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540 RELIGIÃO
tre e não um profeta à maneira dos chefes religiosos inteiramente a sua própria história, tendem a atribuir
do M é d i o Oriente. Confúcio não é vislo pelos seus valores e normas criadas socialmente à acção dos
seguidores como um deus, mas como o 'mais sábio deuses. Deste modo, a história dos dez mandamentos
dos homens sábios*. O Confucionismo pretende ajus- dados a Moisés por Deus é uma versão mítica das ori-
tar a vida humana à harmonia interior da natureza, gens dos preceitos morais que norteiam a vida dos
realçando a veneração dos antepassados. O Taoísmo crentes judeus e cristãos.
partilha princípios semelhantes, insistindo na medita- Feuerbach defende que, enquanto não entender-
ção e na não violência como meios para atingir uma mos a natureza dos símbolos religiosos que criámos,
vida superior. O Confucionismo e o Taoísmo perde- estamos condenados a ser prisioneiros das forças da
ram muita da sua influência na China devido à oposi- história que não podemos controlar. Feuerbach usa o
ção determinada do Governo. termo alienação para se referir à criação de deuses ou
forças divinas distintas dos seres humanos. Os valo-
res e ideias criados pelos seres humanos acabaram
Teorias da Religião por ser vistos como o produto de seres alheios ou dis-
tintos - forças religiosas e deuses. Enquanto no pas-
sado os efeitos da alienação foram negativos, o reco-
As abordagens sociológicas da religião ainda são for-
nhecimento da religião como alienação, de acordo
temente influenciadas pelas ideias dos três teóricos
com Feuerbah, promete grandes esperanças para o
'clássicos* da Sociologia: M a r x , Durkheim e Weber.
futuro. A partir do momento em que os seres huma-
Nenhum era crente e todos achavam que a importân-
nos entendam que os valores projectados na religião
cia da religião iria diminuir nos tempos modernos.
são, de facto, os seus, será possível concretizar esses
Todos acreditavam que a religião era, num sentido
valores na terra, em vez de os diferir para a outra
fundamental, uma ilusão. Os defensores das diferen-
vida. Os poderes que se acreditava'pertencerem a
tes doutrinas podem estar inteiramente convencidos
Deus, no Cristianismo, podem ser apropriados pelos
da validade das crenças que defendem e dos rituais em
próprios seres humanos. Os cristãos acreditam que,
que participam, contudo, estes três pensadores susten-
enquanto Deus é todo-poderoso e todo-misericordio-
taram que a grande diversidade de religiões e as suas
so, os seres humanos são imperfeitos e defeituosos.
ligações óbvias a diferentes tipos de sociedade fazem
Contudo, Feuerbach acreditava que o potencial para
com que essas convicções não sejam plausíveis. U m
o amor e para a bondade, e o poder de controlo sobre
indivíduo nascido numa sociedade australiana de
as nossas próprias vidas, estão presentes nas institui-
caçadores e recolectores tem forçosamente que ter
ções sociais humanas e podem materializar-se se
crenças religiosas completamente diferentes das de
entendermos a sua verdadeira natureza.
alguém nascido num sistema de castas na índia ou na
Europa medieval dominada pela Igreja Católica.
M a r x aceitou o ponto de vista de que a religião
representa a alienação humana. Julga-se frequente-
mente que Marx desprezava a religião, mas tal está
Marx e a religião
longe de ser verdade. Marx afirmou que a religião 'é
Apesar da sua influência nesta matéria, Kart Marx o coração de um mundo sem coração* - o.refúgio da
nunca estudou a religião em pormenor. A maior parte crueldade da realidade diária. N a opinião de M a r x , a
das suas ideias derivaram dos escritos de vários auto- religião na sua forma tradicional tende a desaparecer
res, teólogos e filósofos, do começo do século X I X . e tal deverá suceder. N o entanto, tal acontecerá por-
U m deles foi Ludwig Feuerbach, que escreveu um que os valores positivos incorporados na religião
U podem tomar-se ideais a seguir para melhorar a
trabalho famoso chamado A Essência do Cristianis-
mo" (Feuerbach, 1957; publicado pela primeira vez humanidade, e não porque os ideais e os valores em
em 1841). De acordo com Feuerbach, a religião con- si mesmos estejam errados. Não deveríamos temer os
siste em ideias e valores produzidos pelos seres deuses que nós próprios criámos e deveríamos deixar
humanos no decurso do seu desenvolvimento cultu- de lhes atribuir valores que podemos concretizar.
ral, mas projectados erroneamente em forças divinas Marx declarou, numa frase famosa, que a religião
ou deuses. Como os seres humanos não percebem tem sido o 'ópio do povo' . A religião adia a felicida-
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diminui. O pensamento científico substitui, cada vez moderno. Os primeiros empresários seriam, na sua
mais, as explicações religiosas e as actividades ceri- maioria. Calvinistas. O seu desejo de sucesso, que
moniais e rituais passam a ocupar só uma pequena ajudou a iniciar o desenvolvimento económico do
parte das vidas dos indivíduos. Durkheim pensa Ocidente, foi inicialmente inspirado pelo desejo de
como M a r x que a religião tradicional - isto é, a reli- servir a Deus. O sucesso material era, para eles, um
gião que envolve forças divinas ou deuses - está sinal de favor divino.
prestes a desaparecer. 'Os antigos deuses estão mor- Weber viu a sua pesquisa sobre as religiões mun-
tos', escreve Durkheim. N o entanto, afirma que, num diais como um só projecto. O seu debate sobre o
certo sentido, a religião, sob uma forma alterada, irá impacto do Protestantismo no desenvolvimento do
provavelmente continuar. M e s m o as sociedades Ocidente faz parte de uma tentativa global de enten-
modernas dependem para a sua coesão de rituais que der a influência da religião na vida social e económi-
reafirmem os seus valores. Assim, pode esperar-se ca em várias culturas. A o analisar as religiões orien-
que surjam novas actividades cerimoniais que substi- tais, Weber conclui que elas forneceram baneiras
tuam as antigas. Durkheim é vago acerca do carácter insuperáveis ao desenvolvimento do capitalismo
das mesmas, mas parece que tinha e m mente a cele- industrial, tal como este aconteceu no Ocidente. Isto
bração de valores humanos e políticos como a liber- não se deve ao facto das civilizações não ocidentais
dade, a igualdade e a cooperação social. serem atrasadas. Elas aceitaram simplesmente valores
diferentes dos que vieram a predominar na Europa.
giosa e seguirem os seus princípios morais. As vezes derramamentos de sangue - através de con-
noções de pecado e de perdão pela graça de Deus são frontos armados e guerras travadas por motivos reli-
aqui importantes. Geram uma tensão e uma dinâmica giosos.
emocional ausentes no essencial das religiões do Estas influências da religião que implicam divi-
Oriente. As religiões de salvação têm uma faceta sões, tão proeminentes na história, foram pouco men-
'revolucionária'. Enquanto as religiões do Oriente cionadas no trabalho de Durkheim. Este acentua,
cultivam uma atitude de passividade face à ordem acima de tudo, o papel da religião na promoção da
existente por parte do crente, o Cristianismo implica coesão social. Nâo obstante, não é difícil utilizar as
uma luta constante contra o pecado e, por isso, pode suas ideias para explicar as divisões religiosas, o con-
estimular a revolta contra a ordem existente. Apare- flito e as mudanças, bem como a solidariedade. N o
ceram chefes religiosos - como Jesus - que reinter- fim de contas, muita da força dos sentimentos que
pretaram as doutrinas existentes de forma a pôr em podem ser gerados contra outros grupos religiosos
causa a estrutura de poder vigente. provém do compromisso com valores religiosos
gerados dentro de cada comunidade de crentes.