Você está na página 1de 15

1ª SÉRIE

FILOSOFIA

LUCAS GONÇALVES

003
A formação da filosofia medieval (p. 107)
• As concepções filosóficas elaboradas pelos gregos continuariam a repercutir no
período de dominação romana no mundo antigo.
• Se por um lado, no auge do poder imperial romano, não se nota uma
elaboração filosófica realmente original, por outro surge um fator cultural que
seria determinante nos rumos da filosofia: o cristianismo.
• A ascendência cultural do cristianismo interfere decisivamente na formação da
filosofia medieval.
• A partir do século II a.C., Roma torna-se o centro de um império que recobre
parte expressiva dos territórios e povos então conhecidos. As civilizações
orientais, as cidades gregas e a península Ibérica, por exemplo, foram
incorporadas ao poder imperial romano.
• A passagem do mundo antigo para o medieval, por seu turno, transcorre com a
crise social, econômica, cultural e política do Império Romano do Ocidente,
dificuldades que se manifestam a partir do século III da nossa era, mas que
adquirem expressões agudas no século V, culminando com a deposição do
último imperador romano, Rômulo Augusto, pelos bárbaros no ano de 476 –
data que, na periodização histórica tradicional, encerra a Antiguidade e
inaugura a Idade Média.
As transformações culturais que caracterizariam as sociedades medievais
europeias iniciaram-se no interior do Império Romano, sobretudo com a incessante
difusão do cristianismo. Em seus primórdios, o cristianismo era severamente
reprimido pelos imperadores romanos. A perseguição aos cristãos fundava-se no
conflito entre os valores preconizados por essa doutrina e os princípios
institucionais romanos.

Henryk Siemiradzki, As tochas de Nero, 1877


A formação da filosofia medieval (p. 107)
• A crença em um único Deus, a máxima do amor ao próximo na medida do amor a
si mesmo e a irmandade irrestrita entre os homens eram alguns dos preceitos
cristãos que, direta ou indiretamente, opunham-se aos postulados imperiais
romanos, como o politeísmo, a divindade dos imperadores e até mesmo o domínio
dos romanos sobre outros povos.
• A expansão do cristianismo, contudo, não foi interrompida pela repressão romana,
e um número cada vez maior de pessoas passava a conduzir suas vidas pelos
códigos morais dessa religião, que propunha a reconciliação da humanidade com o
Deus criador de todas as coisas.
• A moralidade cristã definia o justo e o injusto, o certo e o errado, o bem e o mal, e
diante desses princípios posicionavam-se os seres humanos preocupados com a
salvação de suas almas. Todos os domínios da existência, das relações interpessoais
cotidianas ao modo de se viver a sexualidade, crescentemente estariam sob a
esfera de influência do cristianismo.
• O cristianismo não apenas resistiu às investidas do poder romano como também
sobreviveu ao seu término. Sendo clara a inoperância das medidas proibitivas, o
imperador Constantino, no ano de 313, concedeu liberdade de culto aos cristãos.
Outro imperador, Teodósio, no ano de 380, estabeleceu o que séculos antes não
seria pensável: tornou o cristianismo a religião oficial dos romanos.
No ano de 476, o
Império Romano do
Ocidente encerrava
sua história e o
cristianismo,
institucionalmente
fortalecido na Igreja
católica,
permaneceria no
centro da cultura
europeia e, em
perspectiva mais
abrangente, da
civilização ocidental.
A consolidação do catolicismo (p. 107-108)
• Concomitante ao domínio cultural do cristianismo, verifica-se a consolidação do
clero católico como corpo social integralmente dedicado à religião, o que lhe
conferia grande poder de intermediação nas relações dos seres humanos com
Deus.
• De certo ponto de vista, as atribuições do clero eram vistas como sobre-humanas,
pois havia o entendimento de que sua elevada posição hierárquica na sociedade
procedia das responsabilidades divinas conferidas por Cristo aos apóstolos, e
destes transferidas aos bispos. Legitimava-se, assim, a autoridade clerical diante
dos fiéis.
• O poder do clero, ou seja, da própria Igreja católica na Idade Média pode ser visto
de vários ângulos. No âmbito econômico, ele é bastante considerável. Numa
sociedade em que a terra tornara-se a principal riqueza, calcula-se que cerca de
um terço das terras cultiváveis pertencia à Igreja.
• Esse poder também é nítido no monopólio do saber formal. A educação medieval,
tanto a inicialmente praticada nos monastérios como o ensino ministrado nas
universidades surgidas na Baixa Idade Média, era minuciosamente regulamentada
pelo catolicismo. Há ainda o controle sobre a produção e a circulação de livros, que
eram manuscritos pelos copistas medievais, e sobre a autorização para a confecção
e distribuição de cópias.
Entretanto, é sobretudo na
mentalidade do ser humano
medieval que o poder católico
se instala, influenciando seus
modos de sentir, de pensar, de
se comportar, bem como suas
escolhas, suas preferências,
suas culpas e seus valores
morais. A presença da Igreja
preenchia o cotidiano das
pessoas, estendendo-se do
nascimento aos cuidados com o
corpo após a morte, uma vez
que se nascia, de fato, para a
comunidade cristã com o
batizado, e os restos mortais
Rogier van der Weyden, Retábulo dos sete sacramentos, 1445-1450 eram destinados à proteção dos
santos nos terrenos das igrejas.
As relações entre razão e fé (p. 108-109)
• A primazia do cristianismo católico na cultura medieval impunha
consequências de larga extensão para a reflexão filosófica, ensejando
redefinições conceituais de temas já consagrados na filosofia antiga –
Universo, natureza humana e moral, por exemplo.
• Dessa forma, apresentava novos problemas à especulação racional com sua
noção de ser supremo identificada no Deus criador.
• O repertório da religião cristã, afinal, é repleto de elementos inusitados em
relação à cultura da Antiguidade clássica. A começar pela afirmação
criacionista, que explica o mundo como obra de um Deus autor de todas as
coisas que existem.
• Convém destacar que nas antigas religiões grega e romana, os deuses eram
agentes de ordenação do cosmo com base em um caos primordial, ou seja,
não eram criadores no sentido próprio da palavra.
• O mesmo se aplica ao conceito de ser humano criado à imagem e
semelhança de Deus que perverteu sua natureza no ato do pecado original.
Com o pecado original, a culpa se estende ao conjunto da humanidade, que
deve esforçar-se por sua salvação na reconciliação com o divino.
Portanto, os princípios
doutrinários do cristianismo
provocariam, por si só, novas
bases para interrogações
filosóficas que versam sobre o
ser da humanidade, o ser do
mundo e o ser supremo
(Deus). Entretanto, além
dessas questões — ou mesmo
antes delas — é que se coloca
um problema mais amplo,
associado à viabilidade de
uma filosofia cristã: as
relações entre o saber
revelado do cristianismo e o
saber racional da especulação
filosófica. Em poucas palavras,
instaurava-se uma tensão
entre razão e fé.
A religião cristã, afinal, apresenta suas respostas reveladas a indagações
que por muito tempo ocuparam a especulação racional, sendo necessário
aos pensadores cristãos posicionar-se diante de uma tradição filosófica
construída com séculos de antecedência em relação ao catolicismo. Do
ponto de vista do cristianismo, há duas questões fundamentais em relação
à filosofia:

Qual é o valor real do conhecimento Qual é a relação entre o


filosófico desenvolvido conhecimento racional e a verdade
anteriormente à revelação cristã? revelada no evangelho?
No desenvolvimento dessas
questões é que se constituiria uma
filosofia que denominamos cristã.
Segundo o filósofo Étienne Gilson,
em seu livro O espírito da filosofia
medieval, o primeiro
posicionamento explícito sobre
essas questões data da Antiguidade,
com o apóstolo Paulo, que recusa a
qualificação do cristianismo como
filosofia, pois, se assim o fosse,
segundo ele, seria apenas uma
entre tantas outras filosofias,
estando todas no mesmo nível. Para
Paulo, o cristianismo não é uma
forma de conhecimento, mas algo
absolutamente superior, uma
religião de salvação que torna
supérfluas todas as modalidades de
saber filosófico.
A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que
foram salvos, para nós, é uma força divina. Está escrito: Destrui­rei a
sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes. Onde está o
sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não
declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo? Já que o mundo,
com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina,
aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura de sua mensagem. Os
judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria; mas nós
pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os
pagãos; mas, para os eleitos – quer judeus quer gregos –, força de Deus e
sabedoria de Deus. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os
homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. (I Coríntios
1, 18-25).
Deve-se notar que, ao
negar o cristianismo como
um tipo de conhecimento, o
apóstolo evita na realidade
equipará-lo ao que se
entende por conhecimento
na tradição filosófica
grega, elevando-o a um
patamar diferenciado. O
que ele recusa, de fato, é o
valor de verdade dos
conceitos de pensadores
clássicos como Platão e
Aristóteles, preconizando a
substituição da aparente
sabedoria filosófica pela
verdadeira sabedoria
cristã.
AGENDA

Atividades:
Página 112, questão 2.

Pesquisa:
O surgimento das primeiras universidades
(Para postar no fórum).

Você também pode gostar