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PARA SALA
de cada um dependia de uma decisão irreversível, pres-
ATIVIDADES ciente e predestinada da providência divina, não havendo
nada que cada homem, ou mesmo a Igreja, pudesse fazer
para conquistar o perdão divino − tão grandes eram as
01 C faltas humanas. Para Lutero, o perdão divino evidenciava a
Ambas as pinturas representadas no enunciado abordam magnanimidade da vontade divina e se expressava exclu-
o mesmo tema: a crucificação e a morte de Cristo. Toda- sivamente pela fé do cristão, por sua devoção pessoal.
via, as técnicas utilizadas em cada uma delas demonstram Assim, algo como um papel de indulgência não poderia
uma importante virada histórica, provocada pelas trans- ser, do ponto de vista de Lutero, mais que uma superstição
formações na mentalidade de certos grupos urbanos na e uma enganação.
Europa entre os séculos XIV e XV. Enquanto no quadro de
05 C
Giotto a cena se passa em apenas um plano, sem dife-
renças de profundidade, sem explorar o plano de fundo, A ocorrência da revolta camponesa nos principados ale-
o contrário acontece no quadro de Masaccio. Neste, as mães na esteira da reforma luterana indica como as refor-
regras matemáticas da perspectiva foram utilizadas para mas religiosas do século XVI ultrapassaram em muito a
criar dimensões na pintura, representando o fundo da ima- esfera da religião. Motivados pela pregação de Lutero
contra a autoridade espiritual e temporal da Igreja Cató-
gem. Essa mudança foi possibilitada por uma alteração na
lica e a corrupção político-moral do seu clero, os campo-
forma como a natureza passou a ser compreendida pelos
neses radicalizaram a mensagem luterana e usaram-na
respectivos artistas. Masaccio, em meio ao Renascimento
para contestar toda a ordem social feudal que os explo-
Cultural, já fora afetado por uma visão mais abstrata, racio-
rava. Assim, os privilégios feudatários da nobreza e do
nalizada, matematizada da natureza, que lhe permitiu per- alto clero foram questionados, tendo os camponeses,
cebê-la e representá-la por meio de relações matemáticas, para tanto, usado argumentos bíblicos que elaboraram
valendo-se da teoria da perspectiva geométrica. por meio de suas próprias leituras dos textos sagrados –
concretizando o dogma defendido por Lutero de relação
02 A pessoal do devoto com a divindade.
O Renascimento era caracterizado pela adoção de valores
06 A
clássicos, como o racionalismo, o hedonismo, o experi-
mentalismo, o antropocentrismo e o ecletismo. Lutero desafiou vários dogmas que compunham a base da
doutrina cristã defendida pela Igreja Católica − questio-
nando, por consequência, a estrutura de poder sobre a qual
03 D se assentava o clero. Ao afirmar que todo cristão batizado
O filósofo italiano renascentista Nicolau Maquiavel revo- poderia ser o seu próprio sacerdote, Lutero estabelecia um
lucionou o pensamento político ocidental ao transportar canal de comunicação direto entre cada fiel e a divindade
para este terreno o racionalismo e o individualismo típicos (produzido pelo sacramento do batismo), retirando, como
do humanismo então em desenvolvimento. Isso significou consequência, um poder capital do clero católico, que, até
a defesa de um racionalismo pragmático e circunstancial então, detinha o monopólio da intermediação espiritual
na administração dos Estados, livrando o príncipe de res- entre os devotos e a divindade. Para Lutero, a capacidade
trições éticas, morais e religiosas. individual de contato com o divino era uma consequên-
cia do princípio da salvação pela fé. Segundo esse prin-
cípio, a salvação de cada um fora decidida desde sempre
04 D pela providência divina, que a sinalizaria pelo ardor da fé
Um dos principais alvos da crítica político-religiosa de cristã do fiel. As boas obras e mesmo o perdão da Igreja
Lutero foi a prática católica de vender indulgências aos não interfeririam de modo algum na salvação de cada um.
fiéis. Para Lutero, essa prática revelava uma venalidade Assim, outro pilar do poder e da autoridade da Igreja eram
da Igreja de Roma que manchava moralmente a religião derrubados por Lutero. Uma Igreja institucionalmente fraca
cristã, uma vez que evidenciava as preocupações econômi- não poderia se arrogar direito de infalibilidade, por isso
cas (“mundanas”, “terrenas”) a que a Igreja de Roma dava Lutero criticou fortemente a ideia de que o papa era infalí-
mais atenção, negligenciando seu papel religioso original. vel em questões dogmáticas. Do ponto de vista da teologia
Ainda mais profundamente, a venda de perdões dos peca- luterana, o papa não teria um acesso mais privilegiado ao
dos dos devotos cristãos ia contra o modo como Lutero, divino do que qualquer outro cristão.
Pré-Vestibular – Livro 2 1
PROPOSTAS
teriam sufocado o pensamento clássico. Vê-se que é uma
ATIVIDADES
visão do tempo em que o passado imediato é visto como
negativo, em uma estratégia para valorizar com intensidade
01 B o tempo presente, tomado como momento de retomada,
O desenvolvimento urbano e o Renascimento Cultural pro- retorno, renascença de uma Era de Ouro ancestral, a Anti-
moveram transformações na sociedade, como o surgimento guidade Clássica.
de novas profissões urbanas, que promoveu, também, uma
nova divisão do trabalho. 06 A
Nesse trecho, o historiador Jacob Burckhardt enumera
02 C
algumas características gerais das pessoas que partici-
A questão estabelece como correta a alternativa que apre- param do movimento renascentista na Itália dos sécu-
senta os dois conceitos fundamentais de cada um dos los XIV ao XVI. Do ponto de vista do historiador, o que
períodos históricos: na Idade Média, o desenvolvimento mais se destacava nelas era seu caráter multifacetado,
do teocentrismo, devido à forte influência da Igreja Cató- ou seja, os artistas, cientistas e intelectuais renascen-
lica, como instrumento de contenção dos conflitos sociais; tistas eram capazes de dominar vários ramos artísticos
enquanto no período da Renascença, na Idade Moderna, e do saber, em todos eles expressando os valores do
o conceito fundamental é o antropocentrismo, colocando movimento, como o antropocentrismo e o raciona-
o ser humano como o centro da preocupação e do novo lismo. Assim, diversas áreas se desenvolveram durante
paradigma cultural, social e econômico. a Renascença, como as artes plásticas, a astronomia, a
navegação e as ciências políticas.
03 E
Roger Bacon viveu na Baixa Idade Média, quando alguns 07 B
teólogos vislumbraram possibilidades maiores do que Lutero foi um monge agostiniano, professor universitário
aquelas definidas pela Bíblia. A crença na capacidade e estudioso das Escrituras Sagradas cristãs e dos textos
criadora do ser humano chocava-se com as concepções dos primeiros filósofos cristãos, entre os quais se desta-
teocêntricas da Igreja Católica, que entendia que apenas cava Santo Agostinho. Impressionado com as concep-
Deus era “criador”. A escolástica, filosofia que incorporou ções agostinianas da graça divina e do pecado humano,
aspectos humanistas e racionais ao cristianismo, represen- Lutero contrastou os ensinamentos de Agostinho com a
tou uma porta para o desenvolvimento de novas visões de corrupção dos costumes da Igreja Católica no século XVI,
mundo que, séculos depois, propiciaram o Renascimento especialmente a má conduta do clero e a simonia das
Cultural. autoridades eclesiásticas. Assim, o monge buscou refun-
dar o cristianismo em bases agostinianas, em que a fé
04 B tem um papel mais importante na salvação do indivíduo
O historiador Carlo Ginzburg explica em seu texto a razão (na medida em que é um indicativo da graça divina da
de as cidades italianas no início do Período Moderno salvação) que a realização de boas obras.
(séculos XV e XVI) terem se tornado centros artísticos na
Europa. Isso foi possível pelo grande desenvolvimento 08 A
econômico e urbano experimentado por regiões como o O trecho apresentado mostra um membro das camadas
Norte da Itália, mas também Flandres, nos séculos finais populares evocando a religião para justificar seu ato, no caso,
da Idade Média. Tal desenvolvimento, em primeiro lugar, o roubo de carvão. Isso mostra como a religião podia ser uti-
criou um grupo de ricos comerciantes e nobres capazes lizada por qualquer setor social para justificar suas ações.
de investir grandes fortunas em obras de arte, assumindo
a condição de mecenas. Em segundo lugar, o desenvolvi- 09 E
mento econômico criou ambientes de formação e de difu-
O texto deixa evidente que o rei Filipe II usou a Inquisição
são de saberes humanistas, essenciais para a formação de
para um fim político: destituir seu secretário de Estado, que
novas gerações de artistas.
estava concentrando mais poderes do que o desejado.
05 B 10 C
A denominação Renascença ou Renascimento para o A questão tem como objetivo contextualizar as Reformas
movimento artístico-cultural, que se alastrou pelas gran- Religiosas do século XVI em um processo histórico mais
des cidades comerciais da Europa nos séculos XV e XVI, é amplo de profundas transformações nas sociedades da
decorrente de uma nova concepção existencial do tempo Europa. Uma das críticas iniciais dos reformadores protes-
adquirida pelos sábios humanistas do período. O contato tantes, destacando-se Lutero, foi à prática da simonia pela
renovado com a produção intelectual da Antiguidade (pos- Igreja Católica. Para os reformadores, o comércio que a
sível por novas traduções do árabe e do grego no período) Igreja realizava de bens espirituais, desde relíquias e car-
fez com que todo o momento histórico que se seguiu à gos eclesiásticos até o perdão dos pecados, demonstrava a
queda de Roma em 476 fosse considerado como negativo, corrupção terrena do clero, contribuindo para a crise espiri-
ocasião em que as trevas do dogmatismo da Igreja Católica tual pela qual passava a Europa no período.
2 Pré-Vestibular – Livro 2
Pré-Vestibular – Livro 2 3
4 Pré-Vestibular – Livro 2
06 B
MÓDULO 9
Absolutismo; Mercantilismo Thomas Mun apresenta alguns mecanismos comerciais
básicos do mercantilismo:
ATIVIDADES
PARA SALA troca comercial;
venda com parte do pagamento à vista;
01 E
compra de produtos para revenda.
Logo, o comércio era, para ele, a base do enriquecimento.
A moral política, para Maquiavel, é marcada pelo pragma-
tismo, ou seja, pela necessidade de atingir seus propósitos.
O propósito do “príncipe” (do governante) é governar e
manter a ordem social e, para isso, ele não deve se preocu-
ATIVIDADES
PROPOSTAS
par com a visão que possam formar sobre sua pessoa e com
a reputação de cruel. Maquiavel foi o primeiro intelectual a 01 C
teorizar e a defender o modelo absolutista de Estado, com O historiador Perry Anderson produziu uma importante
o poder concentrado nas mãos do governante, como repre- explicação para o advento e a organização dos Esta-
sentação máxima desse mesmo Estado. dos absolutistas na Europa Ocidental durante o Período
Moderno. Tal explicação parte de um ponto de vista mar-
xista para estudar as relações entre as várias classes sociais
02 A
(definidas por suas posições relativas aos meios de produ-
Frederico Palomo evidencia que houve um cruzamento ção) e a estrutura do Estado no período. É por essa ótica
histórico de funções políticas, sociais e culturais importan- que o historiador pode identificar as continuidades feudais
tes do Estado e das igrejas cristãs na Época Moderna. Ao no Estado absolutista e perceber como ele protegeu os
se apossar de propriedades e funções sociais tradicional- interesses da nobreza tradicional, enfraquecida desde
mente ligadas às igrejas, as monarquias absolutistas adqui- os séculos finais da Idade Média. Proteger os interesses
riram outros mecanismos de controle e disciplinamento aristocráticos significava manter a dominação sobre os
social mais eficazes, capazes de moldar e administrar, isto camponeses, que foram mantidos na base da sociedade,
é, governar, novas identidades que misturavam política e sendo expropriados agora pela monarquia absolutista e
religião. Assim, a perseguição a dissidências religiosas mis- não pela nobreza feudal. Ao mesmo tempo, e nisto está
turou-se, confundiu-se com o combate a rivais políticos, na o aparente paradoxo apontado pelo autor, o Estado abso-
medida em que as monarquias absolutistas se identifica- lutista agiu em confluência aos interesses das classes bur-
vam mais e mais com uma ou outra religião (reformada ou guesas, tomando medidas que permitiam o crescimento
católica). É por isso que o historiador chama essas monar- do comércio, ainda que os membros da burguesia conti-
quias de monarquias confessionais, pois elas misturaram nuassem excluídos dos setores centrais do Estado absolu-
religião e política para obter efeitos mais eficientes de tista e fossem socialmente desvalorizados.
dominação sobre os súditos/devotos.
02 E
A ideia de “construir uma imagem” implica perceber que
03 A
a imagem natural não servia para que se estabelecesse
Desde a Antiguidade, os palácios foram símbolo do poder uma relação entre governante e governados. O g
overnante
imperial ou real e acabaram por expressar os valores devia ser apresentado como superior e mais capacitado,
artísticos da época em que foram construídos. O Palácio diferenciando-se dos governados. A figura do rei como
de Versalhes foi construído a mando do rei Luís XIV no indivíduo (imagem privada) devia ser substituída pela
século XVII, tornando-se um símbolo do Antigo Regime figura do rei como símbolo de poder (imagem pública).
na França e uma obra que sintetiza a arquitetura do
estilo rococó.
03 B
04 E A questão elenca algumas características gerais das socie-
Durante o processo de colonização iniciado no século XV, dades do Antigo Regime durante a Época Moderna. Nes-
surgiram dois tipos de colônia: as de exploração, voltadas sas sociedades, predominava a noção de que os grupos
para o enriquecimento da metrópole, e as de povoamento, sociais eram naturalmente diferentes, tendo deveres, direi-
em que existia relativo afrouxamento do pacto colonial, tos e privilégios jurídicos distintos conforme sua posição
com objetivos de um assentamento mais efetivo à terra. estamental na hierarquia social. Essa forma de hierarqui-
zação bastante rígida da sociedade concentrava todos os
privilégios nos grupos aristocráticos de elite, cujos valores,
05 D modos de ver o mundo, ética e comportamentos eram
Entre os princípios básicos do mercantilismo, está o acú- admitidos como a referência ideológica da sociedade.
mulo de metais preciosos, que deve ser alcançado, entre Como parte desse modo de ser aristocrático predomi-
outros fatores, pela manutenção da balança comercial nante nas sociedades do Antigo Regime, elas eram tam-
favorável. bém altamente discriminantes com todo tipo de trabalho
Pré-Vestibular – Livro 2 5
manual. Ser um camponês, artesão ou comerciante de a maior quantidade possível de metais preciosos (ouro e
pequeno negócio era considerado uma mancha na identi- prata, sobretudo) dentro de suas fronteiras. Assim, todas as
dade social de pessoas e famílias, impedindo-as de aces- atividades que interferissem nessa acumulação, forçando a
sar os estratos mais altos e privilegiados da sociedade. A balança comercial do país a quedar desfavorável, deveriam
nobreza do Antigo Regime defendia como um valor pri- levantar a desconfiança dos funcionários régios. Assim, ao
mordial o horror ao trabalho manual, o que seria a própria saber que os indianos queriam cobrar ouro e prata pelo
marca de um modo de vida nobre. comércio das especiarias, o conde temeu que essa troca
terminasse sendo prejudicial a Portugal, de acordo com o
04 D princípio do metalismo das práticas mercantilistas.
O sociólogo alemão Norbert Elias usou o documento citado
no enunciado como um instrumento para analisar a estru- 08 A
tura política das sociedades do Antigo Regime. O modo O trecho fala sobre as Grandes Navegações, a conquista
como o contemporâneo de Luís XIV descreveu a organi- e colonização da América e a implantação da escravidão
zação do Estado francês no século XVII demonstrava para moderna vinculada à suposta superioridade do homem
Elias o funcionamento de uma sociedade de corte. Neste branco europeu diante das demais etnias e culturas, bem
tipo de sociedade, o rei ocupava o centro da cena política, como a necessidade de conquistar novos mercados para
controlando e até mesmo identificando-se com o apare- o capitalismo comercial e mercantil. O surgimento dos
lho burocrático do Estado. Todas as dinâmicas políticas da Estados modernos gerou a necessidade de buscar mais
Corte giravam e, até certo ponto, podiam ser manipuladas recursos para manter a burocracia estatal e montar e equi-
pelo rei, que as controlava como artifício para aumentar o par exército e a marinha. A política econômica mercanti-
seu poder diante da nobreza e da alta burguesia. Assim, a lista europeia era caracterizada pelo protecionismo e pela
expressão “o rei tomou o lugar do Estado” quer dizer que,
balança comercial favorável. As grandes vítimas desse pro-
nas monarquias absolutistas, a pessoa do monarca tendia a
cesso foram os continentes africano e americano.
se confundir com a figura do Estado, não havendo limites
claros entre as dimensões pública e privada da Coroa.
09 B
Uma prática básica do mercantilismo era o equilíbrio da
05 A balança comercial de cada Estado, e pode-se dizer que
Thomas Hobbes e Nicolau Maquiavel foram filósofos esse era o próprio objetivo das políticas mercantilistas.
que defenderam o poder absolutista dos reis, ainda que Objetivava-se exportar sempre mais do que se importava,
por razões bastante diversas. De seu lado, Hobbes via o garantindo que as riquezas não deixassem o território do
Estado absolutista como a forma natural mais adequada Estado, aumentando seu poderio político-econômico. Os
de governo dos homens para garantir a paz social e a meios para atingir esse objetivo foram variados, destacan-
prosperidade de todos, impedindo, pela força do Estado do-se o protecionismo alfandegário, o metalismo, a cria-
absolutista, que os homens mantivessem constante guerra ção de monopólios estatais, entre outros.
(conflito) uns contra os outros. Maquiavel, por sua vez,
preocupou-se menos com a natureza do Estado absolu- 10 C
tista e mais com sua fundamentação política para além
A adoção do protecionismo econômico foi propiciada por
do moralismo cristão, defendendo um forte pragmatismo
político, uma certa amoralidade da política, como modo contextos bastante diversos entre o Período Moderno e a
mais adequado de governo do Estado, cujo objetivo não é atualidade. No primeiro caso, o protecionismo era uma das
outro que a própria conservação e autoengrandecimento. práticas das políticas mercantilistas, adotadas pelos Estados
absolutistas europeus como instrumentos para acumular
mais riquezas em suas fronteiras e ganhar maior poder polí-
06 A tico no contexto europeu e mundial. Todas as práticas mer-
Os Estados modernos surgiram da aliança entre rei e bur- cantilistas, como o intervencionismo estatal, o metalismo,
guesia. A burguesia foi beneficiada com a proteção do a manutenção de balança comercial favorável e o colonia-
Estado e a unificação da moeda visando facilitar o comér- lismo, tinham esse sentido: proteger o mercado interno e
cio, no entanto, os burgueses pagavam impostos para permitir a acumulação de riquezas (sobretudo minerais).
manter o aparato estatal. O Estado, cujo poder estava per- Por outro lado, no contexto atual, o protecionismo econô-
sonalizado na figura do rei, montava e equipava o Exército mico sofre críticas fortes de setores econômicos alinhados
e a Marinha e mantinha a burocracia estatal.
ao grande capital financeiro internacional, que defendem
a desregulamentação da economia, isto é, a destruição de
07 A barreiras comerciais impostas pelos Estados, para livre circu-
A resposta do Conde de Vimioso ao explorador Vasco da lação do capital financeiro. Assim, instituições econômicas
Gama só faz sentido quando inserida nos quadros do mer- internacionais, como a Organização Mundial do Comércio,
cantilismo como política econômica dos Estados absolu- alinhadas ao capitalismo financeiro globalizado, defendem
tistas da Época Moderna. Do ponto de vista mercantilista, o fim do protecionismo, supostamente prejudicial ao que
o que interessava a cada Estado era conseguir acumular apresentam como livre concorrência.
6 Pré-Vestibular – Livro 2
11 C 02 C
O autor do texto presente na questão faz uma diferencia- O trecho de documento reproduzido no enunciado é
ção entre Estado e nação em suas relações diversas com capaz de responder à questão. Hernán Cortés, o conquis-
as práticas mercantilistas que caracterizaram a economia tador da Confederação Mexica, expressou alguns sen-
europeia no Período Moderno. Assim, o mercantilismo foi timentos experimentados pelos europeus confrontados
concretizado em práticas de política econômica dos Esta- com o que entendiam ser uma novidade: as civilizações
dos, as quais visavam ao enriquecimento destes mesmos americanas. O caráter puramente não ocidental dessas
Estados – por isso, o Estado era sujeito e objeto da política civilizações foi um choque para os europeus, que não dis-
mercantilista. O mercantilismo não objetivava enriquecer punham de categorias mentais para lidar com os povos da
a nação, entendida como o conjunto dos habitantes do América como seus iguais − daí a abordagem etnocên-
território do Estado; ao contrário, visava apenas ao enri- trica que marcou o choque entre essas culturas diferentes.
quecimento do Estado. Por isso, os Estados absolutistas Como salientou Cortés, os espanhóis sentiram surpresa,
puderam se tornar esplendorosos, ao mesmo tempo que incompreensão, admiração e repúdio pelo que viam das
civilizações americanas, estando aí a raiz do conflito que
a população se empobrecia cada vez mais.
estabeleceram contra elas.
12 A
03 E
A questão busca associar o mercantilismo com os avanços
A sociedade inca era estamental, ou seja, a posição social
tecnológicos que possibilitaram a realização de suas práti- do indivíduo era definida no nascimento e, nesse sentido,
cas. Um dos pilares do mercantilismo foi a instauração do não havia mobilidade. A estrutura de poder era aristocrá-
sistema colonial sobre as Américas. Por meio do princípio tica, na qual uma elite guerreira e administrativa concen-
do exclusivo metropolitano, as potências europeias drena- trava o poder; portanto, essa sociedade era marcada pela
vam as riquezas produzidas em suas colônias, cumprindo o desigualdade.
preceito mercantilista de acumulação máxima possível de
riquezas dentro das fronteiras do Estado. Todavia, a realiza-
04 E
ção concreta da exploração colonial demandou o desenvol-
vimento, entre outras, de tecnologias náuticas que capaci- Durante a transição entre Idade Média e Modernidade,
a cultura ocidental experimentou uma profunda transfor-
tassem os europeus a navegar pelos oceanos e a transportar
mação de seu modo de olhar, perceber e experimentar o
grandes quantidades de riquezas entre pontos distantes do
mundo, a natureza e a alteridade. Vários fatores contribuí-
planeta. As caravelas, criadas em Portugal, ainda no século
ram para essa mudança, entre os quais a chegada ao Novo
XV, foram um desses avanços tecnológicos, que permitiram
Mundo e o contato, violento, com ambientes e povos com-
não só a expansão econômico-mercantil da Europa, como
pletamente distintos aos europeus, impondo-lhes desafios
também a disseminação da religião católica pelos impérios
econômicos, políticos e culturais inovadores, a ascensão
coloniais ibéricos. cada vez mais marcante dos grupos burgueses, desafiando
a ordem aristocrática tradicional e, no nível das tecnolo-
MÓDULO 10 Civilizações pré-colombianas; gias, inovações como a bússola, a pólvora e a impressa,
A conquista da América que tiveram efeitos os mais diversos, ramificados e profun-
dos sobre as transformações sociais do período.
ATIVIDADES
PARA SALA 05 D
01 A Para responder à questão, precisa-se levar em c onsideração
A questão traz um trecho de documento do momento da a política de globalização ocorrida no mundo, no período
conquista da América. Escrito por um espanhol, o docu- de expansão comercial europeia; no processo de
mento apresenta a visão europeia inicial acerca de alguns eurocentralização, a evolução passou a ser a necessidade
povos nativos do continente americano. Diante da gran- econômica. Assim, é necessário perceber que a globaliza-
diosidade do império asteca, os europeus quedaram ção chegou à Europa no século XV e, à América, somente
no século XX.
estarrecidos, bastante surpreendidos que pudesse haver
uma sociedade tão complexa fora da Europa. Essa sur-
presa era um sintoma do etnocentrismo que moldava a 06 C
visão de mundo dos conquistadores, tornando-os incapa- A encomienda foi um tipo de exploração compulsória do
zes de reconhecer o outro indígena como um ser humano trabalho das populações ameríndias praticada pelos coloni-
similar a ele europeu. A sofisticação do império asteca, zadores espanhóis na América. Tinha a forma de um contrato
que possuía um forte aparelho militar e se estendia por jurídico entre o colonizador, normalmente um conquistador,
um vasto território, por meio de uma confederação entre que prestara serviços à Coroa nas guerras de conquista do
três importantes cidades-estados (Texcoco, Tlacopan e território americano, e a Coroa espanhola. Por meio deste
Tenochtitlán), ia de encontro aos preconceitos europeus, contrato, o colonizador, que passava a ser chamado de señor
sendo, até hoje, difícil para a cultura ocidental aceitar esse encomiendero, recebia permissão para explorar o trabalho
fato em um povo não ocidental. das populações indígenas que habitavam um certo território
Pré-Vestibular – Livro 2 7
PROPOSTAS
ATIVIDADES e asteca, e o posterior domínio colonial espanhol nessas
regiões, como uma relação parasitária, em que o elemento
europeu não produz nada, apenas drena as energias e a
produção das populações americanas. Fica explícita a crí-
01 C
tica do autor ao colonialismo e ao imperialismo europeu.
A questão ressalta elementos de análise do choque cultural
entre europeus e nativos da América à época da expansão 06 D
marítimo-comercial europeia. Em geral, tanto os conquista- Antes da intromissão europeia, o continente americano era
dores espanhóis que dominaram o Império Asteca (no caso povoado por muitos povos, que tinham marcantes diferenças
citado pelo texto), quanto os que dominaram o Império entre si. Alguns se desenvolveram na forma de grandes impé-
Inca, ficaram bastante surpresos diante das manifestações rios com Estado centralizado, construindo cidades populo-
culturais das civilizações ameríndias. Contudo, prevaleceu sas e sofisticadas, com atividades econômicas complexas,
a vontade dos europeus sobre a América, o que implicou a incluindo agricultura, pecuária e mineração, sistemas de irri-
destruição dos impérios Asteca e Inca pelos espanhóis. gação, coleta e tributação de mercadorias. Outros povos per-
sistiram na formação de caçadores-coletores e/ou pecadores,
estabelecendo sociedades nômades ou seminômades, o
02 E que não as impedia de ser bastante populosas em algumas
Obviamente, a referida prática não tinha finalidade alimen- regiões, como na Amazônia.
tar nem era orientada para o abastecimento de templos.
Os guerreiros faziam sacrifícios com a alusão aos seus deu- 07 D
ses como forma de preservação da vida em coletividade, o O frei Bartolomeu de Las Casas foi a principal voz a se
que, na concepção religiosa, baniria a ira das divindades. levantar contra a violência da colonização espanhola nas
Américas no século XVI. O frei dominicano denunciou o
03 A extremismo da violência dos conquistadores espanhóis,
que resultava em massacres sistemáticos das populações
A dúvida apontada no texto demonstra a importância
nativas da América. Ainda mais, Las Casas apontou como
que o elemento espiritual e religioso tinha com a civili- os espanhóis destruíam as culturas nativas e os modos de
zação asteca. A crença arraigada no mito do retorno de vida tradicionais dos indígenas, submetendo-os a miséria,
Quetzalcoatl fez com que o imperador asteca Montezuma epidemias, fome e maior mortandade.
demorasse a reagir à invasão espanhola nas terras do atual
México. 08 E
A questão compara os movimentos de expansão marítima
04 B
quase simultâneos feitos por duas unidades políticas bas-
A tomada do México pelos espanhóis foi facilitada por uma tante diferentes. Enquanto a China era um império conti-
série de fatores, entre os quais é possível destacar: nental, organizado em uma estrutura feudal, com grande
os astecas consideraram que os espanhóis eram deuses; poder dos senhores locais, Portugal era um pequeno reino,
8 Pré-Vestibular – Livro 2
Pré-Vestibular – Livro 2 9
política para a continuidade das lutas revolucionárias, que como a igualdade civil, a liberdade (em suas várias mani-
não deveriam terminar com a deposição e a execução do festações), o direito à vida, à propriedade, entre outros. As
rei Carlos I. Para os grupos populares radicais, a revolu- proposições iluministas tiveram um alcance revolucionário
ção deveria continuar no sentido de transformar a ordem no século XVIII, uma vez que se chocavam diretamente com
socioeconômica da Inglaterra, não apenas sua organiza- o Antigo Regime, tendo sido, por isso, a filosofia básica dos
ção política. Essa transformação seria a coletivização dos revolucionários que lutaram contra esse tipo de sociedade
meios de subsistência, das terras cultiváveis, para todo – como os franceses a partir de 1789.
o povo, destruindo sua concentração nas mãos de uma
pequena elite de proprietários burgueses. Todavia, a rea-
09 E
ção das elites inglesas não tardou e se fez com grande vio-
lência. Usando da força do exército republicano, vitorioso O trecho menciona algumas características da filosofia ilus-
na guerra civil contra as tropas aristocráticas da monar- trada do século XVIII. A autora destaca, entre elas, a raciona-
quia, os burgueses ingleses destruíram os grupos popula- lidade crítica como atributo central do questionamento filo-
res radicais, extinguindo essa ameaça à ordem proprietária sófico e a importância do conhecimento científico metódico
burguesa que pretendiam os proprietários dos meios de como instrumento para esse questionamento. Este movi-
produção instalar. mento do pensamento europeu teve impactos profundos
em todos os campos do saber humano, das artes, às ciências
05 A e à política. Assim, o Iluminismo não pôde deixar de se opor
A questão traz uma reprodução de uma pintura do século fortemente ao mercantilismo, ao tradicionalismo religioso e
XVII, em que se representa a execução do rei inglês à sociedade estamental, por entender que essas instituições
Carlos I no contexto das Revoluções Inglesas. Os movi- sociais eram irracionais, impediam o livre progresso da razão
mentos revolucionários ingleses seiscentistas marcaram e da liberdade humanas e infringiam os direitos naturais de
a crise, o declínio e a derrocada final do absolutismo na todos os homens.
Inglaterra, não apenas por causa da execução do rei,
PROPOSTAS
mas principalmente porque o Parlamento (órgão repre-
sentativo da sociedade inglesa) conseguiu impor limites ATIVIDADES
constitucionais permanentes ao poder do monarca. As
revoluções inglesas configuraram um complexo processo
político, marcado por disputas parlamentares, guerras 01 D
civis, revoltas populares e tentativas de golpe de Estado A questão explora as conexões entre o Renascimento Cul-
por parte dos reis. Após a execução de Carlos I em 1649, tural e a Revolução Científica do século XVII. A obra do
seguiu-se um período republicano e, depois, um retorno astrônomo Nicolau Copérnico é um exemplo de como os
da monarquia. Os monarcas ainda tentaram reestabelecer valores humanistas difundidos pela Renascença foram cru-
o absolutismo, mas foram definitivamente derrotados pela ciais para a elaboração da ciência moderna. Ou seja, sem o
Revolução Gloriosa de 1688. fortalecimento de valores como o heliocentrismo, o antro-
pocentrismo e o racionalismo, o astrônomo polonês não
06 A teria tido condições culturais e intelectuais para realizar as
Os teóricos do absolutismo, que propagavam a Teoria pesquisas que fez e propor as rupturas dogmáticas que
do Direito Divino dos Reis, tiveram seus escritos refuta- propôs. Assim, não se pode pensar a Revolução Científica
dos pelos adeptos do parlamentarismo e do liberalismo desligada do Renascimento. Na verdade, a primeira é a
político, o que deu ao povo o direito de escolha dos seus continuação do segundo com foco exclusivo na constru-
governantes. A execução de Carlos I é o principal aten- ção de um novo tipo de saber, que se desdobrou em uma
tado simbólico dessa contestação. nova forma de ver e entender o mundo, mais racionalizado
e desencantado.
07 D
Locke dedicou-se também à filosofia política. No Primeiro 02 B
tratado sobre o governo civil, critica a tradição que afir- Stephen Hawking atribuiu a Galileu a responsabilidade
mava o Direito Divino dos Reis, declarando que a vida polí- maior pela elaboração da ciência moderna como um
tica é uma invenção humana, completamente indepen- novo modo de produção de conhecimento. Hawking
dente das questões divinas. No Segundo tratado sobre defende a ideia de que o conflito de Galileu com a Igreja
o governo civil, expõe sua teoria do Estado liberal e da obrigou o cientista italiano a direcionar seu pensamento
propriedade privada. para a justificação teórica das capacidades racionais do
ser humano, realizando uma argumentação a favor do
08 E antropocentrismo. O conflito a que se refere o físico foi
O autor se refere ao Iluminismo, uma escola filosófica com- o processo e o julgamento de Galileu pela Inquisição
posta por pensadores de diferentes proveniências sociais e italiana. O Santo Ofício terminou por condenar Galileu,
igualmente distintos sistemas filosóficos, cuja fundamenta- obrigando-o a retratar-se, renunciando publicamente ao
ção estava na crença da universalidade da razão humana. sistema heliocêntrico de Copérnico. Não obstante isso, a
A razão universal dos indivíduos, para os iluministas, seria defesa de Galileu já tinha dado as bases para o desenvol-
a razão pela qual todos teriam alguns direitos inalienáveis, vimento posterior da ciência moderna.
10 Pré-Vestibular – Livro 2
03 A 07 E
A questão aponta uma faceta nem sempre relembrada da A questão tem o objetivo de mostrar a complexidade dos
Contrarreforma católica. Ela não se voltou somente contra processos que se misturaram durante as Revoluções Inglesas
as dissidências protestantes. A vontade da Igreja de afir- do século XVII, apontando para a presença de sentimentos
mar, na verdade, de reafirmar, autoritariamente sua visão e crenças religiosos tradicionais, renovados e intensificados
de mundo também se dirigiu contra os sábios, cientistas pela Reforma Protestante, como fatores que contribuíram
e artistas humanistas e renascentistas, alcançando até a para a movimentação revolucionária. Às lutas políticas entre
Revolução Científica do século XVII. A Igreja não podia partidários do Parlamento e do Rei, somavam-se e mistura-
aceitar um tipo de saber que não estava sob seu controle vam-se lutas entre os vários grupos religiosos. Em primeiro
(a ciência moderna) e cujo modo de produção (o método plano, os puritanos, alinhados ao Parlamento, e anglicanos e
indutivo da ciência moderna) se abria para a legitimação católicos, alinhados à monarquia e à nobreza tradicional. Ao
de verdades divergentes dos dogmas tradicionais da reli- mesmo tempo, existiam vários outros grupos religiosos popu-
gião cristã. Entre os vários cientistas perseguidos pela lares minoritários que também lutavam, ora aliados às forças
Igreja, Galileu foi um dos que defendeu uma concepção puritanas e do Parlamento, ora contra elas, por defenderem
dinâmica do universo, estabelecendo seu movimento e uma maior radicalização político-religiosa da Revolução.
sua expansão infinita. Essa ideia feria de morte o dogma
08 B
cristão de um universo fechado, estático e criado de
uma vez pela divindade. Assim, desde o início, a ciência A questão reproduz um trecho do documento inglês cha-
moderna permitia o questionamento de ideias preconce- mado Bill of rights, ou Declaração dos Direitos. Trata-se
bidas e defendidas somente pela autoridade. da consolidação jurídica das conquistas políticas obtidas
pelas forças do Parlamento no mais de meio século de luta
04 E contra o absolutismo monárquico. Por meio da Declara-
ção, os revolucionários ingleses conseguiram limitar per-
Com as revoluções científicas ocorridas a partir do
manentemente os poderes do soberano, desviando as
século XVII, houve avanços nos diversos campos do
maiores atribuições do Estado para a responsabilidade de
saber, na educação e no conceito de cultura; houve,
também, mudança nas metodologias de ensino e apren- parlamentares eleitos pelos cidadãos da Inglaterra. É essa
dizagem, viabilizando o desenvolvimento, no aluno, de a peculiaridade dos ingleses na Época Moderna a que
habilidades e competências para serem utilizadas no se refere o enunciado. Ao contrário deles, quase toda a
dia a dia. Europa continental (com pequenas exceções republicanas
nos Países Baixos, na Suíça e em Veneza) vivia sob o poder
do absolutismo.
05 A
No texto parcialmente reproduzido no enunciado, o his- 09 E
toriador investigou o processo de estabelecimento da pri-
A questão propõe uma comparação entre os desdobramen-
meira lei de Kepler. Trata-se de pensar a historicidade do
que o senso comum chama de “descobertas científicas”. tos imediatos das revoluções na França e na Inglaterra.
Tossato demonstra que Kepler fez parte de um processo Enquanto no caso francês a década de agitação revolucio-
histórico mais amplo, que o conectava a outros cientistas nária foi seguida pela instalação de um governo imperial
como Copérnico, Galileu e Tycho Brahe. Esse processo foi forte, perante o qual a Assembleia Nacional tinha pouco
o que se convencionou chamar de Revolução Científica do poder, a experiência inglesa foi diversa. Ainda que ambas
século XVII, por meio do qual o saber sobre o Universo as revoluções tenham permitido a consolidação da socie-
(mais tarde, também sobre o ser humano) deixou de ter a dade burguesa em seus respectivos países, na Inglaterra,
forma de uma leitura especulativa baseada em argumen- as décadas de revolução e guerra civil retiraram o principal
tos de autoridade ditados por filósofos antigos ou pela poder da Coroa, transferindo-o, definitivamente, para o
Bíblia. Foi com base no novo modo de conhecer (a ciência Parlamento.
moderna) que Kepler pôde realizar experimentos e obser-
vações que o permitiram contestar o modelo tradicional 10 A
das órbitas circulares (baseado em uma concepção platô- A questão comenta uma das fases das Revoluções Ingle-
nica do Universo), propondo, em seu lugar, a lei das órbitas sas do século XVII, qual seja, os desdobramentos da vitó-
elípticas dos astros. ria dos exércitos do Parlamento sobre os da Coroa, a ins-
talação da República e o seu destino após o falecimento
06 C de Oliver Cromwell. Em não pequena medida, o sucesso
Tendo vivido nas passagens do século XVI ao XVII, da Revolução Puritana se deveu às medidas implantadas
Shakespeare experimentou a efervescência cultural do por Cromwell na reformulação do exército, de modo que
Renascimento e as primeiras inovações da Revolução ele se tornou o grande líder revolucionário e a personi-
Científica seiscentista. Essas experiências se fazem presen- ficação da República. Durante seu governo, a Inglaterra
tes em seus textos teatrais, como no exemplo citado, em iniciou uma fase de desenvolvimento econômico que, um
que Ulysses canta o sistema heliocêntrico proposto por século depois, culminaria na eclosão da Revolução Indus-
Copérnico, o que se constata pela entronização do Sol no trial. Todavia, a República não sobreviveu muito tempo ao
centro do sistema planetário. seu Protetor. Seu filho, Richard Cromwell, designado como
Pré-Vestibular – Livro 2 11
seu sucessor, não reunia as características de liderança do pai, revoluções do final do século). Assim, o mercantilismo, o
tampouco as condições históricas da Inglaterra, no momento, absolutismo monárquico e a sociedade estamental (que
permitiram a continuidade da experiência republicana. Isso consagrava as desigualdades sociais a partir do critério
porque as forças da nobreza tradicional ainda não estavam do nascimento) eram condenados pela Ilustração, como
formas de governo das pessoas irracionais e que contra-
aniquiladas e puderam, em aliança com setores da alta bur-
riavam seus direitos naturais.
guesia, impor a Restauração Stuart, um retorno à monarquia.
15 D
11 D
O texto da Declaração de Independência dos Estados
A Revolução Gloriosa representou o fim do absolutismo Unidos expressa algumas ideias básicas e importantes
como forma de organização política na Inglaterra, subs- do Iluminismo. Ao defender o direito à revolução contra
tituindo-o por uma ordem política liberal, contratualista e a tirania como um direito humano natural, os revolucioná-
burguesa. rios expressavam a ideia ilustrada de que o Estado (e seus
governantes) deveria servir para garantir a vida, a liber-
dade, a felicidade e o progresso de todos, porque estes
12 E eram direitos naturais e inalienáveis, isto é, decorriam da
O historiador inglês Christopher Hill explora, neste trecho, natureza humana e não podiam ser infringidos por motivo
um episódio das Revoluções Inglesas do século XVII. Trata-se ou poder algum. De modo que um governo despótico e
do momento da Guerra Civil, durante a Revolução Puritana (a tirano, que impedisse a realização e a expressão de tais
direitos, poderia ser legitimamente combatido e derru-
primeira fase das revoluções), em que os exércitos do Parla-
bado pelos cidadãos livres.
mento confrontaram os da Coroa. Em apoio ao Parlamento,
organizaram-se grupos políticos de origem social popular, 16 B
cujas propostas políticas eram de grande radicalidade. Entre
Jean-Jacques Rousseau foi um dos filósofos mais radi-
eles estavam os levellers ou niveladores, que defendiam uma
cais e mais importantes do Iluminismo, tendo suas ideias
mudança estrutural na sociedade inglesa, incluindo a instala- exercido influência decisiva na eclosão da Revolução Fran-
ção de uma República popular e a reforma agrária. cesa, fornecendo subsídios intelectuais para seu aprofun-
damento. Ao explicar a origem da sociedade como um
contrato social estabelecido entre todos os cidadãos para
13 A
a formação de um Estado que garantisse seus direitos
O Iluminismo criticou, por meio do discurso racional da naturais e a felicidade geral, Rousseau deu legitimidade
Filosofia e da ciência, concepções de sociedade como a política ao movimento revolucionário francês em sua luta
expressa pela personagem de Machado de Assis no tre- contra a monarquia absolutista, eventualmente derruban-
cho observado. Por meio do uso da razão e do método do-a e instalando uma república.
científico (desenvolvido ao longo do século XVII), os pen-
17 A
sadores ilustrados contestaram os dogmas da Igreja que
pretendiam afirmar como o mundo, a natureza e a socie- O sociólogo e crítico literário Antônio Cândido aborda,
dade funcionariam. Assim, a Lei da Gravitação Universal neste trecho de sua obra Formação da Literatura Brasileira,
algumas características do século XVIII no mundo luso-
de Newton desempenhou papel importante na quebra
-brasileiro. Enquanto na França e na Inglaterra, este foi o
do poder de verdade que o discurso teológico da Igreja
período do desenvolvimento das ideias iluministas, a situa-
possuía, uma vez que mostrou como a natureza funcionava ção em Portugal e em seus domínios ultramarinos não era
por regras racionais, compreensíveis e manipuláveis pelo a mesma. Diferentemente destes outros países, no mundo
ser humano, não por um ordenamento divino. luso-brasileiro, a Contrarreforma ainda tinha muita força,
dando apoio às práticas absolutistas e mercantilistas.
14 C Neste contexto, a ação reformista do governo do marquês
de Pombal, um déspota esclarecido, encontrou muitas
O Iluminismo foi um conjunto, não sistemático, de ideias filosó-
resistências na sociedade portuguesa para impor políticas
ficas que baseavam suas críticas à sociedade que lhes era con- baseadas em algumas ideias iluministas – apropriadas para
temporânea em uma concepção otimista do sujeito humano racionalizar o governo do império ultramarino e fortalecer
cartesiano, isto é, concebiam o ser humano como um sujeito a monarquia.
cognoscente, plenamente capaz de usar sua razão para conhe-
cer e controlar a natureza e detentor de alguns direitos inaliená- 18 A
veis à vida e à liberdade. Como resultado destas concepções O Iluminismo influenciou diversos movimentos mundo
de base, o Iluminismo foi crítico às instituições das sociedades afora, todos baseados na Ilustração e no republicanismo.
europeias do século XVIII, denominadas sociedades de Antigo É possível citar como exemplos a Revolução Francesa e a
Regime (em oposição ao regime moderno instalado pelas independência dos EUA.
12 Pré-Vestibular – Livro 2
PARA SALA
Inglaterra desde o século XVI, em um processo que con-
ATIVIDADES duziu à transformação das terras em propriedade privada,
em sua concentração nas mãos de poucos proprietários de
01 C origem burguesa (não eram nem a nobreza feudal, nem
A questão trata da influência da disseminação das ideias o campesinato tradicionais, dois estamentos despojados,
iluministas sobre os movimentos revolucionários que mar- ainda que diferentemente, neste processo), por meio das
caram o quartel final do século XVIII. As Luzes promoveram sucessivas leis de cercamento dos campos comunais (que
críticas ferrenhas à sociedade cortesã, absolutista, mer- garantiam a sobrevivência do campesinato), gerando um
cantilista e colonial setecentista, mostrando como alguns processo massivo de expulsão da população do campo,
de seus pilares não só não eram indispensáveis à exis- direcionando-a para as cidades, onde comporiam o exér-
tência social, como eram até mesmo prejudiciais ao bom cito de reserva da industrialização, formando, lentamente,
desenvolvimento das forças econômicas e sociais – como
uma vasta mão de obra assalariada.
o exclusivo comercial que sustentava a colonização euro-
peia da América. De modo ainda mais profundo, a filosofia
ilustrada ofereceu a noção de que todos os homens, na 05 A
medida em que eram homens, possuíam alguns direitos
naturais e inalienáveis, contrariando o fundamento jurídico Ao estudar a Revolução Industrial, é importante não se
da sociedade de Antigo Regime. Com isso, as ideias ilu- esquecer de sua dimensão tecnológica, que foi o que deu
ministas deram a base intelectual para os movimentos de base às importantes transformações econômicas e sociais
contestação, subversão e derrubada do Antigo Regime na que se seguiram. Assim, um fenômeno crucial da Revolução
América e na Europa. Industrial foi a invenção da máquina a vapor e sua aplicação
às atividades produtivas inglesas, especialmente à manufa-
02 C tura têxtil e à metalurgia. A invenção da máquina a vapor foi
Neste trecho é abordado o processo histórico de criação e um desdobramento da difusão de uma mentalidade cien-
fundamentação política da noção de direitos humanos na tífica, empirista e racional na sociedade inglesa, para além
Modernidade. O argumento da autora é que, para ter sig- dos círculos letrados das elites − tratou-se de uma invenção
nificado real, os direitos humanos precisam ser conectados das camadas médias da população (burguesas). A máquina
ao processo político dos homens, enquanto homens, na a vapor gerava uma força de produção muitas vezes superior
sociedade. Vem daí a necessidade de constante reiteração às forças até então disponíveis (como a água, o vento, ani-
de proclamações dos direitos humanos em meio a even- mais ou a humana), permitindo um incremento significativo
tos políticos marcantes na história, tais como a revolução na produção a um custo baixo (principalmente porque per-
de independência dos Estados Unidos, cuja Declaração de mitia a substituição do trabalho humano em muitas etapas
Independência baseou-se na ideia ilustrada do direito natu-
da produção) − possibilitando, pois, o aumento dos lucros.
ral dos homens à liberdade, ao auto governo e à revolta
contra a tirania, a Revolução Francesa, com a Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão, que sepultou o 06 A
regime feudal e a sociedade de privilégios aristocráticos na
No filme Tempos modernos, Charles Chaplin retrata o
França, e o fim da Segunda Guerra Mundial, a derrota do
trabalho em uma fábrica de modelo fordista-taylorista.
nazifascismo e a criação da Organização das Nações Uni-
das, com a Declaração Universal dos Direitos do Homem, Nesse modelo, o trabalhador tem seu ofício subordinado
que pretendia universalizar a noção de direitos humanos e ao andamento da máquina, tendo que realizar uma ativi-
tomá-la como fundamento para as relações internacionais. dade repetitiva e alienante. Como resultado disso, muitas
pessoas adoecem ou se revoltam por causa das precárias
condições de trabalho.
03 E
PROPOSTAS
O movimento de independência dos EUA, formado sob os ATIVIDADES
ideais iluministas lançados na Europa, iniciou-se a partir da
rejeição colonial à exploração imposta pela Inglaterra, em
especial nas colônias do Norte e do Centro, acostumadas 01 A
com a liberdade colonial. Os dois revelam visões antagônicas a respeito do que fazer
nos Estados Unidos depois de independente. Enquanto
04 B Jefferson tinha uma visão agrarista em relação à economia
A questão trabalha uma das linhas explicativas para o pio- do novo país, Hamilton asseverava que o investimento nas
neirismo industrial inglês no século XVIII, uma das razões fábricas manufatureiras era imperativo para o progresso
para a eclosão da Revolução Industrial na Inglaterra, que daquela jovem nação.
Pré-Vestibular – Livro 2 13
14 Pré-Vestibular – Livro 2
Pré-Vestibular – Livro 2 15
02 a) O conceito de diáspora colonial refere-se à dispersão 03 Segundo o cronista mestiço Garcilaso de la Vega, na socie-
forçada dos diversos povos africanos entre os vários dade inca, de base agrária e amonetária, os metais pre-
domínios coloniais europeus por meio do comércio de ciosos não tinham valor simbólico de moeda, eram impor-
escravizados. tantes somente na medida que serviam de adornos para
b) Influências africanas podem ser percebidas em várias engrandecimento das casas reais e dos ofícios religiosos.
manifestações culturais do Brasil contemporâneo, Este traço cultural incaico contrasta com o lugar central
como na música, especialmente o samba e o funk, e na dos metais preciosos na cultura espanhola, em que tinham
religião, como a umbanda e o candomblé. valor simbólico de moeda. Mais ainda, dentro da lógica do
c) A escravidão negra, abolida somente no final do século capitalismo comercial que então se desenvolvia na Europa
Ocidental, estes metais (ouro e prata) eram entendidos
XIX, legou consequências profundas na sociedade
como riquezas raras e preciosas, sendo muito valorizados
brasileira, entre as quais a situação de marginalidade
como a mais importante fonte de riqueza e poder para os
socioeconômica das populações descendentes de
Estados absolutistas. Por isso mesmo, um dos princípios
escravos (seja nas favelas das grandes cidades ou nos
centrais do mercantilismo era o metalismo, a acumulação
conflitos pela demarcação das terras de comunidades de metais dentro das fronteiras de cada Estado.
quilombolas no campo) e o preconceito racial contra os
afro-brasileiros, que se faz presente em inúmeros con- Módulo 10
textos cotidianos do Brasil atual.
01 a) Tenochtitlán era a capital do império asteca, portanto
sua maior e mais importante cidade. Era constituída por
Módulo 9 grandes templos e palácios, suas ruas e avenidas eram
bem projetadas, o abastecimento de água se dava por
01 Como fatores para a afirmação do absolutismo político, grandes aquedutos e era organizada internamente de
podemos citar: acordo com a estratificação da sociedade asteca.
1) criação da Justiça Real, para unificação dos critérios de b) O império asteca dominava uma variedade de outros
justiça nos reinos; povos na região do México e da América Central.
2) formação dos Exércitos Reais, para defender os reinos e Assim, a intenção dos espanhóis ao erguerem sua
enfrentar possíveis resistências da nobreza. cidade sobre as ruínas da capital do império derrotado
era passar a ideia de que a dominação continuava,
Como fatores que funcionaram como resistência ao pro- porém, sob um outro império, agora, o espanhol. Tam-
cesso de centralização, podemos citar: bém era estratégico para os espanhóis apropriarem-se,
1) manutenção dos privilégios nobiliárquicos; adaptando e transformando, de práticas e representa-
2) desejo de ascensão política da burguesia. ções astecas e de outros povos, moldando-as aos inte-
resses espanhóis para facilitar a dominação.
02 a) O mercantilismo é caracterizado como um conjunto 02 a) O Império Inca era de formação relativamente recente
de práticas empregadas pelas Monarquias Nacionais no momento da conquista espanhola e dominava uma
durante o Período Moderno, com vistas a seu maior ampla região nos vales dos Andes, submetendo diver-
enriquecimento. Pode ser caracterizado pelo metalismo sas populações. A terra não era representada como
(acumulação de metais preciosos dentro das frontei- mercadoria, de modo que o acesso a ela era facultado a
ras de cada Estado), pela manutenção de uma balança todos, de acordo com regulações do governo imperial.
comercial favorável, pelo intervencionismo do Estado na As relações de trabalho eram compulsórias e coletivas.
economia (criação de Companhias de Comércio estatal, b) Os principais cultivos do Império Inca eram batata,
reserva de mercado para a Coroa), pelo protecionismo coca, feijão, milho, pimenta e frutas.
alfandegário e pelo antigo sistema colonial. c) O Império Inca construiu grandes estradas para ligar
b) A colonização da América, empreendida no Período seus territórios e permitir a locomoção dos exércitos e
Moderno, seguiu a lógica mercantilista (exceto no caso dos bens. As duas principais, uma litorânea, outra nos
do início da colonização das 13 colônias inglesas na Amé- Andes, cortavam todo o território do Império, e eram
rica do Norte). Assim, as colônias cumpriam a função de cortadas por estradas menores transversais. Os incas
complemento à economia metropolitana, uma vez que, conheciam a pecuária e dominavam a criação de gado.
dentro da lógica do exclusivo colonial, elas forneciam
produtos tropicais e metais preciosos às metrópoles e 03 a) O grande propulsor para a Expansão Marítima europeia
delas compravam produtos manufaturados. Uma vez entre os séculos XV e XVI foi o comércio, a necessidade
que cada colônia só podia comerciar, oficialmente, com de contínua expansão comercial, que vinha se dando
sua metrópole, os lucros de ambas as transações fica- desde a Baixa Idade Média. Neste contexto de expan-
vam sempre do lado metropolitano que, assim, lograva são, as condições físicas europeias começavam a alcan-
drenar as riquezas de suas colônias. Deste modo, estas çar seus limites, como no caso das minas de metais
riquezas contribuíam para a manutenção de uma balança preciosos, provocando uma escassez destas riquezas,
comercial favorável à metrópole e para a acumulação de que eram a base do sistema monetário no período
metais preciosos dentro de suas fronteiras. no continente. Isso em um contexto de multiplicação
16 Pré-Vestibular – Livro 2
das trocas baseadas na moeda. Ao mesmo tempo, 02 a) O historiador Christopher Hill mostra, no excerto con-
tornava-se mais premente a necessidade de descobrir- tido no enunciado, que os novos valores burgueses
-se uma rota marítima alternativa para o Oriente, evi- (valorização do dinheiro, individualismo) estavam em
tando os atravessadores italianos (especialmente geno- choque com a estrutura política tradicional. Por um
veses e venezianos) e muçulmanos no Mediterrâneo lado, a ânsia burguesa pela acumulação de capital se
e no Oriente Médio. Neste contexto, a consolidação
fazia já presente, contrastando com os ideais nobiliár-
do Estado Nacional, primeiro em Portugal, depois na
quicos de luxo, ostentação e prestígio social (marcan-
Espanha (por certo, de modo mais precário), criou as
tes nas cortes reais do Antigo Regime). Por outro lado,
condições políticas e sociais para que os complexos e
havia o nascente individualismo burguês no campo da
caros empreendimentos comerciais da expansão marí-
tima fossem realizados, pela aliança entre a monarquia, devoção religiosa, que se fazia, então, na esteira das
setores burgueses e nobreza cortesã. Reformas Protestantes, mais e mais pessoal, em oposi-
b) No Oriente, os portugueses não empreenderam a colo- ção à religiosidade coletiva da Igreja Católica, mantida,
nização de largos territórios, até porque a Ásia já era até certo ponto, pelo anglicanismo.
composta por grandes, poderosos e antigos impérios, b) A Revolução Inglesa (em suas diferentes fases, a Puri-
como o chinês e os inúmeros principados indianos. tana, com a guerra civil, e a Gloriosa) derrubou o Estado
Nesta região, a presença portuguesa se limitou à con- absolutista na Inglaterra, estabelecendo uma monar-
solidação de feitorias, fortalezas que funcionavam como quia em que o poder de fato não estava mais no rei,
entrepostos comerciais, que podiam controlar uma área mas no Parlamento. Este novo arranjo político evocava
mais ou menos ampla ao seu redor, caso da cidade de as ideias liberais de John Locke sobre o papel e os limi-
Goa, centro administrativo do império lusitano orien- tes do Estado.
tal. No Oriente, o interesse e a ação dos portugueses
concentraram-se no comércio, ainda que tentativas de 03 A ideologia iluminista, conforme categorização proposta
expansão do cristianismo, principalmente pela ação pelo historiador marxista Eric Hobsbawm, criticava direta-
dos jesuítas, fossem constantes. No caso da América, a mente a sociedade de Antigo Regime, presente na Europa
situação foi diferente. Inicialmente, o sistema de feitorias do Período Moderno. Esta sociedade caracterizava-se
também foi adotado na costa americana, mas a ausência como determinada por privilégios desigualmente distri-
de Estados estruturados que pudessem comerciar com buídos e entendidos como naturais (sociedade de corte),
os portugueses (o que provocava a ausência de varie- por um Estado estruturado em monarquias absolutistas,
dade de especiarias e produtos a serem comercializa- legitimada, muitas vezes, pela teoria do direito divino dos
dos) e as ameaças de conquista do território por nações reis. O Iluminismo criticava o Antigo Regime por entender
europeias rivais (principalmente a França) fizeram com que suas estruturas não estavam conforme a razão, que
que Portugal adotasse, a partir de 1530, uma política de estabelecia a igualdade jurídica entre os homens e limi-
colonização efetiva na América, estimulando a vinda de tava, de acordo com uma separação racional dos poderes
portugueses para aqui se instalarem, concedendo-lhes
do Estado, a autoridade dos monarcas.
terras para cultivo da c ana-de-açúcar e montando um
aparelho administrativo.
04 a) Diderot se referia ao absolutismo monárquico, modelo
de Estado típico das sociedades de Antigo Regime.
Módulo 11 b) Diderot defendia que a cidadania dos povos envolvia
01 a) Galileu foi defensor do heliocentrismo, posição que o direito de deliberar, de querer ou não querer, de se
estabelecia que o Sol era o centro do universo, ao redor opor à vontade do governante, ainda que fosse um
do qual giravam os planetas, inclusive a Terra. Galileu bom governante. Para esse filósofo, o direito de opo-
defendia essa posição como resultado de suas pesqui- sição ao governo era sagrado e fundamental para a
sas, que envolvia a matematização dos dados recolhi- manutenção da cidadania.
dos por meio da observação celeste. Outra lei da natu-
reza proposta por Galileu deu a base para a gravitação Módulo 12
universal de Newton. Galileu defendeu que, anulada a 01 a) As razões do pioneirismo das 13 colônias inglesas na
resistência do ar, todos os corpos em queda livre atin-
América do Norte estão ligadas ao seu processo sin-
gem a mesma velocidade, de modo independente de
gular de colonização. Diferentemente das colônias
suas respectivas massas.
espanholas e portuguesas, as inglesas, especialmente
b) A base filosófica do pensamento científico de Galileu
era por si estranha à doutrina da Igreja Católica, uma as mais ao Norte das 13, não sofreram fortes inter-
vez que postulava que a razão humana era capaz de venções do Estado inglês durante a maior parte de
decifrar e controlar as leis da natureza, o que se cho- sua colonização. Foram povoadas e colonizadas em
cava com o dogma cristão de que a razão dos homens grande parte por grupos particulares (degredados ou
era necessariamente limitada diante da onipotência e refugiados político-religiosos no contexto da Reforma
onisciência divinas. Especificamente, Galileu foi proces- anglicana e das Revoluções Inglesas), que estabelece-
sado e julgado pelo Tribunal da Inquisição por defen- ram núcleos de povoamento baseados em pequenas
der o heliocentrismo, posição contrária à que a igreja propriedades, com produção diversa, voltados ao mer-
defendia, com base na autoridade dos sábios gregos, o cado interno. O Estado inglês, às voltas com guerras
sistema geocêntrico. civis e revoluções no século XVII, não teve capacidade
Pré-Vestibular – Livro 2 17
para administrar um império colonial e tampouco tinha 03 A industrialização alterou o modo de produção das socie-
interesse em arcar com os custos de colonizar uma dades ocidentais, espalhando-se, nos séculos seguintes,
área geograficamente semelhante à Inglaterra, região por todos os continentes, liberando os homens das restri-
que não poderia, por conseguinte, fornecer produtos ções naturais à produção quase totalmente, ou, ao menos,
tropicais que complementassem a economia metropo- em um nível inconcebível antes do século XVIII. Essa trans-
litana. Assim, as 13 colônias foram exemplos, únicos, formação alterou os mais diversos aspectos da vida coti-
de colônias de povoamento. Ao longo do século XVIII, diana dos homens, tanto burgueses (proprietários) quanto
elas, principalmente as do Norte entre as 13, apresen- proletários (trabalhadores). Também resultou na transfor-
taram expressivo desenvolvimento econômico, come- mação progressiva da estrutura dos Estados, que se buro-
çando a comerciar até mesmo em nível internacional cratizou, racionalizou e liberalizou-se (no sentido clássico
com portos africanos, fornecedores de escravos, e ilhas do termo liberal). A Revolução Industrial também aprofun-
caribenhas, fornecedoras de produtos tropicais. Ao dou e acelerou o êxodo rural, provocando o inchaço das
mesmo tempo, desfrutaram, até a segunda metade grandes cidades industriais – e transformando o modo de
do século XVIII, significativa autonomia administrativa. vida urbano, que se tornou hegemônico no Ocidente. As
Foi somente no momento em que essa autonomia e sucessivas fases da Revolução Industrial, desde o século
a liberdade comercial começaram a ser tolhidas pelo
XIX até hoje, alteraram todo o planeta, destruíram as dis-
Estado inglês – neste momento, já consolidado em sua
tâncias espaço-temporais, conectaram intensivamente
forma liberal – que as 13 colônias iniciaram suas lutas
todas as regiões do mundo e tiveram um impacto ambien-
por independência.
tal devastador.
b) O processo de independência das colônias ibéricas
foi influenciado grandemente pelos desdobramen- A Inglaterra foi pioneira no processo de industrialização,
tos da Revolução Francesa (a ascensão de Napoleão porque reunia condições que permitiram que as indústrias
Bonaparte) e da Revolução Industrial na Inglaterra. A se organizassem e crescessem ali, o que não acontecia em
política expansionista napoleônica derrubou a monar- outras regiões. Entre essas condições, podem ser citadas a
quia absolutista dos Bourbon na Espanha, enfraque- disponibilidade de mão de obra farta e barata nas grandes
cendo, assim, a autoridade metropolitana nas colônias, cidades, como consequência do êxodo rural, o acúmulo
possibilitando o início das lutas de independência das de capital ao longo dos séculos XVII e XVIII, a pujança
colônias espanholas. A mesma expansão napoleônica da marinha inglesa, a existência de um Estado estável e
forçou a transferência da Corte portuguesa para o Rio inclinado a realizar políticas que favorecessem os setores
de Janeiro, contribuindo para o acelerar do processo burgueses e o predomínio de uma ética protestante que
de independência do Brasil. Em meio a esse contexto, valorizava o modo de vida burguês, ou seja, o trabalho e a
a pressão inglesa pela conquista de novos mercados acumulação de capital.
para os seus produtos industrializados fez com que a
Inglaterra defendesse o fim do Pacto Colonial em toda
a América Ibérica, apoiando a independência dos
novos países, inclusive do Brasil, colocando-os todos
em sua esfera de influência.
18 Pré-Vestibular – Livro 2