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DISCIPLINA DE FILOSOFIA

Professor Edimarcio Testa

2° Técnico em Química, Tarde

Memórias de Aula

Maria Eduarda Ribas dos Santos


Kerolim Paim de Azevedo

Caxias do Sul
2023/3°
Memórias de Aula

➔ Filosofia Cristã Medieval

Na Filosofia Cristã Medieval, o Teocentrismo, centrado em Deus,


fundamentava toda a visão de mundo, sendo a teologia a principal expressão
filosófica da época, incumbida de justificar a fé.

➔ Escola Patrística e Escolástica

Dentro desse contexto, duas correntes filosóficas distintas emergiram como


pilares intelectuais: a Patrística e a Escolástica. A Patrística, marcado por uma
abordagem mais mística e contemplativa, buscava aprofundar a compreensão
espiritual por meio da contemplação divina. Já a Escolástica, de natureza mais
sistemática, buscava harmonizar a fé com o raciocínio lógico, empregando métodos
filosóficos para elucidar e organizar os princípios da teologia cristã.
Ambas as correntes, no entanto, compartilhavam uma característica
fundamental: sua forte ligação com o pensamento dos padres da igreja. Estes não
eram apenas guardiões da tradição, mas também filósofos que moldaram
ativamente o curso do pensamento medieval, oferecendo fundamentos e estruturas
conceituais que permearam as escolas filosóficas da época.
Assim, a Filosofia Cristã Medieval não se limitava a uma mera justificação da
fé; era um intricado diálogo entre a razão e a espiritualidade, onde correntes
filosóficas, moldadas pelos ensinamentos dos padres, buscavam compreender e
articular a relação entre o divino e o humano.

➔ Santo Agostinho

Santo Agostinho, figura central dessa época, sintetizou a filosofia grega,


especialmente o platonismo, com o cristianismo. Em suas confissões refletiu sobre a
natureza do mal concluindo que este é uma privação do bem, não uma substância
real. A questão do livre arbítrio também foi discutida, defendendo que a liberdade
humana é essencial para a responsabilidade moral.
Antigos e Medievais

➔ Religião

A religião emerge como um ponto de partida intrigante ao compararmos com


eras antigas e medievais. Assim como a língua, ela representa um elemento cultural
crucial para destacar as diferenças entre essas duas formas de pensamento. No
mundo helênico, os deuses povoavam a existência, coexistindo com os mortais,
ambos pertencentes ao mesmo domínio. Os deuses, por sua vez, eram intrínsecos
à física, uma força autogeradora que podemos interpretar, de maneira simplificada,
como a natureza. O estoicismo, uma filosofia proeminente da antiguidade, infundiu a
vida em toda a natureza, adotando uma forma de "panpsiquismo sem psique". Os
deuses não apenas residiam no terreno plano, mas também estavam sujeitos a
fragilidades que afligiam os mortais.
O mundo grego se caracterizou por duas raças sob o mesmo teto: os deuses,
que forneciam um modelo de perfeição, muitas vezes orientando-se por preceitos
estéticos mais do que morais; e os mortais, que puderam se espelhar nos deuses,
mas foram alertados sobre a falta de confiabilidade divina. Embora pudessem
realizar trocas com os deuses por meio de sacrifícios, não deveriam considerar os
amigos confiáveis ​ou buscar favores impossíveis, como a imortalidade.
A transição para a era medieval modificou o cristianismo, acompanhada pelo
Velho Testamento. Apesar de as doutrinas de Jesus refutarem algumas ideias do
Velho Testamento, o cristianismo foi ensinado como um complemento ao texto
bíblico judaico. A concepção de um Deus único ganhou uma influência
avassaladora, e, se fosse necessário povoar os templos pagãos.
O sincretismo entre a religião judaico-cristã e o paganismo progrediu, criando
um cenário em que historiadores teólogos não puderam ter certeza diante de
diversas práticas sobre o que herdou a uma ou outra tradição. No entanto, havia
diferenças fundamentais. A religião judaica estabelece uma separação entre o
divino e o mortal, não como duas raças sob o mesmo teto, mas como um Deus
celestial e espiritual que guiava firmemente "seu povo" para realizar sua vontade na
Terra. Com Jesus, esse Deus único celestial deixou de ser apenas o comandante de
um povo terreno, transformando-se no pai celestial ansioso por mostrar ao mundo
que seu filho era tão humano quanto qualquer outro. Essa mensagem redefiniu a
compreensão da humanidade, declarando que todos são filhos de Deus, todos são
irmãos e todos são, essencialmente, humanos.
A importância da física detalhada, pois, sendo relacionada ao mundo mortal,
não deveria atrair tanto a atenção dos homens quanto à manifestação de Deus.
Essa manifestação não foi feita nos feitos da física, mas sim na criação notável do
homem, que superava a importância do mundo.
Após Jesus, o método de comunicação com Deus trouxe inovações,
impactando tanto o mundo romano quanto a cultura hebraica. A interação com Deus
agora ocorre por meio de orações formuladas de maneira totalmente diferente do
Velho Testamento e das práticas da cultura helênica em relação aos deuses.
Enquanto os gregos observavam sinais da natureza para interagir com os
deuses, depois de Jesus, a comunicação tornou-se mais íntima e individual,
semelhante à relação entre um filho e seu pai, buscando atenção e cuidados.
Essa cultura de intimidade, na relação entre Deus e cada indivíduo, é uma
dinâmica mental diferente, afastando-se do cultivo de uma religião objetiva para
abraçar a vivência de uma religião mais subjetiva. Os medievais, assim como os
modernos, passaram a criar um mundo baseado em várias expressões de cultivo da
intimidade.
Enquanto os gregos praticavam uma religião sem igrejas, dogmas ou textos,
os medievais adotavam uma religião canonizada em textos sagrados, guiada por
igrejas e ordens eclesiásticas. A vida dos gregos era a vida do cidadão livre,
enquanto a dos medievais muitas vezes carecia de cidadania e, por vezes, estava
limitada.
Os indivíduos não escravizados nas cidades antigas, como Atenas, Roma,
Alexandria ou Bizâncio, experimentavam liberdade política ao exercerem seus
direitos na política. No entanto, em termos da relação entre as vontades individuais
e as físicas, habitavam um mundo onde tudo parecia predestinado. Os gregos, ao
abordar a questão da liberdade da vontade e da responsabilidade individual,
enfrentaram desafios mentais significativos. Epicuro e os estóicos, em particular,
tiveram que lidar com a concepção de um universo denominado cosmos, que,
devido às suas características, sugeria uma força determinística em tudo que era
belo, mas de forma estática ou sonora, dentro de um dinamismo predeterminado.
Os medievais, por outro lado, não estavam mais vinculados às cidades, mas
sim à autoridade da Igreja. A concepção de liberdade dos medievais, de certa
forma, antecipou uma ideia moderna, pois estava centrada na vontade como
elemento subjetivo. Diferentemente dos antigos, onde seguir as virtudes eram
fundamentais para manter a cidadania, os medievais adotavam regras morais
cristãs que não coincidiam necessariamente com as virtudes éticas antigas. Nesse
contexto, era crucial realizar uma avaliação constante, por meio de questionamentos
direcionados a cada indivíduo, para compreender a natureza da vontade livre.
Enquanto os antigos se empenharam em discernir questões de intenção e
vontade, os medievais e, posteriormente, os modernos, tornaram essa psicologia
algo mais oculto, a ser investigado por meio de métodos detetivescos.

➔ Ética e Moral

Nas eras antigas, os homens eram motivados pela busca de honra e glória,
guiados por quatro virtudes fundamentais: coragem, justiça, temperança e
sabedoria, que eram requisitos públicos para os cidadãos livres, delineados de
forma objetiva. Aristóteles e outros filósofos analisaram minuciosamente,
destacando seus aspectos intelectuais, afetivos e disposicionais. Estas virtudes
eram visíveis, cultivadas pela educação, e serviam como marcadores distintos entre
os cidadãos.
A convicção desempenhou um papel central, especialmente nas sociedades
guerreiras, onde uma defesa preventiva era crucial para evitar a escravidão das
cidades. A sabedoria, por sua vez, não se limitava à inteligência.
No contexto antigo, uma transgressão ética representava uma violação direta
do ethos, denotando um comportamento desalinhado com os costumes coletivos e
uma expressão individual desvinculada da responsabilidade cidadã.
Na era medieval, especialmente durante os períodos de Agostinho e Boécio,
a discussão ética tornou-se mais desafiadora, dando lugar à ênfase na moral. A
moral, derivada do latim para costumes, passou a descrever a dimensão interna do
ethos.
Na sociedade medieval, uma transgressão moral era percebida como uma
violação dos costumes, enquanto uma falta ética podia ser interpretada de maneira
ambígua, dependendo do contexto. O cuidado com o ethos tornou-se peculiar em
um cenário onde as relações eram marcadas pela irmandade universal, tanto por
cruzamentos étnicos quanto pela ideia de todos serem filhos do mesmo pai celestial.
Nesse período, as faltas morais predominaram sobre as éticas, sendo
avaliadas através da introspecção e da consulta à consciência para determinar a
presença de pecados. Embora Santo Agostinho mencionasse a "cidade espiritual",
destacando a possibilidade de transferir o patriotismo para o reino de Deus, a
realidade era que o patriotismo promovia orgulho e distinção, algo desafiador para a
cidade espiritual onde todos eram considerados cidadãos.
A hierarquização da Igreja refletiu essa dinâmica, facilitando a compreensão
pela mentalidade aristocrática, enquanto a conversão ao cristianismo variou entre as
classes sociais. Essa transformação culminou na revolução cristã.
Os medievais, ao adotarem as virtudes percebidas pelos gregos e romanos,
as incorporaram com os mesmos termos, mas com uma abordagem mais centrada
na psicologia. A concepção de "amor a Deus" se traduzia no amor ao próximo,
associado à ideia de perdão e à disposição de oferecer a outra face.
Na doutrina cristã, todas as ações na Terra visavam merecer o perdão e o
amor do pai celestial, permitindo uma vida após a morte ao lado desse pai. Essa
doutrina causou uma transformação semântica profunda, não apenas ligada à
mudança de línguas, mas também alinhada a transformações comportamentais
mais amplas.
Enquanto os antigos eram cidadãos de cidades solitárias ou imperiais, os
medievais perderam essa referência urbana. O cristianismo cosmopolita deslocou a
cidadania para um novo foco: todos na Terra deveriam se preocupar com a cidade
celestial. Nessa cidade, as regras sociais tradicionais não importavam; estar bem
nela dependia da correta conduta da alma.
A simplicidade foi adotada como princípio: "O amor é a única lei" tornou-se
predominante, simplificando a orientação moral em comparação com a legislação
social complexa dos governos gregos e romanos. Isso resultou em uma negação
efetiva da cidade terrena pelos medievais, que, ao contrário dos antigos,
renunciaram ao mundo e, por vezes, à própria vida após converterem-se ao
cristianismo.

➔ Diferenças

Diante das marcantes diferenças entre os antigos e os medievais, notamos a


curiosidade de como os medievais, particularmente os cristãos, conseguiram
assimilar os ensinamentos dos filósofos gregos, apesar das disparidades em suas
posturas e visões de mundo. Três elementos surgem como relevantes nesse
contexto: 1) cosmopolitismo, 2) filosofia de vida e 3) crítica social comportamental.
Assim como o estoicismo, o epicurismo e outras correntes do período
helenista, o cristianismo também buscava ser uma filosofia desvinculada das
obrigações individuais para com governos e cidadanias. Apesar de alguns padres
da Igreja, especialmente os primeiros de origem grega, desejarem a visibilidade dos
cristãos no Império Romano, destacando a apologia do cristianismo, essa tentativa
de legitimidade cívica não recebeu grande atenção de imperadores como Marco
Aurélio.
Étienne Gilson, renomado historiador francês da filosofia medieval, destaca o
papel dos "padres gregos" na defesa do cristianismo, mencionando Melito, bispo de
Sardes, que abordou o imperador Marco Aurélio sobre a injustiça da perseguição
aos cristãos. Apesar de uma breve busca por legitimidade cívica, os cristãos, por
muito tempo, mantiveram sua doutrina como clandestina, sendo considerados sem
pátria terrena.
Mesmo quando o cristianismo se tornou a doutrina oficial do Estado no Santo
Império Romano, seu caráter supranacional persistiu. Expressões como "Dai a
César o que é de César" e "o meu reino não é desse mundo" refletiram a natureza
espiritual do cosmopolitismo cristão, diferindo do materialismo do helenismo tardio.
Apesar das divergências, elementos fundamentais nas mentalidades da antiguidade
tardia e da Idade Média inicial encontraram pontos de convergência.
Filosoficamente, o ressurgimento do platonismo na antiguidade tardia
proporcionou uma base menos materialista, utilizada posteriormente por filósofos
como Santo Agostinho. Outro ponto comum entre as filosofias do período helenista
e o cristianismo foi a ênfase na doutrina para a conduta pessoal.
Em última instância, o cristianismo oferecia a promessa de felicidade e
bem-estar, mesmo que isso fosse destinado a ocorrer em outra vida. Similar às
filosofias helenistas que buscavam a eudaimonia, a completude da vida como seu
objetivo próspero, os cristãos compartilhavam a visão de que essa plenitude só
seria alcançada ao vencer a morte, como exemplificado por Jesus, que não
ascendeu aos céus apenas com sua alma, mas também com seu corpo.
Harmonizar essas doutrinas não era uma tarefa trivial para o senso comum.
Ao unir, em vez de apenas distinguir, filósofos facilitaram o surgimento de uma
pedagogia capaz de formar o homem medieval culto, integrando a postura religiosa
cristã com a filosofia antiga. Outro ponto em comum, apesar de parecer estranho,
era que algumas doutrinas, como a dos cínicos, envolviam a pregação pública,
semelhante ao que São Paulo fez entre os gregos e outros súditos do Império, além
do desapego material compartilhado pelos cínicos e pelos cristãos.
Em geral, exceto pelos cirenaicos, que adotaram um hedonismo radical,
todas as doutrinas do período helenista enfatizavam que uma vida educada voltada
para a eudaimonia era uma vida simples. O sábio era aquele capaz de reconhecer
que o controle sobre as pequenas coisas proporcionava felicidade, evitando
frustrações, uma ênfase também presente no estoicismo, cujo principal propagador,
São Paulo, originava-se da região dos filósofos estóicos, com sua capacidade de
integrar sua formação grega com sua missão cristã.
São Paulo, dotado de notável força de vontade, desempenhou um papel
significativo na construção da Igreja Católica, difundindo a doutrina cristã. Até hoje,
a dúvida persiste se devemos retratá-lo como um guerreiro estóico ou como um
mártir cristão, ambos compartilhando a perseverança de propósitos e a habilidade
de viver de maneira simples.

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