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A NEUROPSICOLOGIA

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Sumário
NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2

INTRODUÇÃO................................................................................................. 3

HISTÓRIA DA NEUROPSICOLOGIA .............................................................. 5

NEUROPSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL .......................... 9

FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS ............................................................ 17

NEUROPSICOLOGIA NA VELHICE ............................................................. 24

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 31

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 32

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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INTRODUÇÃO

A neuropsicologia, mais frequentemente, trata pacientes com problemas


neurológicos, que podem incluir traumatismo craniano, acidente vascular cerebral,
tumores cerebrais, doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer,
doença de Parkinson, esclerose múltipla, epilepsia, transtornos do desenvolvimento,
como o autismo etc. Todas essas patologias podem apresentar alterações
neuropsicológicas, com perfis cognitivos relativamente característicos. Sua detecção
é de suma importância para o enfrentamento de um tratamento adequado. Outro
grupo assíduo de pacientes verifica-se na população idosa, preocupada com seus
problemas de memória. Em muitos casos, trata-se simplesmente das mudanças
normais que ocorrem no sistema cognitivo durante o envelhecimento, mas em outros,
pode ser devido à presença de um transtorno cognitivo leve, ou mesmo as fases
iniciais da demência.

Entre as mais recentes descobertas dos últimos tempos está a viabilidade de


fazer um diagnóstico precoce da doença de Alzheimer, através de testes sensíveis e
específicos, que permitem maiores possibilidades de tratamento, uma vez que está
provado que uma maior eficácia terapêutica é obtida na fase inicial da enfermidade.
Existem outras doenças crônicas, tais como diabetes, hipotireoidismo, lúpus etc., as
quais são, muitas vezes, também cognitivas. Desse modo, as alterações de muitas
desordens psiquiátricas (tais como esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar,
transtorno obsessivo-compulsivo etc.) comprometem certas funções cognitivas e, em
muitos casos, merecem uma exploração neuropsicológica.

Particularmente, no último grupo de patologias, é onde a neuropsicologia tem


avançado nos últimos tempos, propondo uma mudança de olhar para distúrbios
clássicos, tais como a esquizofrenia e a doença bipolar, por exemplo. Compreender
a esquizofrenia como uma doença com déficits em funções executivas, atenção e
cognição social, envolve uma mudança inteira no que diz respeito à possibilidade de
tratamento e qualidade de vida desses pacientes.

A neuropsicologia é uma disciplina que estuda a relação entre estruturas


cerebrais, funções cognitivas (atenção, memória, linguagem, habilidades visuo-
espaciais, funções executivas etc.) e processos emocionais e comportamentais. O

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trabalho do neuropsicólogo, portanto, consiste em avaliar e reabilitar pessoas com
alteração de qualquer função cognitiva. A deterioração cognitiva está associada à
várias causas, como:

- Envelhecimento.

- Perda cognitiva leve.

- Demência (doença de Alzheimer, demência associada à doença de


Parkinson, demência vascular etc.).

- Lesão cerebral adquirida (traumatismo craniano, tumor cerebral e


doenças cerebrovasculares).

- Transtornos psíquicos.

Além disso, o neuropsicólogo pode em avaliar e reabilitar pessoas com


alteração de qualquer função cognitiva. A Avaliação Neuropsicológica consiste em
realizar uma entrevista inicial com o paciente e seu acompanhante, e na aplicação
posterior de exames ao paciente. Os principais objetivos da avaliação são:

-Conhecer o estado do funcionamento cognitivo, comporta- mental, emocional


e funcional.

-Contribuir para o diagnóstico de patologias neurológicas que

ocorrem com sintomas cognitivos e / ou comportamentais.

-Desenvolver programas de reabilitação neuropsicológica.

-Valorizar a evolução ao longo do tempo.

Desse modo, será visto que a Reabilitação Cognitiva consiste em estimular as


funções cognitivas do paciente, que são afetadas e manter as preservadas, a fim de
alcançar a ativação dos diferentes sistemas cerebrais. Sendo assim, a base científica
que justifica a reabilitação cognitiva baseia-se em fenômenos biológicos bem
conhecidos, como a neuroplasticidade, que é a capacidade dos neurônios para se
regenerar e estabelecer novas conexões.

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HISTÓRIA DA NEUROPSICOLOGIA

A Neuropsicologia é, fundamentalmente, uma disciplina clínica que converge


entre psicologia e neurologia e estuda os efeitos de lesões, danos ou avarias nas
estruturas do sistema nervoso central, causados nos processos cognitivos, no
comportamento psicológico, emocional e individual. Esses efeitos ou déficits podem
ser provoca- dos por traumatismo craniano, acidente vascular cerebral ou tumores
cerebrais, doenças neurodegenerativas (esclerose múltipla, doença de Alzheimer,
Parkinson etc.) ou distúrbios do desenvolvimento (epilepsia, paralisia cerebral,
transtorno de déficit de atenção, hiperatividade etc.). (VERDEJO, 2010)

Existem várias abordagens para essa ciência, de modo que na neuropsicologia


clássica, a dinâmica cognitiva e a integral podem ser distinguidas. A neuropsicologia
é um ramo de especialização que pode ser alcançado após estudos universitários de
graduação. Assim, a neuropsicologia forma um psicólogo ou um médico (psiquiatra
ou neurologista), especializados na área, que servem em ambientes acadêmicos,
clínicos e de pesquisa e que podem avaliar os danos cerebrais de uma pessoa, a fim

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de detectar áreas e funções anatômicas ou cognitivas afetadas para serem
canalizadas em um programa de reabilitação neuropsicológica.

A neuropsicologia tem sua origem no trabalho de vários psicólogos e médicos


nos séculos XIX e XX. (VERDEJO, 2010). O seu estudo remonta a tempos antigos,
em que havia interesse em compreender tudo relacionado à atividade cognitiva,
começando, assim, a serem formuladas as primeiras hipóteses, baseadas no
raciocínio de observação e experimentação. Ao longo da história, muitas
contribuições permitiram a consolidação da neuropsicologia como ciência.
(VERDEJO, 2010)

De acordo com Verdejo (2010), para se ter uma maior compreensão do


desenvolvimento histórico da neuropsicologia, é possível dividi-la em 4 partes, quais
sejam:

Período pré-clássico;

Período clássico

Período moderno

Período contemporâneo

Em se tratando do período pré-clássico desde 1861), desde os tempos antigos


o homem tem sido questionado sobre a localização da mente. Foi na Grécia, onde se
teve início a primeira abordagem sobre o tema. O primeiro argumento foi levantado
por Alemeón de Crotona (s: VI AC), mas 100 anos mais tarde é Hipócrates que,
retomando Alemeón, cria um corpus, onde estão registrados os mais antigos tratados
sobre o papel do cérebro e das imparidades cognitivas (cerca de 400 a.C9).
(VERDEJO, 2010).

Hipócrates menciona dois tipos de alterações: os anaudos (dificuldades


motoras) e os áfonos (dificuldades sensoriais). Foram vários os autores gregos
focados em localizar a função principal da mente humana (egemonikón) e do seu
produto. Muitas teorias foram elaboradas nesse período, como as de Ciro, que em
sua obra Hominis, faz uma excelente exposição dos fatos: é fácil verificar a existência

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de inúmeras controvérsias entre elas sobre a localização do alama principal. (VER-
DEJO, 2010)

Entre as muitas abordagens, podemos concluir que existem dois principais


locais para a mente, o primeiro é o coração, que é representado pela tese de
Aristóteles, Hipócrates e os estóicos, e o segundo é o cérebro, como proposto por
Platão, Pitágoras e Alcmeão de Crotona. (VERDEJO, 2010)

No início do século XIX, Bichat, discípulo de Pinel e autor decisivo na criação


do modelo anatamoclínico, escreve em seu trabalho Recherches Physiologiques sur
la Vie et la Mort: “O cérebro é certamente a sede da inteligência, mas não é das
paixões” (GALENO, 129-201)

É crítico da tese de Aristóteles e dos estoicos, preferindo seguir as questões


levantadas por Platão. Dessa forma, afirma que encontra-se no cérebro as funções
psíquicas fundamentais (compreensão, memória, imaginação, sensibilidade e
vontade), no coração, as paixões ou funções “irascíveis” e no fígado as funções
concupiscíveis”). (VERDEJO, 2010)

Ao longo dos séculos XV-XIX surgiram diferentes relatórios que registraram


uma linguagem relacionada à patologia, conforme publicado em: Antonio Guaneiro
(s. XV), relata sobre dois pacientes afásicos, uma parafasia e outro com afasia não
fluida; Gerolamo Mercuriale (s XVII), faz a primeira descrição de um caso de alexia
sem agrafia; Joham Schmit e Peter Schmit (s. (XVII), fala sobre vários pacientes
afásicos com diferentes sintomatologias, incluindo a incapacidade de dizer o nome e
repeti-lo. No século XVIII é conhecido o transtorno cognitivo diferente, especialmente
verbal: anomia e jargão, incapacidade de cantar e até dissociação na capacidade de
ler diferentes linguagens. (VERDEJO, 2010)

Alcmeão de Crotona (s. VI aC) foi um médico e discípulo de Pitágoras cuja


investigação incidiu sobre a origem e processamento de sensações. Junto com
Pitágoras cria a tabela de oposições (doce/ azedo, branco/preto, grande/pequeno),
que coloca em relação as sensações, as cores e as magnitudes. Outra de suas
contribuições foi a elaboração de uma teoria que supunha a alma imortal e em
contínuo movimento circular. Alcmeón atribuiu a posse da alma dos homens às
estrelas e identificou a harmonia com uma lei universal. (VERDEJO, 2010)

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Em meados do século XIX, o antropólogo francês Pierre Paul Broca (1824-
1880) tornou-se famoso por declarar em 1861 a localização do centro da língua,
conhecida hoje como “área de Broca” e localizado no terceiro giro frontal do
hemisfério esquerdo. Essa descoberta foi vital para estabelecer a classificação de
uma das síndromes neuropsicológicas por excelência: a afasia. Na afasia de Broca,
a fluência expressiva é alterada, mas a compreensão permanece preservada.
(VERDEJO, 2010)

De menor conhecimento é a teoria do médico francês Marc Dax, que


descreveu, em 1836 (portanto, 30 anos antes de Broca), um caso de paralisia direita
associada à afasia, que ele associou a um dano no cérebro por acidente vascular
cerebral no hemisfério esquerdo. No entanto, Marc Dax nunca foi reconhecido por
sua grande descoberta. Em 1874, o médico alemão Carl Wernicke (1848-1905)
descreveu a síndrome afásica que leva seu nome (síndrome de Wernicke) e que é
parcialmente oposta à descrita por Broca. (VERDEJO, 2010)

É bem verdade que a afasia de Wernicke é decorrente de uma lesão temporal-


parietal esquerda. Nele, o entendimento é o mais alterado, sendo a fluência normal.
No entanto, o conteúdo do discurso dos pacientes afetados por ela, também é
alterado de uma forma que tem sido, por vezes, apelidado de “salada de palavras”
(as palavras são bem pronunciadas, mas o seu conteúdo se encaixa apenas
parcialmente à gramática e ao propósito comunicativo do sujeito). (VERDEJO, 2010)

Esse mesmo autor descreveu, pela primeira vez, a encefalopatia que leva seu
nome (síndrome de Korsakoff), devido a um déficit de tiamina, que caracteriza-se por
uma síndrome confusional e amnésia. Um precursor das ideias de Broca foi Franz
Joseph Gall (1758-1828), criador da frenologia, em 1802. A frenologia considerou que
havia funções mentais com uma localização diferenciada no cérebro. Embora essa
disciplina seja, atualmente, considerada uma pseudociência, por- que sua
classificação e localização das funções mentais não foi baseado em nenhuma
evidência científica, o boom que o século XIX viveu, abriu o caminho para as teorias
de Broca. O debate entre localizacionismo e funcionalismo é demonstrado.

Um cientista muito crítico das idéias da frenologia foi Marie-Jean Pierre


Flourens (1794-1867). Esse fisiologista francês acreditava que era impossível

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localizar as funções cerebrais com precisão, já que as diferentes estruturas cerebrais
interagiam umas com as outras, criando sistemas funcionais.

Um contemporâneo de Wernicke assumiu-se como defensor do funcionalismo.


John Hughlings Jackson (1835-1911), um médico inglês, criticou muito as
contribuições de Broca e Wernicke; negando a possibilidade de que localizações
neurológicas específicas pudessem ser encontradas para a linguagem, por
considerá-la uma capacidade muito complexa. O debate iniciado por Gall e Flourens
e continuado por Jackson, entre localização e funcionalismo, durou até o século XXI
e, ainda hoje, faz parte da atual neuropsicologia.

NEUROPSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL

A neuropsicologia do desenvolvimento infantil aborda a relação entre o


processo maturacional do sistema nervoso central e o comportamento durante a
infância; considera as variáveis de maturação, a plasticidade do cérebro e o
desenvolvimento durante os primeiros estágios do ciclo de vida, bem como projeta e
adapta modelos e estratégias de avaliação e intervenção de distúrbios, apropriado
para crianças. A neuropsicologia do desenvolvimento consolidou-se, nas últimas
décadas, pelas contribuições teóricas e aplicadas na avaliação, prevenção, detecção
e intervenção precoce de desordens neuropsicológicas no desenvolvimento infantil.
(VAKIL, 2012)

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No âmbito da saúde mental das crianças, as contribuições a neuropsicologia
infantil e neuropsicologia do desenvolvimento têm sido cruciais para uma abordagem
integrada para doenças complexas, como autismo, síndrome de Asperger ou
síndrome de Rett, e seus instrumentos de avaliação tem sido amplamente utilizados
no diagnóstico de desordens psicomotoras, da linguagem, das funções executivas e
das incapacidades cognitivas, entre outras. No entanto, é importante notar que a
ênfase na infância, especialmente na identificação precoce de alterações no
desenvolvimento, deve-se, entre outros fatores, à descoberta do cientista Kennard.
(VAKIL, 2012)

Em 1942, Kennard, para estudar a reorganização neuronal do sistema nervoso


em macacos, desde a infância até a maturidade, descobriu que havia mais chance de
recuperar aquela função, quando ocorreu à lesão em idade mais jovem. Esse
princípio, de maior recuperação em idade mais jovem, foi confirmado após numerosos
estudos com crianças. Ele foi chamado de “Princípio de Kennard” e é o incentivo para
o trabalho sério na prevenção e intervenção de transtornos de desenvolvimento e
aprendizagem em crianças e adolescentes. (VAKIL, 2012)

É bem verdade que a etiologia das lesões cerebrais na infância é muito variada
e pode ser classificada de acordo com vários indicadores; no momento em que eles
ocorrem, eles podem ser, de acordo com Vakil (2012):

a) pré-natal (toxoplasmose, desnutrição intrauterina, abuso intrauterino,


entre outros);

b) perinatal (hipóxia, mecônio etc.);

c) pós-natal (lesões na cabeça, infecções, desnutrição etc.);

Portanto, qualquer avaliação do neurodesenvolvimento deve explorar


completamente os antecedentes e características do desenvolvimento integral
durante a primeira infância. Daí a importância da avaliação em uma história médica
completa, que é feita e deve ser complementada pela observação e análise
abrangente de informações relativas às características e condições de
desenvolvimento durante os primeiros anos de vida. (VAKIL, 2012)

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Evidentemente, os testes e outros instrumentos de diagnóstico
neuropsicológico do desenvolvimento infantil, ligarão as informações aos processos
de identificação e avaliação para fins de diagnóstico. Vakil (2012) destaca que foram
classificadas as principais causas de lesão cerebral por tipo de dano: trauma, vascular
(hemorragia), doenças infecciosas (meningite, toxoplasmose), distúrbios metabólicos
(galactosemia) ou neurotóxicos. Esses autores destacam a importância da
plasticidade cerebral e da maturidade neuropsicológica na infância para avaliar
sequelas e recuperação após a lesão.

Em relação à caracterização de lesões cerebrais na infância, destaca-se que


foi realizada uma pesquisa para estabelecer os perfis neurocognitivos e
comportamentais de distúrbios do desenvolvimento, e analisadas suas relações com
diferentes lesões cerebrais, da infância até a lesão na forma adulta. Novamente, é
pertinente observar a habilidade e a experiência que deve ter o avaliador de
desenvolvimento neuropsicológico para a seleção de baterias e, especificamente,
destinado às crianças e às condições socioambientais que caracterizam cada caso
ou testes de determinada população.

A avaliação do neurodesenvolvimento da criança não é igual à do adulto. O


autor argumenta que, embora a neuropsicologia do desenvolvimento, cujo objeto de
estudo é o desenvolvimento de funções cognitivas e sua relação com a maturação do
cérebro durante todo o ciclo de vida principal, baseia-se em técnicas de neurociência
e de neuroimagem; enquanto a neuropsicologia infantil destaca as diferenças que
existem na maturação do cérebro do nascimento à adolescência, entre meninos e
meninas, entre o cérebro adulto e o cérebro em desenvolvimento; bem como o padrão
inverso observado no desenvolvimento da substância branca versus o da massa
cinzenta. (VAKIL, 2012)

Na neurociência e na neuropsicologia cognitiva é necessário diferenciar os


termos “estrutura” e “função” quando referidas ao cérebro. A estrutura está
relacionada à anatomia e aos processos fisiológicos do cérebro e a função refere-se
ao comportamento, aos pensamentos e às emoções, que certas estruturas cerebrais
tornam possíveis. Nesse sentido, é fundamental retornar ao conceito de Sistema
Funcional exposto por Luria (pai da neuropsicologia) para se referir à origem dos
processos psicológicos. (VAKIL, 2012)

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O conceito de sistema funcional refere-se ao fato de que uma função ou
processo psicológico não é responsável pela região específica do cérebro ou grupo
neuronal, mas o resultado de ligações integradas, situadas em diferentes níveis
dimensionais do sistema nervoso central. Luria substitui o conceito de função
(localizador) pelo conceito e sistema funcional. Como visto aqui, o fenômeno é
suficientemente complexo e, portanto, os transtornos do desenvolvimento neurológico
são as lesões cerebrais, que são expressas como desordens neuropsiquiátricas, cuja
origem estaria relacionada a ambos com os períodos de desenvolvimento intrauterino
e com o período sensível pós-parto. (VAKIL, 2012)

Note que o termo neuropsiquiatria implica um fundo complexo que supera o


componente fisiológico e estrutural do desenvolvimento. Com base nos resultados de
neuroimagem e análise própria da neurofisiologia, Vakil (2012) propõem, como um
dos objetivos centrais da avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor em crianças
e identificando fatores de risco biológico, dificuldades no processo de maturação e
detecção de lesões e distúrbios do desenvolvimento, guiando o prognóstico e
acompanhamento de lesões e suas sequelas ao longo do tempo, durante o
desenvolvimento infantil, porque o momento da gestação em que a lesão ocorre, sua
gravidade e sua extensão, determinará o tipo de afetação funcional do indivíduo, após
o nascimento e a expressão de distúrbios neurocognitivos e comportamentais.

Além disso, destaca-se a importância da psicologia do desenvolvimento para


compreender a etiologia do desenvolvimento neurológico de lesão cerebral e
processos de maturidade cognitiva, linguagem e regulação emocional, incluindo
outros. Em contextos como o Brasil, é importante abordar a avaliação e intervenção
para a realidade socioeconômica do povo, para o desenvolvimento global é o
resultado da combinação da hereditariedade biológica e fatores físicos, mas também
fatores sociais, ambientais e especificidades culturais que de- vem ser respeitadas na
interpretação dos dados. São determinantes a compreensão de fatores associados,
etiológicos e de manutenção; em suma, a inter-relação da informação em cada caso
particular. (VAKIL, 2012)

Esses princípios resultam em um ganho na validade ecológica de testes e


procedimentos de avaliação e diagnóstico. Outro tema central da neuropsicologia
infantil do desenvolvimento é a maturidade neuropsicológica. Ela é considerada o
nível de organização e desenvolvimento maturacional, permitindo o desenvolvimento

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das funções cognitivas e comportamentais, de acordo com a idade cronológica do
sujeito, destacando as mudanças durante o desenvolvimento e, especialmente, na
infância. A neuropsicologia do desenvolvimento na infância inclui o estudo do cérebro
em desenvolvimento e os efeitos comportamentais em casos de lesão cerebral, bem
como o desenvolvimento normal em relação a mais rápidas mudanças evolucionárias
na infância e na vida adulta.

Da mesma forma, afirma-se que o prognóstico, após as lesões cerebrais, na


maioria dos casos, é mais favorável na infância do que na idade adulta, devido à
plasticidade cerebral (Princípio de Kennard). A avaliação e a intervenção abrangente
no neurodesenvolvimento da criança deve ter objetivos específicos de acordo com a
idade, de modo que respeite as taxas individuais de desenvolvimento em cada área
particular de ontogenia, e reconheça a importância e a variabilidade dos processos
adaptativos e funcionais específicos de cada uma, identificando os fatores de risco e
gerando propostas de intervenções preventivas frente às alterações encontradas,
focadas não apenas na reabilitação das consequências das lesões, mas também na
qualificação funcional e no treinamento para melhorar a aprendizagem e a adaptação
da população infantil em diferentes contextos (escola, família, social).

Finalmente, em relação a neuropsicologia do desenvolvimento e


psicopatologia, Tirapu (2007) salienta a importância dos fatores de ris- co, fatores de
proteção e a prevenção de desordens do desenvolvimento, para diferenciar entre o
desenvolvimento normal e o patológico durante todo o ciclo de vida, facilitando a
intervenção precoce. As condições ad- versas no ambiente uterino não produzem
necessariamente resultados desfavoráveis, mas a combinação de fatores de risco
pode produzir maior vulnerabilidade. A psicopatologia e a neuropsiquiatria do
desenvolvimento destacam a complexidade de múltiplos fatores de risco e fatores de
proteção. Esses fatores são genéticos, neuroendócrinos, ambientais e psicossociais,
e interagem com fatores adversos durante a gravidez: o parto, o período neonatal e
durante a infância.

Os fatores de risco têm sido vistos como causais, mas, mais do que isso, têm
contribuído para um processo dinâmico e interativo ao longo do tempo. Desde a
abordagem inicial até o estudo do neurodesenvolvimento de lesões cerebrais na
infância, é pertinente abordar algumas diretrizes para avaliação e intervenção precoce

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de transtornos de origem neuropsicológica nos primeiros anos de vida. (TIRAPU,
2007)

A neuropsicologia do desenvolvimento infantil orienta os processos e


estratégias de avaliação neuropsicológica na população infantil com o objetivo de
detectar e avaliar suas alterações, de acordo com as características diferenciais
dessa etapa do ciclo vital; portanto, inclui aspectos evolutivos, maturacionais e de
plasticidade cerebral. A avaliação neuropsicológica infantil envolve a identificação de
variáveis biológicas e psicossociais, desde o desenvolvimento das funções
psicológicas superiores e está relacionada tanto ao desenvolvimento maturacional do
cérebro, quanto à educação, estimulação, experiências e oportunidades de
aprendizagem. Em outras palavras, o desenvolvimento de processos psicológicos
superiores modula os sistemas funcionais do cérebro.

Como o cérebro é um órgão com muita plasticidade, ele é capaz de se adaptar


e de se reorganizar continuamente, quando as exigências do ambiente o exigem,
estabelecendo novos sistemas funcionais a cada vez. A plasticidade cerebral está
presente ao longo da vida, no entanto, é maior durante a infância e adolescência;
embora a incidência e as sequelas de alterações neuropsicológicas difusas na
infância sejam mais graves em alguns casos, pois afetam funções básicas do
desenvolvimento.

Os objetivos do exame neuropsicológico na infância são orientados para fazer


inferências sobre o funcionamento geral dos hemisférios cerebrais, especificando os
pontos fortes e fracos de adaptação e o desempenho da criança, incluindo perfis
psicológicos na capacidade cognitiva, funções sensório-motoras e reações afetivas;
o que facilita o desenho de planos de intervenção mais adequados às características
intraindividuais e interindividuais. (TIRAPU, 2007)

Em sua pesquisa, o autor destaca a importância da avaliação neuropsicológica


rigorosa e precoce para detectar problemas de aprendizagem e desenvolvimento
contextualizados às características das populações avaliadas. Isso destaca a
importância da avaliação multidimensional e a análise de contextos para ajustar os
planos de avaliação e intervenção. A avaliação neuropsicológica abrangente deve
incluir métodos quantitativos e qualitativos e a aplicação de vários instrumentos e a

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realização de monitoramento para determinar a evolução e as consequências ao
longo do desenvolvimento de uma lesão cerebral.

Além disso, a avaliação neuropsicológica estuda as relações entre o cérebro e


o comportamento e, mais especificamente, entre os processos cognitivos e a função
cerebral. Seu objetivo é identificar, descrever e quantificar, sempre que possível, os
déficits cognitivos e as alterações comportamentais que resultam de lesões cerebrais.
Na infância, a etiologia dos distúrbios neuropsicológicos pode ser localizada em, pelo
menos, dois grupos ou categorias: indivíduos com efeito especial de desenvolvimento
maturacional e indivíduos após um desenvolvimento inicial normal sofrem uma
alteração em razão de acidente e surgem as sequelas patológicas em uma forma
focal ou difusa.

É bem verdade que o objetivo da avaliação neuropsicológica em crianças


passa pela compreensão das funções neurocognitivas, suas alterações e funções
preservadas após uma lesão cerebral, dirigindo uma análise de distúrbios e incluindo
os fatores de desenvolvimento. A avaliação neuropsicológica das crianças tem várias
finalidades, sendo a primeira delas o diagnóstico, identificação da população infantil
com lesão cerebral. Em segundo lugar, visa obter um perfil de capacidades, em que
pontos fracos e fortes aparecerão, de acordo com as capacidades deterioradas, até
certo ponto, e as preservadas/intactas.

Um determinado perfil no qual certas capacidades neuropsicológicas


(comportamentais e cognitivas) são seletivamente prejudicadas pode ser compatível
com a alteração neurológica detectada. Em terceiro lugar, há o propósito educacional
da avaliação neuropsicológica. Nesse caso, a avaliação é baseada no interesse em
conhecer o perfil neuropsicológico de qualquer escola, a fim de adaptar os planos e
estratégias de intervenção (educacional, psicológica e reabilitativa) às características
de cada aluno.

O que importa é obter informações específicas sobre o funcionamento


neuropsicológico de um indivíduo nas áreas mais decisivas para alcançar os objetivos
desejados à medida que o desenvolvimento progride. Em quarto lugar, a avaliação
também tende a ter um propósito científico; como objeto de pesquisa, permite
comparar grupos entre si, a partir dos quais podem surgir perfis neuropsicológicos
característicos de alguns transtornos. Permite estabelecer aspectos básicos ou

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invariantes de alguns distúrbios do desenvolvimento ou sua variabilidade
interindividual. (TIRAPU, 2007)

Outras vezes, o pesquisador deve repetir a avaliação para a mesma


população, como é o caso dos estudos longitudinais, que permitirão verificar se o
prognóstico e o tratamento foram adequados. Em quinto lugar, a avaliação persegue
fins de monitoramento; estudos de acompanhamento, em geral, têm objetivos clínicos
e de pesquisa que permitem monitorar o curso do desenvolvimento a partir de um
exame inicial. Assim, o monitoramento neuropsicológico permitirá identificar as
variações dos efeitos de uma lesão cerebral ao longo de um período de tempo nas
habilidades e funcionamento neurocognitivos.

Tirapu (2007) destaca a importância do monitoramento para verificar, em


alguns casos, os efeitos agudos e graves das lesões cerebrais; a estabilidade das
sequelas ou determinar se há deterioração neuropsicológica de natureza duradoura
ou crônica. A intervenção neuropsicológica também pode ser monitorada, assim como
seus efeitos nos diferentes distúrbios e alterações na infância.

Finalmente, no que diz respeito à avaliação neuropsicológica infantil quando


se considera a idade, o nível de desenvolvimento, a história e o fundo, bem como a
avaliação neurológica, para uma avaliação neuropsicológica quantitativa e qualitativa
completa, enquadrada nas variáveis do desenvolvimento que podem afetá-lo. Isso
implica destacar algumas conclusões e recomendações associadas à avaliação
neuropsicológica do desenvolvimento da criança, de acordo com Tirapu (2007):

1. A avaliação deve ser global: um teste é claramente insuficiente, o


avaliador deve ter o conhecimento e a experiência suficientes para escolher os testes
ou baterias que permitem avaliar áreas específicas e verificar a execução em áreas
associadas e cruzadas.

2. A primeira referência é a coleta de informações que devem provir de


diferentes fontes, as quais podem dar testemunho da execução e do desenvolvimento
global da criança: pais, cuidadores, educadores.

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3. A avaliação inclui informação qualitativa e quantitativa; a análise de
dados requer sólidos fundamentos teóricos e complementares, com alta capacidade
de observação sistemática.

4. A formulação de diagnósticos diferenciais é uma referência necessária


para a avaliação adequada, é conveniente estabelecer quando o resultado da
execução de um filho (a) está relacionada com o retardar do desenvolvimento, a
prisão de desenvolvimento temporária ou transitória ou um distúrbio ou imaturidade
permanente de tipo neuropsicológico adequado.

Em conclusão, em sociedades como a atual, em que as condições de pobreza


generalizada, a desigualdade de oportunidades para crianças e jovens, o aumento do
número de gestações em adolescentes, a dinâmica familiar disfuncional e o número
de fatores que afetam o desenvolvimento infantil, é urgente e essencial empreender
ações de intervenção na detecção, estimulação e reabilitação de funções cognitivas,
emocionais e sociais que favoreçam a maturidade neuropsicológica e promovam um
desenvolvimento harmonioso e funcional na infância.

O benefício para as crianças, pais, professores e, em geral, para a sociedade,


está suficientemente demonstrado no trabalho de prevenção e promoção da saúde
integral, daquele que é o maior capital humano: a criança.

FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS

Abaixo trataremos algumas definições a respeito dos processos mentais, que


estão inseridos nas funções neuropsicológicas e seus distúrbios. Vejamos, de acordo
com Serafini (2008):

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Memória: Os psicólogos usam a palavra memória para referirem-se aos vários
processos e estruturas envolvidas no armazena- mento de experiências e como
recuperá-las novamente. A memória é a função envolvida em reviver experiências
passadas. É a persistência do passado. Consideram os processos e estruturas
envolvidas no armazenamento de experiências e recuperam-nas novamente.

É a função psíquica de fixar, reter, reproduzir, reconhecer e localizar os estados


de consciência adquirido anteriormente. A maioria das definições acima ficam como
parte de experiências passadas de armazenamento de memória, a recuperação
dessas experiências, bem como a sua inscrição (fixação). Isso leva a considerar a
memória como um sistema ativo que recebe, armazena, organiza, modifica e
recupera informações. (SERAFINI, 2008)

Muitos psicólogos assumem a existência de três tipos de in- formações:


sensorial, a curto e longo prazo. A memória sensorial é o armazenamento inicial e
momentâneo da informação; memória de curto prazo conserva informações entre
quinze e vinte e cinco segundos; e a memória de longo prazo armazena informações
de forma relativamente permanente.

Inteligência: Termo geral que se refere à habilidade ou habilidades envolvidas


no aprendizado e no comportamento adaptativo. Há um desacordo considerável
sobre quais habilidades mentais específicas devem ser consideradas sinais de
inteligência. No início de 1980, Sternberg e seus colegas descobriram que os
especialistas e neófitos descrevem uma pessoa inteligente como alguém que tem a
habilidade prática de resolução de problemas e a capacidade verbal, incluindo a
competência social em seus conceitos de inteligência. Muitos especialistas incluem,
agora, a criatividade e a capacidade de se adaptar ao ambiente como componentes
cruciais da inteligência. (SERAFINI, 2008)

Pensamento: É a manipulação de representações mentais de informações,


envolvendo formação de conceitos, resolução de problemas, pensamento crítico,
raciocínio e tomada de decisão. A representação pode ser uma palavra, uma imagem
visual, som ou dados de qualquer outra forma. O que transforma o pensamento é a
representação da informação de forma nova e diferente, a fim de responder a uma
pergunta, resolver um problema ou ajudar a alcançar um objetivo. O pensamento é

18
individual, isto é, de cada pessoa. A função é produzir informações sensíveis e
construir representações mais gerais e abstratas simbolizando e substituindo objetos
e permitindo a sua gestão mental, a fim de encontrar uma resolução que excede
conflitos ou contradições presentes nos problemas. (SERAFINI, 2008)

Percepção: A percepção não é um processo simples, ela pró- pria é o


resultado de outros processos complexos, muitos dos quais estão além de nossa
consciência. Um dos propósitos da percepção é informar sobre as propriedades do
ambiente que são vitais para a nossa sobrevivência. Outro objetivo é nos ajudar a
agir em relação ao meio ambiente.

Através da percepção, podemos organizar as informações recebidas e


interpretá-las de maneira significativa. Cada pessoa percebe o mundo de forma
diferente, porque cada um produz uma interpretação única e individual. A identificação
da percepção como um processo complexo pode ser influenciada pelos nossos
conhecimentos, memórias e expectativas. Nesse sentido, a percepção é entendida
como um estado subjetivo. Essas categorias são estabelecidas como perceptuais
através do qual novas experiências sensoriais possa transformá-las em situações
reconhecíveis e compreensíveis. (SERAFINI, 2008)

Nessa perspectiva, considera-se que a percepção é o processo fundamental


da atividade mental, e outras atividades psicológicas tais como a aprendizagem, a
memória, o pensamento, entre outros, dependem do bom funcionamento do processo
de organização perceptual.

Emoções: As emoções, como motivos, ativam e direcionam nosso


comportamento. Os psicólogos distinguem entre as que são compartilhados por
pessoas em todos os lugares e as emoções secundárias, que aparecem em algumas
culturas, mas não em todas as emoções primárias. Uma análise transcultural da
expressão emocional levou Paul Ekman e seus colegas a argumentarem que há, pelo
menos, seis emoções: felicidade, surpresa, tristeza, medo, desgosto e raiva. Muitos
psicólogos adicionam amor a essa lista de emoções básicas.

A psicologia positiva está interessada em compreender uma das nossas


emoções mais positivas: a felicidade. A felicidade é apenas um aspecto do bem-estar
subjetivo. Para entender as raízes da felicidade e sentimentos de bem-estar, os

19
pesquisadores primeiro examinaram eventos externos e características de
demonstração gráfica de pessoas felizes. (SERAFINI, 2008)

Estímulos ambientais produzem mudanças fisiológicas no corpo que


interpretamos como emoções. O processamento de emoções e respostas corporais
ocorrem simultaneamente e não sucessivamente. A teoria cognitiva sustenta que a
situação em que nos encontramos quando estamos ambientados (ambiente global)
nos dá sinais que nos ajudam a interpretar o estado geral de ativação da emoção.

Segundo pesquisas recentes, além da cognição, a expressão facial pode


influenciar as emoções. Altamente ativadores interativos da emoção são: nervoso,
sensório motor, motivacional e cognitivo. (SERAFINI, 2008)

Linguagem: A linguagem está intimamente ligada à expressão e compreensão


do pensamento. De acordo com Benjamin Whorf, padrões de pensamento são
determinados pelo idioma que você fala, um processo chamado determinismo
linguístico. É um código de sons ou gráficos que servem para a comunicação entre
os seres humanos.

A linguagem é a capacidade humana de se comunicar e representar a


realidade através de sinais. Existem linguagens verbais e não verbais (cinestésico,
proxêmica e outros). A linguagem, como um veículo do pensamento ou à serviço do
pensamento, serve para organizar, categorizar, corrigir, codificar e recuperar
informações. Toda linguagem é expressão de pensamentos e todo pensamento é
expresso através da linguagem. A palavra é o símbolo do permanente na influência
dos fenômenos e graças a ele sua fugacidade cessa. (SERAFINI, 2008)

Em se tratando da memória de forma mais específica, ela é a capacidade de


lembrar as coisas que experimentamos, imaginamos e aprendemos. Os relatos de
pessoas com extraordinária memória geram muitas dúvidas. Sobre a natureza da
memória: Por que algumas pessoas se lembram de coisas muito melhores do que
outras? Eles nasceram com essa habilidade ou alguém poderia aprender a lembrar?
E por que a evocação, às vezes, é tão simples (pense na facilidade com que os fãs
de beisebol se lembram da média de rebatidas de seus jogadores favoritos) e outras
vezes é difícil (como quando procura as respostas de um exame)?

20
Por que achamos tão difícil lembrar de algo que aconteceu há alguns meses,
mas podemos nos lembrar em detalhes de algum outro evento que aconteceu 10, 20
ou até 30 anos atrás? Como funciona a memória e o que a faz falhar? (SERAFINI,
2008)

Já em relação à memória de curto prazo (MCP), destaca-se o trabalho de


armazenar e processar brevemente as informações selecionadas de registros
sensoriais. As informações que atendemos entram na memória de curto prazo (MCP),
também chamada memória primária e memória de trabalho. A MLP (memória a longo
prazo) contém tudo o que estamos pensando ou o que estamos cientes a qualquer
momento. A MLP não armazena apenas brevemente as informações, mas também
as processa.

A MCP tem seus limites. Os pesquisadores descobriram que ela só contém


informações que podem ser repetidas ou revisadas entre 1,5 e 2 segundos, o que
geralmente equivale a entre 5 e 10 informações separadas. Podemos processar mais
informações agrupando-as em unidades maiores e significativas, um processo
chamado segmentação. (SERAFINI, 2008)

Em se tratando da codificação da informação essa pode ser codificada para


armazenamento na MCP de forma fonológica (de acordo com o seu som),
visualmente ou em termos do seu significado. Os pesquisadores concluíram que o
MCP tem maior capacidade de mate- rial visualmente codificado do que de
informação codificada fonologicamente. (SERAFINI, 2008)

Já a manutenção na MLP se dá através da revisão mecânica, ou revisão de


manutenção, retemos as informações no CCM por um ou dois minutos, repetindo-as
várias vezes. No entanto, a memorização mecânica não promove a memória de longo
prazo.

Já a memória de longo prazo (MLP) é mais ou menos permanente e armazena


tudo o que “conhecemos”. Tudo o que aprendemos está armazenado na memória de
longo prazo: as letras de uma canção popular, os resultados da última eleição, o
significado de justiça, como patinar ou desenhar um rosto e o que devemos fazer
amanhã às 4 da tarde. A memória de longo prazo pode armazenar uma grande
quantidade de informações por muitos anos. A maioria das informações na MLP
parece ser codificada em termos de significado. A memória de curto e longo prazo

21
trabalham juntas para explicar o efeito da posição serial, o fato de que quando as
pessoas recebem uma lista de itens a serem lembrados, tendem a lembrar o primeiro
e o último elementos da lista. (SERAFINI, 2008)

A revisão mecânica é útil para conservar informações na MLP, especialmente


de material sem significado, como números de telefone. Através da revisão
elaborativa extraímos o significado da informação e a vinculamos com tanto material
que já está no MLP quanto possível. A revisão elaborativa processa os novos dados
de maneira mais profunda e significativa do que a simples repetição mecânica. A
maneira como codificamos o material para armazenamento no MLP afeta a facilidade
com a qual podemos recuperá-lo mais tarde.

Sendo assim, um esquema é uma representação mental de um objeto ou


evento armazenado na memória. Os esquemas fornecem um quadro de referência
no qual a informação que chega é ajustada; eles também promovem a formação de
estereótipos e a extração de inferências.

Como vimos, aprendizado e memória estão intimamente relacionados, “porque


o homem, no processo constante de identificação, detecção e processamento de
informações, enfrenta estímulos repetidamente, e a base de sua adaptação ao
ambiente é sua capacidade de tirar proveito de experiências passadas e incorporar
novas experiências, assim, há processos de aprendizagem ligados à memória, como
o priming, habilidades e hábitos”.

O priming é um “processo que facilita a identificação e a detecção de


informações, é um reconhecimento sem qualquer esforço particular e é uma forma de
memória implícita”, da mesma forma que atua na aprendizagem de habilidades e
hábitos em que sua aprendizagem é lenta, progressiva e gradual, esses
procedimentos são armazenados, principalmente, como memória de curto prazo.
Você também pode ver classificações na literatura que não nos dão maior clareza
como visual, auditivo, tátil, verbal, não-verbal, lógico, emocional etc.

Essa classificação é praticamente infinita e, portanto, é de pouca utilidade do


ponto de vista metodológico. Outros autores levantam a diferença entre hábito e
memória, afirmando que os hábitos nos dizem “como” saber e as memórias sabem “o
que”, mas é claro que, qualquer comportamento deve ser baseado em circuitos
responsáveis pela memória, consciente ou inconscientemente. O que fica claro

22
quando referirmo-nos à memória e à aprendizagem é que “as informações derivadas
da aprendizagem formal e informal e da experiência social comum, constituem o seu
conteúdo” (o da memória).

Hoje em dia, no mundo científico, é difícil não apenas manter--se atualizado,


mas também saber o que poderia acontecer, já que a informação científica é
atualizada todos os dias, e estar ciente de tudo é uma tarefa quase impossível. No
campo do comportamento humano também é um desenvolvimento interessante e
digno de compreensão, por um lado são as ciências biomédicas, por análise e
pesquisa em relação ao comportamento do cérebro, por outro lado, são as posições
que dão mais importância para o meio ambiente como: a sociologia, a antropologia e
algumas correntes psicológicas.

As funções cognitivas incluem uma vasta gama de competências e


habilidades, incluindo: Cuidados (alerta, atenção concentrada, concentração
sustentada etc.) a memória verbal (a longo prazo, a curto prazo ou memória de
trabalho, memória de procedimento, memória semântica, memória episódica etc.) e a
linguagem visual.

Eles poderiam continuar nomeando posições em torno da complexidade do


comportamento humano, mas o que nos interessa aqui é neuropsicologia, uma
ciência que, apesar de ser nova na história científica, tem a epistemologia que outras
ciências não têm. Como coloca muitas disciplinas no mesmo contexto, resulta em
uma redução na complexidade de compreender o fenômeno e explicá-lo a partir de
diferentes paradigmas científicos, que são consistentes em seu interior. Portanto, em
neuropsicologia, encontramos neurologistas, psicólogos, médicos, biólogos, entre
outros, que enriquecem continuamente esse campo.

Mas, a pergunta: “Para onde apontaria a pesquisa no campo da memória?”.


Devemos ser honestos e aceitar que uma monografia nunca poderia responder a essa
pergunta, mas é possível atrever-se a projetar um futuro investigativo. Primeiro,
vamos encontrar uma investigação destinada a recuperar e apagar as memórias. O
que entra em jogo, aqui, é a possibilidade real de fazê-lo porque o cérebro em muitos
aspectos se assemelha a um computador, onde a informação é organizada por pastas
e arquivos.

23
A pesquisa mais importante, sem dúvida, está nas disciplinas integradas para
prevenir a doença e promover a saúde de todas as pessoas sempre com um olhar a
partir de uma bioética. Para concluir, é importante aceitar que a investigação futura
no campo da memória pode nos surpreender, pois diferentes disciplinas responsáveis
por estudar o comportamento humano podem contribuir para a compreensão da
memória. A memória contínua é um campo excitante de pesquisa em humanos e
animais, portanto, será o assunto de múltiplas pesquisas atuais e futuras.

Desse modo, o desafio será entender com o que as diferentes ciências


contribuem para esse conhecimento e como levá-lo para uma integração da
neuropsicologia como uma ciência interdisciplinar.

NEUROPSICOLOGIA NA VELHICE

A atenção dividida nos idosos apresenta capacidade diminuí- da,


especialmente quando se presta atenção a várias tarefas ao mesmo tempo e, para
mais tarefas, implica maior dificuldade. Com a idade, esse tipo de cuidado só se
deteriora em alguns casos:

1. Ao indicar se um determinado objetivo está presente ou não, não há


diferenças de idade;

2. Antes de tarefas complicadas, o desempenho dos idosos é pior do que


o dos jovens. Somente se a tarefa for complexa, a atenção dividida se deteriorará
com a idade.

A atenção seletiva serve como filtro e está entre as mais básicas, sendo
essencial para o aprendizado. As diferenças no nível de implementação entre
diferentes idades dependem da natureza da tarefa, quando se trata de escolher a
informação relevante em um contexto, então aparecem as diferenças de idade, o que
prejudica os idosos. O mesmo não ocorre quando a tarefa é simples.

Em relação à mudança do foco da atenção, a eficácia com que é realizada


parece diminuir com a idade, embora alguns pesquisadores tenham questionado esse
declínio tradicionalmente aceito. Além de se- rem mais lentos ao mudar o foco de
atenção entre duas ou mais fontes alternativas de informação, os pesquisadores, até

24
recentemente, assumiam que os idosos também eram menos precisos. (RAMOS,
2014)

Como causa dessa situação, foram-lhes atribuídos a redução da capacidade


de memória de curto prazo a qualquer mudança na atenção. As dificuldades na
recuperação também foram responsabilizadas, uma vez que a mudança de atenção
implica que há consciência de cadeias separadas de pensamento e que, mesmo que
um seja o foco da atenção, os outros devem ser mantidos para uma recuperação
posterior. Um problema cotidiano desse último tipo é o que ocorreria quando se vai a
uma sala, mas esquecemos por que fomos; a intenção de recuperar algo se perde ao
atender ao fato de ir a outra sala.

Os idosos precisam de mais tempo para tomar decisões de atenção, mas com
tempo de preparação adequado, muitas diferenças de idade desaparecem. Um
processo psíquico muito associado ao pro- cesso de atenção é a memória. A memória
constitui o processo psíquico que funciona como um indicador tradicional do
envelhecimento. Isso é reconhecido tanto pelos cientistas quanto pelo conhecimento
popular.

É comum recolher queixas de memória que aparecem com a idade em


indivíduos devidamente integrados no aspecto social. Eles queixam-se da infidelidade
da sua memória, nomeadamente, do esquecimento de nomes, das dificuldades em
encontrar objetos ou documentos, ou de reter números de telefone ou listas de
compras. Os distúrbios da memória associados à idade são definidos clínica e
psicometricamente. Essas dificuldades podem afetar mais de um terço dos indivíduos
com 60 anos, e não constituem nem o estado inicial de demência, ou um fator de risco
para o aparecimento posterior de demência, embora sua etiologia permaneça ainda
pouco clara, e foi nomeada como “esquecimentos benignos de senescência.

Cognição ou funções cognitivas são os processos mentais que nos permitem


receber, processar e elaborar informações. Eles possibilitam que o sujeito tenha um
papel ativo nos processos de interação, percepção e compreensão do ambiente, o
que lhe permite funcionar no mundo ao seu redor.

25
Não podemos afirmar que a memória das pessoas piora com a idade, nem que
o esquecimento é uma consequência inevitável do envelhecimento. Além disso, as
pequenas perdas que ocorrem na fase adulta são facilmente compensadas pelo uso
de outras estratégias cognitivas, como: prestar mais atenção inicial ao material. As
três estruturas de memória são afetadas de maneira diferente; a memória sensorial e
a memória de curto prazo não sofrem alterações significativas. No entanto, na
memória de longo prazo dos idosos que não estão doentes, há uma perda que parece
não estar tanto na capacidade de armazenar informações, como na capacidade de
recuperá-las.

Quando ocorrem alterações da memória, na velhice, hipóteses explicativas se


concentraram em fatores ambientais (mudanças no es- tilo de vida ou motivação),
déficits de processamento de informações e fatores biológicos (deterioração em
certas partes do cérebro, como os lobos frontais). Essa última explicação é útil em
casos de doença física ou mental, mas em pessoas idosas com boa saúde existe um
déficit de memória que não parece completamente explicável por fatores biológicos.

Para entender a natureza das mudanças na memória, com a idade, pode-se


dividir o sistema em capacidades e conteúdo, de acordo com Ramos (2014):

1. As capacidades de memória, que são compostas de estruturas e


processos, podem diminuir.

2. O conteúdo da memória que alude ao conhecimento armazenado pode


aumentar.

Ramos (2014), em um trabalho de pesquisa, propôs, de acordo com um ponto


de vista linear do processamento, que o sistema de memória pode ser subdividido em
diferentes estágios. A informação é transferida ao longo de diferentes canais, cada
um com certas características de funções de retenção e transformação:

1. Um primeiro contato seria feito na memória sensorial, que é um sistema


pré-conceitual e pré-atencional de estabilidade extrema- mente baixa. As informações
ambientais - imagens, sons, cheiros, sabores, etc. - são mantidas por um segundo;

26
Após esse tempo, a informação decai nessa fase, portanto, para usá-lo deve ser
processado em um nível mais profundo.

2. O segundo sistema chamado memória de curto prazo ou memória


primária, exibe uma estabilidade um pouco maior, mas também é uma capacidade
muito limitada, de modo que a informação é perdida rapidamente.

3. As informações só são mantidas quando passam para um depósito


muito estável, como memória secundária ou de longo prazo.

4. Às vezes falamos de uma memória terciária ou muito longa, na qual a


informação é armazenada permanentemente.

À medida que a idade aumenta, cada um desses sistemas é afetado de


maneira muito diferente. Ou seja, em relação à memória sensorial, o conhecimento
sobre a relação entre memória sensorial e idade vem, fundamentalmente, do trabalho
realizado na memória visual (icônico). Pelo contrário, informações sobre a relação
entre memória sensorial para o sistema auditivo e envelhecimento dificilmente
existem. Com a idade, sabemos que ocorrem diversas alterações no sistema visual
e, apesar disso, nenhum déficit consistente foi demonstrado com o aumento da idade
ou com a capacidade de identificar estímulos visuais apresentados de forma breve,
ou na persistência das informações armazenadas no sistema visual.

Em relação à transferência do registro sensorial para a memória primária e/ou


secundária, parece que os idosos precisam de mais tempo do que os jovens para
extrair informações de cartas simples, mas a questão prática que emerge desses
dados é se na memória sensorial contribuem significativamente para as dificuldades
de aprendizagem e recuperação de informação experimentadas pelos idosos. A
maioria dos pesquisadores concorda que o envelhecimento tem apenas efeitos
pequenos e sem importância na memória sensorial. (RAMOS, 2014)

Agora, em se tratando da memória de curto prazo, esse é um sistema de


capacidade limitada, que mantém a informação na consciência. Apesar de ser um
armazém temporário com capacidade limitada, a memória primária desempenha um
papel importante no controle e assimilação de novas informações, estando envolvida
quando a informação ainda é o objetivo da atenção consciente.

27
Graças à sua existência, retemos em nossa mente certos materiais (números
de telefone, nomes etc.), se continuarmos repetindo o material, não o perdemos. Se
a informação apresentada não for transferida para a memória de longo prazo, ela será
perdida assim que a atenção for eliminada. (RAMOS, 2014)

Os processos organizacionais também podem estar envolvidos quando listas


de itens aparentemente não relacionados são apresenta- das. Aqui, as pessoas
fariam organizações subjetivas para combinar a conexão inventada com os itens
específicos. Nesse sentido, os anciãos organizam as informações menos do que os
jovens, de maneira subjetiva e descobrem menos relações entre as palavras do que
aqueles. No que diz respeito ao conteúdo da memória de longo prazo, distinguimos
entre memória processual e memória declarativa. Dentro dessas últimas são
distinguidas, por sua vez, a memória episódica e semântica. (NORONHA, 2010)

Tradicionalmente, tem sido pensado que as memórias são sensíveis ao


envelhecimento, mas que as memórias semânticas geralmente não se deterioram na
velhice. Nas tarefas laboratoriais de memória episódica, os idosos tiveram pior
desempenho, enquanto nas tarefas semânticas (exemplo: no teste de vocabulário),
não diminuíram com a idade. (NORONHA, 2010)

A natureza do teste de vocabulário parece estar relacionada à direção e


magnitude das diferenças com a idade. Na prática, é difícil decidir se uma informação
é semântica ou episódica, especialmente quando se considera a compreensão e
produção da linguagem oral diária. Ambas as memórias semântica e episódica se
acumulam ao longo da vida, e os idosos podem estar aumentando sua base de
conheci- mento gradualmente, assim, em muitas situações, para compensar o
declínio na eficiência do sistema de memória, contam com o conheci- mento
armazenado. Nas situações em que o conhecimento do mundo está envolvido, os
idosos podem se lembrar, bem como os jovens. Semelhante à controvérsia
declaratória de memória é referida a distinção entre memória explícita (que exige a
intenção de lembrar e envolve a consciência de ter que fazê-lo) e implícita (sem
consciência explícita de ter que lembrar). Considerações relacionadas ao uso da
memória em situações da vida cotidiana:

Alguns conteúdos típicos desse tipo de memória têm a ver com memórias
autobiográficas e com memória retrospectiva e prospectiva. De uma perspectiva

28
ecológica, a memória também foi estudada. Esse é um campo relativa- mente novo e
áreas como: memória para eventos significativos e materiais, e metamemória, são
diferenciadas. A última refere-se ao quanto sabemos sobre as habilidades
mnemônicas e sobre as estratégias que podem ser aplicadas. Sabendo que é muito
importante, uma vez que a confiança nas próprias habilidades influencia a quantidade
de preparação ou o esforço para lidar com as tarefas diárias. (NORONHA, 2010, p.
45)

Os idosos tendem a se perceber menos efetivos em comparação aos jovens;


no entanto, no que diz respeito ao conhecimento sobre o funcionamento da própria
memória, as diferenças de idade são mínimas. A atitude que um idoso tem em relação
às mudanças em sua memória é tão importante quanto as mudanças em si mesmas.
Algumas pessoas continuam a aprender à medida que envelhecem e continuam a
usar suas habilidades cognitivas ao máximo sem usar o envelheci- mento como uma
desculpa para a má vontade mental. Outros idosos abandonam qualquer novo
aprendizado e não tentam mudar as atividades porque dizem que “eles não são mais
para essas coisas”. (NORONHA, 2010)

Estereótipos negativos sobre o envelhecimento contribuem para que os idosos


tenham pouca confiança em suas habilidades mentais. A falta de auto-confiança
prejudica as habilidades mnemônicas de várias maneiras: ela aumenta a ansiedade
e/ou depressão, pela perda de memória real ou imaginada, leva a usar expectativas
irreais para avaliar as próprias habilidades, leva a um menor esforço de memória e
desânimo na busca de estímulo intelectual.

Além dos fatores mencionados até o momento, há muitos outros que podem
levar à enorme variabilidade de resultados encontrados entre os idosos em tarefas de
memória. Entre eles estão: familiaridade, experiência, saúde, diferenças individuais,
motivação, cautela e estrutura social.

A diversidade de resultados encontrados, especialmente na pesquisa sobre o


envelhecimento da memória, significa que o declínio não pode ser documentado de
forma consistente. Isso nos leva a ter cuidado ao interpretar as descobertas de
qualquer experimento sobre o envelhecimento da memória. Funcionalmente em
declínio não deve ser confundido com déficit. Embora uma diminuição no
funcionamento diário normal possa ser trivial, porque o pico de funcionamento na

29
juventude está bem acima do nível de sobrevivência. Não se pode dizer que os idosos
tenham uma memória fraca, mas que os jovens têm uma excelente memória.

Como vimos até agora, os processos cognitivos dos idosos são diferentes do
que eram na juventude, e da mesma forma que o pro- cesso cognitivo mudou (atenção
e memória), o mesmo acontece com o aprendizado: serão vistas algumas ideias
sobre o papel da aprendizagem no sistema de processamento de informação humana
e nas explicações que foram oferecidas ao declínio encontrado com a idade.

A maioria dos pesquisadores concorda que, em média, o envelhecimento é


acompanhado por um declínio na capacidade de processar novas informações. O
declínio tem sido consistentemente encontrado em tarefas experimentais
relacionadas à atenção, aprendizado e memória. Mas essa deterioração é menos
grave, aparece mais tarde e ocorre em uma proporção menor da população do que
se pensava inicialmente. Mesmo a grande variabilidade dos resultados significa que
alguns idosos obtêm melhores resultados que alguns jovens.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A neuropsicologia é um ramo da psicologia especializado na compreensão da


relação entre o cérebro físico (estrutura) e o comportamento humano (função). Vimos
que a neuropsicologia começou a ganhar força durante as décadas de 1950 e 1960,
quando as pesquisas e os resulta- dos da psicologia cognitiva e da fisiologia do
cérebro foram integrados em um novo campo de estudo. No início do século XIX, os
pesquisadores começaram a observar metodicamente comportamentos resultantes
de lesões cerebrais e tentaram localizar áreas danificadas do cérebro. O cérebro é o
órgão central e mais complexo do corpo humano. Tudo o que acontece dentro do
cérebro pode produzir alterações no comportamento e na função cognitiva. Para
decifrar essas alterações é necessário contar com a intervenção de um especialista
em neuropsicologia - um neuropsicólogo.

A neuropsicologia é considerada um dos ramos mais importantes da


neurociência e da psicologia. Seu estudo exaustivo sobre distúrbios cognitivos e
emocionais, bem como distúrbios de personalidade devido a danos cerebrais, têm
sido de grande contribuição para o mundo da ciência, tanto para a psicologia quanto
para a psiquiatria.

Por fim, vimos que o neuropsicólogo procura compreender como os processos


psicológicos estão relacionados com estruturas e sistemas do cérebro. Investiga se
as funções cerebrais estão localizados em uma área específica do cérebro, ou regiões
do cérebro estão interligados; dessa maneira, ele tenta entender como as estruturas
e sistemas cerebrais se relacionam com o comportamento e o pensamento.

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REFERÊNCIAS

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psicológica no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão, 30,192-201.
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