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Cultura Coreana

Sociedade e práticas religiosas dos reinos de Gojoseon e Jin (sécs.V - II a. C.)

A Península Coreana começa a ser habitada por comunidades humanas cerca de 4-6 mil anos a.C.. Temos a perceção
do aparecimento de uma primeira cultura material associada à cerâmica, sobretudo potes, usada para o
armazenamento de alimentos e plantas.

●É uma cerâmica semelhante às encontradas em outras comunidades na Ásia.

●Período neolítico nos 6 mil anos, sedentarização das comunidades. Estas comunidades, por razões de proteção
mútua, organizam-se em confederações cada vez mais alargadas, coordenados entre si, surgindo a primeira unidade
política coreana: Gojoseon no Norte, e Jin no Sul.

●É difícil dizer que haja monarca ou estado central - são confederações, com coordenação mútua quer através de
circulação de bens quer de alimentos; partilham a capacidade defensiva, por isso é que Gojoseon surge primeiro, já
que o Norte é invadido pela China, tendo noção na necessidade de uma política defensiva melhor. Assim, a
confederação deve-se a uma necessidade militar.

●O Reino Gojoseon permanece o primeiro grande reino coreano, o início de uma consciência nacional coreana; algo
excessivo. Havia no início a ideia que tinha nascido num período mais recuado, para projetar a consciência coreana
por volta de 233 antes da nossa era. Esta data recuada e tão estranhamente precisa não é verdadeira, e é criada na
Memória dos Três Reinos no séc. XIII.

●O Estado Jin do Sul confluem numa confederação, surge mais tarde, séc. III A.C.

●São contextos políticos frágeis, não há administração forte que os coordene de modo consistente e coerente. As
confederações entram em colisão.

●Não há uma matriz cultural coesa como ocorre nos Três Reinos com o budismo, há várias práticas animistas. A
unidade é mantida por uma forte sistema penal e legalista. A ténue unidade interna não se faz por um
reconhecimento de práticas religiosas, mas sim pelo sistema de leis e punições.

●Todo o tipo de proibições evitam um comportamento degenerativo e todo o tipo de comportamento lesivo para a
sociedade era considerado maléfico. A dimensão do que é um comportamento ético e correto; não vem de uma
matriz mortal filosófica como o confucionismo, vem porque há toda uma série de normas e proibições que
condicionam o comportamento do indivíduo.

●O roubo era severamente punido, o assassinato, o adultério feminino e a agressão física, as quatro práticas
degenerativas que mais punham em causa a ordem e harmonia interna, definiam as práticas morais do período.

●Remetem para uma forte valorização da vida; sociedades em que a propriedade privada era importante, dado o
roubo ser punido; o que mostra a falta de uma unidade central reguladora, por isso a riqueza e propriedade própria
era essencial para a sobrevivência.

●Toda esta dimensão de cultura imaterial religiosa e de cultura material é determinada pelo sistema normativo. O
modo como se concebe o sobrenatural está associada a esta prática punitiva. Quando tínhamos a aplicação da
justiça, tínhamos a consciência que estamos a repor a ordem interna, e a relação que havia com um mundo religioso.
Ordem interna reposta, e regenerar a benevolência das forças sobrenaturais, através de rituais.

●A vivência religiosa não é autónoma nem independente, é um apêndice do sistema de justiça. A religião não está
associada ao poder político, como acontecerá nos Três Reinos. A religião não é manipulada pelo poder político, que é
uma demonstração da falta de uma poder político forte, porque se fossem fortes, iriam instrumentalizar a religião
para seu favor.

●Algumas destas práticas ainda sobrevivem no início do processo do budismo e de sinização. Há uma designação,
Musok, que os estudiosos designam a primeira religião animista no interior da Coreia. É uma prática xamânica,
animista da ideia de forças sobrenaturais na natureza, e tentar que a natureza não tivesse um comportamento lesivo
às comunidades humanas; semelhança com xintoísmo.

●Divindade na Lua, Sol, Mar; os principais elementos da natureza condicionam da vida humana, que tinham
entidades divinas mais poderosas, que devem ser veneradas.

●Qual era a vivência religiosa individual? Embora sem certeza, podemos deduzir que podiam acreditar em algo para
além disto, mais complexo. Na arte fúnebre, nos túmulos, as pessoas são acompanhadas por asas de aves: muito
provavelmente acreditavam na imortalidade da alma, tinham consciência que o ser humano embora não seja divino,
tinha uma vivência para além da vida; eram habitados por alguma entidade sobrenatural.

●Sociedade patriarcal, poligâmica, e crença na imortalidade da alma. Havia um culto aos antepassados a partir do
patriarca ou líder masculino de uma família. O líder da família teria uma dimensão de liderança religiosa.

●A nível da cultura material associado a sepulturas, estão os objetos em bronze. São lâminas em bronze; a maioria
são pontas de lança, e permite-se supor que estas sociedades tinham uma forte dimensão de atividade guerra, ou
provavelmente entre si, logo a unidade não era tão coesa. Lâminas sobretudo no reino de Joseon, devido às
incursões da China.

●Muitas das lâminas têm um aspeto decorativo, com motivos geométricos ou representações de animais, o que
podem remeter a uma prática xamânica e religiosa no interior das sociedades.

●A unidade das confederações é conjetural e ocasional, podendo haver conflitos. Não havia um sistema político
orgânico que pudesse manter a unidade; o sistema punitivo mantinha alguma ordem interna, mas não havia uma
unidade política. Para isso, é necessária uma consciência unitária comum num determinado espaço.

●No século II, estamos numa situação total de caos político, no qual cada uma das religiões têm uma vivência
endógena. Sabiam que era importante atingir a unidade interna e espalhar uma consciência nacional.

●Quando há situações de caos, a tendência na Coreia é encontrar confluências, modos de organização comum.
Apesar da emergência de fortes poderes regionais, a tendência é esta. As comunidades coreanas numa situação de
caos têm a noção de que é mais válido um mínimo de unidade interna, pois seria benéfico.

Os Três Reinos coreanos: Goguryeo, Baekje, Silla (57 a.C. - 668)

●Emergência dos Três Reinos para encontrar unidade. O mesmo movimento que deu origem a Joseon e Jin, para
assim se configurarem três unidades políticas. Há agora uma aprendizagem em relação ao falhanço da primeira
experiência.

●Para haver coesão interna é necessário haver um poder central coerente e coordenador.

●Os Três Reinos: Goguryeo em 37 A.C; Silla em 57 A.C e Baekje em 18 A.C.

●Todos os Reinos e as suas estratégias políticas vão ser influenciados pela China.

Goguryeo

●Forma-se, a partir de grandes regiões no norte da península, necessidade de uma prática unitária. É o primeiro a
adotar o Budismo, sendo o reino mais sinizado. Porta de entrada para o conhecimento da China, porque está em
mais contacto com o continente chinês. É o mais evoluído, e o primeiro a perceber que o Budismo é necessário para
dar coesão e definir um poder central, já que se importa também conhecimento governativo chinês.

Baekjae

●Mais recente, a partir de confederações do centro da Península. É o segundo a adotar o budismo. Configura o
comportamento civilizacional comum ao longo da história da Coreia: absorver o conhecimento chinês, e exportá-lo
para o exterior, sobretudo para o Japão. Relação de paternidade em relação ao Japão, procura ser a sua porta de
conhecimento. Plataforma entre o continente asiático e o marítimo.
Silla

●É o mais antigo, a partir de regiões no centro e sueste. Mantém os ritmos do sul, que é importar conhecimento
asiático e exportá-lo como o exterior, embora não tanto como Baekjae. Dois ritmos: norte que absorve o
conhecimento, passa para o sul, e este vai exportá-lo. Quando há contextos para unidade interna, há uma
coordenação norte-sul.

●O Reino de Silla como está mais afastado, é o que irá evoluir de modo mais lento.

●O ambiente de guerra é sempre entre os dois mais evoluídos. Isto protege Silla, que não é devastada por cenários
de guerra. Como é discreto, evolui lentamente, mas com alguma paz. Só adota o budismo no séc. VI, enquanto os
outros o fazem no séc. IV.

Durante o período dos Três Reinos, o budismo entra com humildade junto da população. Não eliminadas as outras
religiões animistas presentes durante este período. O budismo tem um sucesso inicial e é interiorizado pela
população

O Confucionismo como referência ética no ordenamento político e social dos Três Reinos

O Confucionismo é também muito importante durante o período dos Três Reinos, na medida em que também é
muito importante para a identidade coreana. No entanto, começa por ter maior relevância no reino de Goguryeo.

1- Proporciona um quadro ético-moral de comportamento, levando a uma estabilidade interna política através das
ideias de fidelidade e lealdade

2- Representa uma carga erudita de conhecimento, na medida em que intelectualiza as elites de governo

Séc. IV – surgem pequenas academias confucionistas com a finalidade de formar elites governativas, sendo que estas
começam a ter uma atividade cultural de redação.

O surgimento das primeiras elites eruditas e o nascimento de uma historiografia coreana

O contacto com a matriz civilizacional chinesa é extremamente importante para a identidade coreana, pois:

•Este contacto com o mundo chinês, vai levar ao surgimento de uma elite erudita com nível de formação
proporcionado por este mesmo contacto com a China

•Esta formação irá levar, por sua vez, ao surgimento de instrumentos de conhecimento e reflexão por parte destas
elites, levando assim à criação de uma identidade coreana

Ex.: surgimento do ensaio de criação de um sistema de escrita coreana, que constitui uma aproximação da escrita
chinesa ao coreano oral

Surgimento da primeira cultura coreana - produção historiográfica, com grande importância para a identidade
política, na medida em que proporciona uma certa legitimidade à existência de cada um dos reinos

Constante atualização do mundo civilizacional chinês:

•Emergência de um mundo confucionista coreano e o aparecimento de monges budistas coreanos e grandes


letrados na Coreia

•Aparecimento de grandes mestres budistas e confucionistas na Coreia, logo no período dos Três Reinos

•A Coreia não quer ser um “subproduto” da China, mas sim colocar-se num patamar semelhante ou superior à China
O impacto do Budismo nas práticas artísticas

Era possível verificar-se uma influência da arte budista chinesa na Coreia, mesmo antes dos Três Reinos adotarem o
Budismo como religião oficial, sendo que o budismo já era vivido pela população de uma forma informal, pela
proximidade da Coreia com a China, e pelo facto de já existiram infiltrações de monges budistas na Coreia.

Durante os Três Reinos, vai verificar-se uma elevação de nível estético da arte coreana, sendo que o budismo vai
permitir esta elevação estética.

Começa-se a perceber, num período inicial destes Três Reinos, uma grande influência da música: cânticos animistas
de grande simplicidade que retratam a relação do ser humano com a natureza.

As primeiras áreas a ser influenciadas vão ser a Música e a Poesia:

•A partir do século IV começa-se a observar uma alteração do conteúdo – os poemas começam a contar-se
sobretudo na condição humana, passando a existir uma carga erudita e intelectual no interior da poesia e da música.

Arquitetura: não há muitos vestígios desta arquitetura budista coreana. O que se sabe vem das histórias sobre os
Três Reinos (invasões mongóis da península coreana)

•O que sobra: túmulos do Reino de Goguryeo - associados à família real (na atual Coreia do Norte); pagodes e
estruturas em pedra e estatuário (figurações de Buda em bronze ou em pedra); pequenas representações de Buda
que se encontravam no interior dos templos, que terão sido levadas por monges em fuga.

Pintura: encontra-se em grande parte no interior de túmulos.

•Túmulo dos caçadores: representação de diversos indivíduos na atividade de caça

•Túmulo dos Quatro Espíritos: diversidade de pinturas; cor preservada por estar no interior do túmulo; influência
budista na representação de animais que na cultura chinesa, representava os quatro pontos cardeais (dragão, fénix,
tartaruga, cobra e tigre - espíritos que deviam proteger quem estava sepultado). Num contexto chinês eram
representados no teto, enquanto num contexto coreano, eram representados na parede - inovação coreana.

O primeiro momento de absorção de padrões civilizacionais chineses (sécs. IV- VI): O Budismo como matriz
cultural-religiosa e a consolidação de uma consciência unitária coreana

●Este período de Três Reinos e o Reino Unificado de Silla são o nascimento de uma consciência nacional e cultural
coreana. A importação da civilização chinesa permite uma união, muito devido ao budismo. Adotam uma
administração central ao estilo chinês, que permite também a constituição de uma elite política erudita. Permite a
criação das elites culturais coreanas, que levam ao desenvolvimento da historiografia, que oferece uma consciência
nacional à Coreia.

●É o período que permite o surgimento de uma cultura material sólida, como o que existia na China. Paisagem
interna coreana com uma dimensão de civilidade.

●Leva também a um respirar de um quadro ético-comportamental contínuo configurado através do confucionismo:


harmonia, ordem no interior da sociedade (que não é dado por um quadro punitivo, mas sim através de toda uma
formação de matriz confucionista – passam a ter a consciência de que tem o dever de fazer o correto, o bem).
Lealdade é um conceito central. Leais para com a sociedade e em relações individuais.

●Budismo permite uma prática a toda a sociedade, e o Confucionismo vai dar a domesticação comportamental
nestes reinos, permitindo paz e unidade interna.

O mundo budista nas confluências com as elites políticas e nos ritmos de vivência da população.

● 372 – ano da adoção do budismo como religião oficial em Goguryeo, 374 Baekjae, e tardiamente Silla.
●O Budismo começa a ser vivido primeiro em Goguryeo - temos a ideia de uma prática mais intensa do budismo no
séc. IV, que começa a ser superior a práticas animistas. É uma prática do budismo que ocorre naturalmente, não é
imposta pelo um governo central, ocorre pela proximidade com a China. Movimento natural de monges chineses em
Goguryeo. Prática de conversão das populações, e alguns elementos das elites política.

●O tempo que existiu entre a infiltração natural e a oficialização é curto, porque as elites têm facilmente a noção de
que o Budismo tem a capacidade de transmitir conhecimentos sobre a política chinesa e também de dar unidade. O
processo com outros reinos é o mesmo; primeiro são contaminadas informalmente a partir de monges de Goguryeo.

●Ainda que o budismo tenha entrado de modo informal, a sua adoção formal faz parte de uma estratégia política,
uma conveniência das elites. Sem esse empenho dos poderes políticos dos três reinos, o Budismo não tinha
progredido como fez. É um modelo administrativo chinês útil para as casas políticas, que converge com a existência
de um forte poder central.

●O Budismo não é só veículo de conhecimento chinês, mas é trazido por monges chineses e monges coreanos que
vão para a China, e o conhecimento político também vem através deles, que se tornam conselheiros destes
monarcas.

●A própria ideia de budismo, um caminho de salvação por referência à figura carismática de Buda, é útil para a
projeção do poder monárquico. O progresso de uma sociedade é feito através da referência de um indivíduo
político, o Rei, assim como na religião.

●Constante associação dos monarcas a rituais budistas - Esta proximidade que os monarcas têm à religião é para dar
uma condição de sobrenatural ao monarca. A dimensão budista é tão forte, que a política define quem lidera o
mundo budista. Ainda neste contexto, a coroa organiza assembleias de recitação de vários sutras, com assembleias
de cerca de 100 monges, regularmente e publicamente existem ações orantes. Leitura e invocação de sutras, nos
quais é invocado Buda numa tentativa trazer prosperidade para o Reino e para a Casa real.

●Se por um lado se tentava captar Buda para trazer prosperidade ao reino, ao mesmo tempo a sua proteção para a
Casa Real, que era fundamental para a ordem interna. O poder monárquico é fundamental para trazer uma ordem
interna que permite uma prática orante do Budismo, que é central para trazer prosperidade para as sociedades. Sem
a ordem interna fundamental para o governo monárquico, não se podia pedir a proteção.

●Configura-se aqui todo um imaginário associado ao Budismo. No reino de Silla, temos a ideia de que existia uma
espécie de pagode gigante imaginário, envolvido numa aura de mistério, criando-se histórias fantásticas em redor do
Budismo. O pagode teria 9 andares, simbolizando Silla conquistando 9 nações. Outra lenda de Buda reencarnado
como um soldado de Silla.

●É usadas esta estratégia de importar o Budismo como afirmação do poder real, mas sabemos que nos Três Reinos o
poder real não tem um domínio absoluto do cenário político. O poder real per si não teriam força suficiente para
impor a estratégia política de adoção do Budismo. Funcionavam por delegação de poder a vários clãs regionais, que
se irá tornar a família real.

●Para os clãs é conveniente a existência de um modelo budista. Permite conhecimento de poder tendencialmente
centralizador, que ao princípio parece lesiva. Porque há uma divisão da vivência do budismo que é útil para legitimar
o poder das aristocracias. Não é uma questão de pragmatismo, mas uma questão doutrinal na forma em que as
aristocracias interpretam uma determinada vivência do Budismo. O que as aristocracias vão fazer é estipular uma
consciência de vivência do budismo para reencarnação das almas.

●Vão afirmar que na interpretação da reencarnação da alma individual de cada um, vai se vivendo cada vida em
função dos métodos da vida anterior. Se naquele momento presente, aquelas elites tinha o domínio do poder
político e social, era porque o mereciam ter, já que no passado tinham tido vidas virtuosas. Legitima o seu poder, e
relevância política e social.

●Não há nenhuma prática religiosa que possa ser enraizada se não for fixada dentro da população. O Budismo não
podia progredir se fosse apenas das elites de topo, e assim patrocinam ações de conversão junto dos monges.
●Era uma sociedade coreana muito fragilizada devido à guerra. Todas as populações são perturbadas com cenários
de conflito. Aquilo que eram religiões animistas não podiam responder às necessidades da população. O Budismo
permite modos de vivência mais sólidos, que permite observar a realidade de outro modo.

●Num contexto de sofrimento e dor, estes momentos de dor e sofrimento são ocasionais, e cada um é capaz de
olhar para além disso, e que não corresponde à plenitude da vida. As religiões animistas eram muito mais básicas.

Reino Unificado de Silla (668-918)

Silla acaba por beneficiar por ser considerada um reino marginal e secundarizada pelos outros dois reinos.

•A história dos Três Reinos é uma história de conflitos principalmente entre Goguryeo e Baekje.

•A centralização política em Silla (monarquia que vai rodando entre as principais famílias) dá-se de uma forma mais
lenta em comparação com os outros dois reinos

•O conhecimento chinês, que beneficiará o reino de silla, chegará também mais tarde, comparando com a data de
chegada aos outros reinos.

•Como Silla se sentia mais ameaçada pelo reino de Baekje, e este, estando em guerra com o reino de Goguryeo, não
queria ser atacado na retaguarda por Silla, estabelecem relações diplomáticas entre os dois reinos.

•No entanto, Silla vai-se tornando no reino mais próspero de um modo muito discreto - devido à sua estabilidade
interna, por não participar em conflitos, torna-se mais produtiva e vai aumentar o seu nº de efetivos militares.

•A administração torna-se mais complexa e mais orgânica; vai progredindo, até que na primeira metade do século
VI, adota o Budismo como religião oficial (quase dois séculos depois dos outros) – o que lhe proporcionou uma
coesão interna, um reino já muito próspero e desenvolvido – e assim, vai entrar num processo expansivo – era o
momento de Silla conquistar a península, de forma silenciosa.

•551 - solicitação do apoio de Silla por parte de Baekje para uma campanha militar para invadir o reino de Goguryeo

•Após a derrota de Goguryeo, de surpresa, Silla ataca o reino Baekje, eliminando o rei de Baekje

•Séc VII - Silla é o reino primordial e Goguryeo não tem capacidade de reação devido à sua fronteira norte
(constantemente a ser atacado pelos bárbaros)

•Silla não tinha pressa, pois a península estava um caos

•Passado algumas décadas, o reino de Baekje consegue restaurar-se. Reabilitação rápida com vontade de vingança.

•Silla desvaloriza

•O reino de Baekje ataca sistematicamente o reino de Silla, com incursões cada vez mais violentas.

•Como Silla entra num momento de debilidade, tenta constituir uma aliança militar com o reino de Goguryeo, mas
este recusa o convite, pois beneficiaria muito mais, se o reino de Silla e de Baekje se aniquilassem sozinhos.

•Neste ponto de situação, Silla engendra uma estratégia, extremamente arriscada - estabelecer aliança com a
dinastia Tang

•A china aceita imediatamente, pois a península coreana estava instável e a china queria estabilizá-la.

•Silla abre a porta coreana à China.

•Chega uma frota Tang que se estabelece a norte, e Silla estabelece-se a sul. Juntos esmagam Baekje. Controlo da
península pela china e pelo reino de Silla.

•Na década de 60 há uma primeira invasão sobre o reino de Goguryeo, que não obteve qualquer resultado.

•Nova invasão massiva – Goguryeo resiste durante um ano e acaba por perder em 668
•A china não era uma alma caridosa, tinha toda uma estratégia para conquistar a coreia. Queriam acalmar a
fronteira com a china e consideravam a coreia com um bom porto.

•668/669 - A china estabelece uma malha militar sobre a península coreana, aumentando os seus efetivos militares.

•Ocupa os antigos reinos derrotados. - “protetorado geral para a pacificação do Leste” – nome da estrutura chinesa
que controla as guarnições militares dos reinos derrotados. - Clara ocupação militar chinesa na coreia.

•Silla decide reagir: prepara uma estratégia militar, tirando partido do seu conhecimento aprofundado sobre próprio
território coreano.

•Como os seus exércitos não têm qualidade militar para derrotar os exércitos chineses, decide ‘incendiar’ os antigos
reinos: “é melhor ser governado por um reino coreano do que pelos chineses” prometendo ainda lugares no poder.

•Define duas frentes de ataque: Ações de guerrilha constantes pelos antigos reinos e Silla ataca diretamente as
guarnições chinesas.

•Inicio da década de 70, Silla controla o antigo reino de Baekje e expulsa os chineses (A china pensa: “Não vale a
pena ter tantas chatices”. As guarnições chinesas que estavam em Goguryeo estão muito desgastadas e se o reino de
Silla tiver o poder, a fronteira com a china estará calma também).

Intensificação da influência cultural chinesa através do Budismo

Escola Huayen (ou Hwayen):

•Escola budista privilegiada por ter uma visão inclusiva da vivência do budismo.

•Defende que nenhuma escola budista se pode afirmar como a única detentora da realidade. Todas têm as suas
verdades sobre realidade. (daí ser inclusiva)

•A diversidade torna-se uma riqueza e uma solução, deixando de ser um problema.

•Surgem tensões entre as várias escolas budistas

•Razões políticas para apoiar a escola budista Hwayen:

- Pretende que os monges Hwayen ensinem este budismo à população. É um movimento para atenuar impulsos
individualistas. Não podem estar em choque com a própria sociedade.

- É muito útil sobre o ponto de vista pragmático, atenua tensões entre escolas budistas, sublinha consciência cívica
de cada individuo e está em harmonia com a sociedade.

•Torna-se a escola oficial do Reino Unificado de Silla.

A Coreia como referência do modelo civilizacional chinês para o mundo marítimo asiático

•Silla tenta exportar esta escola budista para o exterior, para o mundo marítimo asiático (nomeadamente para o
japão)

•Nota: O Japão entra num processo intenso de sinização. Processo de centralização política alimentado pelo
budismo Huayen importado diretamente da coreia (adota o budismo Huayen como o grande budismo da nação
oficial, nomeando-o de kemgon)

•A coreia torna-se uma porta de conhecimento e uma referência civilizacional para o mundo marítimo asiático.
Dinâmicas e variedade na vivência do Budismo

Como vai ser vivido o budismo pela população?

•Intensificação da vivência do budismo;

•Valorização dos comportamentos religiosos budistas;

•Aqui (na população), a vivência do budismo não vai ser tanto pelo budismo Huayen (apesar dos esforços da coroa),
mas sim por uma outra corrente (budismo terra pura)

Budismo Terra Pura:

•Reforça o vínculo entre o crente e o buda;

•Dispensável a existência de um clero budista, pois a ligação é feita diretamente entre o crente e o buda;

•Vivência do budismo muito profunda.

•Necessidade de formar doutrinalmente a população. (basta ter um mínimo de conhecimento – até pode ser
analfabeto)

•Prática sobretudo orante (através de mantras) – humildade perante buda. Assim aproximam-se da existência do
budismo.

•Criam um laço muito próximo com o próprio buda.

•Este budismo descomplexado vai ser vivido pela população coreana.

Wonhyo (617-686): o Budismo Hwaeom, Terra Pura e o projeto de confluência das escolas budistas

Wonhyo (617-686):

•Grande figura do budismo coreano no reino unificado de Silla.

•Monge budista.

•Tem pleno conhecimento de todas as correntes budistas.

•Junto da coroa, vai valorizar e defender o budismo Huayen.

“Um praticante do budismo Huayen não pode dizer que é a escola mais importante, que é única. É apenas uma
escola de convergência.” – Ia contra as suas ideias, pois não tinha choque com nenhuma escola.

“Devia haver um convívio entre todas as escolas budistas” (ideia defendida pelo budismo Huayen)

Mais tarde, Wonhyo considera que havia outra corrente que devia ser privilegiada – budismo da terra pura.

Passa a ter uma atitude de valorização do budismo da terra pura junto da família real. (a valorização desta escola
passa a ser um objetivo de vida do monge)

Surge uma questão passional:

•O monge Wonhyo engravida uma princesa da família real.

•Como consequência é expulso da corte e da capital.

•Após a sua expulsão, Wonhyo quer levar este tipo de budismo à população. É acompanhado por outros monges.

•Tornam-se numa escola andante do budismo da terra pura junto da população.

•O budismo da terra pura torna-se na grande vivência do budismo entre a população.

Chegamos a 3 conclusões:
Numa primeira fase do budismo, mantêm-se três ritmos:

•budismo privilegiado pelas elites de poder;

•budismo vivido intensamente pela população;

•um budismo que é incentivado pela elite, mas que tem como objetivo a doutrinação da população - atividades de
doutrinação sobre a população para estar em contacto com a periferia.

Confucionismo:

Podemos aplicar ao confucionismo, a mesma lógica observada no budismo.

Há não só uma continuidade, como também uma intensificação do mesmo.

Importância do confucionismo para os 3 reinos:

•A elite governativa só sabia governar se fosse erudito

•O confucionismo trazia erudição e conhecimento.

•Logo, o confucionismo era extremamente importante porque permitia que a elite governativa soubesse governar.

•Agora temos uma administração que tem de funcionar ainda melhor: Aumenta o nível de exigência de quem está
na capital. A sua formação vai também ter de aumentar. Maior erudição. A administração tem uma responsabilidade
maior.

662, percebendo a coroa da urgência de formar os governantes, exige uma maior vivência do confucionismo, para
ajudar a responder às dificuldades de governação do Reino Unificado de Silla.

- Grande escola confucionista na capital + escolas regionais em toda a coreia: rede de formação confucionista
alargada a todo o território

- Aumenta a carga erudita, formam mais elites governativas administrativas.

- Nasce pela primeira vez, um grande mundo confucionista coreano, associado a estas elites de poder.

•A China também se apercebeu da evolução e dedicação à erudição e passa a olhar para o Reino Unificado de Silla
como um reino de cavalheiros. Profunda intelectualização das elites.

Ritmo de produção erudita muito intensa.

Produção cultural erudita é em torno da historiografia.

Kim Taemun:

•Produz a primeira historiografia do Reino Unificado de Silla.

•Construção de uma historiografia sobre o Reino de Silla serve para legitimar o reino, sobrevalorizando-o em relação
a outros dois reinos.

•Construção de uma história edificante da história do Reino Unificado de Silla.

A arte e a estética como definição de um tempo de plenitude. Progresso científico e tecnológico

Cultura material

Arquitetura:

O objetivo era ter construções e edificações que tivessem visibilidade e que fossem majestosas, mas que,
principalmente, transmitissem o sentimento de harmonia.
Este momento de perfeição da vivência coreana tinha de ser visível na arquitetura

Qualquer súbdito coreano devia ter uma consciência de tranquilidade por estar a viver um tempo pleno e no melhor
momento da história coreana.

Arquitetura vibrante, mas não esmagadora. (não tinham como objetivo impor-se, mas sim mostrar, através da
arquitetura, um poder com consciência de tranquilidade.)

Séc. VIII, surge uma Arquitetura budista sincrética, em harmonia com a natureza.

Espaço de harmonia, transmite plenitude.

Templo Bulguksa sofreu muito. (Aquele templo que foi destruído)

Na década de 60, numa perspetiva de reabilitar património coreano, fazem uma restauração deste templo.

Progresso a nível de estudos da astronomia - são criados vários observatórios para poderem organizar o próprio
calendário de colheitas.

- Desenvolvimento tecnológico.

- Mesmo com o desenvolvimento do confucionismo, a tecnologia também precisa de se desenvolver.

- Aumenta o ritmo de impressão de textos. (Para criar suportes de estudo para alimentar este conhecimento e
formação.)

- Precisam de textos, suportes de formação. Reino Unificado de Silla surge como um espaço de referência de
impressões e tecnologia.

- Torna-se uma grande biblioteca de grande conhecimento do mundo intelectual.

- Reforça a ideia de grande espaço civilizacional.

Relevância do Confucionismo no contexto de uma crescente centralização política

Coroa intensifica a formação confucionista, de modo a sujeitar estas aristocracias, a um período de formação
intenso. Importante para a centralização do poder da coroa. Formam uma academia para dar formação
confucionista aos líderes destas grandes aristocracias, que os habilitará a governar melhor, tornam- se letrados.

Criam diversos organismos internos no interior da própria administração. Quantos mais departamentos forem
criados, mais dividida fica a administração. Abrem mais lugares da administração.

Vários patamares de administração central.

Coroa cria todo um sistema de ensino regional, para que indivíduos de uma família de uma média ou baixa
aristocracia, possam estudar e passar nos exames de acesso à aristocracia central, para que estes novos lugares
fossem ocupados pelos membros desta baixa nobreza, pois eram absolutamente leais à coroa.

Se não fosse este sistema pedagógico criado pela coroa, estes indivíduos nunca chegariam a estes lugares.

A emergência do Budismo Seon na fase final do período Silla

O budismo mais valorizado nesta altura será o budismo Song (zen – meditativo) Aspetos de identidade do budismo
zen:

• Percurso de meditação individual do próprio crente.

• Ginástica mental do próprio crente que o permite subir patamares na aproximação ao buda.

• Dimensão individualista – parte de uma introspeção individual.


• Tem de ser o próprio individuo a caminhar em direção à iluminação. Dimensão individual – centralidade do
individuo – profunda introspeção.

O que a coroa ia fazer com as aristocracias dos antigos reinos?

• A solução encontrada é apenas adiar a situação.

• Coroa irá criar capitais secundárias (nos antigos reinos) descentralizando o poder. “Continuam a ter influência nos
vossos territórios, desde que aceitem a minha supremacia.”

• Estas altas aristocracias, não tinham grande poder, porque estavam dependentes da aristocracia central.

• Esta alta aristocracia regional vai promover o budismo zen – numa dimensão estritamente regional.

O budismo zen terá uma dinâmica interna, regional.

Tem uma grande autonomia, mas não tem muito oxigénio. A coroa continua a controlar e a condicionar estas altas
aristocracias nas capitais secundárias. Surge uma atitude de grande ressentimento em relação ao governo central e à
própria capital. Consciência de que elas mesmas não tem relevância política – espécie de aristocracia regional que
não tem poder.

Neste ambiente de ressentimento dos indivíduos frustrados, entra o budismo zen que será muito acarinhado, devido
à sua dimensão individual. Ideia de que o individuo per si tem a capacidade de iniciar um processo de iluminação
através de uma meditação individual.

O budismo zen, neste contexto de sentimento de frustração, irá criar um sentimento de autoconfiança nestas
aristocracias regionais.

Escola das nove montanhas: em 9 regiões da coreia existiam pelo menos 9 grandes mosteiros de budismo zen.
Financiados pelas aristocracias regionais. Reveladora de que esta relação vem das aristocracias e não da própria
coroa.

O Período Goryeo (936 - 1392)

Período no qual a Coreia ganha uma plena autoconsciência – período de aprendizagem (ponto máximo de civilidade,
conhecimento cultural, práticas religiosas)

Evolução semântica de Goguryeo – escolhido por Wang Geon – a partir desta designação surge o nome “Coreia”,
primeiramente pelos portugueses

Wang Geon vai utilizar uma estratégia muito básica: laços de sanguinidade com famílias regionais – no entanto não
basta engravidar as filhas dos aristocratas

A intensificação da formação confucionista: os sistemas de ensino tutelados pela Coroa e pela elite aristocrática
(sécs. X-XII)

Quem seguirá uma estratégia de fortalecimento de poder central será o seu sucessor – Gwangjong (politicamente o
grande fundador da dinastia Goryeo) – vai ter a consciência que a própria Coroa só consegue sobreviver se não se
deixar dar demasiado poder às aristocracias, sendo que são precisas estratégias políticas

Vai tentar lesar ao máximos essas grandes famílias, valorizando o ensinamento confucionista e sistema de exames,
para controlar ao máximo a entrada dessas famílias no poder central - confucionismo como instrumento político.

Esta atitude é considerada demasiado agressiva pelos sucessores de Gwangjong – poderá levar a tensões com as
famílias aristocráticas que levarão à queda do próprio reino

A partir do século XI - Acordo tácito entre as grandes famílias regionais e a Coroa – todos tinham a noção que este
choque não beneficiaria ninguém – estabilidade interna que levará a um florescimento cultural
Todos concordam que o primordial núcleo de poder deve ser o poder e administração central – cedência da
aristocracia

Todas as aristocracias abandonam os seus territórios regionais e deslocam-se para a capital, sendo que poderão
ocupar os principais postos do governo de um modo hereditário – cedência da Coroa

Estado Goryeo - Estado aristocrático hereditário

O aprofundamento dos estudos chineses

O Confucionismo vai ter um valor central, tornando-se imprescindível, na medida em que é o caminho de acesso ao
poder – necessidade de forte formação confucionista e forte aprendizagem erudita de literatura, poesia chinesa
(intensificação do conhecimento da cultura chinesa)

958 – Estrutura final de sistemas de exames – vão ser definidos de um modo claríssimo: exame de composição,
exame de clássicos, exame misto – a Coroa exigia que todos tivessem uma formação elevada em três áreas de
conhecimento

Exame de composição: necessário conhecimento de formas e estilos literários chineses

Exame de clássicos: conhecimento dos textos associados a Confúcio, relacionados com uma doutrina ético-moral de
comportamento

Exame misto: relacionados com áreas mais pragmáticas da ação legislativa e administrativa (quadro legislativo chinês
como referência); contabilidade; medicina; feng shui

Selecionados os 30 melhores candidatos regionais, que iriam fazer um exame provincial, que por sua vez chegariam
ao exame final, que seria o exame nacional, feito na capital. Seriam selecionados 30 candidatos para entrar na
administração central. – plena maturidade em relação ao Reino Unificado de Silla na questão de uso do
confucionismo como chave à entrada na administração central

992 – grande academia confucionista na capital – local de acesso privilegiado- grande instituição de ensino de
referência onde era feita uma formação de topo

Forte investimento em instituições de ensino confucionista regionais pela Coroa:

• Limitação de poder das grandes aristocracias

• Muitos mais grupos sociais se sentiam incluídos na estrutura de poder, trazendo uma coesão interna ao reino
(famílias mais baixas mas com uma mínima formação letrada)

Entre o século XI e XII, esta estrutura de ensino começa a ser cada vez mais eficaz.

Batalha pelo poder vai fazer-se através de um modo confucionista em vez do uso das armas:

As aristocracias vão criar a sua própria estrutura de ensino confucionista, como resposta a ação da coroa

Tem como finalidade ultrapassar o nível de ensino da estrutura de ensino da Coroa

Pagam os principais mestres confucionistas para abandonar a estrutura de ensino da Coroa, e mudarem-se para a
estrutura de ensino das aristocracias, que será designada de “Escola das Doze Assembleias” – associadas a doze
novos colégios regionais, organizado por Choe Chung – cérebro, grande mestre confucionista que irá organizar estas
12 grandes assembleias regionais

Espaços de encontro – espaços de sociabilidade e de formação de estratégias. Pertencendo a estas famílias ao


mesmo tempo que são educadas, também se vão organizando entre si na forma como vão governar quando
chegarem ao poder.

Mundo de batalha, guerra silenciosa. O acesso ao poder define-se no conhecimento confucionista.


A estrutura privada surge como reação a um sistema de ensino público de enorme valor financiada e organizada pela
coroa.

Séc XII - reação da coroa:

Dentro desta batalha a coroa vai reorganizar o seu sistema de ensino intensifica a estrutura de ensino da própria
coroa: multiplica de forma orgânica os núcleos de ensino. Cada uma dessas escolas multiplicava-se por 6 Colégios
específicos para cada área do saber. Cada colégio era dividido em 6 (2 - estudos de escritos de Confúcio: 1
introdutório e outro mais intenso. Outro colégio sobre o estudo legislativo coreano e chinês. 4º colégio – caligrafia.
5ºcolégio – colégio de contabilidade. 6º colégio- estudos literários

Quando os formandos destes 6 colégios se apresentavam para um exame tinham uma pré-formação sobre todos as
áreas.

Em algumas regiões criam também uma academia militar - 7º colégio

Aposta estratégica da coroa muito importante para a sobrevivência da própria coroa.

Assim a própria coroa tinha controlo sobre os militares formados no colégio militar.

Indivíduos que vem de setores básicos e serão extremamente fiéis à coroa e fortíssima aversão a esse mundo
aristocrata. Cria um mundo militar que numa situação de crise poderia ser a sua mais valia.

Vamos assistir no final do século 12 a um levantamento desse mundo militar coreano. Vamos observar que ao longo
do século 12 um ressentimento entre o governo civil e um mundo militar. Resignam-se ao facto de que as grandes
aristocracias irão sempre governar então decidem envergar no mundo militar. Disparidade nas origens sociais. Os
militares têm uma origem humilde.

Ao longo desse século a coroa vai tentando incendiar esse mundo militar coreano para que tenha uma atitude mais
agressiva em relação a esse mundo civil.

Este mundo militar é profundamente intelectualizado e sabe que tem capacidade para governar, mas não pode. Irá
acontecer um golpe militar.

Outra conclusão: neste combate de acesso ao poder, a grande consequência é uma intensa sinização. Intensa
impressão de literatura chinesa. Como consequência destas duas fortes estruturas de ensino surge a intensa
impressão de textos associados à literatura chinesa.

Torna-se numa base de impressão de criação de literatura chinesa. Torna-se num espaço profundamente erudito

A historiografia do período Goryeo: a valorização da memória dos Três Reinos como tempo fundador da
identidade coreana (sécs. XII-XIII)

A complexidade destas duas estruturas de ensino terá como consequência:

• modernidade técnica: impressão

• palco de produção de cultura

• autoconsciência de que é um polo de alta erudição e sofisticação. Validade civilizacional.

Atinge-se assim um patamar de maturidade e uma luz civilizacional:

• estimula a produção de historiografia (para demonstrar que de toda a historia coreana, agora a coroa atingiu o
patamar de sofisticação). Aquilo que hoje sabemos sobre os Três Reinos é graças à historiografia escrita durante o
período Goryeo. Evocação importante. Quanto mais distante está esse tempo, mais consciência se tem do que se
vive neste período de maturidade, consciência do progresso que se tinha feito. Caminharam de um momento de
caos e de guerra para um momento de paz e estabilidade. Valorização deste período.
A vivência do Budismo no período Goryeo: Uicheon (1055 - 1101) e o budismo cheontae como via de compromisso
entre as correntes textuais e meditativa

1- Omnipresença do budismo na sociedade coreana

2- Ultra dinamismo na vivência do budismo no interior da sociedade coreano - Dois traços que estão interligados

Intensidade do Budismo durante o período Goryeo

Tripitaka- expressão que decorre do sânscrito, sendo que significa três cestos de saber

Vai-se destacar o monge Uicheon – grande figura não só do período Goryeo, mas sim de toda a história coreana – vai
absorver toda a experiência do budismo no interior da Coreia

Tensão grave entre diferentes escolas budistas, que vão voltar a organizar-se em duas grandes correntes:

- Corrente textual

- Corrente meditativa

Esta tensão atinge graus de gravidade, sendo que a Coroa vai tentar resolver estas tensões. É aqui que vai entrar o
monge Uicheon, que vai tender encontrar a chave para acabar com as tensões entre estas duas escolas.

Este monge tenta encontrar um quadro doutrinal que acabe com esta tensão entre as duas escolas: promoção de
uma corrente budista, que se vai designar Cheontae.

Tem formação na China já num período avançado da sua vida – já tem alguma maturidade.

Tentativa de tornar estas escolas indispensáveis uma à outra

Atinge-se uma maturidade e intensidade absoluta da vivência do Budismo no período Goryeo graças a esta figura

O Budismo desde o início é projetado perante a população como indispensável – necessidade de Budismo para a paz
interna, a intensa pratica budista é essencial para captar a atenção do Buda em relação à Coroa (Buda como grande
protetor) – ideia que a Coroa tenta transmitir à população

Organizam inúmeros festivais budistas por toda a Coreia com grande regularidade – forte dimensão de fé religiosa –
a Coroa patrocina estes festivais, sendo que se vai afirmar como um vínculo indispensável entre o Buda e a
população, pois é esta que promove estes festivais - Momentos de oração coletiva

Copiar sutras de um modo esteticamente elevado - Prática estética de copiar orações – nível superior de estética que
é uma prova de devoção

Apresentados em exposições, tendo assim um impacto sob a população

Ultra dinamismo, inúmeras escolas budistas que continuam a afluir para a coreia. Atualização profunda, trazer as
características das escolas budistas chinesas. Qual será o dano colateral da vivência intensa do budismo?

- Observaremos tenções entre escolas budistas. Consequência inevitável de todo este dinamismo.

Neste período as escolas budistas vão ter uma dimensão de poder como nunca tiveram antes. Está em jogo a própria
sobrevivência. Por isso neste período a tensão será ainda mais grave do que no período do Reino Unificado de Silla.

- Escolas textuais (profundo conhecimento intelectual erudito dos textos)

- Budismo contemplativo (valorizava menos o budismo intelectual e valorizava mais o caminho individual de cada
individuo.)

Enquanto no Reino Unificado de Silla as discordâncias eram de debate doutrinal, no período de Goryeo para além
disso, vem também o acesso à riqueza, o grau de influência politica, a relevância social…

Este confronto atinge algum nível de gravidade.


Coroa vai tentar resolver aquilo que são estes choques.

Para distender estas tensões, tinham de encontrar uma solução doutrinal.

É neste momento que surge o Monge Uicheon - encontra a chave para acabar com o conflito

Este budismo foi-se aproximando do budismo textual. “todos têm razão, mas quem está mais próximo da salvação é
o budismo textual”

Por se ter perdido este ponto de equilíbrio, estas duas correntes voltaram a entrar em conflito durante o reinado de
Goryeo.

Solução encontrada por parte do monge: promover uma corrente budista (corrente cheontae)

Monge Uicheon é uma figura com alguma maturidade existencial quando esteve na China, com capacidade para
observar diversas correntes budistas chinesas.

Regressa à Coreia e afirma à coroa que deve ser a grande escola budista a ser patrocinada pelo poder político –
budismo cheontae

Budismo Cheontae:

Doutrina budista que conseguisse anular o choque entre estas duas correntes budistas e que tivesse a capacidade de
durar mais tempo + consistente e durador.

• Estabelecer laços entre estas duas grandes tendências do mundo budista;

• Afirma que naquilo que é um caminho de salvação do próprio crente é indispensável uma formação intelectual dos
grandes sutras. O budismo não é um desvaneio, tem de existir um fundo doutrinal

• A seguir a este momento intelectual, tem de se iniciar um momento meditativo e contemplativo.

• Interlaça – torna as duas escolas interdependentes. Cada uma é indispensável à outra.

Apesar deste equilíbrio, a maior valorização era dada ao budismo zon, contemplativo. Era a fase superior da vivência
do budismo.

A consolidação do Budismo no contexto de proximidade às elites políticas

Esbater fronteiras de um mundo budista e um mundo de poder na capital - completamente associados. Budismo
será até um palco do próprio poder político.

Budismo é um palco político:

• Agora no período Goryeo são mais intensos do que no Reino Unificado de Silla.

• Muitas das famílias de poder colocam alguns dos seus familiares no interior de templos budistas.

• Há uma enorme seriedade da forma como se vive esta doutrina. Qualquer pessoa podia entrar num templo
budista. Mas o governo tinha imposto um sistema de exames para se tornarem monges. Mostrava a seriedade
qualitativa deste mundo budista. Este sistema de exames fazia naturalmente uma filtragem social. Apesar de todos
poderem entrar. Quem passa nessa formação são indivíduos que tem uma formação mais elevada dada pela sua
família.

• Quando as famílias de poder colocam os seus membros familiares no interior dos templos sabiam que teriam
sucesso. Sistema de exames dava segurança a estas famílias. Era seguro que esses indivíduos iriam ascender dentro
desses templos. Neste sentido, este mundo budista permite aliviar tendências entre famílias de poder. Porque filhos
segundos e terceiros, que poderiam querer a herança, vão poder ir para templo e fazer sucesso.

• Gradualmente no período Goryeo grande parte das lideranças dos templos são parentes das famílias que estão no
governo no poder politico na capital.
• Os templos só tinham a ganhar em ter no poder estas figuras, pois tinham uma maior relação com a capital, quem
entrava doava terras (para que o seu familiar pudesse entrar de certeza absoluta), politização aumenta porque as
elites são as mesmas das elites do poder político, regularmente a coroa e as famílias de poder subsidiavam os
templos em troca de uma prática orante que invocasse a proteção do buda sobre essa mesma família.

Mundo budista vai aumentar, desenvolver-se com enorme prosperidade. Extensões mais fortes entre as diferentes
escolas budistas – o que estava em causa não era a doutrina, mas sim de poder e riqueza.

• Este mundo budista vivia como exceção a nível de prosperidade. Eram isentas de pagar impostos à coroa. Isentos
de obrigação de trabalho forçado. Transforma o mundo budista num mundo de privilégios e próximo do poder
político e protegido pelo mesmo.

• Este mundo budista terá um crescimento incomparável de riqueza.

• Estes templos budistas devido à elevada prosperidade terá uma grande influência. Publicamente são os que
invocam a proteção do buda, tornam-se indispensáveis. Permitem alimentar a população – rede social de apoio. Tem
mais impacto sobre a população do que o poder político. Torna-se mais apetecível ter um impacto local vergando
dentro de um templo, do que um impacto de poder político na capital.

• A prosperidade do mundo budista permite criar feiras e mercados com lucro, e criar uma rede social de apoio à
população. Ciclo de riqueza e prosperidade. Infiltra todas as dimensões da vivência social teria coreana. Torna-se
indispensável, e está omnipresente em todas as dimensões da sociedade coreana.

Outra dimensão deste mundo budista – dimensão militar é indispensável.

• Toda uma serie de templos, a norte da península coreana, vão começar a dar uma formação militar a alguns dos
monges e dos cidadãos. Tornam-se potencias militares as quais a coroa frequentemente recorre para ajudar na
fronteira a norte que frequentemente é atacada.

• Neste contexto, várias famílias querem apoiar estes templos budistas que tinham milícias armadas, porque
significava que tinham proximidade a uma força militar que poderia ser no futuro necessário e útil.

O impacto do mundo budista na vida social e económica

Vivência do budismo era intensa não só pelos debates, mas também porque o budismo vai infiltrar quase todas as
dimensões da vivência cultural coreana.

O budismo desde o período inicial da dinastia Goryeo é projetado perante a população como indispensável. Todos
estes indivíduos eram extremamente crentes.

Buda como grande protetor. Intensa prática é fundamental ara captar esta boa vontade do próprio buda para com a
Coreia. Marcam as vivências da população associados a inúmeros festivais budistas. Forte dimensão de fé religiosa. A
Coroa vai criar um palco de projeção do seu próprio poder. Como a Coroa patrocina estes festivais, a população
percebe que quem tem capacidade financeira de organizar esses festivais é a Coroa. Ao afirmar a intensa prática do
budismo, está a dar-se a si própria relevância, pois é ela que permite esta vivência.

População constantemente bombardeada com estes festivais, pretexto de visibilidade do próprio rei. Afirma-se
como uma mediação indispensável para alcançar o próprio buda.

• Coroa era indispensável porque financiava muitas destas festividades.

Ato de copiar sutras, grandes textos budistas terá um grande impacto durante o período Goryeo.

Por vezes estes sutras eram apresentados em procissões escrituras. Mais regular, mais orgânico.

Existência de grupos de monges que passam por várias regiões em procissão. Ato devocional em movimento.
Impacto visual muito forte sobre a população quando apresentavam estes sutras.

• Impacto sobre os sentidos da população - sonoro nas assembleias inwang, ou visual com as procissões.
Há uma vivência do budismo que ultrapassa o domínio do budismo e contamina toda a população.

A sinização das práticas culturais: Literatura e cultura material

O período Goryeo vai era o período onde se vai verificar uma maior sinização da Coreia, devido a uma maior
aproximação à China.

• Verifica-se um enorme impacto do confucionismo nas elites intelectuais coreanas (os que exercem a política),
sendo que têm de passar por uma formação confucionista, que requer um pro conhecimento da cultura chinesa – o
que levará a um apagar de vestígios de uma cultura nativa coreana na literatura (Hyangga)

Hyangga – forma poética tipicamente coreana que apesar de ser infiltrada por alguma sinização, vai conseguir
sobreviver até ao período Goryeo (neste período é completamente apagada)

• Refere-se à vida no campo – vida interior; vida visceral coreana

• Começa nos Três Reinos – quando as elites governativas começam a ter alguma formação alfabetizada e mais
erudita, e a compor formas literárias

• Adaptação da escrita chinesa a uma oralidade coreana

• Vai sofrer uma infiltração chinesa – sobretudo budista

• Poemas cada vez mais intelectualizados – dimensão associada à vida quotidiana coreana

• Métrica muito diferente da poesia chinesa, com um palpitar coreanos (expressões nativas e populares coreanas)

• 25 poemas que sobreviveram

No início do século XI, esta poesia Hyangga vai ser extinta pelos eruditos do período Goryeo – reflexo da ultra
sinização da Coreia no período Goryeo

A partir do século IX até ao século XII, no Japão vai haver uma pausa da influência chinesa que existia desde o século
VI. Vão dar-lhe uma dimensão japonesa – atitude oposta à da Coreia: tentar levar essa influência chinesa a um nível
ainda mais superior do que se tinha feito nos períodos anteriores (Coreia como uma espécie de China superior –
upgrade da China)

A cerâmica Celadon e a génese de uma pintura secular

Cerâmica Celadon – principal símbolo da cultura material no período Goryeo e a prova máxima do sublimar da
cultura chinesa

• Cerâmica de esmalte

• Tom verde

• Tem origem na China, no período Song – produção tipicamente chinesa

• Na Coreia vai atingir um nível qualitativo superior ao original – nível estético e artístico muito superior

• Pode-se encontrar em tinteiros, vasos de flores – mais diversas funções em relação à China

• Criação de novas formas – formas de animais – a forma estética ultrapassa o utilitarismo

• Apesar das tensões entre a Coroa e as aristocracias, criou-se um equilíbrio: todos se mantinham com relevância na
sociedade. Ao longo do período Goryeo todas as entidades de poder ganham uma consciência de poder –
autossatisfação política – vai justificar e dinamizar esta cultura material - a cerâmica é resultado disto

Objetos em bronze
• típicas reproduções da China Song e Yuan

• objetos devocionais religiosos – bodhisatwas de budas

• objetos do quotidiano

• superiores ao modelo original chinês Pintura Secular

• pintura secular – não é estritamente religiosa: contexto político – consolidação e estabilização (por vezes tenso) de
um poder político estável, como nunca tinha acontecido antes: capacidade de produzir uma pintura própria

• grande parte desta pintura desapareceu – golpe de Estado pelos militares

• descritiva da própria paisagem coreana – com alguma alma coreana

• retratava o quotidiano da nobreza

• o maior pintor desta pintura secular terá sido Yi Yong (séc. XII) – Cena do Rio Hyesong

• Cena de caça do rei Gongmin – pintura não religiosa altamente associada às figuras que viviam no reino Gyesong

Pintura Religiosa

• pintura budista que continua a existir Caligrafia

• a prática de caligrafia é comum nestas elites de poder intelectuais

• demonstrações de erudição e conhecimento de todos os homens que exerciam o poder

• intenso desenvolvimento qualitativo – extremamente importante e indispensável para estes homens de poder
mostrarem a sua capacidade intelectual

Escultura e arquitetura

• Poucos vestígios – grande parte foi arrasada pelas invasões mongóis

• Arquitetura e escultura de grandes dimensões – Coreia numa dimensão épica

• Mosteiros, templos, palácios – grandiosidade nesta Coreia ultra sinizada

• Representação do bodhisatwa Maytraya em estátuas – transfiguração do próprio Buda num patamar superior:
ultima grande transformação de Buda – consciência da própria coreia ter chegado a um patamar civilizacional
absoluto

• Pagode 13,5 metros que ficava num templo perto de Seul – Pagode de Gyeongcheonsa

• Escultura grandiosa mas muito mais simples (traços harmónicos) - o que se quer representar é uma harmonia e de
bem estar: reflexão do estado mental das entidades de poder do período Goryeo – vai ter influência na cultura
estatuária budista no Japão (serenidade, em vez de mais complexidade)

• Existência do maior templo budista da Coreia em Gyesong neste período: Templo de Hunghwang: construído em
1067; abrigava o Tripitaka (biblioteca budista coreana); abrigava o próprio arquivo real – simbiose entre o mundo
político e o mundo religioso (ausência de fronteiras entre o mundo budista e o mundo político); hoje em dia só
existem os alicerces deste templo

• Templo de Bongjeongsa: um dos grandes templos que sobrevive no período Goryeo; atinge a sua dimensão plena
entre o século XII e o século XIV; construída por cerca de 10 edifícios, que deviam pertencer à corrente
contemplativa; apesar da sua grande dimensão, pensa-se que seria subsidiário de outro templo; não apenas a
dimensão, mas também o espaço que ocupavam – pode ser um fator de tensão e conflito de territórios entre as
diferentes correntes budistas; provavelmente sobreviveu por ser difícil de lá chegar (2000 metros de altitude); o
templo mais conhecido
O final do período Goryeo

Século XII:

- Ideia de que se tinha encontrado uma governação perfeita – levou a uma atitude menos prudente em relação a
outros setores, nomeadamente o setor militar

- A Coroa vai preencher o vazio do mundo militar – vai permitir que indivíduos do interior do mundo coreano,
extremamente humildes ter uma formação militar

- Tentativa de carreira militar mediante o chumbo nos exames para passagem a administração central – alto
ressentimento dos militares em relação à administração. A Coroa vai alimentar um setor não controlado pela
aristocracia, que se sente ressentido em relação a esta mesma aristocracia, que tem o poder das armas

- Este mundo militar sente-se secundarizado e desprezado pela aristocracia civil. Ex.: quando não havia atividade
militar (que acontecia sobretudo na fronteira norte), os militares tinham a obrigação de realizar trabalhos forçados,
tal como os camponeses, como arranjar estruturas, estradas, etc.

- Ao longo do século XII, vamos assistir a diversas manifestações de desconforto por parte dos militares – alguns
momentos de tensão

- Líder militar coreano: Chong Chung bu – por 1169 ou 1170, a Coroa tenta eliminar a contestação militar, dando
ordem de prisão a este militar e humilhado publicamente, queimando-lhe a barba.

O Período militar (1170 - 1258): impacto na atividade cultural coreana

-1170 – levantamento militar – Golpe de Estado violentíssimo liderado por Chong Chung bu, eliminando boa parte da
liderança destas famílias. Toma o poder e começa a impor uma governação militar- há uma purga na administração
central, sendo que os militares vão ocupar os cargos (tinham formação confucionista)

- Vai-se entrar num período de guerra civil em 1170 – 1195: vários líderes militares vão disputar o poder político,
sendo que quem vai ganhar será Choi Chung hon afirmando- se como o grande líder militar: vai dar início ao estado
reinante militar; vai haver a Casa Choi que vai ter o poder militar e civil até meados do século XIII- 1196-1258

- Esta casa militar tem perante si um grande desafio: tem de governar o poder militar e a sociedade coreana. Vai
criar uma casa civil no interior da sua própria casa militar, que terá como função ser o elo de ligação com o próprio
governo. Esta casa civil fazia as diferentes nomeações para o interior do governo coreano

- Formação de aliança entre o poder militar e indivíduos letrados (não eram da alta aristocracia nem nobres, eram
eruditos e burocratas confucionistas): primeiro momento em que letrados não aristocratas começam a ocupar
lugares de topo e de governo no interior da Coreia – estão no interior da Casa Civil Choi e no topo do próprio poder
coreano

- Vai surgir uma Coreia muito mais confucionista do que budista nos finais do século XII e nos inícios do século XIII

Período Goryeo - Momento em que se começa a fazer a transição para um período identitário coreano; nos finais do
século XII já se vão observar mutações a nível político - ascensão do Confucionismo sob o Budismo.

Maturação de um processo que se inicia nos Três Reinos, mas no final do período Goryeo assistimos uma inflexão
confucionista cada vez mais intensa.

Primeiro grande período de estabilidade (final do seculo XXI) – até lá havia uma estabilidade (tensa) que
proporcionou a produção cultural

Vai-se observar diversos golpes militares que tinham objetivo de chamar a atenção do governo civil por parte do
mundo militar

1170 – ocupação da capital de Gyesong num golpe militar muito violento

• Líderes afastados, alguns imediatamente eliminados


• Ataques a palácios, sendo que muitos foram queimados

Duas décadas de caos na Coreia – diversos líderes militares vão entrar em conflito

• Período de guerra civil entre líderes militares que tentavam ganhar esta supremacia militar

• A Casa Choi consegue derrotar todas as casas militares – inicia-se um período muito semelhante ao Xogunato
(governações militares no Japão)

Constituição de uma casa civil

• Profunda alteração dos protagonistas do poder político na Coreia – pela primeira vez, indivíduos que não
pertencem a uma alta aristocracia passam a ter postos relevantes no governo

• A Casa Choi vai criar um Secretariado – estrutura civil – grupo de burocratas eruditos/letrados confucionistas que
faz a casa entre o topo do governo coreano e a casa Choi – recebia informações do governo, analisava-as e
apresentava-as aos líderes da Casa Choi – núcleo central para o exercício do poder

• Primeiro momento no qual estes burocratas não aristocratas começam a ter alguma relevância na produção
cultural, até então associado a um mundo budista

Produção cultural, não estimulada pela Casa Choi, mas sim um efeito colateral deste golpe de Estado militar

• 1170 – golpe de Estado militar

• Vai criar-se um enorme ambiente de incerteza, sobretudo para aqueles que estavam a trabalhar no interior do
governo – atitude de ressentimento relativamente às aristocracias, no entanto era um sistema político que apesar de
tudo, lhes dava alguma estabilidade

• Muitos destes indivíduos vão fugir abandonando a capital e regressando às suas terras de origem, pois sentem-se
perturbados por este ambiente de caos – sentimento de perda e de desamparo, não fazendo ideia de que vão ter
relevância no futuro

• Retirados da capital, estes letrados vão começar a ter uma forte produção literária (têm uma fortíssima formação
erudita) – vão produzir cultura (é tudo o que sabem fazer)

• Cultura literária – poesia – escrita de inúmeros poemas ao estilo chinês

Centralidade dos letrados confucionistas na produção literária

Prática de uma prosa literária relativamente surpreendente, não canónica – literatura que surge como reação ao
estado de espírito destes letrados – o que vão escrever vai depender de cada indivíduo que o escreve

• Duas tendências desta prosa literária (reações à realidade):

1- Prosa literária lúdica, que tem como finalidade entreter, que lhes possa dar algum prazer e os ajude a passar
o tempo e não pensar em situações complexas – redação de contos, quase todos eles caracterizados por um tom de
ironia, elevado sentido de humor, criação de um surrealismo (de forma a afastarem-se da realidade) – como por
exemplo em tornos de objetos que os rodeiam, dando-lhes personalidade e existência

2- Literatura heroica, com uma certa identidade patriótica – evocação de ordem e tempos dourados do
passado – obras historiográficas, escrita de epopeias e biografias de heróis da história coreana, grandes monarcas e
batalhas da história coreana (sobretudo fundadores de dinastias, como Wang Geon)

A forma como vão reagir depende muito do carácter de cada um e das experiências de cada um.
Apesar de toda esta enorme turbulência no final do século XXI (que se vai estender até ao final do período Goryeo),
vai-se continuar a assistir à manutenção de uma das tendências civilizacionais da Coreia – Coreia como um
importante espaço de referência institucional

O Budismo no período militar: o budismo Jogye e as reformas de Jinul (1158- 1210)

Vai-se assistir a profundas alterações no mundo budista coreano no final do século XXI, que não vão ser provocadas
diretamente por este mundo militar

• Consequência de continuação problemáticas de já há quase 100 anos atrás – tensões entre escolas textuais e
contemplativa (vinha desde o Reino Unificado de Silla)

• Tensões fortes entre escolas textuais e budismo contemplativo que vão atingir o pico do século XII
(coincidente com o poder militar, coincidência)

Vai-se assistir a um ensaio de solucionar de uma forma definitiva esta tensão entre as escolas – a solução que vai ser
encontrada vem do interior do Budismo coreano (unicamente coreana – grande prova de maturidade e
aprofundamento do Budismo coreano) – no interior deste budismo contemplativo vai-se sentir a responsabilidade e
a obrigação de criar uma solução para estas tensões – transfiguração do budismo contemplativo, alteração da sua
própria identidade interna para abrir a porta às grandes correntes intelectuais textuais : vai a passar a designar-se de
Escola Jogye (rebatização do Budismo contemplativo)

• Monge Jinul - grande fundador do Budismo Jogye (1158-1210)

• Vai renomear o budismo Zon como budismo Jogye

• Refundação de todo o budismo contemplativo

• Criação de novo budismo, com a contemplação no centro, mas esse processo não é mais relevante do que
uma formação intelectual – conjugação de uma indispensabilidade do conhecimento intelectual erudito e do
processo meditativo; vai conjugar também elementos do Budismo da Terra Pura

• Importância do Budismo Jogye até aos dias de hoje

• Consequência de uma profunda maturidade do budismo coreano desde os Três Reinos

Esta solução encontrada por Jinul vem ao encontro daquilo que é o caracter destes homens do mundo militar – a
forma de budismo que eles mais prezavam era o contemplativo, por estar ligado aos militares, sendo que o
contemplatismo está associado a uma disciplina militar (a corrente com que os militares mais simpatizavam); para
além disso, valoriza uma formação intelectual e uma vivência erudita

• Apoio da criação de templos Jogye

Restauração Goryeo (1356-1392)

1. Ditadura/governação militar (governação da Casa Choi) 1170-1258

2. Invasões e domínio mongol

3. Restauração Goryeo 1356 – 1392

Invasões Mongóis
• Primeiro contacto entre mongóis e coreanos: finais do século XII e inícios do século XIII no norte da fronteira
coreana

• Os mongóis vão exigir benefícios – resposta de absoluta inflexibilidade por parte dos coreanos – a Coreia vai
assassinar o emissário mongol que vai ameaçar a Coreia (ideia de superioridade por parte da Coreia)

• Os mongóis vão dar uma resposta passado poucos anos: 1231- invadem a Coreia; primeira grande invasão
mongol – grande parte do património coreano vai ser destruído

• Uma das estratégias encontradas é a deslocação da capital: ilha de Ganghwa (os mongois não sabiam nadar)

• A resposta dos mongóis é aniquilar completamente a Coreia, levando à queda do poder militar e civil nessa
ilha - a partir de 1232 a resposta é extremamente

violenta por parte dos mongóis (década de 50- mais violenta das invasões mongóis)

• O poder coreano fica sem capacidade de subsistência

• O poder coreano em Ganghwa começa a dividir-se

• 1258 – início de tréguas; 1259 – envio de emissário para paz com os mongóis

Domínio Mongol 1231 – 1258

• A ilha de Gwanghwa passa a ser uma espécie de prisão para o poder político coreano

• Grande parte do património coreano é destruído nesta década de 50

• Isto levou a uma lenta agonia do poder político que estava na ilha – era esta a estratégia dos mongóis

• Isto vai levar a uma divisão no interior do poder coreano

• A Casa Choi vai resistir sempre a um início de tréguas com o poder mongol – vai dar-se um golpe de Estado, e
a Coroa elimina a Casa Choi e volta a ter o poder político pleno

• A Coroa envia um emissário para iniciar tréguas com os mongóis – 1259; no então os mongóis não vão
aceitar completamente porque ainda existe uma resistência por parte de alguns

• 1270 - Coroa vai condenar e eliminar algumas lideranças militares que se opunham, no entanto isto não vai
resolver o problema, pois ainda existe um mundo militar reduzido (restos da casa Choi) que vão fazer uma
resistência entre 1270 e 1271

• Vão descer para o sul da península coreana, e vai fazer uma resistência de 1 ano contra os mongóis – vai
terminar com uma derrota perante um exército que alia militares mongóis e forças coreanas militares subordinadas
à Coroa

Domínio Mongol 1271-1356

• Assim, a partir de 1271 pode observar-se um pleno domínio mongol na Coreia

• A Casa real vai sobreviver, devido às tréguas; mas completamente controlada pelos mongóis
• Os mongóis vão voltar a colocar os grandes líderes aristocratas cujas famílias sempre tinham dominado o
poder coreano – desaparecimento de propriedade pública; cenário de privatização do espaço agrícola do espaço
coreano

• Vão existir fortes perturbações no núcleo interior do poder mongol (na China) – diminui a presença mongol
no interior da Coreia, que é observado pelo rei Gongmin, e vê que tem margem de manobra para dar um Golpe de
Estado

• Consegue expulsar os mongóis em 1350, sendo que estes não vão reagir

• 1356 – última fase da dinastia Goryeo

- A chave para as mudanças culturais coreanas é sempre o contexto político; só uma mudança de poder e cenário
político poderia levar a uma alteração de uma identidade coreana e aquilo que são as práticas culturais coreanas

1- Budismo central (durante 1000 anos) nas práticas artísticas, práticas religiosas e identidade coreano, por
associação a quem está no poder (altas aristocracias) – pois dá uma coesão interna e está em profunda simbiose
com o poder político a as altas aristocracias

2- Confucionismo como central na Coreia Goryeo – viragem nas práticas culturais e identidade coreanas;
letrados com importância política e cultural no interior da Coreia – o final da dinastia Goryeo não deve ser percebido
como decadência, mas sim como o início de algo: 200 anos de gestação no final de Goryeo que vai influenciar os
ritmos do início do período Joseon.

Restauração Goryeo 1356-1392

• Ditadura militar e restauração Goryeo – têm em comum o início da ascensão ao poder da elite com formação
confucionista » elite com influência política e cultural na Coreia

• Rei Gongmin realiza uma purga governativa – expulsa todos os grandes aristocratas próximos do domínio
mongol

• Reforma do sistema político coreano – expulsão de indivíduos aristocratas cúmplices e sob este pretexto, o
rei Gongmin vai fazer um ataque às altas aristocracias

• Criação de novos organismos de governo: 1. diretório para a reclassificação das propriedades – tirar
territórios e propriedades destas famílias (que tinham sido autoconcedidas por estas quando estavam no governo)

• Vai preencher o governo por letrados confucionistas não aristocráticos (semelhança à ditadura militar)

• O próprio rei Gongmin vai ser assassinado (grupo de aristocratas em profundo ressentimento)

• Reabilitação dos letrados, que já tinham começado a saborear o início de poder durante a ditadura militar

O final do período Goryeo e a ascensão dos letrados no quadro político-social

O mundo militar coreano vai dar um golpe de Estado, de forma a voltar ao poder em 1388, sob a liderança de Yi
Song-gye.

• Não é afastada a família real (parece seguir os ritmos da ditadura militar do século XXI)
• Vai empreender uma série de reformas: os letrados continuam a ser centrais (grande aliado do
mundo militar) – reformas semelhantes às que o rei Gongmin tinha iniciado

O Período Joseon (1392 - 1910) Yi Song-gye e a ascensão da dinastia Yi:

Formação de um novo quadro político dominado pelos ‘yangban’

- Yi Seong-gye vai perceber a relevância da família real Wang. Yi Seong-gye vai dar um segundo golpe de Estado em
1392, iniciando uma nova dinastia e um novo período

• Dinastia Yi e Período Joseon – vai fazer o que a Casa Choi nunca fez: iniciar uma nova dinastia e período
assumindo-se como casa reinante

• Joseon – Yi Songgye tem noção que não pertence a uma grande família aristocrata; pertence a uma família de
baixo médio status social; ascende pelos seus próprios méritos e formação. Vai remeter-se então ao período mais
recuado da história coreana: Bojoseon, para batizar a sua dinastia

• 1392: profunda alteração da identidade coreana (que já palpita no final da dinastia Goryeo)

• Yi Seonggye = Taejo

• Vai começar a definir uma forma de governo, criando uma nova estrutura política, que pudesse ser exclusivamente
habitada por aqueles que tinham mérito em governar: letrados; considera que não pode manter um sistema político
anterior, e adicionar letrados após, podendo levar assim a uma expulsão dos letrados pelos indivíduos que estavam
lá anteriormente. Vai criar uma orgânica de governo habitada apenas por uma classe: letrados – yangban

A emergência da matriz confucionista como padrão culturalmente dominante

• Sistema político exclusivamente confucionista

• O confucionismo que irá dominar este período será o neo-confucionismo: vertente mais politizada do
confucionismo que irá dominar a identidade coreana até finais do século XIX – apresenta a noção de cada elemento
da sociedade não consegue encontrar a sua realização pessoal sem a influência dos outros – ritmos de vida
totalmente condicionada por aqueles que o rodeiam – todos estão dependentes de comportamentos de outrem

• Desta forma, deve existir uma grande instituição coordenadora (sistema político) que faça com que esses ritmos
sociais individuais não choquem e não levem à infelicidade de outros: o estado tem de estar omnipresente na
sociedade – politização da sociedade: cada indivíduo tem poder político

• Este novo mundo confucionista coreano vai reordenar a própria sociedade

• Vai haver uma secundarização do budismo (a anterior matriz cultural identitária da Coreia): posição secundária,
quase nula nesta Coreia confucionista. Isto aconteceu, pois o budismo estava em simbiose com a antiga classe de
poder, sendo que quando estas caem e deixam de ter relevância política, levam o budismo consigo; o budismo chega
mesmo a ser perseguido nalgumas dimensões por parte deste estado confucionista que se está a formar. O Budismo
irá manter uma relevância associada estritamente àquilo que são as práticas individuais de cada uma- perde
qualquer relação com o poder político.

• Objetivo de organizar o sistema político coreano de forma acelerada. Isto levará a momentos de avanços, recuos e
tensões – este mundo não vai assistir a uma estabilização imediata.

Debate e confronto entre os ‘letrados meritórios’ e os letrados neo- confucionistas (sécs. XV-XVI)

• Ensaio de um novo sistema político – até meados do século XV, a nova dinastia e os letrados que estão a organizar
a nova Coreia, vão entrar choque
• Estabilização – primeiro momento de estabilidade, mas a partir da segunda metade do século XV é possível
observar-se uma fase de debate e ebulição no interior do poder político.

• Vai-se assistir a um choque entre os antigos letrados (letrados meritórios tradicionais) e novos letrados que
começam a entrar no poder coreano a partir da segunda metade do século XV – renovação de gerações que vão
tendo diferente concessões do que deve ser o exercício do poder, que têm uma formação mais politizada do
confucionismo (neo-confucionismo)

• A partir do final do século XV e início do século XVI começa-se a verificar tensões. Os letrados tradicionais
consideravam que um estado confucionista e a capacidade para governar através de uma formação era suficiente.
As novas gerações consideravam que essa concessão era uma concessão de responsabilidade minimalista,
considerando que um letrado confucionista devia ter um plano político, não sendo meramente um gestor do dia a
dia. Consideravam que o estado devia ter uma ação de responsabilidade perante a sociedade, empenhando-se em
estar omnipresente na sociedade, gerindo de um modo eficaz os comportamentos de cada indivíduo.

• Choques extremamente violentos entre estes dois: quem ainda contém o poder são os letrados confucionistas
tradicionais, sendo que estes vão realizar purgas governamentais, expulsando e condenado as principais lideranças
neo-confucionistas dentro do poder político (1498, 1504, 1519 e 1545).

• Reação violenta é uma tentativa de negação da realidade.

• Alegam que as lideranças neo-confucionsitas estão a pôr em causa o próprio quadro confucionista.

• Justificação para a realização das purgas: querem levar projetos individuais. Egocêntrico. Centrados em projetos
políticos individuais. Estão a pôr em causa a própria capacidade soberana de organizar a sociedade. Põe em causa a
própria autoridade da coroa.

A vitória do modelo neo-confucionista

1550 – Um Estado estabilizado e neo-confucionosta – Coreia como grande referência para o pensamento neo-
confucionista

A coreia passa a ser uma grande referência para o pensamento neo-confucionista. Torna- se na grande referência
para espaço da ásia oriental. Terá o mesmo impacto civilizacional sobre o Japão, tal como aconteceu com o budismo.

O debate interno neo-confucionista (sécs. XVI-XVIII): Os modelos ético-políticos de Yi Hwang e Yi I no séc. XVI

Duas grandes figuras do neo-confucionismo:

Yi Hwang (1501-1578)

• Grande teorizador do pensamento político do Estado Joseon

• Vai dinamizar todo o seu pensamento filosófico e posteriormente político num conceito confucionista, que este vai
maximizar conceito de lealdade

• Afirma que a interiorização total do conceito de lealdade é indispensável para manter a harmonia no interior do
Estado – vai pensar num reordenamento ético e moral da sociedade, de modo a adaptar a sociedade ao sistema
político

• Alteração do carácter da sociedade de modo a encaixar a sociedade neste sistema político confucionista que se
estava a criar

• Não basta a ideia de lealdade do súbito ao Estado; este conceito deve estar presente nas relações pessoais: entre
os mais velhos e os mais novos, entre um pai e um filho, marido e mulher e até entre amigos

• O Estado vigia a manutenção dessa lealdade- válvula de segurança

• Este conceito de lealdade vai legitimar o poder político- Estado como vigilância

• Vai referir que a existência universal é composta por dois elementos: a matéria e a conduta e princípios (ideia
central do neo-confucionismo) – estes dois elementos estão interligados, tendo uma relação simbiótica.
• Afirma que a matéria é equivalente na vivência humana aos comportamentos individuais – cada pessoa na
sociedade têm impulsões individuais e egoístas. Assim, é preciso impor uma conduta e princípios para o bem da
sociedade – Estado como organismo que sob a matéria vai impor aquilo que é a conduta e os princípios.

-Afastamento entre a sociedade e o próprio Estado – consequência da adoção da doutrina de Yi Hwang como
doutrina central

- Coreia Joseon que parece profundamente organizada e racional, mas isso é apenas a aparência. Na verdade, é um
mundo de ebulição, pois existem debates internos confucionistas

Yi I (1536-1594)

• Sendo neo-confucionista, também defende que toda a existência é composta por matéria e conduta e princípios

• A grande diferença é da tipologia da relação entre estas duas partes: visão muito mais pragmática – a matéria
(socieadade) deve ter uma certa plasticidade e capacidade de adaptação, sendo que princípios/conduta (Estado)
deve ter a capacidade de ler a sociedade

• Defende que a supremacia só se pode manter se o Estado conseguir fazer uma leitura da evolução da sociedade:
uma criança que está-se a afogar, uma pessoa imediatamente vai pensar em salvá-la – capacidade de adaptação em
reagir, se esta capacidade não existisse e pensasse sobre princípios de lealdade no entretanto, a criança morreria

Corrente Reformista

• Letrados de periferia nos escalões mais baixos da administração central ou na administração local – insatisfação de
grupos de letrados

• Letrados reformistas: vão acarinhar o pensamento de Yi I, pois querem que o sistema político se altere e adaptar-
se às pulsões sociais

• Vão-se alterando: são os mais dinâmicos

• Vão produzir cultura

O sistema hangul no contexto neo-confucionista do Estado Joseon

Criação do sistema de escrita hangul – emerge em meados do século XV: como produto desta Coreia neo-
confucionista: este sistema de escrita como grande produto de identidade coreana

A partir do momento em que se cria este sistema, a Coreia irá fazer uma tradução de todos os textos em chinês:

• A coroa vai criar um gabinete “superentendência para a criação de sutras”: todos os textos doutrinais no interior
da Coreia vão passar para o sistema de hangul o número máximo e textos budistas que existiam no interior da Coreia
– identidade nacional coreana perante a China

• Vivência chinesa mas a partir de uma filtragem identitária coreana

A historiografia no período Joseon

- Aumento da produção historiográfica

• sistema de escrita que torna mais fácil a escrita

• exaltação de uma identidade coreana nativa

• Século XI : é redigida uma história de Goryeo (dinastia anterior); redigido “Espelho do reino Oriental” : profunda
dimensão ético-moral no modo como se analisa a História (particularidade do período Joseon); a história é
concebida como uma experiência humana que é um constante processo de aprendizagem com base em virtudes e
defeitos – lógica de aprendizagem; lição moral

• Crónicas da dinastia Joseon: forma de exaltar os feitos de cada soberano


• Descrição geográfica das oito províncias (século XV); Relatório aumentado da geografia da Coreia- manuais que
eram para ser utilizados pelos letrados na administração local, para terem conhecimento da própria província

O movimento Sirhak nos sécs. XVII-XVIII

A doutrina de Yi Hwang vai ser adotada pela Coroa – quem detém o poder não quer que nada se altere (vertente
mais conservadora do neo-confucionismo)

Shilhak (aprendizagem prática) – século XVII/XVIII: primeira designação deste movimento neo-confucionista
reformista – este movimento tem como finalidade alterar e reformar o próprio estado, não impondo uma alteração
brusca da sociedade – mutação pensada através de um choque tecnológico: é pensada uma alteração nas práticas
de cultivo e de recolha de alimento através de um conhecimento tecnológico, aumentando da produção agrícola,
nascendo uma economia mercantil, sendo criadas pequenas estruturas manufatoras

Conceito de Sohak – aprendizagem ocidental: considerava que o ocidente tinha patamares de conhecimento
tecnológico que permitiriam acelerar a produção agrícola que provocaria esse choque tecnológico no mundo
agrícola, alterando o próprio sistema político

O Cristianismo no contexto da rivalidade entre correntes neo-confucionistas

Onde é que se ia buscar esse conhecimento ocidental? Vai ser encontrado na China num contexto de presença
cristã. Assistia-se a uma ausência de desenvolvimento das ciências exatas na China, assim a Companhia de Jesus
levará missionários com enorme formação científica: astrólogos, médicos, cientistas….

• Missionários jesuítas em Pequim, com fortíssima formação científica, ex.: Tomás Pereira

• Os coreanos vão buscar este conhecimento sobre o cristianismo à China

• Estratégia seguida pela China imperial – então a Coreia poderia fazer o mesmo

Vivência do Cristianismo na Coreia Joseon:

• Vai ser absorvido não apenas como uma crença religiosa, mas como um patamar de contacto com o
mundo ocidental

• Seduzidos pela ética moral cristã que se adequa às suas expetativas – sentiam-se secundarizados (letrados
neo-confucionistas reformistas)

• A doutrina cristã pode ser um poderoso instrumento político de contestação

Entre o século XVII e o século XVIII, muitos dos letrados Shilhak vão despertar o cristianismo entre a população, de
modo a originar uma repulsa social contra o estado

• Acaba por ser absorvida por outros grupos sociais que também se sentem desiludidos pela frieza social
imposta pelo estado Joseon: Mercadores, artesãos, camponeses

• Cristianismo como religião endógena – associada às problemáticas vividas no interior da sociedade Joseon

• Dinâmica incendiária sobre alguns setores – ambiente contestatário fazia-se sentir

Choe Je-u (1824-1864) e a doutrina Tonghak

Vai-se observar uma reação extremamente violenta por parte do estado Joseon

• Proibições, condenações à morte por participantes de cristianismo


• Sob o argumento de que o cristianismo é um elemento estranho à identidade coreana, e que o seu
progresso levaria a uma revolução social que entregaria a Coreia a potências estrangeiras

• Traição coreana Século IXX:

- Rebeliões camponesas incentivadas por letrados de periferia

• Um dos instrumentos destes letrados do movimento Shilhak na administração local (que se sentem excluídos
e esquecidos) é o Cristianismo – vão exaltar os direitos civis; discurso ideológico ou doutrinal para exaltar a
dignidade de outros grupos sociais, especialmente camponeses

A corrente neo-confucionista reformista vai reformar-se:

• Vai ser pensada uma doutrina ético-social de valorização de todos os setores sociais coreanos

• Séc. IXX: Vai passar a designar-se de “movimento Tonghak” (antigo Shilhak)

– significa aprendizagem do Oriente – profundamente asiático

• Choe Jeu 1824 – 1864: figura intelectual que vai repensar todo este movimento contestatário, entegrando-o
numa alma asiática (de forma a não ser atacada pelos neo-confucionistas ortodoxos)

• Vai compor uma grande doutrina ético-social a partir de uma obra escrita por ele : “O Livro da Doutrina
Tonghak” – grande programa de ação deste movimento neo-confucionista

• Vai inspirar-se no Budismo, no Taoísmo, no Confucionismo, até no Xamanismo

– vai tentar tirar o melhor destas todas correntes asiáticas – de forma a afirmar a absoluta dignidade humana

• Mensagem incendiária : afirma que há uma profunda unidade entre uma potência divina criadora (Deus) e o
próprio ser humano – a criação humana e toda a criação é um espelho dessa potência divina (todo o ser humano
contém uma parte dessa potência divina)

• A melhor forma de venerar um mundo metafísico era o reconhecimento da dignidade de cada ser humano

• Pela sua forma muito percetível de como constata a dignidade e os direitos de cada um, vai ganhar um
grande apoio pelo mundo rural coreano, que se sente esmagado pelo próprio estado Joseon

• Este movimento vai reabilitar algumas cerimónias xamanistas

Este movimento vai ser perseguido:

• Por sublevar as populações

• Choe Jeu vai ser condenado à morte

• Justificações éticas já não são muito importantes: vão simplesmente perseguir

• No entanto, esta doutrina vai continuar a manter-se e a ser popular na Coreia até aos dias de hoje

Movimentos reformistas e a emergência de uma literatura de contestação (sécs. XV-XVIII)

A partir do período Joseon, as práticas culturais são influenciadas pelo confucionismo (quase exclusivamente práticas
literárias):
Cultura eminemente clássica tradicional chinesa

Compilação de poesias ao estilo chinês – tendência encontrada ao longo do estado Joseon, sobretudo ao início

Para os homens produtores de cultura (principalmente escrita) o conhecimento não é um mero depósito erudito,
mas fornecem instrumentos para observar a própria realidade – capacidade de análise crítica

Através de Kim, Si-seup (importante escritor) vai observar-se um sentimento de frustração também presente nas
obras – letrado abandonado pelo estado e frustrado, sendo que Kim Si-seup vai representar uma “literatura da
desilusão” relacionada com estes letrados- literatura com sentido crítico

A estética neo-confucionista no período Joseon

A pintura vai ser secundarizada – observada como uma arte manual e não intelectual; mais próxima a artesãos de
classe mais baixa do que letrados

As artes decorativas dão a consciência de uma Coreia neo-confucionista – arte decorativa interior que não deveria
contribuir para uma divergência de pensamento (desconcentração): cerâmica muito reveladora deste período de
arte (branca e muito

discreta; elementos decorativos minimalistas e não excessivamente decorativos; já presente no final do período
Goryeo) – revelam a mentalidade desta Coreia Joseon neo-confucionista

A literatura no início do séc. XIX: o conhecimento empírico como fundamento da ação política

Palpitar constante de uma literatura produzida por esta corrente neo-confucionista reformista – literatura
contestatária

Park Jiwon 1737-1805 : outra grande referência literária; não conhecido por uma obra em particular; vai escrever
diversos contos, com uma fortíssima dimensão crítica, mas numa dimensão satírica, como forma de atacar a
corrente neo-confucionista ortodoxa que se encontrava no governo em Seul – “Conto de um ancião” que procura
retratar a personalidade de um dos grandes letrados ortodoxos em Seul: tem como objetivo fazer com que a Coreia
consiga invadir a China (ideia de insanidade; desligado da realidade sem capacidade de governo)

Yu Chaegon - vai escrever uma obra de referência em 1862 “Observações a partir do campo” (inovadora e
perturbadora): apresentação de 300 biografias de coreanos que são segregados pelo próprio poder ortodoxo Joseon
(pequenos funcionários administrativos nas ultra periferias; artistas; artesãos; camponeses), sendo que vai afirmar
em que em todas estas figuras está presente o conceito de lealdade e bom comportamento, no entanto são
completamente desprezados pelo próprio Estado – acusação do próprio estado de tirania e de desprezo pelo
principal conceito do neo-confucionismo (lealdade)

Vão ser feitas diversas coletâneas de poesia onde se exalta o passado coreano (figuras heroicas do passado), de
forma a mostrar que no presente não existem figuras heroicas e de referencia para a história coreana: acesso ao
passado de forma a desvalorizar o estado do presente

• Poesia vernacular que referem histórias populares e tradicionais da própria coreia – homens em contacto
constante com a base da sociedade coreana; própria homenagem por estes homens à população coreana que é
altamente desprezada pelos ortodoxos no poder - Sijo
A conjuntura internacional asiática no final do séc. XIX/início do séc. XX: impacto na identidade coreana

Chegada de potências ocidentais à Coreia

• Década de 60/70: EUA quer que a Coreia aceite relações diplomáticas com o mesmo

• A Coreia vai adiar o problema de assinar relações diplomáticas com os EUA e com a França

• 1866- A Coreia Joseon vai condenar à morte alguns missionários franceses. Assim, a França irá bombardear
diversos pontos da costa coreana

• Embarcação norte americana consegue chegar até Pyongyang, e tem confrontos com autoridades coreanas.
Diversos americanos são mortos. Assim, os EUA vão bombardear a Coreia, morrendo muitos coreanos

Vai-se intensificar as diferenças entre as duas correntes neo-confucionistas – ultra radicalização dos conflitos entre
estas duas correntes.

A adaptação das correntes Yi Hwang e de Yi I à conjuntura externa

A corrente neo-confucionista ortodoxa irá adaptar o pensamento de Yi Hwang num contexto de doutrina de relações
externas:

• a Coreia representa os bons princípios e o mundo exterior representa a matéria, sendo que essa matéria tem
de ser controlada

• impedimento que a Coreia Joseon tenha uma capacidade de comportamento diplomáticos com as potências
ocidentais

- Corrente neo-confucionista reformista:

• Segundo Yi I, os princípios devem ter plasticidade e adaptar-se à matéria

• Os princípios, a Coreia, tinha de se adaptar à matéria, a realidade representada pelo mundo ocidental

• Esta corrente neo-confucionista via o mundo ocidental como uma fonte para o progresso de modernização
da Coreia – levando a uma reconversão do próprio sistema político

- A Coroa Joseon percebe que o sistema Joseon está à beira do colapso: e esse sistema político cai, é o fim da
própria dinastia

• Assim, em finais do século IXX, a Coroa irá tomar uma decisão arriscada: decidir pela primeira vez desde que
existe o Estado Joseon, incluir letrados da corrente reformista no exercício de poder – para tentar salvar o estado
Joseon

• Vai chamar todos aqueles que estavam próximos do movimento Tonghak : renovação através de matriz
asiática, e não através de uma relação direta com o mundo ocidental

O ‘Clube da Independência’ (1896) como base do nacionalismo coreano


- O Japão passa a ser a referência civilizacional para a Coreia, em vez da China. Isto porque o Japão passou por
uma grande modernização: Iluminismo coreano – através do Japão, tenta absorver-se a luz da modernização
ocidental (novo governo reformista coreano)

• envio de letrados “iluministas” (neo-confucionistas reformistas) ao Japão, que observam a forma de


modernização do Japão, transmitindo-o para o Estado Joseon

• criados 12 departamentos de governo que deveriam tratar diversos campos de governo – ensaio de
ministérios ocidentais

• diminuição do efetivo militar coreano (guarnições militares)

- Os neo-confucionista ortodoxos consideram que isto levará a uma perda de identidade coreano, que
consequentemente levará a uma perda da independência:

• 1882 – golpe de Estado pela corrente ortodoxa, com o apoio militar da China, pois este processo de
iluminismo coreano colocava a Coreia sob tutela estratégica do Japão

- Durante dois anos, os reformistas começam a pensar num golpe de Estado.

• 1884- a China diminui a sua presença militar na Coreia

• A retoma de poder por parte deste grupo é de grande violência

- Os reformistas tomam o poder, e tentam acelerar a tomada de medidas modernas:

• É feita uma declaração à população que o governo ira implementar medidas inovadoras: revisão da
propriedade da terra, de uma política fiscal

• Isto irá durar 3 dias

- Um contingente chinês entra na Coreia e anula este golpe de Estado

• Os ortodoxos voltam ao poder

- Neste contexto, irão ser redefinidos dois padrões por parte desta corrente neo-confucionista ortodoxa, que
levará a uma atitude bastante nacionalista por parte da mesma:

1- ação desta corrente vai desenrolar-se fora do sistema político: ideia de que o Estado Joseon não tem salvação
política e que deve ser aniquilado pelo bem da Coreia

2 - absoluto afastamento do Japão (devido à sua atitude agressiva e imperialista)

- Apresentação de programa de desenvolvimento à sociedade coreana por letrados reformistas: (forma de


despertar a consciência da população)

• Criação de uma imprensa crítica com capacidade analítica – jornais como grande palco de apresentação de
pensamento destes letrados com a população coreana

• Surgimento de um grande jornal; primeiro a ser publicado em hangul: “O Independente” – fazia parte de
uma grande associação cívica, denominada do “Clube de Independência” (1896)
Seo Jae-pil (1864-1951) e a configuração de uma nova tipologia de letrado

Seo Jae Pil como líder deste movimento: vai encarnar uma característica típica deste movimento reformista – pensar
a Coreia a partir do exterior (Diáspora de nacionalistas coreanos). Vai exilar-se nos EUA e regressa em finais do
século IXX, para fundar o clube da independência. Depois por causa dos japoneses, volta aos EUA. O único coreano
com dupla-nacionalidade

A emergência da imprensa escrita como fenómeno cultural do mundo urbano

Este movimento materializa-se em torno de Seo Jaepil – um dos fundadores do Clube de Independência (tinha
estado no governo de iluminismo coreano); vai ser jornalista no Jornal Independente:

• Tenta moldar a opinião pública através da prática jornalista

• Dimensão erudita mas muito prática (como jornalista)

• Vai ser um dos primeiros nacionalistas internacionais coreanos na diáspora – grupo de coreanos no exílio

• Vai exilar-se nos EUA e organizar um movimento patriótico contra o estado Joseon

• Tem conhecimento acerca da propaganda política americana – vai usar isto no contexto do jornal
independente

• Objetivo: sensibilizar, alertar, formar a população, para ter consciência dos seus direitos cívicos

O Movimento ‘Sinsoseol’ e a nova ficção coreana

Este movimento vai iniciar um novo tipo literário coreano: sinsosel (nova ficção)

Yi Injik- auge desta literatura social. A sua obra “Lágrimas de Sangue”

• Literatura de consciência social – através de obras literária pode-se despertar uma consciência crítica
por parte da sociedade coreana

• Vão afirmar que o objetivo desta literatura é despertar a virtude (modernização) ao invés do vício
(estado Joseon) – queria mostrar que o Estado Joseon estava a trair os princípios neo-confucionistas

• Yi In-jik : “Lágrimas de Sangue” (1906) – culminar deste movimento: retratava o tema do


equalitarismo de género, sendo que o escritor afirmava que se pretende uma modernização da sociedade coreana,
deve pensar-se numa igualdade de género (tratou um tema tabu, mesmo até para os reformistas).

O associativismo e a imprensa como campos de ação nacionalista

No início do século XX, o Clube da Independência não é só constituído por letrados: juntam-se estudantes,
trabalhadores, mulheres… - todos os que se querem emancipar e se sentem esquecidos pelo Estado Joseon
Portão da Independência- monumento feito por subscrição pública através de uma sensibilização por parte do Clube
da Independência

Movimento que se moderniza muito no modo como contacta com a população, sendo que a experiência se Seo
Jaepil nos EUA foi muito importante e influente.

• Linguagem política fortíssima que chama a atenção – independência da sociedade coreana em relação ao
estado Joseon: ideia de que a progressão e independência coreana só virá se o estado Joseon desaparecer

1898 – dois anos apenas após a sua fundação, a sua capacidade de integração é tão grande, que consegue organizar
uma manifestação massiva em Seul: “A Manifestação dos Dez Mil” – a sociedade coreana queria ter uma voz ativa

Exigências:

• Direito a liberdade individual

• Direito à propriedade

• Direto à liberdade de opinião

Apesar de ter surgido como um movimento intelectual, vai agregando diversos grupos da sociedade. Um movimento
erudito transfigura-se num imenso movimento social de afirmação de direitos civis

A expansão imperial japonesa e o Protetorado (1905) e anexação da Coreia (1910)

1894-1895 – início da expansão imperial japonesa

• Guerra sino-japonesa: ganha o Japão

• No acordo com a China, a China cede a esfera de influência da Coreia para o Japão

1904-1905 – guerra com a Rússia. Vitória do Japão

• Tratados de 1905: cooperação militar e diplomática do Japão e Coreia: o Japão começava a parasitar a Coreia

• O grau de autonomia e independência da Coreia diminuem ainda mais – a malha opressiva japonesa sob a
Coreia começa a aumentar

• É colocado um general japonês na Coreia

Isto vai condicionar o comportamento do movimento cultural e intelectual reformista. A partir de 1905, vai focar-se
sob esta malha de presença militar e política japonesa que a partir de 1905 começa a oprimir cada vez mais a Coreia.

• Movimentações no interior da sociedade coreana – resistência a essa presença japonesa

1- 1905-1910: vai organizar-se um Exército da Justiça de coreanos que vão ter uma atividade de guerrilha e
ataque violento sob essa presença japonesa. Milhares de coreanos vão perder a vida.

2- Movimento cultural intelectual nacionalista que decorre do Clube da Independência num sentido de
contestar a presença japonesa. Vai surgir uma literatura de resistência muito eficaz e poderosa
O cultivo da memória histórica e cultura: bases da persistência da identidade coreana; Choe Nam-seon (1890-1957),
símbolo da resistência cultural

Literatura nacionalista:

• Não exaltação do passado coreano nem estilo lamentoso ou fúnebre pela perda da independência que se
esta a afirmar

• Aparecimento de uma literatura exaltante – luminosa, positiva, irredutível na afirmação da identidade


coreana

• Vai para além de um contexto político

• Ideia da independência coreana matem se viva pela cultura e conhecimento - se a Coreia tivesse consciência
da sua identidade, esta nunca morreria.

• Principal símbolo desta literatura: Choi Nam-seon (1890-1957) – escreve um poema que será um
instrumento poderoso de afirmação de independência coreana aquando do tratado de anexação (1910);

• Extrema preocupação com a formação das gerações mais novas – devem manter a consciência e memória de
uma identidade coreana

• Choi Nam-seon vai desenvolver uma literatura infantil: “desde o mar, um conto para as crianças”

• Muitos destes homens vão ser docentes e infantis

O sistema educativo no contexto da presença japonesa

Como vai reagir o Japão?

• Percebe que o ataque não é militar, mas sim intelectual

• Vai ter uma programação cultural ou de ataque ao mundo cultural coreano

1- 1908- atacar a imprensa coreana, com uma Lei de Imprensa: procura anular a imprensa como meio de
contestação; todos os jornais e revistas coreanas são abolidos; os únicos permitidos são os jornais em língua
japonesa

2- Sistema Educativo- destruturação do sistema: apresenta um programa de que o sistema de ensino deve
possuir súbitos leais (pró-japoneses ou japoneses) – de forma a criar uma formatação pró-japonesa; desinvestimento
na formação coreana: diminuição de escolas, nomeadamente o ensino primário - coreanos sem capacidade de
aprendizagem que teria menos capacidade de ter um juízo crítico e analítico da ocupação japonesa; levar docentes
intelectuais contestatários num contexto de desemprego; o currículo de ensino é completamente desconvertido –
aprendizagem da língua e história japonesa; proibido o ensino da história coreana

O Japão, por outro, vai tentar captar a benevolência da sociedade coreana através de uma política de
desenvolvimento: industrialização da Coreia – construção e modernização de infraestruturas.
Os sectores culturais na mobilização nacionalista na marcha de Março de 1919

Década de 10, a ocupação japonesa vai sendo cada vez mais intelectual: Ambiente no interior da coreia para
demonstração de insatisfação sobre a ocupação japonesa. Bastam alguns elementos para levarem este mundo
intelectual a manifestar-se.

Contexto propício:

1918, fim da primeira guerra mundial, assinatura do tratado de Versalhes (fim dos impérios, afirmação dos estados)
afirmação de nações estado contra os impérios como um sinal para uma independência coreana)

Setor cultural coreano que está em Tóquio (estudantes e universitários):

• império japonês canaliza os estudantes coreanos para o japão (no entanto, esta medida tem o efeito oposto
do pretendido, pois na realidade, grande maioria permanece fiel à independência coreana, mantendo contacto e
relações de amizade com docentes e jornalistas que estavam na coreia.)

• São estes estudantes que têm acesso a informação vinda do exterior, nomeadamente sobre o tratado de
Versalhes, que irão passar esta informação para os seus colegas na coreia.

• Estes estudantes em Tóquio manifestam a sua intenção de independência da coreia escrevendo para a
coreia.

Pretexto: morte do rei Gojong, 1919 (Estava em exílio)

Vamos assistir às primeiras manifestações contra a ocupação japonesa neste contexto.

Culminam a 1 de março de 1919, data de referência para o sentimento revolucionário coreano.

Manifestações vêm do interior do setor do ensino. São maioritariamente mulheres e crianças que vão dinamizar as
maiores manifestações. Professoras levam os seus alunos à rua, para se manifestarem. Não é dado nenhum grito
contra o japão, mas sim à afirmação da independência, história, e cultura coreana. Manifestações pacíficas.

Japão observa que este grupo coreano tinha uma grande capacidade de mobilização da população.

1919 – Primeira grande manifestação à presença japonesa que decorre do ataque ao movimento nacionalista

Estratégia japonesa:

• Direcionada para o mundo cultural e intelectual.

• Mudança estratégica na governação japonesa. É preciso alterar a ocupação japonesa.

• tenta baixar a tensão deste movimento patriótico intelectual.

• plano estratégico com duas vertentes:

- área educativa;

- área cultural;
Política do Japão na área educativa:

• Benevolência

• Apresentado um plano para que se estabeleçam escolas primárias em todas as regiões coreanas. Reversão
da política anterior: passa a investir no ensino.

• Aumenta o número de escolas primárias.

• Aposta no ensino superior (no entanto vamos continuar a assistir à presença de estudantes japoneses na
coreia. Tinha existido um desinvestimento tão grande na

altura, que agora os candidatos japoneses estavam mais preparados para entrar na universidade coreana do que os
candidatos coreanos.)

O ‘Movimento Nova Vida’ e o mundo cultural

Manifestações de Março de 1919:

• Noção de que a visibilidade da contestação tinha sido inconsequente, porque não tinha trazido
consequências na atuação política. O governo colonial japonês conseguiu reprimir essa manifestação

1- Uma manifestação pública não seria a melhor forma de trazer a independência à Coreia

2- Alimentado por setores intelectuais, relacionados ao ensino; apesar da sua divergência tinham algo em
comum – identidade coreana

Decidiram baixar a intensidade da reação pública, mas fortalecer esta consciência nacional de identidade coreana no
interior da Coreia

Vão organizar-se numa grande associação – O Movimento da Nova Vida- movimento pacifista e de afirmação
cultural, numa atitude pedagógica formativa sob a sociedade; valorização do ser coreano

• Movimento muito bem organizado e dinâmico

• Forte capacidade mobilizadora

• Reeditar antigas histórias da Coreia

• Choi Nam-seon vai ser libertado pelo governo japonês e vai ser o grande doutrinador do Movimento Nova
Vida – vai publicar diversas obras associadas à memória histórica coreana

A política cultural do governo colonial japonês na década de 20: a Lei Cultural (1919) e a Lei de Imprensa (1920)

Plano estratégico de uma nova política cultural do poder japonês na Coreia vai ter duas vertentes (lógica acabar com
as tensões com o mundo cultural coreano; captar uma benevolência com este mundo cultural coreano):

1. Na área educativa

• Apresentado um plano para que num período de 4 anos fossem estabelecidas escolas primárias em
todas as sociedades coreanas (captar a benevolência do setor patriótico de ensino)
• 1935 – cerca de 1300 escolas primárias

• Investimento no ensino superior – no entanto continua a observar-se uma excessiva presença de


alunos japoneses neste sistema de ensino superior

2. Na área cultural e de liberdade de ação intelectual

• Lei Cultural: vai permitir a capacidade de ação e de movimentação do Movimento Nova Vida; maior
abertura; alguma liberdade de expressão dentro dos seus limites

• Lei de Imprensa – permitia uma maior liberdade de expressão; vai possibilitar a retoma de publicação de
jornais coreanos em hangul – isto levará a um ultra dinamismo da imprensa coreana, muito próximo deste
Movimento Nova Vida – Jornal Donga Ilbo, como grande referência (que ainda hoje existe)

Reativação numa política de investimento económico – nova vaga de investimento económico na Coreia por parte
do Japão: agora numa área mais industrial

• Investimento na industrialização da Coreia

• Levará a um aumento das migrações rurais para Seul

A emergência de correntes literárias de matriz ocidental

Aparecimento de diversas correntes culturais no interior deste mundo cultural coreano

• novas formas literárias

• criação de uma ficção em prosa por influência de uma corrente romântica e naturalista (narrativas
ficcionais analíticas da sociedade)

• surgimento de uma cultura e literatura de matriz marxista socialista: “A Tocha”, que se opunha à
corrente literária romancista-naturalista

Esta era a estratégia japonesa: expor as divisões do movimento cultural nacionalista – este objetivo estava a ser
alcançado em meados da década de 20

O impacto da ideologia marxista no nacionalismo coreano

1928: Reunião comunista internacional - o movimento comunista em qualquer sociedade deveria liderar a
contestação social – seguida pelo setor cultural marxista coreano

• Começam a aderir a estas sociedades, tentando torna-las em associações de cariz marxista-


comunista

• Diversos indivíduos mais moderados vão começar a abandonar ou a ser expulsos destas associações

• Muitos dos membros originais desta sociedade vão começar a dissolver essas mesmas sociedades
O movimento estudantil coreano: contestação e radicalização: os levantamentos de 1926-1929

Assim, este movimento vai tentar reorganizar-se de forma a voltar a unir-se, encontrando aquilo que dá uma
unidade, e não tanto aquilo que divide: criação de uma grande Frente Unida que se vai dominar a partir de 1927
como Sociedade para o Objetivo Nacional

• Vai seguir a mesma estratégia do Movimento Nova Vida quando este se fundou

• É criada também uma sociedade cultural feminina (tal como no movimento nova vida): sociedade
dos amigos da rosa de Sharon – ações de formação sobre um setor proletário feminino numa consciência identitária
coreana

Nova movimentação do Movimento intelectual cultural – movimentação no setor estudantil: dinamizar de novas
manifestações de repulsa pela presença japonesa (segunda metade da década de 20)

• O mundo estudantil coreano tinha-se sempre sentido lesado pela presença japonesa

• Movimento Ilchinoe (Progresso para uma Sociedade Unida) – movimento por coreanos pró-
japoneses: vão ser os docentes do mundo estudantil coreano, apesar do investimento no ensino publico pelo Japão

• Este movimento estudantil começa a ser acelerado na sua radicalização pois também começa a ser
infiltrado por elementos marxistas – levando assim a uma possibilidade de contestação pública (repetição cíclica da
própria história; 1919)

• 1926 – pretexto do falecimento do último rei da dinastia Joseon, serão assim organizadas cerimónias
fúnebres no dia 10 de junho de 1926 – manifestações por parte deste movimento estudantil coreano, que estava à
espera de um contexto para ter uma grande visibilidade publica; manifestações claramente nacionalistas muito mais
fortes do que em 1919

• Nova matriz: mais radical, mais visível, mais pública e liderada pelo setor estudantil

• Estas manifestações não foram interpretadas como acidental (leitura feita em 1919), pois este
movimento estava mais organizado, mais militante (por estar a ser organizado por setores comunistas) – sentido
como um ponto de partida para uma manifestação cada vez mais radicalizada e organizada

• Isto levará a organização de outras ações mais radicais por parte deste setor estudantil – exigências
do ensino da história coreana através de greves de estudantes

• Isto levará a diversos incidentes: Incidente Guangzhu (1929) – confronto violento entre estudantes
coreanos e estudantes japoneses

• A repressão das autoridades japonesas é extremamente violenta – cerca de 1600 estudantes


coreanos são presos, e 600 são definidamente expulsos dos sistemas de ensino, e cerca de 2300 colocados sob
suspensão

Mundo cultural coreano e movimentos nacionalistas entre 1930 e 1945

Muitos deles vão converter-se em professores, aparentemente sem ambições políticas- vão entrar no sistema de
ensino coreano, mas vão procurar postos de docência discreta (em pequenas cidades, em pequenas vilas)

Os japoneses apercebem-se deste fluxo migratória – sendo que estes indivíduos justificam a sua deslocação sob o
objetivo de alfabetizar a população
No início da década de 30, assistimos a centenas de estudantes que se vão tornar professores sob este pretexto de
alfabetização

Alfabetização e nacionalismo na década de 30

Realmente vão contribuir para uma alfabetização na coreia, sendo que lhes dão a designação de “Iluminação e
Antileteracia da população”

Entre 1929 e 1934, calcula-se que cerca de 6000 estudantes vão ser responsáveis pela alfabetização de 83000
coreanos

Em 1934 este movimento é extinto e proibido por parte do governo colonial japonês

A partir da década de 30, vai observar-se uma mudança da atitude do governo colonial japonês. Isto deve-se ao
contexto imperial japonês:

• 1931 – invasão da Manchúria

• 1937 – segunda guerra com a China

• A Coreia vai passar a ser vista como uma base militar pelo Japão

• Deixa de haver uma estratégia racional para a Coreia

• Desenvolvimento de uma indústria mais pesada, relacionada ao armamento

• Clara tentativa de anular a identidade coreana

• Proibição de falar coreano nas escolas

• Encerramento dos jornais coreanos

• Obrigação de adoção de um nome japonês por parte de todos os coreanos

• Trabalho forçado para o esforço de guerra japonês quer na Manchúria, quer no Japão

• Utilização de mulheres de conforto

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