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AS MENTALIDADES

DA IDADE MÉDIA
O imaginário cotidiano e o pensamento religioso

PROFESSOR JOÃO CALEBER BATISTA MARTINS -


HISTÓRIA
De que forma as pessoas viviam na Idade Média? Em que elas
acreditavam? Como percebiam o mundo a sua volta? O que
provocava medo nelas?
Quais são os objetivos das nossas aulas:

• Reconhecer o imaginário fantástico das pessoas da Idade Média;


• Observar como o pensamento religioso influenciou a forma na qual se
percebia o mundo;
• Discutir as percepções cotidianas do medievo, entendendo os medos e temores
dos homens e mulheres medievais.
Vamos retomar o que estudamos

COMO ACONTECEU O
PROCESSO DE TRANSIÇÃO DA
ANTIGUIDADE PARA O
MEDIEVO?
O PROCESSO DE TRANSIÇÃO DA ANTIGUIDADE PARA O MEDIEVO

A queda do Império Romano do Ocidente:

• As invasões dos povos bárbaros no inicio do século V;


• As instabilidades políticas como escândalos de corrupção, guerras civis e a fragmentação do
território;
• Declínio econômico e problemas administrativos como a queda na entrada de mão de obra;
• Deposição do Imperador Rômulo Augusto em 4 de Setembro de 476;
• A formação de reinos bárbaros e a organização feudal .
Mapa da extensão territorial do Império Romano no ano de
117 d.C.
Representação de diferentes
povos bárbaros como
germânicos e eslovacos.

Mapa da fragmentação do Império Romano no


final do século V, demostrando a formação das
reinos germânicos.
Observado a presença dos povos bárbaros na transição da antiguidade para a
Idade Média, podemos dizer que as culturas bárbaras (pagãs/não-cristãs)
também se fazem presente no pensamento e cotidiano medieval?
O que são ”mentalidades”?
O termo "mentalidades" refere-se ao estudo e análise das atitudes, crenças,
valores, percepções e maneiras de pensar de um grupo de indivíduos em
uma determinada época e lugar. O estudo das mentalidades na história busca
entender como as pessoas de uma determinada época percebiam o mundo, a
si próprias e os outros, bem como seus comportamentos, decisões e ações.
OS BESTIARIOS MEDIEVAIS

Eram catálogos manuscritos realizados por monges


católicos que reuniam informação sobre animais reais e
fantásticos, tal como o aspecto, o habitat em que viviam, o
tipo de relação que tinham com a natureza e a sua dieta
alimentar. A maioria dos bestiários foi escrita durante a
baixa Idade Média, e eram acompanhados de mensagens
moralizadoras.

Criaturas presentes em bestiários medievais, um


tipo de literatura descritiva do mundo animal, as
bestas, muito comum nas classes monásticas do
medievo.
Os dragões no imaginário medieval

Representação cinematográfica de dragões no seriado televisivo norte-americano “Game of


Thrones”.
Representação dos dragões nos bestiários medievais.
Os dragões medievais normalmente apareciam em confrontos com
heróis ou santos católicos, caso de São Jorge.
AS CRIATURAS E MONSTRONS
MARINHOS

Leviatã, criatura de
origem mitológica Kraken, criatura de
judaica. origem mitológica
Ictiocentauros, nórdica.
criatura de origem
mitológica grega.
As sereias eram criaturas míticas que combinavam
características de mulheres e peixes, sendo retratadas como
seres sedutores que atraíam os marinheiros com seu canto
hipnotizante.
Ilustração de Gustave Doré (1832-1883) para o livro Contes de
Perrault, 1862, sobre a história medieval Chapeuzinho Vermelho.
A Igreja Católicas ressignificou
esse imaginário fantásticas
tomando as bestas descritas nos
bestiários a partir de um olhar
moralizante.
As gárgulas eram representações de humanos
ou monstros, sendo figuras típicas da
arquitetura gótica. Gárgula vem do francês
gargouille, gargalo ou garganta, servindo para
escoar a agua nos telhados medievais.
O PENSAMENTO RELIGIOSO NA IDADE
MÉDIA
AS MENTALIDADES
DA IDADE MÉDIA
O imaginário cotidiano e o pensamento religioso

PROFESSOR JOÃO CALEBER BATISTA MARTINS -


HISTÓRIA
Quais são os objetivos das nossas aulas:

• Reconhecer o imaginário fantástico das pessoas da Idade Média;


• Observar como o pensamento religioso influenciou a forma na qual se
percebia o mundo;
• Discutir as percepções cotidianas do medievo, entendendo os medos e
temores dos homens e mulheres medievais.
O pensamento religioso e sua influência na percepção do
mundo
Como aconteceu a ascensão do cristianismo no processo
de transição da antiguidade para o medievo?
A ascensão do cristianismo

Enquanto o Império Romano estava em declínio, o cristianismo estava em ascensão.


• A conversão de Constantino em 312;
• O Édito de Milão em 313;
• O Édito de Tessalônica em 380;
A Igreja Católica forneceu estabilidade e coesão social nos períodos de transformação
da sociedade.
A Igreja Católica exerceu na Idade Média extrema importância, abrangendo diversas
áreas da sociedade como a política e a cultura, desempenhando um papel central na
vida das pessoas durante esse período, moldando suas crenças e práticas.
Império Carolíngio em 768, territórios anexados por Carlos Magno até
814, Estados da Igreja e territórios vassalos.
O Sacro Império Romano-
Germânico

Durante o século X, após a


fragmentação do Império
Carolíngio, o reino da Germânia
conquistou grande parte do
território da Europa Ocidental,
formando o Sacro Império
Romano-Germânico, área de
influencia da Igreja Católica.
Como o pensamento religioso refletiu no
cotidiano medieval?
O teocentrismo no
pensamento religioso

Acreditava-se que Deus estava no


centro de todas as coisas, sendo
A Santíssima Trindade, de criador da vida e do universo.
Guido Reni (1575-1642)

Cúpula da basílica de São Estevão,


Budapeste, Hungria.
Tímpano de entrada da porta ocidental da capela de Sainte-Foy (Santa Fé), localizada na cidade
de Conques, pertencente ao departamento francês de Aveyron.
As heresias
A Igreja proibia a propagação de doutrinas consideradas
heréticas, ou seja, ensinamentos que divergiam da ortodoxia
católica. Pessoas consideradas hereges eram frequentemente
perseguidas e punidas, assim, a prática de bruxaria e feitiçaria
era estritamente proibida pela Igreja.
O Divórcio
A Igreja regulamentava rigorosamente o casamento e
desencorajava o divórcio. O casamento era
considerado indissolúvel, a menos que houvesse um
motivo excepcional reconhecido pela Igreja.
A Usura
A Igreja condenava a usura, ou seja, a cobrança de
juros sobre empréstimos de dinheiro, influenciando
as práticas financeiras na Idade Média.
As formas de entretenimento

A Igreja proibia muitas manifestações


de músicas e danças consideradas
profanas ou imorais, controlando as
diferentes formas de entretenimento
para garantir que fossem apropriadas ao
pensamento cristão.
A Batalha entre o Carnaval e a Quaresma (1559), Pieter Bruegel.
Cosmologia medieval

O sistema geocêntrico de Ptolomeu, que


colocava a Terra no centro do universo, era
consistentemente aceito, e as explicações
científicas frequentemente eram moldadas
para se encaixar na visão teocêntrica da
Igreja Católica.

La Sphere du Monde, Celestial


Mechanics, Orontius Finnaeus, 1549
O que seria uma visão hierofânica na Idade Média?
O termo "visão hierofânica" é frequentemente usado para descrever uma
experiência na qual o divino se manifesta de maneira palpável e
perceptível no mundo material e cotidiano. Uma hierofania implica a
ideia de que o divino está presente e revela-se de maneira tangível no
mundo físico, assumindo diversas formas, como fenômenos naturais,
objetos sagrados, rituais religiosos, arte sacra, entre outros. Durante a
Idade Média o cristianismo permeava todos os aspectos da vida
cotidiana, assim, a crença na presença do divino no mundo material era
uma parte intrínseca do homem medieval.
ATIVIDADE AVALIATIVA

Observe o tímpano de entrada da porta ocidental da capela de Sainte-Foy (Santa Fé), localizada
na cidade de Conques, pertencente ao departamento francês de Aveyron, e responda as questões.
AS MENTALIDADES
DA IDADE MÉDIA
O imaginário cotidiano e o pensamento religioso

PROFESSOR JOÃO CALEBER BATISTA MARTINS -


HISTÓRIA
Quais são os objetivos das nossas aulas:

• Reconhecer o imaginário fantástico das pessoas da Idade Média;


• Observar como o pensamento religioso influenciou a forma na qual se
percebia o mundo;
• Discutir as percepções cotidianas do medievo, entendendo os medos e
temores dos homens e mulheres medievais.
Teocentrismo e a visão hierofânica

Tímpano de entrada da porta ocidental da capela de Sainte-Foy (Santa Fé), localizada na cidade
de Conques, pertencente ao departamento francês de Aveyron.
As percepções cotidianas do medievo: os medos e temores dos
homens e mulheres medievais
O medo do outro, os estrangeiros
Durante a Idade Média a Europa sofreu
com inúmeras invasões de saqueadores
como: os Vikings, em vastas áreas da
Europa, incluindo a Inglaterra, a França, a
Irlanda e a Península Ibérica (a partir do
final do século VIII); os povos bárbaros
em diferentes momentos da Idade Média
(húngaros, invadiram partes da Europa
Central no final do século IX e início do
século X); os muçulmanos (mouros ou
serracenos) na Península Ibérica e em
partes da França (no século VII ao VIII).

Mapa demonstrando as invasões na Europa


durante a Idade Média.
Duelo entre um cruzado e um mouro
em um mosaico da Igreja de Sainte-
Marie-Majeure.

Um judeu e um árabe jogando xadrez,


presente em um manuscrito do século
XIII feito a pedido do rei de Castela,
Afonso (o Sábio).
Peregrinação militar a Santiago de
Compostela durante a Idade Média em
arquivos da catedral de Compostela.

Mouro a cavalo combatendo na Sicília,


reino carolíngio. Afresco do fim do século
XIII, localizado em Pernes-les-Fontaines,
Tour Ferrande.
Cristãos e mulçumanos
representados no manual Secreta
fidelium crucis (século XIII), de
Marino Sanudo.

As cruzadas: foram uma série de guerras realizadas pela Igreja Católica entre os anos de 1096 e
1272 e que tinham como objetivo declarado a conquista da Terra Santa - Jerusalém. Ao longo de 200
anos, foram realizadas 9 Cruzadas oficiais e duas extraoficiais. As cruzadas foram guerras violentas,
causaram muitas mortes e, considerando seu objetivo principal, foram um fracasso. Apesar da
motivação declarada de reconquistar jerusalém, as Cruzadas também tiveram outras motivações,
como conquistas territoriais, busca por riquezas e novas rotas comerciais.
O medo das doenças e epidemias
La triomphe de la mort, detalhe de
uma iluminará atribuída a Giovanni di
Paola, produzida entre 1431 e 1450.

A Divina Comédia, Dante (século XIV),


Biblioteca Nacional Marciana.
A peste bubônica

A peste bubônica é uma doença causada pela bactéria Yersinia pestis, que atingiu o
continente europeu em meados do século XIV. Os historiadores acreditam que a doença
surgiu em algum lugar da Ásia Central e foi levada por genoveses para o continente europeu.
O resultado foi catastrófico, pois a doença atingiu praticamente todo o continente e resultou
na morte de milhões de pessoas.

Ilustração do século XIV com vítimas da peste


negra recebendo como tratamento as bênçãos de
um clérigo.
Sepultura em massa com vítimas da peste bubônica em Martigues,
França
La Peste à Louvain (1578), Museu da
Comunidade, cidade Louvain.

Hipocrates, gravura da página de rosto das Obras


completas (1588).
O medo da morte e do além
Na Idade Média se acreditava que após a morte os indivíduos iriam
para o céu, ou para o inferno, ou para o purgatório, sendo esse último
uma crença posterior ao século XIII. Pintura de autor desconhecido.
Apocalipse, Escola do Norte, Cambridge, Biblioteca Municipal.
La Mappa dell’ Inferno – Sandro Botticelli.
Comentaire de I'Apocalypse (975)
Catedral de Gerona.

Psalterium liturgicum, século XIII,


Chantily, Museu Condé.
O medo no pós-vida advertia as pessoas sobre seus
pecados em vida. O fator inevitável da morte estava
presente em narrativas medievais. A dança macabra
(ou dança da Morte) era uma alegoria artístico-literária
do final da Idade Média sobre a universalidade da
morte. O tema da dança macabra ensina que todos os
humanos, qualquer que seja sua posição social, são
inexoravelmente impelidos ao mesmo fúnebre destino.

Manuscrito de Vérard, Paris, Biblioteca


Nacional.
O juizo final

Quadro de Pieter Bruegel (1562), intitulado O triunfo da morte, museu


do Prado.
Considerações finais:
• Pensar as mentalidades na Idade Média implica entender que a forma na qual as
pessoas percebiam o mundo em que viviam era diversa e múltiplas.
• Seu imaginário fantástico estava repleto de criaturas e monstros, fruto da mistura de
elementos de diferentes culturas. Esses seres fantásticos associavam-se a natureza e
ao desconhecido, sendo usados para advertir os homens sobre possíveis perigos e
trazerem ensinamentos.
• O pensamento religioso cristão dominante, por vezes resinificava o imaginário
cotidiano para transmitir ensinamentos moralizantes.
• Por ser dominante, o pensamento religioso cristão influenciava a forma na qual as
pessoas da Idade Média percebiam o mundo, sendo caracterizado pelo teocentrismo
e refletindo em uma visão hierofânica do mundo.
• Como parte das percepções cotidianas medievais estavam os temos e medos dos
homens e mulheres medievais, influenciados na maioria das vezes por essa visão
hierofânica da época.
• Por fim, as mentalidades medievais abrangiam uma serie de fatores da percepção do
homem sobre o mundo, como o seu imaginário, seu pensamento religioso, seus
medos.
Muito obrigado pela atenção de todos!!!

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