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Tópicos de

Ciências Exatas
Material Teórico
Tópicos de Química

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Vinicius Azevedo Borges

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Tópicos de Química

• Introdução;
• Estrutura Atômica;
• Ligações Químicas;
• Eletroquímica;
• Pilhas e Baterias.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Identificar soluções possíveis para situações corriqueiras de um engenheiro que envolva a
necessidade de controle de reações eletroquímicas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE Tópicos de Química

Introdução
Os filósofos gregos Demócrito e Leucipo (por volta de 4 séculos antes de Cristo)
idealizavam o universo formado por duas entidades: o vazio e o átomo. Acredita-
vam que os átomos eram partículas minúsculas e indivisíveis que formavam toda
matéria. Platão, numa tentativa de descrever essas partículas, as associou a ele-
mentos geométricos, de onde surgiu a ideia de que tudo seria formado pelos quatro
elementos básicos da natureza, o fogo, representado pelo tetraedro, o ar, represen-
tado pelo octaedro, a água, representada pelo icosaedro, e a terra, representada
pelo cubo.

Mais de dois milênios depois, muita coisa foi alterada nessa concepção da cons-
tituição do universo. Nossa compreensão da composição da matéria, dos elementos
e até mesmo sobre a divisibilidade do átomo evoluiu ao ponto de manipularmos es-
ses elementos para criação de novos materiais e obtenção de energia armazenada
nos átomos.

A química é a ciência responsável pelo estudo da matéria, sua composição, trans-


formações, propriedades, estrutura e relações energéticas. A importância da química
na sociedade moderna pode ser claramente notada na industrialização dos alimentos,
a eficácia de remédios e cosméticos e desenvolvimento de novos materiais.

O estudo da matéria pela química ocorre em três níveis. Os fenômenos de


transformações da matéria, dispersão de compostos, todos os fenômenos e pro-
priedades visíveis ou que podem ser observadas são estudadas em nível macros-
cópico. A interpretação desses eventos macroscópicos, a compreensão do que
acontece com os átomos, suas trocas de elétrons e recombinações são pesqui-
sadas e tratadas em nível microscópico. Em nível simbólico, são realizados os
cálculos e previsões dos fenômenos.

Figura 1 – Etapas de uma difusão em líquido


Fonte: Wikimedia Commons

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Para abranger todas as áreas de estudo da matéria, a química se divide em várias
subáreas, como química geral, nuclear, ambiental, orgânica, inorgânica, fisico-química,
e algumas outras.
Explor

InfoEscola – Química: http://bit.ly/2IG4x7Z

Estrutura Atômica
Para compreender a estrutura da matéria, os gregos antigos propuseram a teo-
ria do atomismo, baseada no materialismo, que acreditava que tudo era composto
por matéria, até mesmo a luz era formada por partículas minúsculas. Para eles,
os átomos eram as partículas fundamentais de qualquer material, não poderiam
ser divididas.

Acreditavam que, ao quebrar um determinado objeto em pequenas partes, em


seguida, quebrar as partes em pedaços menores, e assim sucessivamente, encon-
trariam uma partícula pequena o suficiente que não seria possível de dividir.

Somente por volta do ano de 1800 é que surgiu a primeira teoria atômica, do
professor John Dalton, que ficou conhecido como modelo de Dalton. Para Dalton,
átomos de elementos distintos deveriam possuir propriedades também distintas,
enquanto átomos de um mesmo elemento deveriam possuir exatamente as mesmas
propriedades. Nesse modelo, os átomos seriam esferas rígidas, maciças e indivisí-
veis, como no modelo dos gregos antigos. Esse modelo também ficou conhecido
como modelo atômico da bola de bilhar.

Apesar de ser um modelo simplista, a concepção do modelo atômico de Dalton


trazia algumas características e propriedades da matéria que são válidas até os mo-
delos mais atuais. Dalton assumia, por exemplo, que, para formar compostos, os
átomos se combinavam sempre em proporções numéricas inteiras, como 1 átomo
de determinado elemento para 2 átomo de outro elemento, ou quaisquer outras
proporções inteiras.

Com a realização de vários experimentos com tubos de raios catódicos, Joseph


John Thomson descobriu a existência de partículas menores que qualquer átomo.
Essas partículas ficaram conhecidas como elétrons e sua carga foi convencionada
como negativa. A descoberta dos elétrons sugeriu uma nova abordagem para um
modelo atômico. Thomson formulou em 1897 que os átomos seriam ainda esféri-
cos, mas não maciços. Eles deveriam possuir esses elétrons fixos, mas teriam que
ser também eletrostaticamente neutros, possuindo alguma carga positiva em seu
interior. O modelo atômico de Thomson ficou conhecido como pudim de passas,
devido à distribuição dos elétrons proposta por ele.

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UNIDADE Tópicos de Química

Figura 2 – Representação do modelo atômico de Thomson


Fonte: Wikimedia Commons

Para resolver o problema da carga negativa dos átomos, Thomson considerou


três possibilidades:
• Cada elétron se emparelhava com uma carga positiva que sempre o seguia no
interior do átomo;
• Os elétrons negativos orbitavam uma região central de carga positiva com
mesma magnitude que a soma das cargas dos elétrons presentes no átomo;
• A região que os elétrons ocupavam no átomo era carregada uniformemente
com carga positiva, como se fosse uma sopa.

Thomson chegou muito perto do modelo atômico de Rutherford, proposto anos


mais tarde. Mas acabou optando por sua terceira consideração, onde a carga po-
sitiva que equilibrava e anulava a carga atômica era distribuída uniformemente em
toda a região em que os elétrons estavam.

Por três anos, o físico Ernest Rutherford estudou o comportamento de feixes de


partículas, da radiação emitida por átomos de urânio e de raios-X. Ele conseguiu
identificar comportamentos que fundamentaram seu modelo atômico, que ficou
conhecido como átomo nucleado, onde elétrons não eram fixos, mas se movimen-
tavam em órbita em torno de núcleo positivo.

Rutherford realizou um experimento onde utilizava uma lâmina muito fina de


ouro que era bombardeada por partículas-alfa. Ele percebeu que, para cada 10 mil
partículas emitidas, apenas uma era desviada ou refletida pela lâmina. Com isso,
ele propôs que o átomo de seu modelo deveria ser em torno de 10 mil vezes maior
que o núcleo.

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Figura 3 – Representação do modelo atômico de Rutherford
Fonte: Wikimedia Commons

O modelo atômico de Rutherford, porém, esbarrava em uma teoria do eletro-


magnetismo que determina que toda carga em movimento acelerado provoca a
emissão de uma onda eletromagnética. De acordo com o princípio da conservação
de energia, os elétrons em órbita nos átomos de Rutherford perderiam energia de-
vido à aceleração centrípeta. Ao perder energia, eles deveriam colapsar no núcleo,
e não era isso que acontecia.

Essa falha foi corrigida mais tarde por Niels Bohr, que introduziu fundamentos
de quântica propostos por Einstein e Plank, definindo orbitais fixos com energia
bem definida, onde os elétrons conseguiriam se estabilizar, e regiões vazias que não
poderiam ser ocupadas por elétrons. Esse modelo corrigido ficou conhecido como
modelo atômico-molecular de Rutherford-Bohr.

Aumento da
n=3 energia das órbitas

n=2

n=1

Um fóton é emitido
com energia E = hf

Figura 4 – Representação de um átomo segundo o modelo de Rutherford-Bohr

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UNIDADE Tópicos de Química

Explor
Química: como entender os modelos atômicos? Disponível em: https://youtu.be/lDrKIqubzdw

O modelo de Rutherford-Bohr é um dos mais atuais e bastante utilizado em cál-


culos. Ele prevê diversos comportamentos das partículas de maneira consistente,
sem recorrer à complexidade de cálculos da mecânica ondulatória.

A emissão de luz por alguns materiais, por exemplo, é explicada pelo modelo de
Rutherford-Bohr como o salto de elétrons de camadas mais energéticas para cama-
das menos energéticas. Ao aquecer um metal, por exemplo, estamos fornecendo
energia para ele na forma de calor. Essa energia faz com que os elétrons desse
metal saltem para camadas mais energéticas, e diz-se que esse átomo se encontra
no estado excitado, que não é tão estável quanto o estado fundamental. Como o
átomo possui uma tendência a se manter no estado fundamental, o elétron reali-
zará um novo salto, do nível excitado para o nível fundamental, de menor energia.
Ao perder energia, o elétron emite um fóton, que é uma partícula elementar da
radiação, que pode possuir comprimento de onda dentro da faixa da luz visível.

A proposta mais atual e completa para o modelo atômico foi proposta por Erwin
Schrödinger, Louis de Broglie e Werner Heisenberg. Esse modelo substitui a ideia
de órbitas para os elétrons e, no lugar, assume a probabilidade de se encontrar elé-
trons em determinada região.

De Broglie propôs e demonstrou que os elétrons e outras partículas podem se


comportar também como ondas. Sua equação foi extrapolada e pode ser aplicada
em corpos maiores. Porém, a massa pequena associada à alta velocidade dessas
particulas é que lhes confere propriedades ondulatórias.

Heisenberg, através do princípio da incerteza, postulou que não é possível co-


nhecer todas as características de uma partícula. Não é possível saber sua posição e
sua velocidade simultaneamente com precisão. Quanto mais se conhecer a respeito
de uma característica, menos se conhecerá de outra.

Schrödinger contribuiu com sua descrição da transformação de um estado quân-


tico de um sistema físico com o tempo, através da equação que levou seu nome.

Figura 5 – Representação de um átomo de hidrogênio produzida por


simulação computacional de acordo com o modelo atômico de Schrödinger
Fonte: Wikimedia Commons

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A partir do modelo de Rutherford-Bohr, já temos a concepção de um átomo com
um núcleo bem definido, formado por prótons e neutrons e uma eletrosfera com 7
camadas (K, L, M, N, O, P e Q), região onde os elétrons são encontrados, podendo
assumir níveis de energia bem definidos pela mecânica quântica. Mas a distribuição
desses elétrons nas camadas e níveis de energia não acontece de qualquer jeito.
A organização dos elétrons foi bastante estudada pelo químico Linus Pauling, que
propôs um diagrama para distribuição dos elétrons.

Para se distribuírem os elétrons, deve-se levar em conta que cada camada supor-
ta uma quantidade diferente de elétrons. A primeira camada, por exemplo, suporta
até 2 elétrons. A segunda camada suporta até 8. Além disso, cada camada se divide
em subníveis de energia, identificados pelas letras s, p, d e f. O diagrama de Pauling
é mostrado na Figura 6.

camada 1 1s2

camada 2 2s2 2p6

camada 3 3s2 3p6 3d10

camada 4 4s2 4p6 4d10 4f14

camada 5 5s2 5p6 5d10 5f14

camada 6 6s2 6p6 6d10

camada 7 7s2 7p6

Figura 6 – Diagrama de Pauling

Para saber como os elétrons estão distribuídos em um átomo, basta seguir a seta
do diagrama de Pauling, sabendo que os números grandes indicam as camadas ele-
trônicas, as letras indicam os subníveis de energia e os números pequenos acima das
letras indicam a quantidade de elétrons que aquele subnível daquela camada suporta.

Vamos tomar, por exemplo, o átomo de zinco, que possui 30 elétrons. Distri-
buindo seus elétrons pelas camadas e subníveis eletrônicos, devemos começar pela

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UNIDADE Tópicos de Química

camada 1 e sunbível s, onde cabem 2 elétrons. Em seguida, passamos para a ca-


mada 2, subnível s, e colocamos mais dois elétrons lá. Vamos então para o subnível
p da camada 2 onde colocamos mais 6 elétrons. Ainda faltam ser distribuídos 20
elétrons. Partimos para a camada 3, subnível s, onde colocamos mais 2 elétrons,
em seguida o subnível p da camada 3, onde colocamos mais 6 elétrons, sempre
seguindo a seta do diagrama. Fazendo isso até posicionarmos todos os 30 elétrons,
teremos a seguinte distribuição eletrônica:

1s2, 2s2, 2p6, 3s2, 3p6, 4s2, 3d10

Somando todos os números nos expoentes das letras, teremos:

2 + 2 + 6 + 2 + 6 + 2 + 10 = 10

Com essa distribuição, sabemos que um átomo de zinco possuirá 2 elétrons na


primeira camada, 8 elétrons na segunda camada, 18 elétrons na terceira camada e
2 elétrons na quarta camada.

Essa distribuição eletrônica pode ser realizada para qualquer átomo ou íon.
Algumas poucas exceções da tabela periódica não seguem a rigor essa regra.

Íon: São aqueles átomos que não possuem carga nula. Ou possuem elétrons a mais que a
Explor

quantidade de prótons, ou a menos.

Ligações Químicas
Para formar os materiais, os átomos precisam se combinar uns aos outros, for-
mando moléculas, e essas, por sua vez, se conectam para formar substâncias.
A forma como os átomos se combinam dá origem às propriedades do material.
Os tipos de ligações interatômicas mais comuns são iônica, covalente, covalente
dativa e metálica.

A regra do octeto postula que a estabilidade atômica é alcançada quando o áto-


mo possui 8 elétrons na camada de valência, que é a última camada de distribuição
de elétrons em um átomo, com exceção dos elementos que possuem apenas uma
camada eletrônica, que se estabilizam com apenas 2 elétrons.
Explor

Ligação Iônica pela Regra do Octeto de Lewis: https://youtu.be/0sJl3ijbkSc

As ligações iônicas se baseiam na regra do octeto. Os átomos com mais de 4


elétrons na camada de valência tenderão a receber elétrons de átomos com menos

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de 4 elétrons na camada de valência. Ao fazer isso, o átomo que recebe elétrons se
torna um íon negativo, e o que doa elétrons se torna um íon positivo.

Figura 7 – Átomo de lítio doando um elétron para átomo de flúor


Fonte: Wikimedia Commons

Como os átomos se polarizam após essa troca de elétrons, eles se atraem,


por serem cargas eletrostáticas opostas, e permanecem unidos devido à força de
Coulomb. A Figura 8 mostra uma representação da organização dos átomos de
cloro e sódio em um cristal de sal de cozinha, o cloreto de sódio, que se mantém
sólido devido às ligações iônicas entre seus átomos. Essa representação considera
os átomos como esferas, como no modelo de Dalton.

Figura 8 – Representação da estrutura cristalina do Cloreto de Sódio


Fonte: Wikimedia Commons

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UNIDADE Tópicos de Química

Quando se trata de átomos que exigem muita energia para se remover um elé-
tron, a ligação do tipo iônica é mais difícil de acontecer. Nesse caso, ao invés de os
átomos doarem elétrons, eles compartilham os elétrons entre si a fim de se estabi-
lizarem. Esse compartilhamento de elétrons recebe o nome de ligação covalente.
Os átomos permanecem unidos devido à sua estabilidade no compartilhamento.

Figura 9 – Representação de ligações covalentes entre um átomo de carbono e 4 de hidrogênio


Fonte: Wikimedia Commons

Na Figura 9, o átomo de carbono que possui apenas 4 elétrons na camada de


valência compartilha cada um de seus elétrons com um átomo de hidrogênio, que
só possui um elétron na sua única camada. Dessa forma, cada átomo de hidrogênio
se estabiliza com dois elétrons em sua camada e o átomo de carbono se estabiliza
com 8 elétrons em sua camada de valência.

As ligações covalentes correspondem ao principal tipo de ligação que ocorre


com o átomo de carbono, e permite que este forme grandes moléculas, conhecidas
como cadeias carbônicas, cadeias orgânica, hidrocarbonetos, entre outros nomes.
Esses compostos são amplamente estudados pela química orgânica.

Compostos orgânicos são utilizados pelo ser humano para os mais diversos fins.
A engenharia de materiais utiliza esses compostos para a fabricação de materiais
poliméricos, ou plásticos, empregados na indústria de embalagens, alimentícia, de
utensílios, de eletrodomésticos, automobilística, e na fabricação de novos materiais
compósitos, como a fibra de vidro, fibra de carbono, resinas enriquecidas e inúme-
ros outros materiais.

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Figura 10 – Veículo Stohr DSR com toda a carroceria produzida em fibra de carbono
Fonte: Wikimedia Commons

Os hidrocarbonetos também estão fortemente presentes na produção de ener-


gia elétrica e mecânica, principalmente para meios de transporte. Nossos veículos
queimam compostos orgânicos para se moverem, seja etanol, gasolina, diesel ou
querosene, todos possuem as mesmas ligações covalentes entre carbonos. Ao que-
brar essas ligações, uma quantidade de energia química é liberada pela molécula e
convertida em movimento pelos motores.

A Figura 11 mostra um tipo de representação usual para moléculas de compos-


tos orgânicos. As linhas que ligam os elementos representam as ligações covalentes
entre os átomos. As linhas podem aparecer duplicadas ou triplicadas, indicando a
quantidade de elétrons que são compartilhados pelos átomos.

H H

H C C O H

H H
Figura 11 – Representação de uma molécula de etanol

A existência da vida só é possível devido às moléculas orgânicas. Elas estão


presentes nas proteínas, enzimas, lipídios, açucares, DNA, RNA, e mais uma infi-
nidade de compostos necessários aos seres biológicos. Com excessão da água, as
moléculas orgânicas são as mais presentes em células de organismos vivos.

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UNIDADE Tópicos de Química

Figura 12 – Elementos de uma célula animal


Fonte: Wikimedia Commons

Um tipo especial de ligação covalente, conhecida como covalente dativa, pode


ocorrer entre dois átomos que compartilham elétrons. Nesse caso especial, ambos
os elétrons compartilhados são provenientes do mesmo átomo. As ligações cova-
lentes do tipo dativas só ocorrem com pares de elétrons.

Isso acontece com o íon amônio, conforme mostrado na Figura 11. Antes da
reação, a amônia (NH3) se encontra estável segundo a regra do octeto. Para formar
um íon amônio (NH4+), é adicionado um íon positivo de hidrogênio (H+). Para que o
hidrogênio se estabilize, são necessários dois elétrons em sua única camada. Os dois
elétrons são, então, compartilhados pelo átomo de nitrogênio, que estabiliza o hidro-
gênio sem prejuízo de sua própria estabilidade. A ligação covalente dativa é indicada
por uma seta que parte do átomo que compartilha os elétrons para o átomo que os
recebe, acompanhada de dois pontos na origem da seta, que indicam o compartilha-
mento de dois elétrons.

Figura 13 – Ligação covalente dativa no íon amônio


Fonte: Wikimedia Commons

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Os materiais metálicos possuem um tipo próprio de ligação entre si, as chama-
das ligações metálicas. Esse tipo de ligação é explicado por dois modelos, o modelo
da nuvem eletrônica e a Teoria de Bandas.

O modelo da nuvem eletrônica define que os íons metálicos positivos se encon-


tram imersos em uma nuvem de elétrons livres, que são compartilhados não ape-
nas entre os átomos próximos, mas entre todos os átomos metálicos do material.
Essa nuvem de elétrons confere o brilho e a condutividade elétrica dos metais.

+ + + + +

+ + + + +

+ + + + +
Figura 14 – Representação do modelo da nuvem eletrônica

O modelo das bandas de energia, formulado a partir de fundamentos da mecâ-


nica quântica, explica a condutividade dos metais, bem como dos materiais isolante
e semicondutores. Ele define que, para um material conduzir eletricidade, é neces-
sário que ele possua elétrons livres na banda de condução, que é uma banda de
maior energia que a banda de valência dos átomos. No caso dos metais, a banda
de condução está parcialmente sobreposta à banda de valência, permitindo que
elétrons da banda de valência se movimentem através da banda de condução. Para
materiais isolantes, existe um vazio grande o suficiente entre as bandas de valên-
cia e de condução que impede que elétrons saltem para a banda de condução e
conduzam corrente elétrica. Nos materiais semicondutores, as bandas de valência
e condução estão separadas por um vazio, porém, pequeno, que permite que, em
determinadas situações, elétrons da banda de valência saltem para a banda de con-
dução e se movimentem através do material conduzindo corrente elétrica.

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UNIDADE Tópicos de Química

Energia
(eV)

Eg < 5eV Eg > 5eV Ef

bandas se
sobrepõem

Condutor Semi-condutor Isolador

banda de condução Ef: nível fermi


banda valência Eg: diferença de energia

Figura 15 – Teoria de bandas de energia


Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

As bandas de energia são formadas pela presença de um grande número de


átomos no material. Quando apenas um átomo é estudado sozinho, ele apresenta
níveis de energia fixos e bem definidos que os elétrons podem ocupar. Dois elétrons
não podem ocupar o mesmo nível de energia. Mas, ao combinar mais átomos iguais
em um material, que possuem os mesmos níveis de energia e elétrons com as mes-
mas energias, esses elétrons precisam se ajustar à nova realidade. Para isso, eles
assumem energias ligeiramente diferentes. Ao aumentar a quantidade de átomos no
material, esses níveis de energias passam a se comportar como faixas ou bandas de
energia, que acumulam energias de elétrons de todos os átomos presentes.

Eletroquímica
A eletroquímica estuda as reações químicas que envolvem transferências de elé-
trons entre elementos, em geral, com o propósito de converter energia química em
energia elétrica ou vice-versa. Reações químicas desse tipo são conhecidas como
reações de oxirredução ou reações redox, pois tratam de algum elemento que reduz
seu número de oxidação enquanto outro elemento aumenta o número de oxidação.

2Fe + 3Cl2 → 2FeCl3

Na reação balanceada acima, temos dois átomos de ferro reagindo com três
moléculas de cloro, com dois átomos em cada molécula. Antes de reagirem, os

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números de oxidação do ferro e do cloro são zero para ambos, pois se encontram
em seu estado fundamental, com o número de elétrons igual ao número de prótons
em seus átomos. Após reagirem, o ferro cede elétrons para o cloro e ambos se es-
tabilizam. Para formar o cloreto de ferro (FeCl3), um átomo de ferro cede um elétron
para cada átomo de cloro, perdendo 3 elétrons. Assim, o número de oxidação do
ferro, após a reação, passa a ser +3 e o do cloro passa a ser –1.

As reações de oxirredução possuem aplicações práticas importantes em todas


as engenharias. Na utilização e reutilização de materiais, controle de oxidação em
construções civis, equipamentos, navios e geração de energia elétrica, por exemplo.

O alumínio, por exemplo, que é o metal mais abundante na superfície da Terra,


é encontrado principalmente na forma do minério de bauxita, que é composta por
uma mistura de óxidos de alumínio. Para se extrair o alumínio puro desse minério
é necessário o uso de uma corrente elétrica para reduzir o número de oxidação do
alumínio. O gasto energético para esse procedimento é bastante alto, e isso gera
fortes incentivos à reciclagem do alumínio.

Figura 16 – Minério de bauxita


Fonte: Wikimedia Commons

Uma grande preocupação para a engenharia civil (principalmente com o cres-


cente uso de estruturas metálicas), automobilística e naval é a corrosão das estrutu-
ras, que pode causar o colapso de edifícios, pontes e outras edificações, avarias nas
latarias e cascos de navios. Para resolver esse problema, algumas medidas são cui-
dadosamente escolhidas para cada situação. Pode-se utilizar desde revestimentos
poliméricos, tintas especiais para proteger os elementos metálicos até a utilização
de metais de sacrifício.

Metais de sacrifício: Tratam-se de qualquer metal utilizado em estruturas metálicas expos-


Explor

tas a ambientes corrosivos. O metal de sacrifício oxidará em lugar do outro metal com o qual
estiver ligado.

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UNIDADE Tópicos de Química

Figura 17 – Corrosão em um navio


Fonte: Wikimedia Commons

Estima-se que o Brasil perde anualmente em torno de 4% de seu PIB em cor-


rosão. Em 2015, de acordo com a entidade International Zinc Association (IZA),
isso seria equivalente a R$ 236 bilhões. Um dos fatores que influenciam nesses
números é a grande extensão da costa brasileira, uma vez que regiões litorâneas
podem apresentar um índice de corrosão até 150 vezes maior que zonas rurais,
por exemplo.

Pilhas e Baterias
A primeira concepção de pilha foi originada
por Alessander Volta (século XVIII), que ficou
conhecida como pilha voltaica. Ele percebeu
que ao colocar dois metais diferentes em con-
tato um com o outro, um deles se tornava mais
negativo e o outro mais positivo, produzindo
uma diferença de potencial elétrico entre eles.

Essa primeira pilha voltaica foi construída


utilizando-se discos de zinco e cobre, sobrepos-
tos alternadamente e separados por pedaços
de tecido embebidos em uma solução de ácido
sulfúrico. Nas extremidades da pilha de discos
foram conectados os eletrodos condutores.

Em 1836, o químico britânico John Daniell


inventou a pilha que se tornou o modelo mais
conhecido, chamado de Pilha de Daniell. Figura 18 – Pilha de Volta
Esse modelo consiste em dois recipientes, um Fonte: Wikimedia Commons

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contendo uma solução de sulfato de zindo e um pedaço de zinco (eletrodo de
zinco) e o outro contendo uma solução de sulfato de cobre e um pedaço de cobre
(eletrodo de cobre). Ao se conectar um fio condutor interligando os eletrodos, no-
ta-se um fluxo de elétrons através desse fio. Para que esse fluxo de elétrons perma-
neça, é necessária uma troca de íons entre as soluções dos recipientes. Para isso,
é utilizada uma ponte salina ou uma parede semipermeável entre os recipientes.

elétrons

Ponte de sal
íons de zinco íons de sulfato

elétrodo
elétrodo de cobre
de zinco

sulfato sulfato de
de zinco cobre (II)
oxidação redução
do ânodo de cátodo
Figura 19 – Esquema da Pilha de Daniell
Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons

O funcionamento dessa pilha é baseado em reações de oxirredução. A superfí-


cie dos eletrodos de cobre e zinco em contato com suas soluções é onde ocorrem
as reações. Os elétrons saem do eletrodo que é oxidado, chamado de ânodo, e
seguem em direção ao eletrodo que é reduzido, chamado de cátodo. Portanto, o
ânodo é o polo negativo de uma pilha, e o cátodo é o polo positivo.
Para saber qual dos eletrodos funcionará como ânodo e qual será o cátodo é
necessário verificar a tabela de potencial padrão, que indica o potencial de cada
elemento químico em volts, e implica no potencial de atração de elétrons do ele-
mento. No caso da pilha de Daniell, o zinco é o eletrodo que fornece os elétrons
para o cobre.

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UNIDADE Tópicos de Química

As reações que ocorrem nessa pilha são escritas como:


• Semirreação do ânodo: Zn(s) ↔ Zn2+(aq) + 2e–
• Semirreação do cátodo: Cu2+(aq) + 2e– ↔ Cu(s)
• Reação global da pilha: Cu2+(aq) + Zn(s) ↔ Zn2+(aq) + Cu(s)

A semirreação do ânodo indica que no eletrodo sólido de zinco, cada átomo perde
dois elétrons que são conduzidos pelo fio condutor até o cátodo e se desprende do
sólido na forma de um íon para a solução de sulfato de zinco. A semirreação do cáto-
do indica que os dois elétrons recebidos através do fio condutor são transferidos para
um íon Zn2+(aq) da solução de sulfato de cobre, que adere ao eletrodo sólido de cobre.

Dessa forma, o ânodo, onde ocorre a oxidação, perderá átomos e diminuirá de


tamanho, enquanto o cátodo, onde ocorre a redução, ganhará átomos aumentando
de tamanho.
Explor

Eletroquímica – Pilhas: Teoria: https://youtu.be/zCgOHVRVF8I

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Sites
InfoEscola – Química
http://bit.ly/2IG4x7Z
Toda Matéria – Química
http://bit.ly/325SZCL
Ptable – Tabela periódica
http://bit.ly/2nE5V3M

Leitura
Distribuição Eletrônica no Diagrama de Pauling – Mundo Educação
http://bit.ly/2VslKae

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UNIDADE Tópicos de Química

Referências
ATKINS, P. W.; PAULA, J. de. Físico-química. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2018.
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KOTZ, J. C. et al. Química geral e reações químicas. 3. ed. São Paulo: Cengage
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