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Físico-química

Aplicada à Farmácia
Material Teórico
Introdução à Físico-química e ao Estudo dos Gases

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Philippe Alexandre Divina Petersen

Revisão Textual:
Prof. Me. Claudio Brites
Introdução à Físico-química
e ao Estudo dos Gases

• Introdução à Físico-química;
• Estudo dos Gases Ideais e suas Propriedades;
• Estudo dos Gases Reais e suas Propriedades.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Introduzir os estudos de físico-química;
• Discutir os principais termos e conceitos que serão utilizados ao longo da disciplina;
• Apresentar e analisar quantitativamente problemas relacionados aos gases ideais e gases reais.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Introdução à Físico-química e ao Estudo dos Gases

Introdução à Físico-química
Para se definir o estudo da Físico-química precisamos primeiramente conceituar
o que é a Física e o que é a Química. A Física é a ciência que estuda os fenômenos
da natureza e as descreve por meio de formulações matemáticas. O cair de uma
pedra, por exemplo, é um fenômeno natural para o qual a Física se encarrega de
encontrar uma resposta e, através de uma equação matemática, se tem a descrição
completa do movimento dessa pedra.

A Química, por sua vez, é a ciência que estuda a matéria, suas propriedades e
suas transformações. A interação entre o ferro e oxigênio formando a ferrugem
no metal é um exemplo de fenômeno descrito pela Química. Os átomos são as
unidades básicas da matéria e são constituídos de partículas elementares chamadas
prótons, nêutrons e elétrons. Os prótons e nêutrons formam o núcleo atômico
e os elétrons orbitam em torno desse núcleo na região chamada de eletrosfera.
Os prótons possuem cargas positivas (+), nêutrons não possuem cargas e os elé-
trons possuem cargas negativas (-).

Figura 1 – Modelo atômico de Bohr com as partículas elementares:


prótons em amarelo, nêutrons em vermelho e elétrons em azul
Fonte: Getty Images

Átomo: unidade básica da matéria formada por prótons, nêutrons e elétrons;


Explor

Prótons e nêutrons: situam-se no núcleo atômico. O próton possui carga positiva e o nêu-
tron não possui carga;
Elétron: orbita no núcleo atômico na região chamada de eletrosfera. Possui carga negativa.

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O número de prótons no núcleo do átomo define o elemento químico. Por exem-
plo, um átomo que possui apenas um próton no seu núcleo atômico é definido
como elemento químico Hidrogênio (H). O elemento químico Carbono (C) é defini-
do por possuir 6 prótons no seu núcleo atômico. O número de prótons no núcleo
de um átomo é comumente definido como o número atômico, Z. O número total
de prótons e nêutrons no núcleo e definido como número de massa, A. Átomos
com o mesmo número atômico Z, mas com diferente número de massa A são cha-
mados de isótopos do elemento. Os elementos químicos ordenados em função dos
números atômicos estão dispostos na tabela periódica.
Explor

Consulte a tabela periódica completa dos elementos através do link: https://bit.ly/2Moj0GP

A Físico-química é uma ciência interdisciplinar que aborda conceitos das áreas da


Física e da Química. Podemos dizer que a disciplina de físico-química procura estudar
as relações entre as reações químicas e as quantidades macroscópicas físicas de um
sistema. As reações químicas são as transformações da matéria através da mudança
da composição química da substância com a formação de uma nova substância.
A menor porção de uma substância é chamada de molécula. As moléculas são
um conjunto de dois ou mais átomos que podem ser do mesmo elemento químico
ou de diferentes elementos. A molécula de água (H2O), por exemplo, é um con-
junto de três átomos, sendo dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio.
A molécula do gás oxigênio (O2) é composto por dois átomos de oxigênio. As mo-
léculas são formadas pelas ligações que ocorrem entre os átomos que as compõem,
a essas ligações damos o nome de ligações químicas.

Figura 2 – Representação das moléculas de água e as interações entre elas


Fonte: Wikimedia Commons

Importante! Importante!

Substância: qualquer espécie de matéria formada por moléculas.


Moléculas: menor porção da substância e composto por um conjunto de átomos de um
mesmo elemento ou diferentes elementos químicos.
Ligações químicas: são as ligações que ocorrem entre os átomos para a formação das moléculas.

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Matéria e Energia
A matéria é constituída por substâncias formadas de átomos e moléculas.
No nível macroscópico, a matéria é constituída por um imenso número de átomos
e moléculas. Um copo com água, gelo e uma cadeira são exemplos de matéria no
nível macroscópico. A quantidade de matéria no nível macroscópico é descrita por
sua massa, dada em unidades de gramas (g) ou quilogramas (kg). No entanto, para
descrever a quantidade microscópica da matéria (átomos, moléculas) precisamos de
uma unidade que associe a massa da substância com o número de átomos ou molé-
culas correspondente. Essa unidade de medida é chamada de mol. O mol é a quan-
tidade elementar (átomos, moléculas etc.) de uma substância e contém unidades
elementares. Por exemplo, a cada 12 gramas de carbono-12, temos 6,022 x 1023
átomos de carbono, ou seja, 1 mol de átomos de carbono. Esse número de espé-
cies por mol é chamado de constante de Avogadro, NA = 6,022 x 1023 mol-1.
Outra grandeza importantíssima é a massa molar M de uma substância, que é a
massa da substância por mol de átomos, moléculas etc. O gás hidrogênio (H2), por
exemplo, possui massa molar de 2 g/mol, ou seja, cada 1 mol de gás hidrogênio
corresponde a 2 g de gás hidrogênio. Por fim, o número de mols de uma substân-
cia, n, pode ser calculado pela relação:

m
n=
M

onde m é a massa da substância e M a sua massa molar.

A energia é um conceito que utilizaremos muito ao longo da disciplina de Físi-


co-química. Ela é responsável pelas transformações químicas e físicas da matéria.
Uma das leis da natureza é a lei da conservação da energia. Mas o que significa
essa lei? Basicamente, a energia do universo é constante, ou seja, a energia
não pode ser criada ou destruída, apenas transformada. Dessa forma, podemos
transferir a energia de um sistema para outro e a energia total será constante.
Um exemplo para entender melhor esse conceito seria o de cozinhar o alimento.
A reação de combustão do gás que sai da boca do fogão com o oxigênio do ar
libera energia na forma de calor que esquenta a panela e o alimento. Portanto,
temos a transformação da energia de reação química em energia térmica respon-
sável pelo aumento da temperatura do alimento.
A unidade de medida de energia no sistema internacional de unidades (SI) é o
joule (J), mas em muitos casos temos a utilização de outras unidades de energia,
como o elétron-volt (eV), a caloria (cal) e quilocaloria (kcal). Uma caloria é igual a
aproximadamente 4,14 joules, ou seja, 1 cal = 4,18 J. A quantidade de energia
de 1 cal eleva de 10 ºC a temperatura de 1 g de água.

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Estados da matéria
Existem basicamente três estados físicos que a matéria macroscópica pode ser
encontrada: sólido, líquido e gasoso.
• Estado sólido: os átomos estão bem compactados (condensados) e com
arranjos geométricos bem definidos. Os átomos se dispõem em posições
definidas e fixas. Possui uma forma e volume definidos que independe do
recipiente que ocupa.
• Estado líquido: os átomos ou moléculas não estão bem organizados em rela-
ção ao sólido, apesar de ser denso e pouco compressível. As moléculas estão
fortemente ligadas e possuem maior grau de movimentação. A sua forma varia
de acordo com o recipiente que ocupa.
• Estado gasoso: os átomos ou as moléculas estão complemente desorganiza-
dos, sendo um estado pouco denso e altamente compressível. Os átomos es-
tão totalmente desagregados e uma alta energia de movimento das partículas.
Ocupa todo o volume do recipiente variando a sua forma.

Podemos denominar fluidos as substâncias em estado líquido e gasoso. A princi-


pal característica dos fluidos é a capacidade da matéria de escoar quando submetida
a forças externas.

Figura 3 – Os três estados físicos da matéria


Fonte: Adaptado de Getty Images

Até o momento, discutimos os aspectos básicos químicos da disciplina. Mas e as


propriedades físicas da matéria? Abordaremos agora as propriedades termodinâmi-
cas dos sistemas.

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UNIDADE Introdução à Físico-química e ao Estudo dos Gases

Sistema, Vizinhança e Propriedades


Termodinâmicas da Matéria
Para estudar um problema físico-químico, precisamos delimitá-lo no espaço.
Essa delimitação do espaço define o sistema que queremos investigar. Dessa for-
ma, todo o espaço que se encontra fora desse limite, ou seja, fora do sistema, é de-
nominado de vizinhança. Por fim, esse limite que separa o sistema da vizinhança
é chamado de fronteira.

Fronteira
Sistema do sistema

Gás

Vizinhança
Figura 4 – Representação esquemática de um sistema termodinâmico indicando
o sistema, a fronteira (linha tracejada em vermelho) e a sua vizinhança

Os sistemas podem ser classificados como abertos, fechados ou isolados. Siste-


mas abertos trocam energia e massa com a sua vizinhança. No caso de sistemas
fechados, a energia é trocada com a sua vizinhança, porém não ocorre a troca de
massa. No entanto, se não ocorre trocas de energia e massa entre o sistema e a
vizinhança, temos um sistema isolado.

A completa descrição de um sistema é dada por suas grandezas físicas ma-


croscópicas (termodinâmicas), por exemplo, o volume, a temperatura e pressão.
As propriedades de um sistema podem ser intensivas ou extensivas. As pro-
priedades intensivas independem da dimensão e da quantidade de massa do
sistema; a pressão e temperatura são exemplos de propriedades intensivas. As
propriedades extensivas dependem da quantidade de massa do sistema. Para en-
tender as propriedades extensivas, considere o seguinte exemplo: se dividirmos
um sistema em quatro partes, a soma dos volumes de cada parte será o volume
total do sistema. A energia e o volume são exemplos de propriedades extensivas
do sistema.

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Sistema

A B

C D

Gás
Tsistema = TA = TB = TC = TC
Vsistema = VA + VB + VC + VC
Figura 5 – Representação esquemática de um sistema termodinâmico com a
descrição da temperatura (propriedade intensiva) e do volume (propriedade extensiva)

Unidades de Medidas
As grandezas macroscópicas físicas são muito importantes para caracterizar
o estado de um sistema. Essas grandezas são definidas por um valor numérico e
sua unidade de medida. A temperatura, por exemplo, é uma grandeza descrita
pelo seu valor numérico e a unidade de medida. Estamos acostumados com a es-
cala celsius (ºC) como unidade, porém, em países de origem anglo-saxã, a escala
Fahrenheit (ºF) é a mais comumente utilizada.
Mas qual seria a unidade de temperatura a ser utilizada?

Para contornar essas situações, a comunidade cientifica internacional desen-


volveu o Sistema Internacional de Unidades (SI) com o objetivo de padronizar as
unidades de medidas das grandezas físicas. A unidade de medida da temperatura
no SI é o kelvin (K).

Tabela 1 – Principais grandezas físicas, unidades e suas abreviações que


serão utilizadas ao longo da disciplina, conforme o SI
Grandeza Unidade Símbolo
Comprimento metro m
Massa quilograma kg
Tempo segundo s
Pressão Pascal Pa
Temperatura kelvin K
Quantidade de substância mol mol
Volume Metros cúbicos m3
Calor Joule J

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UNIDADE Introdução à Físico-química e ao Estudo dos Gases

No entanto, apesar da padronização do


SI, ainda encontramos no nosso dia a dia O calor é uma forma de energia
e, dessa forma, possui a mesma
unidades de medidas diferentes daquelas de- unidade de medida (Joule).
finidas no SI. Isso ocorre devido a fatores
históricos. Todo o estudo de termodinâmica
foi desenvolvido no auge da primeira revolução industrial, que teve como marco o
surgimento do motor a vapor. Dessa forma, grande parte das unidades de medidas
na termodinâmica ainda se apresentam no sistema britânico de medidas (bar, btu,
polegadas etc.).

Estudo dos Gases Ideais e suas Propriedades


Trocando ideias... Importante!
Falaremos agora do estado da matéria considerado o mais simples, que é o estado ga-
soso. Normalmente, damos mais atenção para os estados da matéria que são mais per-
ceptíveis para nós, ou seja, os estados líquidos e sólidos, não dando a devida importância
para os gases, pois esses não são facilmente visíveis e palpáveis. Entretanto, estamos
diariamente em contato com diversos tipos de gases.
A atmosfera terrestre, por exemplo, é uma camada gasosa que envolve o planeta Terra
e é responsável pelo surgimento e a manutenção da vida em nosso planeta. Essa cama-
da nos fornece o oxigênio necessário para realizarmos nossa respiração e mantermos o
nosso corpo em funcionamento. A atmosfera também ameniza a incidência da radiação
solar na superfície do globo e contribui para a manutenção da temperatura ideal para o
desenvolvimento dos ecossistemas do planeta. Os gases ocupam a forma do recipiente,
ou seja, não possuem forma e volume definidos, e isso é fundamental para o processo de
compressão e expansão do gás e, dessa forma, esse é muito utilizado nos motores dos
nossos automóveis, por exemplo.
Vamos entender como realizamos os estudos dos gases?

O Gás Ideal ou Perfeito


Para começar a estudar um sistema, devemos sempre partir do modelo mais
simples e ideal para se ter uma base sólida para analisar sistemas mais complexos.
Dessa forma, podemos dizer que o gás ideal ou gás perfeito é o modelo mais sim-
ples possível para descrever o comportamento dos gases. Podemos imaginar um
gás como um conjunto de átomos ou moléculas em permanente movimento aleató-
rio e que suas velocidades dependem da temperatura do sistema. Se a temperatura
aumenta, a velocidade das moléculas do gás aumenta também.

Ao contrário dos líquidos, onde as moléculas estão mais próximas e coesas, os


gases possuem as moléculas muito distantes uma das outras, de tal forma que temos
uma baixa interação entre suas moléculas; exceto quando elas se colidem. As colisões

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entre as moléculas do gás e as colisões das moléculas com a parede do recipiente são
totalmente elásticas, ou seja, não ocorre perda de energia de movimento (cinética)
após a colisão. Dessa forma, não temos a transformação da energia cinética da mo-
lécula em calor após a colisão. No caso do gás ideal, o volume da molécula do gás é
desprezível e as interações intermoleculares de origem eletrostática, ou seja, intera-
ções de atração ou repulsão entre as moléculas também são desprezadas.
Para se determinar a condição do gás em um sistema, ou seja, o estado do gás,
devemos obter as seguintes propriedades físicas do gás no sistema: o volume V; a
quantidade de matéria ou número de mols n do gás; a pressão p; e a temperatura
T do sistema. Experimentalmente, basta determinar três dessas grandezas para que
a quarta seja obtida. Na seção anterior, discutimos sobre o número de mols, então,
falaremos agora um pouco das grandezas de pressão e temperatura e, em seguida,
enunciaremos a equação de estado do gás ideal, ou lei dos gases ideais.

Pressão (p)
A pressão é uma grandeza física definida como a razão entre a força e a área
sobre a qual a força é aplicada.

F
p=
A

Quanto maior a força que atua sobre uma área, maior será a pressão exercida. Po-
demos observar também que a pressão aumenta com a diminuição da área quando
aplicado uma força F constante. Isso explica o motivo de o prego possuir uma ponta
na sua extremidade, pois diminui a área de contato com a parede e, dessa forma,
aumenta a pressão exercida pela força aplicada pelo martelo. No nosso caso, a força
exercida por um gás na parede do recipiente tem origem nas inúmeras colisões entre
as moléculas do gás com a parede. A unidade SI da pressão é o pascal (Pa), que é
equivalente a Pa = 1 N/m². No entanto, existem muitas outras unidades de pressão
que ainda são bastante utilizadas, como a pressão atmosférica (atm), milímetros de
mercúrio (mmHg), metros de coluna de água (m.c.a) e o bar.

Tabela 2 – Principais grandezas físicas, unidades e suas abreviações


que serão utilizadas ao longo da disciplina, conforme o SI
Grandeza Conversões
1 atm = 760 mmHg
1 atm = 101.325 Pa
1 atm = 14,7 psi
Pressão
1 atm = 1,01 bar
1 bar = 100.000 Pa
1 atm = 10,33 m.c.a
1 cal = 4,18 J
Energia
1 eV = 1,602 x 10 -19 J
1 m = 1000 mm
Comprimento 1 m = 100 cm
1 km = 1000 m
1 L = 0,001 m³
Volume 1000 L = 1 m³
1mL = 1 cm³

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UNIDADE Introdução à Físico-química e ao Estudo dos Gases

Temperatura (T)
Estamos acostumados a falar, em nosso dia a dia, a todo momento, sobre a
temperatura. Comentamos sobre a temperatura ambiente de uma sala, cidade ou
país, temperatura para manter conservado os alimentos ou evitar altas tempera-
turas que podem estragar alguns produtos que consumimos. Mas como defini-
mos a grandeza temperatura?
Na físico-química, a temperatura é uma propriedade física que está associada
com a energia de um sistema. Quanto maior a temperatura de um sistema, maior
energia interna ela carrega. Dessa forma, a temperatura está diretamente relacio-
nada com o grau de agitação das moléculas do sistema, ou seja, a energia cinética
das moléculas. A unidade SI da temperatura é o kelvin (K), que é considerada a
escala absoluta, mas podemos facilmente encontrar as medidas de temperatura
em outras escalas como o Celsius (ºC) e o Fahrenheit (ºF). Podemos associar a
escala Celsius com a kelvin através da seguinte relação:

T(K) = T(ºC) + 273,15

onde T(k) é a temperatura dada em kelvins e T(°C) é a temperatura em graus


­Celsius. A conversão entre escalas Fahrenheit e Celsius obedece a seguinte relação:

T(ºF) = 1,8T (ºC) + 32

em que T(°F) é a temperatura na escala Fahrenheit e T(°C), a temperatura em


graus Celsius.

A escala Kelvin (não se fala grau Kelvin!) é considerada escala absoluta por considerar o zero
Explor

absoluto como referência de escala, ou seja, a agitação das moléculas de um sistema é nula.
Mas será que existem sistemas que alcançam o zero absoluto kelvin?.

A escala Celsius adota como referências o ponto de solidificação da água sob


pressão normal em 0 °C ou 273,15 K, e o ponto de vapor da água sob pressão
normal em 100 ºC ou 373,15 K. Na escala Fahrenheit, as referências são a
mistura de gelo e cloreto de amônia em 0 ºF, ou aproximadamente -17,5 °C, e a
temperatura do corpo humano em 100 °F, ou aproximadamente 37,5 °C.

Você sabia que existe uma escala chamada Rankine? Saiba mais consultando o link:
Explor

https://bit.ly/2IC0tph

Para realizar as medições de temperatura de um sistema, utilizamos os termôme-


tros. Os mais comuns são os de bulbo, que são aqueles que colocamos embaixo do
braço para medir a temperatura do corpo. No entanto, temos outros tipos de termô-
metros, como os digitais ou de resistência elétrica e os termômetros infravermelhos.

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Importante! Importante!

Cuidado: o gás e o vapor não são análogos! O gás é um estado da matéria e para mudar
seu estado devemos alterar sua temperatura e pressão simultaneamente. A temperatura
do gás está acima da temperatura crítica da substância. A temperatura crítica é a tem-
peratura limite que determina a conversão do estado gasoso para o líquido, variando
somente a pressão. Acima da temperatura crítica, a substância só pode existir na forma
gasosa. No caso do vapor, temos a condição de equilíbrio entre a transição de gás e lí-
quido, ou seja, o vapor pode ser transformado em líquido somente com o aumento de
pressão ou com a diminuição da temperatura. A temperatura do vapor está abaixo da
temperatura crítica..

A Lei Geral dos Gases Ideais


A lei dos gases ideais foi fundamentada a partir das pesquisas desenvolvidas
pelos cientistas Jacques Charles, Amadeo Avogadro, Robert Boyle e Louis Joseph
Gay-Lussac em estudos separados.

Boyle observou que, dado um gás em um sistema fechado e com a sua tempera-
tura constante (processo isotérmico), o volume do gás aumenta e simultaneamente
ocorre uma diminuição da pressão exercida pelas moléculas do gás nas paredes
do recipiente. Dessa forma, o volume e a pressão são inversamente proporcionais.
Equacionando a situação, o produto p.V é constante para uma quantidade determi-
nada de massa do gás e temperatura fixa, ou seja:

pV = constante com n e T constantes (Lei de Boyle)

Charles formulou sua lei observando que, dado um gás confinado em um sistema
fechado e a pressão constante (processo isobárico), o volume do gás aumenta com
o aumento da temperatura e diminui com a diminuição da temperatura do sistema,
ou seja, o volume do gás é diretamente proporcional com a temperatura do siste-
ma. Equacionando a situação, temos:

V = constante.T (Lei de Charles)

Gay-Lussac, através dos estudos dos gases, observou que para um gás confina-
do em sistema fechado e volume constante (processo isocórico ou isovolumétrico)
sua pressão é diretamente proporcional à sua temperatura, ou seja, para o estado
inicial 1 e final 2 do gás, temos:

P1 P2
=
T1 T2

O aumento da pressão ocorre devido ao aumento das colisões entre as molécu-


las e a parede do recipiente com o aumento da temperatura.

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UNIDADE Introdução à Físico-química e ao Estudo dos Gases

A partir da associação das equações obtidas por Boyle, Charles e Gay-Lussac,


obtemos a conhecida lei geral dos gases ideais:

PV
1 1 PV
= 2 2
T1 T2

Por fim, Avogadro estabeleceu a relação do volume de um gás com o seu nú-
mero de mols, conhecido como o princípio de Avogadro: V = constante. n. Dessa
forma, a junção das leis de Boyle, Charles, Gay-Lussac e Avogadro nos fornece a
equação de estado do gás perfeito ou a lei dos gases ideais:

pV = nRT

em que p é a pressão do gás ideal, V seu volume, n o número de mols, R é uma


constante chamada de constante universal dos gases e T é a temperatura do gás.

A constante universal dos gases é uma constante física que associa o número de
mols de um gás com a pressão e temperatura. Para determinar o valor de R, con-
sideramos o sistema dentro das condições normais de temperatura e pressão
(CNTP). Dessa forma, temos na CNTP os valores para pressão p = 1 atm; n = 1
mol; T = 273,15 K e V = 22,4 L. Substituindo esses valores da equação de estado
do gás perfeito, obtemos o valor de R = 0,082 L.atm/K.mol.

Você notou que para obter o valor de R não precisamos saber qual é a composi-
ção do gás? Por isso que denotamos a constante R de constante universal.
Explor

Para maiores informações e detalhes dos critérios da CNTP, visite o site: https://bit.ly/2LXj7dc

Agora que temos um bom conhecimento sobre os gases ideais, podemos nos de-
parar com o seguinte problema: como descrever o comportamento de uma mistura
de gases? Para responder a essa pergunta precisamos determinar a contribuição de
pressão parcial e fração molar de cada gás que compõe a mistura. A fração mo-
lar (xi) de um gás componente da mistura é a razão entre o número de mols desse
gás com o número de mols total da mistura.

ni
xi = onde nT = n1 + n2 +  é o número de mols total da mistura
nT

A pressão parcial de um gás componente de uma mistura é definida como

p1 = x1p

em que a soma das pressões parciais é igual à pressão total da mistura.

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Estudo dos Gases Reais e suas Propriedades
Trocando ideias... Importante!
Conforme vimos anteriormente, o modelo de gás ideal é o modelo mais simples possível
para descrever o comportamento dos gases. Em algumas situações, como em sistemas
com altas temperaturas e baixa pressão, podemos aproximar o comportamento do gás
ao comportamento ideal e, nesse caso, o modelo de gás ideal é satisfatório e suficiente
para explicar o gás no sistema.
No entanto, para sistemas com variação de pressão mais sensível, o gás não apresenta
esse comportamento ideal e o modelo de gás perfeito falha ao descrever as suas pro-
priedades físicas. Dessa forma, necessitamos de um modelo melhorado, mais próximo
da realidade e que corrija as falhas do modelo ideal. Um dos modelos propostos para a
resolução desse problema é o modelo de gás real. Discutiremos agora esse modelo em
detalhes e os seus melhoramentos em relação ao modelo de gás ideal.

Fizemos anteriormente os estudos dos gases através do modelo de gás ideal.


Para se obter a equação de estado dos gases ideais, consideramos algumas impor-
tantes aproximações. Uma aproximação foi a de considerar os volumes das molé-
culas do gás desprezíveis ou pontuais. Uma outra aproximação foi em relação a não
considerar as forças atrativas e repulsivas entre as moléculas do gás, ou seja, as inte-
rações intermoleculares das moléculas do gás são desprezadas. Em alguns sistemas
nos quais a pressão tende a zero, ou seja, pressões muito baixas e temperaturas
muito elevadas, o modelo de gás ideal descreve muito bem o comportamento do
gás no sistema. Mas, na grande maioria dos sistemas que analisamos, não temos
essas condições de contorno, ou seja, para sistemas com baixas temperaturas ou
altas pressões o modelo de gás perfeito não descreverá de forma correta os valores
das grandezas físicas do sistema.

Mas por que o modelo de gás ideal descreve bem somente sistemas com pressões
muito baixas e temperaturas muito elevadas? Isso é fácil de responder se lembrar-
mos da relação direta da temperatura com a energia cinética das moléculas do gás.
Dessa forma, para temperaturas elevadas, a energia cinética média das moléculas
do gás é alta e, com o aumento da velocidade das moléculas, temos um aumento
da distância média entre elas. No entanto, se reduzirmos a temperatura do sistema,
diminuímos a energia cinética das moléculas e consequentemente diminuímos a
distância média entre as moléculas, de tal forma que as interações de atração e
repulsão entre as moléculas começam a se tornar significativas na descrição do gás.

Mas e com relação à pressão do sistema? Vamos imaginar a seguinte situação:


imagine um gás dentro de um pistão com um êmbolo flexível. Se mantivermos

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UNIDADE Introdução à Físico-química e ao Estudo dos Gases

a temperatura do pistão constante e empurrarmos o êmbolo de tal forma que


diminuamos o volume ocupado pelo gás dentro do cilindro, aumentaremos a
pressão realizada no gás. Com o aumento da pressão e consequente diminuição
do volume ocupado pelo gás, as distâncias médias entre as moléculas do gás dimi-
nuem, ou seja, o gás começa a ficar mais condensado e novamente as interações
intermoleculares se tornam importantes na descrição do comportamento do gás.
No modelo de gás ideal, não conseguimos descrever a condensação de um gás
devido à ausência das interações intermoleculares na equação de estado. Dessa
forma, não temos como saber as condições necessárias para um gás sofrer uma
mudança de fase. Fica evidente a necessidade de corrigir a equação de estado do
modelo de gás ideal.

Fator de Compressibilidade (Z)


Sabemos que o modelo de gás ideal não descreve bem o gás em diversas situ-
ações, porém, em algumas situações, o modelo é satisfatório. Você deve estar se
perguntando: como saber se um gás apresenta ou não o comportamento ideal em
uma determinada condição do sistema? É aqui que entra o fator de compressibi-
lidade, Z. O fator de compressibilidade avalia o grau de compressão de um o gás
quando submetido a uma certa temperatura e pressão. Ele é definido como a razão
entre o volume molar do gás e o volume molar do gás ideal:

Vreal V RT
Z= onde Vreal = gás e Videal =
Videal ng p

Podemos analisar o Z da seguinte forma: se Z = 1, temos Vreal =Videal , ou seja, o


gás se comporta como um gás ideal. No entanto, se Z é maior do que 1, (Z > 1), ou
Z menor do que 1 (Z < 1), o gás não se comporta como ideal. Interessante observar
que Z > 1 implica em Vreal =Videal e indica que as forças intermoleculares de repul-
são entre as moléculas são as predominantes, uma vez que o volume do gás real é
maior do que o ideal. No caso contrário, Z < 1, implica em Vreal =Videal e indica que
as forças intermoleculares atrativas são as predominantes, uma vez que o volume
do gás real é menor do que o ideal.

A Equação de Van Der Waals


Johannes Diderik van der Waals, físico holandês, foi o primeiro cientista a pro-
por, em 1873, a inserção das forças intermoleculares de atração e repulsão na
equação de estado do gás. Por isso, algumas vezes encontramos a denominação
“forças de van der Waals” para as forças intermoleculares de atração e repulsão.
As forças entre moléculas apolares foram descritas por outro físico estadunidense
chamado Fritz Wolfgang London (forças de London).

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Basicamente, van der Waals inseriu na equação de estado do gás as correções
das forças intermoleculares (atração e repulsão) e o volume das moléculas do
gás. Dessa forma, temos a adição de dois termos na equação de estado, um para
corrigir as forças de atração e repulsão e outro para corrigir o volume das molé-
culas do gás. Na equação de van der Waals, o volume das moléculas é definido, e
não mais considerado como pontual ou desprezível. Após um longo estudo, van
der Waals apresentou a sua equação de estado:

nRT n2
p= -a 2
(V - nb) V

em que as constantes a e b são chamadas de constantes de van der Waals e são


características intrínsecas de cada gás.
A constante a está relacionada com a intensidade das forças atrativas e a cons-
tante b, às interações repulsivas entre as moléculas. Observe que a equação de van
de Waals se assemelha à equação de estado do gás ideal. Porém, temos o termo
n2
a adicionado para a pressão e o termo nb subtraído do volume. Na equação de
V2
van der Waals, o volume das moléculas do gás é levado em consideração através do
termo nb e as moléculas possuem volumes de pequenas esferas rígidas e impene-
tráveis. Dessa forma, as moléculas sofrem interações repulsivas entre si e o termo
nb deve ser retirado do volume total do sistema, uma vez que representa o volume
total ocupado pelas próprias moléculas.

Sabemos que a pressão do gás depende da quantidade e frequência de colisões


das moléculas do gás com a parede do recipiente. No entanto, com a inserção das
n2
forças de atração na equação de van der Waals através do termo a , observa-
V2
mos que as frequências de colisões diminuem proporcionalmente com o quadrado
da concentração molar, devido ao aumento do número de moléculas do gás e, con-
sequente, o aumento das forças atrativas entre as moléculas. Dessa forma, temos
que a pressão obtida no modelo de gás ideal é maior do que a do modelo de van der
Waals para gases reais. Essa conclusão é observada na equação de van der Waals
n2
através da subtração do termo a 2 da pressão total do sistema.
V
O modelo de van der Waals para os gases reais foi o primeiro e mais conhecido.
No entanto, após a equação de van der Waals, outros modelos de gases reais foram
desenvolvidos por outros cientistas. A intenção era de aprimorar o modelo de van
der Waals para se obter resultados mais precisos. Porém, o grau de complexidade
desses novos modelos aumentou com a inserção de um número maior de constan-
tes e parâmetros. Na Tabela 3, são mostradas as equações de estado do gás para
alguns modelos desenvolvidos.

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UNIDADE Introdução à Físico-química e ao Estudo dos Gases

Tabela 3 – Algumas equações de estado do gás.


Modelo Equação
Gás ideal pV = nRT
nRT n2
Van der Waals p= -a 2
(V - nb) V

nRT n2
Berthelot p= a
(V - nb) TV 2

nRT ì ï
ï nB (T ) n 2C (T ) ü
ï
ï
Virial p= í1 + + + ý
(V - nb) ïîï V V 2
ï
ï
þ

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Físico-química
ATKINS, P. W.; DE PAULA, J. A. Físico-química. Vol. 1 e 2. 9. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2018.
Química Geral e reações químicas
KOTZ, J. C et al. Química Geral e reações químicas. 3. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2016.

Vídeos
Modelos para Gases Reais
https://youtu.be/p7sBgGz4VKM

Leitura
Leis da Termodinamica
https://bit.ly/2VtVbkX

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UNIDADE Introdução à Físico-química e ao Estudo dos Gases

Referências
ATKINS, P. W.; DE PAULA, J. A. Físico-química. Vol. 1 e 2. 9. ed. Rio de Janeiro:
LTC, 2018

HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos da física, volume 1:


mecânica. 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

KOTZ, J. C et al. Química Geral e reações químicas. 3. ed. São Paulo: Cengage
Learning, 2016.

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