que se misturam quando dois parceiros vão produzir um novo indivíduo.
Tal explicação, embora epigenética não é experimental. Já Buffon acreditava que os
seres vivos eram constituídos por partículas vivas que estavam atraídas por algo
semelhante à atração de Newton, orientadas por um molde interior capaz de dar uma
estrutura às partículas. Needhan substitui o conceito de Buffon pelo conceito de força
vegetativa (JUNIOR et al, 2016).
Segundo Júnior (2016) a ideia comum nessas três elucidações é que a matéria
é capaz de organizar o ser vivo, sem qualquer interferência externa. É a base do
materialismo francês. A epigênese, no entanto, não podia ser comprovada apenas
pela observação. Já em 1800, em seu livro Investigação filosófica sobre a vida e a
morte, Bichat (1866) garante ser a vida um conjugado de funções que resiste à morte.
É um princípio de reação a tudo que procura destruir os corpos vivos e que pode ser
conhecida somente pelos seus fenômenos que realiza contra os corpos exteriores.

Assim, segundo Bichat (1866), a vida tem uma finalidade interna com uma
relação de contradição e não apenas fenômenos mecânicos. Essa nova ideia
era uma ruptura com o universo mecânico, uma vez que, ao se reagir contra
o mundo externo, a vida tenta transformar tal mundo (BICHAT, 1866 apud
JUNIOR et al, 2016).

Segundo Senet (1956), Prevost e Dumas observaram os primeiros estágios do


desenvolvimento de um ovo em 1824 observando a criação de rãs. Em 1827, Karl von
Baer finalmente demonstrou a maturação do folículo de Graef. Em sua fase de
desenvolvimento, o embrião de rã consiste em três massas diferentes, que atualmente
chamamos de ectoblasto, endoblasto e mesoblasto. Baer trabalhava contra a teoria
preformista, e trouxe várias contribuições para a história do desenvolvimento dos
mamíferos (chamada de evolução na época). Baer fez observações que permitiram
atacar a teoria de Meckel, Geoffroy e Serres, que deriva da teoria de Kielmeyer que
comparava a gradação dos animais com sua evolução embrionária e filogenética.
Para Kielmeyer, os organismos eram organizados em ordem ascendente do simples
ao complexo. O desenvolvimento embrionário humano iniciava pela compreensão de
que o embrião em princípio vegeta, logo é estimulado e por último desenvolve um
26
órgão sensorial atrás do outro, na mesma ordem que a escala dos seres vivos
(JUNIOR et al, 2016).

E mais, que a origem dos organismos na história da terra também segue as


etapas de gradação atual dos seres vivos. John Meckel (1781-1833)
interpretou esta teoria no sentido de que os mamíferos e o homem durante
seu desenvolvimento embrionário começam do grau mais simples (naquela
época eram os pólipos) ascendendo às formas mais elevadas até se constituir
toda a hierarquia do reino animal. Cabe ressaltar que Kielmeyer falava da
evolução e analogia das forças vitais e Meckel, por outro lado, se referia à
evolução e semelhança das formas (RADL, 1988 apud JUNIOR et al, 2016).

Meckel, Geoffroy e Serres descobriram um novo fato: no desenvolvimento


embriológico, os animais eram parecidos e, de fato, quanto mais jovens eram, Baer
concordava com esses embriologistas em vários aspectos, mas dada a interpretação
deles de que os animais eram simplesmente aprisionados em formas humanas. Baer
não existia mais essa proximidade, em seu livro História da Evolução dos Animais
(1828) e em outras obras ele se voltou contra a doutrina do paralelismo entre a
gradação dos animais e sua evolução embrionária, na qual ele pode chamar de
treinamento. Teoria que unia elementos da teoria epigenética de Wolff com as
opiniões morfológicas de Cuvier (JUNIOR et al, 2016).

Baer propunha que todos os animais se desenvolviam de tal forma que


inicialmente tinham elementos fundamentais de seu tipo, posteriormente se
diferenciavam mais e mais; o embrião possui sucessivamente em princípio
as propriedades do tipo, até que aparecem sucessivamente as propriedades
da classe, ordem, família, de gênero e espécie, até que surgem as
características individuais; assim o embrião primeiro é vertebrado, depois
ave, ave terrestris, gallinacea, etc. (RADL, 1988 apud JUNIOR et al, 2016).

Em 1839, Schwann (1847), cujas ideias incorporaram o trabalho de Schleiden,


conforme já apresentado, publicou Pesquisa Microscópica sobre Conformidade na
Estrutura e Crescimento entre Plantas e Animais e colocou a célula como a principal
região das atividades metabólicas do corpo, formulando assim uma das idéias
fundamentais da biologia, teoria celular. Por sua vez, Thuret, em 1854, viu os
espermatozoides envolverem um ovo de algas e um deles penetrar por dentro,
deixando a cauda para fora. Alguns anos depois, Oscar Hertwig descobriu a
fertilização em animais (SENET, 1956 apud JUNIOR et al, 2016).

Em 1880, Edward Strasburger estudando vegetais descobriu o


desaparecimento do núcleo, quando uma célula se divide em duas células
filhas, deixando pequenas estruturas em forma de bastonetes, facilmente
coradas. Por causa dessa propriedade, Waldeyer, em 1888, lhes atribuiu o
27
nome de cromossomos. Mais tarde ficou constatada a existência desses
cromossomos em todas as células e em determinada espécie seu número é
sempre fixo (SENET, 1956 apud JUNIOR et al, 2016).

O que organizava. Com a formulação da teoria celular, grande parte da questão


da epigênese foi resolvida. A substância amorfa de Aristóteles, a matéria de
Maupertuis, Buffon e Needhan, eram células arranjadas. Sabíamos que as células se
multiplicavam e se transformavam, mas não sabíamos como essas atividades eram
controladas: o que agia sobre a substância e formava os seres vivos, a ideia formativa
de Aristóteles, a possibilidade espiritual da memória da matéria "Harvey, Maupertius",
o molde interno de Buffon e a força vegetativa de Needhan, as células de modo a
produzir indivíduos semelhantes a seus pais? Uma das explicações mais aceitas na
época era que cópias de todos os componentes do corpo, as gêmulas, eram
transportadas através da corrente sanguínea aos órgãos sexuais e reunidas nos
gametas (JUNIOR et al, 2016).
Com a fertilização, esses botões de sexos opostos se juntaram e todos esses
elementos se espalharam ao longo do desenvolvimento para diferentes partes do
corpo para formar uma mistura de órgãos e tecidos maternos e paternos. Pangênese,
amplamente aceita pelos evolucionistas. Para fornecer uma explicação da origem das
trocas hereditárias que poderiam levar a novas espécies. O contínuo uso de um órgão
transformaria suas gêmulas e ocasionaria uma alteração em seus descendentes.
Lamarck se utilizou desse conceito de gêmulas para explicar como o ambiente dirige
as transformações adaptativas. Darwin, também compartilhou destas ideias as quais,
de alguma forma, se prestavam à explicação do aparecimento de indivíduos
diferentes, portanto, passíveis de sofrerem os efeitos da seleção natural. Mas nunca
ficou claro se o pesquisador considerou esta explicação uma solução suficiente para
a resposta à existência da variabilidade natural das populações (JUNIOR et al, 2016).
Galton, sobrinho de Darwin, no final do século XIX, viu na teoria da pangênese,
apresentada na Origem das Espécies, uma forma de explicar a hereditariedade em
humanos, com o objetivo de aplicar as hipóteses da teoria da seleção natural aos
seres humanos, desenvolver uma ciência da hereditariedade humana que
possibilitasse, por meio de instrumentos matemáticos e biológicos, identificar e
selecionar os melhores seres humanos. Ele entendeu que as características
transmitidas estavam relacionadas aos aspectos físicos (tamanho, cor dos olhos, pele
etc.) e também às habilidades e talentos intelectuais. Fundou assim a “eugenia” ou a
28
busca do indivíduo “bem nascido” (DEL CONT, 2008) que consistia na solução
draconiana dos mais aptos vencerem na sociedade humana. Galton via na seleção
natural uma promissora explicação para o fenômeno da diversidade de espécies e na
teoria da pangênese a transmissão de características dos progenitores à prole
(JUNIOR et al, 2016).
De acordo com Júnior et al, (2016), sua compreensão da teoria de Darwin não
era completa, ele não entendia que a seleção natural atua acima de tudo em uma
alteração oportuna, não relacionada ao melhoramento das espécies. Não
compartilhava a interpretação gradualista darwinista e desvaloriza os efeitos
ambientais. Com inclusão à pangênese, realizou um experimento com coelhos para
testá-la e analisá-la estatisticamente. Ele identificou a impossibilidade de confirmá-la
e a considerou incorreta. Em oposição a ela, mas ainda utilizando alguns de seus
elementos, procurou desenvolver uma teoria própria sobre a hereditariedade em dois
artigos, o primeiro de 1872, “On blood relationship” e o segundo de 1875, intitulado “A
theory of heredity”.

Sua teoria da hereditariedade foi publicada em diferentes países, recebendo


críticas, mas influenciando importantes grupos de pesquisadores. Bateson e
Johansenn chegaram a considerar que Galton se antecipou a Weissmann
com relação à distinção do plasma germinativo e o somático (GUTIÉRREZ et
al, 2002 apud JUNIOR et al, 2016).

O ambiente vitoriano da época favoreceu e estimulou esse pensamento


eugênico de Galton, ainda mais radical do que o darwinismo social de Spencer, um
dos maiores defensores do darwinismo, Galton, no entanto, teve o mérito de ser o
precursor da biometria, que visa estudar tudo o que é possível medir nas coisas vivas.
Segundo Del Cont (2008), no final do século 19, um grupo de cientistas conhecidos
como biometristas se organizou para dar continuidade às reivindicações eugênicas.
Grupo formado por evolucionistas que procuraram identificar regularidades
estatísticas que pudessem descrever o aparecimento de variações contínuas em uma
dada população, tendo como uma de suas principais bases a lei da herança formulada
por Galton durante a última década do século XIX e as duas primeiras do século XX,
tem havido um número crescente de levantamentos biométricos (JUNIOR et al, 2016).
No final do século XIX, Weismann provou que a teoria da pangênese era falsa
ao cortar as caudas de ratos por 22 gerações, sem nunca remover os botões
supostamente presos à cauda cortada. Assim, Weismann substituiu a teoria da
29
pangênese pela teoria do plasma germinal. A ideia propunha que os organismos
multicelulares consistiam em dois tipos de tecidos: somatoplasma e plasma germinal.

O primeiro consiste dos tecidos essenciais para o funcionamento do


organismo, mas não estão envolvidos com a reprodução sexual, portanto,
suas modificações não são hereditárias. O segundo estava envolvido na
reprodução e qualquer modificação aí ocorrida é hereditária. A semelhança
do plasma germinal em todas as gerações de descendentes é o que explica
suas semelhanças biológicas (MARTINS, 2003 apud JUNIOR et al, 2016).

As ideias de Weismann foram desenvolvidas nas últimas quatro décadas do


século XIX, sendo publicadas no livro Vortäge über Descendenztheorie de 1902. A
ideia do plasma germinal não pôde ser comprovada pela observação. Entretanto, já
carregava hipóteses de trabalho ligadas ao conceito de células somáticas e
germinativas. A pergunta sobre o que atuava na célula ao longo das gerações,
contudo, ainda não tinha sido respondida. Mendel, em 1865 tornou à questão, de
alguma forma, mais aclarada a partir de experimentos controlados fora do laboratório.
Ele descobriu que cada característica tinha origem material, a qual denominou fatores,
que se apresentavam em dose dupla, eram independentes uns dos outros e a
contribuição dos dois sexos era equivalente na produção de uma nova geração. Cada
fator da dupla pode dominar o outro (dominante) ou, por conseguinte, ser dominado
por ele (recessivo). Seus resultados, porém, não foram reconhecidos na época em
que Mendel os apresentou. A herança podia entendida como um conjunto de células
controladas por fatores. Mas tal explicação somente viria a acontecer algumas
décadas mais tarde quando os fatores identificados por Mendel pudessem assumir
um papel concreto dentro da Biologia, nas mãos dos pesquisadores do início do século
XX. Assim, a teoria celular possibilitou uma explicação única do desenvolvimento dos
organismos, permitindo uma generalização fundamental para a biologia, pois
determinou o substrato material do mundo orgânico, enquanto a teoria do ambiente
interno unificou a fisiologia moderna em uma atividade funcional comum a todos
organismos, todas as operações realizadas pelo organismo para manter o equilíbrio
do meio ambiente interno. E, finalmente, o substrato celular e a atividade fisiológica
eram controlados por fatores, mais tarde chamados de genes (JUNIOR et al, 2016).

30
7 O PROCESSO DE DEFINIÇÃO: DETERMINISMO X INDETERMINISMO

Fonte: austral.edu.ar

Em geral, o processo de compreensão de um objeto é entendido como a


formulação de uma definição do mesmo. No entanto, na ciência as respostas de
questionamentos não podem ser vistas como definitivas. É preciso destacar que
segundo Thomas Kuhn (1962), de tempos em tempos diversas mudanças e
revoluções científicas se desenrolam para que os paradigmas científicos se
transformem. Por conta disto, de acordo com Koyré (1957), o quadro de referências
pode e deve ser substituído do seu pensamento atual quando tais processos
acontecem. Destarte, separar aspectos filosóficos dos científicos, neste ponto, parece
ser inviável. A ciência é parte da vida humana, de modo que perde seu sentido e sua
legitimação se for dela separada (DIAS, 2021).
No que se refere ao desenvolvimento do conhecimento, segundo Foucault
(1966, p. 179), há apenas uma episteme em uma cultura e em um determinado
momento, que define as condições de possibilidade de todo conhecimento Koyré.
Portanto, por mais diferentes e diversos que possam parecer, existe uma certa área
de pensamento.

O processo de definição, então, passa por um campo de pensamento


vinculado à objetivação. Resumidamente, objetivação significa
problematização, e isso não quer dizer representação de um objeto
preexistente, nem criações através de um discurso de objetos que não
existem. Seguindo uma regra foucaultiana: “Trata-se de retirar do sujeito (ou
do seu substituto) o papel de fundamento originário e de o analisar como uma
31
função variável e complexa do discurso” (FOUCAULT, 1969, p. 70 apud
DIAS, 2021).

Segundo Dias (2021) não importa quem fala, o importante é perguntar “como é
que um saber se constitui”. Esta ideia de representação das coisas, que se explicita e
que se refere a um conjunto de significantes, é diferente da ideia de representação
kantiana. A interpretação do autor não está em questão; mas sim a possibilidade de
perceber uma certa relação entre saberes. Segundo Foucault (1966, p.470), o papel
do conceito de sentido é apresentá-lo como linguagem, mesmo que não seja um
discurso explícito, e também que não se desdobra em uma consciência, pode, em
geral, para se dar à representação.
Para Bachelard (1957) apud Dias (2021), por exemplo, é estranho ter que
pensar no absoluto determinístico expressando-o por meio de uma realidade. Apesar
de o determinismo ser visto a priori como uma consequência da busca por uma
simplicidade argumentativa. Para Bachelard, o sentimento de determinismo sugere
uma falsa segurança do conhecimento, mas é somente quando se percebe que o
determinismo surge do esforço de racionalizar a realidade que o espaço se abre para
a ideia deformação, mutabilidade e perturbação.

O absolutismo leva, então, à afirmação de uma espécie de materialização, de


imobilidade que está enraizada em um sujeito incondicionado no centro de
todas as relações condicionantes (Bachelard, 1957, p. 124). Isto vai de
encontro, por exemplo, a uma posição semelhante de Schopenhauer, em que
o mesmo afirma “o mundo é minha representação” (BACHELARD, 1957, p.
126 apud DIAS, 2021).

A problematização de um ponto de vista relativista, entretanto, requer que


valores aparentemente materializados e imutáveis sejam parcial ou totalmente
convertidos em seus valores. Por muito tempo, o determinismo impediu que certas
idéias de indeterminismo fossem admitidas.

A realidade e o mundo não são a representação do que se pensa ou do que


se quer. Após as revoluções científicas causadas por Galileu, Copérnico,
Newton e Einstein, o mundo passou a ser aquilo que se pode verificar.
Portanto, a declaração de Schopenhauer "o mundo é minha representação"
foi alterada de "o mundo é minha verificação" (Bachelard, 1957, p. 126 apud
DIAS, 2021).

Assim, o processo de definição emerge de uma relação estrutural entre o


conjunto de palavras e sua relação com seus significados e significantes. De acordo
com Foucault (1966), os significados e os significantes surgem a partir do momento
32
em que são conhecidas as possibilidades de relações entre eles e a epistéme (DIAS,
2021).

8 REDUCIONISMO E HOLISMO: DIFERENTES PERSPECTIVAS SOBRE O


CONCEITO DE VIDA

Fonte: biblioteca.cofen.gov

Dentre as diversas concepções e tentativas de se conceituar Vida, é possível


destacar a Reducionista e a Holística ou Sistêmica. O reducionismo pode ser
desmembrado em constitutivo, exploratório e teórico. O primeiro, reducionismo
constitutivo, considera que os organismos vivos são constituídos de compostos iguais
aos da matéria inanimada. O reducionismo exploratório parte de que só se pode
entender o todo a partir da dissecção de todos os seus componentes. Enfim, o
reducionismo teórico, assegura que leis de uma área do conhecimento podem ser
casos especiais de teorias ou leis de outras áreas (DIAS, 2021)
Segundo Dias (2021) com base nas definições de reducionismo apresentadas
é possível observar seu caráter, tanto quanto mecanicista. De forma geral, a visão
mecanicista sob os processos da natureza é descrita por estruturas físicas e suas
respectivas mudanças. Neste ponto, as estruturas físicas no mecanicismo estão
relacionadas ao espaço-tempo e a matéria.

No que cerne as questões de mudanças nas estruturas físicas estão, estas


vinculadas ao movimento. Assim, a partir de uma visão mecanicista qualquer

33
sistema físico-químico não importante quão complexo seja, pode ou poderia
ser reduzido as propriedades de seus componentes e leis que governam a
mudança dessas estruturas (DODIG-CRNKOVIC; MÜLLER, 2011 apud
DIAS, 2021).

Vale ressaltar que, segundo Dias (2021) o mecanicismo, por meio das
perspectivas reducionistas abordam os assuntos conceituais de vida, em geral,
através de um contexto denominado bottom-up. Em geral, o reducionismo mecanicista
sugere que os componentes básicos e integrais dos seres vivos têm padrões e
funções específicos que devem ser possíveis, pois são reduzidos em escala por
escala e fenômenos de micro a macro são observados. A outra perspectiva chamada
holística ou sistêmica se originou em 1926, quando o estatista sul-africano Jan
Christianan vende, em seu livro, holismo e evolução inventaram o termo.

No livro, Smuts escreve: “a unidade das partes pode vir a ser maior do que a
soma das partes, que não apenas dá uma conformação ou estrutura para as
partes, mas as relaciona e determina através de uma síntese onde suas
partes estão alteradas; a síntese afeta e determina as partes de maneira que
elas funcionem e se direcionam para o todo”. Basicamente, essa abordagem
radica-se num ponto de vista holístico, em que conforme Sacarrão: "todos os
seres vivos e o ambiente físico funcionam como um todo, obedecendo a leis
físicas e biológicas bem definidas" (SACARRÃO, 1991, p.33 apud DIAS,
2021)

Este conceito deu origem a uma das teorias controversas da ecologia atual, a
teoria de Gaia, que foi formulada em 1979 por James Lovelock em colaboração com
Lynn Margulis. Nesta teoria a Terra seria como um ser vivo gigantesco, um
macroconjunto orgânico de processos biológicos e fisioquímicos autorregulados, em
que tudo é e todos são Gaia.

Tal abordagem de vida é nomeada de organicismo. De forma geral, o


organicismo entende que os organismos apresentam propriedades
relacionadas ao todo, ou seja, que propriedades de um determinado nível de
complexidade pode não decorrer diretamente de suas partes, mas da
interação entre elas (Rehmann-Sutter, 2000, p. 337; Gilbert & Sakar, 2000, p.
2 apud JUNIOR et al, 2016).

Assim, ao contrário da abordagem reducionista bottom-up, a perspectiva


holística se caracteriza como top-down por suas particularidades epistemológicas de
enfatizar o significado, o sentido e a finalidade do objeto de estudo, norteando
metodologicamente por uma visão de síntese e apreciando os aspectos qualitativos e
experiências em contraposição à exatidão logística do método analítico. Após o
trabalho pioneiro do embriologista Paul Weiss, o termo sistêmico hoje expressa uma
34
abordagem de cima para baixo e de baixo para cima ao mesmo tempo (OLIVEIRA,
2000 apud DIAS, 2021).
Vale ressaltar que a partir de 1940, as ideias de teorias sistêmicas apontaram
que relações sistêmicas que surgem em estágios complicados de integração podem
produzir novas e imprevisíveis características (DIAS, 2021).

9 VIDA E SUA DEFINIÇÃO: UM PROCESSO AINDA EM CONSTRUÇÃO

Fonte: universoracionalista.org

A vida é um dos conceitos mais difíceis para explicar e até mesmo examinou
consideravelmente, continua um mistério e uma cena controversa. Embora ao longo
da história da biologia, muitos pré-requisitos para se considerar um ser como vivo
tenham sido propostos, todos em algum momento ou de alguma maneira se revelaram
falhos (JUNIOR et al, 2016).
Deve-se lembrar também, segundo Coutinho (2005) apud Dias (2021), que o
conceito de vida só teve início no final do século XVIII. Porém, vários filósofos
buscaram discutir o conceito de vida antes disso, como por exemplo, Aristóteles.
De acordo com Ross (1987), todos os seres continham dois princípios básicos
para Aristóteles: matéria e a forma. Aristóteles expressa que o ser é a enteléquia de
um corpo orgânico possivelmente dotado de vida (Allan, 1983, p. 66). Assim, o ser
vivo, em geral, seria “forma” o corpo “em ação” e a “matéria” ainda que precise de
forma seria capaz de existir na ausência dela.
35
A partir da busca de uma ciência unificada dos seres vivos, algumas ideias
foram propostas com o intuito de caracterizar o conceito de vida pela
existência de forças ou essências próprias dos seres vivos. Como vertente
dessas concepções originou-se o vitalismo, que é uma posição filosófica
caracterizada por postular a existência de uma força ou impulso vital sem a
qual a vida não poderia ser explicada (CORRÊA et al, 2008 apud DIAS, 2021).

O princípio da vida seria uma força específica diferente da energia estudada


pela física e outras ciências naturais que agiria sobre a matéria organizada e
produziria vida. O vitalismo argumentou que os organismos vivos (não a matéria
simples) diferem dos seres inertes por terem uma força vital (ou élan vital em francês)
que não é física nem química (JUNIOR et al, 2016).
No século XIX Ernst Heinrich Haeckel, biólogo alemão, importante defensor do
darwinismo com o intuito de expulsar as forças teleológicas da ciência, explicou a
substância como sendo matéria e energia e estando sujeita às respectivas leis da
conservação da matéria e da energia.

Para Haeckel essa força vital, por vezes denotada como alma, não deveria
ser considerada como algo transcendente, mas resultado histórico de um
desenvolvimento filogenético lento, sendo todos os corpos considerados
como vivos sensíveis a este processo (FREZZATTI, 2003, p. 447 apud DIAS,
2021).

Em meados do século XX, o biólogo evolucionista Ernest Mayr (1904- 2005),


expressou que os seres vivos deveriam ser percebidos como compostos dos mesmos
elementos que a matéria inanimada, negando a existência de uma substância
particular dos seres vivos, é uma perspectiva reducionista constitutiva. Embora o que
um ser vivo seja bem conhecido na biologia, por que as definições de vida são tão
evasivas, independentemente de uma perspectiva reducionista ou sistêmica? Via de
regra, descreve-se uma série de propriedades e fenômenos presentes nos seres
vivos, sem uma preocupação maior em produzir um conceito teoricamente
fundamentado de vida.

Assim, as experiências com o mundo e aqueles que o constituem acabam


fazendo que o interprete diferencie o que é vivo do que não é. Diante do
exposto, tentar definir algo tão complexo às vezes leva a que o conceito se
torne muito ou muito restrito, adicionando ou removendo exemplos
consideráveis (CORRÊA et al, 2008 apud JUNIOR et al, 2016).

Não é possível dizer categoricamente o que é vida porque, segundo Tsokolov


(2009), existem três dificuldades epistemológicas importantes para a definição da

36
vida: definição por termos eles próprios mal definidos; definição por uma combinação
de descrições; a definição tenta arbitrar um sistema mínimo para ser caracterizado
como vida. A definição de vida como posição inconsciente de valor e aspectos
qualitativos não se coaduna com a perspectiva quantitativa das ciências da natureza.
Nesse sentido, Emmeche e ElHani (1999) destacam que, portanto, uma definição de
vida deve atender aos seguintes requisitos: ser geral e incluir todas as formas de vida
possíveis; ser consistente com a compreensão dos sistemas vivos na ciência
moderna; apresentar uma elegância conceitual, com conceitos claros e bem definidos,
conseguindo organizar grande parte do campo do conhecimento em biologia; e ser
específico o suficiente para distinguir sistemas vivos de sistemas que claramente não
são vivos. Propor uma definição de vida a ser inserida em redes teóricas específicas
evita que essa definição se transforme em mais uma lista de traços, uma vez que são
apresentados apenas os traços relevantes à luz de um determinado paradigma (DIAS,
2021).

9.1 Algumas interpretações e categorias históricas de Vida

Do que foi apresentado nos temas anteriores, algumas interpretações históricas


sobre o conceito de vida podem ser elencadas, sintetizando cada método e
perspectiva sobre "O que é a vida?" Gerou historicamente categorias interpretativas
distintas, as quais seguem listadas a seguir algumas das consideradas como
principais segundo Dias (2021):
 Vida como a presença de uma substância específica dos seres vivos, seguindo
o princípio do vitalismo de Aristóteles, Haeckel e outros.
 Vida como uma criação divina, seguindo um princípio teológico, expressa por
Sto.Tomás de Aquino por exemplo.
 Vida como organismo que surge da luta entre suas partes, seguindo o princípio
de dominação de Nietzsche.
 Vida como autopoiese, considerada como uma rede complexa de interações
no qual os componentes são ao mesmo tempo produtos e produtores da rede,
expressa por Maturana e Varela.
 Vida como interpretação de signos, a partir do campo de conhecimento da
biossemiótica descrita por Charles Sanders Peirce (1839-1914).
37
 Vida como seleção de replicadores, a partir de uma visão neodarwinista
desenvolvida por David Hull, Richard Dawkins e Emmeche e El-HaniVida como
sistemas autônomos com evolução aberta, integrando os conceitos de
autonomia e evolução, expressa por Ruiz-Mirazo, Peretó & Moreno.
 Vida como lista de propriedades, descrita por Mayr.

9.2 Vida a partir do princípio da Biossemiótica

A vida biológica, segundo Charles Sanders Peirce (1839-1914), poderia ser


tratada como um fenômeno semiótico. Nesse caso, o princípio é tentar compreender
a vida não apenas pela organização das moléculas, mas também pela interpretação
dos signos da natureza. Para Peirce (1958) um signo é algo que se relaciona com
outra coisa. Em alguns aspectos, o efeito de um sinal no sistema que o interpreta é
chamado de interpretação. O efeito do signo (semiose) ocorre então por meio de uma
relação triádica entre o signo (o elemento que medeia a relação entre objeto e
interpretante), um objeto (o que é representado no signo) e um intérprete (o efeito do
signo) no intérprete) (JUNIOR et al, 2016).
Vale ressaltar que este é um campo de conhecimento novo na filosofia da
biologia, a biossemiótica. A origem da semiose no mundo vivo coincide com o
aparecimento das primeiras células, ou seja, de membranas que separavam um
ambiente interno (intracelular) e um ambiente externo (extracelular).

Para Hoffmeyer (1997), mesmo uma bactéria mostra-se capaz de interpretar


os fatores físico-químicos de seu ambiente e responder a estes graças à
interpretação de signos, na medida em que é capaz de orientar-se conforme
um gradiente de nutrientes. Assim, baseando-se no conceito de signo e na
ação do signo podem-se estudar organismos e como eles interpretam seu
ambiente (CORRÊA et al, 2008 apud DIAS, 2021).

38
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