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MATERIAL COMPLEMENTAR

BIOLOGIA
UNIDADE 1
ORIENTAÇÃO DE ESTUDO

Eu sou o Professor Ricardo Rosa e serei o responsável pelas videoaulas, material de apoio, plantão de
dúvidas e seleções de exercícios da disciplina de CIÊNCIAS BIOLÓGICAS ou BIOLOGIA, do seu curso
preparatório para o ENEM e demais vestibulares da ACADEIMA FILADD BRASIL.
Em todas as videoaulas, materiais de apoio, plantões de dúvida e seleção de exercícios vou te
apresentar os conteúdos e as orientações necessárias para que você tenha um excelente desempenho
nas provas que prestar e obtenha a sua aprovação.
São muitos anos de experiência na preparação de alunos em cursos pré-vestibulares, que coloco à
disposição para você, querido(a) aluno(a), objetivando que você use o seu tempo com inteligência,
disciplina e eficiência. Conte comigo. Ok? Um grande abraço. Vamos lá.
Caro(a) aluno(a) seja bem-vindo ao estudo do MÓDULO 1 – ORIGEM E EVOLUÇÃO DA VIDA. Este tema
é um dos pilares da Biologia. Sua importância está em compilar e sintetizar diversos conceitos e
princípios básicos estudados em outras subdivisões das ciências biológicas. Não se preocupe com
termos e conceitos novos, pois serão explicados e exemplificados para o seu melhor entendimento do
módulo.
Os requisitos necessários estão no material a seguir. Basta que você assista as aulas com atenção, leia
os textos correspondentes e faça o seu próprio resumo. Ao escrever um texto autoral, você aprende
com eficiência e reduz a utilização da memória. É importante saber que estudo eficiente não é
decoreba. A memória definitiva e de longa duração é importante e não a temporária, que é usada para
decorar conteúdos em véspera de provas. Essa memória se perde rapidamente e em situações de
estresse, como a da prova. É o famoso ‘deu um branco’. Por isso, querido(a) aluno(a) estude SEMPRE
escrevendo. Assista as aulas, faça as suas anotações, leia os textos, faça as suas anotações e seus
resumos. A produção autoral te dá repertório, que é fundamental para as provas que têm questões
dissertativas e, principalmente, para a redação. Por isso, leia e escreva. Combinado?
Nas aulas, você terá o que é esperado que você saiba. Porém, você perceberá que, às vezes, é
necessário um conteúdo anterior e básico para entender completamente a aula assistida. Esse é um
caso típico de leitura deste material, entendeu? Nele você encontra todos os requisitos teóricos para
entender as videoaulas. Por isso, assista as aulas, leia o material de apoio e, se necessário, assista a aula
novamente. Você verá que a aula fica muito mais clara e o seu entendimento maior. Ok?
Não indicarei material extra para leitura, ok? Você já tem material suficiente para assistir, ler e treinar.
Ok? Esse é o nosso acordo. Você assistirá as aulas, lerá os textos, fará os seus resumos, resolverá
exercícios e se precisar, assista aulas novamente.
O material a seguir é a teoria necessária para que você estude eficientemente, domine e entenda o
MÓDULO 1 – ORIGEM E EVOLUÇÃO DA VIDA. No material, você encontrará as imagens utilizadas nas
aulas, ou seja, as LOUSAS e os exercícios resolvidos.
A SELEÇÃO de EXERCÍCIOS estará em um arquivo a parte na pasta de BIOLOGIA. OK? Fácil de achar, não
se preocupe.
Boas aulas, boas leituras, boas práticas, bom estudo !

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AULA 1 - INTRODUÇÃO À BIOLOGIA COMO CIÊNCIA

A biologia é uma ciência, pois apresenta um objeto de estudo representado pelos seres vivos e todos
os seus desdobramentos. Mas, o modo de estudar pressupõe um método científico, caracterizado pela
observação, levantamento de hipóteses testáveis, planejamento e execução de experimentos,
sistematização e registro de dados, discussão de resultados e conclusão. Dessa maneira, constrói-se
conhecimento, que poderá sempre ser questionado, ampliado e alterado ao longo do tempo. Mas,
nunca esqueça que a ciência e a pesquisa são feitas pelo homem, portanto, é direcionada e sempre
terão um olhar parcial e serão influenciadas pela época, sociedade e cultura, às quais o pesquisador
pertence.
Para iniciarmos o estudo da biologia, é necessário fazer algumas reflexões e considerações sobre essa
ciência que estuda a vida, pois existem várias subdivisões com objetos de estudo diferentes. Por
exemplo, a zoologia e a fisiologia estudam os animais e todos os seus desdobramentos, do mesmo
modo, as plantas são estudadas pela botânica, as estruturas e funcionamento celulares são discutidos
pela citologia, as interações entre os seres vivos e destes com o meio em que vivem são problemas da
ecologia, os mecanismos e padrões de herança do material genético são abordados pela genética e o
processo adaptativo e as relações de parentesco entre as diversas espécies são responsabilidade da
evolução. Ao ler isso, fica a impressão que a biologia é uma ciência com conteúdo fragmentado. Essas
divisões facilitam o estudo, a pesquisa e a construção do conhecimento biológico. Mas, integrar essas
subáreas em nosso estudo é fundamental, pois esse olhar amplo garante entender a complexidade dos
seres vivos e dos ambientes em todos os seus níveis de organização, ou seja, moléculas,
macromoléculas, organelas, células, tecidos, órgãos, sistemas, organismos, populações, comunidades
biológicas, ecossistemas, biomas, biocoras, biociclos e biosfera.

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AULA 2 - HIPÓTESES SOBRE A ORIGEM DO UNIVERSO E DA TERRA
A Teoria do Big Bang é uma tentativa da Física de explicar as origens do Universo. De forma bastante
simples, ela afirma que todo o Universo se iniciou a partir de uma singularidade, que vem expandindo-
se pelo menos há 13,8 bilhões de anos. A teoria foi proposta pela primeira vez em 1920 pelo astrônomo
e padre jesuíta Georges-Henri Lemaître (1894-1966), à qual ele se referia como a “hipótese do átomo
primordial”. Posteriormente essa teoria foi desenvolvida pelo físico russo George Gamov (1904-1968).
Uma de suas principais sugestões foi que a formação dos núcleos atômicos (nucleossíntese) nos
primórdios do Universo deveria deixar como rastro uma radiação detectável, na faixa das micro-ondas.

Aspectos principais da teoria do Big Bang


Após o surgimento da teoria de Lemaître, as observações astronômicas de Edwin Hubble (1889-1953)
mostraram que as galáxias afastam-se umas das outras em todas as direções do espaço e em altas
velocidades. Essa evidência, juntamente à descoberta acidental da radiação cósmica de fundo, em
1965, pelos físicos Arno Penzias (1933) e Robert Wilson (1936), reforçou a aceitação da teoria
do átomo primordial. O afastamento das galáxias foi considerado uma sugestão direta de um universo
em expansão, enquanto a detecção da radiação de fundo confirmou as previsões teóricas do modelo

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de Gamov, sugerindo que o Universo teve um início, no qual os núcleos atômicos foram criados em um
dado momento pelo processo de nucleossíntese.
Muitos pesquisadores investiram nessa teoria, que mais tarde foi chamada de teoria do Big Bang.
Confira a seguir uma linha do tempo com as principais etapas da formação do universo de acordo com
essa teoria:
1. O começo de tudo
Apesar da sugestão do nome, o Big Bang não foi de fato uma explosão, mas sim uma
grande expansão (por razões desconhecidas) de um ínfimo ponto do espaço, chamado de
singularidade, com densidade e temperatura infinitamente altas.
2. Período inflacionário
Quando o Universo tinha uma idade de aproximadamente 10-35 segundos, durante
o período inflacionário, o seu tamanho aumentou exponencialmente, dobrando cerca de 90
vezes. Ao final dessa expansão acelerada, o Universo tornou-se mais frio e menos denso. Nesse
período surgiram as forças fundamentais da natureza, bem como o tempo e o espaço.
3. Universo opaco
Os elementos mais leves da tabela periódica (Hidrogênio e Hélio) surgiram
nos primeiros minutos de vida do universo por meio da combinação de prótons, dando origem
aos núcleos atômicos mais leves. Esse processo deixou um rastro de energia detectável,
proveniente de todas as direções do universo: a radiação cósmica de fundo. Durante os seus
primeiros 300-400 mil anos de idade, o universo era tão denso que a luz não conseguia propagar-
se, tudo era como uma névoa densa, que absorvia toda a luz.
4. Universo transparente
Com a crescente expansão do universo e diminuição da temperatura, os elétrons livres uniram-
se aos núcleos atômicos, formando os primeiros átomos neutros, na fase conhecida como
“recombinação”. Nessa fase, a luz passou a se propagar com mais facilidade pelo espaço, e o
Universo tornou-se cada vez mais “transparente”.
5. Colapso gravitacional
Cerca de 200 milhões de anos após a sua expansão inicial, as forças gravitacionais começaram a
aglutinar grandes porções de gás. Nessa época, a composição do universo era de
aproximadamente 75% de Hidrogênio para 25% de gás Hélio. Com o acúmulo de átomos
em pequenos volumes e sob altas temperaturas e pressões, iniciou-se o processo de fusão nuclear
dos átomos de Hidrogênio, dando origem às primeiras estrelas.
6. Formação das galáxias
Passados 500 milhões de anos desde o início do universo, a força gravitacional uniu,
lentamente, aglomerados de estrelas – as galáxias. Estas, em mútua atração, formaram os
primeiros clusters (galáxias em atração gravitacional), que, por sua vez, formaram
seus grupos locais. A teoria do Big Bang foi capaz de explicar algumas observações astronômicas
importantes, bem como responder de maneira satisfatória a algumas de nossas perguntas sobre a
origem do universo, no entanto, deixou na mesma medida uma série de questionamentos. Há muito

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para se descobrir sobre a origem do universo, e os astrônomos continuam em busca de respostas,
escavando, cada vez mais fundo, a história do cosmos.

AS CONDIÇÕES DA TERRA PRIMITIVA


A teoria mais aceita atualmente sobre a formação do Sistema Solar é a de que ele se formou de uma só
vez, a partir da concentração de uma massa gasosa, há aproximadamente 4,7 bilhões de anos. Os
átomos agruparam-se, sendo que, em cada planeta, os mais pesados ficaram no centro e os mais leves,
na superfície.
No caso da Terra, os elementos mais pesados, localizados no centro, foram o ferro (Fe) e o níquel (Ni),
e os mais leves, localizados na superfície, foram: o carbono (C), o hidrogênio(H), o oxigênio (O) e o
nitrogênio (N). A temperatura na superfície do planeta era provavelmente muito alta, tendo ocorrido
resfriamento em virtude do contato com o espaço cósmico, que é muito frio. O resfriamento tornou
possíveis ligações químicas entre os elementos, que ocorreram principalmente nas camadas
superficiais da Terra. A água foi uma dessas substâncias formadas. Como a temperatura da superfície
da Terra era muito elevada, toda substância líquida era evaporada, Os vapores de água, entretanto, ao
entrar em contato com as camadas mais frias da atmosfera, sofriam resfriamento, provocando
violentas tempestades e muitas descargas elétricas (raios). Essa água, ao entrar em contato com a
superfície quente da Terra, tornava a sofrer evaporação, impedindo seu acúmulo sobre a superfície
terrestre. Somente com o resfriamento progressivo da Terra é que foi possível acumular água líquida
sobre a superfície, originando, assim, os mares primitivos.

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AULA 3 - TEORIAS SOBRE A ORIGEM DA VIDA

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Desde a antigüidade o problema da origem da vida e dos seres vivos preocupa o ser humano. Antigas
doutrinas da Índia, da Babilônia e do Egito ensinavam que rãs, cobras e crocodilos eram gerados pelo
lodo dos rios. Estes seres, que apareciam inexplicavelmente no lodo e no lixo, eram encarados como
manifestações da vontade dos deuses e gerados espontaneamente.
Mesmo filósofos importantes, como Platão e Aristóteles, aceitavam tal explicação sobre a origem dos
seres vivos. Dessa interpretação surgiu a teoria da geração espontânea ou teoria da abiogênese,
segundo a qual todos os seres vivos originam-se da matéria bruta ou inanimada de modo contínuo.
Essa teoria, entretanto, foi contestada por vários cientistas, que através de seus experimentos
provaram que um ser vivo só se origina de outro ser vivo. Surgiu, então, a Teoria da biogênese,
atualmente aceita.
Teoria da Abiogênese: Os seres vivos originam-se da matéria bruta de maneira contínua. Principais
defensores: Aristóteles, Platão, Needhan, Virgílio, Aldovandro, Kricher e Van Helmont.
Teoria da Biogênese: Os seres vivos originam-se de outros seres vivos. Principais defensores: Redi,
Spallanzani e Pasteur
Von Helmont
Von Helmont (1600), o maior fisiologista da época, dá várias receitas para a abiogênese. Uma delas é a
fórmula para se obter ratos: ''Enche-se de trigo e fermento um vaso, que é fechado com uma camisa
suja, de preferência de mulher. Um fermento vindo da camisa, transformado pelo odor dos grãos,
transforma em ratos o próprio trigo''.
Como já se sabe, os ratos que aparecem não se formam a partir da receita dada por Von Helmont, mas
são atraídos pela mistura.
Redi
Por volta de 1660, Francesco Redi começou a combater a teoria da geração espontânea. Para isso,
colocou pedaços de carne crua dentro de frascos, deixando alguns abertos e outros fechados com gaze.
De acordo com a teoria da abiogênese, após alguns dias deveriam surgir moscas e outros insetos,
nascidos da carne. Isso, entretanto, não aconteceu nos frascos fechados com gaze. Redi constatou a
presença de numerosos ovos e larvas de insetos sobre a gaze que fechava o recipiente e a ausência
deles sobre a carne aí contida. Esse experimento demonstrou que os insetos eram atraídos pela carne
e que o aparecimento de larvas era proveniente dos numerosos ovos colocados por estes animais. Os
resultados de Redi fortaleceram a teoria da biogênese, mas, apesar disso, muitos ainda continuavam
aceitando a teoria da geração espontânea.
Needhan
Por volta de 1745, o cientista inglês John T. Needham mostrou, através de vários experimentos, que
em recipientes contendo vários tipos de infusões e submetidos a fervura, mantidos fechados ou não,
apareciam microorganismos. Needham afirmou que esse fenômeno ocorria devido à presença, nas
partículas orgânicas da infusão, de uma " força vital'' especial, responsável pelo aparecimento das
formas vivas microscópicas. Assim, com esses experimentos, Needham contribuía para a teoria da
geração espontânea.

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Spallanzani
Em 1770, entretanto, o cientista italiano Abbey Lazzaro Spallanzani criticou seriamente os
experimentos de Needham. Spallanzani realizou experimentos provando que o aquecimento
prolongado de substâncias orgânicas acondicionadas em recipientes fechados, providos de válvula de
escape, não propiciava o desenvolvimento de microorganismos. Needham respondeu às críticas de
Spallanzani, afirmando que esse cientista, ao ferver substâncias em recipientes fechados, estava
destruindo a "força vital" e tornando o ar desfavorável ao aparecimento da vida. Spallanzani realizou
novos experimentos, mostrando que havia o aparecimento de vida quando os recipientes fechados e
submetidos à fervura eram abertos, entrando em contato com o ar, provando que a " força vital'' não
tinha sido destruída. Apesar disso, Spallanzani não conseguiu provar que o aquecimento de material
orgânico em recipientes fechados não alterava a qualidade do ar. Nessa polêmica, Needham saiu
favorecido, reforçando ainda mais a teoria da geração espontânea.
Pasteur
Louis Pasteur, por volta de 1860, através de seus célebres experimentos com balões do tipo "pescoço
de cisne", conseguiu provar definitivamente que os seres vivos originavam-se de outros seres vivos.
Além disso, constatou, através de outros experimentos, a presença de micróbios no ar atmosférico.
Baseado nisso e considerando as críticas dos seguidores da abiogênese sobre a formação de ar viciado
- que seria impróprio para o desenvolvimento da vida em recipientes hermeticamente fechados,
quando submetidos à fervura - Pasteur realizou os seguintes experimentos, esquematizados a seguir,
utilizando frascos do tipo "pescoço de cisne".

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Este experimento mostra que um líquido, ao ser fervido, não perde a "força vital", como defendiam os
adeptos da abiogênese, pois quando o pescoço do balão é quebrado, após a fervura do líquido, há
aparecimento de seres vivos. O experimento rebate ainda outro argumento dos adeptos da abiogênese:
a formação de ar viciado impróprio para a vida. O líquido fervido fica, neste caso, em contato com o ar
atmosférico através do pescoço do balão e não ocorre o aparecimento de seres vivos, pois as gotículas
de água que se acumulam nesse pescoço retêm os micróbios contidos no ar que penetra no balão. A
partir dos experimentos de Pasteur, a teoria da biogênese passou a ter preferência nos meios
científicos. Com isto, o problema da origem da vida começou a preocupar cada vez mais os cientistas,
pois, se os organismos surgem a partir de outros, como foi que se originou o primeiro?

Várias hipóteses foram formuladas para explicar a origem da vida, sendo a mais aceita atualmente a
hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos, desenvolvida pelo russo A. Oparin e pelo inglês J.
B. S. Haldane, na década de 1920. A compreensão da teoria de Oparin e Haldane exige o conhecimento
das condições da Terra primitiva. A atmosfera devia ter, logo após a formação da Terra, composição
bem diferente da atual, sendo formada provavelmente por metano (CH4), amônia (NH3), hidrogênio (H)
e vapores de água (H2O). A atmosfera primitiva não apresentava oxigênio (O2), o que permitia que
radiação ultravioleta proveniente do Sol atingisse a superfície terrestre de forma intensa. Na atmosfera
atual, essa radiação também atinge a Terra, mas em quantidade menor, pois é filtrada pela camada de
ozônio (O3) existente na atmosfera e que não existia nos tempos primitivos.

A HIPÓTESE DA EVOLUÇÃO GRADUAL DOS SISTEMAS QUÍMICOS


Essa hipótese sugere que moléculas orgânicas complexas foram formadas a partir de moléculas simples
nas condições da Terra primitiva, antes do aparecimento dos seres vivos. Os prováveis gases
componentes da atmosfera primitiva, ao sofrerem os efeitos das fortes descargas elétricas
provenientes das frequentes tempestades e da influência acentuada dos raios ultravioleta do Sol,
reagiram entre si, formando moléculas orgânicas simples (aminoácidos, açúcares, álcoois).
Essas moléculas teriam sido, então, arrastadas pelas águas da chuva e se acumulado nos mares
primitivos, onde outras reações teriam ocorrido. A formação de grande número de substâncias
orgânicas, simples e complexas, transformou os mares primitivos em verdadeira ''sopa nutritiva''.
Moléculas de proteína dispersas em água formam uma solução coloidal com características próprias.
Nos colóides, cada molécula de proteína encontra-se envolvida por várias moléculas de água atraídas
pela diferença de carga elétrica. Se há alteração no grau de acidez da solução coloidal, as moléculas de
proteína aproximam-se, formando vários aglomerados protéicos envoltos por várias moléculas de água.
Esses aglomerados foram chamados por Oparin de coacervados.
Esses coacervados não eram seres vivos, mas sim uma primitiva organização das substâncias
orgânicas principalmente proteínas - em um sistema isolado do meio. Apesar de isolados, os
coacervados podiam trocar substâncias com o meio externo, sendo que em seu interior houve
possibilidade de ocorrer inúmeras reações químicas.

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Com as constantes reações químicas, alguns coacervados tornaram-se mais complexos, chegando
inclusive a apresentar capacidade de duplicação. Nesse momento teriam surgido os primeiros seres
vivos, que apesar de muito primitivos eram capazes de se reproduzir, dando origem a outros seres
vivos. Essa longa evolução gradual dos sistemas químicos teve a duração provável de 2 bilhões de anos.
O EXPERIMENTO DE MILLER (1953)
A hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos foi testada pela primeira vez pelo químico
americano Stanley L. Miller, em 1953. Ele construiu um aparelho que simulava as condições da Terra
primitiva e introduziu nele os gases que provavelmente constituíam a atmosfera naquela época. Esses
gases foram a amônia (NH3), o hidrogênio (H), o metano (CH4) e vapor de água.
A figura a seguir, resume a hipótese e o experimento de Müller.

A figura anterior ilustra o arranjo experimental utilizado. A água, ao ferver, forma vapor e promove a
circulação em todo o sistema, de acordo com o sentido das setas. No balão em que se encontra a
mistura gasosa ocorrem descargas elétricas, simulando os raios que, naquela época, deviam ocorrer
com frequência.
Após as descargas elétricas, os materiais são submetidos a um resfriamento, para simular a
condensação nas altas camadas da atmosfera, que provoca as chuvas. A parte em ‘U’ desse sistema
simula os mares primitivos, que recebiam as chuvas e os compostos formados na atmosfera.
Pela análise da água contida nessa parte em ‘U’ pode-se verificar a formação de moléculas orgânicas,
dentre elas alguns aminoácidos, substâncias que formam as proteínas.

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O experimento de Miller, em 1953, demonstrou que moléculas orgânicas (aminoácidos) poderiam
ter-se formado nas condições da Terra primitiva, o que reforça a hipótese da evolução gradual dos
sistemas químicos.

A HIPÓTESE AUTOTRÓFICA
Como todo ser vivo necessita de alimento para sobreviver, é lógico admitir que os primeiros seres vivos
tenham sido capazes de produzi-lo, isto é, tenham sido autótrofos. Contra essa hipótese existe uma
objeção muito séria: os autótrofos sintetizam alimentos orgânicos à custa de uma série externamente
complexa de reações químicas, exigindo que o organismo também seja complexo. Aceitando a hipótese
autotrófica, somos obrigados a acreditar que repentinamente surgiu um ser vivo já muito complicado
logo de início. Acontece, porém, que a teoria da evolução biológica, contra a qual não há objeções
sérias, afirma que os primeiros seres vivos devem ter sido bastante simples, levando muito tempo para
se tornarem complexos; portanto, os biologistas não aceitam a hipótese autotrófica, por que ela vai
contra a teoria da evolução.

A HIPÓTESE HETEROTRÓFICA
De acordo com a hipótese heterotrófica, a vida teria surgido por meio das seguintes etapas, ilustradas
a seguir:

Supõe que a forma mais primitiva de vida se desenvolveu de matéria não viva, formando-se em um
ambiente complexo um ser muito simples, incapaz de fabricar seu alimento.
Não se trata de geração espontânea, uma vez que esta afirma que seres complexos podem surgir
repentinamente de matéria bruta todos os dias, enquanto a hipótese heterotrófica supõe que um ser
muito simples evolui vagarosamente, da matéria inanimada, e que isso aconteceu há milhões de anos,
mas não ocorre mais.

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Formação de aminoácidos
Os geólogos e outros cientistas constataram a evidência de que a atmosfera da Terra primitiva era
constituída de hidrogênio, metano, amônia e vapor d’água. A elevada temperatura da crosta terrestre
determinava o vapor d’água, que, condensando-se nas camadas saltas e frias, provocava violentas
tempestades acompanha das de descargas elétricas. O dispositivo construído por Harold Urey e Stanley
Miller, uma mistura de vapor d’água, metano, amônia e hidrogênio exposta às descargas elétricas,
originou, após uma semana, aminoácidos simples como a glicina e a alanina. A experiência de Miller,
realizada em 1953, indica que um processo semelhante poderia ter acontecido na atmosfera primitiva.
Formação de proteínas
lnicialmente, recapitularemos o processo de combinação de dois aminoácidos constituindo um
dipeptídeo. Como se sabe, a formação de um dipeptídeo é um exemplo de síntese por desidratação.
Sidney W. Fox aqueceu uma mistura seca de aminoácidos e, após o resfriamento, verificou a união
destes para compor moléculas maiores e mais complexas semelhantes a proteínas e designadas por
proteinoides.
Na Terra primitiva, os aminoácidos teriam chegado até as rochas carregados pelas chuvas. A
evaporação da água teria deixado os aminoácidos secos sobre a superfície das rochas quentes. Em tais
condições, teria ocorrido a formação de ligações peptídicas pela evaporação de água e a consequente
formação de proteínas; posteriormente, tais proteínas seriam levadas aos oceanos pelas chuvas.

Formação de coacervados
Os aminoácidos e proteínas formados na era pré-biogênica da Terra teriam chegado aos mares,
produzindo o que Haldane descreveu como “caldo quente e diluído”. Segundo Oparin, as proteínas
teriam formado aglomerados designados por coacervados.

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Sabemos que os coacervados são aglomerados de proteínas que se mantêm unidas em pequenos
grumos circundados por uma camada líquida, chamada camada de hidratação ou de solvatação.
Obtenção de energia
Um sistema de coacervados, para manter-se e desenvolver-se, teria de dispor de uma fonte de energia
constante e controlável. Qual teria sido essa fonte de energia? A hipótese heterotrófica admite que
essa fonte de energia teria sido a energia das ligações químicas existentes nas imensas quantidades de
substâncias compostas, produzidas durante milhares de anos no mar primitivo, por processo
abiogenético. Nos seres vivos mais recentes, a energia para a sobrevivência das células é obtida, em
geral, da glicose. Para conseguir obter essa energia, a célula precisa diminuir a energia de ativação
necessária para que a molécula de glicose possa ser quebrada e a energia de suas ligações, liberada;
isso ela faz utilizando enzimas e ATP (adenosina trifosfato). Em certos casos, como na ausência de
oxigênio, a célula consegue retirar energia da glicose pelo processo de fermentação. Será que tal
processo poderia ter ocorrido com os coacervados? O americano Melvin Calvin realizou experiências
do mesmo tipo de Miller, misturando gases supostamente da atmosfera primitiva e bombardeando-os
com raios ultravioleta. Como resultado, obteve misturas de compostos orgânicos, entre os quais a
glicose. Como as enzimas são sempre proteínas, elas já poderiam ter existido (experiência de Fox). Por
outro lado, todos os elementos necessários para formar o ATP poderiam ter estado presentes no mar
primitivo, inclusive fosfatos.
Portanto, se tudo tivesse sido realmente como pensamos que tenha sido, os coacervados poderiam ter
retirado glicose, enzimas e ATP do meio ambiente e fermentado a glicose, e, com isso, conseguido a
energia necessária para a sobre vivência. Logo, os primeiros seres vivos teriam sido heterótrofos-
anaeróbios.
Capacidade de reprodução
Graças à sua capacidade de retirar alimentos e energia, e organizar as moléculas em padrões definidos,
os heterótrofos-anaeróbios primitivos teriam crescido gradativamente, a tal ponto que teriam surgido
novos problemas na luta pela sobrevivência: com o aumento volumétrico do indivíduo, a difusão do
alimento do meio exterior até o âmago do coacervado teria sido mais lenta, devido à maior distância a
percorrer dentro do heterótrofo; desse modo, o coacervado teria começado a sofrer fome. Nessas
condições, ou ele teria perecido ou teria se dividido, como meio de reduzir o volume. Entretanto,
qualquer mecanismo de divisão teria trazido um novo problema; ao dividir-se, o coacervado teria
corrido o risco de se desorganizar e, portanto, perder as características de sistema complexo adquiridas
em muito tempo de evolução. Nos organismos bem-sucedidos, teriam surgido os ácidos nucleicos,
moléculas que controlam os processos básicos de reprodução e organização. Em tais condições, o
primitivo organismo que tivesse DNA teria encontrado o meio para se duplicar exatamente,
transmitindo aos seus descendentes o mesmo padrão de organização conseguido após todo o tempo
de evolução transcorrido.

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Aparecimento dos autótrofos
O DNA, ao duplicar-se, geralmente dá origem a cópias exatamente iguais; porém, às vezes ocorrem
mutações, isto é, alterações na sequência de bases existente na molécula e, com isto, a molécula que
controla as atividades vitais passa a não ser mais a mesma. Portanto, as células-filhas que receberam a
mutação terão uma alteração no seu comportamento, serão diferentes.
Se a mudança for vantajosa, conforme o meio ambiente, será mantida pela seleção natural. Passando
à hipótese heterotrófica: em milhares de anos pode ter havido um número imenso de mutações,
quando as incontáveis moléculas de DNA se duplicaram. É possível que tais mutações eventualmente
tenham passado a exercer um controle benéfico sobre o organismo e, com isso, tenham-se acumulado
de modo que os indivíduos tenham obtido, aos poucos, conjuntos de moléculas de DNA diferente,
resultando em vários tipos de comportamento. Assim, por ação mutagênica, teriam surgido organismos
autótrofos.
Predomínio dos autótrofos
Com o passar do tempo, é possível que os heterótrofos tenham sido obrigados a enfrentar um novo
problema: a quantidade relativa de alimento teria começado a diminuir; a “sopa” orgânica ter-se-ia
diluído progressivamente por dois motivos: aumento de consumo de substâncias orgânicas existentes
no ar primitivo, devido ao crescimento contínuo da população, e diminuição da produção de tais
substâncias pelo processo abiogenético.
Aparecimento dos aeróbios
Os primeiros autótrofos, a partir de um suprimento de CO2, enzimas de ATP e aparecimento de uma
molécula, talvez a clorofila, capaz de absorver a energia luminosa, realizariam uma primitiva
fotossíntese. No processo de fotossíntese, liberam-se moléculas de oxigênio. Portanto, podemos supor
que uma certa quantidade de gás se tenha acumulado gradativamente durante milhares de anos como
consequência do aparecimento dos autótrofos.
Todavia, a utilização de oxigênio para a obtenção de energia a partir da glicose libera muito mais energia
do que a retirada de energia na ausência de oxigênio, pois a fermentação fornece um saldo energético
de apenas 2 ATPs, enquanto, na reação com o oxigênio, o saldo é de 38 ATPs. Teriam, então, levado
vantagem os organismos capazes de executar respiração aeróbia, porque, assim, teriam retirado mais
energia do alimento disponível.

ESCALA E EVENTOS DO TEMPO GEOLÓGICO


A Terra possui aproximadamente 4,5 bilhões de anos e foi habitada pelos primeiros microorganismos
há uns 3,2 bilhões de anos.
Os primeiros peixes primitivos surgiram no final do Período Cambriano. Os oceanos de então eram
largos, rasos e cálidos, e registros fósseis indicam que estes peixes, bem diferentes dos que conhecemos
hoje, possuíam apenas duas barbatanas rudimentares e eram privados de maxilares.

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No Devoniano, conhecido como “Idade dos Peixes”, ocorreu uma grande irradiação dos peixes,
havendo proliferação de peixes com maxilares adaptados a diversas dietas alimentares. O ambiente
desta época era bastante diferente daquele em que surgiram os primeiros peixes. Mares haviam
avançado e retrocedido das terras continentais várias vezes, e as plantas vasculares terrestres que
haviam surgido no Siluriano eram agora abundantes.
Ao final da “Idade dos Peixes” um grupo de peixes de água doce iniciou a adaptação à vida terrestre, e
deram origem aos primeiros anfíbios. No Período seguinte apareceram os répteis, primeiros
vertebrados terrestres, assim como os primeiros insetos alados.
Os primeiros mamíferos primitivos surgiram, como os primeiros Dinossauros, no Período Triássico. No
Período seguinte surgem as primeiras aves.
No Cretáceo ocorre a extinção dos Dinossauros. No final deste período os mamíferos tiveram grande
irradiação adaptativa, tendo aparecido várias das ordens de animais superiores hoje conhecidas. Alguns
mamíferos insetívoros deram origem a um grupo de animais com polegares oponíveis e com unhas no
lugar de garras, animais denominados primatas.
Há 90 milhões de anos atrás a América do Sul separava-se da África. A Índia uniu-se à Ásia há 50 milhões
de anos, e 5 milhões de anos depois a Austrália separava-se da Antártida.
Isolados, os primatas passaram por processos evolutivos distintos nos dois lados do mundo. No
continente americano estes primatas restringiram-se ao ambiente arbóreo, tendo desenvolvido
adaptações morfológicas altamente eficientes para este tipo de hábito, entre elas uma cauda com
grande capacidade preênsil. Já no Velho Mundo, os prossímios deram origem a uma imensa quantidade
de novas formas de primatas, entre eles uma linha evolutiva caracterizada pelo hábito terrestre, que
originou, a cerca de 5 milhões de anos, os primeiros hominídeos.
Os primeiros hominídeos fazem parte do gênero Autralopithecus, os primeiros a apresentarem nos
registros fósseis uma morfologia dos membros inferiores completamente adaptada à bipedia. O
aparecimento do Homo sapiens ocorreu há aproximadamente 400 mil anos atrás, 190 mil anos após a
última inversão magnética.

AULA 4 - A IDÉIA E AS TEORIAS DA EVOLUÇÃO


A evolução biológica consiste do conjunto de modificações sofridas pelas espécies ao longo de muito
tempo. Essas modificações podem permitir a espécie uma melhor adaptação ao meio em que vive, ou
seja realizar com mais eficiência seus comportamentos reprodutivo, alimentar e de exploração de seu
hábitat.
Portanto, uma espécie evoluída é adaptada ao meio em que vive, não importando o seu grau de
complexidade. Por exemplo, um organismo procarionte, unicelular e heterótrofo como uma bactéria
que vive em nossos intestinos pode ser considerado tão adaptado ao seu hábitat, quanto um organismo
eucarionte, pluricelular com tecidos e autótrofo como um abacateiro que é uma árvore frutífera. O
mesmo raciocínio pode ser feito quando a comparação for feita com o homem.

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Logo, é interessante observar que tanto organismos simples como as bactérias ou complexos como os
mamíferos estão adaptados ao ambiente em que vivem. Simplesmente porque as características que
apresentam, poucas ou muitas, permitem a realização de todas as suas funções vitais básicas, ou seja,
seus metabolismos energético, plástico e de controle.
Os primeiros pensamentos e conceitos
O homem sempre se interessou pelos seres vivos que o rodeiam. Os caçadores silvícolas, os filósofos
gregos, os monges da idade média, assim como qualquer outro homem, de qualquer época.
Todos eles têm o discernimento de que os indivíduos, animais ou vegetais, ainda que diferentes uns
dos outros em muitos pormenores, tendem a agrupar-se em grupos ou tipos naturais com caracteres
comuns.
As espécies
Atualmente esses tipos naturais são denominados Espécies que consistem em um conjunto de
indivíduos semelhantes anato, fisio e filogeneticamente capazes de realizar fluxo gênico entre si por
mecanismos reprodutivos diversos com produção de descendentes com as mesmas propriedades de
transmissão hereditária.
Duas grandes controversas correntes: Igreja e Ciência
Durante muito tempo acreditou-se que os seres vivos que conhecemos hoje, quase 2 milhões de
espécies, fossem exatamente iguais à época de sua criação. Esta teoria, conhecida como Fixismo,
começou a ser questionada com maior vigor a partir do século XVIII, quando se passou a acreditar que
uma espécie poderia se modificar com o tempo, originando uma ou mais espécies diferentes da
anterior.
O Fixismo, defendido pela Igreja, prega que todas espécies foram criadas por uma divindade, ao mesmo
tempo e uma única vez, do modo como são hoje, sem a capacidade de modificar-se - espécies
imutáveis; enquanto que o Transformismo propõe que as espécies são mutáveis, ou seja, se modificam
ao longo do tempo para melhor se adaptarem ao meio em que vivem.
Entre os transformistas está Jean Baptista Lamarck (1744 - 1829), cuja teoria (LAMARQUISMO) foi
publicada em 1809. Acreditava que as espécies não são imutáveis, mas que descendem de outras, por
meio de mudanças graduais que se processam através de muitas gerações.

TEORIAS EVOLUCIONISTAS
Já percebemos que a Evolução é um fato e pode ser comprovado. Falta, agora, entender como ocorrem
as modificações nas espécies com o transcorrer do tempo. Outro ponto importante é discutir de que
modo essas modificações, se forem favoráveis, permanecem ao longo das gerações Dois cientistas
destacaram-se na tentativa de explicar estas e outras questões Jean Baptiste Lamarck — século XVIII e
Charles Darwin — século XIX.
As idéias de Lamarck
Lamarck, cuja teoria foi publicada em 1809, acreditava que as características necessárias à adaptação
em um certo ambiente pudessem ser adquiridas, simplesmente, pelo uso intensivo do órgão ou
estrutura envolvida (1) e que essa “transformação” pudesse ser transmitida aos descendentes , ou seja
hereditariamente (2). Logo, a Lamarquismo está baseado em dois pontos:

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1 - Lei do uso e desuso
2 – Transmissão hereditária de caracteres adquiridos

Vejamos neste exemplo a aplicação desta ideia - O comprimento do pescoço das girafas pode ser
entendido se atentarmos aos esforços diários nas tentativas de alcançar os ramos mais altos das árvores
, que provocariam um desenvolvimento de ossos e músculos. As girafas com pescoços desenvolvidos
transmitiriam esta característica a seus descendentes. Logo, ao longo das gerações todas as girafas
teriam pescoços grandes. Para Lamarck, portanto, o ambiente tem um papel direcionador na
modificação das características, ou seja, na adaptação dos organismos, uma vez que os organismos se
modificam para atender necessidades impostas pelo meio.

O lamarckismo, ou “hipótese de transmissão hereditária dos caracteres adquiridos por modificação do


ambiente”, é considerado equivocado pela biologia contemporânea. Assim, os lamarckistas admitiram
que os bagres cegos das grutas de Ipiranga ficaram cegos devido ao desuso e à atrofia dos olhos na
ausência da luz; porém, foi demonstrado que tais animais simplesmente descendem de formas com
visão atrofiada (mutações), que surgiram espontaneamente, quer na presença, quer na ausência de luz.
O golpe definitivo no lamarckismo foi dado por Weismann, nas suas famosas experiências cortando
caudas de camundongos por sucessivas gerações e mostrando que não havia atrofia desse apêndice.
Ele foi autor da teoria da “continuidade do plasma germinativo”, pela qual o germe é imortal, não sendo
as alterações provocadas pelo meio ambiente transmissíveis aos descendentes.

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DARWINISMO
Charles Darwin, na segunda metade do século passado, apresentou, com bases sólidas, evidências das
modificações sofridas pelas espécies, formulando uma explicação sobre os possíveis mecanismos que
atuariam no processo de evolução biológica.
Em seu livro A Origem das Espécies, Darwin expôs a sua teoria da evolução por seleção natural,
tomando como pontos de partida duas observações:
1a.) Os organismos vivos produzem grande número de sementes ou ovos, mas o número de indivíduos
nas populações normais é mais ou menos constante, o que só se pode explicar pela grande mortalidade
natural.
2a.) Organismos de mesma espécie, ou então de uma população natural, são muito variáveis em forma
e comportamento, sendo a variabilidade muito influenciada pela hereditariedade.
Portanto, há grande variabilidade e grande mortalidade, uns organismos terão maior probabilidade de
deixar descendentes do que outros: a tal tipo de reprodução seletiva Darwin chamou seleção natural.
Como Darwin demonstrou, a seleção natural ou “luta pela vida com sobrevivência do mais apto” é o
fator orientador da evolução, mas não a causa das variações, que ele foi incapaz de descobrir.
A dificuldade de Darwin só foi resolvida com a descoberta das mutações exposta pelo Mutacionismo,
no século XX por Hugo de Vries, que é a causa responsável pela origem das variações.

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O principal ponto do darwinismo, portanto, é a Teoria da SELEÇÃO NATURAL, que é a escolha que o
ambiente faz das características mais aptas. As ideias de Darwin foram muito combatidas na época,
principalmente devido ao fato de encarar o homem como mais uma espécie animal. Um bom exemplo
utilizado para explicar a teoria Darwinista é o da origem do pescoço comprido das girafas.

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Como ocorre atualmente, nasceriam indivíduos com diferentes tamanhos de pescoço, variação que
ocorre em inúmeras características entre os filhos de um mesmo casal. As girafas com pescoço maior
teriam maior disponibilidade de alimento do que as outras, principalmente em épocas de escassez,
quando as poucas folhas estão localizadas mais ao alto. Melhor alimentadas, teriam maiores
possibilidades de reproduzir. Com um pescoço um pouco mais longo que o de seus pais, elas poderiam
deixar descendentes com estas características. Novamente, teriam maior possibilidades de
sobrevivência os indivíduos com pescoço mais longo. Após inúmeras gerações, o comprimento do
pescoço destes animais estaria aumentando, modificando esta característica na espécie.
Os indivíduos que nascem não são idênticos e, como nem todos sobrevivem, permanecerão aqueles
mais adaptados. No caso das girafas, sobreviveram aquelas com pescoço mais longo (3) Este seria um
exemplo simplificado de uma ideia básica na teoria de Darwin - a ideia de Seleção Natural.
Portanto, o Darwinismo pode ser entendido sob três pontos básicos:
1 - Variabilidade intraespecífica
2 - Seleção Natural
3 – Adaptação

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É importante observar que Darwin não explica a origem das diferenças que caracterizam a Variabilidade
intraespecífica. O que veio a ser elucidado mais tarde, já no século XX. Os conhecimentos sobre
Hereditariedade , os padrões de herança e os mecanismos moleculares envolvidas foram “adicionados
ao Darwinismo , complementando-o. Esta complementação caracteriza a TEORIA SINTÉTICA da
EVOLUÇÃO ou NEODARWINISMO.

COLABORADORES DE DARWIN

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De qualquer modo o Darwinismo tem uma grande e fundamental importância para a ciência moderna.
O papel “selecionador” atribuído ao ambiente, no sentido de favorecer os indivíduos, nas populações,
portadores de características mais aptas, que seria transmitidas aos descendentes através da
reprodução é o grande ponta básico e que constitui a ideia da TEORIA da SELEÇÃO NATURAL.

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EVIDÊNCIAS EVOLUTIVAS
A expressão “evidência evolutiva” sugere a ideia de comprovação de um fato. Logo, a partir de agora,
passaremos a encarar a Evolução Biológica como um fato, visto que apresenta evidências ou provas. É
importante perceber que Lamarck e mais tarde Darwin, ambos evolucionistas, apenas procuram
elucidar o fato, portanto o fazem por meio de hipóteses e teorias. A seguir, apresentaremos as
evidências evolutivas mais importantes descritas pela ciência ao longo dos anos:
Fósseis: Correspondem a principal e mais notável evidência a favor do Transformismo e, portanto da
Evolução. São por definição restos ou vestígios de organismos de épocas remotas conservados até a
atualidade. E representam uma evidência evolutiva pois mostram-nos que os organismos não foram
criados simultaneamente, ou seja, há fósseis de diferentes idades. Os diferentes fósseis não são
encontrados juntas nos mesmos estratos geológicos, o que mostra que as espécies não apareceram ao
mesmo tempo e que sofreram modificações, pois não há fósseis com as mesmas características das
espécies atuais. A seguir, fóssil de um Teleósteo - peixe ósseo, um réptil com asas e um trilobita.

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Anatomia Comparada: No estudo dos vertebrados, é evidente que existe um padrão esquelético: um
crânio ligado a uma coluna vertebral, que apresenta uma cintura escapular, onde se conectam os
membros anteriores e uma cintura pélvica, na qual estão conectados os membros posteriores.
Portanto, é óbvio que todos os vertebrados, apesar de diferentes, apresentam características em
comum, o que mostra parentesco e indica um ancestral comum, que por evolução, deu origem a todos
os subgrupos. Na figura a seguir, estudo comparativo entre os ossos craniais de um réptil (a), uma forma
intermediária entre répteis e mamíferos (b) e um mamífero moderno (c)

Embriologia Comparada: O estudo embriológico dos animais mostra que quanto mais inicial é a fase
de desenvolvimento do embrião, maiores são as dificuldades de diferenciação e identificação do grupo
estudado. Isto quer dizer que o desenvolvimento embriológico dos animais é extremamente
semelhante nas suas fases iniciais, ocorrendo a diferenciação só mais tardiamente. Logo, entre espécies
ou grupos evolutivamente próximos existe uma semelhança embriológica muito grande, quanto as
fases iniciais do desenvolvimento.
Bioquímica, biologia e genética molecular: Recentemente, estudos nas áreas da bioquímica, da
biologia e da genética molecular tem mostrado que a presença das mesmas proteínas em organismos
de grupos diferentes indica semelhança no aparato metabólico e hereditário, o que sem dúvida
nenhuma evidencia parentesco e portanto ancestralidade comum. O esquema a seguir, ilustra os
processos básicos e universais que envolvem o material genético e a sua expressão.

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Homologias e Analogias: Estruturas homólogas apresentam a mesma origem embriológica, porém
podem ter destinos funcionais diferentes. Como exemplo, podemos citar os membros anteriores de
vertebrados, que podem se diferenciar em braços, patas dianteiras, nadadeiras ou asas. Novamente,
identifica-se parentesco e, portanto, ancestralidade comum. Estruturas análogas apresentam a mesma
função ou papel biológico, porém podem ter origens embriológicas distintas. Veja a figura a seguir:

Como exemplo, podemos citar as asas de insetos, de aves e do morcego. Estes grupos distintos,
adotaram, ao longo do tempo, a mesma estratégia - asa - para a locomoção no meio aéreo, porém a
origem da estrutura nos grupos é completamente diferente. A presença da característica “asa” permitiu
a adaptação, ou seja, o voo. Neste caso percebe-se que o ambiente foi o referencial comum entre as
espécies diferentes, pois, por exemplo, para a locomoção do meio aquático sem dúvida que nadadeiras
são melhores, independentemente de sua origem. A esta situação chamamos de CONVERGÊNCIA
ADAPTATIVA, que está ilustrado a seguir.

Estruturas homólogas possuem a mesma origem embriológica, mas podem apresentar funções
diferentes. A homologia é evidente no processo de formação das espécies a partir de um ancestral
comum e caracteriza o que chamamos de irradiação adaptativa. Veja um exemplo, a seguir:

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Estruturas Vestigiais: Trata-se de características biológicas encontradas em alguns grupos de seres
vivos e que não são mais funcionais em outros grupos. Como exemplo, na espécie humana, podemos
citar os músculos que movem as orelhas, a membrana nictante nos olhos, a apêndice intestinal, a
musculatura abdominal, os dentes do sizo, e a presença de pelos cobrindo a corpo. Todas estas
características, estão pouco desenvolvidas ou ausentes na espécie humana, o que denota modificação,
ou seja evolução ao longo do tempo. O ceco, o apêndice vermiforme e a base da espinha dorsal na
espécie humana, ilustrados a seguir, são exemplos de órgãos vestigiais.

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AULA 5 – EXPLICAÇÕES PRÉ-DARWINISTAS PARA A MODIFICAÇÃO DAS ESPÉCIES

AULA 6 – TEORIA EVOLUTIVA DE DARWIN

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Melanismo industrial:
Antes da industrialização na Inglaterra, predominavam as mariposas claras; às vezes apareciam
mutantes escuras, dominantes, que, apesar de serem mais robustas, eram eliminadas pelos predadores
por serem mais visíveis. Depois da industrialização, no século XIX, as mutantes escuras passaram a ser
mimetizadas pela fuligem e, como eram mais vigo rosas, foram aumentando em frequência e
substituindo as mariposas claras, que, agora, passaram a ser eliminadas pelos predadores, por ficarem
mais visíveis. Os predadores da mariposa, que atuam, por tanto, como agentes seletivos, são os
pássaros.

Mariposa Biston betularia e o melanismo industrial


Resistência de bactérias a antibióticos: Pode-se dizer que não é a presença de um certo antibiótico que
provoca o aparecimento das mutações; na realidade, estas surgem espontaneamente, e, quando
conferem resistência ao antibiótico, são úteis à bactéria na presença do medicamento. Não se deve
afirmar simplesmente que uma certa mutação é favorável ou desfavorável; essa afirmação só tem
sentido se frisar o ambiente, porque a mesma mutação pode ser interessante ou não à adaptação ao
ambiente.
Resistência de moscas ao DDT: Durante o primeiro ano em que o DDT foi usado numa determinada
localidade, quase todas as moscas foram mortas; algumas, porém, por causa da variação herdada, não
foram afetadas. Puderam sobreviver e se reproduzir e, assim, logo ultrapassaram em número os tipos
de moscas menos resistentes naquela área. O inseticida foi-se tornando menos ativo. O DDT causou
uma mudança no ambiente e só as moscas que eram resistentes previamente puderam sobreviver e
foram sendo selecionadas; não foi, portanto, o inseticida que conferiu resistência às moscas.

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AULA 7 - NEODARWINISMO – TEORIA SINTÉTICA DA EVOLUÇÃO E ESPECIAÇÃO

Na época em que Darwin propôs a sua teoria, Os mecanismos da herança biológica não eram
conhecidos. Apesar de ter sido contemporâneo de Gregor Mendel — pai da genética, eles não se
conheceram. Descobertas recentes — século XX , nos campos da Genética, da Biologia Molecular e da
Paleontologia deram origem a uma teoria moderna de evolução, conhecida como Neodarwinismo ou
Teoria Sintética da Evolução, que integra esses novos conhecimentos às ideias de Darwin, esclarecendo
principalmente as causas da variabilidade.
A moderna teoria sintética da evolução envolve quatro fatores básicos: mutação, recombinação
genética, seleção natural e isola mento reprodutivo. Os dois primeiros determinam a variabilidade
genética, que é orientada pelos dois últimos. Três processos acessórios também atuam no processo;
são eles: migração, hibridação e oscilação genética.

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A migração é responsável pelo fluxo gênico, que traz à população novos genes, contribuindo para
aumentos da variabilidade genética. A Hibridação consiste no cruzamento entre populações com
patrimônios genéticos diferentes, produzindo indivíduos com alta variabilidade genética. A Oscilação
genética ocorre, quando em populações finitas, pequenas, o equilíbrio de Hardy-Weinberg é alterado
pelo tamanho da população. Se ocorrer mutação rara, o número de portadores da mutação será baixo
e, pela sua morte, desaparecerá da população. Poderá aparecer de novo quando e se ocorrer nova
mutação. É a oscilação genética, que depende do fato de o gene ser favorável ou não. É a oscilação
genética que explica como os genes detrimentais podem aumentar de frequência e, como em índios,
há frequências altas de tipos sanguíneos diferentes, de acordo com a tribo.
Sob a designação de variabilidade, enquadramos as diferenças existentes entre os indivíduos da mesma
espécie. As fontes de variabilidade são as mutações e a recombinação genética. É importante salientar
que a mutação constitui a matéria-prima da evolução e ocorre espontaneamente, ou seja, nunca
aparece como resposta do organismo a uma situação ambiental.
As variações são submetidas ao meio ambiente que, pela seleção natural, conserva as favoráveis e
elimina as desfavoráveis. Assim, quando as condições ambientais se modificam, algumas variações
serão vantajosas e permitirão, então, aos indivíduos que as apresentam, sobre viver e produzir mais
descendentes do que aqueles que não as têm.
Resumindo, temos:

1 - Variabilidade intraespecífica
I - Mutação
II – Recombinação genética: crossing - over e separação de cromossomos homólogos ao acaso
2 – Seleção Natural
3 – Adaptação
A causa das variabilidades é a MUTAÇÃO - qualquer alteração sofrida pelo material genético.

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Porém, a RECOMBINAÇÃO GENÉTICA (crossing-over) promove o embaralhamento dessas modificações.
Logo, é um fator que aumenta a variabilidade. As MUTAÇÕES ocorrem em todo e qualquer organismo,
enquanto que a RECOMBINAÇÃO GENÉTICA só ocorre naqueles que sofrem MEIOSE para produzir
gametas, nos animais, e Esporos, nos vegetais. Logo, os organismos que se reproduzem sexuadamente,
portanto, apresentam uma variabilidade muito maior em suas populações do que os organismos que
se reproduzem assexuadamente, uma vez que sofrem MEIOSE.

A ORIGEM DAS ESPÉCIES


A ESPECIAÇÃO ou PROCESSO DE FORMAÇÃO DAS ESPÉCIES é um acontecimento lento e gradual e que
requer certas condições especiais mínimas e obrigatórias. Observe o esquema e a explicação a seguir:

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Uma dada população pode ser submetida a uma separação em sub grupos a partir de um ISOLAMENTO
GEOGRAFICO. Este isolamento pode ser representado por uma cordilheira, rio, lago, cachoeira, ou
deserto e permitirá a formação de duas subpopulações : A e B. Estas subpopulações ainda pertencentes
a mesma espécie estão submetidas a Seleção Natural de seus meios, que são diferentes. Logo, as
adaptações surgidas em uma subpopulação podem ser diferentes da outra e vice versa. Com isso
teremos uma progressiva DIFERENCIAÇÃO ao longo do tempo e enquanto durar o isolamento, até que
com o fim deste, os indivíduos de novas gerações das duas subpopulações podem agora se encontrar
e tentar se reproduzir. No entanto, pode ocorrer que eles não mais consigam reproduzir-se o que quer
dizer que estão ISOLADOS REPRODUTIVAMENTE, ou seja pertencem a espécies diferentes agora. Porém
mesmo diferenciados podem conseguir se reproduzir, significando que não estão isolados, deste modo
constituem RAÇAS GEOGRAFICAS.

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GUARDE A SEGUINTE SEQUÊNCIA

Entre organismos da mesma espécie há FLUXO GÊNICO, que é consequente de semelhança e identidade
genética, além de mesmo número e tipos de cromossomos. Logo, a ENGENHARIA GENÉTICA, por
manipulação cromossômica e gênica pode abreviar muito todo esse processo, permitindo o
aparecimento de novas espécies, ou de pelo menos espécies transgênicas. Devemos lembrar, no
entanto, que a FERTILIDADE é condição obrigatória entre os descendentes de toda e qualquer espécie
natural. Pois, apesar dos indivíduos transgênicos serem considerados fenotipicamente “superiores” são
estéreis muitas vezes.

A EXTINÇÃO DAS ESPÉCIES


A EXTINÇÃO é o desaparecimento completo de uma espécie animal ou vegetal por falta de adaptação
as mudanças ambientais e pode ser ocasionada por processos naturais ou por interferência humana.
Segundo estimativas atuais, o número total de espécies no planeta varia entre 5 milhões e 30 milhões.
Desse total, cerca de 1,4 milhão foram nomeadas e descritas pelos cientistas. Segundo a União
Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), até a metade do próximo século mais de 25% da
fauna e flora terrestre deve desaparecer. Essa organização calcula que quase um quarto das 4.600
espécies de mamíferos conhecidas corre sério risco de extinção.
Os Processos naturais
A extinção de espécies acontece naturalmente desde o surgimento da vida no planeta. Suas principais
causas são as modificações climáticas, como as desertificações, as glaciações e as alterações da
atmosfera, decorrentes das atividades vulcânicas. Elas tornam o meio ambiente desfavorável à
permanência de alguns grupos, que por SELEÇÃO NATURAL desaparecem. Como principal exemplo
temos os dinossauros. A maioria das espécies, porém, consegue adaptar-se e sobreviver a essas
mudanças, porque elas ocorrem lentamente.
Os Processos Antrópicos (Humanos)
Nas últimas décadas, o homem vem destruindo hábitats de grande diversidade biológica,
principalmente por causa da poluição das águas , do solo e do ar, do desmatamento, da caça e pesca
predatórias e da extração ilegal de espécies vegetais. Essas mudanças estão acontecendo numa
velocidade maior do que a de adaptação dos seres vivos.

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Dessa forma, eles não se ajustam às novas condições de vida e desaparecem. Uma das conseqüências
da extinção das espécies é o desequilíbrio das cadeias alimentares, responsáveis pela transferência de
alimento nos ecossistemas. A redução drástica dos animais carnívoros, por exemplo, pode levar à
proliferação dos animais herbívoros e, como conseqüência, haveria escassez de algumas plantas.

Em todo o planeta, a quantidade de animais em via de extinção é enorme. Entre eles estão a baleia
azul, o mico-leão-dourado, o elefante, o rinoceronte negro e o gorila-das-montanhas da África, o
cervo da Tailândia, o panda gigante da China, o pinguim grande da Islândia e do Canadá, o cavalo
selvagem da Europa Central, o bisão (boi selvagem) e o pelicano branco da França. Várias espécies
vegetais também correm risco de extinção. É o caso das orquídeas de Chiapas, no México, das
bromélias - típicas das zonas tropicais e subtropicais , encontradas no continente americano e em
parte da África, das “madeiras de lei” como o Mogno, Jacarandá, Marfim, Cerejeira, Imbuia e Canela
entre outras, usadas em todo o mundo para a confecção de móveis e construção civil.
No Brasil, o país de maior biodiversidade do mundo , cerca de 300 espécies da fauna e da flora estão
ameaçadas de extinção lobo guará, onça pintada, gato mourisco, veado campeiro, cervo do pantanal,
ariranha, micos leões, anta , peixe boi, os psitacídeos: araras e papagaios, tucanos estão em constante
perigo. A lista passa pelos répteis como os jacarés de papo amarelo e tracajás e se estende inclusive
a invertebrados de diversos filos , que ocupam os costões e praias da orla marítima.

AULA 8 – SELEÇÃO ARTIFICIAL E SEUS IMPACTOS

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TEXTO EXTRA - EVOLUÇÃO HUMANA
Você já deve ter reparado que nós, humanos, possuímos um cérebro muito grande, se comparado com
outros mamíferos ou primatas. Considerando um adulto temos um cérebro de quase 4 quilos, para um
peso aproximado de 70 quilos. Isso nos dá uma relação de aproximadamente 6% de massa cefálica na
espécie humana.
Alguns pesquisadores tentam explicar as razões que levaram à essa cefalização acentuada no gênero
Homo. A seguir, vamos colocar simplificadamente algumas ideias à respeito do assunto. Primeiramente,
tentou-se achar um fator isolado que explicasse esta característica. Mas logo percebeu-se que este
enfoque reducionista era limitado, e atualmente as pesquisas tentam ser mais realistas e trabalham
com uma série de fatores que agem em conjunto.
Quando o ancestral do homem teve a necessidade de descer das árvores para sobreviver (isso pode ter
ocorrido devido à uma mudança no habitat - menos árvores, talvez) teve que lidar com um ambiente
relativamente diferente onde o bipedalismo permitia algumas vantagens.
Vivendo em campos abertos, os indivíduos que formavam grupos eram mais favorecidos. Este é um
ótimo exemplo para explicar a seleção natural de um comportamento. Dentre todos aqueles indivíduos
ancestrais do homem, havia aqueles que viviam mais isolados e os que viviam em grupos. Assim, ao
longo das gerações, os indivíduos mais isolados eram mais facilmente capturados por predadores, e
não deixavam tantos descendentes como os que viviam em grupo. Estes últimos, mais protegidos,
deixavam um maior número de descendentes, que tinham a tendência de se manter no grupo.
Desta forma, as populações que tinham indivíduos com maior capacidade de solução dos problemas de
manutenção e coesão destes grupos tiveram mais sucesso. Essa resolução de problemas era por sua
vez facilitada quando havia uma vocalização complexa (que é pré-requisito para a linguagem humana).
Um fator essencial para que essa vocalização pudesse existir é uma pré-adaptação para esta
característica. Mas o que é uma pré-adaptação? Muito simples, são estruturas que já existem naquela
espécie e que permitem que o animal tenha sucesso no novo ambiente. No exemplo da vocalização
deste ancestral humano, ele já possuía todo um sistema de vocalização, toda uma estrutura física
(garganta, glote, estruturas para passagem do ar etc.). Ele só pôde desenvolver a linguagem pois já
possuía estas estruturas, que chamamos de pré-adaptações (no caso, pré-adaptações para a
linguagem).
Citando um outro exemplo prático, observemos as abelhas: elas também vivem em grupo e precisam
se comunicar, mesmo assim não desenvolveram nenhuma estrutura de vocalização ou de comunicação
sonora.
Também, elas não tinham pré-adaptações para isso. Elas se comunicam por meio de sinais químicos,
através de estruturas desenvolvidas a partir de pré-adaptações específicas. Sempre que analisamos
uma determinada adaptação em um animal, devemos tentar buscar a pré-adaptação que possibilitou
o aparecimento daquela característica.

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Bem, mas voltando ao caso da evolução humana. Existia uma pré-adaptação estrutural, o que permitia
que o ancestral do homem pelo menos grunhisse. Então, os grupos onde essa comunicação sonora
ocorria foram favorecidos, e assim, selecionados. Ao longo das gerações, os grupos que possuíam uma
melhor vocalização foram gradativamente sendo selecionados, enquanto que os outros acabavam
desaparecendo, à mercê de predadores.
O próprio ambiente de campo onde viviam estes grupos era bem mais hostil do que os bosques,
contendo um maior número de variáveis. Nas árvores o alimento é bem mais abundante do que em um
campo aberto. Imagine que para se obter a mesma quantidade de alimento encontrada facilmente em
10 metros quadrados na floresta, agora seriam necessários 10.000 metros quadrados nos campos
abertos.
O bipedalismo ajudaria na cobertura destas extensas áreas, ao mesmo tempo que liberava os membros
anteriores destes animais (braços e mãos) para tarefas de recolher frutas e manusear alimentos. Deste
modo, os indivíduos que tinham mais habilidade em lidar com o alimento foram favorecidos, e deixaram
mais descendentes, tendo maior sucesso evolutivo. Chamamos isso de uma "pressão positiva" para os
mais habilidosos. Ou seja, aqueles que tivessem mais habilidade teriam vantagem em relação aos que
não tivessem tanta habilidade, e prevaleceriam em termos de evolução.
Abaixo, observe bipedia e estrutura das mãos.

As estruturas da mão também iam sendo selecionadas. A cada geração as estruturas se modificavam,
devido à variabilidade. Porém, determinadas estruturas facilitavam o manuseio do alimento, gerando
maior habilidade. Estas estruturas eram selecionadas, e assim os membros anteriores foram
lentamente se modificando, culminando com a estrutura que conhecemos, ou seja, o polegar em
oposição aos outros dedos, fornecendo uma maior firmeza e precisão nos movimentos. Isso permitiu
que, além de manusear os alimentos, o homem começasse a segurar galhos no chão, pedras e outros
objetos, e mais para frente começasse a utilizar ferramentas.

Todos estes fatores em conjunto resultaram em um cérebro mais desenvolvido. Não devem ser
deixados de lado também os custos de se ter um cérebro maior. Sim, pois o cérebro consome muita
energia. Apenas para se ter uma ideia, o nosso cérebro, em termos energéticos, custa três vezes mais
do que um cérebro de um chimpanzé, e 22 vezes mais do que um tecido muscular em repouso. A Taxa
Metabólica Específica (por grama) é nove vezes maior do que o resto do corpo, como um todo.
Para bancar este grande gasto, os nossos ancestrais tinham que ter uma dieta de melhor qualidade
proteica e energética.

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A mudança de dieta retroalimenta a expansão cerebral; isto significa que para manter o cérebro, nossos
ancestrais tinham que comer melhor (no bom sentido, claro) tendo que apresentar, portanto um
comportamento forrageador (de busca de alimento) mais complexo e eficiente, que por sua vez fazia
uma pressão seletiva para a expansão cerebral. Uma coisa leva à outra...

Mas existem outras restrições para o aumento do cérebro, além do alto custo energético. Uma restrição
é o tamanho da pélvis (bacia) das fêmeas. Para nascer o feto deve passar pela junção pélvica da fêmea,
e para isso a cabeça não pode ser muito grande. Uma característica relacionada à esta restrição é a
continuação de crescimento de cérebro mesmo depois do nascimento. Isso faz com que o bebê seja
extremamente dependente da mãe, mas por outro lado gera uma flexibilidade tremenda, pois o
cérebro vai crescendo (e montando as ligações entre os neurônios) sempre se ajustando ao ambiente,
facilitando o aprendizado direto ainda na formação cerebral. Isto pode ser verificado com os seguintes
dados:

- humanos tem ao nascimento cerca de 25% do peso do cérebro de um adulto; aos quatro anos e
idade esse valor é de 84,1%.
- Chimpanzés nascem com 47% do peso do cérebro de um adulto, e aos quatro anos já tem 100% do
peso total.
- Com isso percebemos que outra restrição de um cérebro muito grande e flexível é a redução da
taxa reprodutiva pois os pais devem cuidar mais dos filhotes, durante um período de tempo maior.

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Ao situar-se entre a floresta e as vegetações mais abertas, nossos ancestrais desenvolveram o
bipedalismo. Essa característica, associada à possibilidade de explorar outros ambientes, abriu novos
horizontes para a nossa evolução biológica. A seguir as vantagens angariadas com isso.
- Desenvolvimento da habilidade para o transporte de alimentos entre lugares
- Redução de pelos sobre as áreas do corpo não expostas ao Sol forte
- Liberação das mãos para diferentes usos ou para cuidar de filhotes
- Decréscimo do consumo de energia em caminhadas a velocidades normais
- Aumento do horizonte de visão e melhora de proteção contra predadores

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Comparações entre o Homo sapiens neanderthalensis e o Homo sapiens sapiens.

H. sapiens neanderthalensis H. sapiens sapiens


Crânio achatado Crânio abaulado
Testa curta Testa evidenciada
Osso supra orbital bastante expandido Ausência / redução acentuada do osso supra orbital
Órbitas oculares grandes Órbitas oculares pequenas
Face projetada para a frente Face curta
Ausência de queixo Presença de queixo
Osso occipital achatado Osso occipital abaulado
Ossos longos espessos e curvos Ossos longos mais delgados
Ossos longos com grandes áreas para Ossos longos com pouca superfície para ligação de
ligação de músculos músculos

EVOLUÇÃO CULTURAL
A cultura cria um processo tipicamente humano: nossa evolução tornou-se muito mais cultural do
biológica. Cultura portanto, é o acúmulo de conhecimentos e hábitos cuja renovação depende muito
mais do surgimento de novas técnicas do que das próprias mutações. Foi essa evolução cultural que
permitiu a formação dos grupos sociais, a domesticação de animais e plantas, e o domínio do homem
sobre a natureza, causando ao mesmo tempo, sérios problemas à outras populações.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A ORIGEM DO HOMEM
Quando Charles Darwin, na metade do século passado, percebeu o alcance de sua teoria sobre o
mecanismo da evolução das espécies, ele ficou literalmente paralisado de medo. A conseqüência lógica
e irrefutável de tudo o que ele tinha descoberto era que a espécie humana não teria sido criada
separadamente dos outros seres vivos, como afirmavam as Escrituras das três maiores religiões
monoteístas, mas sim evoluído a partir de espécies inferiores e já extintas, antecessoras dos macacos
antropóides, como o chimpanzé, o gorila e o orangotango.
Na época, este era um conceito muito difícil de ser aceito. Primeiro, porque ia contra os dogmas
religiosos, que ainda ocupavam um lugar central no comando das sociedades ocidentais,
especialmente a Inglaterra. Darwin tinha tido uma educação teológica em Cambridge, estava destinado
a ser um pároco da Igreja Anglicana, e descendia de uma próspera família de proprietários rurais,
profissionais liberais e industriais. Seus amigos eram todos conservadores ou ligados à religião e ao
governo, fortemente opostos à noção da evolução das espécies como um mecanismo independente
do Criador. Segundo, porque temia-se que, ao aceitar esse conceito, o homem perderia seu lugar
especial na Criação, rebaixando-se a ser mais um animal entre os animais, e "liberando os instintos
mais baixos" da população, que poderia se revoltar contra o governo, e instaurar a anarquia tão temida
pelos governantes (não devemos nos esquecer que a influência da Revolução Francesa ainda se fazia
sentir, e que o socialismo acabava de nascer como movimento político e social, ameaçando tirar o
poder dos velhos privilégios da monarquia, da elite econômica, etc.). Em terceiro lugar, porém, havia
um argumento científico sólido contra a hipótese avançada por Darwin e seus seguidores: até então
não havia nenhuma evidência concreta de que o registro fóssil mostrasse ter havido essa progressão
de proto-homens ("hominídeos").
O castelo cuidadosamente montado pelos opositores a Darwin começou a desmoronar quando
descobriram-se os primeiros esqueletos de um ser evidentemente muito mais primitivo que o Homo
sapiens sapiens (a espécie moderna do ser humano), o Homem de Neandertal. Descoberto por
escavações em minas no vale do rio Neander, na Alemanha (Tal significa vale em alemão), as
observações mostravam um ser com postura ereta, corpo e membros praticamente iguais aos nossos,
mas com um crânio com semelhanças aos de um gorila.
Essa descoberta, embora tenha sido refutada na época como possivelmente pertencendo a seres
humanos deformados ou aleijões, acabou se consolidando com achados em várias outras partes da
Europa e Oriente Médio, e provocou uma enorme polêmica. Mostrou, pela primeira vez, que havia o
registro histórico de um ser muito semelhante ao homem, que não mais existia, e que podia ser um
passo intermediário entre macacos e homens. D
eu um grande impulso à aceitação das teorias de Darwin pelos cientistas e incentivou a busca
desenfreada por homens cada vez mais primitivos, o que veio a acontecer somente no século XX,
primariamente na África, mas também na Ásia e Oceania.

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Na figura anterior, da esquerda para a direita, os crânios do Australopithecus afarensis, um dos mais
antigos hominídeos encontrados; do Australopithecus africanus, um hominídeo mais recente que o
afarensis; do Homo habilis, uma das primeiras espécies africanas do gênero e de um Homem
Neandertal, que já era um Homo sapiens.
A ciência chegou à conclusão que realmente o homem evoluiu gradativamente a partir de espécies que
hoje sabemos terem se originado na África subequatorial, entre 5 a 6 milhões de anos atrás. A
imaginação fértil dos vitorianos elaborou o conceito do "elo perdido", ou seja, a espécie que teria sido
comum aos homens aos demais antropóides, gerando duas linhas de "primos" muito próximos. Esse
homem-macaco ainda não foi encontrado até hoje, mas descobertas recentes feitas pelos cientistas na
África têm empurrado cada vez mais para o passado a existência dessa espécie. Por outro lado,
descobriu-se que o Neandertal não é nosso antepassado, mas sim uma subespécie que surgiu em
paralelo com o Homo sapiens sapiens (também chamado de Cro-Magnon, a partir de uma localidade
da França onde se acharam fósseis), e que se extinguiu cerca de 60 mil anos atrás, por motivos
desconhecidos. Ambos descendem de duas espécies de homens mais primitivos, que entre um milhão
a 500 mil anos atrás começaram a emigrar da África para outros continentes, o Homo erectus e o Homo
habilis. O Homo sapiens sapiens provavelmente tem apenas 100 mil anos de existência como espécie
independente, um período extremamente curto em termos geológicos ou mesmo para a idade total do
gênero Homo. Estamos há muito pouco tempo na superfície deste planeta...
Uma conclusão muito impactante do estudo dos hominídeos é que provavelmente existiram muitas
espécies de nossos antecessores que se extinguiram sem deixar marcas. A linha sobrevivente, em
determinadas épocas históricas, chegou a ter um número extremamente reduzido de indivíduos. Um
estudo recente do DNA mitocondrial (que é transmitido apenas através da linha feminina,
diferentemente do DNA, que tem componentes maternos e paternos) mostrou que houve uma época
no passado que existiam apenas cerca de 40.000 seres humanos em toda a face da Terra. Qualquer
grande desastre climático ou epidemia teria inviabilizado essa espécie. Esses estudos de biologia
molecular também evidenciaram que toda a humanidade descende provavelmente de não mais do que
seis indivíduos, que habitaram a África meridional, sendo que uma dessas mulheres, é responsável por
60% de todos os genomas da humanidade atual), enquanto que outras cinco são responsáveis pelos
40% restantes!

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CRONOLOGIA DOS PRINCIPAIS ESTÁGIOS DA EVOLUÇÃO HUMANA

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